Carimbó
Carimbó | |
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Dançarinos de carimbó | |
Instrumentos típicos | tambor, maracá |
Popularidade | litoral do Pará, Região nordeste do Brasil |
Subgêneros | |
Dançarinos |
O carimbó é um ritmo musical amazônico e também uma dança de roda de origem indígena, típica da região norte do estado do Pará, no Brasil, influenciado por negros (percussão e sensualidade) e portugueses (palmas e sopro). O nome também se aplica ao tambor utilizado nesse estilo musical, chamado de "curimbó".[1][2]
Na forma tradicional, o carimbó é chamado de "pau e corda", peculiar pela batida do tambor curimbó acompanhado por banjo e maraca. Referido em algumas bibliografias como “samba de roda do Marajó” e “baião típico de Marajó”.[3]
O carimbó é considerado um gênero de dança de origem indígena, porém, como diversas outras manifestações culturais brasileiras, miscigenou-se, recebendo outras influências, principalmente da cultura negra.[4] O ritmo sofreu repressão/proibição por séculos devido a origem, chegou inclusive ser proibido no município de Belém (capital do Pará) através da repressão governamental no “Código de Posturas de Belém”, de 1880, no capítulo específico entitulado “Das bulhas e vozeiras”.[3][5]
"É proibido, sob pena de 30.000 reis de multa: (...) Fazer bulhas, vozerias e dar autos gritos (...). Fazer batuques ou samba. (...) Tocar tambor, carimbó, ou qualquer outro instrumento que pertube o sossego durante a noite, etc."
Nas últimas décadas, o carimbó ressurgiu como música regional e como uma das principais fontes rítmicas (matriz) de gêneros contemporâneos, como lambada e tecnobrega.[3] A expressão cultural espalhou-se também pela Região nordeste do Brasil, atualmente está muito associado as festividades religiosas[6] e, tornou-se patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em setembro de 2014.[7] O registro foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[8][9]
Etimologia
"Carimbó" do tupi "korimbó", originado do instrumento de percussão indígena,[3] junção de "curi" (pau oco) e "m’bó" (furado), significando “pau que produz som".[1] Devido a forte presença do instrumento "curimbó", tambor que marca o rítmo, feito artesanalmente com a escavação de um tronco de árvore, encoberto com couro de animal[3] e afinado ao calor do fogo.
História
É difícil afirmar com exatidão onde surgiu o ritmo, disputam a localidade de Marapanim e a Ilha de Marajó.[1] Sendo a música preferida pelos pescadores e agricultores paraenses, embora não conhecida como carimbó, sendo apenas uma representação rimada dos aspectos da vida simples recitada pelos ribeirinhos, acompanhado pelo curimbó. O festejo normalmente ocorria após a pescaria e o plantio.[6]
O ritmo atravessou a baía de Guajará com os pescadores, desembarcando em praias da região do Salgado paraense, ou região atlântica. Em algumas regiões próximas às cidades de Marapanim e Curuçá, o gênero se solidificou, ganhando o nome que tem hoje. Maranhãozinho, no município de Marapanim; e Araquaim, no município de Curuçá, são os sítios que reivindicam a paternidade do gênero, sendo o primeiro o mais provável. Em Marapanim, o gênero é bastante cultivado, acontecendo anualmente o "Festival de Carimbó de Marapanim — O Canto Mágico da Amazônia", no mês de dezembro.[6]
Devido a imensidão do território paraense, o carimbó se desmembrou em três variações: o carimbó praieiro, o carimbo pastoril e o carimbó rural. Decorrentes do tipo de atividade desempenhada em cada região, diferenciando nas rimas que irão contar sobre o cotidiano local.[4]
Inicialmente fruto de uma reunião entre amigos e familiares, o fazer carimbó se modificou e deu início a grupos e bandas. Nas décadas de 1960 e 1970, o carimbó tornou-se popular, comum nas rádios e nos bailes. Diversos artistas gravaram discos LP, a exemplo de Lucindo[10], Pinduca, Cupijó e Verequete.[6]
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/84/Banda_Calypso_ao_vivo_2009_%282%29.jpg/400px-Banda_Calypso_ao_vivo_2009_%282%29.jpg)
Atualmente, o carimbó tem como característica, ser mais solto e sensual, com muitos giros e movimentos onde a mulher tenta cobrir o homem com a saia. A maior influência hoje do carimbó em todo território nacional é a banda Calypso (antigamente formado por Joelma e Chimbinha), que o apresenta a todo o Brasil, com todo um figurino colorido característico.
No dia 26 de agosto é celebrado o centenário do Verequete, um dos importantes mestres do ritmo no estado do Pará, devido sua trajetória voltada para a composição de músicas no estilo “pau e corda”, mantendo o tradicional esquema de produção do ritmo. A data é também o Dia Municipal do Carimbó, instituído em 2004.[11]
Formas de toque
Na forma tradicional, sem uso de instrumentos elétricos, chamado de "pau e corda", os tocadores sentam sobre o tambor curimbó e tocam com as duas mãos.[6] Costumam estar presentes também os maracás, reco-reco e a onça, completando o grupo instrumental. A variação moderna também adiciona guitarra e instrumento de sopro.[6]
Vestuário
As mulheres dançam descalças e com saias rodadas, coloridas e longas.[6] A saia é franzida e normalmente possui estampas florais grandes. Blusas brancas, pulseiras e colares de sementes grandes. Os cabelos são ornamentados com ramos de rosas ou camélias.
Os homens dançam utilizando calças curtas, geralmente brancas e simples, comumente com a bainha enrolada, costume herdado dos ancestrais negros que utilizavam a bainha da calça desta forma devido às atividades exercidas, como, por exemplo, a coleta de caranguejos nos manguezais.
Dança
A dança de passos miúdos e em roda é uma tradição indígena, misturado com: o rebolado sensual e o batuque ligeiro do negro e os instrumentos de sopro e o modo de dançar girando, com a formação de casais dos portugueses.[1]
A dança do carimbó apresenta uma coreografia em que os dançantes imitam animais como o macaco e o jacaré.[4] Sendo apresentada em pares, começa com duas fileiras de homens e mulheres com a frente voltadas para o centro. Quando a música inicia, os homens vão em direção às mulheres, diante das quais batem palmas como uma espécie de convite para a dança. Imediatamente, os pares se formam, girando continuadamente em torno de si mesmo, ao mesmo tempo formando um grande círculo que gira em sentido contrário ao ponteiro do relógio. Nesta parte, observa-se a influência indígena, quando os dançarinos fazem alguns movimentos com o corpo curvado para frente, sempre puxando-o com um pé na frente, marcando acentuadamente o ritmo vibrante.
Referências
- ↑ a b c d Brandão, Priscila (20 de dezembro de 2015). «Conheça a história do carimbó». Agronegócios. Consultado em 16 de janeiro de 2016
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 353.
- ↑ a b c d e Gabbay, Marcello M. (2010). «Representações sobre o carimbó: tradição versus modernidade» (PDF). Intercom. IX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte. Consultado em 10 de agosto de 2017
- ↑ a b c mendes, laysa. «Carimbó: A Dança Paraense». Marcos Geográfico. Consultado em 20 de junho de 2016
- ↑ da Costa, Tony Leão (2011). «Carimbó e Brega: Indústria cultural e tradição na música popular do norte do Brasil» (PDF). Revista Estudos Amazônicos, vol. VI, nº 1, pp. 149-177. Consultado em 14 de agosto de 2017
- ↑ a b c d e f g Mendes, Laysa (29 de maio de 2014). «Carimbó». Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ. Consultado em 20 de junho de 2016
- ↑ Azevedo, Leno (2015). A história de um compositor. Google Livros: Buqui Livros. Consultado em 16 de janeiro de 2016
- ↑ «Carimbó do PA é declarado patrimônio cultural imaterial do Brasil». G1. 11 de setembro de 2014. Consultado em 11 de Setembro de 2014
- ↑ «Carimbó é agora patrimônio imaterial brasileiro». Sítio do Ministério da Cultura. 11 de setembro de 2014. Consultado em 11 de Setembro de 2014
- ↑ IPHAN, IPHAN (Outubro de 2013). «Dossiê IPHAN» (PDF). IPHAN. Consultado em 21:50 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ «Festa para o folclore e Verequete». Diário Online - Cultura (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2017