Eleições municipais na cidade do Rio de Janeiro em 1988

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1985 Brasil 1992
Eleições municipais no Rio de Janeiro em 1988
15 de novembro de 1988
(Turno único)
Candidato Marcello Alencar Jorge Bittar
Partido PDT PT
Natural de Rio de Janeiro, RJ Santos, SP
Vice Roberto d'Ávila (PDT) Cleonice Dias (PT)
Votos 998.008 552.149
Porcentagem 41,86% 23,16%
Candidato mais votado por zona eleitoral (26):
  Marcello Alencar (18)
  Jorge Bittar (6)
  Álvaro Valle (2)

As eleições municipais no Rio de Janeiro em 1988 ocorreram em 15 de novembro, como parte das eleições municipais em 24 estados brasileiros e nos territórios federais do Amapá e Roraima.[1] Foram eleitos o prefeito Marcelo Alencar, o vice-prefeito Roberto d'Ávila e 42 vereadores.[nota 1]

Nascido no Rio de Janeiro, o advogado Marcelo Alencar diplomou-se pela Universidade Federal do Rio de Janeiro[2] assumindo o cargo de procurador-geral do Instituto de Administração Financeira da Previdência Social (IAPAS) em 1953.[3] Defensor de presos políticos durante o Regime Militar de 1964, foi eleito suplente do senador Mário Martins pelo MDB da Guanabara em 1966, mas ambos foram cassados e tiveram os direitos políticos suspensos por dez anos via Ato Institucional Número Cinco, em 1969.[4][5] Diretor do Correio da Manhã, filiou-se ao PDT em 1980. No primeiro mandato do Leonel Brizola como governador do Rio de Janeiro, assumiu a presidência do Banco do Estado do Rio de Janeiro em 1983 e meses depois foi designado prefeito da cidade do Rio de Janeiro em substituição a Jamil Haddad.[3] Candidato a senador em 1986, foi o segundo mais votado pelos fluminenses, mas perdeu a vaga para Afonso Arinos, o quinto mais votado, graças ao ardil das sublegendas.[6][7][nota 2] Apresentador da Rádio Carioca, afastou-se da mesma a fim de eleger-se prefeito do Rio de Janeiro em 1988.[3][8][9]

Natural de São Paulo, o jornalista Roberto d'Ávila formou-se pela Sorbonne em 1975.[10] Trabalhou na Rede Globo como repórter do Jornal Nacional e do Fantástico. Sua carreira prosseguiu como apresentador de programas como Abertura, na Rede Tupi e Canal Livre na Rede Bandeirantes entre 1979 e 1983.[11] Ao lado de Fernando Barbosa Lima e Walter Salles, fundou a Intervideo e nela levou ao ar em 1984, pela Rede Manchete, os programas Diálogo, Conexão Internacional, Persona e Programa de Domingo.[10] Eleito deputado federal pelo PDT em 1986, assinou a Constituição de 1988[12] e pouco depois foi eleito vice-prefeito do Rio de Janeiro, mandato acumulou com o de parlamentar,[13] licenciando-se deste para assumir como secretário municipal de Cultura, Turismo e Esporte e depois secretário municipal de Assuntos Especiais na administração de seu companheiro de chapa, o prefeito Marcelo Alencar.[13][nota 3]

Campanha[editar | editar código-fonte]

Aspectos gerais[editar | editar código-fonte]

A campanha eleitoral contou com a participação de 14 concorrentes ao principal cargo majoritário da cidade. Durante a corrida eleitoral, Daniel Tourinho (PJ) e Jó Antônio Rezende (PSB), então vice-prefeito, desistiram de continuar na disputa, dando lugar respectivamente, a Antônio Vilardo e Antonio Alcides. O prefeito em exercício Saturnino Braga, do PSB, não pôde buscar a reeleição devido ao limite constitucional de um único mandato.

Participação do Macaco Tião[editar | editar código-fonte]

Além do triunfo obtido por Marcelo Alencar, outro destaque foi a candidatura fictícia do Macaco Tião, um chimpanzé do Zoológico do Rio de Janeiro, lançada pela revista Casseta Popular, que defendia o voto nulo.

Inscrito sob o fictício "Partido Bananista Brasileiro (PBB)",[14][15] a brincadeira provocou reações negativas na imprensa e meios artísticos (como Jô Soares e Chico Anísio[16]) e políticos que temiam um incentivo ao voto nulo.[17][18] O jornalista e vereador Sérgio Cabral chegou a lançar um adversário e anticandidato para Tião, o macaco "Simão", com o slogan "aquele que gosta de eleição", como forma de tentar despertar o interesse dos cariocas no pleito.[19]

Como à época o voto ainda era manual (o eleitor escrevia o que podia na cédula de votação), Tião teria recebido quase 300 mil votos, o que o teria deixado em quarto lugar nas urnas.[20] Embora o TRE-RJ tenha anulado todos os votos atribuídos ao Macaco Tião, ele foi incluído no Guinness World Records, na categoria “Chimpanzé mais votado do mundo”, e ainda ganhou uma estátua em sua homenagem do Jardim Zoológico carioca.[20]

Resultado da eleição para prefeito[editar | editar código-fonte]

Foram apurados 2.383.943 votos nominais (75,60%), 469.543 votos em branco (14,89%) e 300.012 votos nulos (9,51%), resultando no comparecimento de 3.153.498 eleitores.

Candidatos a prefeito da cidade
Candidatos a vice-prefeito Número Coligação Votação Percentual
Marcello Alencar
PDT
Roberto d'Ávila
PDT
12
Pacto Democrático Trabalhista
(PDT, PS, PASART, PNAB, PTN, PSC, PCN)
998.008
41,86%
Jorge Bittar
PT
Cleonice Dias
PT
13
PT (sem coligação)
552.149
23,16%
Álvaro Valle
PL
Richardson Valle
PL
22
Aliança Liberal
(PL, PDS)
393.761
16,52%
Artur da Távola
PSDB
Cesário de Mello Franco
PSDB
45
Rio, Amanhã Melhor
(PSDB, PCdoB)
154.176
6,47%
José Colagrossi Filho
PMDB
Hélio Ferraz
PFL
15
Aliança Popular Progressista
(PMDB, PFL, PTR)
127.766
5,36%
Roberto Jefferson
PTB
David Raw
PTB
14
PTB (sem coligação)
68.156
2,86%
Paulo Ramos
PMN
Celso Brant
PMN
33
SOS Rio
(PMN, PRP)
37.500
1,57%
Wagner Cavalcanti
PDC
Jaime Silveira
PDC
17
PDC (sem coligação)
17.512
0,74%
Aurizete Menezes
PSD
Franklin Valadares
PSD
41
PSD (sem coligação)
10.669
0,45%
Lincoln Sobral
PH
Leila Jurema
PH
19
PH (sem coligação)
9.822
0,41%
Antônio Vilardo
PJ
Roberta Malheiro
PJ
36
Rio Livre
(PJ, PMB)
4.100
0,17%
Olindo Maia
PNA
Pedro Paulo Cintra
PNA
48
PNA (sem coligação)
3.817
0,16%
Luís Carlos de Oliveira
PMC
Djalma Souza
PMC
18
Compromisso Democrático
(PMC, PPB)
3.548
0,15%
Antônio Alcides
PSB
José Francisco da Cruz
PSB
40
Frente Rio
(PSB, PCB, PV)
2.959
0,12%
Fontes:[21]
  Eleito

Vereadores eleitos no Rio de Janeiro[editar | editar código-fonte]

Segue abaixo os 42 vereadores integrantes da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Vereadores eleitos na cidade Partido Votação Percentual Cidade onde nasceu Unidade federativa
Alfredo Sirkis PV 43.452 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Aarão Steinbruch PASART 40.126 Santa Maria  Rio Grande do Sul
Wilson Leite Passos PDS 34.527 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Francisco Milani PCB 24.140 São Paulo  São Paulo
Lícia Caniné "Ruça" PCB 18.091
Celso Macedo PTB 17.434
Neuza Amaral PL 16.320 São José do Barreiro  São Paulo
Chico Alencar PT 16.038 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Túlio Simões PFL 14.189
Ronaldo Gomlevsky PL 13.492 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Jorge Felippe PDT 12.690 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Nestor Rocha PDT 12.085 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Tito Ryff PDT 11.937 Porto Alegre  Rio Grande do Sul
Sérgio Cabral PSB 11.913 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Paulo César de Almeida PFL 11.751 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Jair Bolsonaro PDC 11.062 Glicério  São Paulo
Augusto Paz PMDB 10.990
Waldir Abrão PTB 10.597
Adilson Pires PT 10.557 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Maurício Azêdo PDT 10.093 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Fernando William PDT 9.989 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Regina Gordilho PDT 9.639 Salvador Bahia Bahia
Bambina Bucci PMDB 9.530 Batatais  São Paulo
Eliomar Coelho PT 9.454 Coremas  Paraíba
José Richard PL 9.274 Porto Alegre  Rio Grande do Sul
Edson Santos PCdoB 8.679 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Mário Dias PDT 8.536
Guilherme Haeser PT 8.518
Roberto Cid PDT 8.089 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Paulo Emílio PDT 7.973
Carlos Alberto Torres PDT 7.939 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Laura Carneiro PSDB 7.837 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Sami Jorge PDT 7.429 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Wilmar Palis PDT 7.414 Uberaba  Minas Gerais
Jorge Pereira PASART 6.781 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Ivo da Silva PTR 6.050 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Wagner Siqueira PTR 5.973 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Ivanir de Melo PDC 5.639 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Américo Camargo PL 5.639
Carlos de Carvalho PTB 5.514 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
César Pena PS 3.242
Beto Gama PS 2.821 Rio de Janeiro  Rio de Janeiro
Fontes:[22][23][24][nota 4]

Notas

  1. Como o processo eleitoral foi deflagrado antes da Constituição de 1988, não foram observados os dois turnos, além disso a Carta Magna criou o estado do Tocantins e elevou os territórios federais do Amapá e Roraima à condição de estados, além de conceder ao Distrito Federal o direito de eleger o seu governador e extinguiu o Território Federal de Fernando de Noronha.
  2. Casuísmo extinto em 12 de dezembro de 1986, a sublegenda considerava a soma dos votos de cada grupo, declarando vencedor o candidato mais votado entre eles. Neste caso, o PMDB obteve 3.054.343 votos (29,04%) e Nelson Carneiro foi eleito senador, tendo José Colagrossi e Hélio Fernandes como suplentes. Neste ponto, Marcelo Alencar teve a segunda maior votação individual, mas como ele e José Frejat não recorreram à sublegenda, o PDT perdeu a outra vaga, pois o PFL somou 1.931.599 votos (18,38%), elegendo a chapa formada pelo senador Afonso Arinos e os suplentes Hydekel de Freitas e Rockfeller de Lima.
  3. O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (Art. 5º; § 3º) da Carta Magna facultou aos parlamentares eleitos em 1986 o direito ao exercício o mandato sem perder o de vice-prefeito, desde que o titular do Poder Executivo não renunciasse. Segundo a Câmara dos Deputados, Roberto d'Ávila foi prefeito interino do Rio de Janeiro entre 6 e 22 de maio de 1989, mas nessa lista podemos citar: Carlos Azambuja em Bagé, Algaci Tulio em Curitiba, Ney Lopes em Natal, Tarso Genro em Porto Alegre, Magno Bacelar em São Luís e Luiz Eduardo Greenhalgh em São Paulo. No caso carioca, houve também a nomeação de Edésio Frias como secretário municipal de Governo, ocasionando as convocações de Sérgio Carvalho e Márcia Cibilis Viana para o exercício do mandato.
  4. Cinco vereadores cariocas renunciaram após 1990: Jair Bolsonaro e Regina Gordilho foram eleitos deputados federais, enquanto José Richard, Tito Ryff e Wagner Siqueira foram eleitos deputados estaduais, ocasionando as efetivações de João Dourado, Carlos Menezes, Ludmila Mayrink, Emir Amed e André Luiz, respectivamente.

Referências

  1. BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 7.664 de 29/06/1988». Consultado em 5 de agosto de 2023 
  2. Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro. «Decretos dos prefeitos da cidade do Rio de Janeiro». Prefeitura do Rio de Janeiro. Consultado em 6 de agosto de 2023 
  3. a b c BRASIL. Fundação Getúlio Vargas. «Biografia de Marcelo Alencar no CPDOC». Consultado em 6 de agosto de 2023 
  4. BRASIL. Senado Federal. «Biografia do senador Marcelo Alencar». Consultado em 6 de agosto de 2023 
  5. BRASIL. Câmara dos Deputados. «Decreto de 7 de fevereiro de 1969». Consultado em 6 de agosto de 2023 
  6. Redação (23 de novembro de 1986). «Sublegenda ajuda PMDB no Senado. Primeiro Caderno, Política – p. 19». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 6 de agosto de 2023 
  7. BRASIL. Presidência da República. «Lei n.º 7.551 de 12/12/1986». Consultado em 6 de agosto de 2023 
  8. Redação (10 de junho de 2014). «Ex-governador Marcello Alencar morre no Rio, informam deputados». g1.globo.com. G1 Rio de Janeiro. Consultado em 6 de agosto de 2023 
  9. Redação (10 de junho de 2014). «Morre Marcello Alencar, ex-senador e ex-governador do Rio de Janeiro». senado.leg.br. Agência Senado. Consultado em 6 de agosto de 2023 
  10. a b Redação (26 de abril de 2022). «(Perfil de) Roberto D'Ávila». memoriaglobo.globo.com. Memória Globo. Consultado em 7 de agosto de 2023 
  11. BRASIL. Fundação Getúlio Vargas. «Biografia de Roberto d'Ávila no CPDOC». Consultado em 7 de agosto de 2023 
  12. BRASIL. Presidência da República. «Constituição de 1988». Consultado em 7 de agosto de 2023 
  13. a b BRASIL. Câmara dos Deputados. «Biografia do deputado Roberto d'Ávila». Consultado em 7 de agosto de 2023 
  14. Ancelmo Góis (28 de setembro de 1988). «Lance-livre». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 173, página 6/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de junho de 2020 
  15. Carlos Jurandir (20 de outubro de 1988). «Macaco Tião tem festa no circo». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 195, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de junho de 2020 
  16. «Jô e Chico não acham graça em anular o voto». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 212, Caderno B, página 1/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de junho de 2020 
  17. «Um fantasma ronda as urnas». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 191, Caderno B, páginas 4 e 5/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 16 de outubro de 1988. Consultado em 5 de junho de 2020 
  18. Franklin Martins (23 de outubro de 1988). «O conto do macaco Tião». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 198, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. Consultado em 5 de junho de 2020 
  19. «Campanha». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 211, página 3/republicado pela Biblioteca Nacional-Hemeroteca Digital Brasileira. 5 de novembro de 1988. Consultado em 5 de junho de 2020 
  20. a b Scarpa, Guilherme. «Macaco Tião, fenômeno nas eleições de 1988, ganha documentário | Gente Boa - O Globo». Gente Boa - O Globo. Consultado em 28 de maio de 2017 
  21. Redação (28 de novembro de 1988). «Nulos e em branco ficam em 2º no Rio. O País – p. 03». acervo.oglobo.globo.com. O Globo. Consultado em 6 de agosto de 2023 
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  23. BRASIL. Câmara Municipal do Rio de Janeiro. «Página oficial». Consultado em 6 de agosto de 2023 
  24. Redação (2 de fevereiro de 1991). «Câmara tem cinco novos vereadores. Cidade – p. 05». bndigital.bn.gov.br. Jornal do Brasil. Consultado em 7 de agosto de 2023