Doença dos legionários

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Legionelose
Doença dos legionários
Legionella pneumophila, responsável por 90% dos casos de legionelose.
Sinónimos Doença dos legionários, febre dos legionários
Especialidade Infectologia, pneumologia
Sintomas Tosse, falta de ar, febre, dores musculares, dores de cabeça[1]
Início habitual 2–10 dias após exposição[1]
Causas Bactérias do género Legionella transmitidas por partículas de água em suspensão[2][3]
Fatores de risco Idade avançada, antecedentes de tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crónica, sistema imunitário debilitado[4]
Método de diagnóstico exame de antígenos urinário, cultura de muco[5]
Prevenção Manutenção das redes de abastecimento de água[6]
Tratamento Antibióticos[7]
Prognóstico Risco de morte: 10%[7]
Frequência ~13 000 casos graves por ano (EUA)[8]
Classificação e recursos externos
CID-10 A48.1, A48.2
CID-9 482.84
CID-11 390042715
DiseasesDB 7366
MedlinePlus 000616
eMedicine med/1273
MeSH D007876
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Doença dos legionários ou legionelose é uma forma de pneumonia atípica causada por qualquer tipo de bactérias do género Legionella.[2] Os sinais e sintomas incluem tosse, falta de ar, febre elevada, dores musculares e dores de cabeça.[1] Em alguns casos verificam-se náuseas, vómitos e diarreia.[9] Os sintomas geralmente manifestam-se de dois a dez dias após a exposição.[1]

A bactéria está naturalmente presente na água doce e pode contaminar tanques de água quente, banheiras e sistemas de arrefecimento de aparelhos de ar condicionado de grande dimensão.[3] A doença é geralmente contraída ao inalar gotículas de águas contaminadas com a bactéria.[3] Pode também ser contraída ao aspirar água contaminada para os pulmões.[3] Geralmente não é transmitida diretamente entre pessoas e a maior parte das pessoas expostas não chega a ser infetada.[3] Entre os fatores de risco para a infeção estão a idade avançada e um historial de tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crónica ou imunossupressão.[4] A realização de exames é recomendada para pessoas com pneumonia grave e que tenham viajado recentemente.[10] O diagnóstico é feito com a realização de um exame de antígenos urinário e recolha de uma cultura de muco.[5]

Não existe vacina.[6] A prevenção depende da correta manutenção das redes de abastecimento de água.[6] O tratamento é feito com antibióticos.[7] Entre os recomendados estão as fluoroquinolonas, azitromicina ou doxiciclina.[11] Em muitos casos é necessária hospitalização.[10] Cerca de 10% das pessoas infetadas morrem.[7]

Desconhece-se o número de casos à escala global.[9] Estima-se que a doença do legionário seja a causa de 2 a 9% dos casos de pneumonia em determinada comunidade.[9] Os surtos da doença são responsáveis apenas por uma minoria dos casos.[9][12] Embora possa ocorrer em qualquer época do ano, a doença é mais comum durante o verão e outono.[8] O nome da doença tem origem no primeiro surto em que foi identificada, ocorrido na American Legion convention in Philadelphia em 1976.[13]

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

Tecido pulmonar com colônias de legionella

A incubação é de dois a dez dias, após o que surge pneumonia multifocal necrotizante com formação de pequenos abcessos e podem aparecer sintomas como:

  • Febre;
  • Tremores;
  • Tosse seca;
  • Dor muscular.

Depois de alguns dias novos sintomas incluem:

  • Dor no peito;
  • Náusea e vómito;
  • Dor muscular;
  • Respiração acelerada.

Complicações possíveis incluem[14] e tem mortalidade de cerca de 10% em pacientes com boa imunidade e de 80% em pacientes com imunidade baixa:

Transmissão[editar | editar código-fonte]

Por inalação de vapor de água ou poeira contendo Legionella, as bactérias são levadas diretamente para os alvéolos pulmonares. Fontes de vapor incluem chuveiros, saunas, névoa, humidificadores e ar condicionado. Contrariamente ao que se pensava até à data, um estudo recentemente publicado na revista New England Journal of Medicine veio revelar a possibilidade de transmissão pessoa-a-pessoa da doença dos Legionários.[15] Endemias geralmente estão associadas a uma fonte de água comunitária infectada.[14]

Febre de Pontiac[editar | editar código-fonte]

A Febre de Pontiac é uma infecção rara por Legionella, tipo gripe não pneumônica, caracterizada por sintomas como febre, tremores, mal-estar e dores de cabeça e musculares mas sem complicações. A inalação de água contaminada com muitos tipos diferentes de bactérias, incluindo espécies de Legionella, produz a doença. Seu período de incubação varia de 12 a 36 horas , ou seja, é muito curto para permitir a infecção e multiplicação bacteriana. É provável que toxinas bacterianas ou fúngicas presentes na água produzam esta doença. Outra hipótese é uma resposta imune a um ou mais dos múltiplos organismos encontrados na água.

Epidemiologia[editar | editar código-fonte]

Um terço das pneumonias graves são legioneloses, havendo cerca de 1 caso em cada 20 000 pessoas por ano nos países desenvolvidos. Os doentes geralmente são fumantes, diabéticos, alcoolistas, pessoas com sistema imune debilitado ou com problemas cardíacos e especialmente idosos.[14] É encontrada em todo o mundo, mas apenas 10 a 20% são diagnosticados como legionelose. A maioria é tratada apenas como pneumonia atípica. Estima-se que causa entre 8 000 e 18 000 casos nos EUA por ano.[16]

O bacilo precisa de locais úmidos, e frequentemente os focos de infecção são localizados a uma colônia num aparelho de ar condicionado, torre de água, tanque de água fria ou quente. A colonização dos aparelhos pode ser evitada pela sua limpeza regular. A mortalidade é ainda superior a 20%, mesmo com tratamento. Os tratamentos antibióticos atuais de primeira escolha são as quinolonas respiratórias (levofloxacina, moxifloxacina, gemifloxacino) ou macrolídeos mais recentes (azitromicina, claritromicina, roxitromicina). As tetraciclinas são prescritas para crianças acima de 12 anos de idade e quinolonas para os maiores de 18 anos. Rifampicina pode ser usado em combinação com uma quinolona ou macrolídeo, mas o Infectious Diseases Society of America não recomenda seu uso, pois parece não ser eficiente. Tetraciclinas e eritromicina são recomendados porque eles têm uma excelente penetração intracelular em células infectadas por Legionella.

História[editar | editar código-fonte]

Foi descoberta apenas em 1976, quando vários casos de pneumonia atípica de causa desconhecida foram detetados em idosos que tinham atendido a uma conferência de legionários (veteranos de guerra), em Filadélfia, EUA. Apesar do descobrimento tardio, a Legionelose não é rara. Já ocorreram várias pequenas epidemias na Europa e América do Norte.

Em novembro de 2014 e 2017 ocorreu um surto de legionella em Portugal.[17]

Referências

  1. a b c d «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Signs and Symptoms». CDC. 26 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 12 de março de 2016 
  2. a b «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) About the Disease». CDC. 26 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 25 de março de 2016 
  3. a b c d e «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Causes and Transmission». CDC. 9 de março de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 25 de março de 2016 
  4. a b «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) People at Risk». CDC. 26 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Arquivado do original em 27 de março de 2016 
  5. a b «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Diagnostic Testing». CDC. 3 de novembro de 2015. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 12 de março de 2016 
  6. a b c «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Prevention». CDC. 26 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 25 de março de 2016 
  7. a b c d «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Treatment and Complications». CDC. 26 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 29 de março de 2016 
  8. a b «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) History and Disease Patterns». CDC. 22 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 25 de março de 2016 
  9. a b c d Cunha, BA; Burillo, A; Bouza, E (23 de janeiro de 2016). «Legionnaires' disease.». Lancet. 387 (10016): 376–85. PMID 26231463. doi:10.1016/s0140-6736(15)60078-2 
  10. a b «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Clinical Features». CDC. 28 de outubro de 2015. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 12 de março de 2016 
  11. Mandell, LA; Wunderink, RG; Anzueto, A; Bartlett, JG; Campbell, GD; Dean, NC; Dowell, SF; File TM, Jr; Musher, DM; Niederman, MS; Torres, A; Whitney, CG; Infectious Diseases Society of, America; American Thoracic, Society (1 de março de 2007). «Infectious Diseases Society of America/American Thoracic Society consensus guidelines on the management of community-acquired pneumonia in adults.». Clinical Infectious Diseases. 44 Suppl 2: S27-72. PMID 17278083. doi:10.1086/511159 
  12. «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever) Prevention». CDC. 28 de outubro de 2015. Consultado em 21 de março de 2016. Arquivado do original em 12 de março de 2016 
  13. «Legionella (Legionnaires' Disease and Pontiac Fever)». CDC. 15 de janeiro de 2016. Consultado em 21 de março de 2016. Cópia arquivada em 22 de março de 2016 
  14. a b c «Legionnaires Disease: Background, Pathophysiology, Etiology». 3 de abril de 2021. Consultado em 21 de abril de 2021 
  15. Correia, Ana M.; Joana S. (4 de fevereiro de 2016). «Probable Person-to-Person Transmission of Legionnaires' Disease». New England Journal of Medicine. 374 (5): 497–498. ISSN 0028-4793. PMID 26840151. doi:10.1056/NEJMc1505356 
  16. Legionellosis.". Massachusetts Department of Public Health. Bureau of Communicable Disease Control. Nov 2011. Retrieved 2012-11-12.
  17. Talixa, Romana Borja-Santos, Jorge. «Número de doentes com "Legionella" ultrapassa os 300». PÚBLICO. Consultado em 18 de janeiro de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]