Saltar para o conteúdo

Teodora (esposa de Teófilo)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Teodora
Imperatriz dos Romanos
Teodora (esposa de Teófilo)
Imperatriz ou Regente Bizantina
Reinado 20 de janeiro de 842
a 15 de março de 856
Predecessor Teófilo
Sucessor Miguel III (sozinho)
Comonarcas Tecla e Miguel III
Imperatriz Consorte Bizantina
Reinado 5 de junho de 830
a 20 de janeiro de 842
Coroação 5 de junho de 830
Predecessora Eufrósine
Sucessora Eudócia Decapolitissa
 
Nascimento c. 815
Ebissa, Paflagônia, Bucelário, Império Bizantino
Morte c. 867 (52 anos)
Marido Teófilo
Descendência Constantino
Tecla
Ana
Anastácia
Pulquéria
Maria
Miguel III
Dinastia Amoriana (por casamento)
Pai Marino
Mãe Teoctista

Teodora[nota 1] (Θεοδώρα; c. 815 – c. 867), também chamada de Teodora, a Armênia[5][6] e Teodora, a Abençoada,[7] foi a Imperatriz Consorte Bizantina de 830 a 842 como a esposa do imperador Teófilo e depois regente entre 842 e 856 durante a minoridade de seu filho mais novo Miguel III. Ela é contada por historiadores modernos como uma imperatriz reinante que governou em direito próprio, em vez de apenas como regente.[nota 2] Ela é mais conhecida por ter encerrado em 843 um segundo período iconoclasta na história do Império Bizantino, um ato pelo qual foi reconhecida como santa pela Igreja Ortodoxa. Durante seu reinado os bizantinos perderam o controle da Sicília e fracassaram na tentativa de retomar Creta, mas fora isso sua política externa foi muito bem-sucedida. O Império Bizantino conseguiu ganhar até 856 uma vantagem sobre o Primeiro Império Búlgaro e o Califado Abássida, enquanto as tribos eslávicas do Peloponeso tinham sido forçadas a pagar tributos, tudo isso sem diminuir as reservas imperiais de ouro.

Teodora possivelmente tinha ascendência armênia e nasceu em uma família rural de mercadores e oficiais militares da região da Paflagônia. Ela foi selecionada em 830 pela imperatriz viúva Eufrósine, a madrasta de Teófilo, para um desfile de noivas diante do jovem imperador. Ela foi escolhida por Teófilo e coroada imperatriz consorte em 5 de junho de 830. Teófilo era um iconoclasta, porém não se sabe o quanto ele sabia que Teodora era uma iconófila. Ela participava lealmente dos assuntos e cerimônias imperiais e deu a Teófilo sete filhos, dois meninos e cinco meninas, mas secretamente continuou a venerar imagens durante o reinado do marido. Ele morreu de disenteria em 20 de janeiro de 842, provavelmente antes dos trinta anos de idade. Teófilo nomeou Teodora em seu leito de morte como regente para Miguel, então com apenas dois anos de idade, também designando vários conselheiros para auxilia-la. O mais proeminente destes conselheiros foi o logóteta e eunuco Teoctisto, que se tornaria um confidente próximo de Teodora.

Ela se mostrou uma governante capaz, inspirando lealdade, se cercando de oficiais experientes e não tendo rivais óbvios. A reintrodução da veneração de imagens ocorreu sem grandes problemas, porém hereges paulicianos foram brutalmente oprimidos por ordens dela. Teodora conseguiu proteger o império de ataques búlgaros pela diplomacia, enquanto o saque bizantino da cidade de Anazarbo na Cilícia encerrou a ameaça árabe no futuro próximo. Miguel passou a temer que sua mãe iria depô-lo para reinar sozinha. Ele ficou furioso que ela se recusou a deixa-lo escolher sua própria esposa, assim convocou seu tio Bardas de volta do exílio e os dois assassinaram Teoctisto em 855. Miguel conseguiu derrubá-la em 15 de março de 856 e se tornou o único imperador. Teodora continuou a viver no palácio por alguns anos até ser confinada em um convento junto com suas filhas. É possível que ela tenha sido solta por Miguel em 863 e assumido uma função cerimonial na corte, morrendo pouco depois do filho ser assassinado por Basílio I.

Teodora nasceu por volta de 815[9] em Ebissa, na região da Paflagônia.[10][11] Era filha do drungário e turmache Marino,[10] que morreu em algum momento antes de 830,[12] com sua esposa Teoctista Florina. Teodora tinha dois irmãos, Bardas e Petronas, e também três irmãs, Sofia, Maria e Irene.[9][10] Irene possivelmente se casou anos depois com o comandante militar Teófobo.[9]

A família de Teodora era da área rural da Paflagônia,[13] acreditando-se ser de origem armênia,[10][11] porém nenhuma fonte contemporânea descreve Teodora como sendo armênia.[14] Uma ligação entre sua família e o clã nobre armênio dos Mamicônios foi sugerido no passado, mas não existem fontes suficientes para provar que tal conexão realmente existiu.[15] De qualquer forma, a família de Teodora era associada com algumas famílias armênias da capital. Era sobrinha de Manuel, o Armênio, um proeminente estratego que brevemente entre 819 e 820 comandou todas as cinco províncias bizantinas asiáticas. É possível que sua família estava envolvida no comércio pelo Mar Negro, pois eram donos de navios usados comercialmente. Não se sabe se a família de Teodora, com exceção de Manuel, tinha boas conexões antes dela se tornar imperatriz.[16]

Imperatriz consorte

[editar | editar código-fonte]

Seleção e casamento

[editar | editar código-fonte]

A imperatriz viúva Eufrósine, madrasta do jovem imperador Teófilo, realizou em 830 um desfile de noivas para ele, escolhendo pessoalmente uma seleção de jovens reunidas por oficiais que tinham sido previamente enviados para encontrar as mulheres mais bonitas e bem-nascidas das províncias do império.[11][17] Teófilo nasceu por volta de 812 e 813 e foi coroado coimperador em 821 ao lado de seu pai Miguel II, tornando-se o único imperador em 829 depois da morte de Miguel. Ele era um iconoclasta, alguém contra a veneração de imagens, pois o Império Bizantino tinha retornado para a iconoclastia em 815 durante o reinado do imperador Leão V, predecessor de seu pai.[11]

Teófilo transformou o desfile em um grande espetáculo, realizado em um salão grandioso e recentemente construído no palácio imperial. Ele acabou escolhendo Teodora e indicou sua escolha ao lhe presentear com um pomo de ouro.[17] Segundo o crônico Simeão Logóteta do século X, Teófilo inicialmente ficou encantado pela beleza de outra mulher, Cássia, posteriormente uma poeta e compositora de destaque, e cinicamente disse para ela que "por uma mulher, o mau chegou ao homem", uma referência à Eva.[18][19] Este comentário, considerado pela historiadora Judith Herrin como tendo sido uma "maneira infeliz de atrair o afeto de uma futura esposa",[19] fez Cássia responder que "por uma mulher, coisas melhores começaram", se referindo à Maria.[18][19] Teófilo foi pego de surpresa pela resposta ousada e então entregou o pomo para Teodora.[18][20] Segundo o historiador Warren Treadgold, Teodora era "bonita",[nota 3] sensível e adaptável, sendo um bom par para Teófilo. Entretanto, o imperador inicialmente não percebeu que ela, assim como Eufrósine, era uma iconófila.[17] Teodora foi coroada imperatriz na Igreja de Santo Estêvão em Dafne em 5 de junho de 830,[18][23] com o casal então se casando na Santa Sofia.[18]

Moeda cunhada no reinado de Teófilo, mostrando o imperador com Teodora e Tecla no anverso (esquerda), e Ana e Anastácia no reverso (direita)

Teodora, após sua coroação, doou sete quilogramas de ouro para o patriarca João VII de Constantinopla, a mesma quantidade para o clero e 23 quilogramas para o Senado.[18] Boa parte do tempo de Teodora foi passado dando à luz seus filhos e cuidando deles.[24] Teófilo e Teodora tiveram sete filhos: os meninos Constantino e Miguel, e as meninas Tecla, Ana, Anastácia, Pulquéria e Maria.[10] Constantino brevemente reinou como coimperador,[25] mas morreu afogado em uma cisterna do palácio aos dois anos de idade.[11] Teófilo, diferentemente de muitos imperadores, tinha grande orgulho de suas filhas.[24] Tecla, Ana e Anastácia eram as filhas mais velhas e todas foram proclamadas augustas no final da década de 830, sendo comemoradas em moedas incomuns que mostravam Teófilo com Teodora e Tecla no anverso, enquanto Ana e Anastácia eram mostradas no reverso.[24][25] Constantino talvez tenha sido o mais velho de todos ou o quarto geral, Pulquéria e Maria eram a quinta e a sexta, enquanto Miguel era o mais novo de todos.[24]

Teodora aparentemente continuou a venerar imagens secretamente durante o reinado de Teófilo, mesmo com a desaprovação do marido.[10][26] Não fica claro até que ponto ela praticava essas crenças e também não se sabe o quanto ele sabia.[26][27] É possível que Teodora manteve essa veneração em segredo por causa da privacidade dos aposentos femininos no palácio imperial.[27] Se Teófilo sabia, não é claro até que ponto suas diferentes convicções religiosas os afetaram em nível pessoal.[28] Em certo momento a imperatriz conseguiu que seu marido libertasse o pintor iconófilo Lázaro Zografo.[10]

O relacionamento entre o imperador e a imperatriz nem sempre foi bom. Foi revelado em 839 que Teófilo estava tendo um caso com uma das atendentes de Teodora, algo que a imperatriz não aceitou bem e fez se tornar público. O imperador encerrou o caso e pediu desculpas para a esposa, construindo um palácio em ta Karianos para suas filhas como parte de seu pedido de desculpas.[25] Segundo um relato possivelmente inventado,[28] o casal teve uma discussão depois de Teófilo ter avistado um bom navio mercante no porto, ter perguntado quem era o proprietário e sido informado que era sua esposa.[29] Ele considerou que atividades comerciais eram incompatíveis com a vida imperial,[28] exclamando "O quê! Minha esposa fez de mim, um imperador, em um comerciante?", imediatamente ordenando que o navio e sua carga fossem queimados.[29]

Iluminura mostrando as cinco filhas de Teófilo e Teodora sendo instruídas na veneração de imagens por sua avó materna Teoctista.[nota 4]

A veneração de imagens por Teodora às vezes levou a conflitos com Teófilo. Ela frequentemente enviava as filhas ao mosteiro onde Eufrósine tinha ido viver após 830, onde, sem o conhecimento do imperador, elas também foram ensinadas a venerar imagens. As filhas mais velhas eram mais inteligentes e mantiveram isso em segredo, porém Pulquéria, que tinha dois anos de idade, contou ao pai em meados de 839 sobre as "bonitas bonecas" mantidas em uma caixa no mosteiro e como as meninas costumavam beijá-las. Teófilo ficou furioso e proibiu as filhas de visitarem Eufrósine novamente e possivelmente forçou a madrasta a deixar o mosteiro.[25] De qualquer forma, os ensinamentos iconófilos de Teodora e Eufrósine já tinham sido bem-sucedidos, com nenhum dos filhos do casal tendo se tornado iconoclastas quando adultos.[32]

Teodora celebrou várias cerimônias públicas junto com seu marido. Apesar dela praticamente nunca ter testemunhado essas cerimônias antes de se casar e tornar imperatriz, não existem evidências de que ela algumas vez cometeu algum erro em suas ações, possivelmente porque foi auxiliada por Eufrósine. Teodora também participou de celebrações das realizações militares do marido, aparecendo junto dele em triunfos ocorridos em 831 e 837, além de ser a anfitriã de uma recepção especial para os comandantes militares de Teófilo no vilarejo de Hieria após sua primeira vitória militar.[33] O imperador morreu de disenteria em 20 de janeiro de 842, após aproximadamente doze anos de reinado, quando provavelmente tinha menos de trinta anos de idade.[34][35] Teófilo, em seu leito de morte, fez um discurso eloquente para seus cortesãos e comandantes militares, implorando para que eles defendessem os direitos de Teodora e seu herdeiro Miguel, então com apenas dois anos de idade.[34]

Moeda cunhada no primeiro ano de reinado de Teodora, mostrando a imperatriz sozinha no anverso (direita) e sua filha Tecla mais proeminentemente no reverso (esquerda) do que Miguel

A morte de Teófilo, assim como havia ocorrido após a morte de Leão IV em 780, fez com que um imperador iconoclasta fosse sucedido por uma esposa iconófila e um filho menor de idade. Diferentemente da imperatriz Irene, esposa de Leão, que depois derrubou seu filho Constantino VI e reinou em direito próprio, Teodora não era tão implacável e não precisou usar métodos drásticos para tomar o poder. Ela estava com menos de trinta anos de idade, mas tinha vários conselheiros leais e competentes e era ela própria uma líder capaz e que inspirava lealdade.[36] Nunca se casou novamente, algo que permitiu que mantivesse sua independência e autoridade.[37]

Dentre os conselheiros e apoiadores mais proeminentes de Teodora estavam seus irmãos, seu parente Sérgio Nicetiata e também o logóteta e eunuco Teoctisto. A maioria destes também eram iconófilos,[36] porém alguns, como Teoctisto, eram iconoclastas até recentemente.[31] Teoctisto e possivelmente Bardas tinham sido nomeados por Teófilo. O imperador também tinha nomeado Manuel, tio da imperatriz, mas é possível que este já tivesse morrido. Teófilo talvez tenha achado importante nomear oficiais tão experientes para ajudar a esposa devido ao reinado anterior de Irene. Não há evidências de que ele fez isso por causa das convicções religiosas de Teodora.[26] Ela foi criticada por um asceto chamado Simeão pouco depois de ascender ao poder, supostamente respondendo a ele que "Já que você chegou a esta conclusão, afaste-se de mim. Pois fui ensinada e aprendi com meu parceiro e marido, governarei com mão firme. Verás".[38]

Iluminura mostrando Miguel e Teodora com alguns cortesãos, incluindo Teoctisto

A extensão dos poderes de Teodora são debatidos por acadêmicos modernos. A enciclopédia Oxford Dictionary of Byzantium a reconhece como tendo sido uma imperatriz reinante, mas também afirma que Teoctisto manteve grande poder durante o período.[10] O historiador John Bagnell Bury afirmou que a posição de Teodora era muito similar àquela de Irene durante a minoridade de Constantino VI e que o governo imperial foi conduzido conjuntamente por Teodora e o menor Miguel III, com a real autoridade "investida sobre a mãe provisoriamente".[39] O historiador Charles Abraham Elton também contou Teodora como uma monarca do Império Bizantino.[2] Vários acadêmicos mais recentes defenderam que ela governou como imperatriz reinante, não apenas como regente.[40][41] Segundo a historiadora Lynda Garland, é difícil determinar se Teodora ou Teoctisto era o principal responsável por governar o império durante a minoridade de Miguel, mas que um ou ambos devem ser considerados "notavelmente bem-sucedido(s) no governo". Independentemente se Teoctisto era o verdadeiro poder por trás do trono ou um mero conselheiro, é evidente que ele era uma autoridade governamental com um histórico de serviço longo e leal, tendo contribuído e influenciado a política imperial durante o reinado de Teodora.[42]

Foi registrado que Teodora lidava com as questões de estado, nomeava ministros e autoridades, cuidava da diplomacia estrangeira e enviava embaixadores para a Bulgária, Califado Abássida e Estados Papais.[43] Moedas cunhadas em seu primeiro ano de reinado mostravam Teodora sozinha no anverso e sem outros regentes. Miguel e Tecla foram representados no reverso. Teodora era a única que recebia um título, o de déspota.[8] Desta forma ela era claramente representada como a governante principal.[44] Estas moedas serviram para estabelecer sua própria autoridade como governante e associar seus jovens herdeiros.[45] As moedas também representavam Tecla mais proeminentemente do que Miguel,[44] mostrando que ela foi nomeado coimperatriz ao lado do irmão.[46][47] Um selo imperial dos primeiros anos de reinado dá não apenas a Miguel mas também a Teodora e Tecla o título de "Imperador dos Romanos". Moedas posteriores mostram uma imagem de Cristo Pantocrator em um lado e Teodora com Miguel no outro.[8]

Restauração das imagens

[editar | editar código-fonte]
Imagem do século XIV ou XV do Triunfo da Ortodoxia. Teodora e Miguel estão no canto superior esquerdo, enquanto o patriarca Metódio está no canto superior direito

Teodora, como tinha apoio considerável, restaurou em março de 843 a veneração de imagens no Concílio de Constantinopla,[10][nota 5] apenas catorze meses depois da morte de Teófilo,[48] encerrando o segundo período iconoclasta bizantino. Ela afirmou que seu marido tinha se arrependido da iconoclastia no leito de morte com o objetivo de contornar oposição e salvar o legado de Teófilo.[36] Esta história também garantiu que a iconoclastia de Teófilo não afetaria negativamente o reinado de Miguel no futuro.[49] Os membros mais proeminentes do concílio foram Teodora, Teoctisto, Nicetiata, Bardas e Petronas, fazendo o concílio mais se parecer com uma reunião familiar.[50] O grupo se encontrava na casa de Teoctisto, onde condenaram a iconoclastia ao aceitarem o Segundo Concílio de Niceia de 787.[36]

João VII, o patriarca iconoclasta de Constantinopla, foi deposto e substituído pelo iconófilo Metódio I.[36] Todo o processo foi realizado em relativa tranquilidade, porém João inicialmente se recusou a deixar a residência do patriarca e mostrou ferimentos em seu estômago que ele alegou terem sido infligidos pelos guardas imperiais, porém é mais provável que ele próprio os causou.[50] Ele também causou problemas no exílio em um mosteiro no Bósforo, ordenando que um servo furasse os olhos de uma imagem; Teodora inicialmente queria cegá-lo, porém acabou ordenando que João fosse chicoteado duzentas vezes.[8] Metódio em seguida depôs a maioria dos bispos do império porque eles tinham se oposto ao Segundo Concílio de Niceia.[51] A restauração das imagens foi celebrada em 11 de março de 843 com uma grande procissão para Santa Sofia.[8] Este dia tem sido celebrado desde então como o Triunfo da Ortodoxia.[51]

Uma ação simbólica realizada para marcar a restauração das imagens foi a profanação da tumba do imperador Constantino V, um defensor da iconoclastia. Seus restos mortais foram removidos de sua tumba na Igreja dos Santos Apóstolos e queimados, com suas cinzas espalhadas para que nenhum local ficasse associado ao seu enterro. Sua tumba na igreja foi substituída por uma tumba para a imperatriz Irene, cujos restos mortais foram transferidos de seu antigo local de enterro na ilha de Prinquipo, reunindo-a com os restos de seu marido Leão IV e de outros governantes do império.[48] É possível que Teodora admirava Irene por esta ter sido uma governante mulher anterior e também uma restaurada de imagens.[48][52] A tumba de Irene seria posteriormente comemorada como local de descanso de uma heroína iconófila.[53]

Apesar da iconoclastia ordinária ter desaparecido do Império Bizantino, uma ameaça religiosa maior eram os hereges paulicianos, concentrados na Anatólia oriental. Os paulicianos eram dualistas e iconoclastas, pois rejeitavam todo o mundo material. Teodora, pouco depois da restauração das imagens, ordenou que o exército convertessem os paulicianos bizantinos a força ou os executassem. Apesar de alguns terem escolhido a conversão, milhares foram mortos e muitos outros escaparam pelas fronteiras do império, sendo acolhidos e protegidos por Ambros, o Emir de Melitene, nas vazias terras fronteiriças entre o Império Bizantino e o Califado Abássida.[54]

Política externa

[editar | editar código-fonte]
Mapa do Império Bizantino no início do reinado de Teodora

Teodora, com o objetivo de demonstrar que a ortodoxia poderia conquistar vitórias para o império além da iconoclastia, organizou em 853 uma expedição para retomar a ilha de Creta, que tinha sido perdida algumas décadas antes para os árabes. A expedição foi comandada por Nicetiata e Teoctisto e começou como um sucesso considerável, com a força de invasão conseguindo desembarcar e cercar as fortalezas inimigas. Entretanto, Teoctisto ficou preocupado quando ouviu rumores de que a imperatriz estava planejando nomear um novo imperador, possivelmente seu irmão Bardas, assim ele abandonou a campanha e correu de volta para Constantinopla. Os rumores eram falsos e Teodora planejava manter o poder para si, porém Teoctisto não foi capaz de retornar para Creta pois a Anatólia tinha sido invadida por Ambros. Teoctisto foi enviado com um exército para enfrentá-lo, mas os bizantinos foram derrotados na Batalha de Mauropótamo.[51] Os árabes em Creta contra-atacaram em 854,[55] destruindo a força de invasão bizantina e matando Nicetiata. Os bizantins tinham perdido a Batalha de Mauropótamo parcialmente por deserções para os árabes, algo que Teoctisto culpou Bardas, conseguindo convencer Teodora a expulsá-lo da corte.[51] A imperatriz não resistiu muito contra a ideia de exilar o irmão talvez porque temia que Bardas tivesse certas ambições próprias.[56] Teoctisto não perdeu prestígio com essas falhas e permaneceu influente na corte.[51] Os iconoclastas não fizeram grande uso das derrotas militares como propaganda.[54]

Com exceção da perda da Sicília e alguns pequenos ataques e incursões no leste, o Império Bizantino permaneceu em sua maior parte seguro de ameaças árabes durante o reinado de Teodora, gozando como um todo de um período estendido de relativa paz.[57] O cã Presiano I da Bulgária fez em 846 uma incursão na Macedônia e Trácia aproveitando-se da expiração de um tratado de trinta anos entre os dois países, porém foi repelido e forçado a assinar um novo tratado. Teodora organizou uma expedição em 848 para tentar retomar a Sicília, porém foi derrotada pelos defensores árabes. Ali ibne Iáia Alarmani, Emir de Tarso, atacou territórios imperiais em 851 e 854,[58] possivelmente por enxergar como sinal de fraqueza um império governado por uma jovem viúva e seu filho criança.[59] Estas incursões causaram poucos danos, mas Teodora decidiu retaliar ao enviar equipes de incursão para atacar o litoral do Egito em 853 e 854.[58] Os bizantinos queimaram em 853 a cidade egípcia de Damieta,[55] enquanto em 855 um exército imperial invadiu os território de Ali e saqueou Anazarbo, tomando vinte mil prisioneiros. Alguns prisioneiros que se recusaram a se converterem ao cristianismo foram executados por ordens de Teoctisto.[58] Segundo crônicos posteriores, estes sucessos, especialmente o saque de Anazarbo, impressionaram até mesmo os próprios árabes.[59]

Iluminura do século XIII de Teodora e Bóris trocando embaixadores

O cnezo Bóris I da Bulgária, pouco depois do saque de Anazarbo, começou a fazer ameaças contra o Império Bizantino pois o tratado com a Bulgária firmado por seu pai Presiano estava para espirar novamente, porém foi convencido a renová-lo sem a necessidade de ação militar.[58] Crônicos posteriores afirmaram, provavelmente embelezando em muito os fatos, que Teodora ameaçou Bóris de que iria liderar pessoalmente um exército bizantino contra o Bulgária caso ele invadisse o império, também dizendo que alcançar uma vitória sobre uma mulher tampouco seria algo considerado como uma grande realização militar.[59]

O império conseguiu ficar em vantagem sobre os búlgaros e abássidas.[60] As tribos eslávicas do Peloponeso em algum momento também foram forçadas a pagar tributos.[55] Teodora continuou a política de Teófilo de pagar salários altos aos soldados, mas mesmo assim foi capaz de manter um pequeno superávit no orçamento imperial e aumentou um pouco as reservas de ouro.[55][60]

Miguel completou quinze anos em 855, deixando-o próximo da maioridade em que poderia reinar por conta própria. Segundo o relato contado por Simeão Logóteta, Miguel tomou Eudócia Ingerina como amante e algum tempo depois a casou com seu amigo e coimperador, Basílio I.[60] Entretanto, esta narrativa é contestada e a neutralidade de Simeão debatida, com outras fontes contemporâneas não descrevendo nada do tipo, levando alguns historiadores bizantinos proeminentes, como George Ostrogorsky e Nicholas Adontz, a descartar essa história.[61] Independentemente, apesar do reinado de Teodora ter sido muito bem-sucedido, tanto ela quanto Teoctisto estavam insatisfeitos com Miguel, que negligenciava as questões de estado em favor de corridas de bigas, bebedeiras e tempo passado com sua suposta amante Eudócia. Teodora decidiu organizar um desfile de noivas para o filho na esperança de que um casamento talvez o colocasse no caminho certo. Foi permitido que Eudócia estivesse presente, mas tanto a imperatriz quanto Teoctisto a desqualificaram por supostamente não ser mais virgem. Miguel então se casou com Eudócia Decapolitissa contra sua vontade.[60]

Miguel ficou irritado por não escolher a própria esposa, assim resolveu derrubar sua mãe.[55][60] Ele também ficou preocupado com rumores sem fundamento de que Teodora estava planejando se casar novamente, talvez com Teoctisto,[10] ou casar alguma das irmãs de Miguel com um nobre. Estes rumores, iniciados por Bardas, ainda diziam que a imperatriz planejava manter o poder, elevar alguém ao torno e cegar e depor Miguel, seguindo os mesmos passos de Irene.[62] Miguel chamou Bardas de volta para Constantinopla depois de anos de exílio e juntos assassinaram Teoctisto em novembro de 855.[55][60] A conspiração também teve o apoio de Maria, uma das irmãs de Teodora, mas a intenção original talvez não fosse matar Teoctisto, mas sim humilhá-lo e forçá-lo ao exílio. Entretanto, Miguel ordenou que seus guardas o matassem. Segundo José Genésio, Teodora descobriu o que estava acontecendo e correu para salvar Teoctisto, mas foi afugentada por um dos conspiradores.[63] Ela ficou arrasada pela perda de seu amigo e confidente, ficando enraivecida contra Miguel e os outros conspiradores por meses.[60][63] Teodora chegou a gritar com o filho de que ele tinha matado um homem que "agiu como um segundo pai".[62] Miguel foi incapaz de aplacar sua mãe,[60] assim se declarou o único imperador em 15 de março de 856,[10] depondo-a formalmente e lhe tirando o título de augusta. O catalisador final talvez tenha sido a participação de Teodora em uma possível conspiração para assassinar Bardas.[63] Também é possível que alguns senadores queriam restaurá-la ao poder, mas Teodora recusou.[64] Ela aceitou sua deposição e se recusou a causar quaisquer danos que poderiam vir de uma disputa pelo poder.[60]

Fim de vida e legado

[editar | editar código-fonte]
Imagem grega do século XIX de Teodora como santa

Teodora continuou a viver no palácio imperial até 857 ou 858,[10][65] quando ela e as filhas foram confinadas no Mosteiro de Gástria,[65][66] apesar do patriarca Inácio ter se recusado a lhes dar tonsuras porque não tinham se tornado freiras por vontade própria.[64][66] Fontes posteriores registram que no exílio Teodora teve pena de vários homens que foram até ela por proteção por diferentes motivos, ajudando-os como podia.[64] É possível que ela foi solta por volta de 863,[67] recebendo permissão de Miguel para desempenhar um papel cerimonial.[66] Talvez seu título de augusta tenha sido restaurado.[37] Teodora continuou a ressentir Bardas, que alcançou cargos elevados no reinado de Miguel. Ela lhe enviou em 866 uma túnica que era intencionalmente muito curta e com um perdiz dourado, algo interpretado por Bardas como um sinal de enganação.[68]

Miguel e Teodora se reconciliaram no final da vida de ambos. Ela convidou o filho em 867 para um jantar em 25 de setembro e ambos aparentemente tomaram medidas com o objetivo de garantir que a ocasião fosse o mais agradável possível. Entretanto, este jantar nunca ocorreu pois Miguel foi assassinado por Basílio após um jantar no dia anterior.[69] Teodora há muito desconfiava de Basílio, mas não tinha poderes para fazer algo.[48] Ela morreu ainda no mesmo ano,[9] algum momento após o assassinato de Miguel.[66] Seu último registro foi durante o funeral do filho, quando ela e suas filhas estiveram presentes e choraram sobre seu corpo. Teodora foi enterrada no Mosteiro de Gástria.[70]

Teodora foi muito conceituada pelas gerações seguintes,[11] sendo lembrada como uma líder formidável, tanto por trazer um fim para a iconoclastia quanto por seus negócios bem-sucedidos com potências estrangeiras.[59] É reconhecida como santa pela Igreja Ortodoxa, sendo comemorada em 11 de fevereiro por seu papel no fim da iconoclastia.[38][66] A historiadora Lynda Garland avaliou que Teodora foi "uma mulher de caráter que foi capaz de excluir seu irmão do poder sem dificuldade, que não tinha medo de falar o que pensava quando necessário e que era completamente capaz de governar um império".[71]

Notas

  1. Teodora é algumas vezes enumerada como Teodora II,[1][2] com Teodora, a esposa (e em alguns aspectos comonarca) do imperador Justiniano I, sendo considerada como Teodora I.[3] Nestes casos, a posterior imperatriz reinante Teodora Porfirogênita é considerada como Teodora III.[2][4]
  2. Um selo imperial do reinado de Teodora demonstra sua posição como imperatriz reinante em que o título masculino "Imperador dos Romanos" é dado não apenas para Miguel, mas também para Teodora e sua filha Tecla.[8]
  3. Uma grande gama de fontes contemporâneas, tanto bizantinas quanto estrangeiras, descrevem Teodora como excepcionalmente bonita. O poeta contemporâneo Al-Ghazal, enviado em 840 como um emissário do Emirado de Córdova, escreveu que foi incapaz de tirar os olhos dela enquanto estavam no mesmo recinto, mesmo com Teófilo ficando atônito com sua grosseria, além de que "ela tinha o cativado com seus olhos negros".[21][22]
  4. É desconhecido o motivo de Teoctista, mãe de Teodora, ter sido representada nesta imagem em vez de Eufrósine, quem realmente instruiu as crianças na veneração de imagens.[30][31]
  5. A decisão de restaurar as imagens provavelmente foi decisão da própria Teodora e demonstra sua autoridade como governante e tomadora de decisões. É improvável que uma figura como Teoctisto, que até pouco antes era um iconoclasta, tenha tomado a iniciativa para tal ação.[31]
  1. Karagianni 2013, pp. 15, 22
  2. a b c Elton 1825, p. 304.
  3. Karagianni 2013, p. 22
  4. Marciniak & Nilsson 2020, p. 386
  5. Baumstark 2011, p. 128
  6. Bussell 1910, p. xiii
  7. Greenwalt 2002, p. 344
  8. a b c d e Garland 1999, p. 102
  9. a b c d Treadgold 1997, p. 438
  10. a b c d e f g h i j k l Kajdan 1991, p. 2037
  11. a b c d e f Garland 1999, p. 96
  12. Herrin 2002, p. 186
  13. Herrin 2002, p. 185
  14. Kaldellis 2019, p. 172
  15. Kajdan 1991, p. 1279
  16. Herrin 2002, p. 188
  17. a b c Treadgold 1997, p. 437
  18. a b c d e f Garland 1999, p. 98
  19. a b c Herrin 2002, p. 190
  20. Bury 1912, p. 82
  21. Bury 1912, p. 84
  22. Herrin 2002, pp. 200–201
  23. Herrin 2002, p. 171
  24. a b c d Herrin 2002, p. 191
  25. a b c d Garland 1999, p. 99
  26. a b c Garland 1999, p. 100
  27. a b Herrin 2013, p. 62
  28. a b c Herrin 2002, p. 192
  29. a b Garland 1999, pp. 100–101
  30. Herrin 2002, p. 181
  31. a b c Herrin 2013, p. 76
  32. Herrin 2013, p. 105
  33. Herrin 2002, p. 199
  34. a b Treadgold 1997, p. 445
  35. Kajdan 1991, p. 2066
  36. a b c d e Treadgold 1997, p. 446
  37. a b Herrin 2013, p. 30
  38. a b Herrin 2002, p. 2
  39. Bury 1912, pp. 144, 159
  40. Ringrose 2008, p. 78.
  41. Griffith 2001, p. 155.
  42. Garland 1999, p. 103
  43. Herrin 2002, p. 216
  44. a b Herrin 2002, p. 202
  45. Herrin 2013, p. 66
  46. Greenwalt 2002, pp. 343–344
  47. Herrin 2013, p. 327
  48. a b c d Herrin 2013, p. 213
  49. Herrin 2002, p. 204
  50. a b Garland 1999, p. 101
  51. a b c d e Treadgold 1997, p. 447
  52. Herrin 2013, pp. 204, 211
  53. Herrin 2013, p. 211
  54. a b Treadgold 1997, p. 448
  55. a b c d e f Garland 1999, p. 104
  56. Herrin 2002, p. 215
  57. Treadgold 1997, pp. 448–449
  58. a b c d Treadgold 1997, pp. 448–450
  59. a b c d Herrin 2002, p. 236
  60. a b c d e f g h i Treadgold 1997, p. 450
  61. Ostrogorsky 1956, p. 233
  62. a b Herrin 2002, p. 226
  63. a b c Garland 1999, p. 105
  64. a b c Herrin 2002, p. 228
  65. a b Treadgold 1997, p. 451
  66. a b c d e Kajdan 1991, p. 2038
  67. Herrin 2002, p. 232
  68. Herrin 2002, p. 229
  69. Herrin 2002, pp. 232–233
  70. Garland 1999, p. 107
  71. Garland 1999, p. 108
  • Baumstark, Anton (2011). On the Historical Development of the Liturgy. Collegeville: Liturgical Press. ISBN 978-0-814-66259-5 
  • Bury, J. B. (1912). A History of the Eastern Roman Empire from the Fall of Irene to the Accession of Basil I (A. D. 802–867). Londres: MacMillan. OCLC 1903563 
  • Bussell, Frederick William (2000) [1910]. The Roman Empire: Essays on the Constitutional History from the Accession of Domitian (81 A.D.) to the Retirement of Nicephorus III (1081 A.D.). Vol. 1. Clark: The Lawbook Exchange. ISBN 978-1-584-77082-4 
  • Elton, Charles Abraham (1825). A History of the Roman Emperors: From the Accession of Augustus to the Fall of the Last Constantine. Londres: Baldwin, Cradock and Joy 
  • Garland, Lynda (1999). Byzantine Empresses: Women and Power in Byzantium AD 527–1204. Londres: Routledge. ISBN 0-415-14688-7 
  • Greenwalt, William S. (2002). «Thecla». In: Commire, Anne. Women in World History: A Biographical Encyclopedia. Vol. 15: Sul–Vica. Waterford: Yorkin Publications. ISBN 0-7876-4074-3 
  • Griffith, Sidney H. (2001). «The Life of Theodora of Edessa: History, Hagiography, and Religious Apologetics in Mar Saba Monastery in Early Abbasid Times». In: Patrich, Joseph. The Sabaite Heritage in the Orthodox Church from the Fifth Century to the Present. Leuven: Peeters. ISBN 90-429-0976-5 
  • Herrin, Judith (2002) [2001]. Women in Purple: Rulers of Medieval Byzantium. Londres: Phoenix Press. ISBN 1-84212-529-X 
  • Herrin, Judith (2013). Unrivalled Influence: Women and Empire in Byzantium. Oxford: Princeton University Press. ISBN 978-0-691-15321-6 
  • Kaldellis, Anthony (2019). Romanland: Ethnicity and Empire in Byzantium. Harvard: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-98651-0 
  • Karagianni, Alexandra (2013). «Female Monarchs in the Medieval Byzantine Court: Prejudice, Disbelief and Calumnies». In: Woodacre, Elena. Queenship in the Mediterranean: Negotiating the Role of the Queen in the Medieval and Early Modern Eras. Nova Iorque: Palgrave Macmillan. ISBN 978-1-137-36282-7 
  • Kajdan, Alexander (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-504652-6 
  • Marciniak, Przemysław; Nilsson, Ingela (2020). Satire in the Middle Byzantine Period: The Golden Age of Laughter?. Leiden: BRILL. ISBN 978-90-04-44256-6 
  • Ostrogorsky, George (1956). History of the Byzantine State. New Brunswick: Rutgers University Press. ISBN 978-0-813-51198-6 
  • Ringrose, Kathryn M. (2008). «Women and Power at the Byzantine Court». In: Walthall, Anne. Servants of the Dynasty: Palace Women in World History. Berkeley: University of California Press. ISBN 978-0-52025-443-5 
  • Treadgold, Warren (1997). A History of the Byzantine State and Society. Stanford: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2630-2 

Ligações externas

[editar | editar código-fonte]

Teodora
Dinastia Amoriana
c. 815 – c. 867
Precedida por
Teófilo
Imperatriz Bizantina
20 de janeiro de 842 – 15 de março de 856
com Tecla e Miguel III
Sucedida por
Miguel III
sozinho
Precedida por
Eufrósine
Imperatriz Consorte Bizantina
5 de junho de 830 – 20 de janeiro de 842
Sucedida por
Eudócia Decapolitissa