Eleição presidencial no Brasil em 1960
1955 ← → 1964 | ||||
3 de outubro de 1960 Turno único | ||||
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Candidato | Jânio Quadros | Henrique Teixeira Lott | Adhemar de Barros | |
Partido | PTN | PSD | PSP | |
Natural de | Mato Grosso/São Paulo | Rio de Janeiro | São Paulo | |
Vencedor em | 16 estados | 8 estados + DF | 1 estado | |
Votos | 5.636.623 | 3.846.825 | 2.195.709 | |
Porcentagem | 48,27% | 32,93% | 19,56% | |
Estados e territórios onde cada candidato venceu de acordo com a legenda. | ||||
Titular Eleito |
A eleição presidencial brasileira de 1960 foi a décima sétima eleição presidencial e a décima quinta em sufrágio direto. Foi a última eleição antes do Golpe Militar de 1964 que instaurou uma ditadura no país. A próxima eleição direta ocorreria apenas 29 anos depois.
Processo eleitoral
De acordo com a Constituição de 1946, o mandato do presidente vigoraria por cinco anos [1]. O direito ao voto foi permitido a todos os brasileiros com mais de dezoito anos de ambos os sexos, mas os analfabetos eram proibidos a votar.[2] Foi determinado, também, que a eleição para presidente e vice-presidente ocorreriam de forma separada.
Candidatos
Como candidato governista inicialmente do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), tendo recebido o apoio de outros partidos de esquerda sendo eles o Partido Social Trabalhista (PST), o Partido Socialista Brasileiro (PSB), e o Partido Republicano Trabalhista (PRT), foi lançado a candidatura do marechal Henrique Baptista Duffles Teixeira Lott, ex-ministro que havia se notabilizado por garantir a posse do presidente Juscelino Kubitschek, cinco anos antes. Possuía o jingle "De Leste a Oeste, / De Sul a Norte, / Na terra brasileira, / É uma bandeira / O marechal Teixeira Lott".[3] O então vice-presidente João Belchior Marques Goulart, o Jango, se candidatou novamente ao cargo de vice, e talvez o seu jingle tenha sido o melhor de todos: "Na hora de votar, / O meu Rio Grande vai jangar: / É Jango, é Jango, é o Jango Goulart. / Pra vice-presidente, / Nossa gente vai jangar / É Jango, Jango, é o João Goulart". O jingle de Jango variava de estado para estado, e na versão nacional, aparecia como "o brasileiro vai votar".[4]
O PSP sem ter feito coligação, lançou novamente Adhemar Pereira de Barros, então prefeito de São Paulo e ex-governador, mas com bases mais sólidas. Seu jingle de campanha era apenas a frase "Desta vez, vamos com Ademar...", sendo repetida várias vezes.[5]
A sensação da eleição foi mesmo a ascensão irresistível do populista Jânio da Silva Quadros. Este, de obscuro professor em São Paulo, onde foi vereador e prefeito, passou a Governador do Estado, com reputação no combate à corrupção, e usou como símbolo de sua campanha a vassoura, somada ao jingle "Varre, varre, varre, varre, / Varre, varre vassourinha, / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já está cansado / De sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é esperança / Desse povo abandonado" conseguiu se eleger. Foi lançado pelo pequeno Partido Trabalhista Nacional (PTN) e pelo Partido Democrata Cristão (PDC), ganhou pouco a pouco adesões em outras pequenas legendas sendo eles o Partido Republicano (PR) e o Partido Libertador (PL). Finalmente,o [[Partido Social Democrático (1945-2003)(PSD) viu em Jânio a oportunidade de chegar ao poder. Este ganhou a eleição com 48% dos votos válidos e grande votação, inclusive com apoios no PTB, e na classe popular, tendo sido formado o movimento "Jan-Jan" (Jânio e Jango). Nas eleições, foi novamente eleito vice-presidente João Goulart, tendo sido derrotado o candidato da UDN, Milton Campos.[6]
A eleição de Jânio também foi acompanhada de triunfos udenistas na Guanabara, com Carlos Lacerda derrotando o petebista Sérgio Magalhães, e a vitória inesperada de Magalhães Pinto, para Governador em Minas Gerais, com escassa margem, sobre Tancredo Neves, do PSD.
A eleição de 1960 se caracterizou por grande participação, muitos comícios, e o uso dos símbolos como as vassouras (adeptos de Jânio, chamados de janistas), espadas (adeptos de Lott), o trevo (adeptos de Adhemar de Barros, chamados de ademaristas) e a utilização maior da TV como meio de propaganda.
O Movimento Trabalhista Renovador e o PDC lançaram o dissidente do PTB Fernando Ferrari para vice-presidente.[7]
Campanha
Foi em 1960, na campanha de Jânio Quadros, que pela primeira vez a televisão foi associada à eleição. Assim, surgiu a primeira propaganda eleitoral da TV. Com duração de vinte e quatro segundos, uma família de três pessoas, mãe, pai, e filho, aparecem sentados à mesa, tomando o café da manhã. Nisso, a mãe e o pai comentam o aumento do preço do leite, e o pai termina dizendo: "É, o jeito é votar no Jânio." Era pouca a cobertura televisiva da época, "mas eram suficientes para atingir os formadores de opinião". Jânio também teria um ano antes assumido, a pedido do então dono da TV Record Paulo Machado de Carvalho, um programa de entrevistas onde conversavam sobre os problemas do país.[8]
Um dos motivos para a vitória de Jânio foi o seu típico jeito populista de querer representar ser igual ao povo. Ele falava a linguagem do povo simples, andava com os cabelos despenteados, com o paletó cheio de caspa, e comendo sanduíche de mortadela nos palanques em que fazia seus discursos. Ele dizia ser um católico, anticomunista, a favor da família e da moralização da sociedade. Havia também o movimento "Jan-Jan" (Jânio e Jango).[8][9]
Resultados
Presidência da República
Eleição para presidente do Brasil em 1960 | ||
---|---|---|
Candidato | Votos | Porcentagem |
Jânio Quadros (PTN/UDN/PR/PL/PDC) | 5.636.623 | 48,27% |
Henrique Teixeira Lott (PSD/PTB/PST/PSB/PRT) | 3.846.825 | 32,93% |
Adhemar de Barros (PSP) | 2.195.709 | 19,56% |
Votos nominais | 11.679.157 | |
Votos brancos | 433.391 | |
Votos nulos | 473.806 | |
Votos apurados | 12.586.354 | |
Fonte:[10][11] |
Nota: Em negrito, o candidato vencedor.
Estados/Territórios vencidos por Jânio Quadros |
Estados/Territórios vencidos por Henrique Teixeira Lott |
Estado vencido por Adhemar de Barros |
Estado/Território | Jânio Quadros | Henrique Lott | Adhemar de Barros | Votos nominais | Votos brancos | Votos nulos | Votos apurados |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Acre | 5.496 | 4.336 | 783 | 10.615 | 283 | 459 | 11.357 |
Alagoas | 53.835 | 32.253 | 25.926 | 112.014 | 7.819 | 4.143 | 123.976 |
Amapá | 2.845 | 3.971 | 105 | 6.921 | 189 | 169 | 7.279 |
Amazonas | 23.812 | 32.324 | 2.202 | 58.338 | 1.596 | 3.528 | 63.462 |
Bahia | 255.530 | 232.391 | 47.824 | 535.745 | 19.931 | 29.202 | 584.878 |
Ceará | 189.372 | 184.118 | 27.668 | 401.158 | 13.152 | 21.814 | 436.124 |
Distrito Federal | 7.518 | 10.444 | 1.813 | 19.775 | 779 | 1.288 | 21.842 |
Espírito Santo | 88.900 | 59.805 | 31.705 | 180.410 | 5.144 | 8.955 | 194.509 |
Goiás | 125.427 | 126.671 | 22.338 | 274.436 | 23.744 | 20.100 | 318.280 |
Guanabara | 418.813 | 287.836 | 250.117 | 956.766 | 28.720 | 14.899 | 1.000.385 |
Maranhão | 56.727 | 81.102 | 72.456 | 210.285 | 11.201 | 13.563 | 235.049 |
Mato Grosso | 77.531 | 58.448 | 7.398 | 143.377 | 7.866 | 4.834 | 156.077 |
Minas Gerais | 692.044 | 679.951 | 183.599 | 1.555.594 | 88.266 | 84.595 | 1.728.455 |
Pará | 102.175 | 90.261 | 18.074 | 210.510 | 12.683 | 9.439 | 232.632 |
Paraíba | 143.408 | 104.725 | 18.349 | 266.482 | 10.345 | 9.485 | 286.312 |
Paraná | 369.737 | 122.360 | 163.810 | 655.907 | 45.946 | 21.756 | 723.609 |
Pernambuco | 226.211 | 185.136 | 34.626 | 445.973 | 13.027 | 24.606 | 483.606 |
Piauí | 53.172 | 61.061 | 7.780 | 122.013 | 4.638 | 5.682 | 132.333 |
Rio Branco | 1.906 | 2.057 | 98 | 4.061 | 103 | 137 | 4.301 |
Rio de Janeiro | 245.655 | 249.707 | 146.485 | 641.847 | 15.320 | 29.705 | 686.872 |
Rio Grande do Norte | 96.598 | 95.721 | 15.646 | 207.965 | 9.890 | 7.733 | 225.588 |
Rio Grande do Sul | 541.331 | 431.497 | 214.963 | 1.187.791 | 33.501 | 42.159 | 1.263.451 |
Rondônia | 1.240 | 1.741 | 2.301 | 5.282 | 148 | 165 | 5.595 |
Santa Catarina | 226.370 | 221.813 | 41.706 | 489.889 | 23.241 | 10.917 | 524.047 |
São Paulo | 1.588.593 | 441.755 | 855.093 | 2.885.441 | 53.589 | 101.639 | 3.040.669 |
Sergipe | 42.377 | 45.341 | 2.844 | 90.562 | 2.270 | 2.834 | 95.666 |
Total | 5.636.623 | 3.846.825 | 2.195.709 | 11.679.157 | 433.391 | 473.806 | 12.586.354 |
Vice-presidência da República
Eleição para presidente do Brasil em 1960 | ||
---|---|---|
Candidato | Votos | Porcentagem |
João Goulart (PSD/PTB/PST/PSB/PRT) | 4.547.010 | 36,1% |
Milton Campos (UDN/PR/PL/PTN) | 4.237.719 | 33,7% |
Fernando Ferrari (MTR/PDC)[7] | 2.137.382 | 17% |
Votos nominais | 10.922.111 | |
Votos brancos | 1.305.865 | |
Votos nulos | 358.378 | |
Votos apurados | 12.586.354 | |
Fonte:[10][11] |
Nota: Em negrito, o candidato vencedor.
Estados/Territórios vencidos por João Goulart |
Estados/Territórios vencidos por Milton Campos |
Estados vencidos por Fernando Ferrari |
Estado/Território | João Goulart | Milton Campos | Fernando Ferrari | Votos nominais | Votos brancos | Votos nulos | Votos apurados |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Acre | 6.360 | 2.572 | 1.163 | 10.095 | 945 | 317 | 11.357 |
Alagoas | 46.275 | 39.009 | 18.522 | 103.806 | 16.779 | 3.391 | 123.976 |
Amapá | 5.158 | 620 | 937 | 6.715 | 448 | 116 | 7.279 |
Amazonas | 32.451 | 8.821 | 14.274 | 55.546 | 4.985 | 2.931 | 63.462 |
Bahia | 232.135 | 217.141 | 67.735 | 517.011 | 44.575 | 23.292 | 584.878 |
Ceará | 199.026 | 163.888 | 30.933 | 393.847 | 27.082 | 15.195 | 436.124 |
Distrito Federal | 10.134 | 5.686 | 2.797 | 18.617 | 2.185 | 1.040 | 21.842 |
Espírito Santo | 71.186 | 66.374 | 34.921 | 172.481 | 16.213 | 5.815 | 194.509 |
Goiás | 130.786 | 94.392 | 28.678 | 253.856 | 50.373 | 14.051 | 318.280 |
Guanabara | 243.044 | 307.057 | 211.710 | 761.811 | 224.938 | 13.636 | 1.000.385 |
Maranhão | 102.267 | 35.773 | 61.966 | 200.006 | 25.250 | 9.793 | 235.049 |
Mato Grosso | 59.497 | 60.679 | 14.924 | 135.100 | 15.516 | 5.461 | 156.077 |
Minas Gerais | 660.337 | 667.573 | 132.202 | 1.460.112 | 207.052 | 61.291 | 1.728.455 |
Pará | 94.609 | 56.268 | 46.111 | 196.988 | 26.529 | 9.115 | 232.632 |
Paraíba | 122.471 | 103.909 | 26.269 | 252.649 | 26.413 | 7.250 | 286.312 |
Paraná | 219.006 | 194.670 | 133.483 | 547.159 | 161.261 | 15.189 | 723.609 |
Pernambuco | 182.496 | 184.450 | 67.307 | 434.253 | 31.324 | 18.029 | 483.606 |
Piauí | 62.110 | 47.324 | 10.637 | 120.071 | 7.984 | 4.278 | 132.333 |
Rio Branco | 1.844 | 1.114 | 1.016 | 3.974 | 190 | 137 | 4.301 |
Rio de Janeiro | 272.434 | 223.103 | 133.208 | 628.745 | 35.605 | 22.522 | 686.872 |
Rio Grande do Norte | 96.325 | 83.464 | 22.290 | 202.079 | 18.215 | 5.294 | 225.588 |
Rio Grande do Sul | 472.902 | 143.509 | 557.425 | 1.173.836 | 56.929 | 32.686 | 1.263.451 |
Rondônia | 2.096 | 754 | 2.126 | 4.976 | 482 | 137 | 5.595 |
Santa Catarina | 235.557 | 174.509 | 58.873 | 468.939 | 46.316 | 8.792 | 524.047 |
São Paulo | 940.638 | 1.314.907 | 454.801 | 2.710.346 | 253.954 | 76.369 | 3.040.669 |
Sergipe | 45.866 | 40.153 | 3.074 | 89.093 | 4.322 | 2.251 | 95.666 |
Total | 4.547.010 | 4.237.719 | 2.137.382 | 10.922.111 | 1.305.865 | 358.378 | 12.586.354 |
Consequências
Após eleito, Jânio Quadros governou por apenas sete meses, de 31 de janeiro de 1961 até 25 de agosto de 1961. Seu governo foi conturbado, e algo que muito chamou a atenção foi a condecoração de Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Em menos de um mês após a condecoração, Jânio renunciou. Os motivos teriam sido a oposição que Jânio enfrentava, mas uma outra versão alega que Jânio teria tentado dar um golpe de estado. Ele esperava que o Congresso Nacional não aceitasse sua carta de renúncia, e que pedisse-lhe a sua volta e, assim, Jânio não teria a oposição. Entretanto, o Congresso aceitou a renúncia.[12]
A Constituição dizia que o vice-presidente deveria assumir o cargo de presidente da República se o titular não pudesse exercer a função. João Goulart, o Jango, estava na China, e no lugar dele assumiu o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli. Muitos militares eram contra a posse de Jango, pois acreditavam que ele era uma ameaça ao país por seus vínculos políticos com o comunismo. Através da campanha da legalidade liderada pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola, que era cunhado de Jango, ele consegue assumir sob o sistema parlamentarista tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro. Em 1963, é realizado um plebiscito para a escolha entre parlamentarismo e presidencialismo. O presidencialismo vence, e a chefia do governo é devolvida a Jango.[13]
Jango anuncia uma série de reformas de base, e temendo que elas fossem realizadas com base no comunismo, os militares brasileiros realizam um Golpe Militar em 1964 com o apoio dos Estados Unidos. Após isso, o Brasil vivera um período ditatorial (1964-1985) marcado por perseguições políticas.[13]
“ | ... se [Lott] tivesse ido para a presidência do Brasil, teria instaurado um governo de legabilidade e de respeito à pessoa humana, e uma vinculação com partidos políticos, porque era um democrata sincero, inteligente e honrado. Com Lott na presidência, não teríamos ditadura militar durante vinte anos, não teríamos a falência nacional. Nada disso teria acontecido. | ” |
Referências
- ↑ Constituição de 1946 dos Estados Unidos do Brasil/Título I/Capítulo III/Artigo 82 Acessado em 12/11/2011.
- ↑ Júnior, Alfredo Boulos. História, Sociedade e Cidadania. 9º ano. 1ª edição - São Paulo - 2009.
- ↑ Jingle da campanha de Lott. Franklin Martins. Acessado em 01/12/2011.
- ↑ Jingle da campanha de João Goulart para vice. Franklin Martins. Acessado em 01/12/2011.
- ↑ Jingle da campanha de Ademar de Barros. Franklin Martins. Acessado em 01/12/2011.
- ↑ Jingle da campanha de Jânio Quadros. Franklin Martins. Acessado em 01/12/2011.
- ↑ a b Fernando Ferrari Política para políticos. Acessado em 02/12/2011.
- ↑ a b Branca Nunes (02/09/2010
às 21:27). «Dos sonhos de JK às vassouras de Jânio». Veja. Consultado em 2 de novembro de 2011 line feed character character in
|data=
at position 11 (ajuda); Verifique data em:|data=
(ajuda) - ↑ Piletti, Nelson e Claudino. História & Vida. Vl.2 - Brasil: da Independência aos dias de hoje. Cap. 10.5: A hora e a vez da democracia - Jânio: grande votação e frustração. Pg.79.
- ↑ a b Eleição Presidencial - 3 de outubro de 1960 (Domingo). (Pós 1945) Acessado em 02/12/2011.
- ↑ a b Secretaria do Tribunal Superior Eleitoral (página do IBGE)
- ↑ Por que Jânio Quadros Renunciou? Mario Maestri. O Nacional. Quarta-Feira, 31/08/2011. Acessado em 05/12/2011.
- ↑ a b João Belchior Marques Goulart. UOL. 05/12/2011.
- ↑ O soldado absoluto. Rafael Rodrigues em Digestivo Cultural. 18/9/2006. Acessado em 05/12/2011.