Usuário(a):Éric Gabriel Kundlatsch/Testes/Afrocentrismo

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Afrocentrismo é uma ideologia dedicada ao estudo da história africana. Sua principal finalidade é buscar a autodeterminação e uma ideologia pan-africana na cultura, filosofia e história de divulgar e incentivar o nacionalismo e o orgulho étnico entre os afro-americanos como uma arma de efeito psicológico contra o racismo global.

A principal teoria do afrocentrismo é a do Egito Negro, segundo a qual os habitantes do antigo Egito eram negros. O afrocentrismo é uma reação contra o eurocentrismo e suas distorções da história. Entre os estudiosos, o trabalho e os escritos de autores que se dizem afrocentristas são geralmente considerados parte de um discurso ativista e de uma reescrita eniesada da história próxima ao protocronismo. Algumas teorias da conspiração incorporam elementos afrocêntricos.

Terminologia [Flávia][editar | editar código-fonte]

A palavra afrocentrismo, provavelmente, foi empregada pela primeira vez por John Henrik Clarke em 1972 para afirmar a necessidade da história ser reescrita partir dos sujeitos africanos e afro-americanos.[1] O adjetivo afrocêntrico aparece em uma entrada da Encyclopedia Africana, possivelmente escrita por W. E. B. Du Bois.[2]

O substantivo afrocentricidade remonta a década de 1970,[3] e foi popularizado por Molefi Asante no livro Afrocentricity: The Theory of Social Change de 1980. A diferença fundamental entre afrocentrismo e afrocentricidade é que o primeiro coloca a pessoa africana no centro dos seus próprios interesses e enfatiza os usos culturais, enquanto a afrocentricidade é uma posição acadêmica dentro do estudo da história e realidade africanas. Afrocentricidade, assim, é “definida como uma epistemologia que apela a uma leitura do mundo a partir de África, colocando a África e os africanos como sujeitos da ação histórica no ponto de partida de qualquer análise da sua própria realidade”.[4]

De acordo com Asante, embora afrocentrismo e afrocentricidade sejam frequentemente confundidos com tendo o mesmo significado, nem todo afrocentrista é adepto do afrocentrismo. [5] Isto tem causado confusões, inclusive no meio acadêmico, sobre quem pode ser considerado um afrocentrista. Por um lado, ser um afrocentrista pode significar aderência à proposta de Asante e, por outro, ao afrocentrismo.[6] Para Asante, o afrocentrismo "referem-se a um amplo movimento cultural do final do século XX que possui um conjunto de ideias filosóficas, políticas e artísticas que fornecem a base para as dimensões musicais, indumentárias e estéticas da personalidade africana", enquanto afrocentricidade "é uma teoria da agência, isto é, a ideia de que os povos africanos devem ser vistos e verem-se como agentes e não como espectadores da revolução e da mudança histórica. Para este fim, a Afrocentricidade procura examinar todos os aspectos do lugar dos africanos na vida histórica, literária, arquitetônica, ética, filosófica, econômica e política".[7]

Definição [Flávia][editar | editar código-fonte]

Na década de 1970, vários autores como Cheikh Anta Diop, Théophile Obenga e Roy D. Morrison II, estavam preocupados em realizar e incentivar pesquisas que evidenciassem a urgência da valorização de um pensamento nativo africano.[8] Anta Diop e Obenga, em especial, afirmavam a primazia da civilização africana e que ela era pautada pela harmonia.[9] Nesse movimento inicial de colocar as africanos em posições de poder, em 1975, o nigeriano Chinweizu diagnosticava que a cultura africana era vista como exótica, quando deveria ser avaliada pela sua afrocentricidade.[10]

O afrocentrsimo surge como uma corrente filosófica afro-americana na década de 1980 com a publicação de Molefi Kete Asante dos livros Afrocentricity (1980) e The Afrocentric Idea (1987). Asante procura, a partir dos estudos históricos de Anta Diop, postular a África como o berço da civilização em matéria de filosofia, ciência, religião, política, arte e comunicação. O afrocentrismo, portanto, é formulado para atuar como um paradigma alternativo ao eurocentrismo.[11] Além da importância de Anta Diop e Obenga para a construção das bases históricas, filosóficas e linguísticas do afrocentrismo, há a retomada de nomes importantes do pensamento africano e afro-americano, como Du Bois, Marcus Garvey, Booker T. Washington e Malcom X para a construção desse "verdadeiro sistema multifacetado, em que ideologia, ciência, pensamento teórico, ideia do futuro, identidade coletiva formam um poderoso conjunto capaz de comunicar as etapas do resgate africano e afro-americano (“Njia”, o caminho) em contraposição ao imperialismo cultural e mental eurocêntrico".[10]

Existem também posturas mais radicais que defendem, como Wilson Jeremiah Moses, que o afrocentrismo deveria ser entendido como uma religião e uma utopia ou, como Yaacov Shavit, que coloca-o como um europeísmo enegrecido.[10] A principal finalidade do afrocentrismo é buscar a autodeterminação[12] e uma ideologia pan-africana na cultura, filosofia e história.[13]

Precursores [João][editar | editar código-fonte]

Edição de 1911 do periódico The Crisis, publicado pela NAACP. Na capa, está escrito "Ra-Maat-Neb, one of the kings of the Upper Nile". A imagem é uma cópia de um baixo-relevo retratando Nebmaatre I na pirâmide núbia de número 17.

A participação do Egito Antigo no passado do continente africano e sua conexão com o passado da África Negra tem sido tema importante na escrita da história sobre a África desde o século XIX[14]. Além de Giuseppe Sergi, Anténor Firmin, Frederick Douglas e M. Zaborowski, por exemplo, preocuparam-se com o tema naquele século[15]. Igualmente, o conceito de raça, já estava presente na filosofia da história desde as contribuições para o tema de Georg Wilhelm Friedrich Hegel no princípio dos anos 1800 e começa a ganhar novo vigor ao longo dos oitocentos, devido a integração que se pretendia fazer entre estudos de biologia e de história no período[16]. Durante o século XIX um problema de hierarquização das raças humanas reforçado pela filosofia hegeliana foi contra-argumentado através do pensamento de Giuseppe Sergi e Anténor Firmin acerca de grupos sociais humanos[15]. O Egito Antigo era até então tomado como uma civilização complexa, mas por isso considerada povoada pela raça caucasiana, visto que a essa era atribuída uma superioridade hierárquica arbitrária, porém Sergi e Firmin, defendiam a possibilidade de que os egípcios da antiguidade pertencessem a outras etnias[15]. Raisa Sagredo afirma que as ideias do pensador afro-americano Frederick Douglass, também reagindo às teorias de desigualdade racial ainda em meados do século XIX, estariam antecipando o que Cheikh Anta Diop iria propor sobre o Egito como origem da civilização para o mundo todo e sobre a necessidade afrocentrista de comprovar que os egípcios eram negros[17]. Para Douglass a formulação da noção de hierarquia racial era responsabilidade de cientistas como Henry Morton e encontrar evidências de que o Egito foi povoado na antiguidade por pessoas negras poderia ajudar a contestar essa ideia[17].

Em finais do século XIX, o egiptólogo conhecido como M. Zaborowski, interessado em comprovar que os egípcios formaram sua civilização como uma etnia única e africana, publicou o artigo Races préhistoriques de l'ancienne Égypte (Raças pré-históricas do Antigo Egito) sobre o tema no periódico francês Bulletins de la Société d’anthropologie de Paris (Boletins Informativos da Sociedade de Antropologia de Paris). De acordo com Sagredo, Zaborowski teria utilizado da comparação entre as medidas de crânios humanos, a chamada craniometria, para confirmar a ideia de que as populações do Egito eram africanas[17]. Ainda segundo Sagredo o uso dessa metodologia de pesquisa para a construção do pensamento defendido por historiadores afrocentristas seria tema das disputas de um evento chamado Colóquio do Cairo, ocorrido em 1974, que também foi organizado pela UNESCO para que se tratasse da raça a que, supostamente, deveriam ter pertencido os egípcios[18].

Para além dos ambientes formais da academia e das ciências oitocentistas, agremiados da maçonaria, como John Taylor, Piazzi Smith e Charles H. Vail, também foram responsáveis pela difusão no século XIX de mitos sobre a origem e complexidade da própria civilização egípcia, o que foi empregado por pensadores que no início do século XX também defenderam a origem egípcia para a civilização mundial[19]. James Churchward, escritor do tema do ocultismo, por exemplo, com motivos de crença mística afirmava na década de 1920 que o conhecimento construído no Egito Antigo teria sido a primeira fonte de saber da humanidade e que o pensamento filosófico do povo hebreu, bem como o pertencente às civilizações da Grécia e da Roma antigas teriam derivado de lá[20]. Bussoti e Nhaueleque, apontam que William Monroe Trotter e Booker Taliaferro Washington, intelectuais afro-americanos que atuaram entre o final do século XIX e início do século XX, participaram de um braço da maçonaria na cidade de Boston, nos EUA, a Prince Hall Grand Lodge, e por isso também relacionam o pensamento maçônico sobre o Egito com as posteriores teses afrocêntricas derivadas do trabalho de ambos[19].

O afrocentrismo sustenta que os afro-americanos deveriam retornar ao continente de origem de seus antepassados, para viver livres da influência da cultura ocidental, judaico-cristã, de seus antigos opressores. A maior parte desses conceitos encontra-se expressa na obra de George G. M. James, Stolen Legacy (Legado roubado), publicada em 1954. Nela o autor afirma, entre outros pontos, que a filosofia grega e os cultos dos Mistérios, quer na Grécia, quer em Roma, foram furtados do Egito; que os antigos gregos não possuiam habilidade inata para desenvolver a filosofia; e que os egípcios, de quem os gregos furtaram a filosofia, eram africanos negros[21]. Muitas dessas ideias foram semelhantemente inspiradas pelo pensamento de um autor mais antigo, Marcus Garvey, que entre fins do século XIX e início do XX compreendia que o sucesso dos brancos era devido ao sistema de ensino das crianças brancas, que defendia serem elas superiores. Desse modo, para que os negros também tivessem sucesso, difundia que eles deveriam ensinar aos próprios filhos sobre sua própria superioridade[22].

Em 1954, além de Stolen Legacy, publicado nos Estados Unidos, saiu na França a obra Nations nègres et culture de Cheikh Anta Diop, a outra grande obra precursora da afrocentricidade [afrocentrsimo? conferir], segundo Molefi Kete Asante. [23]

História [Flávia][editar | editar código-fonte]

Surgimento nos Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

O afrocentrismo surge nos Estados Unidos na década de 1960, em um contexto de reinvidicações políticas e culturais da população afro-americana. Ao longo das décadas de 1960 e 1980, questões como as políticas afirmativas, a luta pelo fim da discriminação racial e a abertura do espaço cultural e acadêmico aos afro-americanos são importantes para a construção do afrocentrismo nos Estados Unidos. Em 1987, por exemplo, foi fundado por Molefi Asante, na Universidade Temple, o primeiro programa de doutorado em Estudos Afro-Americanos.[24] O afrocentrismo também colocava-se como uma alternativa ao liberalismo de Ronald Reagan ao mesmo tempo que o rejeitava e criticava.[25]

De acordo com Stephen Howe, o afrocentrismo surge de debates ocorridos, em 1968, na African Studies Association (ASA). Essa associação era composta, em sua maioria, por pessoas brancas, o que levou a criação da African Heritage Studies Association (AHSA) por John Clarke com uma perspectiva de reunir exclusivamente intelectuais negros na reconstrução da história e da cultura africana com uma perspectiva afrocêntrica.[26]

1970-atualidade[editar | editar código-fonte]

Stolen Legacy de George G. M. James serviu como base para outras histórias afrocêntricas, tais como Africa, Mother of Western Civilization ("África, mãe da Civilização Ocidental"), de Yosef A. A. Ben-Jochannnan, um de seus alunos, e "Civilization or Barbarism" ("Civilização ou barbarismo"), de Cheikh Anta Diop, do Senegal. [inserir referência]

Contemporaneamente, entre os mais ativos nomes na sustentação do afrocentrismo encontram-se o Professor Molefi Kete Asante, da Universidade Temple, o Professor Leonard Jeffries, da Universidade da Cidade de New York e Martin Bernal, autor da obra "Black Athena". O afrocentrismo é ensinado em várias universidades estadunidenses, e é base curricular para o Ensino Fundamental em duas escolas na cidade de Milwaukee.[inserir referência]

[complementar]

Principais argumentos [Éric][editar | editar código-fonte]

Egito negro como berço da civilização[editar | editar código-fonte]

Parte do Papiro de Rhind, um dos mais antigos documentos matemáticos registrados e frequentemente utilizado para demonstrar o alto conhecimento matemático dos antigos egípcios

A tese do Egito como berço da civilização tem como fundamento a ideia de difusionismo defendida pelo afrocentrismo, que busca demonstrar a influência da cultura e do conhecimento egípcio antigo na cultura grega na antiguidade e, por extensão, na cultura ocidental em geral. O difusionismo é utilizado para responder a duas questões fundamentais: comprovar a influência egípcia sobre a cultura grega e estabelecer a origem única das civilizações africanas contemporâneas a partir do Egito. São quatro os principais argumentos através das quais o Afrocentrismo busca alcançar a resposta dessas questões, baseados nas diferentes formas de interação entre os egípcios e os gregos na antiguidade, sendo eles: ocupação militar, transferências demográficas, trocas comerciais e a presença de intelectuais gregos nas escolas egípcias. [27]

O afrocentrismo proposto por autores ligados a Asante e Diop é "egitocêntrico", defendendo a ideia de que o antigo Egito, frequentemente referido como o "Egito Negro" desempenhou um papel crucial na formação da civilização ocidental.[28] Além de Diop e Assante, outros autores que corroboram com essa tese, como Théophile Obenga argumentam que muitos dos princípios filosóficos, religiosos, científicos e éticos, como a ideia de imortalidade da alma e o autoconhecimento (conhece-te a ti mesmo)[29], que moldaram a cultura ocidental têm raízes no Egito antigo, que seria uma civilização negra, argumentando que o pensamento filosófico se originou no Egito, não na Grécia, e que conceitos filosóficos gregos, como o nous, têm precursores egípcios, sob a acusação de um "legado roubado" por parte dos gregos, mas sem especificar quais preceitos ou filósofos egípcios precedentes realizaram essa influência.[28] Além disso, esses autores argumentam que filósofos gregos como Sócrates e Platão foram influenciados pelos ensinamentos egípcios, acreditando que Sócrates — entendido aqui como um homem negro — adquiriu conhecimentos e ensinamentos durante sua estada no Egito, que teria ocorrido após a morte de seu mestre, e onde teria permanecido por 13 anos, estudando os ensinamentos de seu guia o sacerdote Sechnuphis em Heliópolis. Com isso, argumentam que Platão desempenhou um papel central na transmissão da influência egípcia para a filosofia grega.[29] Alguns afrocentristas, como Cheikh Anta Diop, afirmam que os africanos, em particular os egípcios, possuíam uma superioridade ética devido ao ambiente climático mais favorável em que viviam. Eles argumentam que os princípios éticos egípcios, como a busca pela paz, justiça e equilíbrio, influenciaram a ética em outras culturas, incluindo a grega e a cristã. [30]

Os afrocentristas, principalmente os ligados a Obenga e Asante, que abordam mais diretamente a questão da religião, também defendem que o monoteísmo tem raízes africanas, incluindo a figura de Moisés, que é considerado africano, e que o monoteísmo egípcio, centrado no culto de Aton como única divindade e implementado pelo faraó Aquenáton, influenciou o cristianismo e outras religiões monoteístas. Além disso, o Egito antigo legou importantes conhecimentos para a ciência ocidental, incluindo medicina e matemática[30], como as soluções matemáticas descritas no Papiro de Rhind e os conhecimentos de medicina do templo de Amenófis III, que viriam a ter sua influência reconhecida até mesmo por médicos gregos, como Hipócrates e Herófilo.

Línguas africanas[editar | editar código-fonte]

Mapa dos troncos linguístico das Línguas africanas, que corrobora com estudos linguísticos realizados a partir dos anos 1990 e contraria a hipótese da língua egípcia antiga como origem de todos os idiomas do continente africano

Intelectuais afrocentristas como Anta Diop e, principalmente, seu discípulo Obenga destacaram a necessidade de se encontrar ligações linguísticas que unissem os povos do continente africano, com uma raiz linguística em comum, para comprovar a influência do antigo Egito em toda a África antiga, sendo a origem dos fluxos civilizatórios que seguiram por todo o continente.[31] Diferentemente das abordagens linguísticas elaboradas a partir dos anos 1990, que buscam a origem da língua humana na costa sul-ocidental do continente africano, esses autores argumentavam uma origem egípcia dos idiomas de todo o continente, sustentando o ideal do Egito negro como berço da civilização humana. Desta forma, buscavam ligar a Língua egípcia antiga com os idiomas da África contemporânea. Esse argumento é de fundamental importância para demonstrar a suposta unidade cultural africana, buscando unir o norte da África com a África Bantu e as demais regiões étnico-linguísticas do continente.[32]

Essa tese incentivou uma onda de estudos da língua egípcia antiga e da egiptologia na França e em outros centros de estudos afrocentristas pelo mundo a partir dos anos 1980, que visavam compreender a origem do povo africano através de suas raízes egípcias, tanto de forma étnico-cultural, quanto de forma linguística. [33]

Para alguns intelectuais africanos, como Ngũgĩ wa Thiong'o, a questão linguística é fundamental como forma de reação ao imperialismo e como autodeterminação da intelectualidade africana. O autor usa sua escrita no idioma gĩkũyũ como forma de resistência anti-imperialista junto ao povo queniano e africano, e destaca a influência da imposição de idiomas não nativos como forma de dominação colonial, de forma a suprimir as identidades nativas, e impondo a identidade do colonizador, unificando e ignorando as individualidades regionais.[34] Essa forma de controle linguístico se destaca até mesmo após os processos das independências africanas, com a maior parte das legislações pós-coloniais mantendo a obrigatoriedade das escritas literárias e científicas nos idiomas dos colonizadores. Os afrocentristas, portanto, tratam como fundamental a necessidade do reconhecimento da unidade linguística do continente africano, como forma de resposta à opressão linguística colonial. [35]

Argumentos artísticos-literários[editar | editar código-fonte]

Pintura mostrando canudo do Egito Antigo por volta de 1300 a.C. e com representação dos habitantes do Egito com cor de pele negra

A maior ênfase argumentativa das principais e mais influentes obras afrocentristas está nos temas artísticos e literários. Cheikh Anta Diop retrata uma vasta gama de imagens de baixo-relevo, pinturas e monumentos que, segundo sua visão, comprovariam a origem negra do Egito Antigo, e consequentemente sua correlação com a África Contemporânea. Os antigos egípcios corriqueiramente se representavam com diversos tons de peles e cores de cabelo, comumente retratando homens de pele mais escura, mulheres de pele mais clara e escravidazos com pele também escura. Com base nisso, Diop conclui a autoidentificação dos antigos egípcios como pessoas negras. [36]

Como principal comprovação desse argumento, Anta Diop apresenta as pinturas das tumbas de Ramsés III e Seti I, que mediante uma análise do vestuário e de uma observação de semelhanças culturais contidas na representação dos diferentes vestuários de cada grupo étnicos, comprovariam a unidade cultural e étnica entre os antigos egípcios e os Núbios, civilização localizada ao sul do território egípcio e de etnicidade negra, de acordo com o consenso historiográfico.[37]

No âmbito literário, os afrocentristas não podem se utilizar dos escritos egípcios antigos, tendo em vista que seus autores não mencionam sua própria cor de pele, assim como essa é uma característica frequentemente faltante nos relatos de viajantes que visitaram o antigo Egito. Com isso, se recorre a abordagens de observadores externos e posteriores, como os gregos e romanos. Anta Diop referencia o livro de Gênesis da Bíblia cristã em seus escritos, buscando recorrer a origem bíblica do povo negro como descendente de Canaã (filho de Cam).[38] Vittorio  Morabito, sociólogo italiano, também analisa o Torá e outros textos judaicos e bíblicos para compreender a influência das ideias afrocentristas em movimentos religiosos como o Rastafarianismo, as igrejas “etiopianistas” da África do Sul, e a Comunidade  Africana  Hebraica  Israelita,  comunidade de Israelitas negros fundada  em  Chicago  em  1965.[39] Além da corriqueira citação do historiador grego antigo Heródoto e de Diodoro de Sicília, que, segundo o autor, tratam o povo do antigo Egito como um povo negro, corroborando a tese da unidade étnica da África.[38]

Cabeça colossal olmeca, esculturas utilizadas como argumento para a presença africana na América pré-colombiana por afrocentrista

Contatos transoceânicos pré-colombianos[editar | editar código-fonte]

Autores afrocentristas e arqueólogos de fora do movimetno afrocentrista, como Alfonso Medellín Zenil e Gonzalo Aguirre Beltrán[40], compreendem que a grandiosidade e os avanços científicos dos antigos africanos foi tão grande que extrapolou o próprio continente africano, alegando até mesmo a exitência de contatos pré-colombianos entre a África e a América. Como um das principais evidências, argumentam a aparência das cabeças colossais olmecas e sua similaridade com feições negras, alegando uma provável representação de personagens "negróides" que estariam presentes na américa pré-colombiana. [33]

Esses arqueólogos alegam que as feições das esculturas das cabeças feitas em basalto são idênticas aos "tipos étnicos" africanos, e que poderiam facilmente serem confundidas com representações de guerreiros ou reis da África clássica, não apenas pelas características físicas, mas também pelos adereços como brincos e penteados que seriam, segundo esses arqueólogos, típicos dos africanos do período, e dessa forma, comprovando uma suposta presença de africanos na mesoamérica antes da invasão europeia. [41]

Eurocentrismo versus afrocentrismo [Éric][editar | editar código-fonte]

Ler: PERSPECTIVAS TEÓRICAS E CRÍTICAS NAS LITERATURAS AFRICANAS & A PERSPECTIVA

[Juntar com Contra-argumentos]

Ilustração From the Cape to Cairo de Udo Keppler. Britânia carrega uma grande bandeira branca escrita "Civilização" e confronta um grupo de indígenas, que portam uma bandeira escrita "Barbárie". Em contraponto, os afrocentristas buscavam se apresentar como opositores ao afrocentrismo, combatendo a base do conhecimento ocidental "hegeliano" e resistindo a dominação colonial simbolizada por Briânia

Comumente tanto afrocentristas quanto seus críticos comparam o afrocentrismo ao eurocentrismo. Autores adeptos ao afrocentrismo como Cheikh Anta Diop, Molefi Kete Asante e Martin Bernal se propõe a romper com a lógica hegeliana e ocidental do conhecimento histórico, ligada diretamente aos pensadores europeus e o que alegam ser o "pensamento eurocentrado" através de uma ruptura com a visão tradicional da história da civilização humana, e seus métodos tradicionais, buscando novas formas de escrever a história da África e sua influência no mundo ocidental.[24] Os críticos ao afrocentrismo, como Mary Lefkowitz, comumente também o colocam lado a lado, no desejo de apontar as falhas das teses afrocentristas, e com isso ignorando a possibilidade da existência de outras formas de contar a história além da dicotomia artificial entre eurocentrismo e afrocentrismo, transpondo a noção de que nada há além da opção de sermos "afrocêntricos" ou "eurocêntricos". [33]

Desta forma, os dois polos, afrocentristas e seus críticos, estabelecem um "diálogo entre surdos". De um lado, os historiadores adeptos do afrocentrismo visam somente a destruição do modelo hegeliano ocidental de pensar a história da antiguidade e do continente africano como um todo, sem considerar possibilidades já apresentadas, e colocando-se em oposição a todo o conhecimento europeu anteriormente produzido. Do outro lado, se concentram historiadores que visam unicamente refutar os métodos e as teses dos afrocentristas, ignorando quase que completamente suas fontes e não aceitando a possibilidade de uma história alternativa aquela já definida anteriormente. [24]

Principais contra-argumentos [João][editar | editar código-fonte]

Críticos do afrocentrismo acusam a ideologia de ser pseudo-história,[42][43] reativa,[44] e terapêutica.[45]


Textos:

- BUSSOTI, Luca; NHAUELEQUE, Laura António. A Invenção de uma tradição: as fontes históricas no debate entre afrocentristas e seus críticos (2018).

- FARIAS, P. F. Afrocentrismo (2003).

[Faltou inserir as subdivisões]

[Falta inserir hiperligações. muitas estão faltando]

Bussoti e Nhaueleque defendem que as fontes utilizadas [quais?] para escrever as narrativas históricas consideradas como afrocentristas foram, na verdade, instrumentalizadas. Ou seja, segundo os autores, os historiadores [são só historiadores? tem certeza?] que aderiram ao afrocentrismo teriam entendido os dados que a documentação histórica [creio que seja melhor detalhar qual documentação histórica foi usada e mostrar como os autores subvertem os argumentos] poderia fornecer seguindo princípios filosóficos, ideológicos[11] e subjetivos[24] que talvez não correspondessem com o que estava na documentação[11]. Desse modo, para Bussoti e Nhaueleque, uma história escrita de modo afrocêntrico teria problemas semelhantes aos de uma história eurocêntrica, generalizando o passado africano para transformá-lo na história de toda a humanidade[9].

O princípio filosófico e ideológico que sustentaria o afrocentrismo, formulado por Molefi Kete Asante, seria a ideia de que a civilização e tudo o que ela representa teria surgido primeiro no continente africano. Os historiadores afrocentristas, portanto, acreditariam que a África teria uma “[...] primazia [que] abrange os diferentes aspectos do saber: filosofia, ciência, religião, política, arte, comunicação"[46]. Essa hipótese teria sido pensada para responder às narrativas históricas eurocêntricas como a feita por Hegel, filósofo e historiador moderno que atuando no século XIX contribuiu muito para que os povos africanos fossem considerados como despossuídos de história própria[9].

Em seus trabalhos de escrita da história africana, Molefi Kete Asante, que primeiro teria formulado os princípios da corrente, partiu principalmente da hipótese de que a filosofia em si teria nascido no Egito e não na Grécia como o pensamento ocidental moderno acreditou[46]. Mas, segundo Bussoti e Nhaueleque, o mito do Egito como fundamento para a filosofia no mundo teria sido influenciado pelo modo como místicos – maçônicos – atribuíam essa origem a ele [quem são esses autores? maçonicos da onde? como construiram esses mitos?]. Os pensadores maçônicos haviam construído, no século XIX, a imagem de um Egito misterioso e formador de conhecimentos que justificavam as crenças da sua agremiação[19].

Se o Egito deveria ser tomado como origem da civilização, a raça [cor da pele?] dos egípcios passou a preocupar os historiadores dessa ideologia [qual?], como Cheik Anta Diop. Cria-se então a ideia de que uma falsificação histórica para ocultar as provas de que o Egito era negro havia acontecido [como foi feita essa falsificação histórica? poderia recuperar o argumento?] [47]. Mas a eficácia das fontes utilizadas para comprovar essa operação de falsificação é questionada por Bussoti e Nhaueleque[36]. Por exemplo, no que diz respeito às fontes de tipo artístico mobilizadas, como relevos e pinturas egípcias, segundo os autores, os afrocentristas teriam visto nas representações de corpos humanos dessa arte características físicas que consideravam correspondentes com as da raça negra [poderia dar um exemplo mais concreto? quem sabe até colocar uma imagem dessa representação artística nesse trecho para ajudar na compreensão]. Bussoti e Nhaueleque argumentam, porém, que é possível que os egípcios tenham se representado colorindo a própria pele nas pinturas em tons mais claros que o Núbios, que foram escravizados por eles[36].

E aí por diante [não entendi. acho que ficou coloquial], o uso de outros tipos de provas estaria também equivocado: fontes literárias antigas, por serem indiretas, escritas por gregos e romanos [acho que vale salientar um pouco a diferença cronológica também de algumas fontes], não por egípcios, seriam ambíguas [como seriam ambíguas?] quanto a raça daquele povo[48]. Fontes que relacionavam práticas, costumes e estruturas sociais de outros povos africanos a uma origem egípicia, acabariam sendo ainda mais indiretas [poderia explicar melhor?][49]. Quanto às fontes de teor linguístico [não entendi]: “é muito provável que, no seio do continente africano, deva ter ocorrido uma diferenciação linguística, ao longo do tempo, que tem feito com que, na própria África (o continente mais rico do mundo, neste sentido, onde se concentra cerca de 30% do património linguístico atual), seja preciso falar de diferentes famílias linguísticas, rejeitando a ideia de uma unidade monolítica, assim como postulado pelos afrocentristas" [evitar citação direta, sempre parafrasear][32]. E as provas que, segundo afrocentristas, ligariam a civilização egípicia ao restante da África como ponto de origem através de semelhanças de antropologia física, na verdade confirmam que “os antigos Egípcios não eram nem ‘negros’ nem ‘brancos’; eles eram Egípcios, uma população de origens na sua maioria indígenas e com um alto nível de continuidade ao longo do tempo”[50].

Ao escrever "History in black", Yaacov Shavit considerava que o afrocentrismo radical tinha semelhanças com movimentos oitocentistas que tentavam construir identidades nacionais a partir de origens tribais ou raciais, como o panturanismo, o pangermanismo e o pan-eslavismo[51]. Mas a intenção desse autor foi principalmente criar comparações entre o afrocentrismo e uma tendência de escrita da história judia, em específico. Segundo Shavit, a ideologia pan-hebraica chamada "canaanita" visava afirmar o passado hebreu como origem de vários povos do Oriente Médio e da Grécia. Isso seria o equivalente do que era pretendido pelos historiadores afrocentristas que procuravam estabelecer a civilização egípcia como fonte de todas as demais africanas[52].

Clarence E. Walker, autor de "We can't go home" é terminantemente contrário [por que?] à hipótese de que o Egito teria originado civilizações em todo continente africano. Para ele esse pensamento, na verdade, serve mais para concentrar os esforços dos intelectuais em desvendar um passado mítico do que auxiliar na resolução de problemas sociais com que as populações negras em diáspora tem se deparado historicamente[53].

Organizada por Francois-Xavier Fauvelle-Aymar, Jean-Pierre Chrétien e Claude-Hélène Perrot, a coletânea de artigos "Afrocentrismes: l'histoire des Africains entre Égypte et Amérique" [é um livro? se sim, deve vir em itálico] trazia uma diversidade de abordagens do tema[54], dentre elas o tratamento do afrocentrismo como "historiografia mítica." [falta referência]

Em "The painful demise of Eurocentrism", Molefi Kete Asante, apresenta argumentação que ora define o afrocentrismo como corrente universalista, "[...] um esforço e projeto combinado, coletivo, da raça humana"[55], ora relativiza o pensamento afrocêntrico como um modelo moldado pelo lugar social dos historiadores (sua participação em instituições, o alinhamento filosófico desses profissionais, os ambientes em que vivem etc.)[56].

Música[editar | editar código-fonte]

O afrocentrismo não esteve resguardado apenas ao ambiente acadêmico, tendo relações com a cultura afro-americana, africana e, até mesmo, o carnaval brasileiro. O movimento intelectual começou a se projetar na cultura de massa nos anos 1960, com o advento da luta pelos direitos civis por parte dos negros estadounidenses, ao mesmo tempo que a África repensava seu papel na história. O pensamento antirracista não buscava apenas os direitos políticos, mas o direito pelo passado, pela cultura e de ser quem é [57][58].

Desde a soul até o hip-hop nos anos 1980 e 1990, existia uma reprodução de um discurso de orgulho da negritude e afrocentrado, no combate ao racismo e violência na américa do norte. Nos anos 1980, com o governo conservador de Ronald Reagan, a comunidade negra nos Estados Unidos, agora começando a se reconhecer e chamar-se de "afro-americana", teria o afrocentrismo como ponto de oposição ao liberalismo e conservadorismo na década, com agora novos ritmos musicais, funk, rap e rhythm and blues, como protagonistas, trazendo aquilo que havia começado há vinte anos, com a música negra sendo instrumento de justiça social e denúncia da violência sofrida.[59]

Década de 1960[editar | editar código-fonte]

Durante essa primeira década, com o advindo do Pan-Africanismo, a repercução das guerras por independência na na África e dos movimentos contrários as leis Jim Crow e os protestos a favor dos direitos civis. O afrocentrismo começava a dar seus primeiros passos no meio acadêmico, com Cheik Anta Diop, Marcus Garvey e Elijah Muhammad publicando seus primeiros trabalhos no calor desse momento, pensando sobre a história da população africana no continente de origem e nas Américas com o decorrer da diáspora. Diop em suas pesquisas busca reconciliar a África com sua imagem e passado e prepara-la para o futuro, encaminhando as novas gerações em um ambiente inspirador em relação a sua história (DIOP, 1974, p. 14-17). Existem diferenças entre as pesquisas acadêmicas e as músicas e peculiaridades dos artistas aqui apresentados. O afrocentrismo, nesse momento, aparece como um elemento de inspiração para estéticas mais africanizadas. A partir desta década, a comunidade afro-americana tende a cada vez mais procurar na sua própria história e culturas, fora dos moldes europeizantes, soluções para as dificuldades envolvidas com o racismo do presente [60][61].

Nos anos 1960, em meio às lutas antirracistas e em prol dos direitos civis nos Estados Unidos. James Brown também detém uma das músicas mais afrocentristas do período: “Say It Loud – I’m Black and I’m Proud” (1968). A música transborda uma forma de empoderamento e subversão. O "Rei do Funk" expõem um pensamento de orgulho negro, contando ainda com um coro de crianças, as quais respondiam quando Brown dizia "Say it loud" com "I'm black and I'm proud", se orgulhando de sua étinia e origem. Ele racializa o discurso, afirmando que a negritude é orgulhosa de si e de seu passado. Através disso, ela exige mudanças nos paradigmas raciais, contracenando com o ambiente político anteriormente descrito. [62]

A cantora Nina Simone também foi uma figura emblemática, com canções aclamadas como “To be Young, Gifted and Black” (1970) e "Four Women" (1965). De acordo com Molefi Asante, o "afrocentrismo seria colocar os ideais africanos no centro de qualquer discussão que envolva a cultura africana e seu comportamento" (1998, p.2). Simone exemplifica essa situação culturalmente de uma forma especifica. Ela era pan-africanista e apoiava publicamente as lutas por independência no continente e a união da África [63]. Nesse contexto ela recebe certa influência afrocentrista, buscava compreender em "Four Women" (1965) como a cor de pele aprisiona. Na música são apresentadas quatro mulheres com tons de pele diferentes e consequentemente violências diferentes. Contudo, na visão de Simone, isso as une. Logo, em uma análise estética, isso a torna afrocentrada por discutir as agressões sofridas por essas mulheres (e ela mesma) a partir dos termos dos próprios afro-americanos, adentrando em sua psique e sensações em relação ao racismo, procurando sobrepor estes obstáculos íntimos [64]

Por outro lado, "To Be Young Gifted and Black" (1970) releva um grau de esperança e retoma aos movimentos de resistência contra o racismo, personificados na juventude negra estadounidense. É uma canção de protesto, voltada à empoderar e gerar nos afro-americanos uma espécie de consciência negra e orgulho de ser quem é, como uma resposta positiva necessária e centrada na negritude [65]. A consciência negra, o estabelecimento de filosofias afrocentradas e sua vasão na cultura popular negra, personalidades famosas (Martin Luther king Jr., Malcolm X, Muhammad Ali) e envolvidas nos inúmeros protestos pelos direitos civis, pavimentaram o caminho para a popularização do afrocentrismo na década de 1980.

Década de 1980 e 1990[editar | editar código-fonte]

Os anos 1980 protagonizavam uma dispersão do afrocentrismo. Isso ocorria pela década ser marcada por uma forte onda conservadora, culminando na eleição de Ronald Reagan para a presidência. Em contra partida, a cultura urbana negra nos Estados Unidos exercia outro imaginário, focado no protagonismo de suas histórias, vidas e sofrimentos, contrários ao status quo branco e conservador. O afrocentrismo surge para esses grupos como um pensamento não europeizante e inversor da pirâmide histórica. A partir de seus postulados, a origem filosófica, civilizacional e cientifica não era de propriedade da antiga Grécia e Roma, e sim no Egito e Núbia antigas. As demandas e interpretações da população na época, principalmente aquela embarcada no meio cultura (Grafite, Hip Hop, Break e Rap) observavam o mundo e suas existências a partir desse viés, alterando de maneira íntima e ao mesmo tempo coletiva suas formas de expressão. Contudo, existem lacunas, o afrocentrismo não é compreendido em toda a sua essência acadêmica por esses artistas, todavia apresentam certa influência em suas estéticas e usos da história e cultura de África. [66]

Isso influenciou diversos artistas conscientes no hip-hop, entre eles Queen Latifah, a qual uma vez disse "Para mim afrocentrismo é uma forma de viver...é sobre ser você mesmo e com a sua gente e estar orgulhoso das suas origens."  Essa fala resume bem a forma como o pensamento afrocentrista se dispersou na cultura afro-americana dos anos 1980. Latifah utilizava roupas e pensamentos voltados a África, como pode ser visto no videoclipe de "Ladies First" (1989), com um forte cunho feminista negro. O clipe mostra cenas da África do Sul e a cantora com roupas tradicionais do continente. Ela, com o vídeo e as rimas da canção, honrava seus ancestrais, honrava um ideal de um continente africano racializado e visto a partir da ótica estadounidense. O discurso dessa geração de artistas vai além da simples critica ao racismo, agregando novas falas, estéticas que discutiam a cultura e história dos afro-americanos, termo o qual surgiu naquela época, através de seus próprios critérios e características. Isso criava uma forma de existir e ser totalmente diferente. [67][68]

Afrika Bambaataa e a difusão do afrocentrismo na cultura popular negra norte-americana na década de 1980.

Afrika Bambaataa foi um dos pioneiros do Hip Hop, ao lado de The Last Poets, DJ Kool Herc e Grandmaster Flash. Tinha um modo de vida afrocentrado, incluindo suas roupas, aparência e a troca de seu nome, inspirado nas figuras do Chefe zulu Bambata e do guerreiro lider dos Zulus no século XVIII Shaka Zulu, após uma viagem a África.  Afrika é também o fundador da Universal Zulu Nation, uma fundação criada no inicio dos anos 1970 para combater o crime e que depois de 1980 ganhou proporções mais pacificas e afrocentradas. No portal da fundação na internet é possível ler biografias produzidas por eles sobre diversos intelectuais africanos e afro-americanos, como Cheik Anta Diop. Em 1982 lançou “Planet Rock”, canção que viria a expandir o hip-hop para o globo, o que viria a resultar mais tarde em uma "turnê", quando ele e outros dançarinos, DJs e grafiteiros saíram dos Estados Unidos, espalhando sua cultura e influenciando diversos outros artistas. Mais uma vez, a ótica afrocentrada fixa um ponto de origem e orgulho, um começo para a memória desses povos em África através de grandes figuras de resistência e um passado grandioso. Isso influencia seus modos de vida de maneira intima, em contra partida a estéticas e estilos eurocêntricos. Ao mesmo tempo, agregam uma comunidade consigo, espalhando essas ideias no coletivo. [69][67]

As concepções do afrocentrismo acabaram por atravessar a fronteira dos Estados Unidos e aportar na cultura popular brasileira. São exemplos a musica "O Faraó" (1987), popular no carnaval da Bahia e o Axé brasileiro. Ambos reproduzem a tese dos afrocentristas de um Egito predominantemente negro; alicerçadas em uma reverencia para a civilização antiga, apropriada em uma cultura afro-brasileira como uma forma de resistência aos preconceitos vividos no país. [70] [71]

Por fim, no inicio dos anos 1990, Michael Jackson leva à televisão o clipe de "Remember The Time" (1991), faixa do albúm Dangerous. O vídeo reproduz, imageticamente, o imaginário afrocentrista da época, com um Egito predominantemente negro, tal qual as propostas de Diop e Asante.[70]

Usos publicitários[editar | editar código-fonte]

O afrocentrismo não acabou por influenciar apenas a musicalidade negra, outro exemplo da mesma época e conhecido na cultura de massa estadunidense foi a campanha publicitária da Budweiser "Great Kings of Africa". A peça publicitária foi produzida de fevereiro de 1976 ao ano 2000, com diversos reis e rainhas africanas, indo além do próprio Egito, até outras grandes civilizações, como a Núbia, o Império do Mali e o Rei Aníbal Barca de Cartago. O texto apostava não apenas no aumento das vendas para o público negro, mas em quais seriam as reações do publico jovem negro e as inspirações que geraria ao ver grandes reis e rainhas racializados e imaginados como pessoas negras, tal qual no século XX. O elemento de orgulho, inspiração e busca por uma origem retoma mais uma vez. [72][73] [Poderia mais claro os elementos afrocentristas? - Acredito que seja isso, se tiver alguma parte que ficou muito fora do prumo vou rever, mas não garanto que ela permaneça no verbete.]

Principais autores[editar | editar código-fonte]

Pilha de livros afrocentristas

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

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  2. Levine 2008, p. 497.
  3. Thairu 1985.
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Artigos científicos[editar | editar código-fonte]

Livros e capítulos de livros[editar | editar código-fonte]

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  • Asante, Molefi Kete (1999). The painful demise of Eurocentrism: an afrocentric response to critics. Trenton NJ (EUA) e Asmara (Eritreia): Africa World Press 
  • Howe, Stephen (1999). Afrocentrism: mythical pasts and imagined homes Paperback ed., 1. publ ed. London: Verso 
  • {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/The_African_Civilization.html?id=3uk_AAAAYAAJ&redir_esc=y%7Ctítulo=The African Civilization|ultimo=Thairu|primeiro=Kihumbu|data=1985|editora=Kenya Literature Bureau|lingua=en|ref=harv}
  • Toasijé, Antumi (2013). Si mie preguntáis por el Panafricanismo y la Afrocentricidad: artículos, conferencias, discursos y entrevistas, 2001-2013. Madrid: WanafriKa Centro Panafricano y Centro de Estudios Panafricanos 
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  • Asante, Molefi Kete (1998). The Afrocentric Idea rev., and exp. ed ed. Philadelphia: Temple University Press 
  • Appiah, Kwame Anthony; Gates, Henry Louis, eds. (2005). Africana: the encyclopedia of the African and African American experience 2. ed ed. Oxford: Oxford Univ. Press 

Páginas web[editar | editar código-fonte]

Jornais e revistas[editar | editar código-fonte]

Teses e Dissertações[editar | editar código-fonte]