Vida após a morte
As expressões vida após a morte (em latim: post mortem), além, além-túmulo, pós-vida, ultravida e outro mundo referem-se à continuidade da alma, espírito ou mente de um ser após a morte física. Os principais pontos de vista sobre o além proveem da religião, esoterismo e metafísica. Sob vários pontos de vista populares, esta existência continuada frequentemente toma lugar num reino espiritual ou imaterial. Acredita-se que pessoas falecidas geralmente vão para um reino ou plano de existência específico após a morte, geralmente determinado por suas ações em vida. Em contraste, o termo "reencarnação" refere-se ao renascimento em um novo corpo físico após a morte, isto é, a doutrina da reencarnação animal um período de existência do ser em outros planos sutis, que ocorre entre duas existências físicas ou renascimentos.[1]
Céticos, tais como materialistas-reducionistas, acreditam na impossibilidade da vida após a morte e a declaram como inexistente, sendo ilógica ou incognoscível.[2]
Tipos de vida após a morte
[editar | editar código-fonte]Existem dois tipos de opinião, fundamentalmente diferentes, sobre a vida após a morte: opinião empírica, baseada em supostas observações, e opinião religiosa, baseada na fé.[3]
- O primeiro tipo baseia-se em supostas observações feitas por humanos ou instrumentos (por exemplo, um rádio ou um gravador de voz, usados em psicofonia).[4] Tais supostas observações são feitas a partir de pesquisa de reencarnação, experiências de quase-morte, experiências extracorporais, projeção astral, psicofonia, mediunidade, várias formas de fotografias etc.[3][5] A investigação acadêmica sobre tais fenômenos pode ser dividida, grosso modo, em duas categorias: a pesquisa física geralmente concentra-se no estudo de casos, entrevistas e relatórios de campo, enquanto a parapsicologia científica está relacionada estritamente à pesquisa em laboratório.[3]
- O segundo tipo baseia-se numa forma de fé, usualmente fé nas histórias que são contadas pelos ancestrais ou fé em livros religiosos como a Bíblia, o Qur'an, o Talmude, os Vedas, o Tripitaka etc. Este artigo trata principalmente deste segundo tipo.
Vida após a morte em diferentes modelos metafísicos
[editar | editar código-fonte]Nos modelos metafísicos, teístas geralmente acreditam que algum tipo de ultravida aguarda as pessoas quando elas morrem. Os ateus geralmente não acreditam que haja uma vida após a morte. Membros de algumas religiões geralmente não-teístas, como o budismo, tendem a acreditar numa vida após a morte (tal como na reencarnação dos mortos), mas sem fazer referências a Deus.
Os agnósticos geralmente mantém a posição de que, da mesma forma que a existência de Deus, a existência de outros fenômenos sobrenaturais tais como a existência da alma ou a vida após a morte são inverificáveis, e portanto, permanecerão desconhecidos. Algumas correntes filosóficas (por exemplo, humanismo, pós-humanismo, e, até certo ponto, o empirismo) geralmente asseveram que não há uma ultravida.
Muitas religiões, crendo ou não na existência da alma num outro mundo, como o cristianismo, o islamismo e muitos sistemas de crenças pagãos, ou em reencarnação, como muitas formas de hinduísmo e budismo, acreditam que o status social de alguém na ultravida é uma recompensa ou punição por sua conduta nesta vida.
Vida após a morte em antigas religiões
[editar | editar código-fonte]Egito Antigo
[editar | editar código-fonte]A ultravida desempenhava um importante papel na antiga religião egípcia, e seu sistema de crenças é um dos mais antigos conhecidos. Quando o corpo morria, partes de sua alma conhecidos como ka (corpo duplo) e ba (personalidade) iam para o Reino dos Mortos. Enquanto a alma residia nos Campos de Aaru, Osíris exigia pagamento pela proteção que ele propiciava. Estátuas eram colocadas nas tumbas para servir como substitutos do falecido.[6]
Obter a recompensa no outro mundo era uma verdadeira provação, exigindo um coração livre de pecados e a capacidade de recitar encantamentos, senhas e fórmulas do Livro dos Mortos. No Salão das Duas Verdades, o coração do falecido era pesado contra uma pena Shu de verdade e justiça, retirada do toucado da deusa Maet.[7] Se o coração fosse mais leve que a pena, a alma poderia continuar, mas, se fosse mais pesada, era devorada pelo demônio Ammit.
Os egípcios também acreditavam que ser mumificado era a única forma de garantir a passagem para o outro mundo. Somente se o corpo fosse devidamente embalsamado e sepultado numa mastaba, poderia viver novamente nos Campos de Yalu e acompanhar o Sol em sua jornada diária. Devido aos perigos apresentados pela ultravida, o Livro dos Mortos era colocado na tumba, juntamente com o corpo.
Zoroastrismo
[editar | editar código-fonte]Zaratustra, que viveu na antiga Pérsia por volta do século VII a.C.,[8] pregava que os mortos serão devorados pelo terror e purificados para viver num mundo material perfeito no fim dos tempos.
O texto pálavi Dadestan-i Denig ("Decisões Religiosas"), datado de cerca de 900 AD, descreve o julgamento particular da alma três dias após a morte, sendo cada alma enviada para o paraíso, inferno ou para um lugar neutro (hamistagan) para aguardar pelo Juízo Final.[9]
Religião da Grécia Antiga e romana
[editar | editar código-fonte]Na Odisseia, Homero refere-se aos mortos como "espectros consumidos". Uma ultravida de eterna bem-aventurança existe nos Campos Elísios, mas está reservada para os descendentes mortais de Zeus.
Em seu Mito de Er, Platão descreve almas sendo julgadas imediatamente após a morte e sendo enviadas ou para o céu como recompensa ou para o submundo como punição. Depois que seus respectivos julgamentos tenham sido devidamente gozados ou sofridos, as almas reencarnam.
O deus grego Hades é conhecido na mitologia grega como rei do submundo, um lugar gélido entre o local de tormento e o local de descanso, onde a maior parte das almas residem após a morte. É permitido que alguns heróis das lendas gregas visitem o submundo. Os romanos tinham um sistema de crenças similar quanto a vida após a morte, com Hades sendo denominado Plutão. O príncipe troiano Enéas, que fundou a nação que se tornaria Roma, visitou o submundo de acordo com o poema épico Eneida.[10]
Religião nórdica
[editar | editar código-fonte]Os Eddas em verso e em prosa, as mais antigas fontes de informação sobre o conceito nórdico de vida após a morte,[11] variam em sua descrição dos vários reinos que são descritos como fazendo parte deste tópico. Os mais conhecidos são:
- Valhala: (literalmente, "Salão dos Assassinados", isto é, "os Escolhidos"). Esta moradia celestial, de alguma forma semelhante aos Campos Elísios gregos, está reservado aos guerreiros valorosos que morreram heroicamente em batalha.
- Helheim: (literalmente, "O Salão Coberto"). Esta moradia assemelha-se ao Hades da religião grega, com um local semelhante ao "Campo de Asfódelos",[12] onde as pessoas que não se destacaram, seja por boas ou más ações, podem esperar residir após a morte e onde se reúnem com seus entes queridos.
- Niflheim: (literalmente, "O Escuro" ou "Hel Nevoento"). Este reino é grosso modo similar ao Tártaro grego. Está situado num nível inferior ao do Helheim, e aqueles que quebram juramentos, raptam e estupram mulheres, e praticam outros atos vis, serão enviados para lá com outros do seu tipo, para sofrer punições severas.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Allan Kardec
- Alma
- Ateísmo
- Bardo
- Campos Elísios
- Céu
- Doutrina espírita
- Empirismo
- Espiritismo
- Epistemologia
- Escatologia
- Escatologia judaica
- Eternidade
- Experiência de quase-morte
- Transcomunicação Instrumental
- Experiência extracorporal
- Fantasmas
- Felicidade
- Fé
- Inferno
- Imortalidade
- Juízo Final
- Limbo
- Medicina preventiva e social
- Método científico
- Morte
- Morte e vida eterna na doutrina católica
- Plano de Salvação
- Ponto Ômega
- Positivismo lógico
- Psicofonia
- Purgatório
- Reencarnação
- Salvação
- Saúde
- Seol
- Verdade
- Valhala
- Vida
Referências
- ↑ Carolina Nascimento. «Como a morte é vista em diferentes religiões e doutrinas?». Ensinoreligioso.seed.pr.gov.br
- ↑ Décio iandoli Jr. «Sobre a lógica do materialismo». Movimentoespirita.org
- ↑ a b c Alexander Moreira-Almeida (2007). «É possível estudar cientificamente a sobrevivência após a morte?» (PDF). Consultado em 1 de abril de 2014. Arquivado do original (pdf) em 29 de novembro de 2010
- ↑ Alexandre de Carvalho Borges (14 de agosto de 2011). «Entrevista com Euvaldo Cabral Jr.: realidades invisíveis». Consultado em 1 de abril de 2014
- ↑ Pablo Nogueira; Carol Castro (Outubro de 2011). Superinteressante, ed. «Ciência Espírita». Consultado em 1 de abril de 2014
- ↑ Vida após a morte, "Departamento de Comunicação da IASD", ano I, ed. 8
- ↑ Bard, Katheryn (1999). Encyclopedia of the Archaeology of Ancient Egypt (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 0-4151-8589-0
- ↑ Zaratustra ou Zoroastro em UOL Educação. Acessado em 17 de setembro de 2008.
- ↑ «Zarathustra e sua Doutrina». Joselaerciodoegito.com.br
- ↑ Brandão, Junito de Souza. «A vida após a morte na Grécia Antiga». "Mitologia Grega", Vol. II. Petrópolis: Vozes, 2004. Templodeapolo.net
- ↑ «Runas, Religião e Sociedade Viking». Fornsed-brasil.org
- ↑ «Hades». Restaurantezeus.com.br
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Vida após a morte (Igreja Ortodoxa)» 🔗
- «Vida após a morte (Discovery Channel)» 🔗
- «Reencarnação, karma e vida após e morte (Protestantismo)» 🔗
- «Vida após a morte (Espiritismo)» 🔗
- «A Vida Após a Morte (Islamismo)» 🔗 [ligação inativa]
- «A vida após a morte nos Blogs». www.facom.ufba.br
- «Alexandre A. Cardoso, Cláudio Antônio C. Leite e Rita de Fátima A. Nogueira. Pesquisa quantitativa no campo religioso: reflexões ulteriores sobre a experiência de participação de um grupo acadêmico de estudos da religião em duas pesquisas quantitativas. Revista de Estudos da Religião, nº 3, 2002, pp. 86-99» (PDF). (em formato PDF)
- Tratado sobre las almas errantes - Pe. J.A. Fortea