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Afro-brasileiros: diferenças entre revisões

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O termo '''afro-brasileiro''' designa tanto pessoas com [[ascendência]] da [[África subsaariana]] quanto a influência cultural trazida pelos [[Escravidão na África|escravos africanos]] para o [[Brasil]].
O termo '''afro-brasileiro''' designa tanto pessoas com [[ascendência]] da [[África subsaariana]] quanto a influência cultural trazida pelos [[Escravidão na África|escravos africanos]] para o [[Brasil]].

Revisão das 23h22min de 31 de outubro de 2008

Afro-brasileiros[1][2][3]
Bandeira do Brasil
Percentagem de pretos no Brasil no ano de 2009
População total

Pretos: 20.656.458
10,2% da população brasileira

Regiões com população significativa
 São Paulo 3 546 562
Bahia Bahia 3 164 691
 Rio de Janeiro 2 594 253
 Minas Gerais 2 432 877
 Pernambuco 909 557
 Maranhão 854 424
Pará Pará 793 621
 Rio Grande do Sul 709 837
 Goiás 648 560
 Ceará 595 694
 Paraná 485 781
 Espírito Santo 429 680
 Piauí 400 662
 Mato Grosso 360 698
 Paraíba 316 572
 Santa Catarina 309 908
 Rio Grande do Norte 302 749
 Distrito Federal 301 765
 Alagoas 298 709
 Sergipe 283 960
 Tocantins 199 394
 Amazonas 193 667
 Mato Grosso do Sul 179 101
 Rondônia 136 793
 Amapá 86 662
 Acre 71 086
 Roraima 49 195
Línguas
Português
Religiões
63,2% Igreja Católica
23,5% Protestantismo
0,31% Religiões afro-brasileiras
9,18% Sem religião definida (dos quais 0,27% são ateus e 0,04% agnósticos)
3,55% Outras religiões e crenças.[4]
Grupos étnicos relacionados

Descendentes principalmente de Angolanos, Moçambicanos, Congoleses, Nigerianos, Beninenses, Camaroneses, Gaboneses, Guineenses e Senegaleses (origem de 86,5% dos africanos escravizados durante a era colonial); Descendentes em grau muito menor de outros povos africanos. Outros grupos étnicos relacionados: Afro-americanos, Afro-latino-americanos, Afro-caribenhos, Afro-jamaicanos

O termo afro-brasileiro designa tanto pessoas com ascendência da África subsaariana quanto a influência cultural trazida pelos escravos africanos para o Brasil.

O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África. Segundo o IBGE, os auto-declarados negros representam 6,3% e os pardos 43,2% da população brasileira, ou seja, oitenta milhões de brasileiros[5]. Tais números são ainda maiores quando se toma por base estudos genéticos: 86% dos brasileiros apresentam mais de 10% de contribuição da África subsaariana em seu genoma. Devido ao alto de grau de miscigenação, brasileiros com ascendentes da África subsaariana podem ou não apresentar fenótipos característicos de populações negras [6].

A maior concentração de afro-brasileiros está no estado da Bahia, onde 80% da população tem ascendência da África subsaariana[7].

História

Escravos africanos de diferentes origens. Monjolo, Mina, Moçambique,Moçambique, Benguela, Benguela, Calava, Moçambique e Moçambique
Escravas africanas de diferentes origens com penteados seguindo a moda européia

O Brasil recebeu cerca de 37% de todos os escravos africanos que foram trazidos para as Américas[carece de fontes?]. A quantidade total de africanos subsaarianos que chegaram no Brasil tem estimativas muito variadas: alguns citam mais de três milhões de pessoas[carece de fontes?], outros quatro milhões[8]. O tráfico de negros da África começou por volta de 1550.[carece de fontes?]

Durante o período colonial, os escravos de origem africana ou indígena eram a quase totalidade da mão-de-obra da economia do Brasil, utilizados principalmente na exploração de minas de ouro e na produção de açúcar.[carece de fontes?]

Os homens eram a grande maioria dos escravos traficados, o que afetava o equilíbrio demográfico entre a população afro-brasileira. No período 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam a reprodução natural da escravaria, porque era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças[9]. Em relação à grande quantidade de africanos negros que aqui chegaram, a sociedade brasileira têm até poucos de seus genes considerando-se o desequilíbrio que havia entre a quantidade de homens e mulheres, além da maior mortalidade entre a população de escravos[10].

Embora tenha sido proibido por várias leis anteriores, o tráfico internacional de escravos para o Brasil só passou a ser combatido através da lei Eusébio de Queirós de 1850, depois da pressão política e militar da Inglaterra.[carece de fontes?]

A escravidão foi diminuída no decorrer do século XIX com a Lei do Ventre Livre e a Lei dos Sexagenários, mas somente em 1888 foi definitivamente abolida através da Lei Áurea assinada pela Princesa Isabel. O Brasil foi a última nação ocidental a abolir a escravidão.[carece de fontes?]

No final do século XIX e início do século XX, os afro-brasileiros mulatos tiveram uma importante partícipação na produção cultural das elites e na política. Nesta época, viveram escritores como Machado de Assis e Lima Barreto, jornalistas como José do Patrocínio, filósofos como Tobias Barreto[11], políticos como o barão de Cotejipe[11], e o notável engenheiro André Rebouças[11] que até tornou-se amigo íntimo da família imperial. No mesmo período, um mulato, Nilo Peçanha[11][12][13][14][15], assumiu a presidência da República, e dois outros, Hermenegildo de Barros[16] e Pedro Lessa[16] tornaram-se ministros do STF. Esta característica da sociedade brasileira, que não tem similar em qualquer outra da América, já vinha ocorrendo desde os tempos coloniais em que mulatos como o escultor Aleijadinho, o arquiteto mestre Valentim e o compositor sacro José Maurício Nunes Garcia reproduziam e inovavam as artes aprendidas com europeus.

A participação dos mulatos na vida intelectual e política brasileira diminuiu abruptamente nos meados do século XX enquanto começam a se destacar os descendentes de imigrantes europeus e sírio-libaneses recém-chegados[carece de fontes?]. Por outro lado, simultaneamente, as formas de cultura popular afro-brasileiras começaram a ser aceitas pelas elites brasileiras e até celebradas como as genuinamente nacionais[carece de fontes?]. As formas de música popular e danças afro-brasileiras tornaram-se então predominantes, destacando-se a fama internacional do samba; mestre Bimba apresenta, em 1953, a capoeira ao presidente Getúlio Vargas que a chama de "único esporte verdadeiramente nacional"; as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuem e a Umbanda carioca passa a ser seguida pela classe média-branca[17]; escritores e compositores pertencentes à elite branca, como Jorge Amado, Toquinho e Vinícius de Moraes[carece de fontes?] utilizam e celebram as formas musicais e religiões afro-brasileiras; o futebol, esporte inicialmente das elites brancas, passou a ter jogadores negros e mulatos idolatrados por todo país. Chegou-se assim no paradoxo da situação atual em que a cultura afro-brasileira predomina no âmbito popular, mas a participação de afro-brasileiros é pequena na política, na literatura, nas ciências e na produção artística mais erudita das elites brasileiras.[carece de fontes?]

Origens

O tráfico negreiros classificava os escravos utilizando vários termos como Nagôs, Jejes, Mina, Angolas, Congos e Fulas, os quais se referem mais propriamente à região de origem do que a nações ou culturas. Cada um destes termos inclui, portanto, diferentes etnias. Outra fonte de confusão é que muitas vezes os escravos eram classificados pelo tráfico negreiro de acordo com a língua que falavam ou entendiam como, por exemplo, Nagôs (que entendiam Iorubá) e Haúças (que entendiam a língua haúça, língua comercial espalhada por toda África Central, antigamente chamada de sudanês). [carece de fontes?]

Os africanos mandados para o Brasil são divididos grosso modo em dois grandes grupos: os Bantu e os oeste-africanos.

Bantus

Os Bantus são descendentes de um grupo etnolingüístico que se espalhou rápida e recentemente desde a atual região de Camarões em direção ao sul, atingindo tanto o litoral oeste quanto o leste da África. Como esta expansão foi recente, as diferentes nações Bantus têm muitos aspectos étnico-culturais, linguísticos e genéticos em comum, apesar da grande área pela qual se espalharam[18].

Os Bantus trazidos para o Brasil vieram das regiões que atualmente são os países de Angola, República do Congo, República Democrática do Congo, Moçambique e, em menor escala, Tanzânia. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em Cassangas, Benguelas, Cabindas, Dembos, Rebolo, Anjico, Macuas, Quiloas, etc.

Constituíram a maior parte dos escravos levados para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e para a zona da mata do Nordeste[19][20][21].

Oeste-africanos

Os oeste-africanos provinham de uma vasta região litorânea que ia desde o Senegal até a Nigéria, alem do interior adjacente. A faixa de terra fronteiriça ao sul da região do Sahel, que se estende no sentido oeste-leste atravessando toda a África, é denominada Sudão. Frequentemente, os escravos de origem oeste-africana são chamados de sudaneses, o que causa confusão com os habitantes do atual país Sudão, que comprovadamente não forneceu escravos para as Américas. Além disto, apenas parte dos escravos de origem oeste-africana vieram da vasta região chamada Sudão. Os nativos do oeste-africano foram os primeiros escravos a serem levados para as Américas sendo chamados, nesta época, de negros da Guiné[21].

Os oeste-africanos eram principalmente nativos das regiões que atualmente são os países de Costa do Marfim, Benim, Togo, Gana e Nigéria. A região do golfo de Benim foi um dos principais pontos de embarque de escravos, tanto que era conhecida como Costa dos Escravos. Os oeste-africanos constituíram a maior parte dos escravos levados para a Bahia[19]. Pertenciam a diversos grupos étnicos que o tráfico negreiro dividia, principalmente, em:

Os Malês eram escravos de origem oeste-africana, na maior parte falantes da língua haúça, que seguiam a religião muçulmana. Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do Árabe para escrever em Haúça[carece de fontes?]. Além dos Hauçás, isto é, dos falantes de língua haúça, outras etnias islamizadas trazidas como escravos para o Brasil foram os Mandingas, Fulas, Tapa, Bornu, Gurunsi, etc.

Havia também oeste-africanos de outras etnias além das acima citadas como os Mahis, Savalu e vários outros grupos menores.

Rotas do tráfico entre Brasil e África

Cada época da História do Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos, e cada porto recebia escravos provenientes de uma grande região que ia até de centenas de quilômetros para o interior da África. Portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada, além de se ter alterado ao longo dos séculos de tráfico negreiro.

Apesar disto, os grupos étnicos acabaram se dividindo por locais, com preponderância dos Bantos no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil[19]. Uma das razões foi o momento histórico em que ocorreu cada ciclo econômico em uma região diferente do Brasil (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) e a oferta maior de escravos em uma região da África

Os portos de embarque na África concentravam escravos provenientes de uma grande região que ia até de centenas de quilômetros pelo litoral e para o interior do continente. De modo simplificado, podemos dizer que os escravos africanos trazidos para o Brasil originavam-se nos seguintes locais de embarque:

Cada época da História do Brasil tem diferentes portos importantes de embarque de escravos na África, portanto, a origem étnica dos escravos recebidos no Brasil é muito variada ao longo dos séculos de tráfico negreiro. Ao mesmo tempo, cada ciclo econômico (açúcar no nordeste, ouro em Minas Gerais e café no Rio de Janeiro) fazia com que uma região diferente do Brasil demandasse mais mão-de-obra escrava do que as outras. Assim temos:

Na primeira metade do século XIX, em que ocorreu o apogeu do tráfico de escravos para o Brasil, os escravos do oeste-africano iam principalmente para Salvador, enquanto os centro-oeste e leste-africano iam principalmente para o Rio de Janeiro. A razão é simplesmente a distância menor entre portos de embarque e desembarque, transportando uma carga que literalmente perecia com as más condições da viagem. Deste modo, os grandes grupos étnicos acabaram predominando em alguns locais como os Bantos no Rio de Janeiro e dos escravos oeste-africanos na Bahia e norte do Brasil[19].

Imigração africana recente

Nas décadas recentes, africanos negros têm imigrado ao Brasil[24], especialmente de países que falam português como Angola, Cabo Verde e São Tomé e Principe, em busca de oportunidades de trabalho ou comerciais. De qualquer modo, a sua quantidade é muito pequena em comparação aos afro-brasileiros descendentes de escravos.

Atualmente, há nas universidades públicas brasileiras um número expressivo de estudantes africanos, na maioria provenientes dos países lusófonos, muitos usufruindo de bolsas concedidas em projetos de cooperação internacional pelos órgãos financiadores do Brasil (CAPES, CNPq e outros).[carece de fontes?]

Demografia

Entrada de escravos africanos no Brasil(IBGE)
Período 1500-1700 1701-1760 1761-1829 1830-1855
Quantidade 510.000 958.000 1.720.000 718.000

Durante os séculos XVII e XVIII, os negros e mulatos foram a grande maioria da população brasileira. O crescimento da entrada de escravos africanos a partir do século XVI, o extermínio dos indígenas e a relativamente pequena quantidade de colonos portugueses contribuíram para o surgimento de uma maioria de afrodescendentes no Brasil.

Por outro lado, o crescimento da população de afro-brasileiros foi relativamente pequeno em comparação com a entrada de escravos da África subsaariana[10]. Primeiro porque os homens eram a grande maioria dos escravos traficados para o Brasil, atingindo quantidades até oito vezes maiores do que a de mulheres[19]. Segundo, porque a mortalidade era muito maior entre os escravos do que entre o resto da população brasileira. Em certos momentos da História do Brasil, o crescimento da população de afro-brasileiros deveu-se somente ao crescimento do tráfico de escravos[10]. A população de afro-brasileiros cresceu com força com a melhoria de tratamento dos escravos que ocorreu depois do fim do tráfico com a Lei Eusébio de Queirós de 1850.

Desembarque estimado de africanos[25]
Qüinqüênios Local de desembarque
Total Sul da
Bahia
Bahia Norte da
Bahia
Total 2.113.900 1.314.900 409.000 390.000
1781-1785 (63.100) 34.800 ... 28.300
1786-1790 97.800 44.800 20.300 32.700
1791-1795 125.000 47.600 34.300 43.100
1796-1800 108.700 45.100 36.200 27.400
1801-1805 117.900 50.100 36.300 31.500
1806-1810 123.500 58.300 39.100 26.100
1811-1815 139.400 78.700 36.400 24.300
1816-1820 188.300 95.700 34.300 58.300
1821-1825 181.200 120.100 23.700 37.400
1826-1830 250.200 176.100 47.900 26.200
1831-1835 93.700 57.800 16.700 19.200
1836-1840 240.600 202.800 15.800 22.000
1841-1845 120.900 90.800 21.100 9.000
1846-1850 257.500 208.900 45.000 3.600
1851-1855 6.100 3.300 1.900 900

Em 1800, estima-se que os negros eram cerca de 47% da população, contra 30% de mulatos e 23% de brancos. Em 1872, os afro-brasileiros (negros e mulatos) eram cerca de 60% da população (seis milhões de pessoas) e os brancos apenas 37%. Em 1890, os afro-brasileiros constituíam 57% da população brasileira (oito milhões) e os brancos apenas 43%.

Essa situação se inverteu no final do século XIX. Em 1880, os negros estavam reduzidos a cerca de 20% da população, contra 42% de mulatos e 38% de brancos. Com a entrada do século XX, os afro-brasileiros deixaram de representar a maioria da população. Em 1950, os afro-brasileiros constituíam 38% da população e os brancos subiram para 62%[26].

Os fatores que contribuíram para a brusca diminuição no número de negros e mulatos foram diversos. Primeiro, houve a grande imigração européia no Brasil em fins do século XIX e início do século XX. Segundo, a mortalidade era bem maior entre os afro-brasileiros que, em geral, não tinham acesso à boa alimentação, saneamento básico e serviços médicos. Finalmente, a miscigenação entre brancos e mestiços cresceu gerando um grande número de pessoas fenotipamente brancas.

Referindo-se à diminuição de negros na população brasileira, João Batista de Lacerda, único latino-americano a apresentar um relatório no I Congresso Universal de Raças, em Londres, no ano de 1911, escreveu que: "no Brasil já se viram filhos de métis apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca[...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência dos atavismo(...) mas a influência da seleção sexual (...) tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra(...) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio".

Evolução da população brasileira segundo a cor - 1872/1991[26]
Cor 1872 1890 1940 1950 1960 1980 1991
Total 9.930.478 14.333.915 41.236.315 51.944.397 70.191.370 119.011.052 146.521.661
Brancos 3.787.289 6.302.198 26.171.778 32.027.661 42.838.639 64.540.467 75.704.927
Pretos 1.954.452 2.097.426 6.035.869 5.692.657 6.116.848 7.046.906 7.335.136
Pardos 4.188.737 5.934.291 8.744.365 13.786.742 20.706.431 46.233.531 62.316.064
Amarelos ... ... 242.320 329.082 482.848 672.251 630.656
Sem declaração ... ... 41.983 108.255 46.604 517.897 534.878

A política de imigração brasileira no século XX não era somente um meio de colonizar e desenvolver, mas também de "civilizar" e "embranquecer" o país com população européia. O decreto no 528 de 1890, assinado pelo presidente Deodoro da Fonseca e pelo ministro da Agricultura Francisco Glicério determinava que a entrada de imigrantes da África e da Ásia seria permitida apenas com autorização do Congresso Nacional. O mesmo decreto não restringia, até incentivava, a imigração de europeus. Até ser revogado em 1907, este decreto praticamente proibiu a imigração de africanos e asiáticos para o Brasil[27]. Apesar de necessitar muito de mão-de-obra pouco qualificada em vários momentos históricos, depois do fim do tráfico de escravos para o Brasil nunca se pensou em trazer imigrantes livres da África.

Distribuição geográfica

Desde os tempos coloniais, há uma distribuição irregular da população de afrodescendentes no Brasil. Atualmente, porém, pode-se encontrar populações negras e pardas em todas as regiões brasileiras.

Depois da região nordeste, a região sudeste tem o maior número de afrodescendentes, seguida pelo Centro-Oeste. A região sul tem o menor número de afrodescendentes.

As regiões norte e nordeste abrigam a maior concentração de pessoas que se declaram pardas. Todavia, no caso da região norte, a maior parte dos pardos são de origem indígena, enquanto que, na região nordeste, a maior parte dos pardos são origem africana.

Os estados com maior porcentagem de afrodescendentes são a Bahia, com 13% de pretos e 60,1% de pardos, o Maranhão com 9,6% de pretos e 62,3% de pardos, e Alagoas com 5% de pretos e 59,5% de pardos. O estado de Santa Catarina tem a menor porcentagem de afrodescendentes: apenas 8,5% dos seus habitantes se declaram negros ou pardos.

Miscigenação

Daiane dos Santos
40,8% de ancestralidade européia, 39,7% africana e 19,6% ameríndia

Além da imigração européia do final do século XIX e início do século XX, um dos fatores que causaram a diminuição da população negra no Brasil foi a intensa miscigenação[28] entre brancos e negros que ocorreu desde o início do tráfico negreiro. A reduzida população de mulheres brancas acabou por acarretar um grande número de relacionamentos entre portugueses e africanas, assim como tinha acontecido no início da colonização entre portugueses e ameríndias. Alguns mulatos eram alforriados e, em grupos mais restritos, educados, todavia, a maioria deles continuava a ser escrava. Esse fenômeno não foi exclusivo da América Portuguesa, tendo ocorrido em toda a América Latina e, em menor escala, na América do Norte. A partir do século XIX, também tornaram-se mais comuns relacionamentos entre mulheres brancas e homens negros.

Também houve a miscigenação entre os africanos e os indígenas brasileiros, cujos descendentes são denominados cafuzos.

Pesquisas genéticas

Uma recente pesquisa genética, encomendada pela BBC Brasil, analisou a ancestralidade de 120 brasileiros auto-declarados negros que vivem em São Paulo[29]. Foram analisados o cromossomo Y, herdado do pai, e o DNA mitocondrial, herdado da mãe. Ambos permanecem intactos através de gerações porque não se misturam com outros materiais genéticos provenientes do pai ou da mãe, salvo as raras mutações que podem ocorrer. O DNA mitocondrial de cada pessoa é herdado da sua mãe, e esta o herdou do ancestral materno mais distante (a mãe da mãe da mãe etc). Já o cromossomo Y, presente apenas nos homens, é herdado do pai, e este o herdou do ancestral paterno mais distante (o pai do pai do pai etc).

Miscigenação racial dos brasileiros
Valores arredondados provenientes de duas pesquisas independentes feitas respectivamente com brasileiros negros e com brasileiros brancos
Lado Origem Negros Porc.(%)[30] Brancos Porc.(%)[31]
Materno
(DNAmt)
África subsaariana 85% 29%
Européia 2,5% 38%
Ameríndia 12,5% 33%
Paterno
(Cromossomo Y)
África subsaariana 48% 2%
Européia 50% 98%
Ameríndia 1,6% 0%

Esta pesquisa mostrou proporções quase iguais de pessoas com Cromossomo Y provenientes da Europa (50%) e da África subsaariana (48%) no grupo de brasileiros negros que foi analisado. Com segurança pode-se afirmar que metade (50%) desta amostra de negros brasileiros são descendentes de pelo menos um europeu homem. Por outro lado, esta pesquisa mostrou que no grupo de brasileiros e brasileiras negros analisados, cerca de 85% das pessoas tinham DNA mitocondrial originado de uma antepassada da África subsaariana e 12,5% de uma Ameríndia[30].

Se o grupo analisado representa uma boa amostra da população brasileira, pode-se dizer que os brasileiros negros descendem pelo lado paterno tanto de europeus quanto de africanos subsaarianos, embora pelo lado materno sejam na maior parte descendentes de africanas subsaarianas (85%). Nota-se também que uma parte considerável (12,5%) deste grupo de brasileiros auto-declarados negros é descendentes pelo lado materno de pelo menos uma ancestral Ameríndia.

A mesma pesquisa genética também analisou a ancestralidade de afro-brasileiros famosos. O resultado surpreendeu ao mostrar que pessoas auto-classificadas e consideradas negras perante a sociedade apresentam alto grau de ancestralidade européia. Alguns resultados obtidos foram:

População brasileira branca com 10% ou mais de genes provenientes da África subsaariana[31]
Região Porc.(%)
Brasil - Norte, Nordeste e Sudeste 75%
Brasil - Sul 49%
Estados Unidos 11%

Outra pesquisa genética demonstrou que brasileiros brancos também são resultado de intensa miscigenação e, como esperado, que o ancestral não-europeu está mais comumente do lado materno. Surpreendentemente, as mesmas pesquisas também mostraram que os brasileiros brancos são resultado mais da miscigenação com ameríndias do que com africanas subsaarianas, embora a diferença seja pequena[31] (os resultados desta pesquisa foram colocados na mesma tabela com a pesquisa genética de brasileiros negros anteriormente mencionada). A mesma pesquisa permitiu comparar o grau de miscigenação dos brasileiros brancos com o de estadunidenses brancos, comprovando-se, como esperado, que os primeiros são muito mais miscigenados[31].

Os mesmos estudos genéticos demonstraram que considerando-se todos os brasileiros, brancos e negros, cerca de 45% possuem 90% ou mais de genes africanos subsaarianos; e que cerca de 86% possuem 10% ou mais de genes africanos subsaarianos[31].

Influências na cultura brasileira

Baianas com trajes típicos
Ver artigo principal: Cultura Afro-brasileira

Afro-brasileiros famosos

Ver artigo principal: Categoria:Afro-brasileiros

Ver também

Referências

  1. «Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288, de 20 de junho de 2010)». Consultado em 11 de fevereiro de 2021 
  2. «brasil_1_2». www.ibge.gov.br. Consultado em 22 de dezembro de 2023 
  3. «IBGE usa classificação de cor preta; grupo negro reúne pretos e pardos». Consultado em 12 de fevereiro de 2021 
  4. «IBGE - População residente por cor ou raça e religião». Consultado em 3 de março de 2015 
  5. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2006/indic_sociais2006.pdf
  6. PENA, Sérgio D.J.; BORTOLINI, Maria Cátira. Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas? São Paulo: Estudos Avançados, vol.18 no.50 Jan./Apr. 2004
  7. http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=ba
  8. http://www.ibge.gov.br/brasil500/index2.html
  9. TOLEDO, Renato Pompeu de. À Sombra da Escravidão (visitada em 22 de agosto de 2008)
  10. a b c MOURA FILHO, Heitor Pinto de. Demografia da Escravidão. Um micromodelo dos efeitos do tráfico. Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais; Caxambu, Minas Gerais, 18 a 22 de setembro de 2006 (visitado em 10 de setembro de 2008)
  11. a b c d Herança da Escravidão: A Problemática da Miscigenação e da Hierarquia, pág 61
  12. BEATTIE, Peter M. The Tibute of Blood: Army, Honor, Race, and Nation in Brazil, 1864-1945, pp. 7. Duke University Press, 2001. ISBN 0822327430,9780822327431
  13. ANDRADE, Manuel Correia de. A Civilização Açucareira, pág. 3. Biblioteca SEBRAE Online (visitado em 19 de agosto de 2008)
  14. VASCONCELLOS, Francisco de. As Grandes Damas do Rio Negro na República Velha, in Tribuna de Petrópolis, 20 de maio de 2001 (visitado em 9 de agosto de 2008)
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  32. Daiane dos Santos é 'protótipo da brasileira'. BBC.com
  33. Neguinho da Beija-Flor tem mais gene europeu. BBC.com
  34. Ninguém sabe como me definir, diz atriz negra e '70% européia'. BBC.com
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Bibliografia

  • Vatin, Xavier. Rites et musiques de possession à Bahia. Paris: L'Harmattan, 2005.

Ligações externas