Biblioteca de Nag Hammadi

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Biblioteca de Nag Hammadi [a] é uma coleção de textos gnósticos do cristianismo primitivo (período que vai da fundação até o Primeiro Concílio de Niceia em 325) descoberta na região do Alto Egito, perto da cidade de Nag Hammadi em 1945. Naquele ano, um camponês local chamado Mohammed Ali Samman encontrou uma jarra selada enterrada que continha treze códices de papiro embrulhados em couro.[1][2] Os códices contêm textos sobre cinquenta e dois tratados majoritariamente gnósticos, além de incluírem também três trabalhos pertencentes ao Corpus Hermeticum e tradução/alteração parcial da A República de Platão. Na introdução de sua obra The Nag Hammadi Library in English, James M. Robinson sugere que estes códices podem ter pertencido ao monastério de São Pacômio localizado nas redondezas e tenham sido enterrados após o bispo Atanásio de Alexandria ter condenado o uso não crítico de versões não canônicas dos testamentos em sua Carta Festiva de 367,[3] após o Concílio de Niceia, por monges que teriam tomado os livros proibidos e os escondido em potes de barro na base de um penhasco chamado Djebel El-Tarif.[4] Ali ficaram esquecidos e protegidos por mais de 1500 anos.
Os textos nos códices estão escritos em copta, embora todos os trabalhos sejam traduções do grego.[5] O mais conhecido trabalho é provavelmente o Evangelho de Tomé, cujo único texto completo está na Biblioteca de Nag Hammadi.
Atualmente, todos os códices estão preservados no Museu Copta no Cairo, Egito.
Índice
Descoberta em Nag Hammadi[editar | editar código-fonte]

A história da descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945 já foi descrita como sendo "tão fascinante quanto o conteúdo dos textos".[4] Em dezembro daquele ano, dois irmãos egípcios encontraram diversos papiros numa grande jarra de argila enquanto procuravam por fertilizante em cavernas de rocha calcária perto da atual Hamra Dom no Alto Egito. A descoberta não foi inicialmente reportada por nenhum dos irmãos, que tentaram ganhar dinheiro pelos manuscritos vendendo-os individualmente. Conta-se também que a mãe dos irmãos queimou diversos dos manuscritos, preocupada, aparentemente, de que os textos pudessem ter 'efeitos funestos'.[4] Como resultado, o que passou a ser conhecido como "Biblioteca de Nag Hammadi" foi uma acumulação gradual de achados e sua importância passou despercebida por algum tempo após os achados iniciais.
Em 1946, os irmãos se envolveram numa rixa e deixaram os manuscritos com um sacerdote Copta, cujo cunhado, em outubro daquele ano, vendeu um dos códices ao Museu Copta no Cairo (Codex III na coleção atual). O especialista em copta e história das religiões residente Jean Dorese, percebendo a importância do achado, publicou a primeira referência a ele em 1948. Com o passar dos anos, a maioria dos códices foram passados pelo sacerdote para um antiquário cipriota no Cairo e em seguida retidos pelo Departamento de Antiguidades, que temia que eles fossem vendidos fora do país. Após a revolução de 1956, os textos foram entregues ao Museu Copta e declarados tesouro nacional egípcio.
Códice Jung[editar | editar código-fonte]
Enquanto isso, um único códice foi vendido no Cairo para um antiquário belga. Após tentativas de vendê-lo tanto em Nova Iorque e Paris, ele foi adquirido pelo Instituto Carl Gustav Jung, Zurique, em 1951, através da mediação de Gilles Quispel. A intenção era que o códice fosse um presente de aniversário ao famoso psiquiatra e, por isso, este códice é conhecido como Codex Jung (Codex I na coleção).
A morte de Jung em 1961 provocou uma disputa sobre a possa do Codex Jung, atrasando a entrega das páginas ao Museu Copta somente em 1975, após a primeira edição do texto já ter sido publicada. E assim, todos os papiros foram finalmente reunidos no Cairo.
Tradução[editar | editar código-fonte]
A primeira edição de um dos textos encontrados em Nag Hammadi foi do Codex Jung, do qual uma tradução parcial apareceu no Cairo em 1956. Dadas as condições políticas no Egito na época, tratados individuais se seguiram vagarosamente tanto do Cairo quanto de Zurique.
Esta situação mudou apenas em 1966, com a realização do Congresso de Messina na Itália. Nesta conferência, cujo objetivo era fomentar o consenso dos especialistas na definição do que é Gnosticismo, James M. Robinson, um especialista em Religião, reuniu um grupo de editores e tradutores na tarefa de publicar uma edição bílingue dos códices de Nag Hammadi em inglês, em colaboração com o Instituto de Antiguidades e Cristianismo na Universidade de Claremont em Claremont, California.[6] Robinson foi eleito secretário do Comitê Internacional pelos Códices de Nag Hammadi, formado em 1970 pela UNESCO e o Ministério Egípcio de Cultura.
A tradução de James M. Robinson foi publicada inicialmente em 1977, com o nome The Nag Hammadi Library in English, em colaboração entre E.J.Brill e Harper & Row. A edição em um único volume, de acordo com Robinson, "marcou o fim do estágio um do estudo de Nag Hammadi e o início de outro" (do prefácio da terceira edição revisada americana). Edições em paperback seguiram em 1981 e 1984. Uma edição revisada completa foi publicada em 1988 marcando o estágio final na divulgação de textos gnósticos para o público em geral - o conjunto completo de códices foi finalmente disponibilizado, de maneira não adulterada, para pessoas do mundo todo, em diversas línguas.
O trabalho acadêmico mais conhecido de George W. MacRae, reitor em exercício da Harvard Divinity School, foi sua tradução e interpretação dos manuscritos coptas descobertos em Nag Hammadi, no Egito, em 1946, suas traduções trouxeram um melhor conhecimento sobre o gnosticismo e as primeiras origens do cristianismo.[7]
Códices de Nag Hammadi[editar | editar código-fonte]
Códice I (Códice Jung)[editar | editar código-fonte]
- NHC I, 1 — Oração do Apóstolo Paulo
- NHC I, 2 — Apócrifo de Tiago também conhecido como o O Livro Secreto de Tiago
- NHC I, 3 — O Evangelho da Verdade
- NHC I, 4 — Tratado sobre a ressurreição
- NHC I, 5 — Tratado tripartite
Códice II[editar | editar código-fonte]
- NHC II, 1 — Apócrifo de João a versão longa
- NHC II, 2 — Evangelho de Tomé
- NHC II, 3 — Evangelho de Filipe
- NHC II, 4 — Hipóstase dos Arcontes
- NHC II, 5 — Sobre a origem do mundo
- NHC II, 6 — Exegese da alma
- NHC II, 7 — Livro de Tomé o Adversário
Códice III[editar | editar código-fonte]
- NHC III, 1 — Apócrifo de João a versão curta
- NHC III, 2 — Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível, também conhecido por Evangelho dos Egípcios[8]
- NHC III, 3 — Eugnostos, o abençoado (também conhecido como Primeira Epístola de Eugnostos[9] ou Carta de Eugnosto, o Bem-aventurado[10])
- NHC III, 4 — Sofia de Jesus Cristo
- NHC III, 5 — Diálogo do Salvador
Códice IV[editar | editar código-fonte]
- NHC IV, 1 — Apócrifo de João a versão curta
- NHC IV, 2 — Livro Sagrado do Grande Espírito Invisível
Códice V[editar | editar código-fonte]
- NHC V, 1 — Eugnostos, o abençoado
- NHC V, 2 — Apocalipse de Paulo
- NHC V, 3 — Primeiro Apocalipse de Tiago ou Primeira Revelação de Tiago
- NHC V, 4 — Segundo Apocalipse de Tiago ou Segunda Revelação de Tiago
- NHC V, 5 — Apocalipse de Adão ou Revelação de Adão
Códice VI[editar | editar código-fonte]
- NHC VI, 1 — Os Atos de Pedro e dos Doze Apóstolos
- NHC VI, 2 — O Trovão: a Mente Perfeita
- NHC VI, 3 — Discurso Autorizado
- NHC VI, 4 — O Conceito do Nosso Grande Poder
- NHC VI, 5 — A República de Platão
- NHC VI, 6 — O Discurso sobre o Oitavo e o Nono ou Discurso sobre a Ogdóade e a Enéade[11]
- NHC VI, 7 — A Oração de Ação de Graças
- NHC VI, 8 — Asclépio 21-29 ou Excerto do Discurso Perfeito, Apocalipse de Asclépio[12]
Códice VII[editar | editar código-fonte]
- NHC VII, 1 — Paráfrase de Sem
- NHC VII, 2 — Segundo tratado do grande Sete
- NHC VII, 3 — A Revelação de Pedro ou Apocalipse gnóstico de Pedro[13]
- NHC VII, 4 — Ensinamentos de Silvano
- NHC VII, 5 — As três estelas de Sete
Códice VIII[editar | editar código-fonte]
- NHC VIII, 1 — Zostrianos
- NHC VIII, 2 — A Epístola de Pedro a Filipe
Códice IX[editar | editar código-fonte]
- NHC IX, 1 — Melquisedeque
- NHC IX, 2 — O Pensamento de Norea
- NHC IX, 3 — Testemunho da Verdade
Códice X[editar | editar código-fonte]
- NHC X, 1 — Marsanes ou Marsano
Códice XI[editar | editar código-fonte]
- NHC XI, 1 — A Interpretação do conhecimento
- NHC XI, 2 — Exposição Valentiana (Sobre a Unção, Sobre o Batismo (A e B) e Sobre a Eucaristia (A e B))
- NHC XI, 3 — Alógenes ou Alógenes, o Estrangeiro
- NHC XI, 4 — Hipsifrone
Códice XII[editar | editar código-fonte]
- NHC XII, 1 — Sentenças de Sexto
- NHC XII, 2 — Evangelho da Verdade
- NHC XII, 3 — Fragmentos
Códice XIII[editar | editar código-fonte]
- NHC XIII, 1 — Protenoia trimórfica
- NHC XIII, 2 — Sobre a Origem do Mundo
- NHC XIII, 3 --- Evangelho de Maria Madalena
O chamado "Códice XIII" não é na verdade um códice, mas de fato o texto de Protenóia Trimórfica escrita em "…oito folhas removidas de um décimo-terceiro livro ainda na Antiguidade e enfiado dentro da capa do sexto." (Robinson, NHLE, p. 10). Apenas umas poucas linhas do início de Sobre a origem do mundo são distinguíveis no final da oitava página.
Veja também[editar | editar código-fonte]
- Agrapha
- Arqueologia bíblica
- Cânon bíblico
- Epístola
- Gnosticismo
- Evangelho de Maria
- Evangelho
- Lista dos papiros do Novo Testamento
- Apócrifos do Novo Testamento
- Pseudoepígrafos
- Crítica textual
Notas[editar | editar código-fonte]
- Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da Wikipédia em inglês, cujo título é «Nag Hammadi library», especificamente desta versão.
- [a] ^ Por vezes conhecido popularmente como Testamentos Gnósticos baseado no livro de Elaine Pagels de 1979 chamado "Gnostic Gospels", porém o termo tem significado mais amplo.
Referências
- ↑ The Nag Hammadi Library: The Minor History Behind a Major Discovery, em inglês
- ↑ Robinson & Meyer, James M. e Marvin (2007). Nag Hammadi Scriptures, The: The International Edition (em inglês). [S.l.]: HarperOne. ISBN 0060523786, páginas 2-3
- ↑ Festal Letters of 367 AD em inglês. Uma tradução pode ser encontrada em [1], consultado em Jul/10
- ↑ a b c Gnosis: An Introduction (em inglês). [S.l.]: T. & T. Clark Publishers. 2003. ISBN 0567089452 Parâmetro desconhecido
|sobrenomeBN=
ignorado (ajuda);|nome1=
sem|sobrenome1=
em Authors list (ajuda), página 48 - ↑ Robinson & Meyer, James M. e Marvin (2007). Nag Hammadi Scriptures, The: The International Edition (em inglês). [S.l.]: HarperOne. ISBN 0060523786, páginas 2
- ↑ Universidade de Claremont - Site oficial
- ↑ «George MacRae of Harward dies» (em inglês). The New York Times. 7 de setembro de 1985. Consultado em 13 de fevereiro de 2015
- ↑ Urbano Zilles (2004). Evangelhos apócrifos. EDIPUCRS. p. 246. ISBN 978-85-7430-180-8.
- ↑ Hans-Josef Klauck (2007). Evangelhos apócrifos. Edições Loyola. p. 180. ISBN 978-85-15-03296-9.
- ↑ FABRIS, Rinaldo. Problemas e perspectivas das ciências bíblicas. Edicoes Loyola. p. 97. ISBN 978-85-15-00871-1.
- ↑ Jay Kinney. Esoterismo E Magia No Mundo Ocidental. Editora Pensamento. p. 124. ISBN 978-85-315-1452-4.
- ↑ Marvin Meyer. Mistérios Gnósticos. Editora Pensamento. p. 185. ISBN 978-85-315-1508-8.
- ↑ Suárez, Gomes Jr., Masotti, Souza E Conti Jr. (2008). A Bíblia Em Perspectiva: Estudos Em Teologia Bíblica. Clube de Autores. p. 466. PKEY:90138847.