Macumba

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Macumba (Utilizado pela Cisa)
 Nota: Se procura pela praia carioca, veja Praia da Macumba.

Macumba (do quimbundo: ma'kôba) é um instrumento de percussão de origem africana, semelhante ao instrumento reco-reco.[1][2]

No Brasil, por meio de um processo de ampliação de sentido, o termo "macumba" (e o derivado "macumbeiro", originalmente o "tocador de macumba") passou a referir também, de forma pejorativa, às oferendas religiosas ligadas as religiões de matrizes africanas.[3]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O vocábulo tem origem numa língua banta, o kimbundu, a partir de "ma'kôba".[4] O significado do termo original é incerto, sendo apontado por alguns como "dança",[5] ou como um determinado instrumento de percussão africano.[6][7][8]

Outras definições[editar | editar código-fonte]

O termo é frequentemente usado como uma designação genérica para as religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, no entanto, este sentido ganhou um teor pejorativo, que prefere-se evitá-lo.[1][5] Nesse sentido depreciativo, eram também usados termos como "bruxaria", "feitiçaria", "charlatanismo", "curandeirismo", etc.[9]

A palavra também pode referir-se a certas religiões afro-brasileiras em específico, como algumas antigas "macumbas do Rio de Janeiro", aparentadas da religião sincrética cabula (angola muçulmana).[10][11]

Em outros contextos, "macumba" é usado no sentido de "feitiço" (mandinga),[12] "ebó",[12] "coisa-feita",[12] "despacho", "encomenda", "mironga".

Descrições literárias[editar | editar código-fonte]

A seguir, eis alguns relatos a respeito das práticas da macumba no Brasil ao longo do tempo, que também reiteram o uso pejorativo do termo. Em As Religiões no Rio (1904), o jornalista João do Rio escreveu:[13]

Vivemos na dependência do feitiço, dessa caterva de negros e negras de babaloxás e yauô, somos nós que lhes asseguramos a existência, com o carinho de um negociante por uma amante atriz. O feitiço é o nosso vício, mas o nosso gozo, a degeneração. Exige, damos-lhe; explora, deixamo-nos explorar e, seja ele maitre-chanteur, assassino, larápio, fica sempre impune e forte pela vida que lhe empresta o nosso dinheiro.

Segundo Câmara Cascudo:[14]

Ainda ao tempo das reportagens de João do Rio, os cultos de origens africanas no Rio de Janeiro chamavam-se, coletivamente, candomblés, como na Bahia, reconhecendo-se, contudo, duas seções principais: os orixás dos cultos nagôs e os alufás dos cultos muçulmanos (malês) trazidos pelos escravos. Mais tarde, o termo genérico "macumba" foi substituído pelo termo "kiumbanda". Meio século após a publicação de As Religiões do Rio, estão inteiramente perdidas as tradições malês e, em geral, os cultos, abertos a todas as influências, dividem-se em terreiros (cultos nagôs) e tendas.

De acordo com Reginaldo Prandi:[15]

[...] a macumba carioca, portanto, pode bem ter se organizado como culto religioso na virada do século, como aconteceu também na Bahia. Não vejo, pois, razão para pensá-la como simples resultante de um processo de degradação desse candomblé visto no Rio no fim do século por João do Rio, essa macumba sempre descrita como feitiçaria, isto é, prática de manipulação religiosa por indivíduos isoladamente, numa total ausência de comunidades de culto organizadas. Arthur Ramos fala de um culto de origem banta no Rio de Janeiro na primeira metade do século, cultuando orixás assimilados dos nagôs, com organização própria, com a possessão de espíritos desencarnados que, no Brasil, reproduziram ou substituíram, por razões óbvias, a antiga tradição banto de culto aos antepassados [...]. São cultos muito assemelhados aos candomblés angola e de caboclos da Bahia, registrados por Edison Carneiro, que já os tratava como formas degeneradas [...].

Locais de uso[editar | editar código-fonte]

A cidade maranhense de Codó (Brasil) é conhecida como "capital da macumba", pois de acordo com os idosos, a cidade teria sido fundada por praticantes de cultos afro-brasileiros. Esta conta com a maior porcentagem de terreiros pela área da cidade no Brasil. É em Codó que morava um célebre pai de santo, o Bita do Barão, falecido em 2019.

A religião afro-brasileira ("macumba") praticada na região de Codó e de Teresina é mais conhecida como terecô.[16]

Referências

  1. a b Ferreira (s.d.).
  2. Andrade (1989), p. 296.
  3. Ah, Se Eu Pudesse Voltar No Tempo, Por VERA LUCIA MARINZECK DE CARVALHO
  4. Aulete (s.d.).
  5. a b Rosenfeld (1993), p. 49-50, apud Oliveira e Chagas (2008).
  6. Andrade (2015), p. 44.
  7. Macumba é um instrumento musical
  8. Macumba dicionarioinformal.com.br
  9. Silva (2005), p. 12, 19.
  10. Silva (2005), p. 86.
  11. Bastide (1978).
  12. a b c Cascudo (1999), p. 289, p. 530.
  13. Rio (1904).
  14. Cascudo (1999).
  15. Prandi (1999).
  16. Temer visitou Bita do Barão antes do impeachment. Acesso em 01 de maio de 2017.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ANDRADE, Mário de. Dicionário Musical Brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
  • ANDRADE, Mário de. Música de Feitiçaria no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015. link. [1a. ed., 1963.]
  • AULETE, Caldas. "Macumba". In: Dicionário Caldas Aulete [Online]. s.d. link.
  • BASTIDE, R. The African religions of Brazil: Toward a sociology of the interpenetration of civilizations. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1978. link. [Ed. original: Les religions africaines au Brésil, PUF, 1960; As religiões africanas no Brasil, 1971.]
  • CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10a. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999. [Cf. verbetes "feitiçaria", p. 389, e "macumba", p. 530.]
  • FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. "Macumba". In: Dicionário Aurélio de Português [Online]. s.d. link.
  • OLIVEIRA, C. M.; CHAGAS, J. R. "Minhas contas" (2008): desconstruindo preconceitos através da literatura para crianças. In: Anais do 17o. Congreso de Leitura do Brasil, Unicamp, Campinas, SP, 2009. 7 p.
  • PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1991. link.
  • RIO, João do. As religiões no Rio. Paris: Garnier, 1904. [Cf. ed. de 1976, link.]
  • ROSENFELD, Anatol. Negro, Macumba e Futebol. São Paulo: Perspectiva, 2007. [1a. ed., 1993.]
  • SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda – caminhos da devoção brasileira. São Paulo: Selo Negro Edições, 2005. link.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]