Hepatite B: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
→‎Transmissão: O VHB não se transmite pela saliva, apesar desta conter um taxa residual de vírus.
Etiquetas: Edição via dispositivo móvel Edição feita através do sítio móvel
conteúdo + WP:LE + ajustes
Linha 1: Linha 1:
{{mais notas|data=dezembro de 2012}}
{{Info/Patologia
{{Info/Patologia
|Nome = Hepatite B
|Nome = Hepatite B
Linha 13: Linha 12:
|MeshID = D006509
|MeshID = D006509
}}
}}
<!-- Definição e sintomas -->
A '''hepatite B''' é uma [[doença infecciosa]] que afeta o [[fígado]] causada pelo [[vírus da hepatite B]] (VHB). O vírus pode causar infeções tanto agudas como [[Doença crónica|crónicas]]. Durante a infeção inicial aguda muitas pessoas não manifestam sintomas. Em algumas pessoas os sintomas manifestam-se de forma súbita e incluem [[vómito]]s, [[Icterícia|pele amarela]], [[fadiga]], urina de cor escura e [[dor abdominal]].<ref name=WHO2014/> Os sintomas podem demorar entre 30 a 180 dias até se manifestarem<ref name=WHO2014/> e geralmente manifestam-se ao longo de várias semanas. <ref name=WHO2014/><ref>{{cite book|author1=Raphael Rubin; David S. Strayer|title=Rubin's Pathology : clinicopathologic foundations of medicine ; [includes access to online text, cases, images, and audio review questions!]|date=2008|publisher=Wolters Kluwer/Lippincott Williams & Wilkins|location=Philadelphia [u.a.]|isbn=9780781795166|page=638|edition=5.|url=https://books.google.com/books?id=kD9VZ267wDEC&pg=PA638}}</ref> Só muito raramente é que a infeção inicial causa morte.<ref name=WHO2014/> 90% das pessoas infetadas por volta o nascimento desenvolvem hepatite B crónica, embora após os cinco anos de idade isso só se verifique em 10% dos casos.<ref name=CDC2014T/> A maior parte das pessoas com doença crónica não manifestam sintomas. No entanto, encontram-se em risco acrescido de desenvolver [[cirrose]] e [[Hepatocarcinoma|cancro do fígado]].<ref name="pmid17336170">{{cite journal | authors = Chang MH | title = Hepatitis B virus infection | journal = Semin Fetal Neonatal Med | volume = 12 | issue = 3 | pages = 160–167 | date = June 2007 | pmid = 17336170 | doi = 10.1016/j.siny.2007.01.013 }}</ref> Estas complicações são a causa da morte de 15 a 25% das pessoas com hepatite B crónica.<ref name=WHO2014/>


<!-- Causa e diagnóstico -->
A '''hepatite B''' é uma [[doença infecciosa]] [[inflamação|inflamatória]] do [[fígado]] causada pelo [[vírus da hepatite B]] (HBV) que afeta [[seres humanos]] e alguns outros [[primata]]s. Originalmente conhecida como "hepatite do soro", a doença tem causado epidemias em regiões da [[Ásia]] (com 120 milhões de casos só na [[China]] em 2010), na [[África]], no norte da América do Norte e na América do Sul. Cerca de um terço da população mundial foi infectada pelo vírus em algum momento de suas vidas, incluindo 350 milhões de pessoas que são portadoras crônicas. Segundo a OMS, 600 mil morrem todos os anos em decorrência da hepatite B.<ref name=OMS>http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs204/en/</ref>
O vírus é transmitido pela exposição ao [[sangue]] ou [[Fluido corporal|fluidos corporais]] de uma pessoa infetada. A via de transmissão mais comum em regiões [[Endemia|endémicas]] é a [[Infecção perinatal|infeção durante o nascimento]] ou a partir da mãe ou pelo contacto com sangue infetado durante a infância. As vias de transmissão mais comum em regiões onde a doença é rara são a partilha de [[seringa]]s entre consumidores de droga e através de [[relações sexuais]].<ref name=WHO2014/> Entre outros fatores de risco estão o trabalho na prestação de cuidados de saúde, [[Transfusão de sangue|transfusões de sangue]], [[hemodiálise]], viver com uma pessoa infetada, viajar para regiões onde a doença é endémica e o internamento em instituições.<ref name=WHO2014/><ref name=CDC2014T>{{cite web|title=Hepatitis B FAQs for the Public — Transmission|url=http://www.cdc.gov/hepatitis/B/bFAQ.htm#transmission|publisher=U.S. [[Centers for Disease Control and Prevention]] (CDC) |accessdate=2011-11-29}}</ref> Durante a década de 1980, as [[Tatuagem|tatuagens]] e a [[acupunctura]] foram responsáveis por um número significativo de casos; no entanto, com a melhoria da esterilização isto tem vindo a diminuir.<ref>{{cite book| author = Thomas HC | title = Viral Hepatitis | year = 2013 | publisher = Wiley | location = Hoboken | isbn = 9781118637302 | page = 83 | edition = 4th | url = https://books.google.com/books?id=7aQeAAAAQBAJ&pg=PA83 }}</ref> Os vírus da hepatite B não são transmitidos por dar a mão, por partilhar talheres, por beijar, abraçar, tossir, espirrar ou [[Amamentação|amamentar]].<ref name=CDC2014T/> A infeção pode ser diagnosticada entre 30 a 60 após a exposição. O disgnóstico é geralmente feito através de análises ao sangue que confirmam a presença de partes do vírus ou de [[anticorpo]]s contra o vírus.<ref name=WHO2014/> A doeça é um dos cinco tipos conhecidos de vírus da [[hepatite]]: [[Hepatite A|A]], [[Hepatite C|C]], [[Hepatite D|D]] e [[Hepatite E|E]]


<!-- Prevenção e tratamenti -->
O primeiro episódio da doença provoca [[Hepatite|inflamação do fígado]], vômitos, [[icterícia]] (amarelamento) e, raramente, morte. Já a hepatite B crônica pode eventualmente causar [[cirrose]] ou mesmo [[câncer de fígado|câncer]]. A infecção pode ser prevenida através da administração em três doses da [[vacina contra hepatite B]]. O vírus da [[hepatite D]] (HDV) só ataca células já infectadas pelo HBV, piorando assim o prognóstico dos doentes com hepatite B crônica.
Desde 1982 que a doença é evitável através de imunização com a [[vacina contra hepatite B]].<ref name=WHO2014/><ref name="pmid17673066">{{cite journal | authors = Pungpapong S, Kim WR, Poterucha JJ | title = Natural History of Hepatitis B Virus Infection: an Update for Clinicians | journal = Mayo Clinic Proceedings | volume = 82 | issue = 8 | pages = 967–975 | year = 2007 | pmid = 17673066 | doi = 10.4065/82.8.967 }}</ref> A [[Organização Mundial de Saúde]] recomenda a vacinação desde o primeiro dia de vida sempre que possível. Para que a vacina seja completamente eficaz, são posteriormente necessárias duas ou três doses complementares. A vacina tem 95% de eficácia<ref name=WHO2014/> e em 2006 fazia parte do programa de vacinação de 180 países.<ref name=Will2006>{{cite journal | authors = Williams R | title = Global challenges in liver disease | journal = Hepatology (Baltimore, Md.) | volume = 44 | issue = 3 | pages = 521–526 | year = 2006 | pmid = 16941687 | doi = 10.1002/hep.21347 }}</ref> Recomenda-se também o rastreio de hepatite no sangue destinado a transfusões e o uso de [[preservativo]] nas relações sexuais. Durante a infeção inicial, o tratamento tem por base os sintomas que a pessoa manifesta. Em pessoas com doença crónica podem ser usados [[antivirais]] como o [[tenofovir]] ou [[Interferão|interferões]]. Em casos de cirrose pode ser necessário um [[transplante de fígado]].<ref name=WHO2014/>

<!-- Epidemiologia -->
Cerca de um terço de todas as pessoas em todo o mundo já foram infetedas por hepatite B em determinado momento da vida. Entre eles, entre 250 e 350 milhões desenvolveram doença crónica.<ref name=WHO2014/><ref>{{cite journal | authors = Schilsky ML | title = Hepatitis B "360" | journal = Transplantation Proceedings | volume = 45 | issue = 3 | pages = 982–985 | year = 2013 | pmid = 23622604 | pmc = | doi = 10.1016/j.transproceed.2013.02.099 }}</ref> Em 2013 registaram-se 129 milhões de novas infeções.<ref>{{cite journal|last1=Global Burden of Disease Study 2013|first1=Collaborators|title=Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 301 acute and chronic diseases and injuries in 188 countries, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.|journal=Lancet (London, England)|date=22 August 2015|volume=386|issue=9995|pages=743–800|pmid=26063472|doi=10.1016/S0140-6736(15)60692-4}}</ref> Em cada ano, morrem de hepatite B mais de {{formatnum:750000}} pessoas.<ref name=WHO2014>{{cite web|title=Hepatitis B Fact sheet N°204|url=http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs204/en/|website=who.int|accessdate=4 November 2014|date=July 2014}}</ref> Destas, cerca de {{formatnum:300000}} devem-se a cancro do fígado.<ref name=GBD204>{{cite journal|last1=GBD 2013 Mortality and Causes of Death|first1=Collaborators|title=Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990–2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.|journal=Lancet|date=17 December 2014|pmid=25530442|doi=10.1016/S0140-6736(14)61682-2|volume=385|issue=9963|pages=117–71|pmc=4340604}}</ref> Atualmente, a doença é [[Endemia|endémica]] apenas na [[Ásia Oriental]] e na [[África subsariana]], onde entre 5 e 10% dos adultos apresentam infeção crónica. Na Europa e nos Estados Unidos a prevalência é inferior a 1%.<ref name=WHO2014/> A investigação atual centra-se na criação de alimentos que contenham a vacina contra a doença.<ref>{{cite book|last1=Thomas|first1=Bruce|title=Production of Therapeutic Proteins in Plants|date=2002|isbn=9781601072542|page=4|url=https://books.google.com/books?id=D-Nj4x9zXi4C&pg=PA4&dq|accessdate=25 November 2014}}</ref> A doença é capaz de infetar também outros [[Hominidae|grandes primatas]].<ref>{{cite book|last1=Plotkin|first1=[edited by] Stanley A.|last2=Orenstein,|first2=Walter A.|last3=Offit|first3=Paul A.|title=Vaccines|date=2013|publisher=Elsevier/Saunders|location=Edimburgo|isbn=9781455700905|page=208|edition=6th|url=https://books.google.com/books?id=hoigDQ6vdDQC&pg=PA208}}</ref>
{{TOC limit|3}}

==Sinais e sintomas==

A infeção aguda pelo [[vírus da hepatite B]] está associada à [[hepatite]] viral aguda – uma doença que se manifesta por sentimento geral de mal estar, perda de apetite, [[náusea]]s, [[vómito]]s, dores no corpo, [[febre]] ligeira e urina de cor escura, e que progride para o desenvolvimento de [[icterícia]]. No entanto, em algumas pessoas a infeção pode ser completamente assintomática e passar despercebida. O [[prurido]] na pele pode também ser um possível sintoma comum a todos os vírus de hepatite. Esta doença tem a duração de algumas semanas e a maioria das pessoas recupera gradualmente. Algumas pessoas podem apresentar uma doença hepática mais grave denominada [[hepatite fulminante]], que aumenta o risco de morte. <ref>{{cite journal | authors = Terrault N, Roche B, Samuel D | title = Management of the hepatitis B virus in the liver transplantation setting: a European and an American perspective | journal = Liver Transpl. | volume = 11 | issue = 7 | pages = 716–32 | date = July 2005 | pmid = 15973718 | doi = 10.1002/lt.20492 }}</ref>

A infeção crónica pelo vírus da hepaptite B pode ser assintomática ou estar associada a uma inflamação crónica do fígado que, no prazo de alguns anos, pode causar [[cirrose]] do fígado. O tipo de infeção influencia significativamente a incidência de [[hepatocarcinoma]] (cancro do fígado). Na Europa, as hepatites B e C são a causa de aproximadamente 50% dos hepatocarcinomas.<ref name="pmid17570226">{{cite journal | authors = El-Serag HB, Rudolph KL | title = Hepatocellular carcinoma: epidemiology and molecular carcinogenesis | journal = Gastroenterology | volume = 132 | issue = 7 | pages = 2557–76 | date = June 2007 | pmid = 17570226 | doi = 10.1053/j.gastro.2007.04.061 }}</ref><ref name="pmid21992124">{{cite journal | vauthors = El-Serag HB | title = Hepatocellular carcinoma | journal = New England Journal of Medicine | volume = 365 | issue = 12 | pages = 1118–27 | date = 22 September 2011 | pmid = 21992124 | doi = 10.1056/NEJMra1001683 }}</ref> As pessoas com a doença crónica são incentivadas a evitar o consumo de álcool, uma vez que isso aumenta o risco de cirrose e de cancro do fígado. O vírus da hepatite B tem sido associado ao desenvolvimento de [[nefropatia membranosa]].<ref>{{cite journal | vauthors = Gan SI, Devlin SM, Scott-Douglas NW, Burak KW | title = Lamivudine for the treatment of membranous glomerulopathy secondary to chronic hepatitis B infection | journal = Canadian journal of gastroenterology = Journal canadien de gastroenterologie | volume = 19 | issue = 10 | pages = 625–9 | date = October 2005 | pmid = 16247526 | doi = }}</ref>

Entre 1 e 10% das pessoas infetadas com o VHB manifestam sintomas para além do fígado, incluindo [[síndrome semelhante à doença do soro]], [[vasculite aguda necrosante]] ([[poliarterite nodosa]]), [[nefropatia membranosa]] e [[síndrome de Gianotti-Crosti]].<ref name="pmid6126007">{{cite journal | vauthors = Dienstag JL | title = Hepatitis B as an immune complex disease | journal = Seminars in Liver Disease | volume = 1 | issue = 1 | pages = 45–57 | date = February 1981 | pmid = 6126007 | doi = 10.1055/s-2008-1063929 }}</ref><ref name="pmid11334492">{{cite journal | vauthors = Trepo C, Guillevin L | title = Polyarteritis nodosa and extrahepatic manifestations of HBV infection: the case against autoimmune intervention in pathogenesis | journal = Journal of Autoimmunity | volume = 16 | issue = 3 | pages = 269–74 | date = May 2001 | pmid = 11334492 | doi = 10.1006/jaut.2000.0502 }}</ref> O síndrome semelhante à doença do soro manifesta-se durante a fase aguda da doença, muitas vezes antecedendo o aparecimento de icterícia.<ref name="pmid4996611">{{cite journal | vauthors = Alpert E, Isselbacher KJ, Schur PH | title = The pathogenesis of arthritis associated with viral hepatitis. Complement-component studies | journal = The New England Journal of Medicine | volume = 285 | issue = 4 | pages = 185–9 | date = July 1971 | pmid = 4996611 | doi = 10.1056/NEJM197107222850401 }}</ref> As características clínicas são febre, erupções cutâneas e [[Poliarterite nodosa|poliarterite]]. Estes sintomas muitas vezes diminuem depois do aparecimento de icterícia, mas podem persistir durante toda a duração da fase aguda de hepatite B.<ref name="pmid19399811">{{cite journal | vauthors = Liang TJ | title = Hepatitis B: the virus and disease | journal = Hepatology (Baltimore, Md.) | volume = 49 | issue = 5 Suppl | pages = S13–21 | date = May 2009 | pmid = 19399811 | pmc = 2809016 | doi = 10.1002/hep.22881 }}</ref> Entre 30 e 50% das pessoas com vasculite aguda necrosante]] são portadoras de VHB.<ref name="pmid4098431">{{cite journal | vauthors = Gocke DJ, Hsu K, Morgan C, Bombardieri S, Lockshin M, Christian CL | title = Association between polyarteritis and Australia antigen | journal = Lancet | volume = 2 | issue = 7684 | pages = 1149–53 | date = December 1970 | pmid = 4098431 | doi = 10.1016/S0140-6736(70)90339-9 }}</ref> A [[nefropatia]] associada ao VHB é mais comum em crianças.<ref name="pmid2023605">{{cite journal | vauthors = Lai KN, Li PK, Lui SF, Au TC, Tam JS, Tong KL, Lai FM | title = Membranous nephropathy related to hepatitis B virus in adults | journal = The New England Journal of Medicine | volume = 324 | issue = 21 | pages = 1457–63 | date = May 1991 | pmid = 2023605 | doi = 10.1056/NEJM199105233242103 }}</ref><ref name="pmid82085">{{cite journal | vauthors = Takekoshi Y, Tanaka M, Shida N, Satake Y, Saheki Y, Matsumoto S | title = Strong association between membranous nephropathy and hepatitis-B surface antigenaemia in Japanese children | journal = Lancet | volume = 2 | issue = 8099 | pages = 1065–8 | date = November 1978 | pmid = 82085 | doi = 10.1016/S0140-6736(78)91801-9 }}</ref> O [[síndrome de Gianotti-Crosti]] é a forma mais comum.<ref name="pmid19399811"/> Podem também ocorrer outros distúrbios [[Sangue|hematológicos]], como [[crioglobulinemia]] e [[anemia aplástica]].<ref name="pmid19399811"/>


== Causa ==
== Causa ==
Linha 23: Linha 38:
O vírus da hepatite B é um [[hepadnavírus]] - ''hepa'', de hepatotrópico (atraído para o fígado) e ''dna'', porque é um [[vírus DNA|vírus de DNA]] - e tem um genoma circular de DNA de cadeia dupla parcial e apresenta celoma. Os vírus replicam através de uma forma intermediária de [[RNA]] por [[transcrição reversa]], que, na prática, os relaciona com os [[retrovírus]]. Embora a replicação tenha lugar no fígado, o vírus propaga-se para o sangue, onde as proteínas virais e anticorpos contra eles são encontrados em pessoas infectadas.
O vírus da hepatite B é um [[hepadnavírus]] - ''hepa'', de hepatotrópico (atraído para o fígado) e ''dna'', porque é um [[vírus DNA|vírus de DNA]] - e tem um genoma circular de DNA de cadeia dupla parcial e apresenta celoma. Os vírus replicam através de uma forma intermediária de [[RNA]] por [[transcrição reversa]], que, na prática, os relaciona com os [[retrovírus]]. Embora a replicação tenha lugar no fígado, o vírus propaga-se para o sangue, onde as proteínas virais e anticorpos contra eles são encontrados em pessoas infectadas.


== Transmissão==
=== Transmissão ===
O vírus existe no [[sangue]], [[saliva]], [[sémen]], secreções vaginais e [[leite]] materno de doentes ou portadores assintomáticos. Sua transmissão pode ser realizada por contatos diretos com sangue ou outros [[Fluido corporal|fluidos corporais]], através de [[relação sexual|relações sexuais]], [[transfusão de sangue]] ou partilha de [[seringa]]s para injeção de [[droga]]s. O vírus é muito mais resistente e de transmissão muito mais fácil que o [[HIV]] e persiste mais tempo nesses instrumentos, mas é destruído pela lavagem cuidadosa e [[esterilização]] pelo calor. Resiste por vezes ao [[pH]] baixo ([[ácido]]), calor moderado e temperaturas baixas. É capaz de sobreviver no ambiente exterior por pelo menos uma semana.
O vírus existe no [[sangue]], [[saliva]], [[sémen]], secreções vaginais e [[leite]] materno de doentes ou portadores assintomáticos. Sua transmissão pode ser realizada por contatos diretos com saliva, sangue ou outros [[Fluido corporal|fluidos corporais]], através de [[relação sexual|relações sexuais]], [[transfusão de sangue]] ou partilha de [[seringa]]s para injeção de [[droga]]s. O vírus é muito mais resistente e de transmissão muito mais fácil que o [[HIV]] e persiste mais tempo nesses instrumentos, mas é destruído pela lavagem cuidadosa e [[esterilização]] pelo calor. Resiste por vezes ao [[pH]] baixo ([[ácido]]), calor moderado e temperaturas baixas. É capaz de sobreviver no ambiente exterior por pelo menos uma semana.


O vírus pode ser transmitido através da exposição a sangue ou fluidos corporais, tais como [[sêmen]] e secreções [[vagina|vaginais]], contaminados. O [[DNA]] viral também já foi detectado na saliva, lágrimas e na urina de portadores crônicos. A [[infecção perinatal]], ou seja durante o parto, é uma das principais vias de transmissão em áreas endêmicas, com cerca de 20% de risco de transmissão para mães HBsAg positivas e 90% caso também seja HBeAg positiva. Quanto mais cedo a gestante começar o tratamento, menor o risco de transmissão.
O vírus pode ser transmitido através da exposição a sangue ou fluidos corporais, tais como [[sêmen]] e secreções [[vagina|vaginais]], contaminados. O [[DNA]] viral também já foi detectado na saliva, lágrimas e na urina de portadores crônicos. A [[infecção perinatal]], ou seja durante o parto, é uma das principais vias de transmissão em áreas endêmicas, com cerca de 20% de risco de transmissão para mães HBsAg positivas e 90% caso também seja HBeAg positiva. Quanto mais cedo a gestante começar o tratamento, menor o risco de transmissão.
Linha 32: Linha 47:
O agente delta ou vírus da [[hepatite D]] é transmitido de doentes com ambos HBV e HDV para doente com HBV crónico apenas pelas mesmas vias e nos mesmos grupos de risco.
O agente delta ou vírus da [[hepatite D]] é transmitido de doentes com ambos HBV e HDV para doente com HBV crónico apenas pelas mesmas vias e nos mesmos grupos de risco.


== Epidemiologia ==
== Diagnóstico ==
O diagnóstico da hepatite B deve não só identificar as pessoas com [[anticorpo]]s contra a doença, mas também diferenciar aqueles que já tiveram a doença aguda, mas estão nessa altura curados, dos com hepatite crónica que necessitam de vigilância e tratamento. São usadas técnicas elaboradas de detecção de [[antigénio]]s e anticorpos diferentes que surgem em diferentes estágios da doença. O episódio agudo é diagnosticado pela detecção no sangue de antigénios HBs e HBe, e anticorpos anti-HBc além de transaminases (enzimas que existem no interior dos [[hepatócito]]s e só saem para o sangue com destruição destes: indicadores de hepatite) simultaneamente. A infecção passada resolvida caracteriza-se por anticorpos anti-HBs e anti-HBc do tipo [[IgG]]. A imunidade efectiva da vacina é determinada pela detecção de anticorpos anti-HBs do tipo [[IgG]], mas não anti-HBc. O doente crónico apresenta no sangue antigénios HBe e HBs altos e anticorpos anti-HBc do tipo [[IgG]] mas não anti-HBs. Além disso, pode ter transaminases elevadas (hepatite activa) e testes para a presença de vírus no sangue ([[PCR]]) positivos.
[[Imagem:Distribution of Hepatitis B.PNG|600px|thumb|Incidência e risco de hepatite B. Vermelho: mais de 8% da população é portadora; Laranja: de 2 a 7%; Amarelo:menos de 2%]]


== Prevenção ==
Cerca de 5% da população mundial terá a doença ou será portadora sem sintomas. Nos [[Estados Unidos]] há 300&nbsp;000 novos casos por ano e 4000 mortes. Em todo o mundo existem cerca de 240 milhões de portadores da hepatite B crônica, tornando-a uma das piores pandemias atualmente. Cerca de 25% (1 em cada 4) dos adultos infectados crônicos durante a infância morreram de câncer ou cirrose.<ref name=OMS/>
[[Imagem:US Navy 050602-N-0555B-006 Hospital Corpsman 3rd Class Natasha Wooden administers a Hepatitis-B vaccine to a Sailors aboard the Nimitz class aircraft carrier USS Ronald Reagan (CVN 76).jpg|thumb|A vacina da hepatite B também protege contra a hepatite D.]]


A prevenção pela [[Vacina contra hepatite B|vacina]] é a melhor forma de combater a doença. Essa vacina é constituída pelos antigénios HBs, sem nenhuma partícula viral. Administra-se por inoculação. Se a pessoa após alguns meses apresentar anticorpos anti-HBs em suficiente número, não necessitam de mais injeções, mas aqueles com menor resposta requerem novas inoculações, geralmente três, espaçadas. Em muitos países a vacina é obrigatória. Três vacinas são eficazes para imunizar 95% dos casos.
Os grupos mais vulneráveis são os de indivíduos que praticam sexo desprotegido e utilizadores de drogas intravenosas. A imunização ([[vacina contra hepatite B]]) protege eficazmente contra a doença.


Não há vacina contra a hepatite D (HDV), mas como ela só infecta doentes crónicos com Hepatite B a vacina do HBV previne a D também. Em doentes com hepatite B é importante sempre usar camisinha e nunca compartilhar seringas.
=== No Brasil ===
Entre 1999 e 2011, a região Sudeste concentrou 36,6% dos casos e a região Sul concentrou 31,6% das notificações.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatites-virais-em-numeros</ref>


Usar sempre camisinha, não compartilhar objetos perfurantes ou cortantes e fazer exames pré-natal também são importantes medidas preventivas.
No Brasil, a taxa de infectados passou de 0,3%, em 1999, para 6,9%, em 2010. A região Sul registra os maiores índices de novos casos desde 2002, seguida da região Norte. Um total de 120.343 foram notificados no país nesse período. A via sexual é a forma predominante de transmissão sendo responsável por 52,7% dos casos.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatites-virais-em-numeros</ref> A região amazônica também possui altos índices de infectados.


== Tratamento ==
A vacina está disponível para todas as idades em quase todos os postos de saúde do país e é a medida mais eficaz de prevenção.


[[Imagem:Twinrix GlaxoSmithKline - i-hepA & r-hepB-S-Ag - doos Terumo-naald spuiten.JPG|thumb|A vacina está disponível gratuitamente em postos de saúde brasileiros.]]
=== Em Portugal ===
Em 2005 houve 36 mil novos casos notificados, um grande progresso comparado a média de 120 mil novos casos em pesquisas passadas. A melhora está associada aos progressos feitos pelo plano nacional de vacinação que vacinaram cerca de metade da população. O distrito de Bragança apresenta os valores mais baixos de imunização com 26,7% e o de Faro os mais altos valores com 59,5% de imunizados.<ref>http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=615709</ref>


No caso agudo o tratamento é predominantemente para aliviar os sintomas (paliativo), pois em 90-95% dos casos o próprio organismo elimina a doença. Vários agentes antivirais têm sido usados no tratamento dos indivíduos com hepatite crônica, dentre eles destacam-se o [[intérferon alfa]], a [[lamivudina]], o [[famciclovir]] e o [[adefovir dipivoxi]]. Pesquisas mostram que um grande número de fatores influenciam a eficiência do tratamento antiviral sendo bastante difícil descobrir qual será eficiente e qual não. Para piorar o vírus frequentemente desenvolve resistência aos remédios com menos efeitos colaterais nos primeiros anos (40% no caso da lamivudina).<ref name=Marcelo/>
=== Na África ===


A escolha do tratamento vai depender do resultados de AgHbs, AgHbe/anti Hbe, DNA-VHB, ALT/AST e da histologia. Mesmo com o tratamento ainda há risco de cirrose e câncer hepático. Novos tratamentos e pesquisas estão sendo feitos para desenvolver medicamentos mais eficientes.<ref name=Marcelo>Marcelo Simão Ferreira (2000) Diagnóstico e tratamento da hepatite B. http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v33n4/2493.pdf</ref>
Na África subsariana, assim como grande parte da Ásia e do Pacífico, os portadores crônicos representam 8% a 10% da população. Nestas regiões, o câncer do fígado causado pela hepatite B está entre as três primeiras causas de morte por câncer.<ref>http://www.soshepatites.org.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=69</ref>


Entre 0,2 e 0,3% dos casos crônicos são fulminantes ou subfulminante e precisam ser tratados em UTI e requer transplante de fígado urgente.<ref name=Marcelo/>
== O vírus da hepatite D (HDV) ou Delta ==
'''Ver artigo principal:''' [[Hepatite D]]


== Prognóstico ==
O vírus da hepatite D, ou agente delta, depende do vírus da hepatite B para se reproduzir e pode agravar muito uma infecção de hepatite B. É transmitido pelas mesmas vias e possui apenas [[tratamento paliativo]]. Pode causar [[cirrose]] e aumentar o risco de [[câncer]].
{{mais notas|data=dezembro de 2012}}

== Diagnóstico ==
O diagnóstico da hepatite B deve não só identificar as pessoas com [[anticorpo]]s contra a doença, mas também diferenciar aqueles que já tiveram a doença aguda, mas estão nessa altura curados, dos com hepatite crónica que necessitam de vigilância e tratamento. São usadas técnicas elaboradas de detecção de [[antigénio]]s e anticorpos diferentes que surgem em diferentes estágios da doença. O episódio agudo é diagnosticado pela detecção no sangue de antigénios HBs e HBe, e anticorpos anti-HBc além de transaminases (enzimas que existem no interior dos [[hepatócito]]s e só saem para o sangue com destruição destes: indicadores de hepatite) simultaneamente. A infecção passada resolvida caracteriza-se por anticorpos anti-HBs e anti-HBc do tipo [[IgG]]. A imunidade efectiva da vacina é determinada pela detecção de anticorpos anti-HBs do tipo [[IgG]], mas não anti-HBc. O doente crónico apresenta no sangue antigénios HBe e HBs altos e anticorpos anti-HBc do tipo [[IgG]] mas não anti-HBs. Além disso, pode ter transaminases elevadas (hepatite activa) e testes para a presença de vírus no sangue ([[PCR]]) positivos.

== Sinais e sintomas ==
[[Imagem:Jaundice eye.jpg|thumb|Olhos e pele amarelados são um sintoma de hepatite.]]

Durante o período de incubação da doença o portador permanece assintomático, esse período dura entre 30-180 dias, enquanto que o período da infecção vai de 2-12 meses. Após a incubação, em 25% dos casos ocorre uma hepatite de progressão rápida com ''episódio agudo'' caracterizado por alguns dos seguintes sintomas<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-b</ref>:
*[[Icterícia]] ([[pele]] e [[conjunctiva]] dos olhos amarelas);
*Febre;
*Fadiga (Cansaço);
*Dores no abdômen;
*[[Anorexia]] (Falta de apetite);
*[[Colúria]] (Urina escura);
*Fezes claras;
*[[Náusea]]s com ou sem vômito;
*[[Urticária]] (erupções na pele rosadas que causam coceira) ou [[exantema]] (rash cutâneo).

Cerca de 75% poderão ser assintomáticos mas mesmo assim em risco de desenvolvimento de cronicidade. Estes sintomas duram de duas semanas a três meses. O que sucede a seguir depende da resposta do [[sistema imunitário]].

Conforme os anos passam, caso o organismo não combata adequadamente o vírus (cerca de 10% dos casos), o vírus segue danificando o fígado e pode causar<ref>http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/hepatite-b/</ref>:
*[[Cirrose hepática]];
*[[Insuficiência hepática]];
*Carcinoma hepatocelular ([[Câncer de fígado]]);
*[[Esplenomegalia]] (aumento do [[baço]]);
*[[Ascite]] (acúmulo de líquidos na cavidade abdominal) e;
*Encefalopatia hepática (danos no cérebro);


[[Imagem:HBV_prevalence_2005_-_strains.svg|thumb|right|Existem vários tipos de cepas de hepatite B, identificadas por letras de "A" a "h" usando maiúscula ou minúscula para descrever a dominância. Cepas diferentes possuem progressão, sintomas e tratamento significantemente diferentes.]]
== Progressão ==
[[Imagem:HBV_prevalence_2005_-_strains.svg|500px|thumb|right|Existem vários tipos de cepas de hepatite B, identificadas por letras de "A" a "h" usando maiúscula ou minúscula para descrever a dominância. Cepas diferentes possuem progressão, sintomas e tratamento significantemente diferentes.]]


Se os [[linfócito]]s T citotóxicos forem agressivos, a doença é resolvida e o doente curado. Se forem muito agressivos, pode ocorrer [[hepatite fulminante]] e morte. Se a resposta for insuficiente, ocorre estado de portador ou hepatite crónica. O sistema imunitário ineficaz e ainda em desenvolvimento dos bebês leva 90% deste grupo desenvolva a forma crônica (recorrente) da doença. Crianças pequenas tem entre 20 a 50% de desenvolver a forma crônica enquanto adultos tem apenas 5 a 10%.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-b</ref>
Se os [[linfócito]]s T citotóxicos forem agressivos, a doença é resolvida e o doente curado. Se forem muito agressivos, pode ocorrer [[hepatite fulminante]] e morte. Se a resposta for insuficiente, ocorre estado de portador ou hepatite crónica. O sistema imunitário ineficaz e ainda em desenvolvimento dos bebês leva 90% deste grupo desenvolva a forma crônica (recorrente) da doença. Crianças pequenas tem entre 20 a 50% de desenvolver a forma crônica enquanto adultos tem apenas 5 a 10%.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-b</ref>
Linha 102: Linha 88:
A sobreinfecção de doentes com hepatite B crónica com agente delta pode levar à [[encefalopatia hepática]] (deterioração das funções intelectuais devido à incapacidade do fígado de controlar os níveis de [[amónia]], uma substância tóxica no sangue) mais facilmente e exacerba todos os sintomas.
A sobreinfecção de doentes com hepatite B crónica com agente delta pode levar à [[encefalopatia hepática]] (deterioração das funções intelectuais devido à incapacidade do fígado de controlar os níveis de [[amónia]], uma substância tóxica no sangue) mais facilmente e exacerba todos os sintomas.


== Tratamento ==
== Epidemiologia ==
[[Imagem:Distribution of Hepatitis B.PNG|thumb|Incidência e risco de hepatite B. Vermelho: mais de 8% da população é portadora; Laranja: de 2 a 7%; Amarelo:menos de 2%]]
{{aviso-médico}}


Cerca de 5% da população mundial terá a doença ou será portadora sem sintomas. Nos [[Estados Unidos]] há 300&nbsp;000 novos casos por ano e 4000 mortes. Em todo o mundo existem cerca de 240 milhões de portadores da hepatite B crônica, tornando-a uma das piores pandemias atualmente. Cerca de 25% (1 em cada 4) dos adultos infectados crônicos durante a infância morreram de câncer ou cirrose.<ref name=OMS/> Os grupos mais vulneráveis são os de indivíduos que praticam sexo desprotegido e utilizadores de drogas intravenosas. A imunização ([[vacina contra hepatite B]]) protege eficazmente contra a doença.
[[Imagem:Twinrix GlaxoSmithKline - i-hepA & r-hepB-S-Ag - doos Terumo-naald spuiten.JPG|thumb|A vacina está disponível gratuitamente em postos de saúde brasileiros.]]


Na África subsariana, assim como grande parte da Ásia e do Pacífico, os portadores crônicos representam 8% a 10% da população. Nestas regiões, o câncer do fígado causado pela hepatite B está entre as três primeiras causas de morte por câncer.<ref>http://www.soshepatites.org.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=69</ref>
No caso agudo o tratamento é predominantemente para aliviar os sintomas (paliativo), pois em 90-95% dos casos o próprio organismo elimina a doença. Vários agentes antivirais têm sido usados no tratamento dos indivíduos com hepatite crônica, dentre eles destacam-se o [[intérferon alfa]], a [[lamivudina]], o [[famciclovir]] e o [[adefovir dipivoxi]]. Pesquisas mostram que um grande número de fatores influenciam a eficiência do tratamento antiviral sendo bastante difícil descobrir qual será eficiente e qual não. Para piorar o vírus frequentemente desenvolve resistência aos remédios com menos efeitos colaterais nos primeiros anos (40% no caso da lamivudina).<ref name=Marcelo/>


No Brasil, a taxa de infectados passou de 0,3%, em 1999, para 6,9%, em 2010. A região Sul registra os maiores índices de novos casos desde 2002, seguida da região Norte. Um total de 120.343 foram notificados no país nesse período. A via sexual é a forma predominante de transmissão sendo responsável por 52,7% dos casos.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatites-virais-em-numeros</ref> A região amazônica também possui altos índices de infectados.{{carece de fontes}} Entre 1999 e 2011, a região Sudeste concentrou 36,6% dos casos e a região Sul concentrou 31,6% das notificações.<ref name=gov>http://www.aids.gov.br/pagina/hepatites-virais-em-numeros</ref> A vacina está disponível para todas as idades em quase todos os postos de saúde do país e é a medida mais eficaz de prevenção.
A escolha do tratamento vai depender do resultados de AgHbs, AgHbe/anti Hbe, DNA-VHB, ALT/AST e da histologia. Mesmo com o tratamento ainda há risco de cirrose e câncer hepático. Novos tratamentos e pesquisas estão sendo feitos para desenvolver medicamentos mais eficientes.<ref name=Marcelo>Marcelo Simão Ferreira (2000) Diagnóstico e tratamento da hepatite B. http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v33n4/2493.pdf</ref>


Em Portugal, no ano de 2005 foram notificados 36 mil novos casos, um grande progresso comparado a média de 120 mil novos casos em pesquisas passadas. A melhora está associada aos progressos feitos pelo plano nacional de vacinação que vacinaram cerca de metade da população. O distrito de Bragança apresenta os valores mais baixos de imunização com 26,7% e o de Faro os mais altos valores com 59,5% de imunizados.<ref>http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=615709</ref>
Entre 0,2 e 0,3% dos casos crônicos são fulminantes ou subfulminante e precisam ser tratados em UTI e requer transplante de fígado urgente.<ref name=Marcelo/>


== Prevenção ==
== História ==
O relato mais antigo de uma epidemia causada pelo vírus da Hepatite B foi feito por Lurman em [[1885]]. Um surto de Varíola ocorreu no Bremen em [[1883]] e [[1889]] empregados das docas foram vacinados com linfa de outras pessoas. Após várias semanas, e até oito meses depois, 191 dos trabalhadores vacinados ficaram doentes com Icterícia e foram diagnosticados como sofrendo de hepatite do soro. Outros empregados que tinham sido inoculados com diferentes lotes de linfa permaneceram saudáveis. O artigo de Lurma, agora apontadado como um exemplo clássico dum estudo epidemiológico, provou que a linfa contaminada foi a fonte do surto. Mais tarde, numerosos surtos semelhantes foram reportados após a introdução, em 1909, de agulhas hipodermicas que foram usadas, e mais importante reutilizadas, para administrar "Salvarsan" para o tratamento da sífilis. O vírus não foi descoberto até 1965 quando Baruch Blumber, então trabalhador no "National Institutes of Health (NIH)", descobriu o Antigénio Australia (que mais tarde veio a ser conhecido como sendo o antigénio de superfície Hepatite B, ou HBsAg) no sangue de aborígenes australianos. Apesar de se suspeitar da existência do vírus desde que MacCallum publicou a sua pesquisa em 1947. Em 1970, D.S. Dane e outros descobriram a particula vírica através de um microscópio electrónico. No início de 1980, o genoma do vírus foi sequenciado, e as primeiras vacinas estavam a ser testadas.
[[Imagem:US Navy 050602-N-0555B-006 Hospital Corpsman 3rd Class Natasha Wooden administers a Hepatitis-B vaccine to a Sailors aboard the Nimitz class aircraft carrier USS Ronald Reagan (CVN 76).jpg|thumb|A vacina da hepatite B também protege contra a hepatite D.]]

A prevenção pela [[Vacina contra hepatite B|vacina]] é a melhor forma de combater a doença. Essa vacina é constituída pelos antigénios HBs, sem nenhuma partícula viral. Administra-se por inoculação. Se a pessoa após alguns meses apresentar anticorpos anti-HBs em suficiente número, não necessitam de mais injeções, mas aqueles com menor resposta requerem novas inoculações, geralmente três, espaçadas. Em muitos países a vacina é obrigatória. Três vacinas são eficazes para imunizar 95% dos casos.

Não há vacina contra a hepatite D (HDV), mas como ela só infecta doentes crónicos com Hepatite B a vacina do HBV previne a D também. Em doentes com hepatite B é importante sempre usar camisinha e nunca compartilhar seringas.

Usar sempre camisinha, não compartilhar objetos perfurantes ou cortantes e fazer exames pré-natal também são importantes medidas preventivas.


== Investigação ==
=== Novos tratamentos ===
Em 2012, cientistas portugueses desenvolveram uma vacina oral para hepatite B que também pode ajudar no seu tratamento. Porém ainda não está disponível ao público e não há previsão de quando será comercializada. <ref>http://www.publico.pt/ciencia/noticia/cientistas-portugueses-desenvolveram-vacina-oral-contra-a-hepatite-b-1570253</ref>
Em 2012, cientistas portugueses desenvolveram uma vacina oral para hepatite B que também pode ajudar no seu tratamento. Porém ainda não está disponível ao público e não há previsão de quando será comercializada. <ref>http://www.publico.pt/ciencia/noticia/cientistas-portugueses-desenvolveram-vacina-oral-contra-a-hepatite-b-1570253</ref>

== História ==
O relato mais antigo de uma epidemia causada pelo vírus da Hepatite B foi feito por Lurman em [[1885]]. Um surto de Varíola ocorreu no Bremen em [[1883]] e [[1889]] empregados das docas foram vacinados com linfa de outras pessoas. Após várias semanas, e até oito meses depois, 191 dos trabalhadores vacinados ficaram doentes com Icterícia e foram diagnosticados como sofrendo de hepatite do soro. Outros empregados que tinham sido inoculados com diferentes lotes de linfa permaneceram saudáveis. O artigo de Lurma, agora apontadado como um exemplo clássico dum estudo epidemiológico, provou que a linfa contaminada foi a fonte do surto. Mais tarde, numerosos surtos semelhantes foram reportados após a introdução, em 1909, de agulhas hipodermicas que foram usadas, e mais importante reutilizadas, para administrar "Salvarsan" para o tratamento da sífilis. O vírus não foi descoberto até 1965 quando Baruch Blumber, então trabalhador no "National Institutes of Health (NIH)", descobriu o Antigénio Australia (que mais tarde veio a ser conhecido como sendo o antigénio de superfície Hepatite B, ou HBsAg) no sangue de aborígenes australianos. Apesar de se suspeitar da existência do vírus desde que MacCallum publicou a sua pesquisa em 1947. Em 1970, D.S. Dane e outros descobriram a particula vírica através de um microscópio electrónico. No início de 1980, o genoma do vírus foi sequenciado, e as primeiras vacinas estavam a ser testadas.


==Ver também==
==Ver também==
Linha 133: Linha 110:
*[[Virologia]]
*[[Virologia]]
*[[Sida]]
*[[Sida]]

{{Referências}}


==Ligações externas==
==Ligações externas==
*[http://www.hepcentro.com.br/hepatite_b.htm Hepatite B]
*[http://www.hepcentro.com.br/hepatite_b.htm Hepatite B]
*[http://www.omge.org/globalguidelines/guide06/guideline6_pt.htm Vacinação para Hepatite B] - diretriz prática da [[Organização Mundial de Gastroenterologia]]
*[http://www.omge.org/globalguidelines/guide06/guideline6_pt.htm Vacinação para Hepatite B] - diretriz prática da [[Organização Mundial de Gastroenterologia]]

{{Referências}}


{{Doenças causadas por vírus}}
{{Doenças causadas por vírus}}

Revisão das 22h57min de 8 de agosto de 2016

Hepatite B
Hepatite B
Vírus da hepatite
Especialidade infecciologia
Classificação e recursos externos
CID-10 B16,
B18.0-B18.1
CID-9 070.2-070.3
CID-11 1337277167
OMIM 610424
DiseasesDB 5765
MedlinePlus 000279
eMedicine 177632, 964662
MeSH D006509
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

A hepatite B é uma doença infecciosa que afeta o fígado causada pelo vírus da hepatite B (VHB). O vírus pode causar infeções tanto agudas como crónicas. Durante a infeção inicial aguda muitas pessoas não manifestam sintomas. Em algumas pessoas os sintomas manifestam-se de forma súbita e incluem vómitos, pele amarela, fadiga, urina de cor escura e dor abdominal.[1] Os sintomas podem demorar entre 30 a 180 dias até se manifestarem[1] e geralmente manifestam-se ao longo de várias semanas. [1][2] Só muito raramente é que a infeção inicial causa morte.[1] 90% das pessoas infetadas por volta o nascimento desenvolvem hepatite B crónica, embora após os cinco anos de idade isso só se verifique em 10% dos casos.[3] A maior parte das pessoas com doença crónica não manifestam sintomas. No entanto, encontram-se em risco acrescido de desenvolver cirrose e cancro do fígado.[4] Estas complicações são a causa da morte de 15 a 25% das pessoas com hepatite B crónica.[1]

O vírus é transmitido pela exposição ao sangue ou fluidos corporais de uma pessoa infetada. A via de transmissão mais comum em regiões endémicas é a infeção durante o nascimento ou a partir da mãe ou pelo contacto com sangue infetado durante a infância. As vias de transmissão mais comum em regiões onde a doença é rara são a partilha de seringas entre consumidores de droga e através de relações sexuais.[1] Entre outros fatores de risco estão o trabalho na prestação de cuidados de saúde, transfusões de sangue, hemodiálise, viver com uma pessoa infetada, viajar para regiões onde a doença é endémica e o internamento em instituições.[1][3] Durante a década de 1980, as tatuagens e a acupunctura foram responsáveis por um número significativo de casos; no entanto, com a melhoria da esterilização isto tem vindo a diminuir.[5] Os vírus da hepatite B não são transmitidos por dar a mão, por partilhar talheres, por beijar, abraçar, tossir, espirrar ou amamentar.[3] A infeção pode ser diagnosticada entre 30 a 60 após a exposição. O disgnóstico é geralmente feito através de análises ao sangue que confirmam a presença de partes do vírus ou de anticorpos contra o vírus.[1] A doeça é um dos cinco tipos conhecidos de vírus da hepatite: A, C, D e E

Desde 1982 que a doença é evitável através de imunização com a vacina contra hepatite B.[1][6] A Organização Mundial de Saúde recomenda a vacinação desde o primeiro dia de vida sempre que possível. Para que a vacina seja completamente eficaz, são posteriormente necessárias duas ou três doses complementares. A vacina tem 95% de eficácia[1] e em 2006 fazia parte do programa de vacinação de 180 países.[7] Recomenda-se também o rastreio de hepatite no sangue destinado a transfusões e o uso de preservativo nas relações sexuais. Durante a infeção inicial, o tratamento tem por base os sintomas que a pessoa manifesta. Em pessoas com doença crónica podem ser usados antivirais como o tenofovir ou interferões. Em casos de cirrose pode ser necessário um transplante de fígado.[1]

Cerca de um terço de todas as pessoas em todo o mundo já foram infetedas por hepatite B em determinado momento da vida. Entre eles, entre 250 e 350 milhões desenvolveram doença crónica.[1][8] Em 2013 registaram-se 129 milhões de novas infeções.[9] Em cada ano, morrem de hepatite B mais de 750 000 pessoas.[1] Destas, cerca de 300 000 devem-se a cancro do fígado.[10] Atualmente, a doença é endémica apenas na Ásia Oriental e na África subsariana, onde entre 5 e 10% dos adultos apresentam infeção crónica. Na Europa e nos Estados Unidos a prevalência é inferior a 1%.[1] A investigação atual centra-se na criação de alimentos que contenham a vacina contra a doença.[11] A doença é capaz de infetar também outros grandes primatas.[12]

Sinais e sintomas

A infeção aguda pelo vírus da hepatite B está associada à hepatite viral aguda – uma doença que se manifesta por sentimento geral de mal estar, perda de apetite, náuseas, vómitos, dores no corpo, febre ligeira e urina de cor escura, e que progride para o desenvolvimento de icterícia. No entanto, em algumas pessoas a infeção pode ser completamente assintomática e passar despercebida. O prurido na pele pode também ser um possível sintoma comum a todos os vírus de hepatite. Esta doença tem a duração de algumas semanas e a maioria das pessoas recupera gradualmente. Algumas pessoas podem apresentar uma doença hepática mais grave denominada hepatite fulminante, que aumenta o risco de morte. [13]

A infeção crónica pelo vírus da hepaptite B pode ser assintomática ou estar associada a uma inflamação crónica do fígado que, no prazo de alguns anos, pode causar cirrose do fígado. O tipo de infeção influencia significativamente a incidência de hepatocarcinoma (cancro do fígado). Na Europa, as hepatites B e C são a causa de aproximadamente 50% dos hepatocarcinomas.[14][15] As pessoas com a doença crónica são incentivadas a evitar o consumo de álcool, uma vez que isso aumenta o risco de cirrose e de cancro do fígado. O vírus da hepatite B tem sido associado ao desenvolvimento de nefropatia membranosa.[16]

Entre 1 e 10% das pessoas infetadas com o VHB manifestam sintomas para além do fígado, incluindo síndrome semelhante à doença do soro, vasculite aguda necrosante (poliarterite nodosa), nefropatia membranosa e síndrome de Gianotti-Crosti.[17][18] O síndrome semelhante à doença do soro manifesta-se durante a fase aguda da doença, muitas vezes antecedendo o aparecimento de icterícia.[19] As características clínicas são febre, erupções cutâneas e poliarterite. Estes sintomas muitas vezes diminuem depois do aparecimento de icterícia, mas podem persistir durante toda a duração da fase aguda de hepatite B.[20] Entre 30 e 50% das pessoas com vasculite aguda necrosante]] são portadoras de VHB.[21] A nefropatia associada ao VHB é mais comum em crianças.[22][23] O síndrome de Gianotti-Crosti é a forma mais comum.[20] Podem também ocorrer outros distúrbios hematológicos, como crioglobulinemia e anemia aplástica.[20]

Causa

O vírus da hepatite B é cerca de 50 a 100 vezes mais contagioso que o do HIV.[24]

O vírus da hepatite B é um hepadnavírus - hepa, de hepatotrópico (atraído para o fígado) e dna, porque é um vírus de DNA - e tem um genoma circular de DNA de cadeia dupla parcial e apresenta celoma. Os vírus replicam através de uma forma intermediária de RNA por transcrição reversa, que, na prática, os relaciona com os retrovírus. Embora a replicação tenha lugar no fígado, o vírus propaga-se para o sangue, onde as proteínas virais e anticorpos contra eles são encontrados em pessoas infectadas.

Transmissão

O vírus existe no sangue, saliva, sémen, secreções vaginais e leite materno de doentes ou portadores assintomáticos. Sua transmissão pode ser realizada por contatos diretos com saliva, sangue ou outros fluidos corporais, através de relações sexuais, transfusão de sangue ou partilha de seringas para injeção de drogas. O vírus é muito mais resistente e de transmissão muito mais fácil que o HIV e persiste mais tempo nesses instrumentos, mas é destruído pela lavagem cuidadosa e esterilização pelo calor. Resiste por vezes ao pH baixo (ácido), calor moderado e temperaturas baixas. É capaz de sobreviver no ambiente exterior por pelo menos uma semana.

O vírus pode ser transmitido através da exposição a sangue ou fluidos corporais, tais como sêmen e secreções vaginais, contaminados. O DNA viral também já foi detectado na saliva, lágrimas e na urina de portadores crônicos. A infecção perinatal, ou seja durante o parto, é uma das principais vias de transmissão em áreas endêmicas, com cerca de 20% de risco de transmissão para mães HBsAg positivas e 90% caso também seja HBeAg positiva. Quanto mais cedo a gestante começar o tratamento, menor o risco de transmissão.

Grupos vulneráveis incluem profissionais de saúde, pessoas que recebem transfusões ou fazem diálise em países sem o devido controle, acupuntura, tatuagem, viajantes a locais endêmicos e residentes de instituições. Entretanto, o vírus da hepatite B não pode ser transmitido através de aperto de mão, compartilhamento de talheres ou copos, beijo, abraço, tosse ou espirro.

O agente delta ou vírus da hepatite D é transmitido de doentes com ambos HBV e HDV para doente com HBV crónico apenas pelas mesmas vias e nos mesmos grupos de risco.

Diagnóstico

O diagnóstico da hepatite B deve não só identificar as pessoas com anticorpos contra a doença, mas também diferenciar aqueles que já tiveram a doença aguda, mas estão nessa altura curados, dos com hepatite crónica que necessitam de vigilância e tratamento. São usadas técnicas elaboradas de detecção de antigénios e anticorpos diferentes que surgem em diferentes estágios da doença. O episódio agudo é diagnosticado pela detecção no sangue de antigénios HBs e HBe, e anticorpos anti-HBc além de transaminases (enzimas que existem no interior dos hepatócitos e só saem para o sangue com destruição destes: indicadores de hepatite) simultaneamente. A infecção passada resolvida caracteriza-se por anticorpos anti-HBs e anti-HBc do tipo IgG. A imunidade efectiva da vacina é determinada pela detecção de anticorpos anti-HBs do tipo IgG, mas não anti-HBc. O doente crónico apresenta no sangue antigénios HBe e HBs altos e anticorpos anti-HBc do tipo IgG mas não anti-HBs. Além disso, pode ter transaminases elevadas (hepatite activa) e testes para a presença de vírus no sangue (PCR) positivos.

Prevenção

A vacina da hepatite B também protege contra a hepatite D.

A prevenção pela vacina é a melhor forma de combater a doença. Essa vacina é constituída pelos antigénios HBs, sem nenhuma partícula viral. Administra-se por inoculação. Se a pessoa após alguns meses apresentar anticorpos anti-HBs em suficiente número, não necessitam de mais injeções, mas aqueles com menor resposta requerem novas inoculações, geralmente três, espaçadas. Em muitos países a vacina é obrigatória. Três vacinas são eficazes para imunizar 95% dos casos.

Não há vacina contra a hepatite D (HDV), mas como ela só infecta doentes crónicos com Hepatite B a vacina do HBV previne a D também. Em doentes com hepatite B é importante sempre usar camisinha e nunca compartilhar seringas.

Usar sempre camisinha, não compartilhar objetos perfurantes ou cortantes e fazer exames pré-natal também são importantes medidas preventivas.

Tratamento

A vacina está disponível gratuitamente em postos de saúde brasileiros.

No caso agudo o tratamento é predominantemente para aliviar os sintomas (paliativo), pois em 90-95% dos casos o próprio organismo elimina a doença. Vários agentes antivirais têm sido usados no tratamento dos indivíduos com hepatite crônica, dentre eles destacam-se o intérferon alfa, a lamivudina, o famciclovir e o adefovir dipivoxi. Pesquisas mostram que um grande número de fatores influenciam a eficiência do tratamento antiviral sendo bastante difícil descobrir qual será eficiente e qual não. Para piorar o vírus frequentemente desenvolve resistência aos remédios com menos efeitos colaterais nos primeiros anos (40% no caso da lamivudina).[25]

A escolha do tratamento vai depender do resultados de AgHbs, AgHbe/anti Hbe, DNA-VHB, ALT/AST e da histologia. Mesmo com o tratamento ainda há risco de cirrose e câncer hepático. Novos tratamentos e pesquisas estão sendo feitos para desenvolver medicamentos mais eficientes.[25]

Entre 0,2 e 0,3% dos casos crônicos são fulminantes ou subfulminante e precisam ser tratados em UTI e requer transplante de fígado urgente.[25]

Prognóstico

Existem vários tipos de cepas de hepatite B, identificadas por letras de "A" a "h" usando maiúscula ou minúscula para descrever a dominância. Cepas diferentes possuem progressão, sintomas e tratamento significantemente diferentes.

Se os linfócitos T citotóxicos forem agressivos, a doença é resolvida e o doente curado. Se forem muito agressivos, pode ocorrer hepatite fulminante e morte. Se a resposta for insuficiente, ocorre estado de portador ou hepatite crónica. O sistema imunitário ineficaz e ainda em desenvolvimento dos bebês leva 90% deste grupo desenvolva a forma crônica (recorrente) da doença. Crianças pequenas tem entre 20 a 50% de desenvolver a forma crônica enquanto adultos tem apenas 5 a 10%.[26]

Em 1% dos casos a hepatite é fulminante e pode ser mortal. Cerca de 90% dos indivíduos infectados resolvem a infecção após o episódio agudo ou assintomático de forma completa e curam-se. Contudo em 10% dos casos a infecção torna-se crónica. Mesmo dentro deste décimo de casos crónicos, alguns se tornam portadores infecciosos sem sintomas, outros têm uma hepatite não progressiva com replicação viral mínima e apenas alguns desenvolvem um curso progressivo. A seguinte discussão refere-se à progressão nestes indivíduos, que sofrem da "verdadeira" hepatite B, com cronicidade e alto risco de complicações.

A comorbidade com o vírus da hepatite D pode transformar o curso benigno de uma hepatite B numa doença altamente agressiva (curso fulminante mortal) e piora o prognóstico daqueles que já têm curso progressivo, diminuindo a sua esperança de vida.

O HBV infecta e multiplica-se nas células sem as destruir, e maior parte dos danos e sintomas da hepatite que provoca são devidos à resposta citotóxica necessária e por vezes eficaz desenvolvida pelo sistema imunitário contra as células humanas infectadas. O reconhecimento das células infectadas é feito pela detecção de proteínas virais que são expressas na membrana celular da célula-hóspede e, portanto expostas ao exterior. A tendência para a cronicidade da hepatite B é devida à infecção latente que o vírus pode produzir em algumas células. Ele é capaz de integrar o seu genoma de ADN nos cromossomas humanos, e lá permanecer sem se multiplicar perfeitamente escondido do sistema imunitário, enquanto os virions em multiplicação activa são destruídos. Mais tarde, em resposta a determinados estímulos, pode voltar a ficar activo. Além disso, a elevada taxa de mutação do vírus permite mudanças na conformação das suas proteínas externas, que tornam a resposta imunitária específica menos eficaz.

O fígado responde de duas formas à destruição das suas células. Inicialmente os hepatócitos regeneram o tecido perdido, mais tarde com os danos repetidos inicia-se também a produção de tecido conjuntivo fibroso pelos fibrócitos. Com danos contínuos, a capacidade de regeneração dos hepatócitos é insuficiente, e a fibrose torna-se predominante, levando à cirrose hepática com insuficiência hepática devido ao pequeno número de hepatócitos, que não se podem multiplicar devido à resistência do tecido conjuntivo modelado à sua volta. A cirrose hepática é uma condição inevitavelmente fatal, e mesmo o transplante de fígado só permite a vida durante alguns anos devido à rejeição progressiva do órgão estranho.

A replicação aumentada dos hepatócitos aumenta a probabilidade de outra complicação: o carcinoma hepatocelular. A maioria das mutações genéticas que resultam no cancro (tumor) ocorrem durante a replicação celular, em que o processo de cópia do DNA conduz quase sempre a alguns erros. Com a regeneração contínua do tecido do fígado devido à destruição das células pelo vírus (e resposta imunitária) esses erros acumulam-se. Outro mecanismo de mutação é a própria inserção mais ou menos aleatória do genoma do vírus nos cromossomas: se algum gene ou região regulatória for interrompida, genes antitumorais podem ser inactivados ou genes pró-tumorais (oncogenes) hiperactivados. O resultado é que a infecção crónica pelo HBV é uma das mais importantes causas do carcinoma hepatocelular - o cancro de longe mais comum do fígado, e de mau prognóstico.

A sobreinfecção de doentes com hepatite B crónica com agente delta pode levar à encefalopatia hepática (deterioração das funções intelectuais devido à incapacidade do fígado de controlar os níveis de amónia, uma substância tóxica no sangue) mais facilmente e exacerba todos os sintomas.

Epidemiologia

Incidência e risco de hepatite B. Vermelho: mais de 8% da população é portadora; Laranja: de 2 a 7%; Amarelo:menos de 2%

Cerca de 5% da população mundial terá a doença ou será portadora sem sintomas. Nos Estados Unidos há 300 000 novos casos por ano e 4000 mortes. Em todo o mundo existem cerca de 240 milhões de portadores da hepatite B crônica, tornando-a uma das piores pandemias atualmente. Cerca de 25% (1 em cada 4) dos adultos infectados crônicos durante a infância morreram de câncer ou cirrose.[24] Os grupos mais vulneráveis são os de indivíduos que praticam sexo desprotegido e utilizadores de drogas intravenosas. A imunização (vacina contra hepatite B) protege eficazmente contra a doença.

Na África subsariana, assim como grande parte da Ásia e do Pacífico, os portadores crônicos representam 8% a 10% da população. Nestas regiões, o câncer do fígado causado pela hepatite B está entre as três primeiras causas de morte por câncer.[27]

No Brasil, a taxa de infectados passou de 0,3%, em 1999, para 6,9%, em 2010. A região Sul registra os maiores índices de novos casos desde 2002, seguida da região Norte. Um total de 120.343 foram notificados no país nesse período. A via sexual é a forma predominante de transmissão sendo responsável por 52,7% dos casos.[26] A região amazônica também possui altos índices de infectados.[carece de fontes?] Entre 1999 e 2011, a região Sudeste concentrou 36,6% dos casos e a região Sul concentrou 31,6% das notificações.[26] A vacina está disponível para todas as idades em quase todos os postos de saúde do país e é a medida mais eficaz de prevenção.

Em Portugal, no ano de 2005 foram notificados 36 mil novos casos, um grande progresso comparado a média de 120 mil novos casos em pesquisas passadas. A melhora está associada aos progressos feitos pelo plano nacional de vacinação que vacinaram cerca de metade da população. O distrito de Bragança apresenta os valores mais baixos de imunização com 26,7% e o de Faro os mais altos valores com 59,5% de imunizados.[28]

História

O relato mais antigo de uma epidemia causada pelo vírus da Hepatite B foi feito por Lurman em 1885. Um surto de Varíola ocorreu no Bremen em 1883 e 1889 empregados das docas foram vacinados com linfa de outras pessoas. Após várias semanas, e até oito meses depois, 191 dos trabalhadores vacinados ficaram doentes com Icterícia e foram diagnosticados como sofrendo de hepatite do soro. Outros empregados que tinham sido inoculados com diferentes lotes de linfa permaneceram saudáveis. O artigo de Lurma, agora apontadado como um exemplo clássico dum estudo epidemiológico, provou que a linfa contaminada foi a fonte do surto. Mais tarde, numerosos surtos semelhantes foram reportados após a introdução, em 1909, de agulhas hipodermicas que foram usadas, e mais importante reutilizadas, para administrar "Salvarsan" para o tratamento da sífilis. O vírus não foi descoberto até 1965 quando Baruch Blumber, então trabalhador no "National Institutes of Health (NIH)", descobriu o Antigénio Australia (que mais tarde veio a ser conhecido como sendo o antigénio de superfície Hepatite B, ou HBsAg) no sangue de aborígenes australianos. Apesar de se suspeitar da existência do vírus desde que MacCallum publicou a sua pesquisa em 1947. Em 1970, D.S. Dane e outros descobriram a particula vírica através de um microscópio electrónico. No início de 1980, o genoma do vírus foi sequenciado, e as primeiras vacinas estavam a ser testadas.

Investigação

Em 2012, cientistas portugueses desenvolveram uma vacina oral para hepatite B que também pode ajudar no seu tratamento. Porém ainda não está disponível ao público e não há previsão de quando será comercializada. [29]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n «Hepatitis B Fact sheet N°204». who.int. July 2014. Consultado em 4 November 2014  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  2. Raphael Rubin; David S. Strayer (2008). Rubin's Pathology : clinicopathologic foundations of medicine ; [includes access to online text, cases, images, and audio review questions!] 5. ed. Philadelphia [u.a.]: Wolters Kluwer/Lippincott Williams & Wilkins. p. 638. ISBN 9780781795166 
  3. a b c «Hepatitis B FAQs for the Public — Transmission». U.S. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Consultado em 29 de novembro de 2011 
  4. Chang MH (June 2007). «Hepatitis B virus infection». Semin Fetal Neonatal Med. 12 (3): 160–167. PMID 17336170. doi:10.1016/j.siny.2007.01.013  Verifique data em: |data= (ajuda)
  5. Thomas HC (2013). Viral Hepatitis 4th ed. Hoboken: Wiley. p. 83. ISBN 9781118637302 
  6. Pungpapong S, Kim WR, Poterucha JJ (2007). «Natural History of Hepatitis B Virus Infection: an Update for Clinicians». Mayo Clinic Proceedings. 82 (8): 967–975. PMID 17673066. doi:10.4065/82.8.967 
  7. Williams R (2006). «Global challenges in liver disease». Hepatology (Baltimore, Md.). 44 (3): 521–526. PMID 16941687. doi:10.1002/hep.21347 
  8. Schilsky ML (2013). «Hepatitis B "360"». Transplantation Proceedings. 45 (3): 982–985. PMID 23622604. doi:10.1016/j.transproceed.2013.02.099 
  9. Global Burden of Disease Study 2013, Collaborators (22 August 2015). «Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 301 acute and chronic diseases and injuries in 188 countries, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.». Lancet (London, England). 386 (9995): 743–800. PMID 26063472. doi:10.1016/S0140-6736(15)60692-4  Verifique data em: |data= (ajuda)
  10. GBD 2013 Mortality and Causes of Death, Collaborators (17 December 2014). «Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990–2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.». Lancet. 385 (9963): 117–71. PMC 4340604Acessível livremente. PMID 25530442. doi:10.1016/S0140-6736(14)61682-2  Verifique data em: |data= (ajuda)
  11. Thomas, Bruce (2002). Production of Therapeutic Proteins in Plants. [S.l.: s.n.] p. 4. ISBN 9781601072542. Consultado em 25 November 2014  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  12. Plotkin, [edited by] Stanley A.; Orenstein,, Walter A.; Offit, Paul A. (2013). Vaccines 6th ed. Edimburgo: Elsevier/Saunders. p. 208. ISBN 9781455700905 
  13. Terrault N, Roche B, Samuel D (July 2005). «Management of the hepatitis B virus in the liver transplantation setting: a European and an American perspective». Liver Transpl. 11 (7): 716–32. PMID 15973718. doi:10.1002/lt.20492  Verifique data em: |data= (ajuda)
  14. El-Serag HB, Rudolph KL (June 2007). «Hepatocellular carcinoma: epidemiology and molecular carcinogenesis». Gastroenterology. 132 (7): 2557–76. PMID 17570226. doi:10.1053/j.gastro.2007.04.061  Verifique data em: |data= (ajuda)
  15. El-Serag HB (22 September 2011). «Hepatocellular carcinoma». New England Journal of Medicine. 365 (12): 1118–27. PMID 21992124. doi:10.1056/NEJMra1001683  Verifique data em: |data= (ajuda)
  16. Gan SI, Devlin SM, Scott-Douglas NW, Burak KW (October 2005). «Lamivudine for the treatment of membranous glomerulopathy secondary to chronic hepatitis B infection». Canadian journal of gastroenterology = Journal canadien de gastroenterologie. 19 (10): 625–9. PMID 16247526  Verifique data em: |data= (ajuda)
  17. Dienstag JL (February 1981). «Hepatitis B as an immune complex disease». Seminars in Liver Disease. 1 (1): 45–57. PMID 6126007. doi:10.1055/s-2008-1063929  Verifique data em: |data= (ajuda)
  18. Trepo C, Guillevin L (May 2001). «Polyarteritis nodosa and extrahepatic manifestations of HBV infection: the case against autoimmune intervention in pathogenesis». Journal of Autoimmunity. 16 (3): 269–74. PMID 11334492. doi:10.1006/jaut.2000.0502  Verifique data em: |data= (ajuda)
  19. Alpert E, Isselbacher KJ, Schur PH (July 1971). «The pathogenesis of arthritis associated with viral hepatitis. Complement-component studies». The New England Journal of Medicine. 285 (4): 185–9. PMID 4996611. doi:10.1056/NEJM197107222850401  Verifique data em: |data= (ajuda)
  20. a b c Liang TJ (May 2009). «Hepatitis B: the virus and disease». Hepatology (Baltimore, Md.). 49 (5 Suppl): S13–21. PMC 2809016Acessível livremente. PMID 19399811. doi:10.1002/hep.22881  Verifique data em: |data= (ajuda)
  21. Gocke DJ, Hsu K, Morgan C, Bombardieri S, Lockshin M, Christian CL (December 1970). «Association between polyarteritis and Australia antigen». Lancet. 2 (7684): 1149–53. PMID 4098431. doi:10.1016/S0140-6736(70)90339-9  Verifique data em: |data= (ajuda)
  22. Lai KN, Li PK, Lui SF, Au TC, Tam JS, Tong KL, Lai FM (May 1991). «Membranous nephropathy related to hepatitis B virus in adults». The New England Journal of Medicine. 324 (21): 1457–63. PMID 2023605. doi:10.1056/NEJM199105233242103  Verifique data em: |data= (ajuda)
  23. Takekoshi Y, Tanaka M, Shida N, Satake Y, Saheki Y, Matsumoto S (November 1978). «Strong association between membranous nephropathy and hepatitis-B surface antigenaemia in Japanese children». Lancet. 2 (8099): 1065–8. PMID 82085. doi:10.1016/S0140-6736(78)91801-9  Verifique data em: |data= (ajuda)
  24. a b Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome OMS
  25. a b c Marcelo Simão Ferreira (2000) Diagnóstico e tratamento da hepatite B. http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v33n4/2493.pdf
  26. a b c http://www.aids.gov.br/pagina/hepatite-b Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "gov" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  27. http://www.soshepatites.org.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=69
  28. http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=615709
  29. http://www.publico.pt/ciencia/noticia/cientistas-portugueses-desenvolveram-vacina-oral-contra-a-hepatite-b-1570253

Ligações externas