Saltar para o conteúdo

Nazismo no Brasil: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Foram revertidas as edições de Alonso_Labajos devido a vandalismo (usando Huggle) (3.3.3)
Etiquetas: Huggle Reversão
Formatei algumas referências.
Linha 9: Linha 9:
Em 1939, viviam no Brasil 87.024 imigrantes alemães, dos quais 33.397 em [[São Paulo (estado)|São Paulo]], 15.279 no [[Rio Grande do Sul]], 12.343 no [[Paraná]] e 11.293 em [[Santa Catarina]]. Do total de alemães, somente 2.822 eram filiados ao partido nazista, menos de 5% da comunidade alemã do país. Os nazistas estavam espalhados por 17 estados brasileiros, de norte a sul do país. O maior número de nazistas estava em São Paulo (785), seguido de Santa Catarina (528) e do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] (447). Naquela altura, também havia 900 mil brasileiros descendentes de alemães, mas estes não podiam se filiar ao partido, que era reservado aos alemães natos.<ref name="nazibrasil"/>
Em 1939, viviam no Brasil 87.024 imigrantes alemães, dos quais 33.397 em [[São Paulo (estado)|São Paulo]], 15.279 no [[Rio Grande do Sul]], 12.343 no [[Paraná]] e 11.293 em [[Santa Catarina]]. Do total de alemães, somente 2.822 eram filiados ao partido nazista, menos de 5% da comunidade alemã do país. Os nazistas estavam espalhados por 17 estados brasileiros, de norte a sul do país. O maior número de nazistas estava em São Paulo (785), seguido de Santa Catarina (528) e do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] (447). Naquela altura, também havia 900 mil brasileiros descendentes de alemães, mas estes não podiam se filiar ao partido, que era reservado aos alemães natos.<ref name="nazibrasil"/>


Não era do interesse dos nazistas participar das eleições no Brasil, e o partido nunca foi registrado na Justiça Eleitoral brasileira.<ref>[http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/brasil-teve-o-maior-partido-nazista-fora-da-alemanha-cf8zq3aco0zap6q9928osdzym Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha]</ref> Segundo o então embaixador da Alemanha no Brasil, Karl Ritter, havia orientações expressas de que o partido não deveria se intrometer em assuntos internos do Brasil.<ref name="nazibrasil"/> O partido funcionou no Brasil de 1928 a 1938, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, então liderado por [[Getúlio Vargas]].<ref name="osalemaes"/> Nesse último ano, após a implantação da ditadura do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], o partido nazista e todas as outras agremiações políticas estrangeiras foram colocadas na ilegalidade. Embora a maioria dos teuto-brasileiros não se tenha aderido ou simpatizado com a [[propaganda]] [[Adolf Hitler|hitlerista]], o Brasil tinha a maior seção do Partido Nazista fora da [[Alemanha]].<ref name="gazeta"/>
Não era do interesse dos nazistas participar das eleições no Brasil, e o partido nunca foi registrado na Justiça Eleitoral brasileira.<ref name="gazeta" /> Segundo o então embaixador da Alemanha no Brasil, Karl Ritter, havia orientações expressas de que o partido não deveria se intrometer em assuntos internos do Brasil.<ref name="nazibrasil"/> O partido funcionou no Brasil de 1928 a 1938, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, então liderado por [[Getúlio Vargas]].<ref name="osalemaes"/> Nesse último ano, após a implantação da ditadura do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], o partido nazista e todas as outras agremiações políticas estrangeiras foram colocadas na ilegalidade. Embora a maioria dos teuto-brasileiros não se tenha aderido ou simpatizado com a [[propaganda]] [[Adolf Hitler|hitlerista]], o Brasil tinha a maior seção do Partido Nazista fora da [[Alemanha]].<ref name="gazeta"/>



== Propaganda Nazista no Brasil ==
== Propaganda Nazista no Brasil ==
Em 1928, foi fundado em [[Timbó (Santa Catarina)|Timbó]], [[Santa Catarina (estado)|Santa Catarina]], a seção brasileira do Partido Nazista.<ref>http://www.terra.com.br/istoe/edicoes/2062/artigo135072-3.htm</ref> Naquela época, viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um milhão de descendentes.<ref name="uema">http://www.outrostempos.uema.br/curso/poder/42.pdf</ref> A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no [[Região Sul do Brasil|sul do Brasil]] que preservavam a língua e a cultura alemã. Com a ascensão de [[Adolf Hitler]] ao cargo de [[Chanceler da Alemanha|chanceler]], na [[Alemanha]], os teuto-brasileiros passaram a ser assediados pela [[propaganda]] feita pelo [[nazismo]] para atrair seguidores no exterior.
Em 1928, foi fundado em [[Timbó (Santa Catarina)|Timbó]], [[Santa Catarina (estado)|Santa Catarina]], a seção brasileira do Partido Nazista. Naquela época, viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um milhão de descendentes.<ref name="uema">{{Citar web|url=http://www.outrostempos.uema.br/curso/poder/42.pdf|titulo=Extrema Direita e Questão Nacional: o nazismo no Brasil dos anos 30|data=11 de outubro de 2007|acessodata=2018-04-01|publicado=Universidade Estadual do Maranhão|ultimo=|primeiro=|autor=Nara Maria Carlos de Santana|wayb=20090304095834}}</ref> A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no [[Região Sul do Brasil|sul do Brasil]] que preservavam a língua e a cultura alemã. Com a ascensão de [[Adolf Hitler]] ao cargo de [[Chanceler da Alemanha|chanceler]], na [[Alemanha]], os teuto-brasileiros passaram a ser assediados pela [[propaganda]] feita pelo [[nazismo]] para atrair seguidores no exterior.


Embora nunca tenha havido um Partido Nazista organizado, legal ou clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a ter 2.822 membros e foi a maior seção do Partido Nazista alemão no exterior.<ref name="veja1841">[http://veja.abril.com.br/141101/p_081.html CARNEIRO, Marcelo. III Reich à brasileira. VEJA, edição 1841, 18 de fevereiro de 2004] (visitado em 31 de agosto de 2008)</ref><ref name="tde">http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10072007-113709/</ref> Como era uma organização estrangeira, somente alemães natos podiam ser filiados; e os brasileiros descendentes de alemães, que por ventura quisessem, podiam atuar somente como simpatizantes.
Embora nunca tenha havido um Partido Nazista organizado, legal ou clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a ter 2.822 membros e foi a maior seção do Partido Nazista alemão no exterior.<ref name="veja1841">{{Citar periódico|ultimo=Carneiro|primeiro=Marcelo|data=14 de novembro de 2001|titulo=Heil, Hitler: Novos documentos contam a história do Partido Nazista no Brasil de Vargas|url=http://veja.abril.com.br/141101/p_081.html|jornal=VEJA.com|lingua=pt-BR|arquivourl=http://archive.is/cdynf|arquivodata=1/1/2013|acessodata=1/4/2018}}</ref><ref name="nazibrasil" /> Como era uma organização estrangeira, somente alemães natos podiam ser filiados; e os brasileiros descendentes de alemães, que por ventura quisessem, podiam atuar somente como simpatizantes.


Calcula-se que cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associados ao Partido Nazista alemão.<ref name="uema"/> A título de comparação, na Alemanha, 10% da população foi filiada ao Partido Nazista, naquela altura.<ref>{{citar livro|último =Taylor |primeiro =Frederick |data=2011 |título=Exorcising Hitler: The Occupation and Denazification of Germany |url= |local= |publicado=Bloomsbury Publishing |páginas=226|isbn=978-1408822128 |acessodata= }}</ref>
Calcula-se que cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associados ao Partido Nazista alemão.<ref name="uema"/> A título de comparação, na Alemanha, 10% da população foi filiada ao Partido Nazista, naquela altura.<ref>{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=LiKGTXOtLj8C&dq=Exorcising+Hitler:+The+Occupation+and+Denazification+of+Germany&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s|título=Exorcising Hitler: The Occupation and Denazification of Germany|último=Taylor|primeiro=Frederick|data=2011|editora=|ano=|local=|página=226|páginas=480|isbn=978-1408822128|acessodata=|publicado=Bloomsbury Publishing}}</ref>


Esses nazistas residiam em 17 estados brasileiros, a maior parte deles em [[São Paulo (estado)|São Paulo]], principalmente em [[Santo André (São Paulo)|Santo André]].<ref>http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=22844</ref> <ref name="veja1841"/> Entretanto, a esmagadora maioria dos teuto-brasileiros não se deixou seduzir pela propaganda e nunca se filiou ao nazismo.<ref>http://www.tau.ac.il/eial/VII_1/gertz.htm</ref> Em [[Minas Gerais]] havia um agrupamento fascista chamado Legião de Outubro de curta duração que visava dar um apoio inicial ao governo Vargas, sendo que muitos eram ex-membros do [[Partido Republicano Mineiro]].<ref>Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro pós 1930. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2001, citado em [http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/gustavo_capanema Gustavo Capanema]</ref>
Esses nazistas residiam em 17 estados brasileiros, a maior parte deles em [[São Paulo (estado)|São Paulo]], principalmente em [[Santo André (São Paulo)|Santo André]].<ref>{{Citar periódico|ultimo=Fonseca|primeiro=Renan|data=10/8/2010|titulo=Partido nazista teve atuação em Santo André|url=http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=22844|jornal=ABCD Maior|arquivourl=http://archive.is/eTq0M|arquivodata=2015-6-17|acessodata=1/4/2018}}</ref><ref name="veja1841"/> Entretanto, a esmagadora maioria dos teuto-brasileiros não se deixou seduzir pela propaganda e nunca se filiou ao nazismo.<ref name="tau.ac.il" /> Em [[Minas Gerais]] havia um agrupamento fascista chamado Legião de Outubro de curta duração que visava dar um apoio inicial ao governo Vargas, sendo que muitos eram ex-membros do [[Partido Republicano Mineiro]].<ref>{{Citar web|url=http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/biografias/gustavo_capanema|titulo=Gustavo Capanema|data=|acessodata=2018-4-1|obra=cpdoc.fgv.br|publicado=CPDOC|ultimo=|primeiro=|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=5SMOAQAAMAAJ&dq=Dicion%C3%A1rio+Hist%C3%B3rico+Biogr%C3%A1fico+Brasileiro+p%C3%B3s+1930.+2%C2%AA+ed.&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjk1NX24pnaAhWJh5AKHRfABNUQ6AEIKDAA|título=Dicionário histórico-biográfico brasileiro, pós-1930|ultimo=Vargas|primeiro=Fundação Getúlio|ultimo2=Vargas)|primeiro2=Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Fundação Getúlio|data=2001|editora=FGV Editora|lingua=pt|isbn=9788522503421}}</ref>


==A comunidade alemã no Brasil==
==A comunidade alemã no Brasil==
Linha 27: Linha 26:
Os imigrantes recém-chegados da Alemanha diferenciavam-se dos teuto-brasileiros. Os primeiros denominavam-se ''Reichsdeutsche'' (alemães do Reich), ao passo que os segundos eram os ''Volksdeutsche'' (alemães do povo). Apenas os alemães natos podiam filiar-se ao partido nazista. Por isso morava em São Paulo o maior número de nazistas no Brasil,<ref name="nazibrasil"/> uma vez que o estado foi o destino preferencial dessa nova onda de imigração alemã.<ref name="etnicidade"/>
Os imigrantes recém-chegados da Alemanha diferenciavam-se dos teuto-brasileiros. Os primeiros denominavam-se ''Reichsdeutsche'' (alemães do Reich), ao passo que os segundos eram os ''Volksdeutsche'' (alemães do povo). Apenas os alemães natos podiam filiar-se ao partido nazista. Por isso morava em São Paulo o maior número de nazistas no Brasil,<ref name="nazibrasil"/> uma vez que o estado foi o destino preferencial dessa nova onda de imigração alemã.<ref name="etnicidade"/>


Em meados da década de 1930, havia mais de um milhão de alemães e descendentes no Brasil, a maior parte no Rio Grande do Sul (600 mil) e em Santa Catarina (220 mil).<ref name="imagem">Mateus Dalmáz. A imagem do Terceiro Reich na Revista do globo (1933-1945). Editora Edipucrs, 2002</ref> Em 1940, alemães e descendentes perfaziam 22,34% da população de Santa Catarina e 19,3% no Rio Grande do Sul.<ref name="etnicidade"/> A comunidade alemã no país preservava sua cultura e a sua língua, compreendidos como uma manifestação do [[germanismo]], o que era possível por meio da existência de sociedades, de uma imprensa em língua alemã e, principalmente, de escolas. O censo de 1940 mostrou que 640 mil pessoas usavam o alemão como língua principal do lar no Brasil. Com base na elevada proporção de membros da comunidade germânica que usava o alemão em casa (mais de 70%), conclui-se que havia um fraco nível de assimilação cultural dessa comunidade.<ref name="entrada"/>
Em meados da década de 1930, havia mais de um milhão de alemães e descendentes no Brasil, a maior parte no Rio Grande do Sul (600 mil) e em Santa Catarina (220 mil).<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=BTuHgFTaRiEC&printsec=frontcover&dq=A+imagem+do+Terceiro+Reich+na+Revista+do+globo+(1933-1945)&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwidl8mx45naAhVFl5AKHSbSAd8Q6AEIKDAA#v=onepage&q=A%20imagem%20do%20Terceiro%20Reich%20na%20Revista%20do%20globo%20(1933-1945)&f=false|título=A imagem do Terceiro Reich na Revista do globo (1933-1945)|ultimo=Dalmáz|primeiro=Mateus|data=2002|editora=EDIPUCRS|lingua=pt|isbn=9788574302607}}</ref> Em 1940, alemães e descendentes perfaziam 22,34% da população de Santa Catarina e 19,3% no Rio Grande do Sul.<ref name="etnicidade"/> A comunidade alemã no país preservava sua cultura e a sua língua, compreendidos como uma manifestação do [[germanismo]], o que era possível por meio da existência de sociedades, de uma imprensa em língua alemã e, principalmente, de escolas. O censo de 1940 mostrou que 640 mil pessoas usavam o alemão como língua principal do lar no Brasil. Com base na elevada proporção de membros da comunidade germânica que usava o alemão em casa (mais de 70%), conclui-se que havia um fraco nível de assimilação cultural dessa comunidade.<ref name="entrada"/>


===A adesão ao nazismo===
===A adesão ao nazismo===


Segundo diferentes historiadores, apenas uma parcela dos alemães e descendentes no Brasil aderiram à ideologia nazista. Para o historiador [[René Gertz]], havia "uma considerável simpatia pelo fato de que o regime teria consertado os erros imputados ao regime da República de Weimar", mas não havia um "entusiasmo irrestrito".<ref name="tau.ac.il">{{citar web|url=http://www7.tau.ac.il/ojs/index.php/eial/article/view/1186/1214 |título=EIAL VII1 - Influencia política alemã no Brasil na década DE 1930 |publicado=Tau.ac.il |data= |acessodata=2011-09-19}}</ref> Na perspectiva de Eliane Bisan Alves, "além da adesão por parte da elite, não se pode dizer que a maioria dos alemães no Brasil tenha se identificado com o nazismo do ponto de vista ideológico". Porém, a autora enfatiza que, por meio da imprensa da época e pelas correspondências confiscadas pela DEOPS, verifica-se que "havia forte simpatia por Hitler, pelo Terceiro Reich e, sobretudo, pela "nação" alemã, que passou a desfrutar de prestígio no plano internacional".<ref name="etnicidade"> Eliane Bisan Alves. ETNICIDADE, NACIONALISMO E AUTORITARISMO: A COMUNIDADE ALEMÃ SOB VIGILÂNCIA DO DEOPS. Editora Humanitas/Fapesp, 2006</ref> Segundo Cláudia Mauch e Naira Vasconcellos, muitos dos alemães que aderiram ao nazismo no Brasil "não o fizeram por messianismo, mas por um cálculo racional de ganhos". O ingresso no partido poderia garantir benefícios materiais no Brasil ou uma repatriação à Alemanha como compensação pela dedicação à causa.<ref name="osalemaes"/> À mesma conclusão chegou o historiador René Gertz, ao afirmar que "entre os que ingressaram no partido provavelmente se encontrava um número significativo que estava numa dependência econômica direta em relação a empresas alemãs (da Alemanha) em atividade no Brasil, para os quais a adesão ao partido era quase uma obrigatoriedade".<ref name="tau.ac.il"/>
Segundo diferentes historiadores, apenas uma parcela dos alemães e descendentes no Brasil aderiram à ideologia nazista. Para o historiador [[René Gertz]], havia "uma considerável simpatia pelo fato de que o regime teria consertado os erros imputados ao regime da República de Weimar", mas não havia um "entusiasmo irrestrito".<ref name="tau.ac.il">{{citar web|url=http://www7.tau.ac.il/ojs/index.php/eial/article/view/1186/1214|título=EIAL VII1 - Influencia política alemã no Brasil na década de 1930|data=|acessodata=2011-9-19|publicado=Tau.ac.il|ultimo=Gertz|primeiro=René E.}}</ref> Na perspectiva de Eliane Bisan Alves, "além da adesão por parte da elite, não se pode dizer que a maioria dos alemães no Brasil tenha se identificado com o nazismo do ponto de vista ideológico". Porém, a autora enfatiza que, por meio da imprensa da época e pelas correspondências confiscadas pela DEOPS, verifica-se que "havia forte simpatia por Hitler, pelo Terceiro Reich e, sobretudo, pela "nação" alemã, que passou a desfrutar de prestígio no plano internacional".<ref name="etnicidade">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=6mdmOnqw4lcC&printsec=frontcover&dq=.+ETNICIDADE,+NACIONALISMO+E+AUTORITARISMO:+A+COMUNIDADE+ALEM%C3%83+SOB+VIGIL%C3%82NCIA+DO+DEOPS&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjF9dOS45naAhXFvJAKHSg6AEsQ6AEIKDAA#v=onepage&q=.%20ETNICIDAD|título=Etnicidade, nacionalismo e autoritarismo: a comunidade alemã sob vigilância do DEOPS (1930-1945)|ultimo=Alves|primeiro=Eliane Bisan|data=2006|editora=Editora Humanitas|lingua=pt|isbn=9788577320134}}</ref> Segundo Cláudia Mauch e Naira Vasconcellos, muitos dos alemães que aderiram ao nazismo no Brasil "não o fizeram por messianismo, mas por um cálculo racional de ganhos". O ingresso no partido poderia garantir benefícios materiais no Brasil ou uma repatriação à Alemanha como compensação pela dedicação à causa.<ref name="osalemaes"/> À mesma conclusão chegou o historiador René Gertz, ao afirmar que "entre os que ingressaram no partido provavelmente se encontrava um número significativo que estava numa dependência econômica direta em relação a empresas alemãs (da Alemanha) em atividade no Brasil, para os quais a adesão ao partido era quase uma obrigatoriedade".<ref name="tau.ac.il"/>


Segundo uma outra fonte, "apesar da população de Santa Catarina ter preservado por longos anos a língua e as tradições germânicas, a propaganda hitlerista nunca conseguiu muito sucesso, sendo as simpatias pelo nazismo muito menos intensas do que se poderia julgar".<ref name="nacionalizacao">. Nacionalização e imigração alemã. Editora Unisinos, 1994. Página 130</ref> Segundo [[Simon Schwartzmann]], "se foi verdade que muitos teuto-brasileiros se deixaram influenciar e empolgar pelos ensinamentos nazistas, a maior parte da população mostrava-se avessa a aceitação da tutela de um partido político estrangeiro – o partido nazista era encarado como tal".<ref>SCHWARTZMANN, Simon et alli Tempos de Capanema. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo, Edusp. 1984. p. 146</ref> Segundo Giralda Seyferth, as ideias nazistas no Brasil não prosperaram nas colônias rurais, mas apenas nos meios urbanos, como em [[Porto Alegre]], [[Curitiba]], ou [[Blumenau]]. Elas atingiram sobretudo a "classe empresarial e partes das camadas médias teuto-brasileiras". De fato, parte da comunidade teuto-brasileira se opôs ao nazismo, pois criticava sua proposta de "regermanização", preferindo priorizar uma identidade teuto-brasileira e privilegiar o Brasil como pátria.<ref name=massa>{{citar livro | título = Fazer a América: a imigração em massa para a América Latina|autor=Boris Fausto|páginas =|ano = |editora = }}</ref>
Segundo uma outra fonte, "apesar da população de Santa Catarina ter preservado por longos anos a língua e as tradições germânicas, a propaganda hitlerista nunca conseguiu muito sucesso, sendo as simpatias pelo nazismo muito menos intensas do que se poderia julgar".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Jg8sAAAAYAAJ&q=Nacionaliza%C3%A7%C3%A3o+e+imigra%C3%A7%C3%A3o+alem%C3%A3&dq=Nacionaliza%C3%A7%C3%A3o+e+imigra%C3%A7%C3%A3o+alem%C3%A3&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwju3v2C5JnaAhVEOZAKHSiaCmMQ6AEIKDAA|título=Nacionalização e imigração alemã|ultimo=|primeiro=|data=1994|editora=Editora Unisinos|ano=|local=|página=130|páginas=|lingua=pt|isbn=9788585580155|acessodata=}}</ref> Segundo [[Simon Schwartzmann]], "se foi verdade que muitos teuto-brasileiros se deixaram influenciar e empolgar pelos ensinamentos nazistas, a maior parte da população mostrava-se avessa a aceitação da tutela de um partido político estrangeiro – o partido nazista era encarado como tal".<ref>{{Citar web|url=http://www.schwartzman.org.br/simon/capanema/introduc.htm|titulo=Tempos de Capanema|data=1984|acessodata=2018-04-01|obra=www.schwartzman.org.br|publicado=Os Schwartzmans|ultimo=Schwartzman|primeiro=Simon|ultimo2=Bomeny|primeiro2=Helena M. B.|pagina=146|ultimo3=Costa|primeiro3=Vanda M. R.}}</ref> Segundo Giralda Seyferth, as ideias nazistas no Brasil não prosperaram nas colônias rurais, mas apenas nos meios urbanos, como em [[Porto Alegre]], [[Curitiba]], ou [[Blumenau]]. Elas atingiram sobretudo a "classe empresarial e partes das camadas médias teuto-brasileiras". De fato, parte da comunidade teuto-brasileira se opôs ao nazismo, pois criticava sua proposta de "regermanização", preferindo priorizar uma identidade teuto-brasileira e privilegiar o Brasil como pátria.<ref name="massa">{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=sFEuUUyJrSEC|título=Fazer a América: a imigração em massa para a América Latina|autor=Boris Fausto|primeiro=|editora=|ano=|local=|páginas=–|acessodata=}}</ref>


De acordo com Stefan Rinke, ao contrário do que projetavam os entusiastas nacionalistas da Alemanha, os "alemães" do Brasil não formavam um "sindicato de teutônicos orgulhosos nos trópicos". Formavam um grupo heterogêneo, com rivalidades entre [[protestante]]s e [[católico]]s, entre [[conservador]]es e [[Liberalismo|liberais]] e entre diferentes grupos regionais.<ref name="rinke">Stefan Rinke [http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-59702014000100299&script=sci_arttext Alemanha e Brasil, 1870-1945: uma relação entre espaços]</ref>
De acordo com Stefan Rinke, ao contrário do que projetavam os entusiastas nacionalistas da Alemanha, os "alemães" do Brasil não formavam um "sindicato de teutônicos orgulhosos nos trópicos". Formavam um grupo heterogêneo, com rivalidades entre [[protestante]]s e [[católico]]s, entre [[conservador]]es e [[Liberalismo|liberais]] e entre diferentes grupos regionais.<ref name="rinke">{{Citar periódico|ultimo=Rinke|primeiro=Stefan|data=Março de 2014|titulo=Germany and Brazil, 1870-1945: a relationship between spaces|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0104-59702014000100299&lng=en&nrm=iso&tlng=pt|jornal=História, Ciências, Saúde-Manguinhos|volume=21|numero=1|paginas=299–316|doi=10.1590/S0104-59702014005000007|issn=0104-5970|acessodata=}}</ref>


De fato, houve atividade partidária nazista no Brasil e um "certo alvoroço germanista" dentro da comunidade alemã.<ref name="etnicidade"/> Embora os filiados ao partido nazista não chegassem nem a 5% dos alemães natos vivendo no Brasil, é salientável que o partido tinha boa representatividade na comunidade alemã do país. Eles faziam-se presentes em clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Não se pode, contudo, acreditar que todos os alemães no Brasil eram pró-nazismo, mas apenas que os nazistas se encontravam infiltrados em importantes segmentos dessa comunidade.<ref name="nazibrasil"/>
De fato, houve atividade partidária nazista no Brasil e um "certo alvoroço germanista" dentro da comunidade alemã.<ref name="etnicidade"/> Embora os filiados ao partido nazista não chegassem nem a 5% dos alemães natos vivendo no Brasil, é salientável que o partido tinha boa representatividade na comunidade alemã do país. Eles faziam-se presentes em clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Não se pode, contudo, acreditar que todos os alemães no Brasil eram pró-nazismo, mas apenas que os nazistas se encontravam infiltrados em importantes segmentos dessa comunidade.<ref name="nazibrasil"/>


As escolas alemãs no Brasil apareciam como um alvo para a propagação da ideologia nazista. O sistema educacional público brasileiro era incipiente, portanto o governo não poderia se opôr à construção de escolas comunitárias da comunidade alemã. Desde o século XIX, a comunidade alemã promovia a construção de escolas comunitárias, onde o aprendizado era feito em alemão. Quando o nazismo ascendeu ao poder na Alemanha, havia no Brasil 1.260 escolas alemãs, com mais de 50 mil alunos. O governo alemão destinava grande quantia de dinheiro para subsidiar essas escolas. Em 1937, o Terceiro Reich previu um orçamento de 4 milhões de marcos para escolas alemãs na América Latina. A partir de 1933, era possível encontrar, em algumas dessas escolas, o estandarte nazista, bem como uma grande fotografia de Hitler.<ref name="entrada"/> Em algumas dessas escolas, professores vinham diretamente do Terceiro Reich para doutrinar as crianças alemãs do Brasil.<ref>[http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/juventude_hitlerista_a_brasileira.html Juventude hitlerista à brasileira]</ref>
As escolas alemãs no Brasil apareciam como um alvo para a propagação da ideologia nazista. O sistema educacional público brasileiro era incipiente, portanto o governo não poderia se opôr à construção de escolas comunitárias da comunidade alemã. Desde o século XIX, a comunidade alemã promovia a construção de escolas comunitárias, onde o aprendizado era feito em alemão. Quando o nazismo ascendeu ao poder na Alemanha, havia no Brasil 1.260 escolas alemãs, com mais de 50 mil alunos. O governo alemão destinava grande quantia de dinheiro para subsidiar essas escolas. Em 1937, o Terceiro Reich previu um orçamento de 4 milhões de marcos para escolas alemãs na América Latina. A partir de 1933, era possível encontrar, em algumas dessas escolas, o estandarte nazista, bem como uma grande fotografia de Hitler.<ref name="entrada"/> Em algumas dessas escolas, professores vinham diretamente do Terceiro Reich para doutrinar as crianças alemãs do Brasil.<ref>{{Citar web|url=http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/juventude_hitlerista_a_brasileira.html|titulo=Juventude hitlerista à brasileira|data=Janeiro de 2007|acessodata=2018-4-1|obra=História Viva|publicado=UOL|ultimo=Dietrich|primeiro=Ana Maria|lingua=pt-BR|wayb=20071206131012}}</ref>


<div style="font-size: 90%">
<div style="font-size: 90%">
Linha 71: Linha 70:
</div>
</div>


Percebe-se da tabela acima que o maior grupo de nazistas estava no estado de [[São Paulo (estado)|São Paulo]], que recebeu a maior parte dos imigrantes alemães chegados nas décadas de 1920 e 1930. Por essa razão, São Paulo foi escolhida como sede do partido, em 1934.<ref name="caça"/> Verifica-se também que o [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] tinha mais nazistas do que o [[Rio Grande do Sul]], embora a comunidade nascida na Alemanha fosse maior nesse último estado. Segundo Taís Campelo Lucas, "o fracasso no Rio Grande do Sul foi latente. Apesar da visibilidade ganha através de manifestações públicas e da propaganda, a adesão ao nazismo no estado foi baixíssima".<ref>[http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300659403_ARQUIVO_nazismo_anpuh.pdf Nazismo d’além mar: conflitos e esquecimento]</ref>
Percebe-se da tabela acima que o maior grupo de nazistas estava no estado de [[São Paulo (estado)|São Paulo]], que recebeu a maior parte dos imigrantes alemães chegados nas décadas de 1920 e 1930. Por essa razão, São Paulo foi escolhida como sede do partido, em 1934.<ref name="caça"/> Verifica-se também que o [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] tinha mais nazistas do que o [[Rio Grande do Sul]], embora a comunidade nascida na Alemanha fosse maior nesse último estado. Segundo Taís Campelo Lucas, "o fracasso no Rio Grande do Sul foi latente. Apesar da visibilidade ganha através de manifestações públicas e da propaganda, a adesão ao nazismo no estado foi baixíssima".<ref>{{citar web|url=http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300659403_ARQUIVO_nazismo_anpuh.pdf|titulo=Nazismo d’além mar: conflitos e esquecimento|data=julho de 2011|acessodata=1/4/2018|obra=Anais do XXVI Simpósio Nacional de História|publicado=ANPUH|ultimo=Lucas|primeiro=Taís Campelo}}</ref>


O Brasil figurava como o país com o maior número de membros do Partido Nazista fora da Alemanha, com cerca de três mil filiados. Esse número era pequeno, quando se compara, por exemplo, aos dezenas de milhares de integrantes da [[Internacional Comunista]] que moravam no Brasil, naquela época.<ref name="barone"> João Barone. 1942: o Brasil e a Sua Guerra Quase Desconhecida. Editora HARPER COLLINS BR, 2013</ref>
O Brasil figurava como o país com o maior número de membros do Partido Nazista fora da Alemanha, com cerca de três mil filiados. Esse número era pequeno, quando se compara, por exemplo, aos dezenas de milhares de integrantes da [[Comintern|Internacional Comunista]] que moravam no Brasil, naquela época.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=N9atN_i4IS4C&printsec=frontcover&dq=1942:+o+Brasil+e+a+Sua+Guerra+Quase+Desconhecida&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwj-9bbl6JnaAhWDgJAKHbxWCLMQ6AEIKDAA#v=onepage&q=1942:%20o%20Brasil%20e%20a%20Sua%20Guerra%20Quase%20Desconhecida&f=false|título=1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida|ultimo=Barone|primeiro=João|data=2013-05-21|editora=Nova Fronteira|lingua=pt-BR|isbn=8520935206}}</ref>


===Ideologia===
===Ideologia===
Linha 79: Linha 78:
Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, o próprio [[Adolf Hitler]] determinou que o partido nazista no exterior não deveria se intrometer na política local, embora essa determinação muitas vezes não fosse seguida à risca. De qualquer maneira, o público-alvo dos nazistas eram somente os alemães natos, e não os brasileiros descendentes de alemães.{{nota de rodapé|"(...) apesar de que essas ideias difundidas através da propaganda nazista somente eram dirigidas aos eleitos da desejada "raça pura", isto é, os alemães natos". Página 350.<ref name="caça"> Ana Maria Dietrich. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da polícia política. Editora FAPESP, IMESP, HUMANITAS, 2007</ref>}} Isso explica porque 92,8% dos filiados ao nazismo no Brasil eram alemães de nascimento. De fato, havia uma hierarquia clara que dividia os alemães natos dos brasileiros descendentes de alemães: apenas os primeiros podiam filiar-se ao partido. Por essa razão, alguns autores defendem que muitos brasileiros de origem alemã que queriam se engajar politicamente buscaram refúgio na [[Ação Integralista Brasileira]], devido à sua alegada identidade próxima ao nazismo ou ao fascismo.<ref name="osalemaes"/> Isso não era bem visto pelo governo de Berlim, uma vez que os integralistas eram brasileiros nacionalistas, o que ameaçava o germanismo.<ref name="nazibrasil"/> Outros autores defendem, contudo, que foi justamente o espaço para o pluralismo que permitiu ao Integralismo conseguir angarir adesão entre os teuto-brasileiros.<ref name="osalemaes"/>
Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, o próprio [[Adolf Hitler]] determinou que o partido nazista no exterior não deveria se intrometer na política local, embora essa determinação muitas vezes não fosse seguida à risca. De qualquer maneira, o público-alvo dos nazistas eram somente os alemães natos, e não os brasileiros descendentes de alemães.{{nota de rodapé|"(...) apesar de que essas ideias difundidas através da propaganda nazista somente eram dirigidas aos eleitos da desejada "raça pura", isto é, os alemães natos". Página 350.<ref name="caça"> Ana Maria Dietrich. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da polícia política. Editora FAPESP, IMESP, HUMANITAS, 2007</ref>}} Isso explica porque 92,8% dos filiados ao nazismo no Brasil eram alemães de nascimento. De fato, havia uma hierarquia clara que dividia os alemães natos dos brasileiros descendentes de alemães: apenas os primeiros podiam filiar-se ao partido. Por essa razão, alguns autores defendem que muitos brasileiros de origem alemã que queriam se engajar politicamente buscaram refúgio na [[Ação Integralista Brasileira]], devido à sua alegada identidade próxima ao nazismo ou ao fascismo.<ref name="osalemaes"/> Isso não era bem visto pelo governo de Berlim, uma vez que os integralistas eram brasileiros nacionalistas, o que ameaçava o germanismo.<ref name="nazibrasil"/> Outros autores defendem, contudo, que foi justamente o espaço para o pluralismo que permitiu ao Integralismo conseguir angarir adesão entre os teuto-brasileiros.<ref name="osalemaes"/>


Segundo Giralda Seyferth, "embora se considerassem legítimos representantes de uma nação alemã etnicamente concebida, os teuto-brasileiros foram vistos pelos nazistas como excessivamente brasileiros".<ref>[http://www.igtf.rs.gov.br/wp-content/uploads/2012/10/IDENTIDADE-%C3%89TNICA.pdf IDENTIDADE ÉTNICA, ASSIMILAÇÃO E CIDADANIA A imigração alemã e o Estado brasileiro]</ref> Para Ana Maria Dietrich, os teuto-brasileiros eram vistos pelos nazistas como "inferiores aos alemães natos". Inferiores, porém ainda interessantes, pois os descendentes de alemães no Brasil somavam 900 mil pessoas.<ref name="nazibrasil"/>
Segundo Giralda Seyferth, "embora se considerassem legítimos representantes de uma nação alemã etnicamente concebida, os teuto-brasileiros foram vistos pelos nazistas como excessivamente brasileiros".<ref>{{Citar web|url=http://www.igtf.rs.gov.br/wp-content/uploads/2012/10/IDENTIDADE-%C3%89TNICA.pdf|titulo=Identidade Étnica, Assimilação e Cidadania: A imigração alemã e o Estado brasileiro|data=|acessodata=2018-04-01|publicado=IGTF|ultimo=Seyferth|primeiro=Giralda|wayb=20160828182904}}</ref> Para Ana Maria Dietrich, os teuto-brasileiros eram vistos pelos nazistas como "inferiores aos alemães natos". Inferiores, porém ainda interessantes, pois os descendentes de alemães no Brasil somavam 900 mil pessoas.<ref name="nazibrasil"/>


Como a comunidade [[Judaísmo no Brasil|judaica no Brasil]] era relativamente pequena, o contato entre alemães e judeus era raro. Já com os negros, mestiços, brasileiros e outros povos, o contato era constante. Por isso, os alvos principais dos nazistas eram os [[negros]] e [[mestiços]], que compunham 45% da população brasileira. Não há registro de confrontos abertos entre as etnias, porém escritos mostram que os nazistas olhavam com desprezo parcela da população brasileira.{{nota de rodapé|"Registram-se diversas queixas dos partidários pelo fato de o Brasil tropical ser habitado por negros e mestiços, e eles eram sempre tratados com desprezo, sendo até denominados como "macacos". Página 55.<ref name="nazibrasil"/>}} A diversidade racial brasileira ia de encontro às ideias de raça pura difundidas pelo III Reich. Os nazistas residentes no Brasil consideravam os brasileiros um povo inferior devido ao seu caráter mestiço. Por outro lado, os brasileiros também olhavam os alemães como o outro, o "alienígena",{{nota de rodapé|"A categoria "alienígena" - preponderante no jargão oficial - englobava imigrantes e descendentes de imigrantes classificados como "não-assimilados", portadores de culturas incompatíveis com os princípios da brasilidade".<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131997000100004 A assimilação dos imigrantes como questão nacional]</ref>}} portador de concepções exóticas, como o nazismo, e o seu sentimento de superioridade era motivo de escárnio da população brasileira.<ref name="nazibrasil"/> Deve-se salientar que o [[racismo no Brasil]] não era algo exclusivo dos alemães ou nazistas residentes no país, uma vez que ideias racistas existem na sociedade brasileira desde os tempos coloniais.<ref name=libertos>{{citar livro|título=Escravos e Libertos no Brasil Colonial|autor =A.J.R RUSSEL-WOOD|páginas=-&ndash;-|ano=2005|publicado=Civilização Brasileira}}</ref>
Como a comunidade [[Judaísmo no Brasil|judaica no Brasil]] era relativamente pequena, o contato entre alemães e judeus era raro. Já com os negros, mestiços, brasileiros e outros povos, o contato era constante. Por isso, os alvos principais dos nazistas eram os [[negros]] e [[mestiços]], que compunham 45% da população brasileira. Não há registro de confrontos abertos entre as etnias, porém escritos mostram que os nazistas olhavam com desprezo parcela da população brasileira.{{nota de rodapé|"Registram-se diversas queixas dos partidários pelo fato de o Brasil tropical ser habitado por negros e mestiços, e eles eram sempre tratados com desprezo, sendo até denominados como "macacos". Página 55.<ref name="nazibrasil"/>}} A diversidade racial brasileira ia de encontro às ideias de raça pura difundidas pelo III Reich. Os nazistas residentes no Brasil consideravam os brasileiros um povo inferior devido ao seu caráter mestiço. Por outro lado, os brasileiros também olhavam os alemães como o outro, o "alienígena",{{nota de rodapé|"A categoria "alienígena" - preponderante no jargão oficial - englobava imigrantes e descendentes de imigrantes classificados como "não-assimilados", portadores de culturas incompatíveis com os princípios da brasilidade".<ref>[http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131997000100004 A assimilação dos imigrantes como questão nacional]</ref>}} portador de concepções exóticas, como o nazismo, e o seu sentimento de superioridade era motivo de escárnio da população brasileira.<ref name="nazibrasil"/> Deve-se salientar que o [[racismo no Brasil]] não era algo exclusivo dos alemães ou nazistas residentes no país, uma vez que ideias racistas existem na sociedade brasileira desde os tempos coloniais.<ref name="libertos">{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=6Lqsy9vCgjEC&printsec=frontcover&dq=Escravos+e+Libertos+no+Brasil+Colonial&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwj0tPmt6pnaAhWGhZAKHRAsBz0Q6AEIKDAA#v=onepage&q=Escravos%20e%20Libertos%20no%20Brasil%20Colonial&f=false|título=Escravos e Libertos no Brasil Colonial|autor=A.J.R RUSSEL-WOOD|primeiro=|editora=|ano=2005|local=|páginas=-&ndash;-|acessodata=|publicado=Civilização Brasileira}}</ref>


==O partido sob o governo Vargas==
==O partido sob o governo Vargas==


O partido nazista funcionou no Brasil durante dez anos, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, de 1928 a 1938.{{nota de rodapé|(...)ingressando no partido nazista, cuja atividade no Brasil até 1938 não era proibida nem reprimida (..) Página 34.<ref name="osalemaes"> Os Alemães no Sul do Brasil, Editora Ulbra, 2004 (2004)</ref>}} O governo de Getúlio Vargas manteve, durante toda a década de 1930, relações de amizade e de cordialidade com o [[III Reich]].{{nota de rodapé|"E quando pôde, manteve relações cordiais com a Alemanha nazista, polarizando forças e jogando duplamente com os EUA (...)"<ref name="antissemitismo"> Maria Luiza Tucci Carneiro. O antissemitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração, 1930-1945. Editora Perspectiva, 2001</ref>}}<ref name="nazibrasil">{{citar web|título=Nazismo tropical? O partido Nazista no Brasil|data=2007|url=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10072007-113709/pt-br.php |acessodata=2016-16-03}}</ref> A ascensão do nazismo na Alemanha não gerou preocupação no governo brasileiro.{{nota de rodapé|"O Novo Mundo, distante da efervescência europeia, não avalia o quanto poderá ser atingindo pelas iniciativas de Hitler. O próprio Brasil, que preenche todos os requisitos para temer o futuro, demonstra despreocupação. Seus agentes diplomáticos tratam em prioridade uma agenda bilateral positiva: o incremento comercial e a luta anticomunista". Página 49.<ref name="entrada"/>}} Naquela altura, o governo varguista estava mais preocupado com outros assuntos, como na contenção do [[comunismo]], o chamado "perigo vermelho". Além das intensas trocas comerciais, o Brasil de Vargas e a Alemanha de Hitler mantiveram, veladamente, acordos políticos com foco na caça a comunistas e na troca de informações entre as polícias secretas de ambos os países, incluindo-se a expulsão de alguns judeus comunistas, como ocorreu com [[Olga Benário]].{{nota de rodapé|"O primeiro embaixador brasileiro em Berlim é José Joaquim de Lima e Silva Moniz de Aragão. A ele caberá a direção de colaboração anticomunista entre os dois países, inclusive com a aproximação entre a Gestapo e a polícia política brasileira (Departamento Especial De Segurança Política e Social - DOPS)" (...) "O primeiro sucesso da cooperação anticomunista é a expulsão de Erna Krüger, aliás, Olga Benário" (...) Página 46<ref name="entrada"> Seitenfus, R. A. S. (2000). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS.</ref>}}
O partido nazista funcionou no Brasil durante dez anos, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, de 1928 a 1938.{{nota de rodapé|(...)ingressando no partido nazista, cuja atividade no Brasil até 1938 não era proibida nem reprimida (..) Página 34.<ref name="osalemaes"> Os Alemães no Sul do Brasil, Editora Ulbra, 2004 (2004)</ref>}} O governo de Getúlio Vargas manteve, durante toda a década de 1930, relações de amizade e de cordialidade com o [[III Reich]].{{nota de rodapé|"E quando pôde, manteve relações cordiais com a Alemanha nazista, polarizando forças e jogando duplamente com os EUA (...)"<ref name="antissemitismo"> Maria Luiza Tucci Carneiro. O antissemitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração, 1930-1945. Editora Perspectiva, 2001</ref>}}<ref name="nazibrasil">{{citar web|url=http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-10072007-113709/pt-br.php|título=Nazismo tropical? O partido Nazista no Brasil|data=2007-8-3|acessodata=2016-16-3|publicado=USP|ultimo=|primeiro=}}</ref> A ascensão do nazismo na Alemanha não gerou preocupação no governo brasileiro.{{nota de rodapé|"O Novo Mundo, distante da efervescência europeia, não avalia o quanto poderá ser atingindo pelas iniciativas de Hitler. O próprio Brasil, que preenche todos os requisitos para temer o futuro, demonstra despreocupação. Seus agentes diplomáticos tratam em prioridade uma agenda bilateral positiva: o incremento comercial e a luta anticomunista". Página 49.<ref name="entrada"/>}} Naquela altura, o governo varguista estava mais preocupado com outros assuntos, como na contenção do [[comunismo]], o chamado "perigo vermelho". Além das intensas trocas comerciais, o Brasil de Vargas e a Alemanha de Hitler mantiveram, veladamente, acordos políticos com foco na caça a comunistas e na troca de informações entre as polícias secretas de ambos os países, incluindo-se a expulsão de alguns judeus comunistas, como ocorreu com [[Olga Benário]].{{nota de rodapé|"O primeiro embaixador brasileiro em Berlim é José Joaquim de Lima e Silva Moniz de Aragão. A ele caberá a direção de colaboração anticomunista entre os dois países, inclusive com a aproximação entre a Gestapo e a polícia política brasileira (Departamento Especial De Segurança Política e Social - DOPS)" (...) "O primeiro sucesso da cooperação anticomunista é a expulsão de Erna Krüger, aliás, Olga Benário" (...) Página 46<ref name="entrada"> Seitenfus, R. A. S. (2000). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS.</ref>}}


Em documento de 1936, um representante do III Reich referiu-se às relações Brasil-Alemanha como satisfatórias, apesar da "ameaça judaico-comunista".<ref name="nazibrasil"/> Membros do governo brasileiro tinham relações cordiais com o partido nazista no país. Em 1937, o governador do [[Rio Grande do Sul]], [[José Antônio Flores da Cunha|Flores da Cunha]], compareceu a uma festividade nazista em [[Porto Alegre]], e disse que os alemães eram "um componente racial do muito valoroso povo brasileiro".<ref name="nazibrasil"/> {{nota de rodapé|"(...) nesse sentido, volto a chamar a atenção
Em documento de 1936, um representante do III Reich referiu-se às relações Brasil-Alemanha como satisfatórias, apesar da "ameaça judaico-comunista".<ref name="nazibrasil"/> Membros do governo brasileiro tinham relações cordiais com o partido nazista no país. Em 1937, o governador do [[Rio Grande do Sul]], [[José Antônio Flores da Cunha|Flores da Cunha]], compareceu a uma festividade nazista em [[Porto Alegre]], e disse que os alemães eram "um componente racial do muito valoroso povo brasileiro".<ref name="nazibrasil"/>{{nota de rodapé|"(...) nesse sentido, volto a chamar a atenção
para o fato de que a famigerada festa nazista de 1º de maio de 1937, no campo do Renner, em Porto Alegre (cujas fotos estão amplamente difundidas), contou com a presença de representantes do governador Flores da Cunha, do presidente da Assembleia Legislativa, do comandante da 3ª Região Militar, do comandante da Brigada Militar". Página 7.<ref>[Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e “neonazismo” no Brasil www.renegertz.com/arquivos/baixar/index.php?arquivo=Opiniao.pdf]</ref>}} O filho do presidente Getúlio Vargas, [[Lutero Vargas]], casou-se com uma alemã, o que foi motivo de trocas de correspondências entre os dois países e tornou-se símbolo das "cordiais relações" entre os dois povos. Em novembro de 1937, por ocasião da troca de embaixadores alemães no Brasil, Getúlio Vargas e Adolf Hitler trocaram correspondência, na qual Vargas chamava Hitler de "grande e bom amigo". Na carta, Vargas escreveu que desejava "sempre manter, e estreitar, cada vez mais, as relações de boa amizade, felizmente existentes entre os dois países". Essa declaração ocorreu poucos meses antes da proibição do partido nazista no Brasil, o que demonstra que as boas relações entre os dois regimes só foram rompidas de última hora.{{nota de rodapé|A íntegra da carta de Vargas a Hitler, de 1937: "A sua Excelência e Senhor Adolf Hitler,
para o fato de que a famigerada festa nazista de 1º de maio de 1937, no campo do Renner, em Porto Alegre (cujas fotos estão amplamente difundidas), contou com a presença de representantes do governador Flores da Cunha, do presidente da Assembleia Legislativa, do comandante da 3ª Região Militar, do comandante da Brigada Militar". Página 7.<ref>[Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e “neonazismo” no Brasil www.renegertz.com/arquivos/baixar/index.php?arquivo=Opiniao.pdf]</ref>}} O filho do presidente Getúlio Vargas, [[Lutero Vargas]], casou-se com uma alemã, o que foi motivo de trocas de correspondências entre os dois países e tornou-se símbolo das "cordiais relações" entre os dois povos. Em novembro de 1937, por ocasião da troca de embaixadores alemães no Brasil, Getúlio Vargas e Adolf Hitler trocaram correspondência, na qual Vargas chamava Hitler de "grande e bom amigo". Na carta, Vargas escreveu que desejava "sempre manter, e estreitar, cada vez mais, as relações de boa amizade, felizmente existentes entre os dois países". Essa declaração ocorreu poucos meses antes da proibição do partido nazista no Brasil, o que demonstra que as boas relações entre os dois regimes só foram rompidas de última hora.{{nota de rodapé|A íntegra da carta de Vargas a Hitler, de 1937: "A sua Excelência e Senhor Adolf Hitler,


Linha 124: Linha 123:
Da Costa atribui a seguinte frase a [[Adolf Hitler]]: "Criaremos no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos"<ref>"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, ''Crônica de uma Guerra Secreta'', p. 252, Editora Record, 2004</ref><ref>>"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, ''Crônica de uma Guerra Secreta'', p. 252, Editora Record, 2004</ref>.
Da Costa atribui a seguinte frase a [[Adolf Hitler]]: "Criaremos no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos"<ref>"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, ''Crônica de uma Guerra Secreta'', p. 252, Editora Record, 2004</ref><ref>>"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, ''Crônica de uma Guerra Secreta'', p. 252, Editora Record, 2004</ref>.


Alguns historiadores, contudo, refutam a ideia de que os nazistas tivessem planos concretos de se instalar no Brasil. Segundo eles, isso não passa de uma falácia, pois tais intenções jamais foram documentadas.<ref name="gazeta"/> Algumas fontes citam uma suposta expedição patrocinada por nazistas na [[Floresta Amazônica]]. Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, expedições de reconhecimento do território eram comuns na época. Porém, o fato de um expedicionário alemão ter morrido durante o caminho e ter sido enterrado com uma cruz contendo uma suástica no [[Amapá]], passou a ser explorada como atração turística. Para o historiador Rafael Athaides, os boatos de que os nazistas agiam sorrateiramente para conquistar o Sul do Brasil não passam de invenções criadas durante a Segunda Guerra Mundial. O mito do "perigo alemão" servia como subterfúgio para o Estado Novo (1937–1945) implementar livremente sua política da [[Campanha de nacionalização|nacionalização dos imigrantes]]. Ademais, visando interesses econômicos, Getúlio Vargas se aproximara dos Estados Unidos e para isso foi necessário um rompimento com a Alemanha nazista,<ref name="gazeta">[http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/brasil-teve-o-maior-partido-nazista-fora-da-alemanha-cf8zq3aco0zap6q9928osdzym Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha]</ref>que até então era a maior parceira comercial do Brasil.<ref>http://ultimosegundo.ig.com.br/revolucao1930/alemanha+de+hitler+foi+principal+parceira+do+brasil+de+getulio/n1237772842065.html</ref> O próprio Vargas era admirador de [[Adolf Hitler]]<ref>http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR65909-5856,00.html</ref> e sua ditadura foi de clara inspiração [[fascista]].<ref>http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/estado-novo-1937-1945-a-ditadura-de-getulio-vargas.htm</ref>
Alguns historiadores, contudo, refutam a ideia de que os nazistas tivessem planos concretos de se instalar no Brasil. Segundo eles, isso não passa de uma falácia, pois tais intenções jamais foram documentadas.<ref name="gazeta"/> Algumas fontes citam uma suposta expedição patrocinada por nazistas na [[Floresta Amazônica]]. Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, expedições de reconhecimento do território eram comuns na época. Porém, o fato de um expedicionário alemão ter morrido durante o caminho e ter sido enterrado com uma cruz contendo uma suástica no [[Amapá]], passou a ser explorada como atração turística. Para o historiador Rafael Athaides, os boatos de que os nazistas agiam sorrateiramente para conquistar o Sul do Brasil não passam de invenções criadas durante a Segunda Guerra Mundial. O mito do "perigo alemão" servia como subterfúgio para o Estado Novo (1937–1945) implementar livremente sua política da [[Campanha de nacionalização|nacionalização dos imigrantes]]. Ademais, visando interesses econômicos, Getúlio Vargas se aproximara dos Estados Unidos e para isso foi necessário um rompimento com a Alemanha nazista,<ref name="gazeta">{{Citar periódico|ultimo=Milan|primeiro=Pollianna|data=23/9/2011|titulo=Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha|url=http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/brasil-teve-o-maior-partido-nazista-fora-da-alemanha-cf8zq3aco0zap6q9928osdzym|jornal=Gazeta do Povo|lingua=pt-BR|acessodata=1/4/2018}}</ref>que até então era a maior parceira comercial do Brasil.<ref>http://ultimosegundo.ig.com.br/revolucao1930/alemanha+de+hitler+foi+principal+parceira+do+brasil+de+getulio/n1237772842065.html</ref> O próprio Vargas era admirador de [[Adolf Hitler]]<ref>http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR65909-5856,00.html</ref> e sua ditadura foi de clara inspiração [[fascista]].<ref>http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/estado-novo-1937-1945-a-ditadura-de-getulio-vargas.htm</ref>


De fato, o Partido Nazista nunca representou uma ameaça séria ao Brasil. Seus membros não tinham interesse em participar das eleições nem de registrar o partido na Justiça Eleitoral do Brasil. Em decorrência, o presidente Getúlio Vargas e os governadores locais nem se importaram com a sua fundação, pelo contrário, eram inclusive simpatizantes e até participavam de festividades nazistas.<ref name="gazeta"/>
De fato, o Partido Nazista nunca representou uma ameaça séria ao Brasil. Seus membros não tinham interesse em participar das eleições nem de registrar o partido na Justiça Eleitoral do Brasil. Em decorrência, o presidente Getúlio Vargas e os governadores locais nem se importaram com a sua fundação, pelo contrário, eram inclusive simpatizantes e até participavam de festividades nazistas.<ref name="gazeta"/>

Revisão das 19h42min de 1 de abril de 2018

Crianças fazem a saudação nazista em Presidente Bernardes, São Paulo (c. 1935)

O nazismo no Brasil teve início ainda antes da Segunda Guerra Mundial, quando o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães fez propaganda política no país para atrair militantes entre os membros da comunidade alemã. Nas décadas de 1920 e de 1930, dezenas de milhares de alemães imigraram para o Brasil, devido aos problemas socioeconômicos enfrentados pela Alemanha da República de Weimar e do pós-Primeira Guerra Mundial. Foi dessa nova onda de imigração alemã que se originou a maioria dos nazistas no Brasil, uma vez que esses novos imigrantes mantinham laços mais fortes com a Alemanha do que os imigrantes que chegaram ao Brasil no século XIX.[1]

Não se pode afirmar que a maioria da comunidade alemã no Brasil tenha aderido à ideologia nazista, porém importantes segmentos dessa comunidade foram infiltrados por nazistas.[1] Os nazistas no Brasil estavam concentrados sobretudo entre a camada empresarial e urbana da comunidade alemã, e não nas colônias germânicas rurais.[2] Nem todos os filiados ao partido nazista no Brasil engajaram-se por uma questão ideológica, pois muitos o fizeram em busca de benefícios econômicos que essa filiação poderia proporcionar.[3][4]

Em 1939, viviam no Brasil 87.024 imigrantes alemães, dos quais 33.397 em São Paulo, 15.279 no Rio Grande do Sul, 12.343 no Paraná e 11.293 em Santa Catarina. Do total de alemães, somente 2.822 eram filiados ao partido nazista, menos de 5% da comunidade alemã do país. Os nazistas estavam espalhados por 17 estados brasileiros, de norte a sul do país. O maior número de nazistas estava em São Paulo (785), seguido de Santa Catarina (528) e do Rio de Janeiro (447). Naquela altura, também havia 900 mil brasileiros descendentes de alemães, mas estes não podiam se filiar ao partido, que era reservado aos alemães natos.[1]

Não era do interesse dos nazistas participar das eleições no Brasil, e o partido nunca foi registrado na Justiça Eleitoral brasileira.[5] Segundo o então embaixador da Alemanha no Brasil, Karl Ritter, havia orientações expressas de que o partido não deveria se intrometer em assuntos internos do Brasil.[1] O partido funcionou no Brasil de 1928 a 1938, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, então liderado por Getúlio Vargas.[4] Nesse último ano, após a implantação da ditadura do Estado Novo, o partido nazista e todas as outras agremiações políticas estrangeiras foram colocadas na ilegalidade. Embora a maioria dos teuto-brasileiros não se tenha aderido ou simpatizado com a propaganda hitlerista, o Brasil tinha a maior seção do Partido Nazista fora da Alemanha.[5]

Propaganda Nazista no Brasil

Em 1928, foi fundado em Timbó, Santa Catarina, a seção brasileira do Partido Nazista. Naquela época, viviam no Brasil cerca de 100 mil alemães natos e cerca de um milhão de descendentes.[6] A maior parte deles vivia em comunidades isoladas no sul do Brasil que preservavam a língua e a cultura alemã. Com a ascensão de Adolf Hitler ao cargo de chanceler, na Alemanha, os teuto-brasileiros passaram a ser assediados pela propaganda feita pelo nazismo para atrair seguidores no exterior.

Embora nunca tenha havido um Partido Nazista organizado, legal ou clandestinamente no país, vários membros da comunidade teuto-brasileira foram membros da seção brasileira do Partido Nazista da Alemanha. Esta seção chegou a ter 2.822 membros e foi a maior seção do Partido Nazista alemão no exterior.[7][1] Como era uma organização estrangeira, somente alemães natos podiam ser filiados; e os brasileiros descendentes de alemães, que por ventura quisessem, podiam atuar somente como simpatizantes.

Calcula-se que cerca de 5% dos imigrantes alemães então residentes no Brasil estiveram, em alguma época, associados ao Partido Nazista alemão.[6] A título de comparação, na Alemanha, 10% da população foi filiada ao Partido Nazista, naquela altura.[8]

Esses nazistas residiam em 17 estados brasileiros, a maior parte deles em São Paulo, principalmente em Santo André.[9][7] Entretanto, a esmagadora maioria dos teuto-brasileiros não se deixou seduzir pela propaganda e nunca se filiou ao nazismo.[3] Em Minas Gerais havia um agrupamento fascista chamado Legião de Outubro de curta duração que visava dar um apoio inicial ao governo Vargas, sendo que muitos eram ex-membros do Partido Republicano Mineiro.[10][11]

A comunidade alemã no Brasil

Até 1930, houve dois fluxos de imigração alemã no Brasil. O primeiro fluxo ocorreu no século XIX, o que deu origem a diversas colônias espalhadas pelo Brasil, mas concentradas na região Sul. Na época da ascensão do nazismo na Alemanha, essa comunidade já estava na segunda e na terceira geração no Brasil. Essa comunidade manteve diversos hábitos culturais alemães, contudo a distância geográfica e o passar do tempo trouxeram mudanças culturais perceptíveis. Por sua vez, o segundo fluxo deu-se nas primeiras décadas do século XX. Durante a República de Weimar e devido às consequências da I Guerra Mundial, a Alemanha encontrava-se numa crise econômica. Concomitantemente, o Brasil passava por um desenvolvimento industrial, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Devido à demanda por mão de obra qualificada e técnica, muitos alemães imigraram para o país nessa época. Evidentemente, esses novos imigrantes tinham um vínculo maior com a Alemanha do que os teuto-brasileiros que chegaram no século XIX.[1]

Os imigrantes recém-chegados da Alemanha diferenciavam-se dos teuto-brasileiros. Os primeiros denominavam-se Reichsdeutsche (alemães do Reich), ao passo que os segundos eram os Volksdeutsche (alemães do povo). Apenas os alemães natos podiam filiar-se ao partido nazista. Por isso morava em São Paulo o maior número de nazistas no Brasil,[1] uma vez que o estado foi o destino preferencial dessa nova onda de imigração alemã.[12]

Em meados da década de 1930, havia mais de um milhão de alemães e descendentes no Brasil, a maior parte no Rio Grande do Sul (600 mil) e em Santa Catarina (220 mil).[13] Em 1940, alemães e descendentes perfaziam 22,34% da população de Santa Catarina e 19,3% no Rio Grande do Sul.[12] A comunidade alemã no país preservava sua cultura e a sua língua, compreendidos como uma manifestação do germanismo, o que era possível por meio da existência de sociedades, de uma imprensa em língua alemã e, principalmente, de escolas. O censo de 1940 mostrou que 640 mil pessoas usavam o alemão como língua principal do lar no Brasil. Com base na elevada proporção de membros da comunidade germânica que usava o alemão em casa (mais de 70%), conclui-se que havia um fraco nível de assimilação cultural dessa comunidade.[14]

A adesão ao nazismo

Segundo diferentes historiadores, apenas uma parcela dos alemães e descendentes no Brasil aderiram à ideologia nazista. Para o historiador René Gertz, havia "uma considerável simpatia pelo fato de que o regime teria consertado os erros imputados ao regime da República de Weimar", mas não havia um "entusiasmo irrestrito".[3] Na perspectiva de Eliane Bisan Alves, "além da adesão por parte da elite, não se pode dizer que a maioria dos alemães no Brasil tenha se identificado com o nazismo do ponto de vista ideológico". Porém, a autora enfatiza que, por meio da imprensa da época e pelas correspondências confiscadas pela DEOPS, verifica-se que "havia forte simpatia por Hitler, pelo Terceiro Reich e, sobretudo, pela "nação" alemã, que passou a desfrutar de prestígio no plano internacional".[12] Segundo Cláudia Mauch e Naira Vasconcellos, muitos dos alemães que aderiram ao nazismo no Brasil "não o fizeram por messianismo, mas por um cálculo racional de ganhos". O ingresso no partido poderia garantir benefícios materiais no Brasil ou uma repatriação à Alemanha como compensação pela dedicação à causa.[4] À mesma conclusão chegou o historiador René Gertz, ao afirmar que "entre os que ingressaram no partido provavelmente se encontrava um número significativo que estava numa dependência econômica direta em relação a empresas alemãs (da Alemanha) em atividade no Brasil, para os quais a adesão ao partido era quase uma obrigatoriedade".[3]

Segundo uma outra fonte, "apesar da população de Santa Catarina ter preservado por longos anos a língua e as tradições germânicas, a propaganda hitlerista nunca conseguiu muito sucesso, sendo as simpatias pelo nazismo muito menos intensas do que se poderia julgar".[15] Segundo Simon Schwartzmann, "se foi verdade que muitos teuto-brasileiros se deixaram influenciar e empolgar pelos ensinamentos nazistas, a maior parte da população mostrava-se avessa a aceitação da tutela de um partido político estrangeiro – o partido nazista era encarado como tal".[16] Segundo Giralda Seyferth, as ideias nazistas no Brasil não prosperaram nas colônias rurais, mas apenas nos meios urbanos, como em Porto Alegre, Curitiba, ou Blumenau. Elas atingiram sobretudo a "classe empresarial e partes das camadas médias teuto-brasileiras". De fato, parte da comunidade teuto-brasileira se opôs ao nazismo, pois criticava sua proposta de "regermanização", preferindo priorizar uma identidade teuto-brasileira e privilegiar o Brasil como pátria.[2]

De acordo com Stefan Rinke, ao contrário do que projetavam os entusiastas nacionalistas da Alemanha, os "alemães" do Brasil não formavam um "sindicato de teutônicos orgulhosos nos trópicos". Formavam um grupo heterogêneo, com rivalidades entre protestantes e católicos, entre conservadores e liberais e entre diferentes grupos regionais.[17]

De fato, houve atividade partidária nazista no Brasil e um "certo alvoroço germanista" dentro da comunidade alemã.[12] Embora os filiados ao partido nazista não chegassem nem a 5% dos alemães natos vivendo no Brasil, é salientável que o partido tinha boa representatividade na comunidade alemã do país. Eles faziam-se presentes em clubes, igrejas, escolas, hospitais etc. Não se pode, contudo, acreditar que todos os alemães no Brasil eram pró-nazismo, mas apenas que os nazistas se encontravam infiltrados em importantes segmentos dessa comunidade.[1]

As escolas alemãs no Brasil apareciam como um alvo para a propagação da ideologia nazista. O sistema educacional público brasileiro era incipiente, portanto o governo não poderia se opôr à construção de escolas comunitárias da comunidade alemã. Desde o século XIX, a comunidade alemã promovia a construção de escolas comunitárias, onde o aprendizado era feito em alemão. Quando o nazismo ascendeu ao poder na Alemanha, havia no Brasil 1.260 escolas alemãs, com mais de 50 mil alunos. O governo alemão destinava grande quantia de dinheiro para subsidiar essas escolas. Em 1937, o Terceiro Reich previu um orçamento de 4 milhões de marcos para escolas alemãs na América Latina. A partir de 1933, era possível encontrar, em algumas dessas escolas, o estandarte nazista, bem como uma grande fotografia de Hitler.[14] Em algumas dessas escolas, professores vinham diretamente do Terceiro Reich para doutrinar as crianças alemãs do Brasil.[18]

Filiados ao partido nazista no Brasil, entre alemães natos (1930/1940)[1]
Estado Filiados População nascida na Alemanha
São Paulo 785 33.397
Santa Catarina 528 11.291
Rio de Janeiro 447 11.519
Rio Grande do Sul 439 15.279
Paraná 185 12.343
Minas Gerais 66 2.000
Pernambuco 43 672
Espírito Santo 41 623
Bahia 39 542
Outros/sem informação 249 1.405
Total 2.822 89.071

Percebe-se da tabela acima que o maior grupo de nazistas estava no estado de São Paulo, que recebeu a maior parte dos imigrantes alemães chegados nas décadas de 1920 e 1930. Por essa razão, São Paulo foi escolhida como sede do partido, em 1934.[19] Verifica-se também que o Rio de Janeiro tinha mais nazistas do que o Rio Grande do Sul, embora a comunidade nascida na Alemanha fosse maior nesse último estado. Segundo Taís Campelo Lucas, "o fracasso no Rio Grande do Sul foi latente. Apesar da visibilidade ganha através de manifestações públicas e da propaganda, a adesão ao nazismo no estado foi baixíssima".[20]

O Brasil figurava como o país com o maior número de membros do Partido Nazista fora da Alemanha, com cerca de três mil filiados. Esse número era pequeno, quando se compara, por exemplo, aos dezenas de milhares de integrantes da Internacional Comunista que moravam no Brasil, naquela época.[21]

Ideologia

Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, o próprio Adolf Hitler determinou que o partido nazista no exterior não deveria se intrometer na política local, embora essa determinação muitas vezes não fosse seguida à risca. De qualquer maneira, o público-alvo dos nazistas eram somente os alemães natos, e não os brasileiros descendentes de alemães.[nota 1] Isso explica porque 92,8% dos filiados ao nazismo no Brasil eram alemães de nascimento. De fato, havia uma hierarquia clara que dividia os alemães natos dos brasileiros descendentes de alemães: apenas os primeiros podiam filiar-se ao partido. Por essa razão, alguns autores defendem que muitos brasileiros de origem alemã que queriam se engajar politicamente buscaram refúgio na Ação Integralista Brasileira, devido à sua alegada identidade próxima ao nazismo ou ao fascismo.[4] Isso não era bem visto pelo governo de Berlim, uma vez que os integralistas eram brasileiros nacionalistas, o que ameaçava o germanismo.[1] Outros autores defendem, contudo, que foi justamente o espaço para o pluralismo que permitiu ao Integralismo conseguir angarir adesão entre os teuto-brasileiros.[4]

Segundo Giralda Seyferth, "embora se considerassem legítimos representantes de uma nação alemã etnicamente concebida, os teuto-brasileiros foram vistos pelos nazistas como excessivamente brasileiros".[22] Para Ana Maria Dietrich, os teuto-brasileiros eram vistos pelos nazistas como "inferiores aos alemães natos". Inferiores, porém ainda interessantes, pois os descendentes de alemães no Brasil somavam 900 mil pessoas.[1]

Como a comunidade judaica no Brasil era relativamente pequena, o contato entre alemães e judeus era raro. Já com os negros, mestiços, brasileiros e outros povos, o contato era constante. Por isso, os alvos principais dos nazistas eram os negros e mestiços, que compunham 45% da população brasileira. Não há registro de confrontos abertos entre as etnias, porém escritos mostram que os nazistas olhavam com desprezo parcela da população brasileira.[nota 2] A diversidade racial brasileira ia de encontro às ideias de raça pura difundidas pelo III Reich. Os nazistas residentes no Brasil consideravam os brasileiros um povo inferior devido ao seu caráter mestiço. Por outro lado, os brasileiros também olhavam os alemães como o outro, o "alienígena",[nota 3] portador de concepções exóticas, como o nazismo, e o seu sentimento de superioridade era motivo de escárnio da população brasileira.[1] Deve-se salientar que o racismo no Brasil não era algo exclusivo dos alemães ou nazistas residentes no país, uma vez que ideias racistas existem na sociedade brasileira desde os tempos coloniais.[24]

O partido sob o governo Vargas

O partido nazista funcionou no Brasil durante dez anos, sem ser incomodado pelo governo brasileiro, de 1928 a 1938.[nota 4] O governo de Getúlio Vargas manteve, durante toda a década de 1930, relações de amizade e de cordialidade com o III Reich.[nota 5][1] A ascensão do nazismo na Alemanha não gerou preocupação no governo brasileiro.[nota 6] Naquela altura, o governo varguista estava mais preocupado com outros assuntos, como na contenção do comunismo, o chamado "perigo vermelho". Além das intensas trocas comerciais, o Brasil de Vargas e a Alemanha de Hitler mantiveram, veladamente, acordos políticos com foco na caça a comunistas e na troca de informações entre as polícias secretas de ambos os países, incluindo-se a expulsão de alguns judeus comunistas, como ocorreu com Olga Benário.[nota 7]

Em documento de 1936, um representante do III Reich referiu-se às relações Brasil-Alemanha como satisfatórias, apesar da "ameaça judaico-comunista".[1] Membros do governo brasileiro tinham relações cordiais com o partido nazista no país. Em 1937, o governador do Rio Grande do Sul, Flores da Cunha, compareceu a uma festividade nazista em Porto Alegre, e disse que os alemães eram "um componente racial do muito valoroso povo brasileiro".[1][nota 8] O filho do presidente Getúlio Vargas, Lutero Vargas, casou-se com uma alemã, o que foi motivo de trocas de correspondências entre os dois países e tornou-se símbolo das "cordiais relações" entre os dois povos. Em novembro de 1937, por ocasião da troca de embaixadores alemães no Brasil, Getúlio Vargas e Adolf Hitler trocaram correspondência, na qual Vargas chamava Hitler de "grande e bom amigo". Na carta, Vargas escreveu que desejava "sempre manter, e estreitar, cada vez mais, as relações de boa amizade, felizmente existentes entre os dois países". Essa declaração ocorreu poucos meses antes da proibição do partido nazista no Brasil, o que demonstra que as boas relações entre os dois regimes só foram rompidas de última hora.[nota 9]

A equidistância pragmática

O historiador Gerson Moura denominou a política externa de Getúlio Vargas de "equidistância pragmática", uma vez que o Brasil procurava manter relações cordiais e benéficas tanto com os Estados Unidos, quanto com a Alemanha nazista. Esse "jogo" era interessante para o Brasil, uma vez que os EUA e a Alemanha eram grandes compradores de matérias-primas brasileiras, ao passo que o Brasil importava produtos manufaturados de ambos os países. Com a Alemanha, em 1934 e em 1935, o Brasil assinou Acordos de Compensação, nos quais se garantia a exportação de produtos brasileiros, como algodão, café, laranja, couro, tabaco e carne, ao passo que importava produtos manufaturados alemães. Com os Estados Unidos, o Brasil assinou o Tratado Comercial de 1935, no qual oferecia concessões tarifárias a certos produtos norte-americanos, e os EUA reduziam os tributos dos principais produtos de exportação brasileiros. Inicialmente, tanto Washington quanto Berlim foram tolerantes com esse "jogo" brasileiro, pois ambas as potências procuravam constituir seus respectivos sistemas de poder.[27]

O período da "equidistância pragmática" pode ser dividido em três fases: equidistância pragmática possível (1935-37), difícil (1938-39) e rompida (1939-41). Com o início da guerra na Europa e com a iminente entrada dos Estados Unidos no conflito, esse país percebeu a necessidade de garantir que os países latino-americanos e, em especial, o Brasil, estivessem ao seu lado no conflito. Esse fato aumentou o poder de barganha do Brasil frente aos EUA. Ao mesmo tempo, comercializar com a Alemanha estava cada vez mais difícil, devido às dificuldades de navegação decorrentes da Guerra. Nesse contexto, o Brasil voltou-se para o Estados Unidos e conseguiu os recursos necessários para reequipar suas Forças Armadas e para construir a Companhia Siderúrgica Nacional. A aliança com os Estados Unidos, portanto, mostrou-se a opção natural do governo brasileiro.[28]

Porém, do ponto de vista ideológico, havia uma grande diferença entre os Estados Unidos e a Alemanha. Os EUA eram uma democracia liberal, que apostava nos ideais pan-americanistas para se aproximar dos países latino-americanos (política da boa vizinhança), enquanto que a Alemanha era uma ditadura anti-liberal.[27] Dentro do próprio governo Vargas, havia o grupo simpatizante dos EUA, como Oswaldo Aranha, e o grupo pró-Alemanha, como Eurico Dutra e Góis Monteiro. Ao entrar na guerra ao lado dos aliados, Vargas viu-se numa situação embaraçosa: o seu governo, que era uma ditadura que, em muitos aspectos, se assemelhava às potências do Eixo, lutava junto às potências democráticas liberais. Após o fim da Guerra, essa ambiguidade seria um dos motivos que colocaram fim à ditadura de Vargas.[28]

A proibição e as consequências

O decreto nº 383, de 18 de abril de 1938, colocou o partido nazista e todas as outras agremiações políticas estrangeiras na clandestinidade. [29] Poucos meses antes, o embaixador alemão no Brasil, Karl Ritter, teve um encontro com o presidente Vargas, no qual se queixou da situação e afirmou que as medidas iriam comprometer as relações políticas e comerciais entre os dois países, pois, segundo Ritter, todos os países que haviam proibido o partido nazista haviam-se tornado inimigos da Alemanha.[1] O embaixador alemão argumentou que só alemães natos poderiam ser filiados ao partido e que eles eram instruídos a não se intrometerem em assuntos locais.[nota 10]

Segundo Ritter, Vargas deu-lhe uma "resposta bem brasileira", e argumentou que só proibiu o partido nazista para não abrir uma exceção, pois todos os outros partidos, brasileiros e estrangeiros, haviam sido proibidos. Para amenizar a situação, Vargas ofereceu sacas de café ao Auxílio Alemão de Inverno, o que foi motivo de piada dos alemães devido ao baixo preço do café, mas acabaram aceitando a oferta.[30] Ritter tentou persuadir o Ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, a reverter a situação, mas sem sucesso.[14][1]

A consequência da proibição do partido nazista no Brasil foi o rompimento das relações cordiais mantidas até o momento entre os dois países.[19] Embora interessasse a Vargas manter boas relações com a Alemanha nazista, o Estado Novo instituiu que todos os partidos deveriam ser abolidos no Brasil, quer nacionais, quer estrangeiros. Ritter justificou a medida brasileira devido às pressões dos "Estados Unidos", dos "imigrantes judeus" e da "Igreja Católica" e ainda creditou o fato ao "nativismo brasileiro", "corrente de inveja dos alemães desenvolvidos".[1]

Uma outra razão para a mudança de rumos da política varguista foi a suspeita da participação nazista na tentativa de golpe do Integralismo liderado por Plínio Salgado, em maio de 1938, o que foi negado pelas representações consulares e pelo líder do partido no Brasil, Hans Henning von Cossel.[1] O chanceler Oswaldo Aranha, em correspondência de 17 de maio de 1938, ao embaixador alemão Karl Ritter, mencionou a alegada participação de nazistas nessa tentativa de golpe como uma das razões para o banimento do partido no Brasil. O chanceler brasileiro, contudo, enfatizou que, mesmo com a proibição do nazismo no Brasil, a Alemanha era "um país com o qual desejamos continuar mantendo as melhores relações de amizade".[14]

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o Brasil manteve-se neutro, entre 1939 e 1941. A partir de 1942, o Brasil engajou-se ao lado dos Estados Unidos e dos aliados e rompeu a sua neutralidade, passando a ser um país inimigo da Alemanha.[14] Foi o fim definitivo da denominada "diplomacia pendular" ou da "equidistância pragmática", por meio da qual Vargas tentava obter benefícios de uma relação concomitante com a Alemanha e com os Estados Unidos.[31] Os alemães residentes no Brasil passaram a ser perseguidos:[32]empresas alemãs foram colocadas na lista negra, lojas saqueadas e alguns alemães foram confinados em campos de internamento.[33][34][1] Muitas foram as intervenções na vida cotidiana, como a proibição de falar alemão em público, ouvir rádio, viajar para locais considerados estratégicos. Em 1942, alemães, italianos e japoneses foram proibidos de participar do carnaval por uma circular da polícia. Alemães comuns, considerados prisioneiros de guerra, foram confinados em campos de internamento, de norte a sul do país, ou detidos e presos em presídios.[35][36] O governo alemão creditava essa mudança de postura do governo brasileiro à influência dos "americanos e judeus". [1] Embora um número reduzido de alemães e descendentes estivessem envolvidos com o nazismo no Brasil, o Estado Novo passou a associar qualquer manifestação cultural da comunidade germânica como uma ameça. Segundo René Gertz, "qualquer traço cultural podia ser aproveitado na tentativa de comprovar nazismo entre os teutos".[37]

Planos da Alemanha Nazista para o Brasil

Segundo escritos do diplomata Sérgio Corrêa da Costa, o nazismo alemão planejou desmembrar o sul do Brasil e nele construir uma nova Alemanha. [38] O projeto não seria novo, porém, já existindo anteriormente. No seu "Gross Deutschland, die Arbeit des 20. Jahrhunderts ("A Grande Alemanha, obra do século XX), publicado em Leipzig, 1911, Tannenberg estabelece o princípio da repartição das Américas Central e do Sul entre as grandes potências imperialistas, reservando para a Alemanha a zona subtropical banhada pelo Atlântico:

Da Costa atribui a seguinte frase a Adolf Hitler: "Criaremos no Brasil uma nova Alemanha. Encontraremos lá tudo de que necessitamos"[40][41].

Alguns historiadores, contudo, refutam a ideia de que os nazistas tivessem planos concretos de se instalar no Brasil. Segundo eles, isso não passa de uma falácia, pois tais intenções jamais foram documentadas.[5] Algumas fontes citam uma suposta expedição patrocinada por nazistas na Floresta Amazônica. Segundo a historiadora Ana Maria Dietrich, expedições de reconhecimento do território eram comuns na época. Porém, o fato de um expedicionário alemão ter morrido durante o caminho e ter sido enterrado com uma cruz contendo uma suástica no Amapá, passou a ser explorada como atração turística. Para o historiador Rafael Athaides, os boatos de que os nazistas agiam sorrateiramente para conquistar o Sul do Brasil não passam de invenções criadas durante a Segunda Guerra Mundial. O mito do "perigo alemão" servia como subterfúgio para o Estado Novo (1937–1945) implementar livremente sua política da nacionalização dos imigrantes. Ademais, visando interesses econômicos, Getúlio Vargas se aproximara dos Estados Unidos e para isso foi necessário um rompimento com a Alemanha nazista,[5]que até então era a maior parceira comercial do Brasil.[42] O próprio Vargas era admirador de Adolf Hitler[43] e sua ditadura foi de clara inspiração fascista.[44]

De fato, o Partido Nazista nunca representou uma ameaça séria ao Brasil. Seus membros não tinham interesse em participar das eleições nem de registrar o partido na Justiça Eleitoral do Brasil. Em decorrência, o presidente Getúlio Vargas e os governadores locais nem se importaram com a sua fundação, pelo contrário, eram inclusive simpatizantes e até participavam de festividades nazistas.[5]

Estado Novo de Vargas e o nazismo

Várias pessoas importantes do governo de Getúlio Vargas de 1930 a 1945 nutriram admiração pelo governo da Alemanha Nazista. Entre estas, estavam comandantes militares que apoiaram Getúlio Vargas na implantação da ditadura do Estado Novo como o general Eurico Gaspar Dutra (ministro da guerra de 1936 a 1945, e futuro presidente da República), o general Góis Monteiro[45] (ministro da guerra em 1934) e Filinto Müller (chefe de polícia do Distrito Federal, futuro senador e líder do partido ARENA).

Por outro lado, o governo de Getúlio Vargas era extremamente nacionalista. Com a decretação da ditadura do Estado Novo em 1937, todos os partidos políticos brasileiros tornaram-se ilegais. Além disso, foi proibida a prática de qualquer atividade de natureza política dos estrangeiros residentes no país, que não mais podiam organizar, criar ou manter sociedades, fundações, companhias, clubes e quaisquer estabelecimentos de caráter político, ainda que tivessem por fim exclusivo a propaganda ou a difusão, entre os seus compatriotas, de ideais, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem. A partir de então, as atividades do Partido Nazista no Brasil foram duramente reprimidas, assim como a de todos os outros partidos políticos brasileiros ou não.

Apesar de ter vários simpatizantes da Alemanha Nazista, o governo do Estado Novo preferiu manter uma política de apoio aos Estados Unidos em troca de benefícios econômicos.[46] Quando navios mercantes brasileiros foram afundados por submarinos alemães, o Brasil declarou guerra às potências do Eixo.

Consequências do nacionalismo do Estado Novo

Imigrantes alemães no Sul do Brasil

O governo do Estado Novo promoveu a integração forçada dos alemães e de seus descendentes que viviam em colônias isoladas no sul do Brasil. Em muitas ocasiões agiu com brutalidade contra imigrantes humildes que não mantinham quaisquer relações com a Alemanha nazista.[47]

Em 1940, durante uma visita a Blumenau, cidade de colonização alemã no estado de Santa Catarina, Vargas declarou: "O Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano, que faz respeitar as suas leis e defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. (...) Porém, ser brasileiro, não é somente respeitar as leis do Brasil e acatar as autoridades. Ser brasileiro é amar o Brasil. É possuir o sentimento que permite dizer: o Brasil nos deu pão; nós lhe daremos o sangue".[48]

Os imigrantes japoneses e italianos também foram perseguidos e forçados a se "abrasileirar". O caso dos teuto-brasileiros é peculiar porque formavam comunidades isoladas que mantinham as tradições e utilizavam quase que exclusivamente o idioma alemão.

Nazistas no Brasil após a guerra

Após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, muitos nazistas condenados como criminosos de guerra fugiram para o Brasil e se esconderam entre as comunidades teuto-brasileiras. O caso mais famoso foi de Josef Mengele, médico que ficou conhecido como "Anjo da Morte" no campo de concentração de Auschwitz. Mengele realizava experiências médicas com seres humanos vivos, sempre sem anestesia, com o propósito de pesquisar o aperfeiçoamento da raça ariana. Uma boa parte das vítimas de suas "experiências científicas" foram anões e irmãos gêmeos.[49] Viveu escondido no interior de São Paulo de 1970 a 1979, quando morreu afogado em Bertioga, no litoral paulista, sem nunca ter sido reconhecido.

Neonazismo no Brasil

Ver artigo principal: Neonazismo no Brasil
Estados brasileiros por número de simpatizantes do neonazismo. São considerados simpatizantes os internautas que já fizeram o download de mais de 100 arquivos em sites neonazistas.[50]

Atualmente no Brasil existem alguns grupos neonazistas em atuação. Contudo, muitas vezes faz-se uma associação entre esses grupos e os descendentes de alemães do Sul. O historiador Rafael Athaides assevera que não há justificativa em se fazer essa conexão. Athaides acha pouco provável que haja qualquer ligação, pois um levantamento do perfil dos indivíduos presos por neonazismo mostra que nenhum deles é descendente de nazistas históricos. Trata-se de jovens desajustados, "desprovidos de referencial identitário e que manipulam os signos do nazismo no mundo". Responsabilizar os descendentes de alemães do Sul pela sustentação de grupos separatistas e neonazistas acontece mesmo quando práticas qualificadas como "neonazistas" são praticadas por caboclos do interior do Pará.[5] Esse tipo de estereótipo é criticado na obra do historiador René Gertz.[51]

Alguns crimes cometidos por neonazistas chamaram a atenção da mídia brasileira. Em 2003, por exemplo, um grupo de skinheads neonazistas obrigou dois jovens punks a pular de um trem em movimento em Mogi das Cruzes.[52] Um deles morreu e o outro perdeu um braço.[52] Em São Paulo, o ressurgimento do movimento nazista tem suas origens na década de 1980, quando surgiram os "Carecas do ABC", grupo de extrema-direita que se opunha ao movimento sindical liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, surgido na mesma região.[52] Desde então, a possibilidade de comunicação pela internet ampliou as fronteiras do movimento.[52] O site Valhala88, desativado em 2007, chegou a receber 200 mil visitas diárias por usuários do país.[52]

Segundo a antropóloga Adriana Dias, da Unicamp, estudiosa da questão do neonazismo no Brasil, o acalorado debate na eleição presidencial de 2010, deu fôlego ao movimento.[52] Para ela, "a questão do preconceito aos nordestinos (...) vem desde as eleições do Lula. Na eleição da Dilma, isso se radicalizou muitíssimo porque foi levantada a questão do aborto, do casamento gay".[52] Segundo Adriana, há dois grandes grupos etários de neonazistas no Brasil.[52] O primeiro tem entre 18 e 25 anos e o segundo tem entre 35 e 45 anos, e seria o líder do primeiro. [necessário esclarecer][52] Segundo ela, a leitura dos neonazistas é composta por William Patch, Thomas Haden e Miguel Serrano.[52] Atualmente, a região com o maior número de simpatizantes do neonazismo é o Sul, com mais de 105 mil; são considerados simpatizantes os internautas que baixam mais de 100 arquivos de sites neonazistas.[50]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w «Nazismo tropical? O partido Nazista no Brasil». USP. 3 de agosto de 2007. Consultado em 16 de março de 2016 
  2. a b Boris Fausto. Fazer a América: a imigração em massa para a América Latina. [S.l.: s.n.] pp. – 
  3. a b c d Gertz, René E. «EIAL VII1 - Influencia política alemã no Brasil na década de 1930». Tau.ac.il. Consultado em 19 de setembro de 2011 
  4. a b c d e f Os Alemães no Sul do Brasil, Editora Ulbra, 2004 (2004)
  5. a b c d e f Milan, Pollianna (23 de setembro de 2011). «Brasil teve o maior partido nazista fora da Alemanha». Gazeta do Povo. Consultado em 1 de abril de 2018 
  6. a b Nara Maria Carlos de Santana (11 de outubro de 2007). «Extrema Direita e Questão Nacional: o nazismo no Brasil dos anos 30» (PDF). Universidade Estadual do Maranhão. Consultado em 1 de abril de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 4 de março de 2009 
  7. a b Carneiro, Marcelo (14 de novembro de 2001). «Heil, Hitler: Novos documentos contam a história do Partido Nazista no Brasil de Vargas». VEJA.com. Consultado em 1 de abril de 2018. Cópia arquivada em 1 de janeiro de 2013 
  8. Taylor, Frederick (2011). Exorcising Hitler: The Occupation and Denazification of Germany. [S.l.]: Bloomsbury Publishing. p. 226. 480 páginas. ISBN 978-1408822128 
  9. Fonseca, Renan (10 de agosto de 2010). «Partido nazista teve atuação em Santo André». ABCD Maior. Consultado em 1 de abril de 2018. Cópia arquivada em 17 de junho de 2015 
  10. «Gustavo Capanema». cpdoc.fgv.br. CPDOC. Consultado em 1 de abril de 2018 
  11. Vargas, Fundação Getúlio; Vargas), Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Fundação Getúlio (2001). Dicionário histórico-biográfico brasileiro, pós-1930. [S.l.]: FGV Editora. ISBN 9788522503421 
  12. a b c d Alves, Eliane Bisan (2006). Etnicidade, nacionalismo e autoritarismo: a comunidade alemã sob vigilância do DEOPS (1930-1945). [S.l.]: Editora Humanitas. ISBN 9788577320134 
  13. Dalmáz, Mateus (2002). A imagem do Terceiro Reich na Revista do globo (1933-1945). [S.l.]: EDIPUCRS. ISBN 9788574302607 
  14. a b c d e f g Seitenfus, R. A. S. (2000). A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre: EDIPUCRS.
  15. Nacionalização e imigração alemã. [S.l.]: Editora Unisinos. 1994. p. 130. ISBN 9788585580155 
  16. Schwartzman, Simon; Bomeny, Helena M. B.; Costa, Vanda M. R. (1984). «Tempos de Capanema». www.schwartzman.org.br. Os Schwartzmans. p. 146. Consultado em 1 de abril de 2018 
  17. Rinke, Stefan (Março de 2014). «Germany and Brazil, 1870-1945: a relationship between spaces». História, Ciências, Saúde-Manguinhos. 21 (1): 299–316. ISSN 0104-5970. doi:10.1590/S0104-59702014005000007 
  18. Dietrich, Ana Maria (Janeiro de 2007). «Juventude hitlerista à brasileira». História Viva. UOL. Consultado em 1 de abril de 2018. Cópia arquivada em 6 de dezembro de 2007 
  19. a b c Ana Maria Dietrich. Caça às suásticas: o Partido Nazista em São Paulo sob a mira da polícia política. Editora FAPESP, IMESP, HUMANITAS, 2007
  20. Lucas, Taís Campelo (julho de 2011). «Nazismo d'além mar: conflitos e esquecimento» (PDF). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. ANPUH. Consultado em 1 de abril de 2018 
  21. Barone, João (21 de maio de 2013). 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. [S.l.]: Nova Fronteira. ISBN 8520935206 
  22. Seyferth, Giralda. «Identidade Étnica, Assimilação e Cidadania: A imigração alemã e o Estado brasileiro» (PDF). IGTF. Consultado em 1 de abril de 2018. Cópia arquivada (PDF) em 28 de agosto de 2016 
  23. A assimilação dos imigrantes como questão nacional
  24. A.J.R RUSSEL-WOOD (2005). Escravos e Libertos no Brasil Colonial. [S.l.]: Civilização Brasileira. pp. ––– 
  25. Maria Luiza Tucci Carneiro. O antissemitismo na era Vargas: fantasmas de uma geração, 1930-1945. Editora Perspectiva, 2001
  26. [Considerações sobre opiniões e estudos em torno de nazismo e “neonazismo” no Brasil www.renegertz.com/arquivos/baixar/index.php?arquivo=Opiniao.pdf]
  27. a b Fundação Getúlio Vargas. Anos de Incerteza (1930 - 1937) > Relações Internacionais (visitado em 5 de outubro de 2016)
  28. a b Gerson Moura. RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL 1939-1950 Mudanças na natureza das relações Brasil-Estados Unidos durante e após a Segunda Guerra Mundial. Fundação Alexandre de Gusmão (visitado em 5 de outubro de 2016)
  29. DECRETO-LEI Nº 383, DE 18 DE ABRIL DE 1938 - Veda a estrangeiros a atividade política no Brasil e dá outras providências.
  30. a b Von Karl Ritter an Auswärtiges Amt. Deutsche Botschaft, Rio de Janeiro, 3 mar.1938. Ata 104945. AA/B, Alemanha
  31. [Paulo G. Fagundes Vizentini. O Brasil e o Mundo: a política externa e suas fases]
  32. Memória da campanha de nacionalização nas regiões de imigração alemã
  33. PRISIONEIROS DE GUERRA: A RECLUSÃO DOS IMIGRANTES INDESEJÁVEIS (BRASIL: 1942-1945)
  34. DOPS, a cidade de Rolândia (PR) e a repressão aos imigrantes de origem alemã (1942-1945)
  35. Leandro Pereira Gonçalves, Marly de Almeida Gomes Vianna, Érica Sarmiento da Silva. Presos Políticos e Perseguidos Estrangeiros na Era Vargas. Editora MAUAD. 2014
  36. CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO/CONFINAMENTO NO VALE DO ARARANGUÁ DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
  37. GERTZ, René O fascismo no sul do Brasil. p. 88.
  38. >"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, Crônica de uma Guerra Secreta, Editora Record, 52004
  39. Chéradame, André, "Défense de l'Amérique, p. 218 e 3374
  40. "da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, Crônica de uma Guerra Secreta, p. 252, Editora Record, 2004
  41. >"da Costa, Sérgio Corrêa da Costa, Crônica de uma Guerra Secreta, p. 252, Editora Record, 2004
  42. http://ultimosegundo.ig.com.br/revolucao1930/alemanha+de+hitler+foi+principal+parceira+do+brasil+de+getulio/n1237772842065.html
  43. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR65909-5856,00.html
  44. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/estado-novo-1937-1945-a-ditadura-de-getulio-vargas.htm
  45. http://almanaque.folha.uol.com.br/memoria_5.htm
  46. htp://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=406
  47. http://www.espacoacademico.com.br/062/62res_maestri.htm
  48. http://www.semina.clio.pro.br/4-1-2006/Denise%20Zago.pdf
  49. http://blog-19.blogspot.com/2004/11/nazi-josef-mengele-no-se-arrependeu-da.html
  50. a b [1]
  51. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Alemao
  52. a b c d e f g h i j [2]

Notas

  1. "(...) apesar de que essas ideias difundidas através da propaganda nazista somente eram dirigidas aos eleitos da desejada "raça pura", isto é, os alemães natos". Página 350.[19]
  2. "Registram-se diversas queixas dos partidários pelo fato de o Brasil tropical ser habitado por negros e mestiços, e eles eram sempre tratados com desprezo, sendo até denominados como "macacos". Página 55.[1]
  3. "A categoria "alienígena" - preponderante no jargão oficial - englobava imigrantes e descendentes de imigrantes classificados como "não-assimilados", portadores de culturas incompatíveis com os princípios da brasilidade".[23]
  4. (...)ingressando no partido nazista, cuja atividade no Brasil até 1938 não era proibida nem reprimida (..) Página 34.[4]
  5. "E quando pôde, manteve relações cordiais com a Alemanha nazista, polarizando forças e jogando duplamente com os EUA (...)"[25]
  6. "O Novo Mundo, distante da efervescência europeia, não avalia o quanto poderá ser atingindo pelas iniciativas de Hitler. O próprio Brasil, que preenche todos os requisitos para temer o futuro, demonstra despreocupação. Seus agentes diplomáticos tratam em prioridade uma agenda bilateral positiva: o incremento comercial e a luta anticomunista". Página 49.[14]
  7. "O primeiro embaixador brasileiro em Berlim é José Joaquim de Lima e Silva Moniz de Aragão. A ele caberá a direção de colaboração anticomunista entre os dois países, inclusive com a aproximação entre a Gestapo e a polícia política brasileira (Departamento Especial De Segurança Política e Social - DOPS)" (...) "O primeiro sucesso da cooperação anticomunista é a expulsão de Erna Krüger, aliás, Olga Benário" (...) Página 46[14]
  8. "(...) nesse sentido, volto a chamar a atenção para o fato de que a famigerada festa nazista de 1º de maio de 1937, no campo do Renner, em Porto Alegre (cujas fotos estão amplamente difundidas), contou com a presença de representantes do governador Flores da Cunha, do presidente da Assembleia Legislativa, do comandante da 3ª Região Militar, do comandante da Brigada Militar". Página 7.[26]
  9. A íntegra da carta de Vargas a Hitler, de 1937: "A sua Excelência e Senhor Adolf Hitler, Grande e Bom amigo, Recebi a carta pela qual Vossa Excelência houve por bem participar-me que, tendo resolvido chamar o Senhor Doutor Schmidt-Elskop, deu por finda a Missão que ele desempenhava no Brasil, na qualidade de Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da Alemanha. Posso assegurar a Vossa Excelência que o Senhor Doutor Arthur Schmidt Elskop, durante a permanência aqui soube, pelas suas distintas qualidades, grandecer a estima, e sympatia do governo e do Povo brasileiro, processando sempre manter e estreitar, cada vez mais, as relações de boa amizade, felizmente existente entre os dois países". Páginas 174-175.[1]
  10. Afirmou Ritter: "Eu deixei claro para ele (Getúlio Vargas), o que significa o partido nazista na Alemanha e para a Alemanha. Acrescentei que os integrantes do partido no Brasil são somente cidadãos alemães e têm a rigorosa instrução da alta cúpula de se abster de se interferir nos assuntos internos brasileiros".[30]