Guerra dos Cem Anos: diferenças entre revisões

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{{Info/Conflito militar
{{Info/Conflito militar
|nome = Guerra dos Cem Anos
|nome = Guerra dos Cem Anos
|conflito =
|conflito = Parte das [[Guerras Anglo-Francesas]]
|imagem = Hundred_years_war_collage.jpg
|imagem = Hundred years war collage.jpg
|legenda = No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: a [[Batalha de La Rochelle]], [[Batalha de Azincourt]], [[Batalha de Patay]] e [[Joana d'Arc]] no [[cerco de Orléans]].
|imagem_tamanho = 300px
|data = 24 de maio de 1337 – 19 de outubro de 1453{{efn|24 de maio de 1337 é o dia em que [[Filipe VI da França]] confiscou a [[Ducado da Aquitânia|Aquitânia]] de [[Eduardo III da Inglaterra]], que respondeu reivindicando o trono francês. [[Bordéus]] caiu para os franceses em 19 de outubro de 1453; não houve mais hostilidades depois disso.}}<br />({{Tempo em anos, meses, semanas e dias|dia1=24|mês1=5|ano1=1337|dia2=19|mês2=10|ano2=1453}})
|legenda = De cima, da esquerda para a direita: [[Batalha de La Rochelle]]; [[Batalha de Azincourt]]; [[Batalha de Patay]] e [[Joana d'Arc]] no [[Cerco de Orleães]].
|local = [[Reino da França|França]], região dos [[Países Baixos (região)|Países Baixos]], [[Grã-Bretanha]], [[Península Ibérica]]
|data = [[1337]] – [[1453]]
|resultado = Vitória para a [[Casa de Valois]] da França e seus aliados<br />{{Collapsible list|title='''Resultados completos'''|titlestyle=font-weight:normal;background:transparent;text-align:center;|
|local = [[França]] e [[Países Baixos (região)|Países Baixos]]
* Casa de Valois mantém o trono francês
|resultado = Vitória francesa decisiva e consolidação da Monarquia na França
* [[Casa de Valois#Centralização do poder|Fortalecimento da monarquia francesa]]
|situação = <!-- apenas para conflitos a decorrer -->
* A [[Primogenitura#Primogenitura agnática|primogenitura agnática]] confirmada como a lei da sucessão real francesa
|casus =
* Declínio da [[Casa de Plantageneta]] e enfraquecimento da monarquia inglesa, levando à [[Guerra das Rosas]]
|território = A Casa de Valois garante o controle de toda a França, menos [[Pas-de-Calais]]
* [[Reivindicações inglesas ao trono francês]] ''[[de facto]]'' abandonadas
|combatente1 = [[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1399-1603).svg|20px]] [[Reino da Inglaterra]]<br />
* Ascensão de [[nacionalismo|identidades nacionalistas]] na [[nacionalismo inglês|Inglaterra]] e na [[Nacionalismo francês|França]]
* [[Imagem:Arms of Llywelyn.svg|10px]] <small>[[Principado de Gales]]</small>
* [[Cavalaria medieval#O fim da cavalaria|Declínio da cavalaria]]
* [[Imagem:Blason region fr Aquitaine.svg|10px]] <small>[[Ducado da Aquitânia]]</small><br />
* [[Feudalismo#Fim do feudalismo europeu (1500–década de 1850)|Declínio do feudalismo]]}}
[[Imagem:Blason fr Bourgogne.svg|15px]] [[Ducado da Borgonha]]<br />[[Imagem:Blason region fr Bretagne.svg|15px]] [[Ducado da Bretanha]]<ref>A Casa de Montfort dos Bretões apoiavam a Inglaterra</ref><br />[[Imagem:Armoiries Portugal 1247.svg|15px]] [[Reino de Portugal]]<br />[[Imagem:Blason Royaume Navarre.svg|15px]] [[Reino de Navarra]]<br />[[Imagem:Blason Nord-Pas-De-Calais.svg|15px]] [[Condado da Flandres]]<br />[[Imagem:Hainaut Modern Arms.svg|15px]] [[Condado de Hainaut]]<br />[[Imagem:CoA_Pontifical_States_02.svg|17px|borda]] [[Estados Papais]]
|situação = <!-- apenas para conflitos a decorrer -->
|combatente2 = [[Imagem:Blason France moderne.svg|20px]] [[Reino da França]]<br />
|território = A [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] perde todas as possessões continentais, exceto por [[Pale de Calais]].
* [[Imagem:Blason Nord-Pas-De-Calais.svg|10px]] <small>[[Condado da Flandres]]</small>
|combatente1 = {{Lista simples|
* [[Imagem:Blason fr Bourgogne.svg|10px]] <small>[[Ducado da Borgonha]]</small><br />
* [[Imagem:Arms of France (France Moderne).svg|20px]] [[Reino da França|França]] leal à [[Casa de Valois]]
[[Imagem:Blason Castille Léon.svg|15px]] [[Coroa de Castela]]<br />[[Imagem:Blason region fr Bretagne.svg|15px]] [[Ducado da Bretanha]]<ref>A Casa de Blois dos Bretões apoiavam a França</ref><br />[[Imagem:Royal arms of Scotland.svg|15px]] [[Reino da Escócia]]<br />[[Imagem:Blason Lorraine.svg|15px]] [[Ducado da Lorena]]<br />[[Imagem:Armoiries Gênes.svg|15px]] [[República de Gênova]]<br />[[Imagem:Armoiries Jean de Luxembourg superseding.svg|15px]] [[Reino da Boêmia]]<br />[[Imagem:Aragon arms.svg|15px]] [[Coroa de Aragão]]<br />[[Imagem:Coat of Arms of the Kingdom of Majorca and the Balearic Islands (14th-20th Centuries).svg|15px]] [[Reino de Maiorca]]<br />[[Imagem:CoA_Pontifical_States_02.svg|17px|borda]] [[Papado de Avinhão]]
* [[Imagem:Arms of the Duke of Burgundy since 1430.svg|20px]] [[Estado da Borgonha]] (1337 a 1419 e 1435 a 1453)
|combatente3 =
* [[Imagem:Arms of Jean III de Bretagne.svg|20px]] [[Ducado da Bretanha]]
|comandante1 = [[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1340-1367).svg|15px]] [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]] <small>(1337-1377)</small><br />[[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1340-1367).svg|15px]] [[Ricardo II de Inglaterra|Ricardo II]] <small>(1377-1399)</small><br /> [[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1399-1603).svg|15px]] [[Henrique IV de Inglaterra|Henrique IV]] <small>(1399-1413)</small><br />[[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1399-1603).svg|15px]] [[Henrique V de Inglaterra|Henrique V]] <small>(1413-1422)</small><br />[[Imagem:Royal_Arms_of_England_(1470-1471).svg|15px]] [[Henrique VI de Inglaterra|Henrique VI]] <small>(1422-1463)</small>
* [[Imagem:Royal Arms of the Kingdom of Scotland.svg|20px]] [[Reino da Escócia]]
|comandante2 = [[Imagem:Arms_of_the_Kings_of_France_(France_Ancien).svg|15px]] [[Filipe VI de França|Filipe VI]] <small>(1337-1350)</small><br />[[Imagem:Arms_of_the_Kings_of_France_(France_Ancien).svg|15px]] [[João II de França|João II]] <small>(1350-1364)</small><br />[[Imagem:BlasonIledeFrance.svg|15px]] [[Carlos V de França|Carlos V]] <small>(1364-1380)</small><br />[[Imagem:BlasonIledeFrance.svg|15px]] [[Carlos VI de França|Carlos VI]] <small>(1380-1422)</small><br />[[Imagem:BlasonIledeFrance.svg|15px]] [[Carlos VII de França|Carlos VII]] <small>(1422-1453)</small>
* [[Imagem:Royal Coat of Arms of the Crown of Castile (1284-1390).svg|20px]] [[Coroa de Castela]]
|comandante3 =
* [[Imagem:Arms of Owain Glyndŵr.svg|20px]] [[Ascensão de Glyndŵr|Rebeldes galeses]]
|unidade1 =
* [[Imagem:Lombard League arms.svg|20px]] [[República de Gênova]]
|unidade2 =
* [[Imagem:Coat of arms of the House of Luxembourg-Bohemia.svg|20px]] [[Reino da Boémia]]
|unidade3 =
* [[Imagem:Royal arms of Aragon.svg|20px]] [[Coroa de Aragão]]
|força1 =
* [[Imagem:BlasonComtatVenaissin.svg|20px]] [[Papado de Avinhão]]{{efn|Lutou contra a Inglaterra durante a [[Cruzada de Despenser]].}}}}
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|combatente2 = {{Lista simples|
* [[Imagem:Royal Arms of England (1399-1603).svg|20px]] [[Reino da França|França]] leal à [[Casa de Plantageneta]]
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* [[Imagem:Royal Arms of England (1399-1603).svg|20px]] [[Reino da Inglaterra]]
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* [[Imagem:Arms of the Duke of Burgundy since 1430.svg|20px]] [[Estado da Borgonha]] (1419 a 1435)
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* [[Imagem:Arms of Jean III de Bretagne.svg|20px]] [[Ducado da Bretanha]]
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* [[Imagem:Brasão de armas do reino de Portugal (1385).svg|20px]] [[Reino de Portugal]]
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* [[Imagem:Evolution Coat of Arms of Navarre-3.svg|20px]] [[Reino de Navarra]]
* [[Imagem:Blason ville be Gand %28Flandre-Orientale%29.svg|20px]] [[Gante|Rebeldes de Gent]]{{efn|Lutou com a Inglaterra durante a [[Guerra Carolina]].}}
* [[Imagem:CoA Pontifical States 02.svg|20px]] [[Estados Papais]]{{efn|Lutou com a Inglaterra durante a [[Cruzada de Despenser]].}}}}
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* [[Imagem:Arms of the Kings of France (France Ancien).svg|20px]] [[Filipe VI de França|Filipe VI]] {{resize|86%|(1337-1350)}}
* [[Imagem:Arms of the Kings of France (France Ancien).svg|20px]] [[João II de França|João II]] {{resize|86%|(1350-1364)}}
* [[Imagem:Arms of France (France Moderne).svg|20px]] [[Carlos V de França|Carlos V]] {{resize|86%|(1364-1380)}}
* [[Imagem:Arms of France (France Moderne).svg|20px]] [[Carlos VI de França|Carlos VI]] {{resize|86%|(1380-1422)}}
* {{nowrap|[[Imagem:Arms of France (France Moderne).svg|20px]] [[Carlos VII de França|Carlos VII]] {{resize|86%|(1422-1453)}}}}}}
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* [[Imagem:Royal Arms of England (1340-1367).svg|20px]] [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]] {{resize|86%|(1337-1377)}}
* [[Imagem:Royal Arms of England (1340-1367).svg|20px]] [[Ricardo II de Inglaterra|Ricardo II]] {{resize|86%|(1377-1399)}}
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* [[Imagem:Royal Arms of England (1399-1603).svg|20px]] [[Henrique V de Inglaterra|Henrique V]] {{resize|86%|(1413-1422)}}
* [[Imagem:Royal Arms of England (1399-1603).svg|20px]] [[Henrique VI de Inglaterra|Henrique VI]] {{resize|86%|(1422-1453)}}}}
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{{Campanhainfo Guerra Eduardiana}}
A '''Guerra dos Cem Anos''' foi uma série de conflitos travados de [[1337]] a [[1453]] pela [[Dinastia Plantageneta|Casa Plantageneta]], governantes do [[Reino da Inglaterra]], contra a [[Casa de Valois]], governantes do [[Reino da França]], sobre a sucessão do trono francês. Cada lado atraiu muitos aliados para a guerra. Foi um dos conflitos mais notáveis ​​da [[Idade Média]], em que cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da [[Europa Ocidental]]. A guerra marcou tanto o auge da [[cavalaria medieval]] quanto seu subsequente declínio e o desenvolvimento de fortes [[Identidade nacional|identidades nacionais]] em ambos os países. Depois da [[Conquista Normanda]], os reis da Inglaterra eram [[vassalo]]s dos reis da França para suas posses em solo francês. Os reis [[franceses]] se esforçaram, ao longo dos séculos, para reduzir estas posses, no sentido de que apenas a [[Gasconha]] fosse deixada para os [[ingleses]]. A confiscação ou a ameaça de confisco deste [[ducado]] faziam parte da política francesa para controlar o crescimento do poder inglês, particularmente quando os ingleses estavam [[Primeira Guerra de Independência da Escócia|em guerra]] com o [[Reino da Escócia]], um aliado da França.
{{Campanhainfo Guerra da Sucessão Bretã}}
{{Campanhainfo Guerra Carolina}}
{{Campanhainfo Guerra Lancastriana}}
{{Campanhainfo Guerra dos Cem Anos}}
A '''Guerra dos Cem Anos''', foi uma série de conflitos travados entre os reinos da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] e da [[Reino da França|França]] durante o [[final da Idade Média]]. Originou-se de [[reivindicações inglesas ao trono francês]] entre a [[Casa de Plantageneta|Casa Real Inglesa de Plantageneta]] e a [[Casa de Valois|Casa Real Francesa de Valois]]. Com o tempo, a guerra se transformou em uma luta de poder mais ampla envolvendo facções de toda a [[Europa Ocidental]], alimentada pelo [[nacionalismo]] emergente de ambos os lados.


A Guerra dos Cem Anos foi um dos conflitos mais significativos da [[Idade Média]]. Durante 116 anos, interrompidos por várias [[Cessar-fogo|tréguas]], cinco gerações de reis de duas [[dinastia]]s rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. O efeito da guerra na história europeia foi duradouro. Ambos os lados produziram inovações em tecnologia e táticas militares, incluindo exércitos permanentes profissionais e artilharia, que mudaram permanentemente a guerra na Europa; [[Cavalaria medieval|cavalaria]], que atingiu seu auge durante o conflito, posteriormente declinou. [[Identidades nacionais]] mais fortes criaram raízes em ambos os países, que se tornaram mais centralizados e gradualmente ascenderam como potências globais.<ref>{{citar livro|último=Guizot|primeiro=Francois|título=The History of Civilization in Europe; translated by William Hazlitt 1846|publicado=Liberty Fund|ano=1997|isbn=978-0-86597-837-9|local=Indiana, USA|páginas=204, 205}}</ref>
Por intermédio de sua mãe, [[Isabel da França, Rainha da Inglaterra|Isabel da França]], [[Eduardo III da Inglaterra]] era o neto de [[Filipe IV da França]] e sobrinho de [[Carlos IV da França]], o último rei da linha principal da [[Casa dos Capeto]]. Em 1316, foi estabelecido [[Lei sálica|um princípio]] que negava a sucessão das mulheres ao trono francês. Quando Carlos IV morreu em 1328, Isabel, incapaz de reivindicar o trono francês para si, reivindicou-o para seu filho. Os franceses rejeitaram o pedido, sustentando que Isabel não podia transmitir um direito que ela não possuía. Por cerca de nove anos (1328-1337), os ingleses haviam aceitado a sucessão de Valois ao trono francês, mas a interferência do rei da França, [[Filipe VI da França|Filipe VI]], na guerra de Eduardo III contra a Escócia permitiu a Eduardo III reafirmar sua reivindicação ao trono francês. Várias vitórias esmagadoras inglesas na guerra - especialmente em [[Batalha de Crécy|Crecy]], [[Batalha de Poitiers (1356)|Poitiers]] e [[Batalha de Azincourt|Agincourt]] - levantaram as perspectivas de um triunfo inglês definitivo. No entanto, os maiores recursos da [[monarquia francesa]] impediram uma conquista completa. A partir de 1429, decisivas vitórias francesas em [[Batalha de Patay|Patay]], [[Batalha de Formigny|Formigny]] e [[Batalha de Castillon|Castillon]] concluíram a guerra a favor da França, com a Inglaterra perdendo permanentemente a maior parte de suas principais possessões no continente.


O termo "Guerra dos Cem Anos" foi adotado por historiadores posteriores como uma [[Periodização da história|periodização]] [[Historiografia|historiográfica]] para abranger conflitos relacionados, construindo o conflito militar mais longo da [[História da Europa|história europeia]]. A guerra é comumente dividida em três fases separadas por tréguas: a [[Guerra Eduardiana]] (1337-1360), [[Guerra Carolina]] (1369-1389) e a [[Guerra Lancastriana]] (1415-1453). Cada lado atraiu muitos aliados para o conflito, com as forças inglesas inicialmente prevalecendo; a Casa de Valois finalmente manteve o controle sobre a França, com as monarquias francesas e inglesas anteriormente entrelaçadas permanecendo separadas.
Historiadores comumente dividem a guerra em três fases separadas por [[trégua]]s: a Guerra da Era Eduardiana (1337-1360); a Guerra Carolina (1369-1389); e a Guerra de Lancaster (1415-1453). Os conflitos locais nas áreas vizinhas, que estavam contemporaneamente relacionados com a guerra, incluindo a [[Guerra da Sucessão Bretã]] (1341-1364), a [[Primeira Guerra Civil de Castela|Guerra Civil de Castela]] (1366-1369), a [[Guerra dos Dois Pedros]] (1356-1375) em [[Coroa de Aragão|Aragão]] e a [[Crise de 1383–1385 em Portugal]], foram aproveitados pelas partes para fazer avançar as suas agendas. Posteriormente, os historiadores adotaram o termo "Guerra dos Cem Anos" como uma periodização da historiografia para abranger todos esses eventos, construindo o mais longo [[conflito militar]] da [[história europeia]].


== Visão geral ==
A guerra deve seu significado histórico a múltiplos fatores. No final, os exércitos [[Feudalismo|feudais]] haviam sido largamente substituídos por tropas profissionais e o domínio [[aristocrático]] cedera à democratização da [[mão-de-obra]] e das armas dos exércitos. Embora primeiramente um conflito dinástico, a guerra deu o ímpeto às ideias do [[nacionalismo]] francês e inglês. A introdução mais ampla de armas e táticas suplantou os exércitos feudais onde a cavalaria pesada tinha dominado. A guerra precipitou a criação dos primeiros exércitos permanentes na Europa Ocidental desde a época do [[Império Romano do Ocidente]] e assim ajudando a mudar seu papel na guerra. Com relação aos beligerantes, na [[França]], guerras civis, [[epidemia]]s mortais, fomes e mercenários reduziram a população drasticamente. As forças políticas inglesas ao longo do tempo vieram a opor-se à arriscada aventura. A insatisfação dos nobres ingleses, resultante da perda de suas terras continentais, tornou-se um fator que levou às guerras civis conhecidas como [[Guerras das Rosas]] (1455-1487).<ref name="curry">{{citar livro|título=The Hundred Years' War|subtítulo=1337-1453|autor=Anne Curry|editora=Osprey Publishing|ano=2002|isbn= 978-1-84176-269-2}}</ref>
=== Origens ===
As causas profundas do conflito podem ser atribuídas à [[Crise do século XIV|crise da Europa do século XIV]]. A eclosão da guerra foi motivada por um aumento gradual da tensão entre os reis da [[Reino da França|França]] e da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] sobre o território; o pretexto oficial foi a questão que surgiu por causa da interrupção da linhagem masculina direta da [[dinastia capetiana]].


As tensões entre as coroas francesa e inglesa remontavam séculos às origens da família real inglesa, que era de origem francesa ([[Normandos|normanda]] e, mais tarde, [[Reis angevinos da Inglaterra|angevina]]) por causa de [[Guilherme, o Conquistador]], o duque normando que se tornou rei da Inglaterra em 1066. Os monarcas ingleses, portanto, historicamente detinham [[Império Angevino|títulos e terras na França]], o que os tornava [[Vassalagem|vassalos]] dos reis da França. O status dos [[feudo]]s franceses do rei inglês foi uma importante fonte de conflito entre as duas monarquias ao longo da [[Idade Média]]. Os monarcas franceses procuraram sistematicamente controlar o crescimento do poder inglês, despojando terras à medida que surgia a oportunidade, particularmente sempre que a Inglaterra estava em guerra com a [[Reino da Escócia|Escócia]], [[Velha Aliança|aliada da França]]. As propriedades inglesas na França variavam em tamanho, em alguns pontos superando até mesmo o [[Domínio Real Francês]]; em 1337, no entanto, apenas a [[Gasconha]] era inglesa.
== Antecedentes ==
=== Reino da França ===
[[Imagem:Europe in 1430.PNG|thumb|direita|300px|A [[Europa]] em 1430, na última fase da Guerra dos Cem Anos.]]


Em 1328, [[Carlos IV da França]] morreu sem filhos ou irmãos e [[Lei sálica#A sucessão em 1316|um novo princípio]], a lei Sálica, proibiu a sucessão feminina. O parente masculino mais próximo de Carlos era seu sobrinho [[Eduardo III de Inglaterra]], cuja mãe, [[Isabel da França, Rainha da Inglaterra|Isabel]], era irmã de Carlos. Isabel [[Reivindicação inglesa ao trono de França|reivindicou o trono da França para seu filho]] pela regra da [[proximidade de sangue]], mas a nobreza francesa rejeitou isso, sustentando que Isabel [[Nemo dat quod non habet|não poderia transmitir um direito que ela não possuía]]. Uma assembleia de [[barões]] franceses decidiu que um [[Franceses|francês nativo]] deveria receber a coroa, em vez de Eduardo.{{sfn|Previté-Orton|1978|p=872}}
No início do [[século XIV]], o reino da França, drenado por grandes bacias fluviais e desfrutando de um clima favorável para a agricultura, estava florescendo, com seus 17 milhões de habitantes,<ref name=ville>{{fr}} [http://classes.bnf.fr/ema/ville/ville/index7.htm ''L'enfance au Moyen Âge : la ville''], Bibliothèque Nationale de France. Página acessada em 11 de abril de 2010.</ref><ref>{{fr}} [http://pedagene.creteil.iufm.fr/ressources/histoire/p_royal.html ''L’affirmation du pouvoir royal (XII°-XV° siècles)''], IUFM de Créteil. Página acessada em 11 de abril de 2010.</ref> a primeira potência em termos demográficos da Europa. A sociedade agrícola baseia-se em um [[sistema feudal]] e religioso muito hierarquizado. A produção agrícola é capaz de alimentar a população (não havia mais fome desde o século XII<ref name="Balard223">Michel Balard, Jean-Philippe Genet et Michel Rouche 2003, p. 222-223</ref>) e necessita da nobreza para defender a terra.<ref name="kaplan89">Michel Kaplan et Patrick Boucheron 1994, p. 89-90</ref>


Assim, o trono passou para o primo [[Patrilinearidade|patrilinear]] de Carlos, [[Filipe VI de França|Filipe]], [[Lista de condes e duques de Valois|Conde de Valois]]. Eduardo protestou, mas acabou se submetendo e homenageando a Gasconha. Outras divergências francesas com Eduardo induziram Filipe, em maio de 1337, a se reunir com seu Grande Conselho em Paris. Foi acordado que a Gasconha deveria ser devolvida às mãos de Filipe, o que levou Eduardo a renovar sua reivindicação ao trono francês, desta vez pela força das armas.{{sfn|Previté-Orton|1978|pages=873–876}}
O [[clero]] desempenha um importante papel social na organização da sociedade. Os clérigos são alfabetizados e têm habilidades na [[aritmética]] e gestão das instituições; os religiosos administram organizações de caridade<ref>Marie-Thérèse Lorcin,''Des Restos du cœur avant la lettre'', Historia Thématique N°65: ''Un Moyen Âge inattendu'' páginas 48 a 51</ref> e escolas<ref>Colette Beaune,''Petite école, grand ascenseur social, '' Historia Thématique N°65: ''Un Moyen Age inattendu'' páginas 42 a 47</ref> onde somando-se com os feriados religiosos, o número de feriados chega a 140 por ano.<ref>Jean-Michel Mehl,''Près de cent quarante jours chômés par an'', Historia Thématique N°65: ''Un Moyen Age inattendu'' páginas 58 a 64</ref>


=== Os atritos ===
=== Fase Eduardiana ===
Nos primeiros anos da guerra, os ingleses, liderados por seu rei e seu filho [[Eduardo, o Príncipe Negro]], tiveram sucessos retumbantes (principalmente em [[Batalha de Crécy|Crécy]] em 1346 e em [[Batalha de Poitiers (1356)|Poitiers]] em 1356, onde o rei [[João II da França]] foi feito prisioneiro).
[[Historiografia|Historiograficamente]] é registrada entre [[1334]] a [[1452]]. As suas causas remotas prendem-se à época em que o duque da [[Normandia]], [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme, o Conquistador]], apoderou-se da Inglaterra em (1066). Desde Guilherme, os monarcas ingleses controlavam extensos domínios senhoriais em território francês, ameaçando o processo de centralização monárquica da França que se esboçava desde o [[século XII]]. Durante os séculos XII e [[Século XIII|XIII]], os soberanos franceses tentaram, com crescente sucesso, restabelecer a sua autoridade sobre esses [[feudo]]s.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Fase Carolina e a Peste Negra ===
No século XII, o rei [[Henrique II de Inglaterra|Henrique II da Inglaterra]] se casou com [[Leonor da Aquitânia]] e, segundo as tradições [[Feudalismo|feudais]], tornou-se [[vassalo]] do rei da França nos ducados da [[Ducado da Aquitânia|Aquitânia]] (Antiga [[Aquitânia|Guiena]], Guyenna ou Guyenne) e [[Gasconha]]. Desde então, as relações entre os reis da Inglaterra e França foram marcadas por conflitos políticos e militares. Isso culminou na questão da soberania sobre a Gasconha. Pelo [[Tratado de Paris (1259)]], [[Henrique III da Inglaterra|Henrique III de Inglaterra]] abandonara as suas pretensões sobre [[Ducado da Normandia|Normandia]], [[condado de Maine|Maine]], [[Anjou (província)|Anjou]], [[Touraine]] e [[Poitou]], conservando apenas a Gasconha. Os constantes conflitos vinham pelo fato do rei inglês, que era [[duque]] da Gasconha, ressentir-se de ter de pagar pela região aos reis franceses e de os vassalos gascões frequentemente apelarem ao soberano da França contra as decisões tomadas pelas autoridades inglesas na região.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
Em 1378, sob o rei [[Carlos V de França|Carlos V, o Sábio]] e a liderança de [[Bertrand du Guesclin]], os franceses reconquistaram a maior parte das terras cedidas ao rei [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo]] no [[Tratado de Brétigny]] (assinado em 1360), deixando os ingleses com apenas algumas cidades no continente.
[[Imagem:Adoubement1.jpg|thumb|esquerda|'' [[João II de França|João II de Valois]] condecora cavaleiros''. [[Iluminura|miniatura]] do século XV, na [[Biblioteca Nacional da França]].]]


Nas décadas seguintes, o enfraquecimento da autoridade real, combinado com a devastação causada pela [[Peste Negra]] de 1347-1351 (com a perda de quase metade da população francesa{{sfn|Turchin|2003|pp=179–180}} e entre 20% e 33% da população inglesa){{sfn|Neillands|2001|pp=110–111}} e a grande crise econômica que se seguiu, levaram a um período de agitação civil em ambos os países. Essas crises foram resolvidas na [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] mais cedo do que na [[Reino da França|França]].
As influências francesa e inglesa em [[Flandres]] (atual [[Bélgica]] e [[Países Baixos]]) eram também opostas, pois os condes desse território eram vassalos da França e, por outro lado, a [[burguesia]] estava ligada economicamente à Inglaterra. Além do intenso [[comércio]] estabelecido na região, Flandres era importante centro produtor de tecidos, que consumia grande parte da [[lã]] produzida pela Inglaterra. Essa camada urbana vinculada à produção de [[tecido]]s e ao comércio posicionava-se a favor dos interesses ingleses e portanto, contra a ingerência política francesa na região. Resolveram, flamengos e ingleses, estabelecer uma [[aliança (acordo)|aliança]], que irritou profundamente o rei da França, também interessado na região. Com muita sabedoria, eles obedeceram à nova lei pública na Europa, portanto estavam numa crise de guerras Europeias.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Fase Lancastriana e depois ===
O estopim dos conflitos se deu com o problema sucessório resultante da morte do terceiro e último filho de [[Filipe IV de França|Filipe IV, o Belo]], [[Carlos IV de França|Carlos IV]], em [[1328]]. Entre os possíveis sucessores estavam: o rei inglês [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]], da dinastia [[Plantageneta]], sobrinho do falecido monarca pelo lado materno, detentor dos títulos de [[duque da Aquitânia]] e [[conde de Ponthieu]] (na região do [[canal da Mancha]]); e o nobre francês [[Filipe VI de França|Filipe]], [[conde de Valois]], sobrinho de [[Filipe IV, o Belo]], pertencente a um ramo secundário da família real. As pretensões dos dois foram examinadas por uma assembleia francesa que, apoiando-se na [[lei sálica]], segundo a qual o trono não poderia ser ocupado por um sucessor vindo de linhagem materna, inclinou-se para o candidato nacional, aclamando o sobrinho, Filipe de Valois, com o título de Filipe VI. O rei inglês não discutiu a decisão, reconhecendo Filipe VI em [[Amiens]] em [[1329]].{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
O recém-coroado [[Henrique V da Inglaterra]] aproveitou a oportunidade apresentada pela doença mental de [[Carlos VI da França]] e a [[Guerra civil dos Armagnacs e Borguinhões|guerra civil francesa entre Armagnacs e Borguinhões]] para reviver o conflito. Vitórias esmagadoras em [[Batalha de Azincourt|Azincourt]] em 1415 e [[Batalha de Verneuil|Verneuil]] em 1424, bem como uma aliança com os borguinhões aumentaram as perspectivas de um triunfo final inglês e persuadiram os ingleses a continuar a guerra por muitas décadas. No entanto, uma variedade de fatores, como as mortes de Henrique e Carlos em 1422, o surgimento de [[Joana d'Arc]], que aumentou o moral francês, e a perda da [[Estado da Borgonha|Borgonha]] como aliada, marcando o fim da guerra civil na [[Reino da França|França]], impediram que isso acontecesse.
[[Imagem:EdwardIII-Cassell.jpg|thumb|Retrato do monarca inglês [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]].]]


O [[cerco de Orleães]] em 1429 anunciou o início do fim das esperanças inglesas de conquista. Mesmo com a eventual captura de Joana pelos borguinhões e sua execução em 1431, uma série de vitórias francesas esmagadoras como as de [[Batalha de Patay|Patay]] em 1429, [[Batalha de Formigny|Formigny]] em 1450 e [[Batalha de Castillon|Castillon]] em 1453 concluíram a guerra em favor da [[dinastia Valois]]. A [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] perdeu permanentemente a maioria de suas possessões continentais, com apenas [[Pale de Calais]] permanecendo sob seu controle no continente, até que também foi perdido no [[Cerco de Calais (1558)|cerco de Calais]] em 1558.
O [[Conde de Nevers]], regente de Flandres desde [[1322]], prestou juramento de obediência ao seu [[suserano]] Filipe VI, decisão que poderia paralisar a economia flamenga. Eduardo III, após a intervenção de Filipe VI em Flandres apoiando o [[conde]] contra os amotinados flamengos, suspende as exportações de [[lã]]s. A burguesia flamenga forma um partido a favor do rei de Inglaterra, incitando-o a proclamar-se rei de França. Assim, Eduardo III, instigado por [[Jacques Artervelde]] - rico mercador que já havia liderado uma rebelião na cidade flamenga de [[Gante]] - e temendo perder o ducado francês de [[Ducado da Aquitânia]] - mantido como feudo de Filipe VI -, repudiou o juramento de Amiens e alegou a superioridade de seus títulos à sucessão.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Conflitos relacionados e efeitos posteriores ===
Os franceses acusavam os ingleses de desenvolverem uma política expansionista, percebida pelos interesses na Aquitânia e em Flandres. Já os ingleses insistiam em seus legítimos direitos políticos e territoriais na França. Embora tenham ocorrido crises anteriores, em geral, a data de [[24 de maio]] de [[1337]] é considerada como o início da guerra: nesse dia, após uma série de discussões, Filipe VI, cônscio da grave ameaça que representava para os seus domínios a existência de um ducado leal à coroa inglesa, apoderou-se de Aquitânia. Eduardo respondeu imediatamente: não reconheceu mais "Filipe, que dizia ser rei da França", e ordenou o desembarque de um exército em Flandres. Iniciava-se a Guerra dos Cem Anos. A situação se deteriorou diante do auxílio francês à independência da [[Escócia]] [[Guerra da Independência Escocesa|nas guerras]] que Eduardo III e o [[Eduardo II de Inglaterra|seu pai]] haviam iniciado contra os reis escoceses para ocupar o trono desse país.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
Conflitos locais em áreas vizinhas, que foram contemporaneamente relacionados à guerra, incluindo a [[Guerra da Sucessão Bretã]] (1341-1365), [[Primeira Guerra Civil de Castela|Guerra Civil Castelhana]] (1366-1369), [[Guerra dos Dois Pedros]] (1356-1369) em [[Coroa de Aragão|Aragão]], e a [[Crise dinástica de 1383–1385|crise de 1383-1385]] em [[Reino de Portugal|Portugal]], foram usados pelos partidos para avançar suas agendas.


Ao final da guerra, os exércitos feudais foram amplamente substituídos por tropas profissionais, e o domínio aristocrático cedeu à democratização da mão-de-obra e das armas dos exércitos. Embora principalmente um [[Guerra de sucessão|conflito dinástico]], a guerra inspirou o [[nacionalismo]] [[Nacionalismo francês|francês]] e [[Nacionalismo inglês|inglês]]. A introdução mais ampla de armas e táticas suplantou os exércitos [[Feudalismo|feudais]] onde a [[cavalaria pesada]] dominava, e a [[artilharia]] tornou-se importante. A guerra precipitou a criação dos primeiros [[Exército permanente|exércitos permanentes]] na [[Europa Ocidental]] desde o [[Império Romano do Ocidente]] e ajudou a mudar seu [[Ciência militar|papel na guerra]].
== Principais batalhas ==
[[Imagem:Battle of Castillon.jpg|thumb|A [[Batalha de Castillon]].]]
Entre os episódios mais importantes do conflito citam-se:
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* A [[Batalha de Sluys]] ([[1340]]);
* A [[Batalha de Crécy]] ([[1346]]);
* A [[Batalha de Calais]] ([[1347]]);
* A [[Batalha de Poitiers (1356)|Batalha de Poitiers]] ([[1356]]);
* A [[Batalha de Cocherel]] ([[1364]]);
* A [[Batalha de Azincourt]] ([[1415]]);
* O [[Batalha de Orleães|Cerco a Orléans]] ([[1429]]);
* A [[Batalha de Jargeau]] ([[1429]]);
* O [[Cerco de Paris (1429)|Cerco de Paris]] ([[1429]]);
* A [[Batalha de Meung-sur-Loire]] ([[1429]]);
* A [[Batalha de Patay]] ([[1429]]);
* A [[Batalha de Formigny]] ([[1450]]);
* A [[Batalha de Castillon]] ([[1453]]).
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Na [[Reino da França|França]], [[guerras civis]], [[epidemia]]s mortais, [[fome]]s e bandidos de [[companhias livres]] de [[Routiers|mercenários]] reduziram drasticamente a população. Na [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]], as forças políticas ao longo do tempo vieram a se opor ao empreendimento caro. A insatisfação dos [[História da nobreza britânica|nobres ingleses]], resultante da perda de suas terras continentais, bem como o choque geral pela perda de uma guerra em que o investimento havia sido tão grande, contribuíram para a [[Guerra das Rosas]] (1455-1487).
== Desenrolar da guerra ==
A guerra dividiu-se por quatro períodos: o primeiro entre [[1337]] e [[1364]], o segundo entre 1364 e [[1380]], o terceiro entre 1380 e [[1422]], e o quarto entre 1422 e [[1453]].{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


== Causas e prelúdio ==
=== Primeiro período (1337 - 1364) ===
=== Turbulência dinástica na França: 1316-1328 ===
[[Imagem:BattleofSluys.jpeg|thumb|Uma das primeiras batalhas da guerra dos cem anos ocorreu em [[Sluis]], perto de [[Bruges]], hoje na [[Bélgica]]. Nesse conflito, a frota anglo-flamenga derrotou a francesa. Miniatura da [[Batalha de Sluys]] do livros de crônicas de [[Jean Froissart]] (século XIV).]]
<!-- Esta seção está ligada a Eduardo III da Inglaterra -->
{{artigo principal|Reivindicação inglesa ao trono de França}}
A questão da sucessão feminina ao trono francês foi levantada após a morte de [[Luís X de França|Luís X]] em 1316. Luís X deixou apenas [[Joana II de Navarra|uma filha]], e [[João I da França]], que viveu apenas cinco dias. Além disso, a paternidade de sua filha estava em questão, pois sua mãe, [[Margarida da Borgonha]], havia sido denunciada como adúltera no [[Caso da Torre de Nesle]]. Filipe, [[Condado de Poitiers|conde de Poitiers]], irmão de Luís X, posicionou-se para assumir a coroa, avançando a posição de que as mulheres deveriam ser inelegíveis para suceder ao trono francês. Através de sua sagacidade política, ele conquistou seus adversários e sucedeu ao trono francês como [[Filipe V de França|Filipe V]]. Pela mesma lei que ele obteve, suas filhas foram negadas a sucessão, que passou para seu irmão mais novo, [[Carlos IV de França|Carlos IV]], em 1322.{{sfn|Brissaud|1915|pp=329–330}}


{{Árvore genealógica da Guerra dos Cem Anos}}
[[Imagem:Battle of crecy froissart.jpg|thumb|[[Iluminura]] de um [[manuscrito]] do século XV representando [[Batalha de Crécy]].]]


Carlos IV morreu em 1328, deixando uma filha e uma esposa grávida. Se o nascituro fosse homem, ele se tornaria rei; caso contrário, Carlos deixou a escolha de seu sucessor para os nobres. Uma menina, [[Branca de França, Duquesa de Orleães|Branca da França]] (mais tarde Duquesa de Orleães), nasceu, tornando extinta a principal linhagem masculina da [[Casa de Capeto]].
[[Filipe VI de França|Filipe VI]] exerceu intenso assédio ao litoral inglês durante meses, até ser derrotado em 1340. As hostilidades começaram seriamente com a [[batalha de Sluys|batalha naval de Sluys]], além do [[rio Escalda]], em 1340, onde a frota inglesa foi vitoriosa. [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]] tentou conquistar a França, vencendo grande parte dos combates em [[batalha de Crécy|Crécy-en-Ponthieu]] (1346), [[batalha de Calais|Calais]] (1347). As duas vitórias inglesas garantiram a Eduardo III importantes posições no norte da França, mantendo o [[canal da Mancha]] sob seu controle. Para tanto o rei da Inglaterra contou com o apoio financeiro de grandes mercadores de [[Flandres]] e do [[duque da Bretanha]], que voltou-se contra o monarca francês. O avanço e a conquista inglesa só não foram maiores porque após a batalha de Crécy, ocorreu a chamada "[[Peste Negra]]", que dizimou praticamente um terço da população europeia. A peste foi responsável por interromper a guerra.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


Por [[proximidade de sangue]], o parente masculino mais próximo de Carlos IV era seu sobrinho, [[Eduardo III da Inglaterra]]. Eduardo era filho de [[Isabel da França, Rainha da Inglaterra|Isabel]], irmã do falecido Carlos IV, mas surgiu a questão de saber se ela deveria poder transmitir um direito de herança que ela própria não possuía. A nobreza francesa, além disso, recusou a perspectiva de ser governada por Isabel e seu amante [[Rogério Mortimer, 1.º Conde de March|Rogério Mortimer]], que eram amplamente suspeitos de terem assassinado o rei inglês anterior, [[Eduardo II da Inglaterra|Eduardo II]]. As assembleias dos barões e prelados franceses e da [[Universidade de Paris]] decidiram que os homens que obtêm seu direito à herança por meio de sua mãe deveriam ser excluídos. Assim, o [[Primogenitura#Primogenitura agnática|herdeiro mais próximo por ascendência masculina]] era o primo em primeiro grau de Carlos IV, Filipe, [[Lista de condes e duques de Valois|Conde de Valois]], e foi decidido que ele deveria ser coroado [[Filipe VI de França|Filipe VI]]. Em 1340, o [[Papado de Avinhão]] confirmou que, sob a [[lei Sálica]], os homens não deveriam poder herdar por meio de suas mães.{{sfn|Brissaud|1915|pp=329–330}}{{sfn|Previté-Orton|1978|p=872}}
[[Imagem:Battle-poitiers(1356).jpg|thumb|[[Iluminura|miniatura]] [[Idade Média|medieval]] mostrando a Batalha de Poitiers (1356).]]


Eventualmente, Eduardo III relutantemente reconheceu Filipe VI e prestou-lhe [[Homenagem (feudal)|homenagem]] por seus feudos franceses em 1325. Ele fez concessões em [[Guiena]], mas reservou o direito de recuperar territórios arbitrariamente confiscados. Depois disso, ele esperava não ser perturbado enquanto guerreava [[Segunda Guerra de Independência da Escócia|contra a Escócia]].
Vários anos depois, quando se retomaram os combates, Eduardo III havia conquistado o apoio do rei de [[Reino de Navarra|Navarra]], [[Carlos II de Navarra|Carlos II]], e a inestimável ajuda militar de seu filho [[Eduardo, o Príncipe Negro|Eduardo]], o [[príncipe de Gales]], conhecido como o príncipe negro (por conta da cor de sua armadura). Esse período foi caracterizado por sucessivas vitórias inglesas, contando com o apoio de muitos nobres locais, mais preocupados em preservar seus domínios do que com a lealdade devida ao rei da França, possibilitando o domínio de cerca de um terço do território francês nas regiões norte e oeste. O Príncipe Negro conseguiu tomar como prisioneiro o sucessor de [[Filipe VI de França|Filipe]], [[João II de França|João II, o Bom]] na [[Batalha de Poitiers (1356)|Batalha de Poitiers]] ([[1356]]), e posteriormente, exigiu resgate por sua libertação. Uma insurreição popular ([[Jacquerie]]) complicou as coisas: revoltados com a miséria, os camponeses se lançavam contra os [[senhor feudal|senhores feudais]], enquanto a [[burguesia]] de [[Paris]], indignada pelas calamidades da guerra e liderada por [[Etienne Marcel|Étienne Marcel]], clamava por mudanças políticas. O filho de João, o Bom, o futuro [[Carlos V de França|Carlos V]], atendeu as questões internas e negociou a paz com Eduardo III. Em 1360, o [[Tratado de Brétigny]], ratificados em [[Calais]], deu a Eduardo um considerável número de territórios na França (Calais e todo o sudoeste francês) em troca do abandono de suas reivindicações ao trono francês.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== A disputa por Guiena: um problema de soberania ===
=== Segundo período (1364 - 1380) ===
[[Imagem:Hommage d Édouard Ier à Philippe le Bel.jpg|thumb|Homenagem de [[Eduardo I da Inglaterra]] (ajoelhado) a [[Filipe IV da França]] (sentado), 1286. Como o [[duque de Aquitânia]], Eduardo também era vassalo do rei francês (pintura de [[Jean Fouquet]] das ''[[Grandes Chroniques de France]]'' na [[Biblioteca Nacional da França]], [[Paris]])]]
[[Imagem:Charles V France.jpg|thumb|[[Carlos V de França|Carlos V, o Sábio]].]]
{{artigo principal|Rivalidade Capetiana-Plantageneta}}
{{VT|Pariato da França}}
As tensões entre as monarquias francesa e inglesa remontam à [[conquista normanda da Inglaterra]] em 1066, na qual o [[Trono da Inglaterra|trono inglês]] foi tomado pelo [[duque da Normandia]], um [[vassalo]] do [[Lista de monarcas da França|rei da França]]. Como resultado, a coroa da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] foi mantida por uma sucessão de nobres que já possuíam terras na [[Reino da França|França]], o que os colocou entre os súditos mais poderosos do rei francês, pois agora podiam recorrer ao poder econômico da Inglaterra para fazer valer seus interesses no continente. Para os reis da França, isso ameaçava perigosamente sua autoridade real, e assim eles constantemente tentavam minar o domínio inglês na França, enquanto os [[Lista de monarcas da Inglaterra|monarcas ingleses]] lutavam para proteger e expandir suas terras. Esse choque de interesses foi a causa raiz de grande parte do conflito entre as monarquias francesa e inglesa ao longo da era medieval.


A [[Dinastia normanda|dinastia]] [[Anglo-normandos|Anglo-Normanda]] que governava a Inglaterra desde a conquista normanda de 1066 foi encerrada quando Henrique, filho de [[Godofredo V, Conde de Anjou|Godofredo de Anjou]] e da imperatriz [[Matilde de Inglaterra|Matilde]], e bisneto de [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme, o Conquistador]], tornou-se o primeiro dos [[Monarcas angevinos da Inglaterra|reis angevinos da Inglaterra]] em 1154 como [[Henrique II de Inglaterra|Henrique II]].{{sfn|Bartlett|2000|p=22}} Os reis angevinos governaram o que mais tarde ficou conhecido como [[Império Angevino]], que incluía mais território francês do que sob os reis da França. Os angevinos ainda deviam [[Homenagem (feudal)|homenagem]] por esses territórios ao rei francês. A partir do século XI, os angevinos passaram a ter autonomia dentro de seus domínios franceses, neutralizando a questão.{{sfn|Bartlett|2000|p=17}}
A morte de João II (1364), que permanecera em mãos dos ingleses, marcou o recrudescimento das hostilidades, pois seu filho [[Carlos V de França|Carlos]] (1364-1380), que o sucedeu no trono francês com o nome de Carlos V, negou-se a respeitar os tratados firmados em 1360. Dessa vez os franceses atacaram com êxito o inimigo pois a França desfrutava de uma melhor posição.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


O rei [[João da Inglaterra]] herdou os domínios angevinos de seu irmão [[Ricardo I de Inglaterra|Ricardo I]]. No entanto, [[Filipe II da França]] agiu decisivamente para explorar as fraquezas de João, tanto legal quanto militarmente, e [[Invasão francesa da Normandia (1202-1204)|em 1204 conseguiu assumir o controle de grande parte das possessões continentais angevinas]]. Após o reinado de João, a [[Batalha de Bouvines]] (1214), [[Guerra de Saintonge]] (1242) e, finalmente, a [[Guerra de Saint-Sardos]] (1324), as propriedades do rei inglês no continente, como [[Duque de Aquitânia]], foram limitadas aproximadamente às províncias de [[Gasconha]].{{sfn|Gormley|2007}}
Sob Carlos V, os franceses, graças a unificação de seus exércitos, recuperaram boa parte do território meridional do Reino da França. Neste período destacou-se o [[condestável]] francês [[Bertrand Du Guesclin]], [[Cavalaria medieval|cavaleiro]] valente e notável militar que organizou as famosas "campanhas brancas" (sistema de [[guerrilha]]s). A luta se estendeu a [[Reino de Castela|Castela]], com a França apoiando o candidato à coroa, [[Henrique II de Castela|Dom Henrique]], contra [[Pedro I de Castela|Dom Pedro]] aliado da Inglaterra. As vitórias do monarca francês, fruto da reorganização militar, fortaleceram a ideia de centralização política, possibilitou submeter a maior parte da nobreza, aumentar a arrecadação tributária e organizar o Estado com elementos oriundos da burguesia em cargos de confiança.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


A disputa sobre [[Guiena]] é ainda mais importante do que a questão dinástica para explicar a eclosão da guerra. Guiena representou um problema significativo para os reis da França e da Inglaterra: [[Eduardo III de Inglaterra]] era um vassalo de [[Filipe VI da França]] por causa de suas posses francesas e foi obrigado a reconhecer a [[suserania]] do rei da França sobre elas. Em termos práticos, um julgamento em Guiena pode estar sujeito a um recurso para a corte real francesa. O rei da França tinha o poder de revogar todas as decisões legais tomadas pelo rei da Inglaterra na Aquitânia, o que era inaceitável para os ingleses. Portanto, a soberania sobre Guiena foi um conflito latente entre as duas monarquias por várias gerações.
Em 1377, com escassos meses de distância entre um e outro, faleciam o príncipe de Gales e Eduardo III. O sucessor do trono inglês era o neto do monarca falecido, [[Ricardo II de Inglaterra|Ricardo II]], de apenas dez anos de idade. A morte do monarca da França Carlos V, em 1380, esfriou o ânimo dos franceses.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


Durante a Guerra de Saint-Sardos, [[Carlos de Valois]], pai de Filipe VI, invadiu a Aquitânia em nome de [[Carlos IV de França|Carlos IV]] e conquistou o ducado após uma insurreição local, que os franceses acreditavam ter sido incitada por [[Eduardo II da Inglaterra]]. Carlos IV concordou relutantemente em devolver este território em 1325. Para recuperar seu ducado, Eduardo II teve que se comprometer: enviou seu filho, o futuro Eduardo III, para prestar homenagem.
=== Terceiro período (1380 - 1422) ===
Nas últimas décadas do [[século XIV]] e as décadas iniciais do [[século XV|século seguinte]] foram marcadas pelas disputas internas nos dois países, arrefecendo momentaneamente a guerra externa.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


O rei da França concordou em restaurar Guiena, menos [[Condado de Agenês|Agen]], mas os franceses atrasaram o retorno das terras, o que ajudou Filipe VI. Em 6 de junho de 1329, Eduardo III finalmente prestou homenagem ao rei da França. No entanto, na cerimônia, Filipe VI registrou que a homenagem não se devia aos feudos destacados do ducado de Guiena por Carlos IV (especialmente Agen). Para Eduardo, a homenagem não implicava a renúncia de sua reivindicação às terras extorquidas.
No caso da Inglaterra, o reinado de [[Ricardo II de Inglaterra|Ricardo II]], investido do poder assim que alcançou a maioridade ([[1389]]), viu as hostilidades praticamente cessarem. Porém, ocorreram [[Revolta camponesa de 1381|rebeliões camponesas]] lideradas por [[Wat Tyler]], contra a [[servidão]], e posteriormente as disputas envolveram parte da nobreza, que lutou contra o rei, e culminou com a ascensão de Henrique de [[Casa de Lencastre|Lencastre]] ao trono, em [[1399]], com o título de [[Henrique IV de Inglaterra|Henrique IV]].{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Gasconha sob o rei da Inglaterra ===
Na França, as lutas internas foram mais complexas e envolveram os interesses da região da [[Borgonha]], antigo [[Feudalismo|feudo]] poderoso, que lutou constantemente por seus interesses particulares. Em [[1380]], quando os ingleses nada mais ocupavam senão [[Calais]] e a [[Aquitânia]], morreu Carlos V na França, abrindo caminho para a ascensão do herdeiro [[Carlos VI de França|Carlos VI, o Insensato]], de doze anos. Houve uma série de disputas pelo poder, que culminou com a cisão da nobreza francesa em dois partidos: os [[armagnacs]], partidários da família de [[Orléans]], e os [[borguinhões]], partidários dos [[Duque de Borgonha|duques de Borgonha]]. Em considerando Carlos VI como incapaz, os Borguinhões pretenderam tomar o poder e, após várias derrotas, aliaram-se aos ingleses. Ao lado da família real ficaram o irmão do rei, [[Luis de Orléans]] e [[Bernardo de Armagnac]]. Nesta [[guerra civil]], destacaram-se [[João Sem Medo]] da Borgonha e o [[Delfim]] [[Carlos VII de França|Carlos]].
[[Imagem:Guyenne 1328-en.svg|thumb|França em 1330
{{Legenda|#809bd8|França antes de 1214}}
{{Legenda|#9370DB|Aquisições francesas até 1330}}
{{Legenda|#FFB6C1|Inglaterra e Guiena/Gasconha a partir de 1330}}]]
No século XI, a [[Gasconha]] no sudoeste da [[Reino da França|França]] foi incorporada à [[Ducado da Aquitânia|Aquitânia]] (também conhecida como ''Guyenne'' ou [[Guiena]]) e formou com ela a província de Guiena e Gasconha. Os [[Monarcas angevinos da Inglaterra|reis angevinos da Inglaterra]] tornaram-se [[duques da Aquitânia]] depois que [[Henrique II de Inglaterra|Henrique II]] se casou com a ex-rainha da França, [[Leonor da Aquitânia]], em 1152, a partir do qual as terras foram mantidas em vassalagem à coroa francesa. No século XIII, os termos Aquitânia, Guiena e Gasconha eram praticamente sinônimos.{{sfn|Harris|1994|p=8}}{{sfn|Prestwich|1988|p=298}}


No início do reinado de [[Eduardo III de Inglaterra|Eduardo III]] em 1 de fevereiro de 1327, a única parte da Aquitânia que permaneceu em suas mãos foi o [[Ducado da Gasconha]]. O termo Gasconha passou a ser usado para o território ocupado pelos reis angevinos ([[Dinastia Plantageneta|Plantageneta]]) da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] no sudoeste da França, embora ainda usassem o título de Duque da Aquitânia.{{sfn|Prestwich|1988|p=298}}{{sfn|Prestwich|2007|pp=292–293}}
[[Imagem:Henry V of England.jpg|thumb|O monarca inglês [[Henrique V de Inglaterra|Henrique V]].]]


Nos primeiros 10 anos do reinado de Eduardo III, a Gasconha foi um grande ponto de atrito. Os ingleses argumentaram que, como [[Carlos IV da França]] não agiu de maneira adequada em relação ao seu inquilino, Eduardo III deveria poder manter o ducado livre de qualquer [[suserania]] francesa. Este argumento foi rejeitado pelos franceses, então, em 1329, Eduardo III, de 17 anos, prestou [[Homenagem (feudal)|homenagem]] a [[Filipe VI da França]]. A tradição exigia que os [[vassalo]]s abordassem seu suserano desarmados, com a cabeça descoberta. Eduardo III protestou participando da cerimônia usando sua coroa e espada.{{sfn|Wilson|2011|p=194}} Mesmo após essa promessa de homenagem, os franceses continuaram a pressionar a administração inglesa.{{sfn|Prestwich|2007|p=394}}
[[Imagem:Battle of Agincourt, St. Alban's Chronicle by Thomas Walsingham.jpg|thumb|[[Batalha de Azincourt]] em miniatura do século XV.]]


A Gasconha não foi o único ponto sensível. Um dos conselheiros influentes de Eduardo III foi [[Roberto III de Artésia]]. Roberto III era um exilado da corte francesa, tendo se desentendido com Filipe VI por causa de uma reivindicação de herança. Ele instou Eduardo III a iniciar uma guerra para recuperar a França e foi capaz de fornecer informações extensas sobre a corte francesa.{{sfn|Prestwich|2007|p=306}}
A retenção inglesa de [[Calais]] e [[Bordeaux]], no entanto, impediu a paz permanente. Na França, a evidente incapacidade mental do rei, Carlos VI, desencadeou acirradas disputas pelo trono entre seus irmãos. A eclosão da guerra civil na França (luta entre [[Armagnacs]], partidários dos Orléans, e os [[Borguinhão|Borguinhões]], partidários do [[duque de Borgonha]]), além da [[loucura]] do rei Carlos VI, animou o novo rei inglês, Henrique V, a insistir em suas reivindicações no tocante ao trono francês (invocando a [[lei sálica]]). Henrique V, primo de Ricardo II, assumira a coroa em 1413.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Aliança Franco-Escocesa ===
A guerra civil e a loucura do rei Carlos VI permitiram novas conquistas dos ingleses. Em 1415, Henrique V desembarcou na [[Ducado da Normandia|Normandia]], invadindo e tomando [[Harfleur]]. Neste mesmo ano, travou-se a [[batalha de Azincourt|batalha de Agincourt (ou Azincourt)]], num terreno em que a chuva transformara num atoleiro. A orgulhosa [[cavalaria]] francesa foi massacrada e milhares de nobres franceses pereceram. Seguiu-se a ocupação de [[Paris]] (1415), da Normandia (1419) e de outras regiões no norte da França, obrigando a assinatura da paz, com a cumplicidade de [[Isabel da Baviera, Rainha de França|Isabel da Baviera]]. O [[Tratado de Troyes]] (1420), que garantia a Inglaterra todo o [[norte]] do país (inclusive Paris) e, o mais grave, forçou [[Carlos VI de França|Carlos VI]] a deserdar do trono seu filho, o [[Delfim de França|Delfim]] [[Carlos VII de França|Carlos VII]]. [[Henrique V de Inglaterra|Henrique V]] casou-se com a [[princesa]] [[Catarina de Valois|Catarina]], filha de Carlos VI, ficando com o direito de herdar o trono.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
{{VT|Velha Aliança}}
A [[Reino da França|França]] era aliada do [[Reino da Escócia]], pois os reis ingleses tentaram por algum tempo subjugar a área. Em 1295, um tratado foi assinado entre a França e a Escócia durante o reinado de [[Filipe IV da França]], conhecido como [[Velha Aliança]]. [[Carlos IV da França]] [[Tratado de Corbeil (1326)|renovou formalmente o tratado]] em 1326, prometendo à Escócia que a França apoiaria os escoceses se a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] invadisse seu país. Da mesma forma, a França teria o apoio da Escócia se seu próprio reino fosse atacado. [[Eduardo III de Inglaterra]] não poderia ter sucesso em seus planos para a Escócia se os escoceses pudessem contar com o apoio francês.{{sfn|Prestwich|2007|pp=304–305}}


[[Filipe VI da França]] havia reunido uma grande frota naval ao largo de [[Marselha]] como parte de um plano ambicioso para uma [[cruzada]] à [[Terra Santa]]. No entanto, o plano foi abandonado e a frota, incluindo elementos da marinha escocesa, mudou-se para o [[Canal da Mancha]] na [[Normandia]] em 1336, ameaçando a Inglaterra.{{sfn|Prestwich|2007|p=306}} Para lidar com esta crise, Eduardo III propôs que os ingleses levantassem dois exércitos, um para lidar com os escoceses "em um momento adequado", o outro para prosseguir imediatamente para a [[Gasconha]]. Ao mesmo tempo, embaixadores deveriam ser enviados à França com uma proposta de tratado para o rei francês.{{sfn|Sumption|1999|p=180}}
Depois do assassinato de [[João Sem Medo]], duque de Borgonha e um dos contendores na guerra civil da França, Henrique V aliara-se ao filho do duque, [[Filipe, o Bom]]. A união teve sucesso e até 1422 o rei inglês e o novo duque de Borgonha controlaram todo o território francês ao norte do [[Loire]], incluindo Paris e a [[Aquitânia]].{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


== Começo da guerra: 1337-1360 ==
Naquele ano, morreram tanto Carlos VI quanto Henrique V, o que faz com que as duas coroas (a da França e da Inglaterra) fossem herdados por [[Henrique VI de Inglaterra|Henrique VI]], que ainda era uma criança recém nascida. Dois [[barão|barões]] ingleses encarregaram-se da regência: o [[João, Duque de Bedford|Duque de Badford]] se ocupou da França e o [[Humphrey, Duque de Gloucester|Duque de Gloucester]] passou a administrar a Inglaterra. Carlos VII, o Delfim, assumiu a realeza em [[Bourges]]. Assim, a França encontrava-se dividida em dois reinos: nos territórios do norte, governava o rei inglês, apoiado pelos borguinhões; nos poucos territórios do sul, reinava o francês Carlos VII, com o apoio dos armagnacs.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
{{Campanhainfo Guerra Eduardiana}}
[[Imagem:Hundred years war.gif|thumb|200px|right|Mapa animado mostrando o progresso da guerra (mudanças territoriais e as batalhas mais importantes entre 1337 e 1453)]]
{{artigo principal|Guerra dos Cem Anos (1337-1360)}}
=== Fim da homenagem ===
No final de abril de 1337, [[Filipe VI da França]] foi convidado a conhecer a delegação da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]], mas recusou. A ''[[Arrière-ban]]'', literalmente um chamado às armas, foi proclamada em toda a [[Reino da França|França]] a partir de 30 de abril de 1337. Então, em maio de 1337, Filipe VI se reuniu com seu Grande Conselho em [[Paris]]. Foi acordado que o [[Ducado da Aquitânia]], efetivamente [[Gasconha]], deveria ser levado de volta às mãos do rei, alegando que [[Eduardo III da Inglaterra]] estava violando suas obrigações como [[vassalo]] e havia abrigado o 'inimigo mortal' do rei, [[Roberto III de Artésia]].{{sfn|Sumption|1999|p=184}} Eduardo III respondeu ao confisco da Aquitânia desafiando o direito de Filipe VI ao trono francês.


Quando [[Carlos IV da França]] morreu, Eduardo III havia reivindicado a sucessão do trono francês, por direito de sua mãe [[Isabel da França, Rainha da Inglaterra|Isabel]] (irmã de Carlos IV), filha de [[Filipe IV da França]]. Qualquer reivindicação foi considerada invalidada pela [[Homenagem (feudal)|homenagem]] de Eduardo III a Filipe VI em 1329. Eduardo III reviveu sua reivindicação e em 1340 assumiu formalmente o título de 'Rei da França e as Armas Reais Francesas'.{{sfn|Prestwich|2003|pp=149–150}}
=== Quarto Período (1422 - 1453) ===
[[Imagem:100 Years War France 1435-pt.svg|thumb|A França em 1435]]


Em 26 de janeiro de 1340, Eduardo III recebeu formalmente a homenagem de Guy, meio-irmão do [[Conde de Flandres]]. As autoridades cívicas de [[Gante]], [[Ypres]] e [[Bruges]] proclamaram Eduardo III, rei da França. O objetivo de Eduardo III era fortalecer suas alianças com a [[Países Baixos (região)|região dos Países Baixos]]. Seus partidários poderiam alegar que eram leais ao "verdadeiro" rei da França e não eram rebeldes contra Filipe VI. Em fevereiro de 1340, Eduardo III retornou à Inglaterra para tentar arrecadar mais fundos e também lidar com dificuldades políticas.{{sfn|Prestwich|2007|pp=307–312}}
O Delfim, porém, instalara-se no vale do [[Rio Loire|Loire]] e dali passou a liderar a resistência francesa aos invasores. É nesse momento que aparece em cena uma camponesa mística e visionária de [[Domrémy]]: [[Joana d'Arc]], que conseguiu desarmar uma conspiração para matar o soberano. Os regentes do ineficaz Henrique VI foram perdendo o controle dos territórios conquistados para as forças francesas, sob a liderança de Joana d'Arc.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


As relações com a Flandres também estavam ligadas ao [[Comércio medieval de lã inglesa|comércio de lã inglês]], já que as principais cidades de Flandres dependiam fortemente da produção têxtil e a Inglaterra fornecia grande parte da matéria-prima de que precisavam. Eduardo III ordenou que seu [[Lord Chancellor|chanceler]] se sentasse no [[saco de lã]] no conselho como um símbolo da preeminência do comércio de lã.{{sfn|Friar|2004|pp=480–481}} Na época, havia cerca de 110.000 [[História de Sussex#Lã|ovelhas apenas em Sussex]].<ref name="darby160">R.E.Glassock. England circa 1334 ''in'' {{harvnb|Darby|1976|p=160}}</ref> Os grandes mosteiros medievais ingleses produziam grandes excedentes de lã que eram vendidos para a [[Europa continental]]. Sucessivos governos conseguiram fazer grandes somas de dinheiro tributando-o.{{sfn|Friar|2004|pp=480–481}} O poder marítimo da França levou a perturbações econômicas para a Inglaterra, diminuindo o comércio de lã para Flandres e o comércio de [[vinho]] da Gasconha.{{sfn|Sumption|1999|pp=188–189}}{{sfn|Sumption|1999|pp=233–234}}
Com a França em perigo Joana d'Arc organizara um exército completamente diferente dos exércitos feudais. Guerra era assunto para nobres e homens em geral. Seu exército era liderado por uma mulher camponesa. Os exércitos feudais lutavam por seu senhor e seu [[Feudalismo|feudo]]. O de Joana d'Arc era um exército nacional, que lutava pela França e por seu rei. Os franceses, agora, sentiam-se integrantes de um país. A ideia de nação estava lançada.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Canal da Mancha e a Bretanha ===
[[Imagem:Jeanne d'Arc - Panthéon III.jpg|thumb|Coroação de Carlos VII na [[Catedral de Reims]], segundo as antigas tradições.]]
[[Imagem:BattleofSluys.jpeg|thumb|[[Batalha de Sluys]] de um manuscrito das [[Crônicas de Froissart]], c. 1470]]
Em 22 de junho de 1340, [[Eduardo III de Inglaterra]] e sua frota partiram da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] e no dia seguinte chegaram ao estuário de [[Zwin]]. A frota francesa assumiu uma formação defensiva ao largo do porto de [[Sluis]]. A frota inglesa enganou os franceses fazendo-os acreditar que estavam se retirando. Quando o vento virou no final da tarde, os ingleses atacaram com o vento e o sol atrás deles. A frota francesa foi quase completamente destruída no que ficou conhecido como a [[Batalha de Sluys]].


A Inglaterra dominou o [[Canal da Mancha]] pelo resto da guerra, evitando invasões francesas.{{sfn|Prestwich|2007|pp=307–312}} Neste ponto, os fundos de Eduardo III acabaram e a guerra provavelmente teria terminado se não fosse pela morte de [[João III, Duque da Bretanha]] em 1341 precipitando uma disputa de sucessão entre o meio-irmão do duque [[João de Montfort]] e [[Carlos de Blois]], sobrinho de [[Filipe VI da França]].{{sfn|Rogers|2010|pp=88–89}}
Joana d'Arc conseguiu do Delfim um exército de aproximadamente cinco mil homens e [[Cerco de Orléans|libertou a praça forte de Orléans]] (1429). Essa vitória fez Filipe, o Bom, abandonar seus aliados ingleses e aceitar a autoridade de Carlos VII. Depois conquistou [[Reims]], no norte do país, onde Carlos VII foi coroado segundo as antigas tradições. Carlos VII, aproveitando as discórdias da [[Guerra das Duas Rosas]] na Inglaterra, empreendeu eficaz reestruturação militar que culminará com a conquista da [[Aquitânia]] em 1453.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


Em 1341, o conflito sobre a sucessão do [[Ducado da Bretanha]] iniciou a [[Guerra da Sucessão Bretã]], na qual Eduardo III apoiou João de Montfort e Filipe VI apoiou Carlos de Blois. A ação para os próximos anos se concentrou em uma luta de ida e volta na Bretanha. A cidade de [[Vannes]], na Bretanha, mudou de mãos várias vezes, enquanto outras campanhas na [[Gasconha]] tiveram sucesso misto para ambos os lados.{{sfn|Rogers|2010|pp=88–89}} O Montfort, apoiado pelos ingleses, finalmente conseguiu tomar o ducado, mas não até 1364.<ref>{{citar livro|url=https://www.britannica.com/place/Auray#ref783089 |título=Auray, France |publicado=Encyclopædia Britannica |língua=en |acessodata=2018-04-14 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20180415064637/https://www.britannica.com/place/Auray#ref783089 |arquivodata=15-04-2018 |urlmorta= não|df=dmy-all}}</ref>
Em 1430, aprisionada pelos borguinhões, Joana D'Arc foi entregue aos ingleses, em [[Compiègne]]. Foi julgada [[herético|herética]] por um tribunal eclesiástico e queimada na fogueira, em 1431, em [[Rouen]] (ou [[Ruão]]).{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}


=== Batalha de Crécy e a tomada de Calais ===
O impulso, entretanto, estava dado. Os franceses, incentivados pelo martírio de Joana d'Arc, bateram os ingleses em [[Batalha de Formigny|Formigny]] (1450), tendo conquistado a [[Ducado da Normandia|Normandia]] e grande parte da [[Gasconha]]. O fim da guerra é marcado pela [[batalha de Castillon]], em 1453, quando foi capturada a cidade de [[Bordeaux]], o último reduto inglês. Isto significou, efetivamente, o fim da guerra, e desde então os ingleses mantiveram apenas Calais, que conservaram até 1558. Eles foram forçados a voltar sua atenção aos assuntos internos, principalmente às [[Guerra das Duas Rosas|guerras das Rosas]] e desistiram de todas as reivindicações sobre a França. Nenhum tratado foi assinado de forma a assinalar o fim das hostilidades. A rivalidade anglo-francesa, no entanto, ainda perduraria por muito tempo.{{Carece de fontes|data=agosto de 2012}}
[[Imagem:Crécy - Grandes Chroniques de France.jpg|thumb|left|[[Batalha de Crécy]], 1346, das ''[[Grandes Chroniques de France]]'', [[Biblioteca Britânica]], [[Londres]]]]
{{VT|Guerra dos Cem Anos (1345-1347)}}
Em julho de 1346, [[Eduardo III da Inglaterra]] montou uma grande invasão através do [[Canal da Mancha]] desembarcando em [[Península do Cotentin|Cotentin]], na [[Normandia]], em St. Vaast. O exército inglês capturou a cidade de [[Caen]] em apenas um dia, surpreendendo os franceses. [[Filipe VI da França]] reuniu um grande exército para se opor a Eduardo III, que optou por marchar para o norte em direção a região dos [[Países Baixos (região)|Países Baixos]], saqueando enquanto avançava. Ele alcançou o [[rio Sena]] para encontrar a maioria das travessias destruídas. Ele se moveu cada vez mais para o sul, preocupantemente perto de [[Paris]], até encontrar a travessia em [[Poissy]]. Isso só havia sido parcialmente destruído, então os carpinteiros de seu exército foram capazes de consertá-lo. Ele então continuou seu caminho para [[Condado da Flandres|Flandres]] até chegar ao [[rio Somme]]. O exército cruzou em um vau de maré em [[Blanchetaque]], deixando o exército de Filipe VI encalhado. Eduardo III, auxiliado por essa vantagem, continuou seu caminho para Flandres mais uma vez, até que, encontrando-se incapaz de manobrar Filipe VI, Eduardo III posicionou suas forças para a batalha e o exército de Filipe VI atacou.


[[Imagem:Edward III counting the dead on the battlefield of Crécy.jpg|thumb|[[Eduardo III da Inglaterra]] contando os mortos no campo de [[Batalha de Crécy]]]]
== Consequências ==
O fim da guerra marcou o encerramento de um longo período de instabilidade interna na França que havia começado na [[Conquista normanda da Inglaterra|Conquista Normanda]] (1066), quando [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme o Conquistador]] adicionou o termo "Rei da Inglaterra" aos seus títulos oficiais, se tornando um vassalo (através do [[Ducado da Normandia]]) e um igual (como Rei da Inglaterra) ao Rei da França.<ref name="Janvrin">{{citar livro|último1 =Janvrin |data=6 de junho de 2016 |primeiro1 =Isabelle |último2 =Rawlinson |primeiro2 =Catherine |título=The French in London: From William the Conqueror to Charles de Gaulle |translator=Emily Read |publicado=Wilmington Square Books |isbn=978-1-908524-65-2 |url=https://books.google.com.br/books?id=zKvKDAAAQBAJ&redir_esc=y}}</ref>


A [[Batalha de Crécy]] de 1346 foi um desastre completo para os franceses, em grande parte creditado aos arqueiros usando [[arco longo inglês]] e ao rei francês, que permitiram que seu exército atacasse antes que estivesse pronto.{{sfn|Prestwich|2007|pp=318–319}} Filipe VI apelou a seus aliados escoceses para ajudar com um ataque diversionista ao [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]]. O rei [[David II da Escócia]] respondeu invadindo o norte da Inglaterra, mas seu exército foi derrotado e ele foi capturado na [[Batalha de Neville's Cross]], em 17 de outubro de 1346. Isso reduziu bastante a ameaça da [[Reino da Escócia|Escócia]].{{sfn|Rogers|2010|pp=88–89}}{{sfn|Rogers|2010|pp=55–45}}
Quando a guerra acabou, a Inglaterra foi privada de suas posses [[Europa continental|continentais]], deixando apenas no controle de [[Calais]]. O conflito destruiu o sonho inglês de firmar uma monarquia conjunta pelo continente e levou a rejeição de "tudo que é francês" na Inglaterra, embora a língua [[Língua anglo-normanda|anglo-normando francês]], que era usado como língua franca pela nobreza e no comercio, mantivesse alguma influência no inglês. De fato, em 1362, o [[Inglês britânico|inglês]] foi feito como o idioma oficial do país e o francês deixou de ser ensinado a partir de 1385.<ref name="Janvrin" />


Na [[Reino da França|França]], Eduardo III seguiu para o norte sem oposição e [[Cerco de Calais|sitiou a cidade]] de [[Calais]], no Canal da Mancha, capturando-a em 1347. Isso se tornou um importante ativo estratégico para os ingleses, permitindo-lhes manter as tropas em segurança no norte da França.{{sfn|Prestwich|2007|pp=318–319}} Calais permaneceria sob controle inglês, mesmo após o fim da Guerra dos Cem Anos, até o bem sucedido [[Cerco de Calais (1558)|cerco francês em 1558]].{{sfn|Grummitt|2008|p=1}}
O sentimento patriótico nacional sentido durante a guerra acabou unificando tanto a Inglaterra quanto a França. Apesar da devastação causada no seu solo, a Guerra dos Cem Anos acelerou o processo de transformação da França de uma monarquia feudal para um Estado centralizado.<ref>{{citar livro|último1 =Holmes Jr. |data=1948 |primeiro1 =U. |último2 =Schutz |primeiro2 =A. |título=A History of the French Language |edição=revised |local=[[Columbus, Ohio|Columbus, OH]] |publicado=Harold L. Hedrick |authorlink1=Urban T. Holmes Jr. |authorlink2=:de:Alexander Herman Schutz |url=https://www.questia.com/read/82238646 |lastauthoramp=y }}</ref> Na Inglaterra, os problemas financeiros e políticos que emergiram com a derrota foi um dos catalisadores que levaria a [[Guerra das Rosas]] (1455–1487).<ref>{{citar livro|último =Webster |data=1998 |primeiro =Bruce |título=The Wars of the Roses |publicado=[[University College London|UCL]] Press |local=London |isbn=978-1-85728-493-5 }}</ref>


=== Batalha de Poitiers ===
O historiador Ben Lowe (1997) argumenta que a oposição a guerra dentro da Inglaterra ajudou a moldar a cultura política moderna britânica. Apesar de movimentos antiguerra e pró-paz normal não terem tido muito impacto e normalmente falharem em influenciar acontecimentos naquela época, eles acabaram tendo algum impacto, ao menos em retrospecto. A Inglaterra passaria a mostrar uma certa aversão para conflitos que não atendiam aos interesses nacionais, sofrendo grandes perdas em retorno por um enorme fardo econômico. Comparando a análise do custo-benefício do conflito dos ingleses com os franceses, levando em conta que ambos os países sofriam com líderes fracos e soldados indisciplinados, Lowe nota que os franceses entendiam as nuances da guerra necessários para expulsar uma força de ocupação estrangeira do seu país. Além disso, os reis franceses encontraram meios alternativos de financiar a guerra – impostos sobre vendas, degradando da cunhagem – e estavam mais independentes do que os ingleses a respeito dos impostos passados pelas legislaturas nacionais. Os críticos anti-guerra na Inglaterra tinham assim mais com o que trabalhar do que os franceses.<ref>Lowe, Ben (1997). ''Imagining Peace: History of Early English Pacifist Ideas''. University Park, PA: Penn State University Press. ISBN 978-0-271-01689-4.</ref>
A [[Peste Negra]], que acabara de chegar a [[Paris]] em 1348, começou a devastar a [[Europa]].<ref>''The Black Death'', transl. & ed. Rosemay Horrox, (Manchester University Press, 1994), 9.</ref> Em 1355, depois que a praga passou e a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] conseguiu se recuperar financeiramente,{{sfn|Hewitt|2004|p=1}} o filho e homônimo do rei [[Eduardo III da Inglaterra]], o [[Príncipe de Gales]], mais tarde conhecido como [[Eduardo, o Príncipe Negro]], liderou um [[Chevauchée do Príncipe Negro de 1355|''Chevauchée'']] da [[Gasconha]] para a [[Reino da França|França]], durante o qual ele saqueou [[Avignonet]], [[Castelnaudary]], [[Carcassona]] e [[Narbona]]. No ano seguinte, durante outro [[Chevauchée do Príncipe Negro de 1356|''Chevauchée'']], ele devastou [[Auvérnia]], [[Limusino]] e [[Berry (província)|Berry]], mas não conseguiu tomar [[Burges]]. Ele ofereceu termos de paz ao rei [[João II da França]] (conhecido como João, o Bom), que o flanqueou perto de [[Poitiers]], mas se recusou a se render como preço de sua aceitação.


Isso levou à [[Batalha de Poitiers (1356)|Batalha de Poitiers]] (19 de setembro de 1356), onde o exército do Príncipe Negro derrotou os franceses.{{sfn|Hunt|1903|p=388}} Durante a batalha, o nobre Gascon [[João III de Grailly]] liderou uma unidade montada que estava escondida em uma floresta. O avanço francês foi contido, momento em que de Grailly liderou um movimento de flanco com seus cavaleiros cortando a retirada francesa e conseguindo capturar o rei João II e muitos de seus nobres.{{sfn|Le Patourel|1984|pp=20–21}}{{sfn|Wilson|2011|p=218}} Com João II como refém, seu filho, o [[Delfim de França|Delfim]] (que mais tarde se tornaria [[Carlos V da França]]), assumiu os poderes do rei como [[Regência (governo)|regente]].{{sfn|Guignebert|1930|loc=Volume 1. pp. 304–307}}
A [[Peste (doença)|peste bubônica]] e guerras constantes reduziram a população de todos os beligerantes pela Europa durante este período. A França perdeu quase metade de sua população durante a guerra.<ref>{{citar livro|último =Turchin |data=2003 |primeiro =P. |título=Historical Dynamics: Why States Rise and Fall |publicado=Princeton University Press |isbn=978-0-691-11669-3 |autorlink =Peter Turchin |url=https://books.google.com.br/books?id=dA5LtAEACAAJ&redir_esc=y }}</ref> A [[Normandia]] viu quase três-quartos de seus habitantes morrerem e Paris dois-terços.<ref>{{citar livro|último = Ladurie |data=1987-02-01 |primeiro =E. |url=https://books.google.com/?id=VT9rIMQFt2MC&pg=PA32 |título=The French Peasantry 1450–1660 |translator=[[Alan Sheridan]] |publicado=University of California Press |isbn=978-0-520-05523-0 |autorlink =Emmanuel Le Roy Ladurie }}</ref> A população da Inglaterra foi reduzida em 22% a 33% devido a [[peste negra]].<ref>{{citar livro|último = Neillands |data=2001-11-08 |primeiro =R. |título=The Hundred Years Wa2ndion=revised |publicado=Routledge |local=London |isbn=978-0-415-26131-9 |autorlink =Robin Neillands }}</ref>


Após a Batalha de Poitiers, muitos nobres e mercenários franceses se revoltaram, e o caos reinou. Um relato contemporâneo relatou:
A Guerra dos Cem Anos viu uma rápida e abrangente evolução no campo bélico. Armas, táticas, estrutura militar e social viram grandes mudanças como resposta as demandas do conflito e as lições aprendidas das vitórias e derrotas. Foi durante a guerra que o sistema feudal começou a se desintegrar já que para organizar melhor a guerra, surgiu a necessidade de um governo mais centralizado e um Estado com instituições mais eficientes.<ref>Preston, Richard; Wise, Sydney F.; Werner, Herman O. (1991). ''Men in arms: a history of warfare and its interrelationships with Western society'' (5ª ed.). Beverley MA: Wadsworth Publishing Co Inc. ISBN 978-0-03-033428-3.</ref>


<blockquote>
== Reis durante a guerra ==
... tudo adoeceu com o reino e o Estado foi desfeito. Ladrões e saqueadores se levantaram por toda parte na terra. Os nobres desprezavam e odiavam todos os outros e não pensavam na utilidade e lucro de senhores e homens. Eles subjugaram e despojaram os camponeses e os homens das aldeias. De modo algum eles defenderam seu país de seus inimigos; em vez disso, eles os pisotearam, roubando e saqueando os bens dos camponeses ...<br />
''nascimento - começo de reinado - morte''
<small>Das ''Crônicas de [[Jean de Venette]]''''</small>{{sfn|Venette|1953|p=66}}
</blockquote>


=== Campanha de Reims e a Segunda-Feira Negra ===
{{artigo principal|Campanha de Reims}}
[[Imagem:Black Monday hailstorm.jpg|thumb|upright=0.7|[[Segunda-Feira Negra (1360)|Segunda-Feira Negra]], granizo e relâmpagos devastam o exército inglês em [[Chartres]]]]
[[Eduardo III da Inglaterra]] invadiu a [[Reino da França|França]], pela terceira e última vez, na esperança de capitalizar o descontentamento e tomar o trono. A estratégia do [[Delfim da França]] era a de não envolvimento com o exército inglês em campo. No entanto, Eduardo III queria a coroa e escolheu a cidade catedral de [[Reims]] para sua coroação (Reims era a cidade tradicional da coroação).{{sfn|Prestwich|2007|p=326}} No entanto, os cidadãos de Reims construíram e reforçaram as defesas da cidade antes da chegada de Eduardo III e seu exército.{{sfn|Le Patourel|1984|p=189}} Eduardo III sitiou a cidade por cinco semanas, mas as defesas resistiram e não houve coroação.{{sfn|Prestwich|2007|p=326}} Eduardo III foi para [[Paris]], mas recuou depois de algumas escaramuças nos subúrbios. Em seguida foi a cidade de [[Chartres]].

O desastre ocorreu em uma tempestade de [[granizo]] no exército acampado, causando mais de 1.000 mortes inglesas, a chamada [[Segunda-Feira Negra (1360)|Segunda-Feira Negra]] na [[Páscoa]] de 1360. Isso devastou o exército de Eduardo III e o forçou a negociar quando abordado pelos franceses.<ref>{{citar web |título=Apr 13, 1360: Hail kills English troops |url=http://www.history.com/this-day-in-history/hail-kills-english-troops |urlmorta= não|arquivourl=https://archive.today/20120905150026/http://www.history.com/this-day-in-history/hail-kills-english-troops |arquivodata=5-09-2012 |acessodata=2016-01-22 |website=[[History (U.S. TV network)|History.com]] |df=dmy-all}}</ref> Uma conferência foi realizada em [[Brétigny]] que resultou no [[Tratado de Brétigny]] (8 de maio de 1360).{{sfn|Le Patourel|1984|p=32}} O tratado foi ratificado em [[Calais]] em outubro. Em troca do aumento das terras na [[Ducado da Aquitânia|Aquitânia]], Eduardo III renunciou à [[Ducado da Normandia|Normandia]], [[Turene]], [[Condado de Anjou|Anjou]] e [[Maine (província)|Maine]] e consentiu em reduzir o resgate do rei [[João II da França]] em um milhão de coroas. Eduardo III também abandonou sua reivindicação à coroa da França.{{sfn|Le Patourel|1984|pp=20–21}}{{sfn|Guignebert|1930|loc=Volume 1. pp. 304–307}}{{sfn|Chisholm|1911|p=501}}

== Primeira paz: 1360-1369 ==
[[Imagem:Map- France at the Treaty of Bretigny.jpg|thumb|[[Reino da França|França]] no [[Tratado de Brétigny]], propriedades inglesas em vermelho claro]]
O rei francês, [[João II da França]], tinha sido mantido em cativeiro na [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]]. O [[Tratado de Brétigny]] estabeleceu seu resgate em 3 milhões de coroas e permitiu que reféns fossem mantidos no mesmo lugar de João II. Os reféns incluíam dois de seus filhos, vários príncipes e nobres, quatro cidadãos de [[Paris]] e dois cidadãos de cada uma das dezenove principais cidades da [[Reino da França|França]]. Enquanto esses reféns eram mantidos, João II retornou à França para tentar arrecadar fundos para pagar o resgate. Em 1362, o filho de João II, [[Luís I, Duque de Anjou]], refém em [[Calais]], controlado pelos ingleses, escapou do cativeiro. Assim, com a partida de seu refém substituto, João II sentiu-se obrigado a retornar ao cativeiro na Inglaterra.{{sfn|Guignebert|1930|loc=Volume 1. pp. 304–307}}{{sfn|Chisholm|1911|p=501}}

A coroa francesa estava em desacordo com [[Reino de Navarra|Navarra]] (perto do sul da [[Gasconha]]) desde 1354, e em 1363 os navarros usaram o cativeiro de João II em [[Londres]] e a fraqueza política do [[Delfim da França]] para tentar tomar o poder.{{sfn|Wagner|2006|pp=102–103}} Embora não houvesse um tratado formal, [[Eduardo III da Inglaterra]] apoiou os movimentos de Navarra, principalmente porque havia uma perspectiva de que ele pudesse ganhar o controle sobre as províncias do norte e do oeste como consequência. Com isso em mente, Eduardo III deliberadamente retardou as negociações de paz.{{sfn|Ormrod|2001|p=384}} Em 1364, João II morreu em Londres, enquanto ainda em cativeiro honorável.<ref name="Backman179">{{harvnb|Backman|2003|pp=179–180}} – Nobres capturados em batalha foram mantidos em "Cativeiro Honorável", que reconhecia seu status de prisioneiros de guerra e permitia resgate.</ref> [[Carlos V da França|Carlos V]] o sucedeu como rei da França.{{sfn|Guignebert|1930|loc=Volume 1. pp. 304–307}}<ref name="britannica1">Britannica. [http://www.britannica.com/EBchecked/topic/78946/Treaty-of-Bretigny Treaty of Brétigny] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20121101145830/http://www.britannica.com/EBchecked/topic/78946/Treaty-of-Bretigny |data=1-11-2012 }}. Retrieved 21 September 2012</ref> Em 16 de maio, um mês após a ascensão do Delfim e três dias antes de sua coroação como Carlos V, os navarros sofreu uma derrota esmagadora na [[Batalha de Cocherel]].{{sfn|Wagner|2006|p=86}}

== Ascendência francesa sob Carlos V: 1369-1389 ==
{{Campanhainfo Guerra Carolina}}
=== Aquitânia e Castela ===
{{artigo principal|Guerra dos Cem Anos (1369-1389)}}
{{VT|Primeira Guerra Civil de Castela|l1=Guerra Civil Castelhana}}
Em 1366 houve uma [[Primeira Guerra Civil de Castela|guerra civil]] de sucessão em [[Coroa de Castela#Ascensão dos Trastâmaras ao Trono|Castela]] (parte da atual [[Espanha]]). As forças do governante [[Pedro I de Castela]] foram lançadas contra as de seu meio-irmão [[Henrique II de Castela|Henrique de Trastámara]]. A coroa inglesa apoiou Pedro I; os franceses apoiaram Henrique. As forças francesas foram lideradas por [[Bertrand du Guesclin]], um bretão, que ascendeu de origens relativamente humildes à proeminência como um dos líderes de guerra da [[Reino da França|França]]. Carlos V forneceu uma força de 12.000, com du Guesclin à frente, para apoiar Trastámara em sua invasão de Castela.{{sfn|Curry|2002|pp=69–70}}

[[Imagem:Du Guesclin Dinan.jpg|thumb|Estátua de [[Bertrand du Guesclin]] em [[Dinan]]]]

Pedro I apelou para a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] e o [[Eduardo, o Príncipe Negro]] da [[Ducado da Aquitânia|Aquitânia]] por ajuda, mas nenhuma ajuda foi recebida, forçando Pedro I ao exílio na Aquitânia. O Príncipe Negro já havia concordado em apoiar as reivindicações de Pedro I, mas as preocupações com os termos do [[Tratado de Brétigny]] o levaram a ajudar Pedro I como representante da Aquitânia, em vez da Inglaterra. Ele então liderou um exército Anglo-Gascão em Castela. Pedro I foi restaurado ao poder depois que o exército de Trastámara foi derrotado na [[Batalha de Nájera]].{{sfn|Wagner|2006|p=78}}

Embora os castelhanos tivessem concordado em financiar o Príncipe Negro, eles não o fizeram. O príncipe estava sofrendo com problemas de saúde e voltou com seu exército para a Aquitânia. Para pagar as dívidas contraídas durante a campanha de Castela, o príncipe instituiu um [[imposto de lareira]]. [[Arnaud Amanieu d'Albret]], senhor de [[Casa de Albret|Albret]], lutou ao lado do Príncipe Negro durante a guerra. Albret, que já estava descontente com o influxo de administradores ingleses na Aquitânia ampliada, recusou-se a permitir que o imposto fosse cobrado em seu feudo. Ele então se juntou a um grupo de senhores da [[Gasconha]] que apelaram a [[Carlos V da França]] por apoio em sua recusa em pagar o imposto. Carlos V convocou um senhor da Gasconha e o Príncipe Negro para ouvir o caso em seu Supremo Tribunal em Paris. O Príncipe Negro respondeu que iria para [[Paris]] com 60.000 homens atrás dele. A guerra estourou novamente e [[Eduardo III da Inglaterra]] reclamou o título de rei da França.{{sfn|Wagner|2006|p=122}} Carlos V declarou que todas as possessões inglesas na França foram confiscadas e, antes do final de 1369, toda a Aquitânia estava em plena revolta.{{sfn|Wagner|2006|p=122}}{{sfn|Wagner|2006|pp=3–4}}

Com a saída do Príncipe Negro de Castela, Henrique de Trastámara liderou uma segunda invasão que terminou com a morte de Pedro I na [[Batalha de Montiel]] em março de 1369. O novo regime castelhano forneceu apoio naval às campanhas francesas contra a Aquitânia e a Inglaterra.{{sfn|Wagner|2006|p=78}} Em 1372, a frota castelhana derrotou a frota inglesa na [[Batalha de La Rochelle]].

=== Campanha de João de Gante de 1373 ===
Em agosto de 1373, [[João de Gante]], acompanhado por [[João V de Bretanha]], [[Lista de governantes da Bretanha|duque da Bretanha]] liderou uma força de 9.000 homens de [[Calais]] em um ''[[chevauchée]]''. Embora inicialmente bem-sucedidos, pois as forças francesas não estavam suficientemente concentradas para se opor a eles, os ingleses encontraram mais resistência à medida que se deslocavam para o sul. As forças francesas começaram a se concentrar em torno da força inglesa, mas sob as ordens de [[Carlos V da França]], os franceses evitaram uma batalha definida. Em vez disso, eles caíram sobre as forças destacadas do corpo principal para atacar ou pilhar. Os franceses seguiram os ingleses e, em outubro, os ingleses se viram encurralados no [[rio Allier]] por quatro forças francesas. Com alguma dificuldade, os ingleses atravessaram a ponte de [[Moulins (Allier)|Moulins]], mas perderam toda a sua bagagem e saque. Os ingleses continuaram para o sul através do planalto de [[Limusino]], mas o tempo estava ficando severo. Homens e cavalos morreram em grande número e muitos soldados, forçados a marchar a pé, descartaram suas armaduras. No início de dezembro, o exército inglês entrou em território aliado na [[Gasconha]]. No final de dezembro eles estavam em [[Bordéus]], famintos, mal equipados e tendo perdido mais da metade dos 30.000 cavalos com os quais haviam deixado Calais. Embora a marcha pela [[Reino da França|França]] tenha sido um feito notável, foi um fracasso militar.{{sfn|Sumption|2012|pp=187–196}}

=== Tumulto inglês ===
[[Imagem:Ofensivas Tovar-Vienne contra Inglaterra 01.jpg|thumb|A marinha Franco-Castelhana, liderada pelos almirantes [[Jean de Vienne|de Vienne]] e [[Fernão Sanches de Tovar|Tovar]], conseguiu invadir as costas inglesas pela primeira vez desde o início da Guerra dos Cem Anos]]
Com sua saúde se deteriorando, [[Eduardo, o Príncipe Negro]] retornou à [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] em janeiro de 1371, onde seu pai [[Eduardo III da Inglaterra]] era idoso e também com problemas de saúde. A doença do príncipe era debilitante e ele morreu em 8 de junho de 1376.{{sfn|Barber|2004}} Eduardo III morreu no ano seguinte em 21 de junho de 1377{{sfn|Ormrod|2008}} e foi sucedido pelo segundo filho do Príncipe Negro, [[Ricardo II da Inglaterra]], que ainda tinha 10 anos ([[Eduardo de Angoulême]], o primeiro filho do Príncipe Negro, havia morrido algum tempo antes).{{sfn|Tuck|2004}} O [[Tratado de Brétigny]] deixou Eduardo III e a Inglaterra com propriedades ampliadas na [[Reino da França|França]], mas um pequeno exército profissional francês sob a liderança de [[Bertrand du Guesclin]] empurrou os ingleses de volta; quando [[Carlos V da França]] morreu em 1380, os ingleses detinham apenas [[Calais]] e alguns outros portos.<ref name="vauchez283">Francoise Autrand. Charles V King of France ''in'' {{harvnb|Vauchéz|2000|pp=283–284}}</ref>

Era comum nomear um regente no caso de um monarca criança, mas nenhum [[Regência (governo)|regente]] foi nomeado para Ricardo II, que exerceu nominalmente o poder da realeza a partir da data de sua ascensão em 1377.{{sfn|Tuck|2004}} Entre 1377 e 1380, o poder real estava nas mãos de uma série de conselhos. A comunidade política preferiu isso a uma regência liderada pelo tio do rei, [[João de Gante]], embora Gante permanecesse altamente influente.{{sfn|Tuck|2004}} Ricardo II enfrentou muitos desafios durante seu reinado, incluindo a [[Revolta dos camponeses na Inglaterra em 1381|Revolta dos Camponeses]] liderada por [[Wat Tyler]] em 1381 e uma Guerra Anglo-Escocesa em 1384-1385. Suas tentativas de aumentar os impostos para pagar sua aventura escocesa e para a proteção de Calais contra os franceses o tornaram cada vez mais impopular.{{sfn|Tuck|2004}}

==== Campanha do Conde de Buckingham de 1380 ====
Em julho de 1380, o [[Tomás de Woodstock]], conde de Buckingham comandou uma expedição à [[Reino da França|França]] para ajudar o aliado da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]], o [[João V, Duque da Bretanha]]. Os franceses recusaram a batalha diante das muralhas de [[Troyes]] em 25 de agosto; As forças de Buckingham continuaram seu ''[[chevauchée]]'' e em novembro sitiaram [[Nantes]].{{sfn|Sumption|2012|pp=385–390, 396–399}} O apoio esperado do duque da Bretanha não apareceu e diante de graves perdas de homens e cavalos, Buckingham foi forçado a abandonar o cerco em janeiro de 1381.{{sfn|Sumption|2012|p=409}} Em fevereiro, reconciliada com o regime do novo rei francês [[Carlos VI da França]] pelo [[Tratado de Guérande (1365)#Eventos subsequentes|Tratado de Guérande]], a [[Ducado da Bretanha|Bretanha]] pagou 50.000 francos a Buckingham para que ele abandonasse o cerco e a campanha.{{sfn|Sumption|2012|p=411}}

=== Tumulto francês ===
Após as mortes de [[Carlos V da França]] e [[Bertrand du Guesclin]] em 1380, a [[Reino da França|França]] perdeu sua liderança principal e impulso geral na guerra. [[Carlos VI da França]] sucedeu seu pai como rei da França aos 11 anos de idade, e assim foi colocado sob uma [[Regência (governo)|regência]] liderada por seus tios, que conseguiram manter um controle efetivo dos assuntos do governo até cerca de 1388, bem depois de Carlos VI ter alcançado a maioridade real.

Com a França enfrentando destruição generalizada, peste e recessão econômica, a alta tributação colocou um fardo pesado sobre o campesinato e as comunidades urbanas francesas. O esforço de guerra contra a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] dependia em grande parte da tributação real, mas a população estava cada vez mais relutante em pagar por isso, como seria demonstrado nas revoltas de [[Harelle]] e [[Maillotin]] em 1382. Carlos V havia abolido muitos desses impostos em seu leito de morte, mas tentativas subsequentes de restaurá-los provocaram hostilidade entre o governo francês e a população.

[[Filipe II da Borgonha]], tio do rei francês, reuniu um exército Franco-Borguinhões e uma frota de 1.200 navios perto da cidade de [[Sluis]], na [[Zelândia (Países Baixos)|Zelândia]], no verão e outono de 1386, para tentar uma invasão da Inglaterra, mas esse empreendimento fracassou. No entanto, o irmão de Filipe II, [[João de Berry]], apareceu deliberadamente atrasado, de modo que o clima de outono impediu que a frota partisse e o exército invasor se dispersasse novamente.

Dificuldades em aumentar impostos e receitas prejudicaram a capacidade dos franceses de combater os ingleses. Nesse ponto, o ritmo da guerra havia diminuído amplamente, e ambas as nações se viram lutando principalmente por meio de [[guerras por procuração]], como durante o [[Crise dinástica de 1383–1385|interregno português de 1383-1385]]. O partido da independência do [[Reino de Portugal]], que era apoiado pelos ingleses, venceu os partidários da reivindicação do rei de [[Coroa de Castela|Castela]] ao trono português, que por sua vez era apoiado pelos franceses.

== Segunda paz: 1389-1415 ==
{{Campanhainfo Revolta de Owain Glyndŵr}}
[[File:Apanages.svg|thumb|França em 1388, pouco antes de assinar uma trégua. Os territórios ingleses são mostrados em vermelho, os territórios franceses são em azul escuro, os territórios papais são em laranja e os vassalos franceses têm as outras cores]]
{{VT|Guerra civil dos Armagnacs e Borguinhões}}
A guerra tornou-se cada vez mais impopular entre o público inglês devido aos altos impostos necessários para o esforço de guerra. Esses impostos foram vistos como um dos motivos da [[Revolta dos camponeses na Inglaterra em 1381|Revolta dos Camponeses]].{{sfn|Baker|2000|p=6}} A indiferença de [[Ricardo II da Inglaterra]] à guerra, juntamente com seu tratamento preferencial de alguns poucos amigos e conselheiros seletos, enfureceu uma aliança de senhores que incluía [[Tomás de Woodstock|um de seus tios]]. Este grupo, conhecido como [[Lords Appellant]], conseguiu apresentar acusações de traição contra cinco dos conselheiros e amigos de Ricardo II no [[Parlamento Impiedoso]]. Os Lords Appellant foram capazes de ganhar o controle do conselho em 1388, mas não conseguiram reacender a guerra na [[Reino da França|França]]. Embora o testamento estivesse lá, os fundos para pagar as tropas faltavam, então no outono de 1388 o Conselho concordou em retomar as negociações com a coroa francesa, começando em 18 de junho de 1389 com a assinatura da [[Trégua de Leulinghem]] de três anos.{{sfn|Baker|2000|p=6}}{{sfn|Neillands|2001|pp=182–184}}

Em 1389, o tio e defensor de Ricardo II, [[João de Gante]], retornou de [[Coroa de Castela|Castela]] e Ricardo foi capaz de reconstruir seu poder gradualmente até 1397, quando reafirmou sua autoridade e destruiu os três principais entre os Lords Appellant. Em 1399, depois que João de Gante morreu, Ricardo II deserdou o filho de Gante, o exilado [[Henrique de Bolingbroke]]. Bolingbroke retornou à [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] com seus partidários, depôs Ricardo II e se coroou [[Henrique IV da Inglaterra]].{{sfn|Tuck|2004}}{{sfn|Neillands|2001|pp=182–184}}{{sfn|Curry|2002|pp=77–82}} Na [[Reino da Escócia|Escócia]], os problemas trazidos pela mudança de regime inglês provocaram ataques de fronteira que foram combatidos por uma invasão em 1402 e a derrota de um exército escocês na [[Batalha de Homildon Hill]].{{sfn|Mortimer|2008|pp=253–254}} Uma disputa sobre os despojos entre Henrique IV e [[Henry Percy, 1.º Conde de Northumberland]], resultou em uma longa e sangrenta luta entre os dois pelo controle do norte da Inglaterra, resolvida apenas com a destruição quase completa da [[Casa de Percy]] em 1408.{{sfn|Mortimer|2008|pp=263–264}}{{sfn|Bean|2008}}

No [[País de Gales]], [[Owain Glyndŵr]] foi declarado [[Príncipe de Gales]] em 16 de setembro de 1400. Ele foi o líder da rebelião mais séria e generalizada contra a autoridade da Inglaterra no País de Gales desde a [[Conquista de Gales por Eduardo I da Inglaterra|conquista de 1282-1283]]. Em 1405, os franceses aliaram-se a Glyndŵr e aos castelhanos em Castela; um exército Granco-Galês avançou até [[Worcester]], enquanto os castelhanos usaram Galés para invadir e queimar todo o caminho de [[Cornualha]] a [[Southampton]], antes de se refugiar em [[Harfleur]] no inverno.<ref>{{citar livro|título=Agincourt: Myth and Reality 1915–2015 |página=70}}</ref> A [[Ascensão de Glyndŵr]] foi finalmente derrubada em 1415 e resultou na semi-independência galesa por vários anos.{{sfn|Smith|2008}}

[[Imagem:Assassinat louis orleans.jpg|thumb|left|[[Assassinato de Luís de Valois, Duque de Orleães]] em [[Paris]] em 1407]]

Em 1392, [[Carlos VI da França]] de repente caiu na loucura, forçando a França a uma [[Regência (governo)|regência]] dominada por seus tios e seu irmão. Um conflito pelo controle da regência começou entre seu tio [[Filipe II da Borgonha|Filipe, o Ousado]], [[Duque de Borgonha]] e seu irmão, [[Luís de Valois, Duque de Orleães]]. Após a morte de Filipe, o Ousado, seu filho e herdeiro [[João, Duque da Borgonha|João, o Destemido]], continuou a luta contra Luís de Valois, mas com a desvantagem de não ter nenhuma relação próxima com o rei. Encontrando-se superado politicamente, João, o Destemido ordenou o [[Assassinato de Luís de Valois, Duque de Orleães|assassinato de Luís de Valois]] em retaliação. Seu envolvimento no assassinato foi rapidamente revelado e a família [[Armagnacs]] assumiu o poder político em oposição a João, o Destemido. Em 1410, ambos os lados estavam concorrendo à ajuda das forças inglesas em uma guerra civil.{{sfn|Curry|2002|pp=77–82}} Em 1418, [[Paris]] foi tomada pelos borgonheses, que não conseguiram impedir o massacre do [[Bernardo VII, Conde de Armagnac]] e seus seguidores por uma multidão parisiense, com um número de mortos estimado entre 1.000 e 5.000.<ref>{{harvnb|Sizer|2007}}</ref>

Ao longo deste período, a Inglaterra enfrentou repetidos ataques de [[pirata]]s que prejudicaram o comércio e a marinha. Há alguma evidência de que Henrique IV usou a pirataria legalizada pelo estado como uma forma de guerra no [[Canal da Mancha]]. Ele usou essas campanhas de [[corsário]]s para pressionar os inimigos sem arriscar uma guerra aberta.<ref name="hattendorf76">Ian Friel. The English and War at Sea. c.1200 – c.1500 ''in'' {{harvnb|Hattendorf|Unger|2003|pp=76–77}}</ref> Os franceses responderam na mesma moeda e os piratas franceses, sob proteção escocesa, invadiram muitas cidades costeiras inglesas.<ref name="nolan424">Nolan. The Age of Wars of Religion. p. 424</ref> As dificuldades domésticas e dinásticas enfrentadas pela Inglaterra e pela França nesse período acalmaram a guerra por uma década.<ref name=nolan424 /> Henrique IV morreu em 1413 e foi substituído por seu filho mais velho, [[Henrique V de Inglaterra]]. A doença mental de Carlos VI permitiu que seu poder fosse exercido por príncipes reais cujas rivalidades causaram profundas divisões na França. Em 1414, enquanto Henrique V mantinha a corte em [[Leicester]], ele recebeu embaixadores do [[Estado da Borgonha]].{{sfn|Allmand|2010}} Henrique V credenciou enviados ao rei francês para deixar claras suas reivindicações territoriais na França; ele também exigiu a mão da filha mais nova de Carlos VI, [[Catarina de Valois]]. Os franceses rejeitaram suas exigências, levando Henrique V a se preparar para a guerra.{{sfn|Allmand|2010}}

== Retomada da guerra sob Henrique V: 1415-1429 ==
{{Campanhainfo Guerra Lancastriana}}
[[Imagem:Battle of Agincourt, St. Alban's Chronicle by Thomas Walsingham.jpg|thumb|Miniatura do século XV representando a [[Batalha de Azincourt]] de 1415]]
{{artigo principal|Guerra dos Cem Anos (1415-1453)|Batalha de Azincourt}}
=== Aliança da Borgonha e a tomada de Paris ===
==== Batalha de Azincourt (1415) ====
Em agosto de 1415, [[Henrique V de Inglaterra|Henrique V]] partiu da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] com uma força de cerca de 10.500 homens e sitiou [[Harfleur]], na [[Reino da França|França]]. A cidade resistiu por mais tempo do que o esperado, mas finalmente se rendeu em 22 de setembro. Por causa do atraso inesperado, a maior parte da temporada de campanha se foi. Em vez de marchar diretamente para [[Paris]], Henrique V optou por fazer uma expedição de invasão pela França em direção a [[Calais]], já ocupada pelos ingleses. Em uma campanha que lembra [[Batalha de Crécy|Crécy]], ele se viu derrotado e com poucos suprimentos e teve que lutar contra um exército francês muito maior na [[Batalha de Azincourt]], ao norte do [[rio Somme]]. Apesar dos problemas e de ter uma força menor, sua vitória foi quase total; a derrota francesa foi catastrófica, custando a vida de muitos dos líderes [[Armagnacs]]. Cerca de 40% da nobreza francesa foi morta.{{sfn|Turchin|2003|pp=179–180}} Henrique V estava aparentemente preocupado que o grande número de prisioneiros levados fosse um risco de segurança (havia mais prisioneiros franceses do que soldados em todo o exército inglês) e ordenou a morte deles.{{sfn|Allmand|2010}}

==== Tratado de Troyes (1420) ====
{{artigo principal|Tratado de Troyes}}
[[Henrique V da Inglaterra]] retomou grande parte da [[Normandia]], incluindo [[Caen]] em 1417, e [[Rouen]] em 19 de janeiro de 1419, tornando a Normandia inglesa pela primeira vez em dois séculos. Uma aliança formal foi feita com a [[Estado da Borgonha|Borgonha]], que havia tomado [[Paris]] após o assassinato do duque [[João, Duque da Borgonha|João, o Destemido]], em 1419. Em 1420, Henrique V se encontrou com o rei [[Carlos VI da França]]. Eles assinaram o [[Tratado de Troyes]], pelo qual Henrique V finalmente se casou com a filha de Carlos VI, [[Catarina de Valois]], e os herdeiros de Henrique V herdariam o trono da [[Reino da França|França]]. O [[Delfim de França|Delfim]], [[Carlos VII da França]], foi declarado ilegítimo. Henrique V entrou formalmente em Paris no final daquele ano e o acordo foi ratificado pelos [[Assembleia dos Estados Gerais|Estados Gerais]] ({{lang-fr|''Les États-Généraux''}}).{{sfn|Allmand|2010}}

==== Morte do Duque de Clarence (1421) ====
[[Imagem:Clan member crest badge - Clan Carmichael.svg|thumb|Escudo do [[Clã Carmichael]] com uma lança quebrada comemorando a derrubada do [[Tomás de Lencastre, Duque de Clarence|Duque de Clarence]], levando à sua morte na [[Batalha de Baugé]]]]
Em 22 de março de 1421, o progresso de [[Henrique V da Inglaterra]] em sua campanha francesa sofreu uma reversão inesperada. Henrique V havia deixado seu irmão e herdeiro presuntivo [[Tomás de Lencastre, Duque de Clarence|Thomas, Duque de Clarence]] no comando enquanto ele retornava à [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]]. Clarence contratou uma força Franco-Escocesa de 5.000 homens, liderada por [[Gilbert Motier de La Fayette]] e [[John Stewart, Conde de Buchan]] na [[Batalha de Baugé]]. Clarence, contra o conselho de seus tenentes, antes que seu exército estivesse totalmente reunido, atacou com uma força de não mais de 1.500 homens. Então, durante o curso da batalha, ele liderou uma carga de algumas centenas de homens no corpo principal do exército Franco-Escocês, que rapidamente envolveu os ingleses. Na confusão que se seguiu, o escocês, John Carmichael de Douglasdale, quebrou sua lança derrubando o Duque de Clarence de seu cavalo. Uma vez no chão, o duque foi morto por [[Alexander Buchanan (soldado)|Alexander Buchanan]].{{sfn|Allmand|2010}}{{sfn|Wagner|2006|pp=44–45}} O corpo do Duque de Clarence foi recuperado do campo por [[Thomas Montacute, 4.º Conde de Salisbury]], que conduziu a retira inglesa.{{sfn|Harriss|2010}}

=== Sucesso inglês ===
[[Henrique V da Inglaterra]] retornou à [[Reino da França|França]] e foi para [[Paris]], visitando [[Chartres]] e [[Gâtinais]] antes de retornar a Paris. De lá, ele decidiu atacar a cidade de [[Meaux]], controlada pelo [[Delfim da França]]. Acabou sendo mais difícil de superar do que se pensava. O cerco começou por volta de 6 de outubro de 1421, e a cidade resistiu por sete meses antes de finalmente cair em 11 de maio de 1422.{{sfn|Allmand|2010}} No final de maio, Henrique V foi acompanhado por sua rainha e, juntamente com a corte francesa, foram descansar em [[Senlis (Oise)|Senlis]]. Enquanto estava lá, tornou-se evidente que ele estava doente (possivelmente [[disenteria]]), e quando ele partiu para o Alto Loire, ele desviou para o castelo real em [[Vincennes]], perto de Paris, onde morreu em 31 de agosto.{{sfn|Allmand|2010}} O idoso e insano [[Carlos VI da França]] morreu dois meses depois, em 21 de outubro. Henrique V deixou um filho único, seu filho de nove meses, Henrique, que mais tarde se tornaria [[Henrique VI da Inglaterra]].{{sfn|Griffiths|2015}}

Em seu leito de morte, como Henrique VI era apenas uma criança, Henrique V deu ao [[João de Lencastre, Duque de Bedford]] a responsabilidade pela França inglesa. A guerra na França continuou sob o comando de Bedford e várias batalhas foram vencidas. Os ingleses obtiveram uma vitória enfática na [[Batalha de Verneuil]] (17 de agosto de 1424). Na [[Batalha de Baugé]], o [[Tomás de Lencastre, Duque de Clarence]] correu para a batalha sem o apoio de seus arqueiros. Em Verneuil, os arqueiros lutaram com efeitos devastadores contra o exército Franco-Escocês. O efeito da batalha foi destruir virtualmente o exército de campo do Delfim e eliminar os escoceses como uma força militar significativa para o resto da guerra.{{sfn|Griffiths|2015}}{{sfn|Wagner|2006|pp=307–308}}

== Vitória francesa: 1429-1453 ==
{{artigo principal|Guerra dos Cem Anos (1415-1453)}}
=== Joana d'Arc e o renascimento francês ===
[[Imagem:Siege orleans.jpg|thumb|upright=0.9|left|A primeira imagem ocidental de uma batalha com canhões: o [[Cerco de Orleães]] em 1429. De ''Les Vigiles de Charles VII'', [[Biblioteca Nacional da França]], [[Paris]]]]
[[Imagem:Contemporaine afb jeanne d arc.png|thumb|upright=0.8|[[Joana d'Arc]] (pintura de 1429)]]
A aparição de [[Joana d'Arc]] no [[Cerco de Orleães]] provocou um renascimento do espírito francês, e a maré começou a virar contra os ingleses.{{sfn|Griffiths|2015}} Os ingleses sitiaram [[Orleães]] em 1428, mas sua força foi insuficiente para [[Circunvalação|investir]] totalmente a cidade. Em 1429, Joana d'Arc persuadiu o [[Delfim da França]] a mandá-la para o cerco, dizendo que ela havia recebido visões de [[Deus]] dizendo-lhe para expulsar os ingleses. Ela elevou o moral das tropas, e eles atacaram os [[Reduto (arquitetura)|redutos]] ingleses, forçando os ingleses a levantar o cerco. Inspirados por Joana d'Arc, os franceses tomaram várias fortalezas inglesas no [[rio Loire]].{{sfn|Davis|2003|pp=76–80}}

Os ingleses recuaram do [[Vale do Loire]], perseguidos por um exército francês. Os ingleses perderam 2.200 homens, e o comandante, [[John Talbot|John Talbot, 1.º Conde de Shrewsbury]], foi feito prisioneiro. Esta vitória abriu o caminho para o Delfim marchar para [[Reims]] para sua coroação como [[Carlos VII da França]], em 16 de julho de 1429.{{sfn|Davis|2003|pp=76–80}}<ref name="nrofast">{{citar web |título=Sir John Fastolf (MC 2833/1) |url=http://www.archives.norfolk.gov.uk/view/NCC110270 |urlmorta= sim|arquivourl=https://web.archive.org/web/20150923173236/http://www.archives.norfolk.gov.uk/view/NCC110270 |arquivodata=23-09-2015 |acessodata=20-12-2012 |publicado=[[Norfolk Record Office]] |local=[[Norwich]] |df=dmy-all}}</ref>

Após a coroação, o exército de Carlos VII não se saiu bem. Uma tentativa francesa de [[Cerco de Paris (1429)|Cerco de Paris]] foi derrotada em 8 de setembro de 1429, e Carlos VII retirou-se para o Vale do Loire.{{sfn|Jaques|2007|p=777}}

=== As coroações de Henrique e a deserção da Borgonha ===
[[Henrique VI da Inglaterra]] foi coroado rei da [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] na [[Abadia de Westminster]] em 5 de novembro de 1429 e rei da [[Reino da França|França]] em [[Catedral de Notre-Dame de Paris|Notre-Dame]], em [[Paris]], em 16 de dezembro de 1431.{{sfn|Griffiths|2015}}

[[Joana d'Arc]] foi capturada pelos borgonheses no [[Cerco de Compiègne]] em 23 de maio de 1430. Os borgonheses então a transferiram para os ingleses, que organizaram um julgamento liderado por [[Pedro Cauchon]], bispo de Beauvais e colaborador do governo inglês que serviu como membro do Conselho Inglês em [[Rouen]].<ref>Pernoud, Régine. "Joan of Arc By Herself And Her Witnesses", pp. 159-162, 165.</ref> Joana d'Arc foi condenada e queimada na fogueira em 30 de maio de 1431{{sfn|Davis|2003|pp=76–80}} (ela foi reabilitada 25 anos depois pelo [[Papa Calisto III]]).

Após a morte de Joana d'Arc, os destinos da guerra se voltaram dramaticamente contra os ingleses.{{sfn|Lee|1998|pp=145–147}} A maioria dos conselheiros reais de Henrique VI era contra a paz. Entre as facções, o [[João de Lencastre, Duque de Bedford]] queria defender a [[Normandia]], o [[Humberto de Lencastre, Duque de Gloucester]] estava comprometido apenas com [[Calais]], enquanto o [[Henrique Beaufort (cardeal)|cardeal Beaufort]] estava inclinado à paz. As negociações pararam. Parece que no [[Tratado de Arras (1435)|Congresso de Arras]], no verão de 1435, onde o duque de Beaufort foi mediador, os ingleses foram irrealistas em suas reivindicações. Poucos dias depois que o congresso terminou em setembro, [[Filipe III de Borgonha]], [[duque de Borgonha]], desertou em favor a [[Carlos VII da França]], assinando o [[Tratado de Arras (1435)|Tratado de Arras]] que devolveu Paris ao rei da França. Este foi um grande golpe para a soberania inglesa na França.{{sfn|Griffiths|2015}} O duque de Bedford morreu em 14 de setembro de 1435 e mais tarde foi substituído por [[Ricardo, 3.º Duque de Iorque]].{{sfn|Lee|1998|pp=145–147}}

=== Ressurgência francesa ===
[[Imagem:Vigiles du roi Charles VII 32.jpg|thumb|A [[Batalha de Formigny]] (1450)]]
A fidelidade da [[Estado da Borgonha|Borgonha]] permaneceu inconstante, mas o foco inglês em expandir seus domínios na região dos [[Países Baixos (região)|Países Baixos]] lhes deixou pouca energia para intervir no resto da [[Reino da França|França]].{{sfn|Sumption|1999|p=562}} As longas tréguas que marcaram a guerra deram a [[Carlos VII da França]] tempo para centralizar o estado francês e reorganizar seu exército e governo, substituindo suas tropas feudais por um exército profissional mais moderno que poderia fazer bom uso de seus números superiores. Um castelo que uma vez só poderia ser capturado após um cerco prolongado agora cairia após alguns dias do bombardeio de canhões. A artilharia francesa desenvolveu uma reputação como a melhor do mundo.{{sfn|Lee|1998|pp=145–147}}

Em 1449, os franceses retomaram [[Rouen]]. Em 1450, o [[Carlos I, Duque de Bourbon]], [[Condes de Clermont-en-Beauvaisis|conde de Clermont]] e Artur de Richemont, [[conde de Richmond]], da [[Casa de Montfort|família Montfort]] (o futuro [[Artur III, duque da Bretanha]]), capturou um exército inglês tentando apoiar [[Caen]] e o derrotou na [[Batalha de Formigny]] em 1450. As forças de Richemont atacaram o exército inglês pelo flanco e pela retaguarda quando estavam prestes a derrotar o exército de Clermont.{{sfn|Nicolle|2012|pp=26–35}}

=== Conquista francesa da Gasconha ===
[[Imagem:Charles VII by Jean Fouquet 1445 1450.jpg|thumb|left|[[Carlos VII de França|Carlos, o Vitorioso]] de [[Jean Fouquet]]. [[Museu do Louvre|Louvre]], [[Paris]]]]
Após a bem-sucedida campanha de [[Carlos VII da França]] na [[Normandia]] em 1450, ele concentrou seus esforços na [[Gasconha]], a última província ocupada pelos ingleses. [[Bordéus]], capital da Gasconha, foi sitiada e se rendeu aos franceses em 30 de junho de 1451. Em grande parte devido às simpatias inglesas do povo gascão, isso foi revertido quando [[John Talbot]] e seu exército retomaram a cidade em 23 de outubro de 1452. No entanto, os ingleses foram derrotados decisivamente na [[Batalha de Castillon]] em 17 de julho de 1453. Talbot foi persuadido a enfrentar o exército francês em [[Castillon-la-Bataille|Castillon]], perto de Bordéus. Durante a batalha, os franceses pareciam recuar em direção ao seu acampamento. O acampamento francês em Castillon havia sido estabelecido pelo oficial de ordenanças de Carlos VII, [[Jean Bureau]], e isso foi fundamental para o sucesso francês, pois quando os canhões franceses abriram fogo, de suas posições no acampamento, os ingleses sofreram graves baixas, perdendo Talbot e seu filho.{{sfn|Wagner|2006|p=79}}

=== Fim da guerra ===
{{Campanhainfo Guerras da Borgonha}}
Embora a [[Batalha de Castillon]] seja considerada a última batalha da Guerra dos Cem Anos, a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]] e a [[Reino da França|França]] permaneceram formalmente em guerra por mais 20 anos, mas os ingleses não estavam em posição de continuar a guerra, pois enfrentaram distúrbios em casa. [[Bordéus]] caiu para os franceses em 19 de outubro e não houve mais hostilidades depois. Após a derrota na Guerra dos Cem Anos, os proprietários de terras ingleses reclamaram veementemente das perdas financeiras resultantes da perda de suas propriedades continentais; isso é frequentemente considerado uma das principais causas da [[Guerra das Rosas]] que começou em 1455.{{sfn|Lee|1998|pp=145–147}}<ref name="webster39">"Todas as versões das queixas apresentadas pelos rebeldes em 1450 falam sobre as perdas na França" {{harv|Webster|1998|pp=39–40}}.</ref>

A Guerra dos Cem Anos quase recomeçou em 1474, quando [[Carlos, Duque da Borgonha]], contando com o apoio inglês, [[Guerras da Borgonha|pegou em armas]] contra [[Luís XI da França]]. Luís XI conseguiu isolar os borgonheses comprando [[Eduardo IV da Inglaterra]] com uma grande soma em dinheiro e uma pensão anual, no [[Paz de Picquigny|Tratado de Picquigny]] (1475). O tratado encerrou formalmente a Guerra dos Cem Anos com Eduardo IV renunciando sua reivindicação ao trono da França. No entanto, os futuros reis da Inglaterra (e mais tarde da Grã-Bretanha) continuaram a [[Reivindicação inglesa ao trono de França|reivindicar o título]] até 1803, quando foram abandonados em deferência ao exilado Conde de Provence, rei titular [[Luís XVIII da França]], que vivia na Inglaterra após a [[Revolução Francesa]].{{sfn|Neillands|2001|pp=290–291}}

Alguns historiadores usam o termo "A Segunda Guerra dos Cem Anos" como uma periodização para descrever a série de conflitos militares entre a [[Reino da Grã-Bretanha|Grã-Bretanha]] e a [[Reino da França|França]] que ocorreram de 1689 (ou alguns dizem 1714) a 1815.<ref>Buffinton, Arthur H. ''"The Second Hundred Years' War, 1689–1815"''. New York: Henry Holt and Company, 1929.</ref><ref>[[François Crouzet|Crouzet, François]]. "The Second Hundred Years War: Some Reflections", article in ''"French History"'', 10. (1996), pp. 432–450.</ref><ref>Scott, H. M. Review: ''"The Second 'Hundred Years War"'' 1689–1815", article in ''"The Historical Journal"'', 35, (1992), pp. 443–469.</ref> Da mesma forma, alguns historiadores se referem à [[Rivalidade Capetiana-Plantageneta]], série de conflitos e disputas que abrangeram um período de 100 anos (1159-1259) como "''A Primeira Guerra dos Cem Anos''".

== Significância ==
[[Imagem:Map France 1477-pt.svg|thumb|Territórios da [[Estado da Borgonha|Borgonha]] (laranja/amarelo) e limites da [[Reino da França|França]] (vermelho) após as [[Guerras da Borgonha]]]]
=== Significado histórico ===
A vitória francesa marcou o fim de um longo período de instabilidade que havia sido semeado com a [[Conquista normanda da Inglaterra]] em 1066, quando [[Guilherme I de Inglaterra|Guilherme, o Conquistador]], acrescentou "Rei da Inglaterra" aos seus títulos, tornando-se [[vassalo]] (como [[Duque da Normandia]]) e igual (como rei da Inglaterra) ao rei da França.{{sfn|Janvrin|Rawlinson|2016|p=15}}

Quando a guerra terminou, a Inglaterra foi despojada de suas possessões continentais, deixando-a apenas com [[Pale de Calais]] no continente (até 1558). A guerra destruiu o sonho inglês de uma monarquia conjunta e levou à rejeição na Inglaterra de todas as posses francesas, embora a [[Língua anglo-normanda|língua francesa na Inglaterra]], que serviu como língua das classes dominantes e do comércio desde a conquista normanda, deixou muitos vestígios no vocabulário inglês. O inglês tornou-se a língua oficial em 1362 e o francês não foi mais usado para o ensino a partir de 1385.{{sfn|Janvrin|Rawlinson|2016|p=16}}

O sentimento nacional que emergiu da guerra unificou ainda mais a [[Reino da França|França]] e a [[Reino da Inglaterra|Inglaterra]]. Apesar da devastação em seu solo, a Guerra dos Cem Anos acelerou o processo de transformação da França de uma monarquia feudal em um estado centralizado.{{sfn|Holmes Jr.|Schutz|1948|p=61}} Na Inglaterra, os problemas políticos e financeiros que surgiram da derrota foram uma das principais causas da [[Guerra das Rosas]] (1455-1487).<ref name=webster39/>

[[Imagem:Bubonic plague map.PNG|thumb|A propagação da [[Peste Negra]] (com fronteiras modernas)]]

O historiador Ben Lowe argumentou em 1997 que a oposição à guerra ajudou a moldar a cultura política moderna da Inglaterra. Embora os porta-vozes antiguerra e pró-paz geralmente não tenham influenciado os resultados na época, eles tiveram um impacto de longo prazo. A Inglaterra mostrou um entusiasmo cada vez menor por conflitos considerados não de interesse nacional, gerando apenas perdas em troca de altos encargos econômicos. Ao comparar essa análise de custo-benefício inglesa com as atitudes francesas, visto que ambos os países sofriam com líderes fracos e soldados indisciplinados, Lowe observou que os franceses entendiam que a guerra era necessária para expulsar os estrangeiros que ocupavam sua pátria. Além disso, os reis franceses encontraram formas alternativas de financiar a guerra, impostos sobre vendas, rebaixando a cunhagem, e eram menos dependentes do que os ingleses das taxas de impostos aprovadas pelas legislaturas nacionais. Os críticos antiguerra ingleses, portanto, tinham mais com que trabalhar do que os franceses.<ref>{{harvnb|Lowe|1997|pp=147–195}}</ref>

Uma teoria de 2021 sobre a formação inicial da [[Capacidade do Estado|capacidade estatal]] é que a guerra interestadual foi responsável por iniciar um forte movimento em direção aos estados que implementam sistemas tributários com capacidades estatais mais altas. Por exemplo, veja a França na Guerra dos Cem Anos, quando a ocupação inglesa ameaçou o reino francês independente. O rei e sua elite governante exigiam tributação consistente e permanente, o que permitiria o financiamento de um [[exército permanente]]. A nobreza francesa, que sempre se opôs a tal extensão da capacidade do Estado, concordou com esta situação excepcional. Assim, a guerra interestatal com a Inglaterra aumentou a capacidade do estado francês.<ref>{{citar periódico|último1=Baten |primeiro1=Joerg |último2=Keywood |primeiro2=Thomas |último3=Wamser |primeiro3=Georg |data=2021 |título=Territorial State Capacity and Elite Violence from the 6th to the 19th century |periódico=European Journal of Political Economy |volume=70 |página=102037 |doi=10.1016/j.ejpoleco.2021.102037|s2cid=234810004 }}</ref>

A [[Peste Negra]] e a guerra reduziram os números da população em toda a Europa durante esse período. A França perdeu metade de sua população durante a Guerra dos Cem Anos,{{sfn|Turchin|2003|pp=179–180}} com a [[Normandia]] reduzida em três quartos e [[Paris]] em dois terços.{{sfn|Ladurie|1987|p=[{{google books|VT9rIMQFt2MC|pg=PA32|plainurl=yes}} 32]}} Durante o mesmo período, a população da Inglaterra caiu de 20% a 33%.{{sfn|Neillands|2001|pp=110–111}}

=== Significância militar ===
O primeiro exército regular permanente na [[Europa Ocidental]] desde os tempos romanos foi organizado na [[Reino da França|França]] em 1445, em parte como uma solução para as [[companhias livres]] de [[Routiers|mercenários]]. As companhias mercenárias tiveram a opção de se juntar ao exército real como ''[[Compagnie d'ordonnance]]'' em uma base permanente, ou serem caçadas e destruídas se recusassem. A França ganhou um exército permanente total de cerca de 6.000 homens, que foi enviado para eliminar gradualmente os mercenários restantes que insistiam em operar por conta própria. O novo exército permanente tinha uma abordagem mais disciplinada e profissional da guerra do que seus predecessores.<ref name="RolandPreston1991">{{harvnb|Preston|Wise|Werner|1991|pp=84–91}}</ref>

A Guerra dos Cem Anos foi uma época de rápida evolução militar. Armas, táticas, estrutura do exército e o significado social da guerra mudaram, em parte em resposta aos custos da guerra, em parte pelo avanço da tecnologia e em parte pelas lições que a guerra ensinou. O sistema feudal se desintegrou lentamente, assim como o conceito de cavalaria.

No final da guerra, embora a cavalaria pesada ainda fosse considerada a unidade mais poderosa de um exército, o cavalo fortemente blindado teve que lidar com várias táticas desenvolvidas para negar ou mitigar seu uso efetivo em um campo de batalha.{{sfn|Powicke|1962|p=189}} Os ingleses começaram a usar tropas montadas levemente blindadas, conhecidas como [[hobelar]]s. As táticas de Hobelars foram desenvolvidas contra os escoceses, nas guerras anglo-escocesas do século XIV. Hobelars montavam cavalos menores sem armadura, permitindo que eles se movessem por terrenos difíceis ou pantanosos onde a cavalaria mais pesada teria mais dificuldades. Em vez de lutar sentados no cavalo, eles desmontavam para enfrentar o inimigo.<ref name="RolandPreston1991" /><ref name="rogers267">Colm McNamee. Hobelars ''in'' {{harvnb|Rogers|2010|pp=267–268}}</ref>{{sfn|Jones|2008|pp=1–17}}

== Linha do tempo ==
{{center|[[Imagem:TimeLine100YearsWar (cropped).png|600px]]}}
{{clear}}

=== Batalhas ===
{{VT|Lista de batalhas da Guerra dos Cem Anos}}

== Figuras importantes ==
=== França ===
{| class="wikitable"
{| class="wikitable"
! Brasão<br />de armas
|bgcolor="#cccccc"|'''Reis da França'''
! Figura histórica
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! Vida
! Notas
|-
|-
| align=center rowspan=3| [[Imagem:Blason pays fr FranceAncien.svg|30px]]
|[[Luís IX de França|Luís IX]] ([[1214]] - [[1226]] - [[1270]])
| [[Filipe VI de França|Rei Filipe VI]]
|[[Henrique III de Inglaterra]] ([[1207]] - [[1216]] - [[1272]])
| 1293-1350<br />'''Reinou 1328-1350'''
| Filho de [[Carlos de Valois]]
|-
|-
|[[Filipe III de França]] ([[1245]] - [[1271]] - [[1285]])
| [[João II de França|Rei João II]]
| 1319-1364<br />'''Reinou 1350-1364'''
|[[Eduardo I de Inglaterra]] ([[1239]] - [[1272]] - [[1307]])
| Filho de Filipe VI
|-
|-
|[[Filipe IV de França]] ([[1268]] - [[1285]] - [[1314]])
| [[Carlos V de França|Rei Carlos V]]
| 1338-1380<br />'''Reinou 1364-1380'''
|[[Eduardo II de Inglaterra]] ([[1284]] - [[1307]] - [[1327]])
| Filho de João II
|-
|-
| align=center | [[Imagem:Blason du Guesclin.svg|30px]]
|[[Luís X de França]] ([[1289]] - [[1314]] - [[1316]])
| [[Bertrand du Guesclin]]
|[[Eduardo III de Inglaterra]] ([[1312]] - [[1327]] - [[1377]])
| 1320-1380
| Comandante
|-
|-
| align=center | [[Imagem:Blason comte fr Valois.svg|30px]]
|[[João I de França]] ([[1316]] - 1316 - 1316) 5 dias
| [[Luís I, Duque de Anjou|Luís I,<br />Duque de Anjou]]
|[[Ricardo II de Inglaterra]] ([[1367]] - [[1377]] - [[1399]]) Neto
| 1339-1384<br />'''Regente 1380-1382'''
| Filho de João II
|-
|-
| align=center rowspan=2| [[Imagem:Blason France moderne.svg|30px]]
|[[Filipe V de França]] ([[1291]] - [[1316]] - [[1322]]) Tio
| [[Carlos VI de França|Rei Carlos VI]]
|[[Henrique IV de Inglaterra]] ([[1367]] - [[1399]] - [[1413]]) Neto de Eduardo III
| 1368-1422<br />'''Reinou 1380-1422'''
| Filho de Carlos V
|-
|-
|[[Carlos IV de França]] ([[1295]] - [[1322]] - [[1328]]) Irmão
| [[Carlos VII de França|Rei Carlos VII]]
| 1403-1461<br />'''Reinou 1422-1461'''
|[[Henrique V de Inglaterra]] ([[1387]] - [[1413]] - [[1422]])
| Filho de Carlos VI
|-
|-
| align=center | [[Imagem:Blason Jeanne-d-Arc.svg|30px]]
|[[Filipe VI de França]] ([[1293]] - [[1328]] - [[1350]]) Neto de Filipe III
| [[Joana d'Arc]]
|[[Henrique VI de Inglaterra]] ([[1421]] - [[1422]] - [[1461]])
| 1412-1431
| Visionário religioso
|-
|-
| align=center | [[Imagem:Blason Etienne de Vignolles (La Hire).svg|30px]]
|[[João II de França]] ([[1319]] - [[1350]] - [[1364]])
| [[Étienne de Vignolles]]
|
| 1390-1443
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Blason Jean Poton de Xaintrailles.svg|30px]]
| [[Jean Poton de Xaintrailles]]
| 1390-1461
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Blason province fr Alençon.svg|30px]]
| [[João II de Alençon|John II,<br />Duque de Alençon]]
| 1409-1476
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Blason comte fr Longueville (ancien).svg|30px]]
| [[Jean de Dunois]]
| 1402-1468
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Blason JeanBureau.svg|30px]]
| [[João de Orleães, Conde de Dunois|Jean Bureau]]
| 1390-1463
| Mestre artilheiro
|-
| align=center | [[Imagem:Blason Gilles de Rais.svg|30px]]
| [[Gilles de Rais]]
| 1405-1440
| Comandante
|}

=== Inglaterra ===
{| class="wikitable"
! Brasão de armas
! Figura histórica
! Vida
! Notas
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of Isabella of France.svg|30px]]
| [[Isabel da França, Rainha da Inglaterra|Isabel da França]]
| 1295-1358<br />'''Regente da Inglaterra 1327-1330'''
| Rainha consorte da Inglaterra, esposa de Eduardo II, mãe de Eduardo III, regente da Inglaterra, irmã de Carlos IV e filha de Filipe IV da França
|-
| align=center | [[Imagem:Royal Arms of England (1340-1367).svg|30px]]
| [[Eduardo III da Inglaterra|Rei Eduardo III]]
| 1312-1377<br />'''Reinou 1327-1377'''
| Neto de Filipe IV da França
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of Edmund Crouchback, Earl of Leicester and Lancaster.svg|30px]]
| [[Henrique de Grosmont, 1.º Duque de Lencastre|Henrique de Grosmont,<br />Duque de Lencastre]]
| 1310-1361
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of the Prince of Wales (Ancient).svg|30px]]
| {{nowrap|[[Eduardo, o Príncipe Negro]]}},<br />[[Príncipe de Gales]]
| 1330-1376
| Filho de Eduardo III
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of John of Gaunt, 1st Duke of Lancaster.svg|30px]]
| [[João de Gante]],<br />Duque de Lencastre
| 1340-1399
| Filho de Eduardo III
|-
| align=center | [[Imagem:Royal Arms of England (1395-1399).svg|30px]]
| [[Ricardo II de Inglaterra|Rei Ricardo II]]
| 1367-1400<br />'''Reinou 1377-1399'''
| Filho do Príncipe Negro, neto de Eduardo III
|-
| align=center | [[Imagem:Royal Arms of England (1340-1367).svg|30px]]
| [[Henrique IV de Inglaterra|Rei Henrique IV]]
| 1367-1413<br />'''Reinou 1399-1413'''
| Filho de John de Gaunt, neto de Eduardo III
|-
| align=center | [[Imagem:Royal Arms of England (1399-1603).svg|30px]]
| [[Henrique V de Inglaterra|Rei Henrique V]]
| 1387-1422<br />'''Reinou 1413-1422'''
| Filho de Henrique IV
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of Catherine of Valois.svg|30px]]
| [[Catarina de Valois]]
| 1401-1437
| Rainha consorte da Inglaterra, filha de Carlos VI da França, mãe de Henrique VI da Inglaterra e por seu segundo casamento avó de Henrique VII da Inglaterra
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of John of Lancaster, 1st Duke of Bedford.svg|30px]]
| [[João de Lencastre, Duque de Bedford|João de Lencastre,<br />Duque de Bedford]]
| 1389-1435<br />'''Regente 1422-1435'''
| Filho de Henrique IV
|-
| align=center | [[Imagem:Coat of Arms of Sir John Fastolf, KG.png|30px]]
| [[John Fastolf|''Sir'' John Fastolf]]<ref name=nrofast/>
| 1380-1459
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Coat of Arms of Sir John Talbot, 7th Baron Talbot, KG.png|30px]]
| [[John Talbot]],<br />Conde de Shrewsbury
| 1387-1453
| Comandante
|-
| align=center | [[Imagem:Royal Arms of England (1470-1471).svg|30px]]
| [[Henrique VI de Inglaterra|Rei Henrique VI]]
| 1421-1471<br />'''Reinou 1422-1461 (também 1422-1453 como rei Henrique II da França)'''
| Filho de Henrique V, neto de Carlos VI da França
|-
| align=center | [[Imagem:Arms of Richard of York, 3rd Duke of York.svg|30px]]
| [[Ricardo, 3.º Duque de Iorque|Ricardo Plantageneta]],<br />Duque de Iorque
| 1411-1460
| Comandante
|}

=== Borgonha ===
{| class="wikitable"
! Brasão<br />de armas
! Figura histórica
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|-
|-
| align=center | [[Imagem:Blason fr Bourgogne.svg|30px]]
|[[Carlos V de França]] ([[1337]] - [[1364]] - [[1380]])
| [[Filipe II da Borgonha|Filipe, o Ousado]],<br />[[Duque da Borgonha]]
|
| 1342-1404<br />'''Duque 1363-1404'''
| Filho de João II da França
|-
|-
| align=center | [[Imagem:John the Fearless Arms.svg|30px]]
|[[Carlos VI de França]] ([[1368]] - [[1380]] - [[1422]])
| [[João, Duque da Borgonha|João, o Destemido]],<br />Duque da Borgonha
|
| 1371-1419<br />'''Duque 1404-1419'''
| Filho de Filipe, o Ousado
|-
|-
| align=center | [[Imagem:Philip the Good Arms.svg|30px]]
|[[Carlos VII de França]] ([[1403]] - [[1422]] - [[1461]])
| [[Filipe III de Borgonha|Filipe, o Bom]],<br />Duque da Borgonha
|
| 1396-1467<br />'''Duque 1419-1467'''
| Filho de João, o Destemido
|}
|}


== Ver também ==
== Notas ==
{{Reflist|group=lower-alpha}}
*[[História da Inglaterra]]
*[[História da França]]


{{referências}}
{{Referências|col=2}}


=== Bibliografia ===
== Fontes ==
{{Refbegin|30em}}
* {{fr}} Balard, Michel; Genet, Jean-Philippe e Rouche, Michel. Le Moyen Âge en Occident, Hachette, 2003, 352 p. {{ISBN|9782011455406}}
* {{Cite ODNB |last=Allmand |date=2010-09-23 |first=C. |title=Henry V (1386–1422) |url=http://www.oxforddnb.com/view/10.1093/ref:odnb/9780198614128.001.0001/odnb-9780198614128-e-12952 |archive-url=https://archive.today/20180810174843/http://www.oxforddnb.com/view/10.1093/ref:odnb/9780198614128.001.0001/odnb-9780198614128-e-12952 |url-status=dead |archive-date=2018-08-10 |type=online |doi=10.1093/ref:odnb/12952}}
* {{fr}} Boucheron, Patrick e Kaplan, Michel. Le Moyen Âge, XIe - XVe siècle, Bréal, 1994, 397 p. {{ISBN|9782853947329}}
* {{citar livro|último=Backman |primeiro=Clifford R. |url=https://archive.org/details/worldsofmedieval00back |título=The Worlds of Medieval Europe |publicado=[[Oxford University Press]] |data=2003 |isbn=978-0-19-533527-9 |local=New York |acessourl=registro}}
* {{citar livro|título=Inscribing the Hundred Years' War in French and English Cultures |publicado=SUNY Press |data=2000 |isbn=978-0-7914-4701-7 |editor-sobrenome=Baker |editor-nome=Denise Nowakowski}}
* {{Cite ODNB |last=Barber |first=R. |author-link=Richard Barber |title=Edward, prince of Wales and of Aquitaine (1330–1376) |date=2004 |id=8523}}
* {{citar livro|último=Bartlett |primeiro=R. |url=https://archive.org/details/englandundernorm00bart_0 |título=England under the Norman and Angevin Kings 1075–1225 |publicado=Oxford University Press |data=2000 |isbn=978-0-19-822741-0 |editor-sobrenome=Roberts |editor-nome=J.M. |editor-link=John Roberts (historian) |series=[[New Oxford History of England]] |local=London |autorlink=Robert Bartlett (historian) |acessourl=registro}}
* {{Cite ODNB |last=Bean |date=2008 |first=J.M.W. |title=Percy, Henry, first earl of Northumberland (1341–1408) |id=21932}}
* {{citar livro|último=Brissaud |primeiro=Jean |url=https://archive.org/details/cu31924071236701 |título=History of French Public Law |publicado=Little, Brown and Company |data=1915 |series=The Continental Legal History |volume=9 |local=Boston |translator-first=James W. |translator-last=Garner |translator-link=James Wilford Garner}}
* {{Cite EB1911 |wstitle=Brétigny |volume=4 |page=501}}
* {{citar livro|último=Curry |primeiro=A. |url=http://droppdf.com/files/YYeb5/anne-curry-the-hundred-years-war-1337-1453-2002.pdf |título=The Hundred Years' War 1337–1453 |publicado=Osprey Publishing |data=2002 |isbn=978-1-84176-269-2 |series=Essential Histories |volume=19 |local=Oxford |autorlink=Anne Curry |arquivourl=https://web.archive.org/web/20180927204153/http://droppdf.com/files/YYeb5/anne-curry-the-hundred-years-war-1337-1453-2002.pdf |arquivodata=2018-09-27 |urlmorta= sim}}
* {{citar livro|último=Darby |primeiro=H.C. |título=A New Historical Geography of England before 1600 |publicado=Cambridge University Press |data=1976 |isbn=978-0-521-29144-6 |orig-date=1973}}
* {{citar livro|último=Davis |primeiro=P. |título=Besieged: 100 Great Sieges from Jericho to Sarajevo |publicado=Oxford University Press |data=2003 |isbn=978-0-19-521930-2 |edição=2nd |local=Santa Barbara, CA |autorlink=Paul K. Davis (historian)}}
* {{citar livro|último=Friar |primeiro=Stephen |título=The Sutton Companion to Local History |publicado=Sutton |data=2004 |isbn=978-0-7509-2723-9 |edição=revised |local=Sparkford}}
* {{citar web |último=Gormley |primeiro=Larry |data=2007 |título=The Hundred Years War: Overview |url=http://ehistory.osu.edu/osu/archive/hundredyearswar.cfm?CFID=12106913&CFTOKEN=48989585&jsessionid=463076a37003e50bfe0063343a5d3c64687b |arquivourl=https://archive.today/20121214234840/http://ehistory.osu.edu/osu/archive/hundredyearswar.cfm?CFID=12106913&CFTOKEN=48989585&jsessionid=463076a37003e50bfe0063343a5d3c64687b |arquivodata=14-12-2012 |acessodata=20-09-2012 |website=eHistory |publicado=[[Ohio State University]]}}
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== Ligações externas ==
== Leitura adicional ==
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Revisão das 16h50min de 2 de abril de 2022

Guerra dos Cem Anos
Parte das Guerras Anglo-Francesas

No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo: a Batalha de La Rochelle, Batalha de Azincourt, Batalha de Patay e Joana d'Arc no cerco de Orléans.
Data 24 de maio de 1337 – 19 de outubro de 1453[a]
(116 anos, 4 meses e 4 dias)
Local França, região dos Países Baixos, Grã-Bretanha, Península Ibérica
Desfecho Vitória para a Casa de Valois da França e seus aliados
Mudanças territoriais A Inglaterra perde todas as possessões continentais, exceto por Pale de Calais.
Beligerantes
Comandantes

A Guerra dos Cem Anos, foi uma série de conflitos travados entre os reinos da Inglaterra e da França durante o final da Idade Média. Originou-se de reivindicações inglesas ao trono francês entre a Casa Real Inglesa de Plantageneta e a Casa Real Francesa de Valois. Com o tempo, a guerra se transformou em uma luta de poder mais ampla envolvendo facções de toda a Europa Ocidental, alimentada pelo nacionalismo emergente de ambos os lados.

A Guerra dos Cem Anos foi um dos conflitos mais significativos da Idade Média. Durante 116 anos, interrompidos por várias tréguas, cinco gerações de reis de duas dinastias rivais lutaram pelo trono do maior reino da Europa Ocidental. O efeito da guerra na história europeia foi duradouro. Ambos os lados produziram inovações em tecnologia e táticas militares, incluindo exércitos permanentes profissionais e artilharia, que mudaram permanentemente a guerra na Europa; cavalaria, que atingiu seu auge durante o conflito, posteriormente declinou. Identidades nacionais mais fortes criaram raízes em ambos os países, que se tornaram mais centralizados e gradualmente ascenderam como potências globais.[1]

O termo "Guerra dos Cem Anos" foi adotado por historiadores posteriores como uma periodização historiográfica para abranger conflitos relacionados, construindo o conflito militar mais longo da história europeia. A guerra é comumente dividida em três fases separadas por tréguas: a Guerra Eduardiana (1337-1360), Guerra Carolina (1369-1389) e a Guerra Lancastriana (1415-1453). Cada lado atraiu muitos aliados para o conflito, com as forças inglesas inicialmente prevalecendo; a Casa de Valois finalmente manteve o controle sobre a França, com as monarquias francesas e inglesas anteriormente entrelaçadas permanecendo separadas.

Visão geral

Origens

As causas profundas do conflito podem ser atribuídas à crise da Europa do século XIV. A eclosão da guerra foi motivada por um aumento gradual da tensão entre os reis da França e da Inglaterra sobre o território; o pretexto oficial foi a questão que surgiu por causa da interrupção da linhagem masculina direta da dinastia capetiana.

As tensões entre as coroas francesa e inglesa remontavam séculos às origens da família real inglesa, que era de origem francesa (normanda e, mais tarde, angevina) por causa de Guilherme, o Conquistador, o duque normando que se tornou rei da Inglaterra em 1066. Os monarcas ingleses, portanto, historicamente detinham títulos e terras na França, o que os tornava vassalos dos reis da França. O status dos feudos franceses do rei inglês foi uma importante fonte de conflito entre as duas monarquias ao longo da Idade Média. Os monarcas franceses procuraram sistematicamente controlar o crescimento do poder inglês, despojando terras à medida que surgia a oportunidade, particularmente sempre que a Inglaterra estava em guerra com a Escócia, aliada da França. As propriedades inglesas na França variavam em tamanho, em alguns pontos superando até mesmo o Domínio Real Francês; em 1337, no entanto, apenas a Gasconha era inglesa.

Em 1328, Carlos IV da França morreu sem filhos ou irmãos e um novo princípio, a lei Sálica, proibiu a sucessão feminina. O parente masculino mais próximo de Carlos era seu sobrinho Eduardo III de Inglaterra, cuja mãe, Isabel, era irmã de Carlos. Isabel reivindicou o trono da França para seu filho pela regra da proximidade de sangue, mas a nobreza francesa rejeitou isso, sustentando que Isabel não poderia transmitir um direito que ela não possuía. Uma assembleia de barões franceses decidiu que um francês nativo deveria receber a coroa, em vez de Eduardo.[2]

Assim, o trono passou para o primo patrilinear de Carlos, Filipe, Conde de Valois. Eduardo protestou, mas acabou se submetendo e homenageando a Gasconha. Outras divergências francesas com Eduardo induziram Filipe, em maio de 1337, a se reunir com seu Grande Conselho em Paris. Foi acordado que a Gasconha deveria ser devolvida às mãos de Filipe, o que levou Eduardo a renovar sua reivindicação ao trono francês, desta vez pela força das armas.[3]

Fase Eduardiana

Nos primeiros anos da guerra, os ingleses, liderados por seu rei e seu filho Eduardo, o Príncipe Negro, tiveram sucessos retumbantes (principalmente em Crécy em 1346 e em Poitiers em 1356, onde o rei João II da França foi feito prisioneiro).

Fase Carolina e a Peste Negra

Em 1378, sob o rei Carlos V, o Sábio e a liderança de Bertrand du Guesclin, os franceses reconquistaram a maior parte das terras cedidas ao rei Eduardo no Tratado de Brétigny (assinado em 1360), deixando os ingleses com apenas algumas cidades no continente.

Nas décadas seguintes, o enfraquecimento da autoridade real, combinado com a devastação causada pela Peste Negra de 1347-1351 (com a perda de quase metade da população francesa[4] e entre 20% e 33% da população inglesa)[5] e a grande crise econômica que se seguiu, levaram a um período de agitação civil em ambos os países. Essas crises foram resolvidas na Inglaterra mais cedo do que na França.

Fase Lancastriana e depois

O recém-coroado Henrique V da Inglaterra aproveitou a oportunidade apresentada pela doença mental de Carlos VI da França e a guerra civil francesa entre Armagnacs e Borguinhões para reviver o conflito. Vitórias esmagadoras em Azincourt em 1415 e Verneuil em 1424, bem como uma aliança com os borguinhões aumentaram as perspectivas de um triunfo final inglês e persuadiram os ingleses a continuar a guerra por muitas décadas. No entanto, uma variedade de fatores, como as mortes de Henrique e Carlos em 1422, o surgimento de Joana d'Arc, que aumentou o moral francês, e a perda da Borgonha como aliada, marcando o fim da guerra civil na França, impediram que isso acontecesse.

O cerco de Orleães em 1429 anunciou o início do fim das esperanças inglesas de conquista. Mesmo com a eventual captura de Joana pelos borguinhões e sua execução em 1431, uma série de vitórias francesas esmagadoras como as de Patay em 1429, Formigny em 1450 e Castillon em 1453 concluíram a guerra em favor da dinastia Valois. A Inglaterra perdeu permanentemente a maioria de suas possessões continentais, com apenas Pale de Calais permanecendo sob seu controle no continente, até que também foi perdido no cerco de Calais em 1558.

Conflitos relacionados e efeitos posteriores

Conflitos locais em áreas vizinhas, que foram contemporaneamente relacionados à guerra, incluindo a Guerra da Sucessão Bretã (1341-1365), Guerra Civil Castelhana (1366-1369), Guerra dos Dois Pedros (1356-1369) em Aragão, e a crise de 1383-1385 em Portugal, foram usados pelos partidos para avançar suas agendas.

Ao final da guerra, os exércitos feudais foram amplamente substituídos por tropas profissionais, e o domínio aristocrático cedeu à democratização da mão-de-obra e das armas dos exércitos. Embora principalmente um conflito dinástico, a guerra inspirou o nacionalismo francês e inglês. A introdução mais ampla de armas e táticas suplantou os exércitos feudais onde a cavalaria pesada dominava, e a artilharia tornou-se importante. A guerra precipitou a criação dos primeiros exércitos permanentes na Europa Ocidental desde o Império Romano do Ocidente e ajudou a mudar seu papel na guerra.

Na França, guerras civis, epidemias mortais, fomes e bandidos de companhias livres de mercenários reduziram drasticamente a população. Na Inglaterra, as forças políticas ao longo do tempo vieram a se opor ao empreendimento caro. A insatisfação dos nobres ingleses, resultante da perda de suas terras continentais, bem como o choque geral pela perda de uma guerra em que o investimento havia sido tão grande, contribuíram para a Guerra das Rosas (1455-1487).

Causas e prelúdio

Turbulência dinástica na França: 1316-1328

A questão da sucessão feminina ao trono francês foi levantada após a morte de Luís X em 1316. Luís X deixou apenas uma filha, e João I da França, que viveu apenas cinco dias. Além disso, a paternidade de sua filha estava em questão, pois sua mãe, Margarida da Borgonha, havia sido denunciada como adúltera no Caso da Torre de Nesle. Filipe, conde de Poitiers, irmão de Luís X, posicionou-se para assumir a coroa, avançando a posição de que as mulheres deveriam ser inelegíveis para suceder ao trono francês. Através de sua sagacidade política, ele conquistou seus adversários e sucedeu ao trono francês como Filipe V. Pela mesma lei que ele obteve, suas filhas foram negadas a sucessão, que passou para seu irmão mais novo, Carlos IV, em 1322.[6]

Famílias reais envolvidas na Guerra dos Cem Anos (1337-1453)
Capeto
Filipe III
"o Ousado"
Rei da França
r.1270-1285
ValoisPlantagenetaBlois
Carlos
Conde de Valois
Luís
Conde de Évreux
Eduardo I
"Pernas Longas"
Rei da Inglaterra
r.1272-1307
Filipe IV
"o Belo"
Rei da França
r.1285-1314
Filipe I
Rei de Navarra
r.1284-1305
Joana I
Rainha de Navarra
r.1274-1305
Eduardo II
Rei da Inglaterra
r.1307-1327
Isabel
"Loba da França"
Luís X
Rei da França
r.1314-1316
Luís I
Rei de Navarra
r.1305-1316
Filipe V
"o Alto"
Rei da França
Filipe II
Rei de Navarra
r.1316-1322
Carlos IV
"o Belo"
Rei da França
Carlos I
"o Calvo"
Rei de Navarra
r.1322-1328
Filipe VI
"o Afortunado"
"de Valois"

Rei da França
r.1328-1350
Joana de ValoisFilipe III
"o nobre"
"o Sábio"

Rei de Navarra jure uxoris
r.1328-1343
Joan II
Rainha de Navarra
r.1328-1349
João I
"o Póstumo"
Rei da França
Rei de Navarra
r.1316
Joana de Borgonha
João II
"o Bom"
Rei da França
r.1350-1364
Filipa de HainaultEduardo III
Rei da Inglaterra
r.1327-1377
Joana da TorreDavid II
Rei da Escócia
r.1329-1371
Carlos II
"o Mau"
Rei de Navarra
r.1349-1387
Filipe da Borgonha
Conde de Auvergne
Carlos V
"o Sábio"
Rei da França
r.1364-1380
Filipe, o Ousado
Duque da Borgonha
Eduardo de Woodstock
"o Príncipe Negro"
João de Gante
Luxemburgo
Carlos VI
"o Amado"
"o Louco"

Rei da França
r.1380-1422
Luís I
Duque de Orleães
Carlos IV
Imperador do
Sacro Império Romano-Germânico
r.1355-1378
Henrique IV
Rei da Inglaterra
r.1399-1413
Carlos VII
"o Vitorioso"
Rei da França
r.1422-1461
Isabel de ValoisRicardo II
Rei da Inglaterra
r.1377-1399
Ana da BoêmiaCatarina de ValoisHenrique V
Rei da Inglaterra
r.1413-1422
João de Lencastre
Henrique VI
Rei da Inglaterra
r.1422-1461, 1470-1471

Carlos IV morreu em 1328, deixando uma filha e uma esposa grávida. Se o nascituro fosse homem, ele se tornaria rei; caso contrário, Carlos deixou a escolha de seu sucessor para os nobres. Uma menina, Branca da França (mais tarde Duquesa de Orleães), nasceu, tornando extinta a principal linhagem masculina da Casa de Capeto.

Por proximidade de sangue, o parente masculino mais próximo de Carlos IV era seu sobrinho, Eduardo III da Inglaterra. Eduardo era filho de Isabel, irmã do falecido Carlos IV, mas surgiu a questão de saber se ela deveria poder transmitir um direito de herança que ela própria não possuía. A nobreza francesa, além disso, recusou a perspectiva de ser governada por Isabel e seu amante Rogério Mortimer, que eram amplamente suspeitos de terem assassinado o rei inglês anterior, Eduardo II. As assembleias dos barões e prelados franceses e da Universidade de Paris decidiram que os homens que obtêm seu direito à herança por meio de sua mãe deveriam ser excluídos. Assim, o herdeiro mais próximo por ascendência masculina era o primo em primeiro grau de Carlos IV, Filipe, Conde de Valois, e foi decidido que ele deveria ser coroado Filipe VI. Em 1340, o Papado de Avinhão confirmou que, sob a lei Sálica, os homens não deveriam poder herdar por meio de suas mães.[6][2]

Eventualmente, Eduardo III relutantemente reconheceu Filipe VI e prestou-lhe homenagem por seus feudos franceses em 1325. Ele fez concessões em Guiena, mas reservou o direito de recuperar territórios arbitrariamente confiscados. Depois disso, ele esperava não ser perturbado enquanto guerreava contra a Escócia.

A disputa por Guiena: um problema de soberania

Homenagem de Eduardo I da Inglaterra (ajoelhado) a Filipe IV da França (sentado), 1286. Como o duque de Aquitânia, Eduardo também era vassalo do rei francês (pintura de Jean Fouquet das Grandes Chroniques de France na Biblioteca Nacional da França, Paris)
Ver artigo principal: Rivalidade Capetiana-Plantageneta

As tensões entre as monarquias francesa e inglesa remontam à conquista normanda da Inglaterra em 1066, na qual o trono inglês foi tomado pelo duque da Normandia, um vassalo do rei da França. Como resultado, a coroa da Inglaterra foi mantida por uma sucessão de nobres que já possuíam terras na França, o que os colocou entre os súditos mais poderosos do rei francês, pois agora podiam recorrer ao poder econômico da Inglaterra para fazer valer seus interesses no continente. Para os reis da França, isso ameaçava perigosamente sua autoridade real, e assim eles constantemente tentavam minar o domínio inglês na França, enquanto os monarcas ingleses lutavam para proteger e expandir suas terras. Esse choque de interesses foi a causa raiz de grande parte do conflito entre as monarquias francesa e inglesa ao longo da era medieval.

A dinastia Anglo-Normanda que governava a Inglaterra desde a conquista normanda de 1066 foi encerrada quando Henrique, filho de Godofredo de Anjou e da imperatriz Matilde, e bisneto de Guilherme, o Conquistador, tornou-se o primeiro dos reis angevinos da Inglaterra em 1154 como Henrique II.[7] Os reis angevinos governaram o que mais tarde ficou conhecido como Império Angevino, que incluía mais território francês do que sob os reis da França. Os angevinos ainda deviam homenagem por esses territórios ao rei francês. A partir do século XI, os angevinos passaram a ter autonomia dentro de seus domínios franceses, neutralizando a questão.[8]

O rei João da Inglaterra herdou os domínios angevinos de seu irmão Ricardo I. No entanto, Filipe II da França agiu decisivamente para explorar as fraquezas de João, tanto legal quanto militarmente, e em 1204 conseguiu assumir o controle de grande parte das possessões continentais angevinas. Após o reinado de João, a Batalha de Bouvines (1214), Guerra de Saintonge (1242) e, finalmente, a Guerra de Saint-Sardos (1324), as propriedades do rei inglês no continente, como Duque de Aquitânia, foram limitadas aproximadamente às províncias de Gasconha.[9]

A disputa sobre Guiena é ainda mais importante do que a questão dinástica para explicar a eclosão da guerra. Guiena representou um problema significativo para os reis da França e da Inglaterra: Eduardo III de Inglaterra era um vassalo de Filipe VI da França por causa de suas posses francesas e foi obrigado a reconhecer a suserania do rei da França sobre elas. Em termos práticos, um julgamento em Guiena pode estar sujeito a um recurso para a corte real francesa. O rei da França tinha o poder de revogar todas as decisões legais tomadas pelo rei da Inglaterra na Aquitânia, o que era inaceitável para os ingleses. Portanto, a soberania sobre Guiena foi um conflito latente entre as duas monarquias por várias gerações.

Durante a Guerra de Saint-Sardos, Carlos de Valois, pai de Filipe VI, invadiu a Aquitânia em nome de Carlos IV e conquistou o ducado após uma insurreição local, que os franceses acreditavam ter sido incitada por Eduardo II da Inglaterra. Carlos IV concordou relutantemente em devolver este território em 1325. Para recuperar seu ducado, Eduardo II teve que se comprometer: enviou seu filho, o futuro Eduardo III, para prestar homenagem.

O rei da França concordou em restaurar Guiena, menos Agen, mas os franceses atrasaram o retorno das terras, o que ajudou Filipe VI. Em 6 de junho de 1329, Eduardo III finalmente prestou homenagem ao rei da França. No entanto, na cerimônia, Filipe VI registrou que a homenagem não se devia aos feudos destacados do ducado de Guiena por Carlos IV (especialmente Agen). Para Eduardo, a homenagem não implicava a renúncia de sua reivindicação às terras extorquidas.

Gasconha sob o rei da Inglaterra

França em 1330
  França antes de 1214
  Aquisições francesas até 1330
  Inglaterra e Guiena/Gasconha a partir de 1330

No século XI, a Gasconha no sudoeste da França foi incorporada à Aquitânia (também conhecida como Guyenne ou Guiena) e formou com ela a província de Guiena e Gasconha. Os reis angevinos da Inglaterra tornaram-se duques da Aquitânia depois que Henrique II se casou com a ex-rainha da França, Leonor da Aquitânia, em 1152, a partir do qual as terras foram mantidas em vassalagem à coroa francesa. No século XIII, os termos Aquitânia, Guiena e Gasconha eram praticamente sinônimos.[10][11]

No início do reinado de Eduardo III em 1 de fevereiro de 1327, a única parte da Aquitânia que permaneceu em suas mãos foi o Ducado da Gasconha. O termo Gasconha passou a ser usado para o território ocupado pelos reis angevinos (Plantageneta) da Inglaterra no sudoeste da França, embora ainda usassem o título de Duque da Aquitânia.[11][12]

Nos primeiros 10 anos do reinado de Eduardo III, a Gasconha foi um grande ponto de atrito. Os ingleses argumentaram que, como Carlos IV da França não agiu de maneira adequada em relação ao seu inquilino, Eduardo III deveria poder manter o ducado livre de qualquer suserania francesa. Este argumento foi rejeitado pelos franceses, então, em 1329, Eduardo III, de 17 anos, prestou homenagem a Filipe VI da França. A tradição exigia que os vassalos abordassem seu suserano desarmados, com a cabeça descoberta. Eduardo III protestou participando da cerimônia usando sua coroa e espada.[13] Mesmo após essa promessa de homenagem, os franceses continuaram a pressionar a administração inglesa.[14]

A Gasconha não foi o único ponto sensível. Um dos conselheiros influentes de Eduardo III foi Roberto III de Artésia. Roberto III era um exilado da corte francesa, tendo se desentendido com Filipe VI por causa de uma reivindicação de herança. Ele instou Eduardo III a iniciar uma guerra para recuperar a França e foi capaz de fornecer informações extensas sobre a corte francesa.[15]

Aliança Franco-Escocesa

A França era aliada do Reino da Escócia, pois os reis ingleses tentaram por algum tempo subjugar a área. Em 1295, um tratado foi assinado entre a França e a Escócia durante o reinado de Filipe IV da França, conhecido como Velha Aliança. Carlos IV da França renovou formalmente o tratado em 1326, prometendo à Escócia que a França apoiaria os escoceses se a Inglaterra invadisse seu país. Da mesma forma, a França teria o apoio da Escócia se seu próprio reino fosse atacado. Eduardo III de Inglaterra não poderia ter sucesso em seus planos para a Escócia se os escoceses pudessem contar com o apoio francês.[16]

Filipe VI da França havia reunido uma grande frota naval ao largo de Marselha como parte de um plano ambicioso para uma cruzada à Terra Santa. No entanto, o plano foi abandonado e a frota, incluindo elementos da marinha escocesa, mudou-se para o Canal da Mancha na Normandia em 1336, ameaçando a Inglaterra.[15] Para lidar com esta crise, Eduardo III propôs que os ingleses levantassem dois exércitos, um para lidar com os escoceses "em um momento adequado", o outro para prosseguir imediatamente para a Gasconha. Ao mesmo tempo, embaixadores deveriam ser enviados à França com uma proposta de tratado para o rei francês.[17]

Começo da guerra: 1337-1360

Mapa animado mostrando o progresso da guerra (mudanças territoriais e as batalhas mais importantes entre 1337 e 1453)
Ver artigo principal: Guerra dos Cem Anos (1337-1360)

Fim da homenagem

No final de abril de 1337, Filipe VI da França foi convidado a conhecer a delegação da Inglaterra, mas recusou. A Arrière-ban, literalmente um chamado às armas, foi proclamada em toda a França a partir de 30 de abril de 1337. Então, em maio de 1337, Filipe VI se reuniu com seu Grande Conselho em Paris. Foi acordado que o Ducado da Aquitânia, efetivamente Gasconha, deveria ser levado de volta às mãos do rei, alegando que Eduardo III da Inglaterra estava violando suas obrigações como vassalo e havia abrigado o 'inimigo mortal' do rei, Roberto III de Artésia.[18] Eduardo III respondeu ao confisco da Aquitânia desafiando o direito de Filipe VI ao trono francês.

Quando Carlos IV da França morreu, Eduardo III havia reivindicado a sucessão do trono francês, por direito de sua mãe Isabel (irmã de Carlos IV), filha de Filipe IV da França. Qualquer reivindicação foi considerada invalidada pela homenagem de Eduardo III a Filipe VI em 1329. Eduardo III reviveu sua reivindicação e em 1340 assumiu formalmente o título de 'Rei da França e as Armas Reais Francesas'.[19]

Em 26 de janeiro de 1340, Eduardo III recebeu formalmente a homenagem de Guy, meio-irmão do Conde de Flandres. As autoridades cívicas de Gante, Ypres e Bruges proclamaram Eduardo III, rei da França. O objetivo de Eduardo III era fortalecer suas alianças com a região dos Países Baixos. Seus partidários poderiam alegar que eram leais ao "verdadeiro" rei da França e não eram rebeldes contra Filipe VI. Em fevereiro de 1340, Eduardo III retornou à Inglaterra para tentar arrecadar mais fundos e também lidar com dificuldades políticas.[20]

As relações com a Flandres também estavam ligadas ao comércio de lã inglês, já que as principais cidades de Flandres dependiam fortemente da produção têxtil e a Inglaterra fornecia grande parte da matéria-prima de que precisavam. Eduardo III ordenou que seu chanceler se sentasse no saco de lã no conselho como um símbolo da preeminência do comércio de lã.[21] Na época, havia cerca de 110.000 ovelhas apenas em Sussex.[22] Os grandes mosteiros medievais ingleses produziam grandes excedentes de lã que eram vendidos para a Europa continental. Sucessivos governos conseguiram fazer grandes somas de dinheiro tributando-o.[21] O poder marítimo da França levou a perturbações econômicas para a Inglaterra, diminuindo o comércio de lã para Flandres e o comércio de vinho da Gasconha.[23][24]

Canal da Mancha e a Bretanha

Batalha de Sluys de um manuscrito das Crônicas de Froissart, c. 1470

Em 22 de junho de 1340, Eduardo III de Inglaterra e sua frota partiram da Inglaterra e no dia seguinte chegaram ao estuário de Zwin. A frota francesa assumiu uma formação defensiva ao largo do porto de Sluis. A frota inglesa enganou os franceses fazendo-os acreditar que estavam se retirando. Quando o vento virou no final da tarde, os ingleses atacaram com o vento e o sol atrás deles. A frota francesa foi quase completamente destruída no que ficou conhecido como a Batalha de Sluys.

A Inglaterra dominou o Canal da Mancha pelo resto da guerra, evitando invasões francesas.[20] Neste ponto, os fundos de Eduardo III acabaram e a guerra provavelmente teria terminado se não fosse pela morte de João III, Duque da Bretanha em 1341 precipitando uma disputa de sucessão entre o meio-irmão do duque João de Montfort e Carlos de Blois, sobrinho de Filipe VI da França.[25]

Em 1341, o conflito sobre a sucessão do Ducado da Bretanha iniciou a Guerra da Sucessão Bretã, na qual Eduardo III apoiou João de Montfort e Filipe VI apoiou Carlos de Blois. A ação para os próximos anos se concentrou em uma luta de ida e volta na Bretanha. A cidade de Vannes, na Bretanha, mudou de mãos várias vezes, enquanto outras campanhas na Gasconha tiveram sucesso misto para ambos os lados.[25] O Montfort, apoiado pelos ingleses, finalmente conseguiu tomar o ducado, mas não até 1364.[26]

Batalha de Crécy e a tomada de Calais

Batalha de Crécy, 1346, das Grandes Chroniques de France, Biblioteca Britânica, Londres

Em julho de 1346, Eduardo III da Inglaterra montou uma grande invasão através do Canal da Mancha desembarcando em Cotentin, na Normandia, em St. Vaast. O exército inglês capturou a cidade de Caen em apenas um dia, surpreendendo os franceses. Filipe VI da França reuniu um grande exército para se opor a Eduardo III, que optou por marchar para o norte em direção a região dos Países Baixos, saqueando enquanto avançava. Ele alcançou o rio Sena para encontrar a maioria das travessias destruídas. Ele se moveu cada vez mais para o sul, preocupantemente perto de Paris, até encontrar a travessia em Poissy. Isso só havia sido parcialmente destruído, então os carpinteiros de seu exército foram capazes de consertá-lo. Ele então continuou seu caminho para Flandres até chegar ao rio Somme. O exército cruzou em um vau de maré em Blanchetaque, deixando o exército de Filipe VI encalhado. Eduardo III, auxiliado por essa vantagem, continuou seu caminho para Flandres mais uma vez, até que, encontrando-se incapaz de manobrar Filipe VI, Eduardo III posicionou suas forças para a batalha e o exército de Filipe VI atacou.

Eduardo III da Inglaterra contando os mortos no campo de Batalha de Crécy

A Batalha de Crécy de 1346 foi um desastre completo para os franceses, em grande parte creditado aos arqueiros usando arco longo inglês e ao rei francês, que permitiram que seu exército atacasse antes que estivesse pronto.[27] Filipe VI apelou a seus aliados escoceses para ajudar com um ataque diversionista ao Inglaterra. O rei David II da Escócia respondeu invadindo o norte da Inglaterra, mas seu exército foi derrotado e ele foi capturado na Batalha de Neville's Cross, em 17 de outubro de 1346. Isso reduziu bastante a ameaça da Escócia.[25][28]

Na França, Eduardo III seguiu para o norte sem oposição e sitiou a cidade de Calais, no Canal da Mancha, capturando-a em 1347. Isso se tornou um importante ativo estratégico para os ingleses, permitindo-lhes manter as tropas em segurança no norte da França.[27] Calais permaneceria sob controle inglês, mesmo após o fim da Guerra dos Cem Anos, até o bem sucedido cerco francês em 1558.[29]

Batalha de Poitiers

A Peste Negra, que acabara de chegar a Paris em 1348, começou a devastar a Europa.[30] Em 1355, depois que a praga passou e a Inglaterra conseguiu se recuperar financeiramente,[31] o filho e homônimo do rei Eduardo III da Inglaterra, o Príncipe de Gales, mais tarde conhecido como Eduardo, o Príncipe Negro, liderou um Chevauchée da Gasconha para a França, durante o qual ele saqueou Avignonet, Castelnaudary, Carcassona e Narbona. No ano seguinte, durante outro Chevauchée, ele devastou Auvérnia, Limusino e Berry, mas não conseguiu tomar Burges. Ele ofereceu termos de paz ao rei João II da França (conhecido como João, o Bom), que o flanqueou perto de Poitiers, mas se recusou a se render como preço de sua aceitação.

Isso levou à Batalha de Poitiers (19 de setembro de 1356), onde o exército do Príncipe Negro derrotou os franceses.[32] Durante a batalha, o nobre Gascon João III de Grailly liderou uma unidade montada que estava escondida em uma floresta. O avanço francês foi contido, momento em que de Grailly liderou um movimento de flanco com seus cavaleiros cortando a retirada francesa e conseguindo capturar o rei João II e muitos de seus nobres.[33][34] Com João II como refém, seu filho, o Delfim (que mais tarde se tornaria Carlos V da França), assumiu os poderes do rei como regente.[35]

Após a Batalha de Poitiers, muitos nobres e mercenários franceses se revoltaram, e o caos reinou. Um relato contemporâneo relatou:

... tudo adoeceu com o reino e o Estado foi desfeito. Ladrões e saqueadores se levantaram por toda parte na terra. Os nobres desprezavam e odiavam todos os outros e não pensavam na utilidade e lucro de senhores e homens. Eles subjugaram e despojaram os camponeses e os homens das aldeias. De modo algum eles defenderam seu país de seus inimigos; em vez disso, eles os pisotearam, roubando e saqueando os bens dos camponeses ...
Das Crônicas de Jean de Venette''[36]

Campanha de Reims e a Segunda-Feira Negra

Ver artigo principal: Campanha de Reims
Segunda-Feira Negra, granizo e relâmpagos devastam o exército inglês em Chartres

Eduardo III da Inglaterra invadiu a França, pela terceira e última vez, na esperança de capitalizar o descontentamento e tomar o trono. A estratégia do Delfim da França era a de não envolvimento com o exército inglês em campo. No entanto, Eduardo III queria a coroa e escolheu a cidade catedral de Reims para sua coroação (Reims era a cidade tradicional da coroação).[37] No entanto, os cidadãos de Reims construíram e reforçaram as defesas da cidade antes da chegada de Eduardo III e seu exército.[38] Eduardo III sitiou a cidade por cinco semanas, mas as defesas resistiram e não houve coroação.[37] Eduardo III foi para Paris, mas recuou depois de algumas escaramuças nos subúrbios. Em seguida foi a cidade de Chartres.

O desastre ocorreu em uma tempestade de granizo no exército acampado, causando mais de 1.000 mortes inglesas, a chamada Segunda-Feira Negra na Páscoa de 1360. Isso devastou o exército de Eduardo III e o forçou a negociar quando abordado pelos franceses.[39] Uma conferência foi realizada em Brétigny que resultou no Tratado de Brétigny (8 de maio de 1360).[40] O tratado foi ratificado em Calais em outubro. Em troca do aumento das terras na Aquitânia, Eduardo III renunciou à Normandia, Turene, Anjou e Maine e consentiu em reduzir o resgate do rei João II da França em um milhão de coroas. Eduardo III também abandonou sua reivindicação à coroa da França.[33][35][41]

Primeira paz: 1360-1369

França no Tratado de Brétigny, propriedades inglesas em vermelho claro

O rei francês, João II da França, tinha sido mantido em cativeiro na Inglaterra. O Tratado de Brétigny estabeleceu seu resgate em 3 milhões de coroas e permitiu que reféns fossem mantidos no mesmo lugar de João II. Os reféns incluíam dois de seus filhos, vários príncipes e nobres, quatro cidadãos de Paris e dois cidadãos de cada uma das dezenove principais cidades da França. Enquanto esses reféns eram mantidos, João II retornou à França para tentar arrecadar fundos para pagar o resgate. Em 1362, o filho de João II, Luís I, Duque de Anjou, refém em Calais, controlado pelos ingleses, escapou do cativeiro. Assim, com a partida de seu refém substituto, João II sentiu-se obrigado a retornar ao cativeiro na Inglaterra.[35][41]

A coroa francesa estava em desacordo com Navarra (perto do sul da Gasconha) desde 1354, e em 1363 os navarros usaram o cativeiro de João II em Londres e a fraqueza política do Delfim da França para tentar tomar o poder.[42] Embora não houvesse um tratado formal, Eduardo III da Inglaterra apoiou os movimentos de Navarra, principalmente porque havia uma perspectiva de que ele pudesse ganhar o controle sobre as províncias do norte e do oeste como consequência. Com isso em mente, Eduardo III deliberadamente retardou as negociações de paz.[43] Em 1364, João II morreu em Londres, enquanto ainda em cativeiro honorável.[44] Carlos V o sucedeu como rei da França.[35][45] Em 16 de maio, um mês após a ascensão do Delfim e três dias antes de sua coroação como Carlos V, os navarros sofreu uma derrota esmagadora na Batalha de Cocherel.[46]

Ascendência francesa sob Carlos V: 1369-1389

Aquitânia e Castela

Ver artigo principal: Guerra dos Cem Anos (1369-1389)

Em 1366 houve uma guerra civil de sucessão em Castela (parte da atual Espanha). As forças do governante Pedro I de Castela foram lançadas contra as de seu meio-irmão Henrique de Trastámara. A coroa inglesa apoiou Pedro I; os franceses apoiaram Henrique. As forças francesas foram lideradas por Bertrand du Guesclin, um bretão, que ascendeu de origens relativamente humildes à proeminência como um dos líderes de guerra da França. Carlos V forneceu uma força de 12.000, com du Guesclin à frente, para apoiar Trastámara em sua invasão de Castela.[47]

Estátua de Bertrand du Guesclin em Dinan

Pedro I apelou para a Inglaterra e o Eduardo, o Príncipe Negro da Aquitânia por ajuda, mas nenhuma ajuda foi recebida, forçando Pedro I ao exílio na Aquitânia. O Príncipe Negro já havia concordado em apoiar as reivindicações de Pedro I, mas as preocupações com os termos do Tratado de Brétigny o levaram a ajudar Pedro I como representante da Aquitânia, em vez da Inglaterra. Ele então liderou um exército Anglo-Gascão em Castela. Pedro I foi restaurado ao poder depois que o exército de Trastámara foi derrotado na Batalha de Nájera.[48]

Embora os castelhanos tivessem concordado em financiar o Príncipe Negro, eles não o fizeram. O príncipe estava sofrendo com problemas de saúde e voltou com seu exército para a Aquitânia. Para pagar as dívidas contraídas durante a campanha de Castela, o príncipe instituiu um imposto de lareira. Arnaud Amanieu d'Albret, senhor de Albret, lutou ao lado do Príncipe Negro durante a guerra. Albret, que já estava descontente com o influxo de administradores ingleses na Aquitânia ampliada, recusou-se a permitir que o imposto fosse cobrado em seu feudo. Ele então se juntou a um grupo de senhores da Gasconha que apelaram a Carlos V da França por apoio em sua recusa em pagar o imposto. Carlos V convocou um senhor da Gasconha e o Príncipe Negro para ouvir o caso em seu Supremo Tribunal em Paris. O Príncipe Negro respondeu que iria para Paris com 60.000 homens atrás dele. A guerra estourou novamente e Eduardo III da Inglaterra reclamou o título de rei da França.[49] Carlos V declarou que todas as possessões inglesas na França foram confiscadas e, antes do final de 1369, toda a Aquitânia estava em plena revolta.[49][50]

Com a saída do Príncipe Negro de Castela, Henrique de Trastámara liderou uma segunda invasão que terminou com a morte de Pedro I na Batalha de Montiel em março de 1369. O novo regime castelhano forneceu apoio naval às campanhas francesas contra a Aquitânia e a Inglaterra.[48] Em 1372, a frota castelhana derrotou a frota inglesa na Batalha de La Rochelle.

Campanha de João de Gante de 1373

Em agosto de 1373, João de Gante, acompanhado por João V de Bretanha, duque da Bretanha liderou uma força de 9.000 homens de Calais em um chevauchée. Embora inicialmente bem-sucedidos, pois as forças francesas não estavam suficientemente concentradas para se opor a eles, os ingleses encontraram mais resistência à medida que se deslocavam para o sul. As forças francesas começaram a se concentrar em torno da força inglesa, mas sob as ordens de Carlos V da França, os franceses evitaram uma batalha definida. Em vez disso, eles caíram sobre as forças destacadas do corpo principal para atacar ou pilhar. Os franceses seguiram os ingleses e, em outubro, os ingleses se viram encurralados no rio Allier por quatro forças francesas. Com alguma dificuldade, os ingleses atravessaram a ponte de Moulins, mas perderam toda a sua bagagem e saque. Os ingleses continuaram para o sul através do planalto de Limusino, mas o tempo estava ficando severo. Homens e cavalos morreram em grande número e muitos soldados, forçados a marchar a pé, descartaram suas armaduras. No início de dezembro, o exército inglês entrou em território aliado na Gasconha. No final de dezembro eles estavam em Bordéus, famintos, mal equipados e tendo perdido mais da metade dos 30.000 cavalos com os quais haviam deixado Calais. Embora a marcha pela França tenha sido um feito notável, foi um fracasso militar.[51]

Tumulto inglês

A marinha Franco-Castelhana, liderada pelos almirantes de Vienne e Tovar, conseguiu invadir as costas inglesas pela primeira vez desde o início da Guerra dos Cem Anos

Com sua saúde se deteriorando, Eduardo, o Príncipe Negro retornou à Inglaterra em janeiro de 1371, onde seu pai Eduardo III da Inglaterra era idoso e também com problemas de saúde. A doença do príncipe era debilitante e ele morreu em 8 de junho de 1376.[52] Eduardo III morreu no ano seguinte em 21 de junho de 1377[53] e foi sucedido pelo segundo filho do Príncipe Negro, Ricardo II da Inglaterra, que ainda tinha 10 anos (Eduardo de Angoulême, o primeiro filho do Príncipe Negro, havia morrido algum tempo antes).[54] O Tratado de Brétigny deixou Eduardo III e a Inglaterra com propriedades ampliadas na França, mas um pequeno exército profissional francês sob a liderança de Bertrand du Guesclin empurrou os ingleses de volta; quando Carlos V da França morreu em 1380, os ingleses detinham apenas Calais e alguns outros portos.[55]

Era comum nomear um regente no caso de um monarca criança, mas nenhum regente foi nomeado para Ricardo II, que exerceu nominalmente o poder da realeza a partir da data de sua ascensão em 1377.[54] Entre 1377 e 1380, o poder real estava nas mãos de uma série de conselhos. A comunidade política preferiu isso a uma regência liderada pelo tio do rei, João de Gante, embora Gante permanecesse altamente influente.[54] Ricardo II enfrentou muitos desafios durante seu reinado, incluindo a Revolta dos Camponeses liderada por Wat Tyler em 1381 e uma Guerra Anglo-Escocesa em 1384-1385. Suas tentativas de aumentar os impostos para pagar sua aventura escocesa e para a proteção de Calais contra os franceses o tornaram cada vez mais impopular.[54]

Campanha do Conde de Buckingham de 1380

Em julho de 1380, o Tomás de Woodstock, conde de Buckingham comandou uma expedição à França para ajudar o aliado da Inglaterra, o João V, Duque da Bretanha. Os franceses recusaram a batalha diante das muralhas de Troyes em 25 de agosto; As forças de Buckingham continuaram seu chevauchée e em novembro sitiaram Nantes.[56] O apoio esperado do duque da Bretanha não apareceu e diante de graves perdas de homens e cavalos, Buckingham foi forçado a abandonar o cerco em janeiro de 1381.[57] Em fevereiro, reconciliada com o regime do novo rei francês Carlos VI da França pelo Tratado de Guérande, a Bretanha pagou 50.000 francos a Buckingham para que ele abandonasse o cerco e a campanha.[58]

Tumulto francês

Após as mortes de Carlos V da França e Bertrand du Guesclin em 1380, a França perdeu sua liderança principal e impulso geral na guerra. Carlos VI da França sucedeu seu pai como rei da França aos 11 anos de idade, e assim foi colocado sob uma regência liderada por seus tios, que conseguiram manter um controle efetivo dos assuntos do governo até cerca de 1388, bem depois de Carlos VI ter alcançado a maioridade real.

Com a França enfrentando destruição generalizada, peste e recessão econômica, a alta tributação colocou um fardo pesado sobre o campesinato e as comunidades urbanas francesas. O esforço de guerra contra a Inglaterra dependia em grande parte da tributação real, mas a população estava cada vez mais relutante em pagar por isso, como seria demonstrado nas revoltas de Harelle e Maillotin em 1382. Carlos V havia abolido muitos desses impostos em seu leito de morte, mas tentativas subsequentes de restaurá-los provocaram hostilidade entre o governo francês e a população.

Filipe II da Borgonha, tio do rei francês, reuniu um exército Franco-Borguinhões e uma frota de 1.200 navios perto da cidade de Sluis, na Zelândia, no verão e outono de 1386, para tentar uma invasão da Inglaterra, mas esse empreendimento fracassou. No entanto, o irmão de Filipe II, João de Berry, apareceu deliberadamente atrasado, de modo que o clima de outono impediu que a frota partisse e o exército invasor se dispersasse novamente.

Dificuldades em aumentar impostos e receitas prejudicaram a capacidade dos franceses de combater os ingleses. Nesse ponto, o ritmo da guerra havia diminuído amplamente, e ambas as nações se viram lutando principalmente por meio de guerras por procuração, como durante o interregno português de 1383-1385. O partido da independência do Reino de Portugal, que era apoiado pelos ingleses, venceu os partidários da reivindicação do rei de Castela ao trono português, que por sua vez era apoiado pelos franceses.

Segunda paz: 1389-1415

França em 1388, pouco antes de assinar uma trégua. Os territórios ingleses são mostrados em vermelho, os territórios franceses são em azul escuro, os territórios papais são em laranja e os vassalos franceses têm as outras cores

A guerra tornou-se cada vez mais impopular entre o público inglês devido aos altos impostos necessários para o esforço de guerra. Esses impostos foram vistos como um dos motivos da Revolta dos Camponeses.[59] A indiferença de Ricardo II da Inglaterra à guerra, juntamente com seu tratamento preferencial de alguns poucos amigos e conselheiros seletos, enfureceu uma aliança de senhores que incluía um de seus tios. Este grupo, conhecido como Lords Appellant, conseguiu apresentar acusações de traição contra cinco dos conselheiros e amigos de Ricardo II no Parlamento Impiedoso. Os Lords Appellant foram capazes de ganhar o controle do conselho em 1388, mas não conseguiram reacender a guerra na França. Embora o testamento estivesse lá, os fundos para pagar as tropas faltavam, então no outono de 1388 o Conselho concordou em retomar as negociações com a coroa francesa, começando em 18 de junho de 1389 com a assinatura da Trégua de Leulinghem de três anos.[59][60]

Em 1389, o tio e defensor de Ricardo II, João de Gante, retornou de Castela e Ricardo foi capaz de reconstruir seu poder gradualmente até 1397, quando reafirmou sua autoridade e destruiu os três principais entre os Lords Appellant. Em 1399, depois que João de Gante morreu, Ricardo II deserdou o filho de Gante, o exilado Henrique de Bolingbroke. Bolingbroke retornou à Inglaterra com seus partidários, depôs Ricardo II e se coroou Henrique IV da Inglaterra.[54][60][61] Na Escócia, os problemas trazidos pela mudança de regime inglês provocaram ataques de fronteira que foram combatidos por uma invasão em 1402 e a derrota de um exército escocês na Batalha de Homildon Hill.[62] Uma disputa sobre os despojos entre Henrique IV e Henry Percy, 1.º Conde de Northumberland, resultou em uma longa e sangrenta luta entre os dois pelo controle do norte da Inglaterra, resolvida apenas com a destruição quase completa da Casa de Percy em 1408.[63][64]

No País de Gales, Owain Glyndŵr foi declarado Príncipe de Gales em 16 de setembro de 1400. Ele foi o líder da rebelião mais séria e generalizada contra a autoridade da Inglaterra no País de Gales desde a conquista de 1282-1283. Em 1405, os franceses aliaram-se a Glyndŵr e aos castelhanos em Castela; um exército Granco-Galês avançou até Worcester, enquanto os castelhanos usaram Galés para invadir e queimar todo o caminho de Cornualha a Southampton, antes de se refugiar em Harfleur no inverno.[65] A Ascensão de Glyndŵr foi finalmente derrubada em 1415 e resultou na semi-independência galesa por vários anos.[66]

Assassinato de Luís de Valois, Duque de Orleães em Paris em 1407

Em 1392, Carlos VI da França de repente caiu na loucura, forçando a França a uma regência dominada por seus tios e seu irmão. Um conflito pelo controle da regência começou entre seu tio Filipe, o Ousado, Duque de Borgonha e seu irmão, Luís de Valois, Duque de Orleães. Após a morte de Filipe, o Ousado, seu filho e herdeiro João, o Destemido, continuou a luta contra Luís de Valois, mas com a desvantagem de não ter nenhuma relação próxima com o rei. Encontrando-se superado politicamente, João, o Destemido ordenou o assassinato de Luís de Valois em retaliação. Seu envolvimento no assassinato foi rapidamente revelado e a família Armagnacs assumiu o poder político em oposição a João, o Destemido. Em 1410, ambos os lados estavam concorrendo à ajuda das forças inglesas em uma guerra civil.[61] Em 1418, Paris foi tomada pelos borgonheses, que não conseguiram impedir o massacre do Bernardo VII, Conde de Armagnac e seus seguidores por uma multidão parisiense, com um número de mortos estimado entre 1.000 e 5.000.[67]

Ao longo deste período, a Inglaterra enfrentou repetidos ataques de piratas que prejudicaram o comércio e a marinha. Há alguma evidência de que Henrique IV usou a pirataria legalizada pelo estado como uma forma de guerra no Canal da Mancha. Ele usou essas campanhas de corsários para pressionar os inimigos sem arriscar uma guerra aberta.[68] Os franceses responderam na mesma moeda e os piratas franceses, sob proteção escocesa, invadiram muitas cidades costeiras inglesas.[69] As dificuldades domésticas e dinásticas enfrentadas pela Inglaterra e pela França nesse período acalmaram a guerra por uma década.[69] Henrique IV morreu em 1413 e foi substituído por seu filho mais velho, Henrique V de Inglaterra. A doença mental de Carlos VI permitiu que seu poder fosse exercido por príncipes reais cujas rivalidades causaram profundas divisões na França. Em 1414, enquanto Henrique V mantinha a corte em Leicester, ele recebeu embaixadores do Estado da Borgonha.[70] Henrique V credenciou enviados ao rei francês para deixar claras suas reivindicações territoriais na França; ele também exigiu a mão da filha mais nova de Carlos VI, Catarina de Valois. Os franceses rejeitaram suas exigências, levando Henrique V a se preparar para a guerra.[70]

Retomada da guerra sob Henrique V: 1415-1429

Miniatura do século XV representando a Batalha de Azincourt de 1415

Aliança da Borgonha e a tomada de Paris

Batalha de Azincourt (1415)

Em agosto de 1415, Henrique V partiu da Inglaterra com uma força de cerca de 10.500 homens e sitiou Harfleur, na França. A cidade resistiu por mais tempo do que o esperado, mas finalmente se rendeu em 22 de setembro. Por causa do atraso inesperado, a maior parte da temporada de campanha se foi. Em vez de marchar diretamente para Paris, Henrique V optou por fazer uma expedição de invasão pela França em direção a Calais, já ocupada pelos ingleses. Em uma campanha que lembra Crécy, ele se viu derrotado e com poucos suprimentos e teve que lutar contra um exército francês muito maior na Batalha de Azincourt, ao norte do rio Somme. Apesar dos problemas e de ter uma força menor, sua vitória foi quase total; a derrota francesa foi catastrófica, custando a vida de muitos dos líderes Armagnacs. Cerca de 40% da nobreza francesa foi morta.[4] Henrique V estava aparentemente preocupado que o grande número de prisioneiros levados fosse um risco de segurança (havia mais prisioneiros franceses do que soldados em todo o exército inglês) e ordenou a morte deles.[70]

Tratado de Troyes (1420)

Ver artigo principal: Tratado de Troyes

Henrique V da Inglaterra retomou grande parte da Normandia, incluindo Caen em 1417, e Rouen em 19 de janeiro de 1419, tornando a Normandia inglesa pela primeira vez em dois séculos. Uma aliança formal foi feita com a Borgonha, que havia tomado Paris após o assassinato do duque João, o Destemido, em 1419. Em 1420, Henrique V se encontrou com o rei Carlos VI da França. Eles assinaram o Tratado de Troyes, pelo qual Henrique V finalmente se casou com a filha de Carlos VI, Catarina de Valois, e os herdeiros de Henrique V herdariam o trono da França. O Delfim, Carlos VII da França, foi declarado ilegítimo. Henrique V entrou formalmente em Paris no final daquele ano e o acordo foi ratificado pelos Estados Gerais (em francês: Les États-Généraux).[70]

Morte do Duque de Clarence (1421)

Escudo do Clã Carmichael com uma lança quebrada comemorando a derrubada do Duque de Clarence, levando à sua morte na Batalha de Baugé

Em 22 de março de 1421, o progresso de Henrique V da Inglaterra em sua campanha francesa sofreu uma reversão inesperada. Henrique V havia deixado seu irmão e herdeiro presuntivo Thomas, Duque de Clarence no comando enquanto ele retornava à Inglaterra. Clarence contratou uma força Franco-Escocesa de 5.000 homens, liderada por Gilbert Motier de La Fayette e John Stewart, Conde de Buchan na Batalha de Baugé. Clarence, contra o conselho de seus tenentes, antes que seu exército estivesse totalmente reunido, atacou com uma força de não mais de 1.500 homens. Então, durante o curso da batalha, ele liderou uma carga de algumas centenas de homens no corpo principal do exército Franco-Escocês, que rapidamente envolveu os ingleses. Na confusão que se seguiu, o escocês, John Carmichael de Douglasdale, quebrou sua lança derrubando o Duque de Clarence de seu cavalo. Uma vez no chão, o duque foi morto por Alexander Buchanan.[70][71] O corpo do Duque de Clarence foi recuperado do campo por Thomas Montacute, 4.º Conde de Salisbury, que conduziu a retira inglesa.[72]

Sucesso inglês

Henrique V da Inglaterra retornou à França e foi para Paris, visitando Chartres e Gâtinais antes de retornar a Paris. De lá, ele decidiu atacar a cidade de Meaux, controlada pelo Delfim da França. Acabou sendo mais difícil de superar do que se pensava. O cerco começou por volta de 6 de outubro de 1421, e a cidade resistiu por sete meses antes de finalmente cair em 11 de maio de 1422.[70] No final de maio, Henrique V foi acompanhado por sua rainha e, juntamente com a corte francesa, foram descansar em Senlis. Enquanto estava lá, tornou-se evidente que ele estava doente (possivelmente disenteria), e quando ele partiu para o Alto Loire, ele desviou para o castelo real em Vincennes, perto de Paris, onde morreu em 31 de agosto.[70] O idoso e insano Carlos VI da França morreu dois meses depois, em 21 de outubro. Henrique V deixou um filho único, seu filho de nove meses, Henrique, que mais tarde se tornaria Henrique VI da Inglaterra.[73]

Em seu leito de morte, como Henrique VI era apenas uma criança, Henrique V deu ao João de Lencastre, Duque de Bedford a responsabilidade pela França inglesa. A guerra na França continuou sob o comando de Bedford e várias batalhas foram vencidas. Os ingleses obtiveram uma vitória enfática na Batalha de Verneuil (17 de agosto de 1424). Na Batalha de Baugé, o Tomás de Lencastre, Duque de Clarence correu para a batalha sem o apoio de seus arqueiros. Em Verneuil, os arqueiros lutaram com efeitos devastadores contra o exército Franco-Escocês. O efeito da batalha foi destruir virtualmente o exército de campo do Delfim e eliminar os escoceses como uma força militar significativa para o resto da guerra.[73][74]

Vitória francesa: 1429-1453

Ver artigo principal: Guerra dos Cem Anos (1415-1453)

Joana d'Arc e o renascimento francês

A primeira imagem ocidental de uma batalha com canhões: o Cerco de Orleães em 1429. De Les Vigiles de Charles VII, Biblioteca Nacional da França, Paris
Joana d'Arc (pintura de 1429)

A aparição de Joana d'Arc no Cerco de Orleães provocou um renascimento do espírito francês, e a maré começou a virar contra os ingleses.[73] Os ingleses sitiaram Orleães em 1428, mas sua força foi insuficiente para investir totalmente a cidade. Em 1429, Joana d'Arc persuadiu o Delfim da França a mandá-la para o cerco, dizendo que ela havia recebido visões de Deus dizendo-lhe para expulsar os ingleses. Ela elevou o moral das tropas, e eles atacaram os redutos ingleses, forçando os ingleses a levantar o cerco. Inspirados por Joana d'Arc, os franceses tomaram várias fortalezas inglesas no rio Loire.[75]

Os ingleses recuaram do Vale do Loire, perseguidos por um exército francês. Os ingleses perderam 2.200 homens, e o comandante, John Talbot, 1.º Conde de Shrewsbury, foi feito prisioneiro. Esta vitória abriu o caminho para o Delfim marchar para Reims para sua coroação como Carlos VII da França, em 16 de julho de 1429.[75][76]

Após a coroação, o exército de Carlos VII não se saiu bem. Uma tentativa francesa de Cerco de Paris foi derrotada em 8 de setembro de 1429, e Carlos VII retirou-se para o Vale do Loire.[77]

As coroações de Henrique e a deserção da Borgonha

Henrique VI da Inglaterra foi coroado rei da Inglaterra na Abadia de Westminster em 5 de novembro de 1429 e rei da França em Notre-Dame, em Paris, em 16 de dezembro de 1431.[73]

Joana d'Arc foi capturada pelos borgonheses no Cerco de Compiègne em 23 de maio de 1430. Os borgonheses então a transferiram para os ingleses, que organizaram um julgamento liderado por Pedro Cauchon, bispo de Beauvais e colaborador do governo inglês que serviu como membro do Conselho Inglês em Rouen.[78] Joana d'Arc foi condenada e queimada na fogueira em 30 de maio de 1431[75] (ela foi reabilitada 25 anos depois pelo Papa Calisto III).

Após a morte de Joana d'Arc, os destinos da guerra se voltaram dramaticamente contra os ingleses.[79] A maioria dos conselheiros reais de Henrique VI era contra a paz. Entre as facções, o João de Lencastre, Duque de Bedford queria defender a Normandia, o Humberto de Lencastre, Duque de Gloucester estava comprometido apenas com Calais, enquanto o cardeal Beaufort estava inclinado à paz. As negociações pararam. Parece que no Congresso de Arras, no verão de 1435, onde o duque de Beaufort foi mediador, os ingleses foram irrealistas em suas reivindicações. Poucos dias depois que o congresso terminou em setembro, Filipe III de Borgonha, duque de Borgonha, desertou em favor a Carlos VII da França, assinando o Tratado de Arras que devolveu Paris ao rei da França. Este foi um grande golpe para a soberania inglesa na França.[73] O duque de Bedford morreu em 14 de setembro de 1435 e mais tarde foi substituído por Ricardo, 3.º Duque de Iorque.[79]

Ressurgência francesa

A Batalha de Formigny (1450)

A fidelidade da Borgonha permaneceu inconstante, mas o foco inglês em expandir seus domínios na região dos Países Baixos lhes deixou pouca energia para intervir no resto da França.[80] As longas tréguas que marcaram a guerra deram a Carlos VII da França tempo para centralizar o estado francês e reorganizar seu exército e governo, substituindo suas tropas feudais por um exército profissional mais moderno que poderia fazer bom uso de seus números superiores. Um castelo que uma vez só poderia ser capturado após um cerco prolongado agora cairia após alguns dias do bombardeio de canhões. A artilharia francesa desenvolveu uma reputação como a melhor do mundo.[79]

Em 1449, os franceses retomaram Rouen. Em 1450, o Carlos I, Duque de Bourbon, conde de Clermont e Artur de Richemont, conde de Richmond, da família Montfort (o futuro Artur III, duque da Bretanha), capturou um exército inglês tentando apoiar Caen e o derrotou na Batalha de Formigny em 1450. As forças de Richemont atacaram o exército inglês pelo flanco e pela retaguarda quando estavam prestes a derrotar o exército de Clermont.[81]

Conquista francesa da Gasconha

Carlos, o Vitorioso de Jean Fouquet. Louvre, Paris

Após a bem-sucedida campanha de Carlos VII da França na Normandia em 1450, ele concentrou seus esforços na Gasconha, a última província ocupada pelos ingleses. Bordéus, capital da Gasconha, foi sitiada e se rendeu aos franceses em 30 de junho de 1451. Em grande parte devido às simpatias inglesas do povo gascão, isso foi revertido quando John Talbot e seu exército retomaram a cidade em 23 de outubro de 1452. No entanto, os ingleses foram derrotados decisivamente na Batalha de Castillon em 17 de julho de 1453. Talbot foi persuadido a enfrentar o exército francês em Castillon, perto de Bordéus. Durante a batalha, os franceses pareciam recuar em direção ao seu acampamento. O acampamento francês em Castillon havia sido estabelecido pelo oficial de ordenanças de Carlos VII, Jean Bureau, e isso foi fundamental para o sucesso francês, pois quando os canhões franceses abriram fogo, de suas posições no acampamento, os ingleses sofreram graves baixas, perdendo Talbot e seu filho.[82]

Fim da guerra

Embora a Batalha de Castillon seja considerada a última batalha da Guerra dos Cem Anos, a Inglaterra e a França permaneceram formalmente em guerra por mais 20 anos, mas os ingleses não estavam em posição de continuar a guerra, pois enfrentaram distúrbios em casa. Bordéus caiu para os franceses em 19 de outubro e não houve mais hostilidades depois. Após a derrota na Guerra dos Cem Anos, os proprietários de terras ingleses reclamaram veementemente das perdas financeiras resultantes da perda de suas propriedades continentais; isso é frequentemente considerado uma das principais causas da Guerra das Rosas que começou em 1455.[79][83]

A Guerra dos Cem Anos quase recomeçou em 1474, quando Carlos, Duque da Borgonha, contando com o apoio inglês, pegou em armas contra Luís XI da França. Luís XI conseguiu isolar os borgonheses comprando Eduardo IV da Inglaterra com uma grande soma em dinheiro e uma pensão anual, no Tratado de Picquigny (1475). O tratado encerrou formalmente a Guerra dos Cem Anos com Eduardo IV renunciando sua reivindicação ao trono da França. No entanto, os futuros reis da Inglaterra (e mais tarde da Grã-Bretanha) continuaram a reivindicar o título até 1803, quando foram abandonados em deferência ao exilado Conde de Provence, rei titular Luís XVIII da França, que vivia na Inglaterra após a Revolução Francesa.[84]

Alguns historiadores usam o termo "A Segunda Guerra dos Cem Anos" como uma periodização para descrever a série de conflitos militares entre a Grã-Bretanha e a França que ocorreram de 1689 (ou alguns dizem 1714) a 1815.[85][86][87] Da mesma forma, alguns historiadores se referem à Rivalidade Capetiana-Plantageneta, série de conflitos e disputas que abrangeram um período de 100 anos (1159-1259) como "A Primeira Guerra dos Cem Anos".

Significância

Territórios da Borgonha (laranja/amarelo) e limites da França (vermelho) após as Guerras da Borgonha

Significado histórico

A vitória francesa marcou o fim de um longo período de instabilidade que havia sido semeado com a Conquista normanda da Inglaterra em 1066, quando Guilherme, o Conquistador, acrescentou "Rei da Inglaterra" aos seus títulos, tornando-se vassalo (como Duque da Normandia) e igual (como rei da Inglaterra) ao rei da França.[88]

Quando a guerra terminou, a Inglaterra foi despojada de suas possessões continentais, deixando-a apenas com Pale de Calais no continente (até 1558). A guerra destruiu o sonho inglês de uma monarquia conjunta e levou à rejeição na Inglaterra de todas as posses francesas, embora a língua francesa na Inglaterra, que serviu como língua das classes dominantes e do comércio desde a conquista normanda, deixou muitos vestígios no vocabulário inglês. O inglês tornou-se a língua oficial em 1362 e o francês não foi mais usado para o ensino a partir de 1385.[89]

O sentimento nacional que emergiu da guerra unificou ainda mais a França e a Inglaterra. Apesar da devastação em seu solo, a Guerra dos Cem Anos acelerou o processo de transformação da França de uma monarquia feudal em um estado centralizado.[90] Na Inglaterra, os problemas políticos e financeiros que surgiram da derrota foram uma das principais causas da Guerra das Rosas (1455-1487).[83]

A propagação da Peste Negra (com fronteiras modernas)

O historiador Ben Lowe argumentou em 1997 que a oposição à guerra ajudou a moldar a cultura política moderna da Inglaterra. Embora os porta-vozes antiguerra e pró-paz geralmente não tenham influenciado os resultados na época, eles tiveram um impacto de longo prazo. A Inglaterra mostrou um entusiasmo cada vez menor por conflitos considerados não de interesse nacional, gerando apenas perdas em troca de altos encargos econômicos. Ao comparar essa análise de custo-benefício inglesa com as atitudes francesas, visto que ambos os países sofriam com líderes fracos e soldados indisciplinados, Lowe observou que os franceses entendiam que a guerra era necessária para expulsar os estrangeiros que ocupavam sua pátria. Além disso, os reis franceses encontraram formas alternativas de financiar a guerra, impostos sobre vendas, rebaixando a cunhagem, e eram menos dependentes do que os ingleses das taxas de impostos aprovadas pelas legislaturas nacionais. Os críticos antiguerra ingleses, portanto, tinham mais com que trabalhar do que os franceses.[91]

Uma teoria de 2021 sobre a formação inicial da capacidade estatal é que a guerra interestadual foi responsável por iniciar um forte movimento em direção aos estados que implementam sistemas tributários com capacidades estatais mais altas. Por exemplo, veja a França na Guerra dos Cem Anos, quando a ocupação inglesa ameaçou o reino francês independente. O rei e sua elite governante exigiam tributação consistente e permanente, o que permitiria o financiamento de um exército permanente. A nobreza francesa, que sempre se opôs a tal extensão da capacidade do Estado, concordou com esta situação excepcional. Assim, a guerra interestatal com a Inglaterra aumentou a capacidade do estado francês.[92]

A Peste Negra e a guerra reduziram os números da população em toda a Europa durante esse período. A França perdeu metade de sua população durante a Guerra dos Cem Anos,[4] com a Normandia reduzida em três quartos e Paris em dois terços.[93] Durante o mesmo período, a população da Inglaterra caiu de 20% a 33%.[5]

Significância militar

O primeiro exército regular permanente na Europa Ocidental desde os tempos romanos foi organizado na França em 1445, em parte como uma solução para as companhias livres de mercenários. As companhias mercenárias tiveram a opção de se juntar ao exército real como Compagnie d'ordonnance em uma base permanente, ou serem caçadas e destruídas se recusassem. A França ganhou um exército permanente total de cerca de 6.000 homens, que foi enviado para eliminar gradualmente os mercenários restantes que insistiam em operar por conta própria. O novo exército permanente tinha uma abordagem mais disciplinada e profissional da guerra do que seus predecessores.[94]

A Guerra dos Cem Anos foi uma época de rápida evolução militar. Armas, táticas, estrutura do exército e o significado social da guerra mudaram, em parte em resposta aos custos da guerra, em parte pelo avanço da tecnologia e em parte pelas lições que a guerra ensinou. O sistema feudal se desintegrou lentamente, assim como o conceito de cavalaria.

No final da guerra, embora a cavalaria pesada ainda fosse considerada a unidade mais poderosa de um exército, o cavalo fortemente blindado teve que lidar com várias táticas desenvolvidas para negar ou mitigar seu uso efetivo em um campo de batalha.[95] Os ingleses começaram a usar tropas montadas levemente blindadas, conhecidas como hobelars. As táticas de Hobelars foram desenvolvidas contra os escoceses, nas guerras anglo-escocesas do século XIV. Hobelars montavam cavalos menores sem armadura, permitindo que eles se movessem por terrenos difíceis ou pantanosos onde a cavalaria mais pesada teria mais dificuldades. Em vez de lutar sentados no cavalo, eles desmontavam para enfrentar o inimigo.[94][96][97]

Linha do tempo

Batalhas

Figuras importantes

França

Brasão
de armas
Figura histórica Vida Notas
Rei Filipe VI 1293-1350
Reinou 1328-1350
Filho de Carlos de Valois
Rei João II 1319-1364
Reinou 1350-1364
Filho de Filipe VI
Rei Carlos V 1338-1380
Reinou 1364-1380
Filho de João II
Bertrand du Guesclin 1320-1380 Comandante
Luís I,
Duque de Anjou
1339-1384
Regente 1380-1382
Filho de João II
Rei Carlos VI 1368-1422
Reinou 1380-1422
Filho de Carlos V
Rei Carlos VII 1403-1461
Reinou 1422-1461
Filho de Carlos VI
Joana d'Arc 1412-1431 Visionário religioso
Étienne de Vignolles 1390-1443 Comandante
Jean Poton de Xaintrailles 1390-1461 Comandante
John II,
Duque de Alençon
1409-1476 Comandante
Jean de Dunois 1402-1468 Comandante
Jean Bureau 1390-1463 Mestre artilheiro
Gilles de Rais 1405-1440 Comandante

Inglaterra

Brasão de armas Figura histórica Vida Notas
Isabel da França 1295-1358
Regente da Inglaterra 1327-1330
Rainha consorte da Inglaterra, esposa de Eduardo II, mãe de Eduardo III, regente da Inglaterra, irmã de Carlos IV e filha de Filipe IV da França
Rei Eduardo III 1312-1377
Reinou 1327-1377
Neto de Filipe IV da França
Henrique de Grosmont,
Duque de Lencastre
1310-1361 Comandante
Eduardo, o Príncipe Negro,
Príncipe de Gales
1330-1376 Filho de Eduardo III
João de Gante,
Duque de Lencastre
1340-1399 Filho de Eduardo III
Rei Ricardo II 1367-1400
Reinou 1377-1399
Filho do Príncipe Negro, neto de Eduardo III
Rei Henrique IV 1367-1413
Reinou 1399-1413
Filho de John de Gaunt, neto de Eduardo III
Rei Henrique V 1387-1422
Reinou 1413-1422
Filho de Henrique IV
Catarina de Valois 1401-1437 Rainha consorte da Inglaterra, filha de Carlos VI da França, mãe de Henrique VI da Inglaterra e por seu segundo casamento avó de Henrique VII da Inglaterra
João de Lencastre,
Duque de Bedford
1389-1435
Regente 1422-1435
Filho de Henrique IV
Sir John Fastolf[76] 1380-1459 Comandante
John Talbot,
Conde de Shrewsbury
1387-1453 Comandante
Rei Henrique VI 1421-1471
Reinou 1422-1461 (também 1422-1453 como rei Henrique II da França)
Filho de Henrique V, neto de Carlos VI da França
Ricardo Plantageneta,
Duque de Iorque
1411-1460 Comandante

Borgonha

Brasão
de armas
Figura histórica Vida Notas
Filipe, o Ousado,
Duque da Borgonha
1342-1404
Duque 1363-1404
Filho de João II da França
João, o Destemido,
Duque da Borgonha
1371-1419
Duque 1404-1419
Filho de Filipe, o Ousado
Filipe, o Bom,
Duque da Borgonha
1396-1467
Duque 1419-1467
Filho de João, o Destemido

Notas

  1. 24 de maio de 1337 é o dia em que Filipe VI da França confiscou a Aquitânia de Eduardo III da Inglaterra, que respondeu reivindicando o trono francês. Bordéus caiu para os franceses em 19 de outubro de 1453; não houve mais hostilidades depois disso.
  2. Lutou contra a Inglaterra durante a Cruzada de Despenser.
  3. Lutou com a Inglaterra durante a Guerra Carolina.
  4. Lutou com a Inglaterra durante a Cruzada de Despenser.

Referências

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Fontes

Leitura adicional

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