Grande Expurgo: diferenças entre revisões

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O {{PBPE|Grande Expurgo|Grande Purga}} (em [[Língua russa|russo]]: Большая чистка, [[Transliteração|transl.]] ''Bolshaya tchistka'') foi uma ação persecutória violenta movida pelo ditador [[URSS|soviético]] [[Josef Stalin]] ([[1879]]-[[1953]]) contra seus opositores políticos entre os anos de [[1934]] e [[1939]].<ref name="McCauley"/><ref name="Kenez"/>
O {{PBPE|Grande Expurgo|Grande Purga}} (em [[Língua russa|russo]]: Большая чистка, [[Transliteração|transl.]] ''Bolshaya tchistka'') foi uma ação persecutória violenta movida pelo ditador [[URSS|soviético]] [[Josef Stalin]] ([[1879]]-[[1953]]) contra seus opositores políticos entre os anos de [[1934]] e [[1939]].<ref name="McCauley"/><ref name="Kenez"/>


Na luta pela consolidação do poder [[Stalin]] liquidou cerca de dois terços dos quadros do [[Partido Comunista da URSS]],<ref name="Kenez">{{citar livro|autor= Peter Kenez | título="A History of the Soviet Union from the Beginning to the End " |capítulo=5 |ano=1999|página= 103-108|editora=Cambridge University Press |local=Cambridge |ISBN=0-521-31198-5 }}</ref><ref name="Martin">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="Stalin and Stalinism" |capítulo=2 |ano=1993|página= 34-35|editora=Longman Group Limited |local=England |ISBN=0-582-27658-6 }}</ref> ao menos 5.000 oficiais do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco estrelas do [[Exército Vermelho]]<ref name="McCauley">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=3 |ano=1994|página= 100-108|editora=Longman Group Limited |local=England |ISBN=0-582-01323-2}}</ref> – criado durante a [[Revolução Russa]] por [[Leon Trótski|Leon Trotsky]], seu dissidente mais conhecido – e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo". Dos 139 membros dirigentes do Partido Comunista 98 foram executados.<ref name="Martin"/>
Na luta pela consolidação do poder, [[Stalin]] liquidou cerca de dois terços dos quadros do [[Partido Comunista da URSS]],<ref name="Kenez">{{citar livro|autor= Peter Kenez | título="A History of the Soviet Union from the Beginning to the End " |capítulo=5 |ano=1999|página= 103-108|editora=Cambridge University Press |local=Cambridge |ISBN=0-521-31198-5 }}</ref><ref name="Martin">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="Stalin and Stalinism" |capítulo=2 |ano=1993|página= 34-35|editora=Longman Group Limited |local=England |ISBN=0-582-27658-6 }}</ref> ao menos 5.000 oficiais do Exército acima da [[Hierarquia militar|patente]] de [[major]], 13 de 15 generais de cinco estrelas do [[Exército Vermelho]]<ref name="McCauley">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=3 |ano=1994|página= 100-108|editora=Longman Group Limited |local=England |ISBN=0-582-01323-2}}</ref> – criado durante a [[Revolução Russa]] por [[Leon Trótski|Leon Trotsky]], seu [[dissidente]] mais conhecido – e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo". Dos 139 membros dirigentes do Partido Comunista 98 foram executados.<ref name="Martin"/>

O assassinato de seu rival político, e possível sucessor, [[Serguei Kirov]], em [[1 de Dezembro]] de [[1934]], foi o pretexto usado por Stalin para iniciar os expurgos.<ref name="Os Grandes Líderes: Kruschev">''Os Grandes Líderes: Kruschev.'' Martin Ebon, [[Nova cultural]], 1987, págs. 37-38. Adicionado em 20/12/2014.</ref>


== Vitor Serge ==
== Vitor Serge ==

No prefácio de [[1938]] à sua obra ''O ano I da Revolução Russa'', o revolucionário russo-belga [[Victor Serge]] sintetiza o que, na altura desse ano, era o resultado das perseguições políticas de [[Stalin]]:
No prefácio de [[1938]] à sua obra ''O ano I da Revolução Russa'', o revolucionário russo-belga [[Victor Serge]] sintetiza o que, na altura desse ano, era o resultado das perseguições políticas de [[Stalin]]:


{{quote1|"''Dentre os homens cujos nomes serão encontrados nas páginas seguintes deste livro, apenas um sobrevive, [[Trotsky]], perseguido há dez anos e refugiado no [[México]]. [[Lenin]], [[Felix Dzerzhinsky|Dzerjinski]] e Tchitcherin morreram antes, evitando assim a prostração. Zinoviev, [[Lev Kamenev|Kamenev]], Rykov e [[Bukharin]] foram fuzilados. Entre os combatentes da [[Revolução Russa|insurreição de 1917]], o herói de [[Moscou]], Muralov, foi fuzilado; Antonov-Ovseenko, que dirigiu o assalto ao Palácio de Inverno, desapareceu na prisão; Krylenko, Dybenko, Chliapnikov, Gliebov-Avilov, todos os membros do primeiro Conselho dos Comissários do Povo, tiveram a mesma sorte, assim como Smilga, que dirigia a frota do [[Báltico]], e Riazanov; Sokolnikov e Bubnov, do ''Bureau'' político da insurreição estão presos, se é que ainda vivem;
{{quote1|''Dentre os homens cujos nomes serão encontrados nas páginas seguintes deste livro, apenas um sobrevive, [[Trotsky]], perseguido há dez anos e refugiado no [[México]]. [[Lenin]], [[Felix Dzerzhinsky|Dzerjinski]] e Tchitcherin morreram antes, evitando assim a prostração. [[Zinoviev]], [[Lev Kamenev|Kamenev]], [[Aleksei Rykov|Rykov]] e [[Bukharin]] foram fuzilados. Entre os combatentes da [[Revolução Russa|insurreição de 1917]], o herói de [[Moscou]], [[Nikolai Muralov|Muralov]], foi fuzilado; [[Vladimir Aleksandrovitch Antonov-Ovseenko|Antonov-Ovseenko]], que dirigiu o assalto ao [[Palácio de Inverno]], desapareceu na prisão; [[Nikolai Krylenko|Krylenko]], [[Pavlo Dybenko|Dybenko]], Chliapnikov, [[Nikolai Glebov-Avilov|Glebov-Avilov]], todos os membros do primeiro Conselho dos Comissários do Povo, tiveram a mesma sorte, assim como [[Ivar Smilga|Smilga]], que dirigia a frota do [[Báltico]], e [[David Riazanov|Riazanov]]; [[Grigori Sokolnikov|Sokolnikov]] e [[Andrei Bubnov|Bubnov]], do ''Bureau'' político da insurreição estão presos, se é que ainda vivem;''
Karakhan, negociador em [[Brest-Litovsk]], foi fuzilado; dos dois primeiros dirigentes da [[Ucrânia]] soviética, um Piatakov, foi fuzilado, e o outro, Racovski, velho alquebrado, está na prisão; os heróis das batalhas de Sviajsk e do [[Volga]], Ivan Smirnov, Rosengoltz e Tukhatchevski foram fuzilados; Raskolnikov, posto fora da lei, desapareceu; dos combatentes dos Urais, Mratchkovsky foi fuzilado, Bieloborodov desapareceu na prisão; Sapronov e Viladimir Smirnov, combatentes de Moscou, desapareceram na prisão; o mesmo aconteceu com [[Preobrajenski]], o teórico do comunismo de guerra; Sosnovski, porta-voz do [[Partido Bolchevique]] no primeiro Executivo Central dos sovietes da ditadura, foi fuzilado; Enukidze, primeiro secretário desse Executivo, foi fuzilado. A companheira de Lenin, Nadejda Krupskaia, terminou seus dias não se sabe em qual cativeiro… Dentre os homens da revolução alemã, Yoffe suicidou-se, [[Karl Radek]] está preso; Krestinski, que continuou atuando na Alemanha, foi fuzilado.<ref name="McCauley"/> Da oposição socialista-revolucionária de [[1918]], Maria Spiridonova,<ref name="McCauley"/> Trutovski, Kamkov, Karelin, provavelmente sobrevivam, porém na prisão já há 18 anos. Blumkin, que aderiu ao [[PCUS|Partido Comunista]], foi fuzilado.


''[[Lev Karakhan|Karakhan]], negociador em [[Tratado de Brest–Litovski|Brest-Litovsk]], foi fuzilado; dos dois primeiros dirigentes da [[Ucrânia]] soviética, um [[Georgi Piatakov|Piatakov]], foi fuzilado, e o outro, [[Christian Rakovski|Racovski]], velho alquebrado, está na prisão; os heróis das batalhas de Sviajsk e do [[Volga]], [[Ivan Smirnov]], [[Arkady Rosengolts|Rosengolts]] e [[Mikhail Tukhachevsky|Tukhatchevsky]] foram fuzilados; [[Fyodor Raskolnikov|Raskolnikov]], posto fora da lei, desapareceu; dos combatentes dos Urais, Mratchkovsky foi fuzilado, Bieloborodov desapareceu na prisão; [[Timofei Sapronov|Sapronov]] e [[Vladimir Smirnov]], combatentes de Moscou, desapareceram na prisão; o mesmo aconteceu com [[Preobrajenski]], o teórico do [[comunismo de guerra]]; Sosnovski, porta-voz do [[Partido Bolchevique]] no primeiro Executivo Central dos [[soviete]]s da ditadura, foi fuzilado; [[Avel Enukidze|Enukidze]], primeiro secretário desse Executivo, foi fuzilado. A companheira de Lenin, [[Nadežda Konstantinovna Krupskaja|Nadežda Krupskaja]], terminou seus dias não se sabe em qual cativeiro... Dentre os homens da [[Revolução Alemã de 1918-1919|revolução alemã]], [[Adolph Joffe|Joffe]] suicidou-se, [[Karl Radek]] está preso; [[Nikolai Krestinski|Krestinski]], que continuou atuando na [[Alemanha]], foi fuzilado.<ref name="McCauley"/> Da oposição socialista-revolucionária de [[1918]], [[Maria Spiridonova]],<ref name="McCauley"/> Trutovski, [[Boris Kamkov|Kamkov]], [[Vladimir Karelin|Karelin]], provavelmente sobrevivam, porém na prisão já há 18 anos. [[Yakov Blumkin|Blumkin]], que aderiu ao [[PCUS|Partido Comunista]], foi fuzilado.''
Entre os homens que, no Ano II, asseguraram a vitória da revolução, pequeno número ainda vive: Kork, Iakir, Uborevitch, Primakov, Muklevitch, chefes militares dos primeiros [[Exército Vermelho|exércitos vermelhos]], foram fuzilados; fuzilados os defensores de [[Petrogrado]], Evdokimov e Okudjava, Eliava; fuzilado Fayçulla Khodjaev, que teve papel de grande importância na sovietização da Ásia Central; desaparecido na prisão, o presidente do Conselho dos Comissários dos Sovietes da [[Hungria]], [[Béla Kun|Bela-Kun]]''"<ref>Serge, Victor. ''O ano I da Revolução Russa'', [[Paris]], Setembro de [[1938]]</ref>|Victor Serge}}

''Entre os homens que, no Ano II, asseguraram a vitória da revolução, pequeno número ainda vive: Kork, Iakir, Uborevitch, [[Vitaly Primakov|Primakov]], Muklevitch, chefes militares dos primeiros [[Exército Vermelho|exércitos vermelhos]], foram fuzilados; fuzilados os defensores de [[Petrogrado]], Evdokimov e Okudjava, [[Giorgi Eliava|Eliava]]; fuzilado [[Fayzulla Khodzhayev]], que teve papel de grande importância na [[sovietização]] da [[Ásia Central]]; desaparecido na prisão, o presidente do Conselho dos Comissários dos Sovietes da [[Hungria]], [[Béla Kun]]...''<ref>Serge, Victor. ''O ano I da Revolução Russa'', [[Paris]], Setembro de [[1938]]</ref>|Victor Serge}}


== Sistemática de uma perseguição ==
== Sistemática de uma perseguição ==
Analisando-se o perfil das vítimas de Stalin, e os acontecimentos noticiados pela imprensa oficial da época, pode-se chegar a traçar um comportamento-padrão do Grande Expurgo. Mestre na intriga política, ele tratava de acusar políticos de médio ou alto escalão por crimes imaginários<ref name="Martin"/>; as acusações eram cercadas de imensa publicidade, e o julgamento imposto à vítima não era de forma alguma justo. Frequentemente, os expurgados eram exilados para trabalhos forçados na [[Sibéria]], onde morriam de fome, frio, doenças – ou de uma combinação destes três males.<ref name="Martin"/>


[[Imagem:Sergei Kirov.jpg|thumb|180px|direita|[[Serguei Kirov]] ([[1886]]-[[1934]]), cujo [[assassinato]] desencadeou o Grande Expurgo.<ref name="Os Grandes Líderes: Kruschev" />]]
Após silenciar a oposição no campo político, Stalin atacou o Exército Vermelho. A tropa criada por Trotsky para fortalecer a [[Revolução Russa|Revolução]] era agora uma potencial fonte de intrigas dentro do país, e o ditador soviético raciocinava que quaisquer conspirações destinadas a derrubá-lo passariam, direta ou indiretamente, pelos homens de quepe.<ref name="McCauley"/> Ao fim do expurgo, o alto comando do [[Exército Vermelho]] estava dilacerado, carente de oficiais competentes para comandar a defesa da [[URSS]] contra a ''Wehrmacht'' de [[Adolf Hitler]].

Analisando-se o perfil das vítimas de [[Stalin]], e os acontecimentos noticiados pela imprensa oficial da época, pode-se chegar a traçar um comportamento-padrão do Grande Expurgo. Mestre na intriga política, ele tratava de acusar políticos de médio ou alto escalão por crimes imaginários;<ref name="Martin"/> as acusações eram cercadas de imensa [[publicidade]], e o julgamento imposto à vítima não era de forma alguma justo (''ver: [[processos de Moscou]]''). Frequentemente, os expurgados eram [[exílio|exilados]] para [[trabalhos forçados]] na [[Sibéria]], onde morriam de fome, frio, doenças – ou de uma combinação destes três males.<ref name="Martin"/>

Após silenciar a oposição no campo político, Stalin atacou o [[Exército Vermelho]]. A tropa criada por [[Trotsky]] para fortalecer a [[Revolução Russa|Revolução]] era agora uma potencial fonte de intrigas dentro do país, e o ditador soviético raciocinava que quaisquer conspirações destinadas a derrubá-lo passariam, direta ou indiretamente, pelos homens de quepe.<ref name="McCauley"/> Ao fim do expurgo, o alto comando do [[Exército Vermelho]] estava dilacerado, carente de oficiais competentes para comandar a defesa da [[URSS]] contra a ''[[Wehrmacht]]'' de [[Adolf Hitler]].

Estrangeiros também foram vítimas do expurgo, incluindo milhares de cidadãos americanos. Durante a [[Grande Depressão]], no início da [[década de 1930]], a [[URSS]] através de sua [[representação comercial]] nos [[Estados Unidos]] ([[Amtorg Trading Corporation]]), adquiriu tecnologia principalmente do empresário [[Henry Ford]] e, contratou milhares de trabalhadores industriais especializados daquele país.<ref name="The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia">''[[The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia]].'' [[Tim Tzouliadis]], Penguin Group, 2009, {{en}}. ISBN 9780143115427 Adicionado em 20/12/2014.</ref> Estes trabalhadores, que foram importantes para a modernização da indústria soviética, eram dispensados quando não mais necessários e poucos conseguiram regressar aos EUA. A maioria foi morta ou enviada aos [[gulag]]s, onde os poucos sobreviventes ficaram detidos por muitos anos.<ref name="The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia" /> [[Thomas Sgovio]],<ref name="The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia" /> [[John H. Noble]], [[Alexander Dolgun]] e [[Victor Herman]] <ref>''[[Coming Out of the Ice: An Unexpected Life]].'' [[Victor Herman]], Harcourt Brace Jovanovich, 1979, {{en}}. ISBN 9780151432882 Adicionado em 20/12/2014.</ref> são alguns destes sobreviventes conhecidos. {{clr}}


== Expurgo do exército ==
== Expurgo do exército ==

[[File:5marshals 01.jpg|thumb|left|Os cinco marechais da União Soviética, em novembro de 1935: [[Mikhail Tukhachevsky]], [[Semyon Budyonny]], [[Kliment Voroshilov]], [[Vasily Blyukher]] e [[Aleksandr Yegorov]]. Destes apenas Voroshilov e Budyonny sobreviveram ao Grande Expurgo.]]
[[File:5marshals 01.jpg|thumb|left|Os cinco marechais da União Soviética, em novembro de 1935: [[Mikhail Tukhachevsky]], [[Semyon Budyonny]], [[Kliment Voroshilov]], [[Vasily Blyukher]] e [[Aleksandr Yegorov]]. Destes apenas Voroshilov e Budyonny sobreviveram ao Grande Expurgo.]]

O expurgo do [[Exército Vermelho]] e da [[Marinha Soviética]] afetou pesadamente a alta hierarquia militar,<ref name="anne">{{citar livro|autor=Anne Applebaum | título="Gulag – A History" |capítulo=6 |lingua3=en |ano=2003|página=104 |editora=Penguin Books Ltd |local=London |ISBN=13:978-0-14-028310-5}}</ref> removendo três dos cinco [[ Marechal da União Soviética |marechais]] (então equivalente a generais de cinco estrelas), 13 dos 15 comandantes do exército (então equivalente a generais de três e quatro estrelas), oito dos nove almirantes (o expurgo caiu pesadamente sobre a Marinha, que era suspeita de explorar as suas oportunidades de contatos com estrangeiros),{{sfn|Conquest|2008|p=211}} 50 dos 57 comandantes de corpo do exército e 154 dos 186 comandantes de divisão.{{sfn|Courtois|1999|p=198}} em dois anos 45.000 oficias e [[Comissário político|comissários políticos militares]] foram presos sendo quinze mil deles executados<ref name="dmitri">{{citar livro|autor=Dmitri Volkogonov |título="The rise and fall of Soviet Empire" |capítulo=The second leader: Joseph Stalin |lingua3=en |ano=2010|página=109 |editora=HarperCollins |local=Londres |ISBN=13:978-000-6388180}}</ref> resultando em um alto número de execuções.<ref name="anne"/>
O expurgo do [[Exército Vermelho]] e da [[Marinha Soviética]] afetou pesadamente a alta [[hierarquia militar]],<ref name="anne">{{citar livro|autor=Anne Applebaum | título="Gulag – A History" |capítulo=6 |lingua3=en |ano=2003|página=104 |editora=Penguin Books Ltd |local=London |ISBN=13:978-0-14-028310-5}}</ref> removendo três dos cinco [[ Marechal da União Soviética |marechais]] (então equivalente a generais de cinco estrelas), 13 dos 15 comandantes do exército (então equivalente a generais de três e quatro estrelas), oito dos nove [[almirante]]s (o expurgo caiu pesadamente sobre a Marinha, que era suspeita de explorar as suas oportunidades de contatos com estrangeiros),{{sfn|Conquest|2008|p=211}} 50 dos 57 comandantes de corpo do exército e 154 dos 186 comandantes de divisão.{{sfn|Courtois|1999|p=198}} em dois anos 45.000 oficias e [[Comissário político|comissários políticos militares]] foram presos sendo quinze mil deles executados <ref name="dmitri">{{citar livro|autor=Dmitri Volkogonov |título="The rise and fall of Soviet Empire" |capítulo=The second leader: Joseph Stalin |lingua3=en |ano=2010|página=109 |editora=HarperCollins |local=Londres |ISBN=13:978-000-6388180}}</ref> resultando em um alto número de execuções.<ref name="anne"/>


Devido principalmente à invasão nazista, trinta por cento dos militares expurgados em 1937-9 foram autorizados a retornar ao serviço.<ref name="lee">{{citar livro |primeiro= Stephen. |último=Lee | título="European Dictatorships 1918-1945"|página=56 | url=http://www.amazon.co.uk/European-Dictatorships-1918-1945-Stephen-Lee/dp/0415454859/ref=tmm_pap_title_0?ie=UTF8&qid=1376676171&sr=1-6 |acessodata=18 de agosto de 2013|ano=2008 |editora= Routledge |isbn=978-0-4154-5485-9|lingua3=en }}</ref>
Devido principalmente à invasão nazista, trinta por cento dos militares expurgados em 1937-9 foram autorizados a retornar ao serviço.<ref name="lee">{{citar livro |primeiro= Stephen. |último=Lee | título="European Dictatorships 1918-1945"|página=56 | url=http://www.amazon.co.uk/European-Dictatorships-1918-1945-Stephen-Lee/dp/0415454859/ref=tmm_pap_title_0?ie=UTF8&qid=1376676171&sr=1-6 |acessodata=18 de agosto de 2013|ano=2008 |editora= Routledge |isbn=978-0-4154-5485-9|lingua3=en }}</ref>


[[Mikhail Tukhachevsky]] era general-de-divisão na época do Grande Expurgo. Foi acusado – injusta e falsamente – de ser colaborador do Estado-Maior [[Alemanha|alemão]].<ref name="McCauley"/> A afirmação é suportada pelos fatos, como no momento em que os documentos foram supostamente criados, duas pessoas dos oito no grupo Tukhatchévski já tinham sido presas e, no momento em que o documento chegou até Stalin, o processo de purga já estava em andamento. As evidências introduzidas no processo foram obtidas a partir de confissões forçadas.{{sfn|Conquest|2008|p=200–2}} Sua morte foi a mais notável entre os generais do Exército Vermelho, por ser ele um veterano e bem reputado oficial.
[[Mikhail Tukhachevsky]] era [[general de divisão]] na época do Grande Expurgo. Foi acusado – injusta e falsamente – de ser colaborador do Estado-Maior [[Alemanha|alemão]].<ref name="McCauley"/> A afirmação é suportada pelos fatos, como no momento em que os documentos foram supostamente criados, duas pessoas dos oito no grupo Tukhatchévski já tinham sido presas e, no momento em que o documento chegou até Stalin, o processo de purga já estava em andamento. As evidências introduzidas no processo foram obtidas a partir de confissões forçadas.{{sfn|Conquest|2008|p=200–2}} Sua morte foi a mais notável entre os generais do Exército Vermelho, por ser ele um veterano e bem reputado oficial. {{clr}}


== Intelectuais e cientistas ==
== Intelectuais e cientistas ==

Nas décadas de 1920 e 1930, 2.000 escritores, intelectuais e artistas foram presos e 1.500 morreram em prisões e campos de concentração. Após a pesquisa de desenvolvimento de manchas solares ter sido julgada não-marxistas, vinte e sete astrônomos desapareceram entre 1936 e 1938. O Escritório de Meteorologia foi fechado em 1933 por não prever o tempo correto para a agricultura.{{sfn|Conquest|2008|p=295}}
Nas décadas de 1920 e 1930, 2.000 escritores, intelectuais e [[artista]]s foram presos e 1.500 morreram em prisões e na rede [[campos de concentração]] e [[trabalhos forçados]] denominada [[Gulag]]. Em Fevereiro de 1945, o [[escritor]] [[Alexander Soljenítsin]], então servindo no exército soviético combatendo na [[Alemanha]] com a patente de [[capitão]], foi preso acusado de "propaganda anti-soviética". Seu livro, ''[[Arquipélago Gulag]]'', descreve as condições desumanas dos gulags.

Após a pesquisa de desenvolvimento de [[Mancha solar|manchas solares]] ter sido julgada não-marxista, vinte e sete astrônomos desapareceram entre 1936 e 1938. O Escritório de Meteorologia foi fechado em 1933 por não prever o tempo correto para a agricultura.{{sfn|Conquest|2008|p=295}} Posicionamentos ideológicos levaram o regime a considerar a [[genética]] uma "[[pseudociência burguesa]]", desencadeando uma perseguição aos [[geneticista]]s (''ver: [[Pesquisa reprimida na União Soviética]]''). O governo soviético passou a apoiar ideias [[pseudociência|pseudocientíficas]] como as de [[Trofim Lysenko]] (''ver: [[Lysenkoismo]]''). A exemplo do que aconteceu a outros cientistas de diversas áreas, o [[botânico]] e geneticista [[Nikolai Vavilov]], foi encarcerado na [[Sibéria]].<ref>''[[The Murder of Nikolai Vavilov]].'' Peter Pringle, Simon & Schuster, 1ª edição, 2008, {{en}}. ISBN 9780743264983 Adicionado em 20/12/2014.</ref> Vavilov, que teve seu trabalho de investigação da genética e da [[biodiversidade]] das plantas agrícolas reconhecido internacionalmente e, que chegou a reunir a maior coleção de sementes do mundo, morreu de [[fome]] na prisão em [[1943]].<ref>[http://www.splendidtable.org/story/how-nikolay-vavilov-the-seed-collector-who-tried-to-end-famine-died-of-starvation Splendid Table] - ''How Nikolay Vavilov, the seed collector who tried to end famine, died of starvation.'' {{en}} Visitado em 20 de Dezembro de 2014.</ref>


== Reações ocidentais ==
== Reações ocidentais ==

Embora os julgamentos de ex-líderes soviéticos foram amplamente divulgados, as centenas de milhares de outras prisões e execuções não foram. Estas se tornaram conhecidas no Ocidente apenas quando alguns ex-detentos do Gulag chegaram ao Ocidente com suas histórias.{{sfn|Conquest|2008|pp=472–3}} Não só os correspondentes estrangeiros do Ocidente deixaram de informar sobre os expurgos, mas em muitos países ocidentais, especialmente a França, foram feitas tentativas para silenciar ou desacreditar as testemunhas, de acordo com Robert Conquest, [[Jean-Paul Sartre]] assumiu a posição de que as provas dos campos deviam ser ignoradas a fim de que o proletariado francês não desanimasse.{{sfn|Conquest|2008|p=472}} Somente após uma série de ações judiciais, em que provas foram apresentadas, e que se aceitou a validade dos depoimentos dos antigos presos dos campo de trabalho forçados.{{sfn|Conquest|2008|p=472–4}}
Embora os julgamentos de ex-líderes soviéticos fossem amplamente divulgados, as centenas de milhares de outras prisões e execuções não foram. Estas se tornaram conhecidas no apenas quando alguns ex-detentos do [[Gulag]] chegaram ao [[Ocidente]] com suas histórias.{{sfn|Conquest|2008|pp=472–3}} Não só os [[correspondente]]s estrangeiros deixaram de informar sobre os expurgos, mas em muitos países ocidentais, especialmente a .[[França]], foram feitas tentativas para silenciar ou desacreditar as testemunhas. De acordo com [[Robert Conquest]], [[Jean-Paul Sartre]] assumiu a posição de que as provas dos campos deviam ser ignoradas a fim de que o [[proletariado]] francês não desanimasse.{{sfn|Conquest|2008|p=472}} Somente após uma série de [[Ação (direito)|ações judiciais]], em que provas foram apresentadas, e que se aceitou a validade dos depoimentos dos antigos presos dos campo de trabalho forçados.{{sfn|Conquest|2008|p=472–4}}

O alto funcionário soviético [[Victor Kravchenko]] pediu [[asilo político]] aos [[Estados Unidos]] em [[1944]]. Seu livro, ''[[I Chose Freedom: The Personal and Political Life of a Soviet Official]]'',<ref>''[[I Chose Freedom: The Personal and Political Life of a Soviet Official]].'' [[Victor Kravchenko]], Transaction, 1946, {{en}} 9780887387548 Adicionado em 20/12/2014.</ref> publicado dois anos depois, denuncia as violências praticadas nos gulags quase três décadas antes da publicação de ''[[Arquipélago Gulag]]''. Moveu um [[processo (direito)|processo]] por [[difamação]] contra a [[revista]] francesa ''[[Les Lettres Françaises]]'', conhecido como "o julgamento do século", depois que a mesma realizou ataques contra ele. Kravchenko foi vitorioso neste processo, descrito em seu livro livro ''[[I Chose Justice]].''<ref>''[[I Chose Justice]].'' [[Victor Kravchenko]], Transaction Publishers, 1950, {{en}} Adicionado em 20/12/2014.</ref>


== Consequências ==
== Consequências ==
A [[diplomacia]] ocidental ficou estarrecida com a dimensão da matança; em pelo menos uma ocasião, analistas militares britânicos afirmaram que a [[Polônia]] seria um aliado muito mais útil ao [[Reino Unido]] do que a Rússia [[Stalinismo|stalinista]].<ref name="Kenez">{{citar livro|autor=Peter Kenez | título="A History of the Soviet Union from the Beginning to the End" |capítulo=5 |ano=1999|página= 131|editora=Cambridge University Press |local=Cambridge |ISBN=0-521-31198-5 }}</ref>


[[Imagem:Vinnytsia07.jpg|thumb|250px|esquerda|Exumação dos corpos de vítimas do [[Massacre de Vinnytsia]] (''ver: [[Valas comuns na União Soviética]]'').]]
Percebendo que os [[Grã-Bretanha|britânicos]] permaneciam indiferentes a suas propostas de aliança para conter o avanço [[Nazismo|nazista]] Stalin concordou em fazer um tratado com a Alemanha de Hitler. O acordo, conhecido como ''Pacto [[Ribbentrop-Molotov]]'' (uma referência aos ministros das Relações Exteriores de ambos países) ou ''Pacto de Não-Agressão'', foi assinado entre a [[União Soviética]] e o [[Terceiro Reich]] em [[23 de agosto]] de [[1939]],<ref name="McCauley2">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=3 |ano=1994|página= 136|ISBN=0-582-01323-2}}</ref> com validade de cinco anos. Mas Hitler atacou a URSS menos de dois anos depois, em [[22 de junho]] de [[1941]].<ref name="McCauley3">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=4 |ano=1994|página=145 |ISBN=0-582-01323-2}}</ref>

A [[diplomacia]] ocidental ficou estarrecida com a dimensão da matança; em pelo menos uma ocasião, analistas militares [[britânico]]s afirmaram que a [[Polônia]] seria um aliado muito mais útil ao [[Reino Unido]] do que a [[Rússia]] [[Stalinismo|stalinista]].<ref name="Kenez">{{citar livro|autor=Peter Kenez | título="A History of the Soviet Union from the Beginning to the End" |capítulo=5 |ano=1999|página= 131|editora=Cambridge University Press |local=Cambridge |ISBN=0-521-31198-5 }}</ref> O [[embaixador]] dos [[EUA]] na URSS, [[William Christian Bullitt, Jr.]] informou ao [[Departamento de Estado dos Estados Unidos|Departamento de Estado]] e a [[Cruz Vermelha]] sobre as precárias condições dos cidadãos americanos no país, solicitando ajuda aos mesmos, que foi negada.<ref name="The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia" />

Percebendo que os [[Grã-Bretanha|britânicos]] permaneciam indiferentes a suas propostas de aliança para conter o avanço [[Nazismo|nazista]], [[Stalin]] concordou em fazer um tratado com a [[Alemanha]] de [[Hitler]] (''ver: [[Negociações sobre a adesão da União Soviética ao Eixo]]''). O acordo, conhecido como ''[[Pacto Molotov-Ribbentrop]]'', numa referência aos ministros das Relações Exteriores de ambos países, ou ''Pacto de Não-Agressão'', foi assinado entre a [[União Soviética]] e o [[Terceiro Reich]] em [[23 de agosto]] de [[1939]],<ref name="McCauley2">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=3 |ano=1994|página= 136|ISBN=0-582-01323-2}}</ref> com validade de cinco anos. Mas Hitler atacou a URSS menos de dois anos depois, em [[22 de junho]] de [[1941]].<ref name="McCauley3">{{citar livro|autor=Martin McCauley | título="The Soviet Union 1917-1991" |capítulo=4 |ano=1994|página=145 |ISBN=0-582-01323-2}}</ref>{{clr}}


== Reabilitação ==
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[[Image:USSR stamp M.Tukhachevsky 1963 4k.jpg|thumb|right| Reabilitado postumamente, em 1963, Tukhatchévski em um selo postal da União Soviética]]
Grande Expurgo foi denunciado pelo líder soviético [[Nikita Khrushchev]] após a morte de Stalin.<ref name=bbc/> Em seu [[discurso secreto]] no XX congresso do PCUS em fevereiro de 1956 (que foi tornado público um mês depois), Khrushchev se referiu aos expurgos como um "abuso de poder" por Stalin, que resultou em prejuízo enorme para o país.<ref name=bbc/> No mesmo discurso, ele reconheceu que muitas das vítimas eram inocentes e foram condenados com base em falsas confissões extraídas mediante tortura.<ref name=bbc>{{citar web |url= http://www.guardian.co.uk/theguardian/2007/apr/26/greatspeeches4 |publicado=BBC |título=''Khrushchev's speech struck a blow at the totalitarian system'' |acessodata=18 de agosto 2013 |língua= en}}</ref>


[[Image:USSR stamp M.Tukhachevsky 1963 4k.jpg|thumb|right| Reabilitado postumamente, em 1963, [[Mikhail Tukhachevsky|Tukhatchevsky]] em um selo postal da União Soviética]]
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Grande Expurgo foi denunciado pelo líder soviético [[Nikita Khrushchev]] após a morte de [[Stalin]].<ref name=bbc/> Em seu [[discurso secreto]] no [[XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética]] em fevereiro de 1956 (que foi tornado público um mês depois), Khrushchev se referiu aos expurgos como um "abuso de poder" por Stalin, que resultou em prejuízo enorme para o país.<ref name=bbc/> No mesmo discurso, ele reconheceu que muitas das vítimas eram inocentes e foram condenados com base em falsas confissões extraídas mediante tortura.<ref name=bbc>{{citar web |url= http://www.guardian.co.uk/theguardian/2007/apr/26/greatspeeches4 |publicado=BBC |título=''Khrushchev's speech struck a blow at the totalitarian system'' |acessodata=18 de agosto 2013 |língua= en}}</ref> {{clr}}

== Ver também ==

* [[Comparação entre nazismo e stalinismo]]
* [[Declaração de Praga sobre Consciência Europeia e Comunismo]]
* [[Era Stálin (1927-1953)]]
* [[Holodomor]]
* [[Noite das facas longas]]
* [[Repressão política na União Soviética]]
* [[The Great Terror]]
* [[Velho Bolchevista]]

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== Bibliografia ==

* {{cite book| last=Conquest| first=Robert| year=2008| origyear=1990| title=''The Great Terror: A Reassessment''| location=Oxford| publisher=Oxford University Press| ISBN=978-0-19-531700-8| ref=harv| url=http://books.google.com/books?id=ubXQSk2qfXMC}}
* {{cite book| last=Conquest| first=Robert| year=2008| origyear=1990| title=''The Great Terror: A Reassessment''| location=Oxford| publisher=Oxford University Press| ISBN=978-0-19-531700-8| ref=harv| url=http://books.google.com/books?id=ubXQSk2qfXMC}}
* {{cite book| last=Courtois| first=Stéphane| authorlink=Stéphane Courtois| year=1999| title =The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression| location=Cambridge, MA| publisher=Harvard University Press| ISBN= 0-674-07608-7| ref= harv}}
* {{cite book| last=Courtois| first=Stéphane| authorlink=Stéphane Courtois| year=1999| title =The Black Book of Communism: Crimes, Terror, Repression| location=Cambridge, MA| publisher=Harvard University Press| ISBN= 0-674-07608-7| ref= harv}}


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O Grande Expurgo (português brasileiro) ou Grande Purga (português europeu) (em russo: Большая чистка, transl. Bolshaya tchistka) foi uma ação persecutória violenta movida pelo ditador soviético Josef Stalin (1879-1953) contra seus opositores políticos entre os anos de 1934 e 1939.[1][2]

Na luta pela consolidação do poder, Stalin liquidou cerca de dois terços dos quadros do Partido Comunista da URSS,[2][3] ao menos 5.000 oficiais do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco estrelas do Exército Vermelho[1] – criado durante a Revolução Russa por Leon Trotsky, seu dissidente mais conhecido – e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo". Dos 139 membros dirigentes do Partido Comunista 98 foram executados.[3]

O assassinato de seu rival político, e possível sucessor, Serguei Kirov, em 1 de Dezembro de 1934, foi o pretexto usado por Stalin para iniciar os expurgos.[4]

Vitor Serge

No prefácio de 1938 à sua obra O ano I da Revolução Russa, o revolucionário russo-belga Victor Serge sintetiza o que, na altura desse ano, era o resultado das perseguições políticas de Stalin:

Sistemática de uma perseguição

Ficheiro:Sergei Kirov.jpg
Serguei Kirov (1886-1934), cujo assassinato desencadeou o Grande Expurgo.[4]

Analisando-se o perfil das vítimas de Stalin, e os acontecimentos noticiados pela imprensa oficial da época, pode-se chegar a traçar um comportamento-padrão do Grande Expurgo. Mestre na intriga política, ele tratava de acusar políticos de médio ou alto escalão por crimes imaginários;[3] as acusações eram cercadas de imensa publicidade, e o julgamento imposto à vítima não era de forma alguma justo (ver: processos de Moscou). Frequentemente, os expurgados eram exilados para trabalhos forçados na Sibéria, onde morriam de fome, frio, doenças – ou de uma combinação destes três males.[3]

Após silenciar a oposição no campo político, Stalin atacou o Exército Vermelho. A tropa criada por Trotsky para fortalecer a Revolução era agora uma potencial fonte de intrigas dentro do país, e o ditador soviético raciocinava que quaisquer conspirações destinadas a derrubá-lo passariam, direta ou indiretamente, pelos homens de quepe.[1] Ao fim do expurgo, o alto comando do Exército Vermelho estava dilacerado, carente de oficiais competentes para comandar a defesa da URSS contra a Wehrmacht de Adolf Hitler.

Estrangeiros também foram vítimas do expurgo, incluindo milhares de cidadãos americanos. Durante a Grande Depressão, no início da década de 1930, a URSS através de sua representação comercial nos Estados Unidos (Amtorg Trading Corporation), adquiriu tecnologia principalmente do empresário Henry Ford e, contratou milhares de trabalhadores industriais especializados daquele país.[6] Estes trabalhadores, que foram importantes para a modernização da indústria soviética, eram dispensados quando não mais necessários e poucos conseguiram regressar aos EUA. A maioria foi morta ou enviada aos gulags, onde os poucos sobreviventes ficaram detidos por muitos anos.[6] Thomas Sgovio,[6] John H. Noble, Alexander Dolgun e Victor Herman [7] são alguns destes sobreviventes conhecidos.

Expurgo do exército

Os cinco marechais da União Soviética, em novembro de 1935: Mikhail Tukhachevsky, Semyon Budyonny, Kliment Voroshilov, Vasily Blyukher e Aleksandr Yegorov. Destes apenas Voroshilov e Budyonny sobreviveram ao Grande Expurgo.

O expurgo do Exército Vermelho e da Marinha Soviética afetou pesadamente a alta hierarquia militar,[8] removendo três dos cinco marechais (então equivalente a generais de cinco estrelas), 13 dos 15 comandantes do exército (então equivalente a generais de três e quatro estrelas), oito dos nove almirantes (o expurgo caiu pesadamente sobre a Marinha, que era suspeita de explorar as suas oportunidades de contatos com estrangeiros),[9] 50 dos 57 comandantes de corpo do exército e 154 dos 186 comandantes de divisão.[10] em dois anos 45.000 oficias e comissários políticos militares foram presos sendo quinze mil deles executados [11] resultando em um alto número de execuções.[8]

Devido principalmente à invasão nazista, trinta por cento dos militares expurgados em 1937-9 foram autorizados a retornar ao serviço.[12]

Mikhail Tukhachevsky era general de divisão na época do Grande Expurgo. Foi acusado – injusta e falsamente – de ser colaborador do Estado-Maior alemão.[1] A afirmação é suportada pelos fatos, como no momento em que os documentos foram supostamente criados, duas pessoas dos oito no grupo Tukhatchévski já tinham sido presas e, no momento em que o documento chegou até Stalin, o processo de purga já estava em andamento. As evidências introduzidas no processo foram obtidas a partir de confissões forçadas.[13] Sua morte foi a mais notável entre os generais do Exército Vermelho, por ser ele um veterano e bem reputado oficial.

Intelectuais e cientistas

Nas décadas de 1920 e 1930, 2.000 escritores, intelectuais e artistas foram presos e 1.500 morreram em prisões e na rede campos de concentração e trabalhos forçados denominada Gulag. Em Fevereiro de 1945, o escritor Alexander Soljenítsin, então servindo no exército soviético combatendo na Alemanha com a patente de capitão, foi preso acusado de "propaganda anti-soviética". Seu livro, Arquipélago Gulag, descreve as condições desumanas dos gulags.

Após a pesquisa de desenvolvimento de manchas solares ter sido julgada não-marxista, vinte e sete astrônomos desapareceram entre 1936 e 1938. O Escritório de Meteorologia foi fechado em 1933 por não prever o tempo correto para a agricultura.[14] Posicionamentos ideológicos levaram o regime a considerar a genética uma "pseudociência burguesa", desencadeando uma perseguição aos geneticistas (ver: Pesquisa reprimida na União Soviética). O governo soviético passou a apoiar ideias pseudocientíficas como as de Trofim Lysenko (ver: Lysenkoismo). A exemplo do que aconteceu a outros cientistas de diversas áreas, o botânico e geneticista Nikolai Vavilov, foi encarcerado na Sibéria.[15] Vavilov, que teve seu trabalho de investigação da genética e da biodiversidade das plantas agrícolas reconhecido internacionalmente e, que chegou a reunir a maior coleção de sementes do mundo, morreu de fome na prisão em 1943.[16]

Reações ocidentais

Embora os julgamentos de ex-líderes soviéticos fossem amplamente divulgados, as centenas de milhares de outras prisões e execuções não foram. Estas se tornaram conhecidas no apenas quando alguns ex-detentos do Gulag chegaram ao Ocidente com suas histórias.[17] Não só os correspondentes estrangeiros deixaram de informar sobre os expurgos, mas em muitos países ocidentais, especialmente a .França, foram feitas tentativas para silenciar ou desacreditar as testemunhas. De acordo com Robert Conquest, Jean-Paul Sartre assumiu a posição de que as provas dos campos deviam ser ignoradas a fim de que o proletariado francês não desanimasse.[18] Somente após uma série de ações judiciais, em que provas foram apresentadas, e que se aceitou a validade dos depoimentos dos antigos presos dos campo de trabalho forçados.[19]

O alto funcionário soviético Victor Kravchenko pediu asilo político aos Estados Unidos em 1944. Seu livro, I Chose Freedom: The Personal and Political Life of a Soviet Official,[20] publicado dois anos depois, denuncia as violências praticadas nos gulags quase três décadas antes da publicação de Arquipélago Gulag. Moveu um processo por difamação contra a revista francesa Les Lettres Françaises, conhecido como "o julgamento do século", depois que a mesma realizou ataques contra ele. Kravchenko foi vitorioso neste processo, descrito em seu livro livro I Chose Justice.[21]

Consequências

Exumação dos corpos de vítimas do Massacre de Vinnytsia (ver: Valas comuns na União Soviética).

A diplomacia ocidental ficou estarrecida com a dimensão da matança; em pelo menos uma ocasião, analistas militares britânicos afirmaram que a Polônia seria um aliado muito mais útil ao Reino Unido do que a Rússia stalinista.[2] O embaixador dos EUA na URSS, William Christian Bullitt, Jr. informou ao Departamento de Estado e a Cruz Vermelha sobre as precárias condições dos cidadãos americanos no país, solicitando ajuda aos mesmos, que foi negada.[6]

Percebendo que os britânicos permaneciam indiferentes a suas propostas de aliança para conter o avanço nazista, Stalin concordou em fazer um tratado com a Alemanha de Hitler (ver: Negociações sobre a adesão da União Soviética ao Eixo). O acordo, conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop, numa referência aos ministros das Relações Exteriores de ambos países, ou Pacto de Não-Agressão, foi assinado entre a União Soviética e o Terceiro Reich em 23 de agosto de 1939,[22] com validade de cinco anos. Mas Hitler atacou a URSS menos de dois anos depois, em 22 de junho de 1941.[23]

Reabilitação

Reabilitado postumamente, em 1963, Tukhatchevsky em um selo postal da União Soviética

Grande Expurgo foi denunciado pelo líder soviético Nikita Khrushchev após a morte de Stalin.[24] Em seu discurso secreto no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética em fevereiro de 1956 (que foi tornado público um mês depois), Khrushchev se referiu aos expurgos como um "abuso de poder" por Stalin, que resultou em prejuízo enorme para o país.[24] No mesmo discurso, ele reconheceu que muitas das vítimas eram inocentes e foram condenados com base em falsas confissões extraídas mediante tortura.[24]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f Martin McCauley (1994). «3». "The Soviet Union 1917-1991". England: Longman Group Limited. p. 100-108. ISBN 0-582-01323-2 
  2. a b c Peter Kenez (1999). «5». "A History of the Soviet Union from the Beginning to the End ". Cambridge: Cambridge University Press. p. 103-108. ISBN 0-521-31198-5  Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Kenez" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  3. a b c d Martin McCauley (1993). «2». "Stalin and Stalinism". England: Longman Group Limited. p. 34-35. ISBN 0-582-27658-6 
  4. a b Os Grandes Líderes: Kruschev. Martin Ebon, Nova cultural, 1987, págs. 37-38. Adicionado em 20/12/2014.
  5. Serge, Victor. O ano I da Revolução Russa, Paris, Setembro de 1938
  6. a b c d The Forsaken: An American Tragedy in Stalin's Russia. Tim Tzouliadis, Penguin Group, 2009, (em inglês). ISBN 9780143115427 Adicionado em 20/12/2014.
  7. Coming Out of the Ice: An Unexpected Life. Victor Herman, Harcourt Brace Jovanovich, 1979, (em inglês). ISBN 9780151432882 Adicionado em 20/12/2014.
  8. a b Anne Applebaum (2003). «6». "Gulag – A History" (em inglês). London: Penguin Books Ltd. p. 104. ISBN 13:978-0-14-028310-5 Verifique |isbn= (ajuda) 
  9. Conquest 2008, p. 211.
  10. Courtois 1999, p. 198.
  11. Dmitri Volkogonov (2010). «The second leader: Joseph Stalin». "The rise and fall of Soviet Empire" (em inglês). Londres: HarperCollins. p. 109. ISBN 13:978-000-6388180 Verifique |isbn= (ajuda) 
  12. Lee, Stephen. (2008). "European Dictatorships 1918-1945" (em inglês). [S.l.]: Routledge. p. 56. ISBN 978-0-4154-5485-9 Verifique |isbn= (ajuda). Consultado em 18 de agosto de 2013 
  13. Conquest 2008, p. 200–2.
  14. Conquest 2008, p. 295.
  15. The Murder of Nikolai Vavilov. Peter Pringle, Simon & Schuster, 1ª edição, 2008, (em inglês). ISBN 9780743264983 Adicionado em 20/12/2014.
  16. Splendid Table - How Nikolay Vavilov, the seed collector who tried to end famine, died of starvation. (em inglês) Visitado em 20 de Dezembro de 2014.
  17. Conquest 2008, pp. 472–3.
  18. Conquest 2008, p. 472.
  19. Conquest 2008, p. 472–4.
  20. I Chose Freedom: The Personal and Political Life of a Soviet Official. Victor Kravchenko, Transaction, 1946, (em inglês) 9780887387548 Adicionado em 20/12/2014.
  21. I Chose Justice. Victor Kravchenko, Transaction Publishers, 1950, (em inglês) Adicionado em 20/12/2014.
  22. Martin McCauley (1994). «3». "The Soviet Union 1917-1991". [S.l.: s.n.] p. 136. ISBN 0-582-01323-2 
  23. Martin McCauley (1994). «4». "The Soviet Union 1917-1991". [S.l.: s.n.] p. 145. ISBN 0-582-01323-2 
  24. a b c «Khrushchev's speech struck a blow at the totalitarian system» (em inglês). BBC. Consultado em 18 de agosto 2013 

Bibliografia


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