Nootrópico

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Nootrópico (do grego νους nous, mente, τρέπειν trepein, dobrar) é o termo usado para descrever uma classe de compostos (remédios ou suplementos alimentares) que supostamente aumentam o desempenho cognitivo no ser humano.[1]

São substâncias que podem melhorar aspectos da cognição, particularmente as funções executivas, como memória, criatividade e motivação, em indivíduos saudáveis. Embora muitas substâncias se proponham a aumentar a cognição, até 2019 as pesquisas estão em estágio inicial e a efetividade da maioria desses agentes não estão completamente determinada.[1][2]

O uso de remédios para aumentar a cognição por indivíduos saudáveis, sem indicação médica, abrange muitas questões controversas, incluindo se é ético e justo, preocupações sobre reações adversas e o desvio de finalidade ao prescrever medicamentos controlados para uso não médico, entre outras. Apesar disso, as vendas de remédios de aumento cognitivo tem aumentado continuamente com o passar dos anos, excedendo a marca de US$ 1 bilhão, em 2015.[3]

Em 2018, nos Estados Unidos, foram detectadas informações enganosas sobre os ingredientes de alguns suplementos nootrópicos.[4][5] Em 2019, o FDA (Food and Drug Administration) e o FTC (Federal Trade Commission) alertaram fabricantes e consumidores sobre a possíveis fraudes de marketing e golpes evolvendo o comércio de nootrópicos.[6][7]

Piracetam (o primeiro nootrópico, sintetizado em 1964) [8]

História[editar | editar código-fonte]

O termo foi usado pela primeira vez em 1972 pelo Dr. Corneliu E. Giurgea,[9][10] psicólogo e químico romeno, para se referir a uma droga que não causaria efeitos secundários
e que aumentaria as capacidades intelectuais. Essa droga era o Piracetam, hoje usado como um suplemento e também no tratamento de diversas condições cognitivas debilitantes.[11][12][13][14]

Quem consome nootrópicos?[editar | editar código-fonte]

O grupo que mais consome esse tipo de compostos são os idosos com doenças degenerativas, como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer, e pessoas com doenças que afetam suas capacidades cognitivas negativamente.

Algumas tentativas têm sido feitas nas deficiências mentais com o uso do ácido gama-aminobutírico. Também foram observados bons resultados com o uso de estimulantes, como Metilfenidato e Amitriptilina, nos distúrbios de aprendizagem associados ao déficit de atenção (TDAH).[15][16]

Eficácia e segurança[editar | editar código-fonte]

Grande parte dos ditos nootrópicos aumentam o fluxo de sangue ao cérebro (fornecendo mais oxigênio), promovem a neurogênese ou possuem ação estimulante do sistema nervoso central.[17]

O uso dessas substâncias deve ser, sempre que possível, supervisionado por um profissional de saúde.

Uso por estudantes[editar | editar código-fonte]

O uso de estimulantes prescritos é especialmente prevalente entre os estudantes que frequentam faculdades e concursos academicamente competitivos.[18] Pesquisas sugerem que 0,7-4,5 % dos estudantes alemães têm usado estimulantes cognitivos em sua vida acadêmica, tais como Metilfenidato e Cafeína.[19][20][21]

Com base em alguns estudos sobre o uso ilícito de estimulantes, 5-35% dos estudantes universitários usam ou já usaram estimulantes prescritos para TDAH.[22][23][24]

Vários fatores podem influenciar positivamente ou negativamente o uso de fármacos para aumento cognitivo. Como as características pessoais do indivíduo, histórico de uso de outras drogas, e as características do contexto social.[19][20][25][26]

Tipos de substâncias[editar | editar código-fonte]

Vitaminas e minerais essenciais[editar | editar código-fonte]

Servem de cofatores em muitas das reações no nosso organismo.

A pelagra (deficiência de niacina) é conhecida pelos distúrbios neurológicos que causa, dentre os mais severos o déficit cognitivo.[27]
A deficiência de vitamina B12 está associada a diversas manifestações neurológicas, como a polineuropatia, mielopatia e demência.[28]

Aminoácidos e compostos orgânicos[editar | editar código-fonte]

Taurina é um dos aminoácidos frequentemente utilizados em bebidas energéticas.[29]

Drogas, ervas e nutracêuticos[editar | editar código-fonte]

  • Colinérgicas:
A colina é um nutriente essencial que faz parte do complexo B, é a molécula precursora da acetilcolina, um importante neurotransmissor que integra o sistema nervoso central e periférico.[30][31][32]

Adrenérgicos, Dopaminérgicos e outros estimulantes:

A nível celular, a cafeína é um antagonista competitivo dos receptores de adenosina.[33]

Antidepressivos:

Outros:

Um copo (200ml) de chá preto natural contém aproximadamente 20mg de L-teanina e 14-61mg de cafeína.[34][35]

Ervas e nutracêuticos:

A erva-mate é conhecida por suas propriedades estimulantes.[36]

Drogas Ilegais:

Recebem esse título pois o consumo está associado à busca do prazer farmacológico. Geralmente possuem efeitos secundários e outros perigos inerentes à sua utilização, como a possível dependência.

Os enteógenos, usados frequentemente em contextos religiosos e espirituais,[37] são considerados potenciais expansores da mente.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Frati, Paola; Kyriakou, Chrystalla; Del Rio, Alessandro; Marinelli, Enrico; Vergallo, Gianluca Montanari; Zaami, Simona; Busardò, Francesco P. (janeiro de 2015). «Smart Drugs and Synthetic Androgens for Cognitive and Physical Enhancement: Revolving Doors of Cosmetic Neurology». Current Neuropharmacology. 13 (1): 5–11. ISSN 1570-159X. PMC 4462043Acessível livremente. PMID 26074739. doi:10.2174/1570159X13666141210221750 
  2. Albertson, Timothy E.; Chenoweth, James A.; Colby, Daniel K.; Sutter, Mark E. (fevereiro de 2016). «The Changing Drug Culture: Use and Misuse of Cognition-Enhancing Drugs». FP essentials. 441: 25–29. ISSN 2159-3000. PMID 26881770 
  3. Chinthapalli, Krishna (14 de setembro de 2015). «The billion dollar business of being smart». BMJ (em inglês). 351. ISSN 1756-1833. PMID 26370589. doi:10.1136/bmj.h4829 
  4. nutraingredients-usa.com. «Some shady ingredients find home in nootropics category». nutraingredients-usa.com (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2019 
  5. «Nootropics, or 'Smart Drugs,' Are Gaining Popularity. But Should You Take Them?». Time (em inglês). Consultado em 19 de novembro de 2019 
  6. «FTC and FDA Send Warning Letters to Companies Selling Dietary Supplements Claiming to Treat Alzheimer's Disease and Remediate or Cure Other Serious Illnesses Such as Parkinson's, Heart Disease, and Cancer». Federal Trade Commission (em inglês). 11 de fevereiro de 2019. Consultado em 19 de novembro de 2019 
  7. Affairs, Office of Regulatory (4 de setembro de 2019). «Unproven Alzheimer's Disease Products». FDA (em inglês) 
  8. S. D. Shorvon (2004). «Piracetam». In: Simon D. Shorvon, David Fish, Emilio Perucca, W E Dodson. The treatment of epilepsy. [S.l.]: Wiley–Blackwell. pp. 489–495. ISBN 978-0-632-06046-7 
  9. Gazzaniga, Michael S. (2006). The Ethical Brain: The Science of Our Moral Dilemmas (P.S.). New York, N.Y: Harper Perennial. 184 páginas. ISBN 0-06-088473-8 
  10. Giurgea C (1972). «[Pharmacology of integrative activity of the brain. Attempt at nootropic concept in psychopharmacology] ("Vers une pharmacologie de l'active integrative du cerveau: Tentative du concept nootrope en psychopharmacologie")». Actual Pharmacol (Paris) (em francês). 25: 115–56. PMID 4541214 
  11. Malykh AG, Sadaie MR (fevereiro de 2010). «Piracetam and piracetam-like drugs: from basic science to novel clinical applications to CNS disorders». Drugs. 70 (3): 287–312. PMID 20166767. doi:10.2165/11319230-000000000-00000 
  12. Skondia, V; Kabes, J (1985). «Piracetam in alcoholic psychoses: a double-blind, crossover, placebo controlled study». The Journal of International Medical Research. 13 (3): 185–7. PMID 3891457 
  13. Buranji, I; Skocilić, Z; Kozarić-Kovacić, D (1990). «Cognitive function in alcoholics in a double-blind study of piracetam». Lijecnicki vjesnik. 112 (3–4): 111–4. PMID 2204773 
  14. Zavadenko, NN; Guzilova, LS (2009). «Sequelae of closed craniocerebral trauma and the efficacy of piracetam in its treatment in adolescents». Neuroscience and Behavioral Physiology. 39 (4): 323–8. PMID 19340573. doi:10.1007/s11055-009-9146-2 
  15. GOLFETO, José H.; MIAN, Heloísa. Tratamento psicofarmacológico aplicado à criança. Pediatr. Mod; 36(5):296:298:300:passim-296-298-301, maio 2000. Grupo Editorial Moreira Jr. Jul. 2014
  16. GUARDIOLA, ANA et al . Uso de amitriptilina na síndrome de hiperatividade com déficit de atenção. Arq. Neuro-Psiquiatr., São Paulo , v. 57, n. 3A, Sept. 1999 . PDF Jul, 2014
  17. Kewal K. Jain (2011). The Handbook of Neuroprotection. [S.l.]: Springer. 547 páginas 
  18. McCabe, Sean Esteban; Knight, John R.; Teter, Christian J.; Wechsler, Henry (1 de janeiro de 2005). «Non-medical use of prescription stimulants among US college students: prevalence and correlates from a national survey». Addiction. 100 (1): 96–106. PMID 15598197. doi:10.1111/j.1360-0443.2005.00944.x. Consultado em 15 de agosto de 2013 
  19. a b Sattler, S.; Sauer, C.; Mehlkop, G.; Graeff, P. (2013). «The Rationale for Consuming Cognitive Enhancement Drugs in University Students and Teachers». PLoS ONE. 8 (7): e68821. PMC 3714277Acessível livremente. PMID 23874778. doi:10.1371/journal.pone.0068821 
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  21. Bossaer, John. «The Use and Misuse of Prescription Stimulants as "Cognitive Enhancers" by Students at One Academic Health Sciences Center». Academic Medicine. Consultado em 6 de outubro de 2014. Arquivado do original em 10 de abril de 2015. Overall, 11.3% of responders admitted to misusing prescription stimulants. There was more misuse by respiratory therapy students, although this was not statistically significant (10.9% medicine, 9.7% pharmacy, 26.3% respiratory therapy; P = .087). Reasons for prescription stimulant misuse included to enhance alertness/energy (65.9%), to improve academic performance (56.7%), to experiment (18.2%), and to use recreationally/get high (4.5%). 
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  24. Clemow DB, Walker DJ (setembro de 2014). «The potential for misuse and abuse of medications in ADHD: a review». Postgrad. Med. 126 (5): 64–81. PMID 25295651. doi:10.3810/pgm.2014.09.2801. Overall, the data suggest that ADHD medication misuse and diversion are common health care problems for stimulant medications, with the prevalence believed to be approximately 5% to 10% of high school students and 5% to 35% of college students, depending on the study. 
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Bibliografia adicional[editar | editar código-fonte]

HALL, Stephen S. A busca da pílula da inteligência. Scientific American Brasil nº 17. 2013 Acesso Jul. 2014

WINSTON, David; MAIMES, Steven. Adaptogens: Herbs for Strength, Stamina, and Stress Relief. Vermon, Healing Arts Press, 2007. Google Books Acesso Jul. 2014

ARCHIBALDO DONOSO, S; DELGADO D, Carolina. Perspectivas en la prevención y tratamiento farmacológico de la enfermedad de Alzheimer. Rev. méd. Chile, Santiago , v. 137, n. 2, feb. 2009 . Disponible en: http://www.scielo.cl/pdf/rmc/v137n2/art16.pdf (Jul. 2014)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]