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Ciclo do cacau
Bageense/Testes/Cdca
Plantação de cacau na zona rural de Santa Luzia (BA)
Localização Sul da Bahia, no Brasil
Data século XIX e século XX

O Ciclo do Cacau foi um período da história econômica do Brasil em que o país era o segundo maior produtor mundial de cacau.[1][2] Tematizado por Jorge Amado, Adonias Filho e muitos outros escritores, o ciclo do cacau criou uma rica e persistente tradição no imaginário cultural regionalista e consolidou um lugar na literatura brasileira.[3]

O ciclo do cacau ocorria simultaneamente ao ciclo da borracha, que trazia riqueza à região amazônica. Porém, enquanto o Brasil era o maior e quase exclusivo produtor de borracha, o cacau era cultivado em muitos outros lugares do globo. Essas regiões produziam cacau em quantidades semelhantes. Enquanto esse equilíbrio perdurou, a Bahia pôde desfrutar de um período de prosperidade. Este equilíbrio, contudo, foi quebrado pelos inglêses, que instalaram enormes plantações na Costa do Ouro, na África. Pouco a pouco, essa produção foi tomando conta do mercado mundial, enfraquecendo o ciclo do cacau na Bahia e o levando ao fim. A produção de cacau no estado ficou em um segundo lugar distante.[4]

História[editar | editar código-fonte]

Plantação de cacau em Ilhéus

O cacau é originário da bacia hidrográfica do rio Amazonas,[5][6] Em 1655, há a primeira referência da presença de cacau no sul baiano.

Em 1746, um colonizador francês que vivia no Pará, Luiz Frederico Warneau, enviou algumas sementes da variedade “Forastero” (do grupo Amelonado) ao fazendeiro baiano Antônio Dias Ribeiro, que as semeou no município de Canavieiras. [7]

Em 1752, as primeiras sementes foram plantadas em Ilhéus, onde se adaptou ao clima quente e úmido, parecido com o do seu habitat natural, encontrando a sombra oferecida pelas árvores de maior estatura da Mata Atlântica para sobreviver. [7]

O início do plantio comercial do cacau se deu na década de 1830, se desenvolvendo ao longo do século XIX, e sendo exportadas para os Estados Unidos e Europa, tornando-se o principal produto da base econômica e de exportação do sul da Bahia.[8]

O Brasil se tornou o maior produtor mundial, ocupando o posto até meados da década de 1920, período em que o sul baiano ficou conhecido por uma cultura própria, marcada pela luta por terras, pelos jagunços e pelo luxo dos coronéis do cacau.[8][9]

Nesta época, começaram a construção de belos edifícios públicos, como o Palácio do Paranaguá, que abriga até hoje a Prefeitura, e a sede da Associação Comercial de Ilhéus; belas casas, como a do coronel Misael Tavares e a da família Berbert, uma cópia do Palácio do Catete no Rio de Janeiro, e muitos outros.[10]

Palácio Paranaguá.

Na década de 1920, Ilhéus fervilhava de pessoas, de dinheiro, de luxo e riqueza. Neste período, foi construído o prédio do "Ilhéos Hotel", o primeiro edifício no interior do Nordeste com elevador, uma obra ainda hoje imponente, e o Teatro Municipal, considerado, na época, um dos mais bem aparelhados do interior do Nordeste e fora das capitais, que esteve em ruínas, mas foi reformado. Os indivíduos de maior poder aquisitivo primaram pelo bom gosto e requinte, sempre muito atentos aos costumes e modas da Capital Federal, a cidade do Rio de Janeiro, e também aos praticados na Europa. Tudo vinha da Europa em navios.[11]

Neste período, a exportação de cacau era realizada pelo porto de Salvador, acarretando problemas como dificuldade no embarque, perdas na qualidade e no peso do produto. Em 1924, os cacauicultores iniciaram, com recursos próprios, a construção do porto de Ilhéus, e a exportação do cacau começou a ser realizada na cidade, trazendo com isso a presença de estrangeiros e um intercâmbio cultural com países da Europa. Nesta época, vinham dançarinas, mágicos e também aventureiros para divertir as pessoas que possuíam dinheiro.[11]

A riqueza derivada do ciclo do cacau impulsionou a elevação da Vila de Ilhéus à categoria de cidade e assegurou que ela se tornasse uma das mais importantes cidades baianas. Ilhéus não apenas escoava a produção regional mas era nesta altura o maior produtor de cacau do estado, além de desencadear a formação de diversas outras cidades cacaueiras no entorno, que contribuíram para firmar o produto no cenário econômico da Bahia e do Brasil.[12]

Decadência[editar | editar código-fonte]

A produção de cacau começou a ficar em segundo plano após os ingleses começarem a plantar o cacau na Costa do Ouro, no oeste da África. Essa produção acabou por enfraquecer as regiões produtoras da cacau no Brasil:

É verdade que o Brasil seguiu aumentando as suas produções [depois do desenvolvimento do cacau na Costa do Ouro]: em valor aproximado, 21.000 toneladas em 1905, 45.000 em 1915, 64.500 em 1925. Mas tais aumentos se mostravam desprezíveis diante do valor da produção da colônia inglesa. Apenas para têrmos uma ideia, já durante a segunda república, em 1935, produzimos 100.000 toneladas, contra 260.000 da Costa do Ouro. Mantivemos o segundo lugar mundial, mas um segundo lugar bem medíocre, bem distanciado.
Enciclopédia Delta de História do Brasil. volume 8. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A. 1969. p. 1806 

Produção de cacau depois do auge[editar | editar código-fonte]

Em 1931, no contexto da Crise Econômica de 1929 e da queda das exportações, foi criado o Instituto de Cacau do Brasil (ICB), com o objetivo de financiamento e fomento da comercialização do cacau.[9]

Em 1957, foi criada a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), uma instituição pública de pesquisa vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, num período em que a economia cacaueira atravessava uma grave crise, atuando no apoio à cacauicultura e desenvolvendo atividades de pesquisa, extensão rural e ensino agrícola. [9]

Em 1962, vinculado à CEPLAC, surge o Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC).[9]

Mais de 400 mil toneladas de amêndoas foram colhidas no país na safra recorde de 1984/1985 e foi gerada uma receita cambial de US$ 1 bilhão.[9]

Em 1989, houve a chegada da “vassoura-de-bruxa”, endêmica no continente, um fungo que ataca as folhas das árvores e leva a uma queda na produção, que diminuiu de 400 mil toneladas para 98 mil toneladas, em 2000, e provocando o desemprego de cerca de 200 mil pessoas.[9]

A CEPLAC promoveu estratégias baseadas em 4 tipos de controle da praga. No controle genético, as plantas clonadas são mais resistentes à vassoura de bruxa.[13] Especialistas indicavam que a baixa variabilidade genética das árvores tornou-as vulneráveis à praga.[14]

Representações culturais[editar | editar código-fonte]

Palacete do coronel Berbert, atualmente ocupado pelo Colégio Impacto

O escritor Jorge Amado foi o principal narrador da literatura da zona do cacau, pano de fundo da infância do autor.[15] Com as obras Cacau (1932), Terras do sem-fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944) e Gabriela, Cravo e Canela (1958), onde enfocava principalmente as lutas pelo poder dos "coronéis do cacau" e o cacau como referente originador de dramas, de todo um imaginário cultural e de um contexto social injusto e violento, Amado foi o responsável pela introdução da temática do ciclo do cacau na literatura regionalista brasileira de prosa e poesia. Jorge Medauar, Telmo Padilha, Florisvaldo Matos, Plínio Aguiar, Cyro de Mattos, Adonias Filho e outros, também trabalharam com esta temática em variadas abordagens.[3]

Obras como Terras do Sem-Fim (1943) e Gabriela Cravo e Canela (1958) foram adaptadas como novelas para a televisão.[15]

A novela Renascer (1993) também abordou a cultura do cacau.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Luiza Olivett; Diego Badaró, "Floresta, Cacau E Chocolate", p. 97, Senac São Paulo, 2016
  2. Schmidt, Flávio Luis / Efraim, Priscilla, "Pré-Processamento de Frutas, Hortaliças, Café, Cacau e Cana de Açúcar", p. 113, Elsevier - Campus, 2014
  3. a b Simões, Maria de Lourdes Netto. "Os Caminhos da Literatura Sul-Baiana". In: Pluralidades: patrimônio cultural e viagem: relendo a literatura sul-baiana. Editus, 2018, pp. 110-124
  4. Enciclopédia Delta de História do Brasil. volume 8. Rio de Janeiro: Editora Delta S/A. 1969. p. 1804-1806 
  5. WOOD, G. A. R. History and development. In: WOOD, G. A. R; LASS, R. A; Cocoa. 4. ed.. Agawam: Blackwell Science. 1985. p. 1-10.
  6. MÜLLER, M. W.; VALLE, R. R. Ecofisiologia do cultivo do cacaueiro . In: VALLE, R.R, Ciência, tecnologia e manejo do cacaueiro. Brasilia: CEPLAC/CEPEC, 2012. p.31-66.
  7. a b alterar. «História genética do cacau no Brasil é descrita». ruralpecuaria.com.br. Consultado em 1 de novembro de 2021 
  8. a b Gesil Sampaio Amarante Segundo1 ; Luciane Aparecida Goulart1 ; Milton Ferreira da Silva Junior1 ; Ana Paula Trovatti Uetanabaro1. O CACAU DA REGIÃO SUL DA BAHIA E A PERSPECTIVA HISTÓRICA DE UMA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA. [S.l.: s.n.] 
  9. a b c d e f «A saga do cacau na Bahia». Repórter Brasil. 1 de maio de 2005. Consultado em 1 de novembro de 2021 
  10. FOLGUEIRA, Manoel Rodrigues. Álbum Artístico, Commercial e Industrial do Estado da Bahia. Rio de Janeiro: Edição Folgueira, 1930.
  11. a b Tribunal Regional Federal (2007). 20 anos da Justiça Federal em Ilhéus (PDF). Ilheus: [s.n.] Consultado em 23 de dezembro de 2017 
  12. "Ilhéus completa 482 anos de história". Portal da Transparência - Ilhéus, 27/06/2016
  13. «Após três décadas de combate à vassoura de bruxa, produção de cacau no sul da BA é reinventada e estado lidera ranking no país». G1. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  14. alterar. «História genética do cacau no Brasil é descrita». ruralpecuaria.com.br. Consultado em 2 de novembro de 2021 
  15. a b c «A melhor terra do mundo para plantar cacau». Agencia de Notícias CNI. Consultado em 2 de novembro de 2021