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Por volta do fim do {{séc|V}}, a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século.{{harvref|Wickham|2009|p=79}} O último imperador do Ocidente, [[Rómulo Augusto]], foi deposto em 476, evento que leva à adopção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente.<ref name=Wickham86/>{{Ref label2|c}} O [[Império Romano do Oriente]], referido como ''Império Bizantino'' depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os [[Anexo:Lista de imperadores bizantinos|imperadores bizantinos]] tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio, exceptuando-se a reconquista temporária da [[península Itálica]] e da periferia mediterrânea por [[Justiniano I]].{{harvref|Collins|1999|p=116-134}} |
Por volta do fim do {{séc|V}}, a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século.{{harvref|Wickham|2009|p=79}} O último imperador do Ocidente, [[Rómulo Augusto]], foi deposto em 476, evento que leva à adopção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente.<ref name=Wickham86/>{{Ref label2|c}} O [[Império Romano do Oriente]], referido como ''Império Bizantino'' depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os [[Anexo:Lista de imperadores bizantinos|imperadores bizantinos]] tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio, exceptuando-se a reconquista temporária da [[península Itálica]] e da periferia mediterrânea por [[Justiniano I]].{{harvref|Collins|1999|p=116-134}} |
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<-Alta idade média-> |
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<!-- {{AP|Alta Idade Média}} --> |
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Começo do feudalismo . |
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===Novas sociedades=== |
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Com a intensificação das invasões bárbaras , cidades foram saqueadas e destruídas . Por isso a insegurança tomou conta da europa e as pessoas passaram a migrar para o campo . Elas falavam com os donos das terras e pediam proteção . Se fazia cerimônia de homenagem para se firma fidelidade entre eles e os então servos trabalhavam nos fedos . Os feudos eram autossuficientes , ou seja , produziam tudo o que era necessario para a sobrevivência . Desse modo começou o |
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{{AP|Migrações dos povos bárbaros}} |
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Embora o quadro político da Europa ocidental tenha mudado, a rutura não se deu de forma tão acentuada como a defendida por historiadores no passado. Os imperadores do {{séc|V}} eram na maior parte dos casos controlados por militares influentes como [[Estilicão]], [[Ricimero]], [[Gundobad]] ou [[Aspar]], e após a interrupção da linha de sucessão, muitos dos reis que os substituíram provinham igualmente de forças militares. Era também comum o casamento entre os novos reis e as elites romanas locais.{{harvref|Wickham|2009|p=95}} Isto deu origem a uma incorporação dos hábitos das tribos invasoras na cultura romana, incluindo assembleias populares que permitiram aos líderes tribais ter uma voz activa em matérias políticas.{{harvref|Wickham|2009|p=100-101}} Os artefactos deixados por Romanos ou pelos invasores são na sua maioria similares, embora seja nítida a inspiração dos objectos tribais nos modelos romanos.{{harvref|Collins|1999|p=100}} De igual modo, a maior parte da cultura intelectual dos novos reinos baseava-se directamente nas tradições intelectuais romanas.{{harvref|name=Collins96|Collins|1999|p=96-97}} No entanto, uma diferença substancial foi a perda gradual de rendimento tributário em função das novas políticas. Muitas das novas instituições governativas já não financiavam os seus exércitos com o dinheiro proveniente de impostos, mas com a atribuição de terras ou senhorios. Isto levou ao desaparecimento do sistema de colecta de impostos, uma vez que deixou de haver necessidade para cobranças ou cálculos de grande envergadura.{{harvref|Wickham|2009|p=102-103}} O belicismo era comum entre reinos e dentro dos próprios reinos. A escravatura entrou também um declínio, à medida que a oferta se reduzia e a sociedade se tornava cada vez mais rural.{{harvref|Backman|2003|p=86–91}} |
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[[Imagem:Theoderic Quarter Siliqua 80000847.jpg|thumb|Moeda de [[Teodorico I|Teodorico]]]] |
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Entre os séculos V e VIII, uma nova vaga de governantes preenche o vazio político deixado pela administração central romana.<ref name=Collins96/> Os Ostrogodos estabelecem-se na [[província romana]] de [[Itália (província romana)|Itália]] no fim do {{séc|V}}, sob o comando de [[Teodorico, o Grande|Teodorico]], e dão início a um reino notável pela cooperação entre Itálicos e Ostrogodos, pelo menos durante o seu reinado.{{harvref|James|2009|p=82-85}} Os burgúndios estabelecem-se na [[Gália]], e depois de um primeiro reino dizimado pelos Hunos em 436, formam um novo na década de 440 entre a actual [[Genebra]] e [[Lyon]], e que durante o início do {{séc|VI}} se viria a tornar num dos mais influentes reinos da região. No norte da Gália, os Francos e os [[Bretões]] formam pequenos reinos. O reino franco tem origem no noroeste da Gália e o primeiro reinante do qual se possui informação suficiente é [[Childerico I]], que viria a morrer em 481.{{Ref label2|d}} Durante o reinado do seu filho, [[Clóvis I]], o reino franco expande-se e converte-se ao cristianismo. Os Bretões estabelecem-se no que é hoje a [[Bretanha]].{{harvref|James|2009|p=78-81}} Os [[Visigodos]] estabelecem o seu reino no que é hoje a Espanha, sendo o noroeste da península Ibérica ocupado pelo reino [[Suevos|suevo]] e o norte de África pelo reino Vândalo.{{harvref|James|2009|p=77-78}} Durante o {{séc|VI}}, os [[Lombardos]] estabelecem-se no norte de Itália, substituindo o reino ostrogodo por [[ducado]]s responsáveis pela eleição de um rei governante. Por volta do fim do {{séc|VI}}, este sistema foi substituído por uma monarquia permanente.{{harvref|Collins|1999|p=196-208}} |
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A migração europeia significou uma alteração profunda do mapa demográfico da Europa, mas o povoamento não foi homogéneo. Algumas regiões, como a península Ibérica, albergaram um muito maior número de colonos em relação a outras regiões. A ocupação da Gália foi também muito maior e mais densa no noroeste do que no sudeste. Os povos [[Eslavos]] ocuparam a Europa Central e de Leste até à [[Balcãs|península Balcânica]]. Esta migração foi também acompanhada por alterações profundas na língua. O [[latim]], língua oficial do Império Romano do Ocidente, foi gradualmente substituído por línguas em si baseadas, mas suficientemente distintas. No entanto, a evolução do Latim para as novas línguas como o [[Língua francesa|francês]], [[Língua portuguesa|português]] ou [[Língua romena|romeno]] foi um processo que ocorreu ao longo de séculos, e atravessou uma série de fases. O [[Língua grega|grego]] manteve-se a língua oficial do Império Bizantino, mas as [[Invasões eslavas dos Balcãs|migrações dos Eslavos]] permitiram a assimilação de [[línguas eslavas]].{{harvref|Davies|1996|p=235-238}} |
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===Bizâncio=== |
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{{AP|Império Bizantino}} |
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[[Imagem:Meister von San Vitale in Ravenna 003.jpg|300px|thumb|esquerda|[[Mosaico]] onde se pode observar o imperador [[Justiniano I|Justiniano]] com o bispo [[Maximiano de Ravena|Maximiano]], governador de [[Ravena]], a par com a sua guarda pessoal e membros da corte.]] |
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À medida que a Europa Ocidental assistia à formação de novos reinos, o [[Império Romano do Oriente]] manteve-se intacto, chegando até a verificar-se um renascimento económico que perdurou até ao início do {{séc|VII}}. No Oriente, ocorreram muito menos tentativas de invasão, e a maioria centrou-se sobretudo na zona dos [[Balcãs]]. Durante todo o {{séc|V}}, a paz foi constante com o [[Império Sassânida]] (persa), oponente ancestral de Roma no domínio territorial da região. Assistiu-se também ao estreitamento de relações entre a governação política e a Igreja Cristã, tendo no Oriente as questões doutrinais assumido um relevo sem paralelo na Europa ocidental. A nível jurídico, procedeu-se à codificação do [[direito romano]], conhecido como o ''[[Codex Theodosianus]]''.{{harvref|Wickham|2009|p=81-83}} No reinado de [[Justiniano I|Justiniano]] procede-se a uma compilação ainda mais detalhada, conhecida como ''[[Corpus Juris Civilis]]''.{{harvref|Bauer|2010|p=200-202}} Justiniano presenciou também a edificação da [[Hagia Sophia]] em Constantinopla e a [[Guerra Vândala|reconquista do Norte de África]] aos [[Vândalos]] e de Itália aos Ostrogodos. A conquista de Itália sofreu um revés devido à deflagração de uma epidemia mortal em 542, que levou à concentração dos parcos recursos apenas na defesa do território já conquistado.{{harvref|Bauer|2010|p=206-213}} |
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A progressiva infiltração dos [[Eslavos meridionais|povos Eslavos nos Balcãs]] trouxe consigo novos problemas. Embora se tenha iniciado com pequenas invasões, por volta de 540 as tribos eslavas encontravam-se já na Trácia e na [[Ilíria]], e viriam a derrotar em 551 um dos exércitos imperiais perto de [[Adrianópolis]]. Durante a década de 560, os [[Ávaros]] iniciam uma expansão territorial a partir da margem Norte do [[rio Danúbio]], e por volta do fim do {{séc|VI}} até ao fim do {{séc|VIII}} são já a força dominante na Europa Central e capazes de exigir aos imperadores Orientais o pagamento de tributos.{{harvref|James|2009|p=95-99}} Outro dos mais notáveis problemas enfrentados pelo império foi o envolvimento do imperador [[Maurício I]] na política persa, ao intervir numa disputa sucessória. Embora a sua ascensão ao trono persa tenha significado um breve período de paz, a sua subsequente deposição levou à invasão dos Persas, que, durante o reinado de [[Heráclio]], dominavam já grande parte do império, incluindo as [[Província romana|províncias]] do [[Egito (província romana)|Egipto]], da [[Síria (província romana)|Síria]] e da [[Ásia (província romana)|Ásia]], quando [[Cerco de Jerusalém (614)|Jerusalém caiu]], em 614 . Mais tarde, em 628, Heráclio assinaria um tratado de paz que restauraria as antigas fronteiras imperiais.{{harvref|Collins|1999|p=140-143}} |
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===Fervor religioso e expansão islâmica=== |
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{{AP|Expansão islâmica}} |
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{{Vertambém|Guerras bizantino-árabes}} |
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Durante os séculos VI e VII é frequente a permeabilidade de credos religiosos entre o [[Império Sassânida]] e o [[Império Bizantino]]. O [[judaísmo]] fora uma fé missionária activa, e a cristandade possuía [[missões]] que competiam com o [[zoroastrismo]] persa na procura de conversos, sobretudo entre habitantes da [[península da Arábia]]. Com a emergência do [[Islão]] na [[Arábia]] durante a vida de [[Maomé]], assistir-se-ia à unificação religiosa da região.{{harvref|Collins|1999|p=143-145}} Depois da morte de Maomé em 632, as forças islâmicas conquistaram grande parte do Império Oriental, bem como a [[Império Sassânida]], começando com a conquista da Síria em 634-635 e mais tarde de todo o território até ao [[Invasão muçulmana do Egito|Egipto em 640-641]], a própria Pérsia entre 637 e 642, o [[Conquista muçulmana do Norte de África|Norte de África no fim do {{séc|VII}}]] e a [[península Ibérica]] em 711.{{harvref|Collins|1999|p=149-151}} Em meados do {{séc|VIII}}, assiste-se ao renascimento a ao aparecimento de novas rotas comerciais no [[Mediterrâneo]], tendo as antigas rotas romanas sido substituídas pelo comércio entre os reinos dos [[Francos]] e dos [[Árabes]]. Os reinos Ocidentais exportavam lenha, peles, armamento e escravos para os Árabes em troca de sedas e vários géneros de tecido, especiarias e metais preciosos.{{harvref|Cunliffe|2008|p=427-428}} |
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===Igreja e monaquismo=== |
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{{AP|Grande Cisma do Oriente}} |
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[[Imagem:Gregory I - Antiphonary of Hartker of Sankt Gallen.jpg|thumb|Ilustração do século XI representando o [[Papa Gregório I]].]] |
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A cristandade foi o fator determinante de unidade entre a Europa oriental e ocidental antes da conquista árabe; no entanto, a perda do domínio do [[Mediterrâneo]] viria a estagnar as rotas comerciais marítimas entre as duas regiões. A própria Igreja Bizantina, que viria a tornar-se na [[Igreja Ortodoxa]], era distinta em termos de práticas, liturgia e língua da sua congénere ocidental, que viria a tornar-se na [[Igreja Católica]]. As diferenças teológicas e políticas tornam-se cada vez mais vincadas, e em meados do {{séc|VIII}} a abordagem de matérias como a [[iconoclastia]], o [[celibato clerical|casamento de sacerdotes]] e a separação de poderes entre a igreja e o Estado era de tal forma contrastante que as diferenças culturais e religiosas eram já em maior número do que as semelhanças.{{harvref|Collins|1999|p=218-233}} A separação formal ocorre em 1054, quando o [[Santa Sé|Papado de Roma]] e o [[patriarcado de Constantinopla]] se confrontam abertamente e se [[Excomunhão|excumungam]] mutuamente, facto que está na origem da cisão da Cristandade em duas Igrejas – a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental.{{harvref|Davies|1996|p=328-332}} |
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A estrutura eclesiástica do Império Romano no ocidente sobreviveu relativamente intacta às invasões bárbaras, mas o papado pouca autoridade exercia, sendo raros os bispos ocidentais que procuravam no papa liderança religiosa ou política. A maior parte dos papas anteriores a 750 debruçava-se sobretudo sobre questões bizantinas e teológicas orientais. A grande maioria das mais de 850 cartas hoje conservadas do [[papa Gregório I]] dizem respeito a assuntos em Itália ou Constantinopla. A única região da Europa Ocidental onde o papado exercia influência era a [[província romana]] da [[Britânia (província romana)|Britânia]], para onde Gregório envia em 597 a [[missão gregoriana]] com o intuito de converter os Anglo-saxões ao cristianismo.{{harvref|Wickham|2009|p=170-172}} Os missionários irlandeses, que entre os séculos V e VII foram os mais activos na Europa ocidental, foram autores de várias campanhas de [[cristianização]], primeiro nas [[Ilhas Britânicas]] e depois no continente. Contando entre si monges como [[São Columba]] e [[São Columbano]], não só fundaram um imenso número de [[mosteiro]]s, mas também foram os responsáveis pela divulgação do Latim e do Grego e autores profícuos de obras seculares e religiosas.{{harvref|Colish|1997|p=62-63}} |
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Durante a Alta Idade Média assiste-se à implementação do [[monaquismo]] (ou "monastiscismo") no Ocidente, inspirado sobretudo pela tradição monástica dos desertos Sírio e Egípcio. [[São Pacómio]] foi durante o {{séc|IV}} um dos pioneiros do [[cenobitismo]], o monaquismo praticado em redor de uma comunidade espiritual. Os ideais monásticos são rapidamente difundidos da mediterrâneo para a Europa durante os séculos V e VI através da [[Hagiografia|documentos hagiográficos]] como a ''[[Antão do Deserto|A Vida de Antão]]''.{{harvref|Lawrence|2001|p=20-13}} [[Bento de Núrsia|São Bento de Núrsia]] foi o autor da [[Regra de São Bento]], extremamente influente no monaquismo ocidental durante todo o {{séc|VI}}, onde são descritas em detalhe as responsabilidades administrativas e espirituais de uma comunidade de monges, liderada por um [[abade]].{{harvref|Lawrence|2001|p=1-24}} Os mosteiros exerceram uma influência profunda na vida religiosa e política da Alta Idade Média, tutelando vastas regiões em nome de famílias poderosas, actuando como centros de propaganda e de apoio monárquico em regiões recentemente conquistadas, e organizando missões de evangelização.{{harvref|Wickham|2009|p=185-187}} Eram também o principal, e por vezes único, centro de educação e literacia em determinada região, copiando também muitos dos manuscritos sobreviventes dos [[Arte e cultura clássicas|clássicos]] romanos.{{harvref|Hamilton|2003|p=43-44}} Os monges, como [[São Beda]], foram também autores de inúmeras novas obras de história, teologia, botânica e vários outros temas.{{harvref|Colish|1997|p=64-65}} |
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===A Europa Carolíngia=== |
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{{AP|Reino dos Francos|Império Carolíngio}} |
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Sob o domínio da [[Merovíngios|dinastia Merovíngia]] durante os séculos VI e VII, o reino dos [[Francos]] no norte da Gália segmentar-se-ia nos reinos da [[Austrásia]], da [[Nêustria]] e [[Reino da Borgonha|Borgonha]]. O {{séc|VII}} representou um período instável de guerra civil entre a Austrásia e a Nêustria.{{harvref|Bauer|2010|p=246-253}} A situação foi explorada por [[Pepino de Landen]], [[mordomo do palácio]] que se tornaria governante ''de facto'' nos bastidores da coroa. A sua linhagem herdou sucessivamente o cargo, actuando como conselheiros e regentes. Um dos seus descendentes, [[Carlos Martel]], liderou a vitória na [[Batalha de Tours|Batalha de Poitiers]] em 732, contendo o avanço muçulmano nos [[Pirenéus]].{{harvref|Bauer|2010|p=347-349}} O exército muçulmano tinha já conquistado por completo o [[Visigotia|reino Visigótico de Espanha]] em 719, depois de derrotar o último monarca visigodo, [[Rodrigo]], durante a [[Batalha de Guadalete]] em 711.{{harvref|Bauer|2010|p=344}} As Ilhas Britânicas encontravam-se divididas em vários Estados de pequena dimensão, dominados pelos reinos da [[Reino da Nortúmbria|Nortúmbria]], [[Reino da Mércia|Mércia]], [[Reino de Wessex|Wessex]] e [[Anglia Oriental]], descendentes dos ocupantes Anglo-saxões. Alguns reinos de menores dimensões, no que é hoje a [[Escócia]] e o [[País de Gales]], encontravam-se ainda sob domínio dos nativos britânicos e dos [[Pictos]].{{harvref|Wickham|2009|p=158-159}} A [[Irlanda]] estava dividida em unidades políticas de ainda menor dimensão, controladas por reis locais. Estima-se que tenha havido a determinado ponto cerca de 150 reinos locais apenas na Irlanda, de importância e dimensão variável.{{harvref|Wickham|2009|p=164-165}} |
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[[Imagem:Aachener dom oktagon.jpg|thumb|esquerda|300px|[[Capela palatina]] em [[Aquisgrano]], concluída em 805.{{harvref|Stalley|1999|p=73}}]] |
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A [[dinastia Carolíngia]], como são referidos os sucessores de Carlos Martel, apoderou-se oficialmente dos reinos da Austrásia e da Nêustria em 753 durante um golpe de estado liderado por [[Pepino, o Breve|Pepino III]]. Uma crónica contemporânea afirma que Pepino recebeu autorização para o golpe do [[Papa Estêvão II]]. O golpe foi apoiado por propaganda que retratava os [[dinastia Merovíngia|merovíngios]] como governantes cruéis e inaptos, exaltando as virtudes de Carlos Martel e da piedade da sua família. Depois da morte de Pepino, o reino é herdado pelos seus dois filhos, Carlos e [[Carlomano I|Carlomano]]. Quando Carlomano morreu de causas naturais, Carlos impediu a sucessão do seu filho menor e coroou-se a si próprio como rei da Austrásia e Nêustria unidas. Carlos, que viria a ser conhecido como Carlos, o Grande ou [[Carlos Magno]], iniciou em 774 uma série de expansões sistemáticas que unificariam grande parte da Europa, chegando a dominar toda a extensão territorial no que é actualmente a França, norte de Itália e Saxónia.{{harvref|Bauer|2010|p=371-378}} |
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A coroação de Carlos Magno como imperador, no dia de Natal do ano 800, é vista pelos historiadores como um dos grandes momentos de charneira na história medieval, marcando a restauração do [[Império Romano do Ocidente]], uma vez que o novo imperador governava a maior parte do território anteriormente controlado pelos imperadores ocidentais. Marca também uma alteração significativa na relação de poderes entre Carlos Magno e o [[Império Bizantino]], ao tornar claro que a obtenção do título de imperador afirmava a sua equivalência perante a contraparte oriental.{{harvref|Backman|2003|p=117-120}} No entanto, existiam diferenças significativas entre o novo Império Carolíngio e tanto o Império Bizantino como o antigo Império Romano do Ocidente. Os territórios francos eram essencialmente rurais, existindo muito poucos núcleos urbanos, e os existentes eram de pouca dimensão. As técnicas agrícolas eram rudimentares, e a maior parte dos habitantes eram camponeses em explorações minifundiárias. O comércio era incipiente e na sua maioria virado para as Ilhas Britânicas ou para os territórios [[Escandinávia|escandinavos]], ao contrário do antigo [[Império Romano]], que dispunha de uma vastíssima rede de comércio centrada no [[Mediterrâneo]].{{harvref|Backman|2003|p=109}} A administração do império estava centrada numa corte itinerante que acompanhava o imperador, e o poder local estava nas mãos de cerca de 300 oficiais designados por [[conde]]s, administrando cada um dos [[condado]]s em que o território fora repartido. Os bispos e o próprio clero podiam exercer funções administrativas, e o poder de supervisão estava também delegado nos ''[[missi dominici]]'', homens de confiança da corte que serviam de intermediários entre o poder local e central.{{harvref|Davies|1996|p=302}} |
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===Renascimento Carolíngio=== |
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{{AP|Renascimento carolíngio|Arte Carolíngia}} |
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A corte de [[Carlos Magno]] em [[Aquisgrano]] foi o centro do movimento de revitalização cultural por vezes referido como o ''Renascimento carolíngio''. Durante este período assiste-se a um aumento expressivo da literacia, ao florescimento da arte e da arquitectura, ao elevado número de iniciativas legislativas e a uma maior expressão da produção escrita. [[Alcuíno de Iorque]] foi convidado para a corte, trazendo consigo a educação [[Latim clássico|clássica em latim]] dos mosteiros da Nortúmbria. Foi implementada a [[minúscula carolíngia]],{{Ref label2|e}} uma nova forma caligráfica unificada que melhorou substancialmente a comunicação escrita em grande parte do território europeu. Carlos Magno impôs também às igrejas a [[Rito romano|liturgia romana]] e o [[canto gregoriano]] como forma unificada de celebração. A comunidade académica foi autora de muitos trabalhos de cópia, correcção e divulgação de obras de referência de temas religiosos e seculares, com o intuito de encorajar a aprendizagem. São também produzidas imensas obras originais, sobretudo livros de ensino e sobre temas religiosas.{{harvref|Colish|1997|p=66-70}} |
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===Desagregação do Império Carolíngio=== |
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{{AP|Sacro Império Romano-Germânico|Era Viking}} |
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| footer = Divisão territorial do [[Império Carolíngio]] em 843 ([[Tratado de Verdun]]), 855 e 870 ([[Tratado de Meersen]]). |
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Apesar de Carlos Magno ter previsto a continuidade da tradição [[Francos|franca]] em dividir o reino entre todos os seus herdeiros, isto seria interrompido quando apenas um dos seus filhos, [[Luís I, o Piedoso]] se encontrava vivo em 813. No mesmo ano, Carlos Magno coroa Luís como seu sucessor, tendo morrido no ano seguinte. O seu longo reinado de 26 anos seria marcado por várias divisões internas do império entre os seus filhos e, depois de 829, várias guerras civis entre grupos de alianças de pais e filhos contra outros herdeiros, em disputa sobre o domínio de várias partes do império. A determinada altura, Luís reconheceu como imperador o seu filho mais velho [[Lotário I]] e cedeu-lhe o território de Itália. Luís distribuiu o restante império entre Lotário e [[Carlos II de França|Carlos II]], o seu filho mais novo. Lotário assumiu o domínio da [[Frância oriental|Frância Oriental]], a leste do [[Rio Reno|Reno]], deixando a Carlos a [[Reino da França|Frância Ocidental]], o território a oeste da área do Reno e dos [[Alpes]]. Ao filho do meio, [[Luís o Germânico]], que havia iniciado disputas constantes, foi-lhe permitida a regência da [[Baviera]], ainda que sob tutela do seu irmão mais velho. Esta divisão viria mais tarde a ser contestada. [[Pepino II da Aquitânia]], neto do imperador, rebelou-se na tentativa de conquistar a [[Aquitânia]], enquanto que Luís o Germânico tentou anexar a Frância Oriental. Luís I morreria em 840, com o império em convulsão.{{harvref|name=Bauer427|Bauer|2010|p=427-431}} |
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À sua morte seguiu-se uma guerra civil de três anos, que culminaria com a assinatura do [[Tratado de Verdun]] em 843. O tratado determinou a criação de um reino entre os rios Reno e o [[Rio Ródano|Ródano]] administrado por Lotário em conjunto com as suas posses de Itália, e o reconhecimento do seu título imperial. Luís o Germânico assumiu o controlo da Baviera e das terras orientais da actual Alemanha. Carlos recebeu o território ocidental Franco, no que é hoje grande parte da França.<ref name=Bauer427/> Os netos e bisnetos de Carlos Magno dividiriam por sua vez os seus reinos pelos seus descendentes, o que viria a desagregar toda a coesão interna alcançada neste período.{{harvref|Backman|2003|p=139}} |
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A desagregação do Império Carolíngio foi acompanhada por invasões, migrações e incursões de forças externas. As costas Atlântica e norte foram cobiçadas pelos [[Vikings]], que já se haviam instalado no norte das [[Ilhas Britânicas]] e na ilha da [[Islândia]]. Em 911, o líder viking [[Rollo]] recebeu permissão do rei franco [[Carlos, o Simples]] para estabelecer uma colónia no território que viria a ser a [[Normandia]].{{harvref|Backman|2003|p=141-144}} Os territórios orientais dos reinos francos, sobretudo a Alemanha e a Itália, estiveram sob constante ataque dos povos [[Magiares]] até à sua derrota na [[Batalha de Lechfeld]] em 955.{{harvref|Backman|2003|p=144-145}} A fragmentação da [[Abássidas|dinastia Abássida]] trouxe consigo a desagregação do mundo islâmico numa série de pequenos estados políticos, alguns dos quais que viriam a expandir-se para a Itália e Sicília, chegando mesmo a instalar colónias nos Pirinéus e em áreas nas fronteiras a sul dos reinos francos.{{harvref|Bauer|2010|p=147-149}} |
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===Os novos reinos e o renascimento de Bizâncio=== |
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{{AP|História do Império Bizantino|Reino da Germânia|Cristianização da Escandinávia}} |
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[[Imagem:Christ Magdeburg Cathedral Met 41.100.157.jpg|Peça de marfim [[Arte otoniana|otoniana]] do {{séc|X}}, mostrando Cristo a receber a [[Catedral de Magdeburgo]] das mãos do imperador [[Otão I, Sacro Imperador Romano-Germânico|Oto I]]|thumb|esquerda]] |
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Os esforços dos reinos locais para repelir os invasores levaram à formação de novas entidades políticas. Em [[Inglaterra]], o rei [[Alfredo de Inglaterra|Alfredo]] obteve no final do {{séc|VIII}} um acordo com os invasores Vikings, que previa o estabelecimento de colónias Dinamarquesas na Nortúmbria, Mércia e partes da Ânglia Oriental.{{harvref|Collins|1999|p=378-385}} Em meados do {{séc|X}}, os descendentes de Alfredo tinham já reconquistado a Nortúmbria e restabelecido o domínio inglês sobre a maior parte do Sul da ilha.{{harvref|Collins|1999|p=387}} A Norte, [[Kenneth I da Escócia|Kenneth I]] uniu os [[Pictos]] e os [[Escoceses]] no [[Reino da Escócia]].{{harvref|Davies|1996|p=309}} Durante o início do {{séc|X}}, a [[dinastia otoniana]] dominava já a [[Reino da Germânia|Germânia]] e procurou repelir as invasões magiares. O restabelecimento do território culminou com a coroação de [[Otão I, Sacro Imperador Romano-Germânico|Oto I]] como imperador em 962.{{harvref|Collins|1999|p=394-404}} Em 972, Oto garantiu o reconhecimento do título pelo [[Império Bizantino]], e legitimou o facto com o casamento do seu filho [[Otão II, Sacro Imperador Romano-Germânico|Oto II]] com [[Teofânia de Bizâncio|Teofânia]], filha do anterior imperador Bizantino [[Romano II]].{{harvref|Davies|1996|p=317}} Depois de um período de instabilidade, o [[Reino Itálico]] seria colocado sob influência otoniana em finais do {{séc|X}}.{{harvref|Wickham|2009|p=435-439}} A Frância ocidental fragmentou-se ainda mais, e embora ''de jure'' tenha existido uma corte, grande parte do poder estava entregue a senhores locais.{{harvref|Wickham|2009|p=439-444}} |
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Ao longo dos séculos IX e X os reinos escandinavos da [[Suécia]], [[Dinamarca]] e [[Noruega]] foram conquistando território e influência. Alguns dos monarcas converteram-se ao cristianismo, fruto do esforço missionário do mesmo período, embora o processo de cristianização só tenha sido completo por volta do ano 1000. Os reinos escandinavos continuaram também a estabelecer colónias ao longo do território europeu; para além das já existentes na Irlanda, Inglaterra e Normandia, colonizaram também a Islândia e em territórios que viriam a fazer parte da [[Rússia]]. Mercadores suecos chegaram a estabelecer-se nos rios das estepes russas e mesmo a tentar cercar Constantinopla em [[Cerco de Constantinopla (860)|860]] e [[Cerco de Constantinopla (907)|907]].{{harvref|Collins|1999|p=385-389}} A [[Reinos cristãos da península Ibérica|Espanha cristã]], inicialmente confinada a um pequeno território a norte depois da [[Invasão muçulmana da Península Ibérica|conquista muçulmana]], começou a reconquistar território a sul durante os séculos IX e X, estabelecendo durante o processo os reinos das [[Reino das Astúrias|Astúrias]] e de [[Reino de Leão|Leão]].{{harvref|Wickham|2009|p=500-505}} |
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Na Europa de Leste, o Império Bizantino assistiu a um novo período de apogeu durante o reinado de {{Lknb|Basílio|I}} e dos seus descendentes {{Lknb|Leão|VI|de Bizâncio}} e [[Constantino VII]], membros da [[Dinastia Macedónica (Bizâncio)|dinastia Macedónica]]. O comércio intensificou-se e implementou-se uma reforma administrativa uniforme a todas as províncias do império. O exército foi reorganizado, o que permitiu aos imperadores {{Lknb|João|I|Tzimisces}} e {{Lknb|Basílio|II}} alargar a sua extensão territorial em todas as frentes. A corte imperial foi o centro do revivalismo clássico, momento que viria a ficar conhecido como [[Renascença Macedónica|Renascimento Macedónio]].{{harvref|Davies|1996|p=318-320}} Os esforços missionários tanto de clérigos orientais como ocidentais estiveram na origem da conversão dos [[Morávios]], [[Protobúlgaros|Búlgaros]], [[Reino da Boémia|Boémios]], [[Polacos]], [[Magiares]] e os povos eslavos do [[Principado de Kiev]]. A cristianização destes povos viria a contribuir para a fundação dos estados políticos no território destes povos – a [[Grande Morávia]], o [[Primeiro Império Búlgaro|Império Búlgaro]], a [[Boémia]], [[Polónia]], [[Hungria]] e o próprio Principado de Kiev.{{harvref|Davies|1996|p=321-326}} |
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===Arte e arquitectura=== |
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{{AP|Arte medieval|Arquitetura medieval}} |
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{{Vertambém|Arte pré-românica|Arte dos povos germânicos}} |
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[[Imagem:KellsFol032vChristEnthroned.jpg|thumb|Um folio do [[Livro de Kells]], uma [[iluminura]] do fim do {{séc|VIII}} ou início do {{séc|IX}}.{{harvref|Nees|2002|p=145}}]] |
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Aos programas das grandes [[basílica]]s do {{séc|IV}} sucede-se um período de súbita diminuição de escala nas edificações que se prolongará até ao {{séc|VIII}}, sendo muito raros os programas de grandes edifícios. Por outro lado, verifica-se um surto construtivo de edifícios de pedra de menor escala durante os séculos VI e VII. Por volta do {{séc|VIII}}, a forma basilical é recuperada para os templos religiosos no Império Carolíngio.{{harvref|Stalley|1999|p=29-35}} A mais significativa inovação formal foi a introdução do [[transepto]],{{harvref|Stalley|1999|p=43-44}} o corpo saliente perpendicular à [[Nave (arquitetura)|nave]] que confere à planta a sua forma de cruz.{{harvref|Cosman|2007|p=247}} São também introduzidas as [[Cruzeiro (arquitetura)|torres de cruzeiro]]{{harvref|Stalley|1999|p=45}} e um pórtico monumental de entrada no templo, normalmente na fachada ocidental do edifício.{{harvref|Stalley|1999|p=49}} |
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A produção de [[arte carolíngia]] estava restrita a um pequeno grupo de encomendadores na corte, e aos mosteiros e igrejas dos quais eram mecenas ou patronos. Foi marcada por um esforço em fazer reviver a dignidade e classicismo da Roma imperial e da [[arte bizantina]], e influenciada em simultâneo pela [[Arte hiberno-saxónica|arte insular]] das Ilhas Britânicas, conjugando os motivos ornamentais [[Arte celta|celtas]] e [[Arte dos povos germânicos|germânicos]] com formas e suportes mediterrânicos, e definindo já grande parte das formas artísticas que permaneceriam na arte Ocidental até o fim da Idade Média. Até os nossos dias chegaram sobretudo [[iluminura]]s e entalhes em marfim, inicialmente adornos de objectos metálicos.{{harvref|Kitzinger|1955|p=36-53; 61-64}}{{harvref|Henderson|1977|p=18-21; 63-71}} As peças em metais preciosos estavam entre as mais prestigiadas formas artísticas, mas fruto sobretudo da necessidade de metal que levou à sua fundição, são poucos os exemplos que chegaram até nós, sendo os mais comuns algumas cruzes como a [[Cruz de Lotário]], vários [[relicário]]s e alguns sítios arqueológicos extremamente ricos em artefactos de metal como [[Sutton Hoo]] em Inglaterra, [[Tesouro de Gourdon|Gourdon]] em França, [[Tesouro de Guarrazar|Guarrazar]] em Espanha e [[Tesouro de Nagyszentmiklós|Nagyszentmiklós]] na fronteira do Império Bizantino. Há ainda vários exemplares de [[broche]]s presentes em [[Fíbula (ornamento)|fíbulas]], peça fundamental de adorno pessoal das elites.{{harvref|Henderson|1977|p=36–42; 49–55; 103; 143; 204–208}} Os livros com a maior riqueza decorativa eram sobretudo [[evangeliário]]s, tendo chegado até nós uma quantidade assinalável de exemplares, como o [[Livro de Kells]] ou os [[Evangelhos de Lindisfarne]], ou o [[Codex Aureus de Saint-Emmeran]], um dos poucos a conservar intacta a sua encadernação de ouro cravejado de pedras preciosas.{{harvref|Benton|2002|p=41-49}} Foi também durante a corte de Carlos Magno que terá sido admitida a escultura monumental na Arte Cristã,{{harvref|Lasko|1972|p=16-18}} uma alteração crucial e que se manifestaria já no fim do período na presença comum de estatuária em tamanho real nas igrejas, como a [[Cruz de Gero]].{{harvref|Henderson|1977|p=233–238}} |
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==Baixa Idade Média== |
==Baixa Idade Média== |
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A Idade Média (adj. medieval) é um período da história da Europa entre os séculos V e XV. É o período intermédio da divisão clássica da história ocidental em três períodos; a Antiguidade, Idade Média e Idade moderna. A Idade Média é ainda frequentemente dividida em dois ou três períodos.
Durante a Alta Idade Média verifica-se a continuidade dos processos de despovoamento, regressão urbana, e invasões bárbaras iniciadas durante a Antiguidade tardia. Os ocupantes bárbaros formam reinos apoiando-se nas estruturas do Império Romano do Ocidente. No século VII, o Norte de África e o Médio Oriente, parte do Império Oriental, tornam-se territórios islâmicos depois da conquista dos sucessores de Maomé. Embora tenha havido alterações significativas nas estruturas políticas e sociais, a rutura não foi tão acentuada como anteriormente defendida pelos historiadores, e a maior parte dos novos reinos incorporaram o maior número possível de instituições romanas já existentes. O cristianismo disseminou-se pela Europa ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas de Vikings, Magiares e Sarracenos.
Durante a Baixa Idade Média, que teve início depois do ano 1000, verifica-se na Europa um aumento demográfico muito expressivo e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas. É ainda durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento: o senhorialismo – a organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre – e o feudalismo — uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial o direito a cobrar impostos em determinado território. As cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Palestina, tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente. A vida cultural foi dominada pela escolástica e pela fundação de universidades, e a edificação das imponentes catedrais góticas foi uma das mais destacadas façanhas artísticas do seu tempo.
Os dois últimos séculos da Baixa Idade Média ficaram marcados por várias adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas carestias e pestes; só a Peste Negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350. O Grande Cisma do Ocidente no seio da Igreja teve consequências profundas na sociedade e foi um dos fatores que esteve na origem de inúmeras guerras entre estados. Assistiu-se também a diversas guerras civis e revoltas populares dentro dos próprios reinos.
Etimologia e periodização
A Idade Média é um dos três grandes períodos definidos pelo mais comum quadro de análise de história europeia: a Idade Antiga, ou Antiguidade, a Idade Média e a Era Moderna, que compreende as idades Moderna e Contemporânea.[2] O primeiro historiador a definir esta periodização tripartida foi Leonardo Bruni na sua História do Povo Florentino em 1442.[3] O mais antigo registo conhecido do termo Idade Média data de 1469, sendo grafado como media tempestas ou "tempos médios". Durante a sua introdução, foi comum a coexistência de várias variantes, como medium aevum, registada em 1604,[4] ou media scecula, registada em 1625. A periodização tripartida tornar-se-ia padrão depois da publicação em 1683 da obra História Universal Dividida nos Períodos Antigo, Medieval e Novo da autoria do historiador alemão Christoph Cellarius.[5]
A data consensual para o início da Idade Média é 476,[6] definida pela primeira vez por Bruni,[3] e que representa o ano em que é deposto o último imperador romano do Ocidente.[7] No contexto europeu, considera-se normalmente o fim da Idade Média no ano 1500,[a] embora não haja um consenso alargado sobre a data.[8] Dependendo do contexto, podem ser considerados como eventos de transição a primeira viagem de Cristóvão Colombo às Américas em 1492, a conquista de Constantinopla pelos Turcos em 1453, ou a Reforma Protestante em 1517.[9] Por outro lado, os historiadores ingleses normalmente referem-se à Batalha de Bosworth em 1485 como referência para o fim do período.[b] Em Espanha, é comum o recurso ao ano de 1516, aquando a morte do rei Fernando II de Aragão, ou o ano da morte da rainha Isabel I de Castela em 1504, ou ainda a conquista de Granada em 1492.[10]
Os historiadores de línguas românicas tendem a dividir a Idade Média em duas partes: um primeiro período, a Alta Idade Média e um segundo período, a Baixa Idade Média. Os historiadores anglo-saxónicos dividem normalmente a Idade Média em três segmentos: "Early Middle Ages", ou "idade média arcaica", definido entre 476 e o ano 1000; "High Middle Ages", ou "alta idade média", entre o ano 1000 e 1300; e "Late Middle Ages" ou "Idade média tardia" entre 1300 e 1453.[2] Os termos foram popularizados durante o início do século XX pelo historiador belga Henri Pirenne e pelo holandês Johan Huizinga. Durante todo o século XIX, a Idade Média era frequentemente referida como a "Idade das trevas", mas com a criação de subdivisões o uso do termo ficou restrito ao período arcaico.[11]
Queda do Império Romano
O Império Romano atingiu o seu apogeu e máxima extensão territorial durante o século II, mas durante os dois séculos seguintes verificar-se-ia o lento declínio do domínio territorial romano sobre os seus territórios.[12] A crise económica, reflectida na inflação, e instabilidade nas fronteiras motivada pela pressão de povos invasores, estiveram na origem da crise do terceiro século, períodos em que um vasto número de imperadores ascendia ao trono apenas para ser rapidamente substituído por novos usurpadores.[13] O orçamento militar aumentou constantemente ao longo de todo o terceiro século, sobretudo na sequência de uma nova guerra contra o Império Sassânida, iniciada em meados do século. A necessidade de receitas levou à aplicação de uma sobretaxa fiscal e ao declínio em massa da classe média, proprietária de terrenos e unidades de produção, extinguindo-se assim o financiamento das estruturas administrativas de cada povoação.[14]
No ano de 262, o imperador Diocleciano divide o império em duas metades, oriental e ocidental, administradas separadamente. No entanto, os próprios cidadãos e administradores públicos não viam o seu império como dividido, e as promulgações legais e administrativas de uma parte eram consideradas válidas na outras. Este sistema, que viria a ter dois co-imperadores seniores (augustos) e dois co-imperadores juniores (césares), viria a ser conhecido como tetrarquia.[15] Em 330, depois de um período de guerra civil, o imperador Constantino refunda a cidade de Bizâncio como Constantinopla, a nova e renovada capital oriental.[16] As reformas de Diocleciano criaram uma administração pública forte, a reforma da cobrança de impostos, e o fortalecimento do exército, o que permitiu ganhar algum tempo mas não resolveu por completo os problemas que enfrentava: tributação excessiva, queda da taxa de natalidade e pressão fronteiriça.[17] Em meados do século IV, tornou-se constante a deflagração de guerras civis entre imperadores rivais, retirando forças das fronteiras e dando espaço à infiltração de bárbaros.[18]
Em 376, os Ostrogodos, em debanda dos Hunos, são autorizados pelo imperador romano Valente a estabelecer-se na província romana de Trácia. O processo não decorreu de forma pacífica, e quando os administradores romanos perderam o controlo da situação, os Ostrogodos deram início a uma série de pilhagens e vandalismos no território. Valente, numa tentativa de fazer cessar a violência, foi morto em combate na batalha de Adrianópolis em Agosto de 378.[19] Para além da ameaça bárbara do norte, constituíram também ameaças à estabilidade as divisões internas dentro do próprio império, sobretudo dentro da Igreja Cristã.[20] No ano 400, os Visigodos invadem o Império do Ocidente e, embora inicialmente repelidos de Itália, em 410 invadem a cidade de Roma.[21] A par destes eventos, em 406 e nos três anos seguintes, os Alanos, Vândalos e Suevos tomam conta do território da Gália, e em 409 atravessam os Pirinéus, instalando-se também na península Ibérica.[22] Vários outros grupos bárbaros tomam igualmente parte nas intensas migrações deste período. Os Francos, Alamanos e Burgúndios têm como destino o norte da Gália enquanto que os Anglos, Saxões e Jutos se estabelecem nas Ilhas Britânicas. Os Hunos, liderados pelo rei Átila, o Huno, organizam invasões aos Balcãs em 442 e 447, à Gália em 451, e a Itália em 452.[23] Estes movimentos levados a cabo pelas várias tribos reorganizaram de forma dramática o mapa político e demográfico do que tinha sido o Império Romano do Ocidente.[24]
Por volta do fim do século V, a parte ocidental do império estava já dividida em pequenas unidades políticas, governadas pelas tribos que as haviam ocupado durante o início do século.[25] O último imperador do Ocidente, Rómulo Augusto, foi deposto em 476, evento que leva à adopção consensual desse ano como o fim do Império Romano do Ocidente.[7][c] O Império Romano do Oriente, referido como Império Bizantino depois da queda do seu correspondente ocidental, mostrou pouca eficácia no controlo dos territórios ocidentais perdidos. Embora os imperadores bizantinos tenham mantido pretensões territoriais e afirmado que nenhum rei bárbaro podia ousar tornar-se imperador do Ocidente, não conseguiam de forma alguma sustentar qualquer domínio, exceptuando-se a reconquista temporária da península Itálica e da periferia mediterrânea por Justiniano I.[26]
<-Alta idade média->
Começo do feudalismo . Com a intensificação das invasões bárbaras , cidades foram saqueadas e destruídas . Por isso a insegurança tomou conta da europa e as pessoas passaram a migrar para o campo . Elas falavam com os donos das terras e pediam proteção . Se fazia cerimônia de homenagem para se firma fidelidade entre eles e os então servos trabalhavam nos fedos . Os feudos eram autossuficientes , ou seja , produziam tudo o que era necessario para a sobrevivência . Desse modo começou o
Baixa Idade Média
Sociedade e economia
Durante toda a Baixa Idade média, e até ao surto epidémico do século XIV, a população Europeia cresceu a um ritmo sem precedentes. Estimativas apontam para um crescimento de 35 para 80 milhões entre os anos 1000 e 1347. Têm sido identificadas como causas prováveis a melhoria nas técnicas agrícolas, a relativa paz e ausência de invasões, o declínio da escravatura e um extenso período de clima moderado e aumento da temperatura média.[27] Apesar deste crescimento, cerca de 90% da população era ainda eminentemente rural embora, de forma progressiva, as quintas isoladas tenham dado lugar a pequenas comunidades como aldeias ou vilas, e tenha sido comum a agregação em volta de propriedades senhoriais.[28] A população urbana, ainda muito escassa durante a Alta Idade Média, cresce assinalavelmente durante os séculos XII e XIII, a par da expansão urbana e da fundação de imensos centros populacionais.[29]
A estrutura social e económica tinha por base as relações feudais. A nobreza detinha os direitos de exploração e tributação de grande parte dos terrenos agrícolas. Os servos obtinham o direito a cultivar e habitar as terras de determinada família nobre mediante o pagamento de uma renda na forma de trabalho, géneros ou moeda. Em troca, recebiam protecção económica e militar.[30] Dentro da própria nobreza, verifica-se a existência de uma hierarquia de vassalagem através da suserania, onde são concedidas terras ou estruturas de importância económica para exploração a um nobre menor, em troca da sua vassalagem e fidelidade. Durante os séculos XI e XII, a posse destas terras, ou feudos, viria a ser considerada hereditária. No entanto, ao contrário do que sucedia na Alta Idade Média, a maioria dos feudos deixou de ser dividida entre todos os herdeiros para passar a ser herdada em exclusivo pelo filho varão.[31] O domínio da nobreza durante este período deve-se em grande parte ao controlo das terras agrícolas e dos castelos, ao serviço militar na cavalaria pesada e às várias isenções de impostos ou obrigações de que desfrutavam. A introdução da cavalaria pesada na Europa teve origem nos catafractários persas dos séculos V e VI, mas será a introdução do estribo no século VII que virá permitir fazer uso de todo o potencial de combate destas unidades. Em resposta aos vários tumultos dos séculos IX e X, assiste-se a um surto construtivo de castelos, local de refúgio da população em tempos de ataque.[32]
O clero dividia-se entre o secular, parte da comunidade local, e o regular, que vivia numa comunidade fechada segundo uma ordem religiosa.[33] A maior parte dos membros do clero regular, assim como as hierarquias de topo do clero secular, era de origem nobre. Os párocos locais provinham na maior parte das vezes do povo.[34]
Na Flandres e no Norte e Centro de Itália, o crescimento de cidades que eram, até certo ponto, autónomas, proporcionou um significativo desenvolvimento económico e criou uma situação favorável ao aparecimento de novos modelos comerciais. As potências económicas ao longo do Báltico estabeleceram uma série de acordos que deram origem à Liga Hanseática, e as cidades-Estado italianas como Veneza, Génova e Pisa criaram uma imensa rede de rotas comerciais por todo o Mediterrâneo.[35] Para além do desenvolvimento comercial, as inovações agrícolas e tecnológicas deste período vieram permitir o aumento da produtividade das explorações agrícolas, levando à criação de excedentes em abundância para trocas comerciais.[36] Surgem também novos processos financeiros. Procede-se novamente à cunhagem de moeda em ouro, inicialmente em Itália e mais tarde em França e no resto da Europa. Surgem novas formas de contratos comerciais, permitindo a gestão de risco entre os mercadores. São aperfeiçoados os métodos de contabilidade e introduzidas as cartas de crédito que vieram permitir a rápida transacção monetária nas redes comerciais.[37]
Estados políticos
A Baixa Idade Média representa um período determinante de formação dos Estados ocidentais europeus. Os reinos de França, Inglaterra e Espanha consolidam o seu poder e definem centros de poder duradouros.[38] Surgem também novas potências na Europa Central como a Hungria e Polónia, após sua conversão ao cristianismo.[39] O Reino da Hungria teve origem nos Magiares, que se estabeleceram no território por volta do ano 900 durante o reinado de Árpád, depois do período de conquista do século IX.[40] O papado, que até então sempre se manifestara independente dos reis seculares, começa a afirmar a sua autoridade temporal sobre a totalidade do mundo cristão. A monarquia papal atinge o seu apogeu durante o início do século XIII durante o pontificado do Papa Inocêncio III.[41] As Cruzadas do Norte e o avanço dos reinos cristãos e ordens militares para regiões pagãs no Báltico e no norte da Escandinávia levou à assimilação forçada de inúmeros povos autóctones na Europa.[42]
Durante o início da Baixa Idade Média, a Alemanha foi dominada pela dinastia saxónica, que lutava ainda pelo controlo dos poderosos ducados locais formados durante as migrações bárbaras dos séculos anteriores. Em 1024, assume o poder a dinastia Saliana, que tinha já entrado em confronto aberto com o papado acerca de nomeações eclesiásticas durante o reinado do imperador Henrique IV. Os seus sucessores continuaram o clima de confronto, estendendo-o a parte da nobreza Germânica.[43] Depois da morte do imperador Henrique V, o qual não havia deixado descendência, seguiu-se um período de instabilidade até ao reinado de Frederico I, que toma posse do trono imperial durante o fim do século XII.[44] Embora o seu reinado tenha sido estável, os seus sucessores enfrentam o mesmo clima de instabilidade ainda durante o século XIII.[45] Um dos fatores de maior instabilidade foi a constante ameaça e invasão dos Mongóis no território europeu em meados do século XIII, desde as primeiras incursões no Principado de Kiev até as invasões da Europa de Leste em 1241, 1259 e 1287.[46]
Dominada pela dinastia capetiana, a corte francesa aumenta gradualmente a sua influência sobre a nobreza, permitindo-lhe exercer maior controlo nos territórios para além da Ilha de França do que durante os séculos XI e XII.[47] No entanto, encontrariam resistência por parte dos Duques da Normandia, que em 1066 tinham já subjugado grande parte de Inglaterra e criado um império em ambas as margens do canal que duraria até ao fim da Idade Média.[48][49] Durante a dinastia Plantageneta do rei Henrique II e dos seus sucessores, o reino dominaria a totalidade de Inglaterra e grande parte de França.[50] No entanto, viria a perder a Normandia e a maior parte das possessões do Norte de França durante o reinado de João I em 1204. Isto esteve na origem de divergências entre a nobreza Inglesa, ao mesmo tempo que as obrigações financeiras decorrentes da tentativa de reconquista da Normandia obrigaram o rei a assinar em 1215 a Magna Carta, um documento que limitaria o poder absoluto do rei e foi o primeiro passo de um longo processo que levaria ao parlamentarismo. Durante o reinado de Henrique III, foram feitas ainda mais concessões de poder à nobreza e diminuído o poder da corte.[51] A monarquia francesa, no entanto, continuaria a fortalecer a sua influência perante a nobreza durante o século XIII, centralizando a administração e aumentando o número de territórios que directamente controlava.[52] Além da sua expansão para Inglaterra, os Normandos chegaram a estabelecer colónias na Sicília e no sul de Itália, depois de Roberto de Altavila ter desembarcado no território em 1509 e estabelecido um ducado que mais tarde se tornaria o Reino da Sicília.[53]
Cruzadas
Durante o século XI, a dinastia Seljúcida viria a dominar grande parte do Médio Oriente, conquistando os antigos territórios persas na década de 1040, a Arménia na década de 1060, e a cidade de Jerusalém em 1070. Em 1071, o exército turco derrotou o exército bizantino durante a Batalha de Manziquerta, capturando o imperador bizantino Romano IV. Isto possibilitou aos Turcos a invasão da Ásia Menor, o que constituiu um golpe severo no Império Bizantino ao retirar-lhe grande parte da população e o seu centro económico. Embora o exército bizantino se tenha reorganizado, nunca chegaria a recuperar a Ásia Menor e só efectuaria acções defensivas. Os próprios Turcos vieram a enfrentar dificuldades na manutenção do território, perdendo o domínio de Jerusalém para os Fatímidas do Egipto e assistindo ao espoletar de várias guerras civis no seu interior.[55]
As Cruzadas pretendiam libertar Jerusalém do domínio muçulmano. A primeira Cruzada foi promovida pelo Papa Urbano II durante o Concílio de Clermont em 1095 como resposta a um pedido de ajuda do imperador bizantino Aleixo I Comneno para conter o avanço muçulmano na região. O Papa prometeu indulgências a todos os que tomassem parte, tendo sido mobilizadas milhares de pessoas na Europa, de todas as classes sociais. Jerusalém foi conquistada pelos cruzados em 1099, tendo também sido estabelecidos uma série de estados cruzados na região. Durante os séculos XII e XIII, houve uma série de conflitos entre estes estados e os territórios islâmicos circundantes, o que levou à convocação de novas cruzadas em seu auxílio,[56] ou para reconquistar Jerusalém, que entretanto tinha sido novamente capturada por Saladino em 1187.[57] As ordens religiosas militares, como os Templários ou os Hospitalários, são formadas durante esta época, e viriam a desempenhar um papel fundamental na consolidação e estabilização dos territórios reconquistados.[58] No ano de 1204, a Quarta Cruzada conquista a cidade de Constantinopla estabelecendo o que viria a ser o Império Latino de Constantinopla[59] e enfraquecendo consideravelmente a posição do Império Bizantino que, embora voltasse a conquistar Constantinopla em 1261, nunca chegaria a restabelecer o glória dos séculos anteriores.[60] No entanto, em 1291 todos os estados cruzados tinham já sido capturados ou forçados a deslocar-se para territórios insulares.[61]
O poder papal convocou também cruzadas para outras regiões além da Palestina, tendo sido proclamadas para a península Ibérica, sul de França e ao longo do Báltico.[56] As cruzadas na península Ibérica estão interligadas com o processo de Reconquista do território aos muçulmanos. A participação da Ordem dos Templários e da Ordem dos Hospitalários serviu como modelo para a fundação de várias ordens militares locais, a maior parte delas mais tarde integradas nas duas ordens que viriam a ser dominantes no início do século XII, a Ordem de Calatrava e de Santiago.[62] A Europa do Norte, que tinha permanecido fora da influência do mundo cristão até ao século XI, foi também palco de movimentos de conquista entre os séculos XII e XIV que viriam a ser conhecidos como Cruzadas do Norte. Este movimento deu também origem a várias ordens militares, entre elas os Irmãos Livônios da Espada e a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos. Esta última, apesar de fundada nos estados cruzados, foi sobretudo activa na área do Báltico a partir de 1225, mudando em 1309 a sua sede para o Castelo de Malbork na Prússia.[63]
Letras e literatura
Ao longo do século XI, as novas obras publicadas nos campos da filosofia e da teologia começam a estimular o pensamento intelectual. É notório o debate entre realistas e nominalistas sobre o conceito da universalidade. O discurso filosófico é bastante influenciado pela redescoberta de Aristóteles e da sua ênfase no Empirismo e no racionalismo. Alguns intelectuais como Pedro Abelardo e Pedro Lombardo introduzem a lógica aristotélica na teologia. A transição do século XI para o XII marca também o momento de afirmação das escolas catedrais por toda a Europa Ocidental e a transição do ensino dos espaços monásticos para as catedrais e centros urbanos.[64] As escolas catedrais viriam por sua vez a ser substituídas por universidades nas cidades de maiores dimensões.[65] A filosofia e a teologia são reunidas na escolástica, uma tentativa dos intelectuais dos séculos XII e XIII em reconciliar a teologia cristã consigo própria, que viria a dar origem a um sistema de pensamento que procurou abordar de forma sistémica a verdade e a razão.[66] A escolástica teve o seu auge em Tomás de Aquino, autor da influente Summa Theologica.[67]
É nas cortes da nobreza que surge a cultura da cavalaria e do amor cortês, expressa em língua vernacular em vez de latim, e materializada em poemas, contos, lendas e canções populares divulgadas por trovadores e escritas muitas vezes sob a forma de canções de gesta e poemas épicos, como a Canção de Rolando ou a Saga dos Nibelungos.[68] Surge também a literatura de género escrita para o público letrado fora dos meios académicos, sobretudo na forma de crónicas e de grandes narrativas com temas seculares ou religiosos. Entre as mais notáveis estão a Historia Regum Britanniae, um conjunto de lendas pseudo-históricas sobre a fundação da Grã-Bretanha, e outras obras mais rigorosas do ponto de vista histórico, como as de Guilherme de Malmesbury ou de Otto von Freising.[69]
Acentua-se o debate em torno das questões de direito, tanto a nível secular como do direito canónico. O direito secular sofreu um grande impulso depois da descoberta do Corpus Juris Civilis no século XII. Em 1100, o direito romano fazia já parte do programa da Universidade de Bolonha, e o seu ensino e disseminação viria a contribuir para o registo e padronização de códigos legais por toda a Europa Ocidental. Em 1140, surge uma obra intitulada Decreto de Graciano, da autoria de Graciano, monge advogado e professor em Bolonha, e que seria o primeiro de seis textos que estariam na base do Corpus Juris Canonici, documento que manteve força jurídica na Igreja Católica até 1918.[70]
Ciência e tecnologia
Uma das maiores influências das culturas grega e islâmica durante este período manifestou-se na substituição da numeração romana pelo sistema de numeração decimal e na introdução da álgebra, fundamentais para o avanço das ciências matemáticas. A tradução do Almagesto de Ptolomeu do grego para o latim no final do século XII foi fundamental no progresso da astronomia. Um dos maiores pólos de desenvolvimento da medicina deu-se no sul de Itália, na escola de Salerno, influenciada pela medicina islâmica.[71]
Ao longo dos séculos XII e XIII, assiste-se na Europa e uma série de inovações na gestão dos meios de produção económica, que se reflectiram num crescimento económico muito acentuado. Entre os maiores avanços tecnológicos conta-se a invenção do moinho de vento, os primeiros relógios mecânicos, as primeiras investigações no campo da óptica com a criação de lentes rudimentares, a destilação e o uso do astrolábio.[72] A produção de vidro foi impulsionada sobretudo pela descoberta de um processo para a criação de vidro transparente durante o início do século XIII, e esteve na origem da ciência óptica, onde se destacou Roger Bacon, ao qual é atribuída a invenção dos primeiros óculos.[73][f]
Uma inovação agrícola maior foi o desenvolvimento do sistema rotação de culturas de três campos para a colheita. O desenvolvimento do arado pesado permitiu que solos mais pesados fossem cultivados eficientemente, um avanço que foi ajudado com a disseminação do colar de cavalo e a ferradura, ambas que levaram ao uso de animais de tração no lugar do boi. Os cavalos são mais rápidos que os bois e requerem menos pasto, fatores que ajudaram a utilização do sistema rotativo de três campos.[74]
O surto construtivo de catedrais e fortificações militares foi também motor de inovações técnicas na área da construção, permitindo a edificação generalizada em pedra de edifícios civis.[75] A construção naval progrediu com a introdução do sistema de vigas e pranchas em substituição do método romano de caixa e espiga, bem como a introdução da vela latina e do leme de proa, que possibilitaram um aumento significativo da velocidade de navegação.[76] A besta, usada já desde a Antiguidade, volta a tornar-se de uso generalizado como resposta ao grande número de cercos durante os século X e XI.[77] Era já conhecido o uso da pólvora em meados do século XIII, embora meramente como explosivo e não como arma. Em 1320, eram já usados canhões durante os cercos, e na década de 1360 está documentado o uso de fuzis em batalha.[78]
Arquitetura e arte
Ao longo do século X, a edificação de igrejas e mosteiros é feita sobretudo através da mimetização e aperfeiçoamento dos modelos estéticos vernaculares romanos, o que estaria na origem da designação românica. As próprias construções romanas eram muitas vezes demolidas e recicladas, aproveitando-se o material disponível e integrando-se métodos e motivos ornamentais antigos nas novas construções. A partir das primeiras experiências durante o que se convencionou designar de Primeiro Românico, o estilo desenvolveu-se e propagou-se pela Europa de forma notavelmente homogénea, motivado por um surto sem precedentes a nível de construção de novos espaços religiosos.[79] Praticamente todos estes espaços foram decorados com pinturas murais,[80] embora hoje em dia sejam muitíssimo poucos os exemplos sobreviventes.[81] Entre as características mais distintivas do românico conta-se os paramentos de grande espessura, o uso do arco de volta perfeita, aberturas de pequena dimensão, e o uso de arcaria cega nas paredes.[82] Os grandes portais profusamente decorados com escultura e alto-relevos, quase sempre pintados, tornam-se um dos elementos centrais das fachadas, sobretudo em França. Os capitéis são na sua maioria decorados com motivos animalistas e figuras de bestiário.[83] Desenvolve-se também a forma característica da fortaleza Europeia, crucial para a política e guerra.[84]
A ourivesaria românica atinge um dos seus períodos áureos durante arte mosana, onde se destacam artistas como Nicolas de Verdun e obras de matriz clássica como a pia baptismal de São Bartolomeu, que contrastam com as figuras distorcidas de grande parte da figuração contemporânea.[85] As iluminuras de maior riqueza artística encontram-se normalmente em bíblias e saltérios. A pintura mural no interior das igrejas está quase sempre presente, e segue na sua maioria um esquema narrativo fixo, mostrando o Juízo Final no lado ocidental e Cristo em Majestade no lado oriental, com várias narrativas bíblicas ao longo da nave ou, mais raramente, a pintura do próprio tecto como na Abadia de Saint-Savin-sur-Gartempe.[86]
A partir do início do século XII, desenvolve-se em França a arquitetura gótica, distinta sobretudo pelo recurso a abóbadas de cruzaria, arcos quebrados, arcobotantes e aberturas de maiores dimensões, preenchidas com vitrais. O gótico permaneceu uma opção estética comum até ao século XVI em grande parte da Europa, e está presente sobretudo em igrejas e catedrais de grandes dimensões, como a Catedral de Chartres ou a Catedral de Reims.[87]
Durante a Baixa Idade Média, a prática da iluminura e da cópia literária passa gradualmente dos mosteiros para oficinas especializadas, e já durante o início do século XIV a maior parte dos monges comprava livros nas livrarias.[88] Surgem também os livros de horas enquanto forma de devoção para os leigos. A ourivesaria continua a ser a mais prestigiada forma de arte, e o esmalte de Limoges uma das técnicas mais usadas em relicários e cruzes.[89] Em Itália, durante o século XIV, o pioneirismo de mestres como Giotto e Duccio contribui para uma cada vez maior sofisticação da pintura de painel e da técnica do fresco.[90] A arte secular desenvolve-se sobretudo a partir do século XII, fruto da prosperidade crescente das classes abastadas, chegando até nós imensos exemplares de entalhes de marfim, como peças de jogo, pentes e pequenas figuras religiosas.[91]
Igreja e sociedade
A reforma monástica é um tema central ao longo do século XI, à medida que cresce a inquietação entre a elite da Igreja relativamente ao facto dos monges não aderirem por completo a uma forma de vida estritamente religiosa, ao poder excessivo detido por bispos locais e à diversidade de cultos existente de região para região. A Abadia de Cluny, fundada em 909, dá origem a um amplo movimento de reforma monástica, chegando a unir na sua ordem, no seu apogeu, mais de um milhar de mosteiros na Europa.[93] A ordem obtém reputação de austeridade, rigor e de independência económica e política em relação aos poderes locais, ao não permitir a interferência e participação de leigos nas suas eleições e colocando-se a si própria sobre protecção do papado.[94]
A reforma monástica de Cluny inspirou mudanças na própria hierarquia da Igreja. Os seus princípios foram adoptados no próprio papado durante Leão IX, e contribuíram para a ideologia independentista que levaria à controvérsia das investiduras no fim do século XI. A controvérsia envolveu o Papa Gregório VII e o Imperador Henrique IV, inicialmente sobre nomeações episcopais, mas que se tornou numa disputa acesa sobre questões de investidura, matrimónio dentro do clero e simonia. O imperador, que via como obrigação a protecção da Igreja, pretendia escolher os próprios bispos no seu território, enquanto que o papado insistia na sua independência face ao poder secular. A questão permaneceu por resolver mesmo depois da Concordata de Worms em 1122. O conflito é um dos mais significativos episódios que esteve na base da criação de uma monarquia papal independente e equivalente à autoridade leiga.[93]
A Baixa Idade Média foi também palco para inúmeros movimentos religiosos. Para além dos cruzados e dos reformadores monásticos, a vida religiosa abriu-se a novas formas de organização. Foram fundadas novas ordens monásticas, como os Ordem dos Cartuxos ou a Ordem de Cister, e novas ordens militares como a dos Templários. Muitas destas ordens são fundadas como resposta ao sentimento generalizado que o monaquismo Beneditino estava já desajustado das necessidades dos leigos, sobretudo dos que pretendiam uma comunidade monástica próxima do modelo hermético e fechado paleocristão.[95] Durante o século XIII, o papado aprova as ordens mendicantes dos dominicanos e franciscanos, cujos membros fazem juras de pobreza e de mendicidade como única fonte de rendimento.[96] Para além das ordens reconhecidas oficialmente, surgem ao longo dos séculos XII e XIII vários outros grupos como os valdenses ou os cátaros, embora tenham sido decretados hereges pelo papa. Os cátaros chegaram mesmo a ser o alvo da Cruzada albigense e extintos durante a inquisição medieval.[97]
Os séculos XIV e XV
Fome e peste
Os primeiros anos do século XIV são marcados por várias carestias, que culminariam na Grande fome de 1315-1317.[98] Para além da transição climatérica abrupta do período quente medieval para a pequena Idade do Gelo, as várias carestias são o resultado de uma especialização excessiva em monoculturas, que deixaram a população vulnerável às devastações causadas por condições meteorológicas desfavoráveis.[99]
No seguimento destas catástrofes, surge em 1347 a Peste Negra, uma epidemia altamente contagiosa e mortal que se disseminou por toda a Europa entre 1348 e 1350.[100] A cifra de mortes é estimada em 35 milhões de pessoas, cerca de um terço da população, e atingiu sobretudo as cidades em virtude da elevada concentração populacional. Grandes porções do território ficaram inabitadas e os terrenos abandonados. Em função da escassez de mão de obra, o preço dos salários na agricultura subiu significativamente, o que, no entanto, seria contrabalançado pela queda abrupta da procura de géneros alimentares. A luta por salários iguais por parte dos trabalhadores urbanos esteve na origem de uma série de revoltas populares por toda a Europa,[101] entre elas a Jacquerie em França, a revolta de 1381 em Inglaterra, e várias revoltas nas cidades de Florença, Gent e Bruges. O trauma infligido pela Peste provocou um fervor religioso por toda a Europa, que se manifestaria na fundação de novas caridades, na culpabilização extrema dos flagelantes e na acusação dos Judeus como bodes expiatórios.[102] A peste regressaria, ainda que esporadicamente e em surtos menores, ao longo de todo o século XIV.[100]
O renascer do Estado
A Baixa Idade Média também testemunhou a ascensão por toda a Europa de Estados-nação monárquicos fortes, particularmente na Inglaterra, França e nos reinos cristãos da península Ibérica - Aragão, Castela e Portugal. Os longos conflitos do final da Idade Média vieram fortalecer o domínio real sobre o próprio território, ainda que tenham sido extremamente pesarosos com os camponeses. Os reis obtinham benefícios com os conflitos através do aumento territorial e da extensão da legislação real por todos os seus reinos.[103] O financiamento da guerra exigiu métodos de cobrança de impostos e, na maior parte das vezes, aumentos significativos na taxa de impostos.[104] A necessidade de obter o consentimento daqueles que eram taxados levou a que corpos representativos, como o Parlamento da Inglaterra ou a Assembleia dos Estados Gerais, ganhassem algum poder e autoridade.[105]
Ao longo do século XIV, a monarquia francesa procurou alargar a sua influência por todo o reino, sacrificando as possessões da nobreza.[106] Esta expansão foi alvo de resistência quando tentou confiscar as possessões da coroa inglesa no sul de França, o que levou à deflagração da Guerra dos Cem Anos,[107] que se prolongaria até 1453.[108] O próprio reino francês esteve na iminência da desagregação durante os primeiros anos do conflito devido ao esforço de guerra,[109] situação que se voltaria a repetir durante os primeiros anos do século XV e apenas invertida no fim da década de 1420, com as sucessivas vitórias militares de Joana d'Arc e à vitória final do reino francês ao capturar a última colónia inglesa no sul de França em 1453.[110] No entanto, estima-se que a população francesa no final do conflito tinha diminuído para metade. Paradoxalmente, a guerra viria a contribuir significativamente na formação da identidade nacional inglesa, proporcionando a união de várias identidades locais numa identidade cultural única e distinta da influência cultural francesa dominante até ao início da Guerra dos Cem Anos.[111] A guerra marcou também a introdução de nova tecnologia de combate, como o arco longo[112] e do canhão de combate na Batalha de Crécy em 1346.[78]
O Sacro Império Romano-Germânico permaneceu estável durante o fim da Idade Média. No entanto, a natureza electiva da coroa imperial impediu a formação de qualquer dinastia forte.[113] Mais a leste, os reinos da Polónia, Hungria e Boémia ganharam poder e influência.[114] Na península Ibérica, continuava o processo de reconquista dos reinos muçulmanos do Sul,[115] embora Portugal se tenha concentrado ao longo do século XV na expansão ultramarina, enquanto os restantes reinos lidavam com problemas sucessórios e instabilidade social no mesmo período.[116] A Inglaterra, após a derrota na Guerra dos Cem Anos, entraria num longo período de guerra civil conhecido como Guerra das Rosas, que duraria até ao fim da década de 1490.[117] Os reinos escandinavos da Noruega, Dinamarca e Suécia foram brevemente unificados durante a União de Kalmar, no final do século XV e nas primeiras décadas do século XVI, mas voltariam a desagregar-se depois da morte da rainha Margarida I. As maiores potências do mar Báltico continuavam a ser as cidades-Estado da Liga Hanseática. cujas rotas comerciais se estendiam da Europa Ocidental até à Rússia.[118]
Colapso de Bizâncio
Embora os imperadores paleólogos tivessem conseguido recapturar Constantinopla em 1261, nunca conseguiram recuperar o domínio sobre as antigas terras do Império Bizantino. Controlavam apenas uma pequena parte da península Balcânica perto de Constantinopla, a própria cidade, e algumas terras costeiras no mar Negro perto do mar Egeu. As antigas terras bizantinas nos Balcãs foram divididas entre o Reino da Sérvia, o Império Búlgaro e a República de Veneza. O poder imperial bizantino seria ameaçado por uma nova tribo oriunda da Ásia, os Otomanos, que tinham ocupado a Anatólia durante século XIII, expandido-se progressivamente ao longo do século XIV. Em 1366, subjugam a Bulgária à vassalagem e conquistam a Sérvia após a derrota desta na batalha do Kosovo em 1389. Os reinos ocidentais reuniram-se em auxílio dos cristãos balcânicos e declararam uma nova cruzada em 1396, enviando um numeroso exército, que viria no entanto a ser derrotado na batalha de Nicópolis.[119] Constantinopla acabaria por ser finalmente capturada pelos Otomanos em 1453.[120]
Controvérsia dentro da Igreja
Uma das mais significativas manifestações da instabilidade do século XIV foi o Papado de Avinhão, de 1305 a 1378,[121] e o Grande Cisma do Ocidente que se lhe seguiu, entre 1378 e 1418, momento em que coexistiram dois, e depois três, papas rivais, cada um apoiado por estados diferentes.[122] No início do século XV, depois de um século de instabilidade, os oficiais eclesiásticos reuniram-se no Concílio de Constança em 1414, depondo no ano seguinte um dos papas rivais, deixando apenas dois pretendentes. Seguiram-se várias deposições até que, em novembro de 1417, o concílio elege o Martinho V (1417-1431).[123]
Além do cisma, a igreja ocidental estava divida por controvérsias teológicas, algumas das quais viriam a ser consideradas heresias. John Wyclif (m. 1384), um teólogo inglês, foi condenado por heresia em 1415 por defender o acesso dos laicos ao texto da Bíblia e por assumir posições sobre a Eucaristia contrárias à doutrina da igreja.[124] Os ensinamentos de Wyclif influenciaram os dois maiores movimentos hereges da Idade Média – o Lollardismo na Inglaterra e os Hussitas na Boémia.[125] Os boémios foram também influenciados por Jan Hus, sentenciado à fogueira em 1415 depois de ter sido condenado como herege pelo Concílio de Constança. A Igreja hussita, embora sujeita a uma cruzada contra si, sobreviveria até ao fim da Idade Média.[126]
O papado refinou o conceito de transubstanciação durante o fim da Idade Média, afirmando que apenas o clero regular podia partilhar o vinho da Eucaristia. Isto viria a distanciar ainda mais o clero secular do clero regular. Os leigos mantiveram as práticas de peregrinação, veneração de relíquias e a crença no poder do Diabo. Místicos como Mestre Eckhart (m. 1327) ou Thomas à Kempis (m. 1471) foram autores de obras que ensinavam aos leigos a focarem-se na sua própria espiritualidade, uma interpretação que viria a contribuir para a Reforma Protestante. A crença em bruxaria generalizou-se de tal forma que, no fim do século XV, a igreja cedeu à pressão do medo e paranóia populista, iniciando em 1484 uma série de julgamentos pela prática de bruxaria, sendo também publicado em 1486 o Malleus Maleficarum, o mais popular manual de caçadores de bruxas.[127]
Académicos, intelectuais e descobrimentos
John Duns Scotus (n. 1308)[g] e Guilherme de Ockham (n. circa 1348),[66] lideraram uma das mais notáveis reacções contra a escolástica medieval, rejeitando a aplicação da razão na fé. Os seus esforços, aliados aos de vários outros autores, levariam à renúncia do ideal platónico do "universal". A persistência de Ockham em que a razão opera de forma independente da fé permitiu à ciência separar-se em definitivo da teologia e filosofia.[128] O Direito pautou-se pelo avanço sólido do direito romano em áreas de jurisprudência anteriormente governadas pelo direito consuetudinário. A única exceção foi a Inglaterra onde prevaleceu o direito comum. Vários países fizeram um esforço no sentido de codificar as leis, tendo sido promulgados códigos jurídicos em estados tão diversos como Castela, Polónia e Lituânia.[129]
A educação permanecia ainda direccionada ao futuro clero. A aprendizagem básica de letras e aritmética podia ser feita na própria província da família ou através do clero local, mas os assuntos secundários do trivium - gramática, retórica e lógica - eram estudados nas escolas catedrais presentes nas grandes cidades. Difundiram-se também as escolas comerciais, chegando algumas cidades de Itália a ter mais do que um destes empreendimentos. Durante os séculos XIV e XV apareceram também uma série de novas universidades por toda a Europa. Surgem grandes autores da literatura vernacular, como Dante, Petrarca e Giovanni Boccaccio na Itália do quattrocento, Geoffrey Chaucer e William Langland em Inglaterra e Cristina de Pisano na França. A literatura continuou a ser sobretudo de natureza religiosa, mas embora muitas destas obras continuassem a ser escritas em latim, aumentou a procura de textos que se debruçassem sobre santos e outros temas religiosos em línguas vernaculares. No teatro, surge o género de peças miraculosas patrocinadas pela Igreja.[129] A invenção da prensa móvel por volta de 1450, trouxe consigo a democratização e facilidade na impressão de livros, e deu origem a inúmeras editoras em toda a Europa.[130]
Durante o início do século XV, os países da península Ibérica começaram a patrocinar explorações além das fronteiras da Europa. O Infante D. Henrique de Portugal (m.1460) foi o impulsionador de expedições que viriam a descobrir as Ilhas Canárias, Açores e Cabo Verde ainda durante a sua vida. Em 1486, Bartolomeu Dias (m.1500) navegou ao longo da costa ocidental africana até ao Cabo da Boa Esperança, ponto de difícil passagem que seria superado em 1498 por Vasco da Gama (m.1524), abrindo assim a rota marítima para a Índia.[131] Os reinos de Aragão e Castela financiaram a viagem expedicionária de Cristóvão Colombo (m.1506) que em 1492 viria a descobrir a América.[132] A coroa inglesa, na figura do Rei Henrique VII (r. 1485–1509) financiou a viagem de Giovanni Caboto (m. 1498), que em 1497 chegaria à Ilha de Cape Breton.[133]
Arquitetura e arte no século XV
A arte do fim do período medieval na generalidade da Europa contrasta com a arte italiana do mesmo período. Enquanto que em Itália o contexto artístico mostrava já sinais de que se preparava o Renascimento, no norte da Europa e na península Ibérica mantiveram-se-se o gosto e a preferência pela estética gótica praticamente até o fim do século XV, atingindo-se a exuberância e complexidade manifestas no gótico internacional.[134] A encomenda de arte secular aumentou significativamente em quantidade e qualidade, muito impulsionada pelo patronato das classes mercadoras da Itália e Flandres, fazendo encomendas de retratos de si próprios em óleo e comprando imensa joalharia, cofres, arcas e majólica. Entre os objectos muito apreciados e encomendados encontrava-se também a cerâmica mourisca produzida pelos ceramistas mudéjares em Espanha. Embora os objectos de prata tenham sido em bastante número entre a realeza, são poucas as peças que sobreviveram até aos nossos dias, como a Taça de Santa Inês.[135] O desenvolvimento da manufactura de seda em Itália veio tornar a Europa menos dependente das importações de Bizâncio ou do mundo islâmico. Na França e na Flandres, os conjuntos de tapeçaria como a A Dama e o Unicórnio tornar-se-iam num dos mais cobiçados objectos de luxo.[136]
As complexas gramáticas decorativas do alto gótico, até aí visíveis sobretudo no exterior dos templos, são progressivamente adaptadas a vários elementos do interior, sobretudo em túmulos e púlpitos, como o Púlpito de Giovanni Pisano em Sant'Andrea. Os retábulos pintados ou de madeira entalhada tornam-se comuns, sobretudo à medida que se começa a criar capelas laterais nas igrejas. A própria pintura flamenga dos séculos XV e XVI, através de artistas como Jan van Eyck (m. 1441) ou Rogier van der Weyden (m. 1464), rivaliza em qualidade com o próprio quattrocento italiano. Os manuscritos iluminados e os livros de temática secular, sobretudo contos, começam no século XV a ser coleccionados em larga escala pela elite. A partir de 1450 e ainda que caros, os livros impressos tornam-se extraordinariamente populares, havendo já cerca de 30.000 incunábulos impressos no ano 1500.[137] A impressão tornou também obsoleta a iluminura, fazendo destas obras, no século XVI, um objecto com valor meramente artístico e encomendado apenas pela elite. Embora as pequenas xilogravuras, quase sempre de temas religiosos, fossem acessíveis até a camponeses, as gravuras eram mais caras e destinadas a um mercado mais abastado.[138]
Imagem moderna
O período medieval é frequentemente caricaturado como supostamente um "tempo de ignorância e superstição" que sobrepunha sempre os mandamentos religiosos à experiência pessoal e racionalismo."[139] Trata-se de um legado da Renascença e do Iluminismo, períodos em que os intelectuais estabeleciam sempre a comparação da sua cultura com a cultura medieval de forma preconceituosa. Os intelectuais renascentistas viam a civilização clássica como uma época de imensa cultura e civilização, e a Idade Média como um progressivo declínio dessa cultura. Por seu lado, os iluministas encaravam a razão como sendo sempre superior à fé e, por conseguinte, a Idade Média como um tempo de ignorância e superstição.[8]
Uma corrente de pensamento defende, no entanto, que a razão e a lógica era normalmente tida em conta durante a Idade Média. O historiador da ciência Edward Grant, escreveu que "o facto de o raciocínio lógico ter sido expresso [no século XVIII], só pode ter sido possível por causa da longa tradição medieval que definiu o uso da razão como a mais importante das atividades humanas".[140] Também, ao contrário do que é comum acreditar-se, David Lindberg escreve que "o intelectual medieval raramente era pressionado pela força coercitiva da igreja e muito provavelmente considerava-se livre (sobretudo na ciência natural) para seguir a razão e observação até onde quer que isso os conduzisse".[h]
A caricatura do período reflete-se também em várias crenças populares. Por exemplo, uma das especulações que começou a ser difundida durante o século XIX e que ainda é muito comum na cultura popular, é a suposição, errada, de que todas as pessoas na Idade Média acreditavam no Mito da Terra plana.[141] Na verdade, o próprio corpo das universidades medievais propunha evidências que demonstravam que a Terra seria esférica,[142] Lindberg e Numbers afirmam mesmo que seria muito rara a existência de qualquer académico cristão medieval que não tivesse conhecimento da esfericidade da Terra ou que não soubesse até a sua circunferência aproximada.[143]
Notas
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Middle Ages», especificamente desta versão.
- [a] ^ Ver as obras Making of Polities Europe 1300-1500 de Watts ; ou Economic History of Later Medieval Europe 1000–1500 de Epstein; ou ainda a data usada em Holmes (ed.) The Oxford History of Medieval Europe
- [b] ^ Ver Saul, Companion to Medieval England 1066–1485
- [c] ^ Por vezes é proposta a data de 480, sendo esse o ano da morte do seu antecessor Júlio Nepos, que se continuou a declarar como imperador a partir da Dalmácia.[7]
- [d] ^ O seu túmulo foi descoberto em 1653 e é notável pelas suas peças fúnebres, nas quais se incluem um grande número de armas e uma imensa quantidade de ouro.[144]
- [e] ^ A minúscula carolíngia foi criada a partir da escrita uncial da Antiguidade, um método caligráfico de escrever o alfabeto latino, com caracteres mais pequenos e arredondados do que as formas clássicas.[145]
- [f] ^ Uma das mais antigas imagens onde podem ser vistos óculos encontra-se num vitral da Catedral de Estrasburgo, onde se pode observar o imperador Henrique VII com seus óculos.[73]
- [h] ^ Citado em Peters "Science and Religion" Encyclopedia of Religion
Referências
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Ligações externas
- The Online Reference Book of Medieval Studies Artigos académicos com revisão de pares. (em inglês)
- The Labyrinth Recursos para medievalistas. (em inglês)
- NetSERF Aliança para recursos medievais. (em inglês)
- De Re Militari: Sociedade para a História Medieval Militar
- Medievalmap.org Mapas interactivos da Idade Média (necessita do plug-in Flash)
- Medieval Realms Recursos da British Library, incluindo estudos sobre iluminuras medievais.
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