Forte da Igreja (São Mateus da Calheta)

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Forte de São Mateus (José Rodrigo de Almeida, 1830, GEAEM).
Planta do Forte da Igreja (António Belo de Almeida Jr.; Damião Pego, 1881-1882.)

O Forte de São Mateus da Calheta, também referido como Forte da Igreja, localizava-se na ponta de São Mateus, na freguesia de São Mateus da Calheta, concelho de Angra do Heroísmo, na costa sul da ilha Terceira, nos Açores.

Em posição dominante sobre este trecho do litoral, última enseada a oeste de Angra com condições para se efetuar um desembarque, constituiu-se em uma fortificação destinada à defesa deste ancoradouro contra os ataques de piratas e corsários, outrora frequentes nesta região do oceano Atlântico. Erguia-se entre o Forte do Negrito e o Forte do Terreiro, com quem cruzava fogos, vizinho à Igreja Velha de São Mateus da Calheta,[1] destruída pelo ciclone de 1893. A atual Igreja de São Mateus foi erguida, anos mais tarde, em novo local, junto ao porto de São Mateus da Calheta.

História[editar | editar código-fonte]

Foi uma das fortificações erguidas na Terceira no contexto da crise de sucessão de 1580 pelo então corregedor dos Açores, Ciprião de Figueiredo e Vasconcelos, conforme o plano de defesa da ilha elaborado por Tommaso Benedetto em 1567, após o ataque do corsário francês Pierre Bertrand de Montluc ao Funchal (outubro de 1566), intentado e repelido em Angra no mesmo ano (1566):

"Não havia naquele tempo [Crise de sucessão de 1580] em toda a costa da ilha Terceira alguma fortaleza, excepto aquela de S. Sebastião, posto que em todas as cortinas do sul se tivessem feito alguns redutos e estâncias, nos lugares mais susceptíveis de desembarque inimigo, conforme a indicação e plano do engenheiro Tomás Benedito, que nesta diligência andou desde o ano de 1567, depois que, no antecedente de 1566, os franceses, comandados pelo terrível pirata Caldeira, barbaramente haviam saqueado a ilha da Madeira, e intentado fazer o mesmo nesta ilha, donde parece que foram repelidos à força das nossas armas."[2]

A seu respeito, DRUMMOND registou:

"Os mais fortes que Ciprião de Figueiredo mandou edificar nos lugares já de antes designados, são os seguintes: dentro na baía da cidade, entre a mencionada fortaleza de Santo António e o Porto Novo, edificou-se outro forte; correndo para o poente, onde se chama a Prainha, outro, e todos com artilharia, fechados, e de uns a outros iam muros com seus cordões, e corredores por dentro, e com boas portas para terra. Edificou-se mais adiante a fortaleza de São Mateus, o forte da Calheta, e o do Negrito; e dali até à Serreta fizeram-se trincheiras em poucos lugares, por ser costa mui brava."[2]

Era aqui, na altura da freguesia de São Mateus, que as naus de torna-viagem das Índias, em busca do porto de Angra, salvavam pela primeira vez[3].

No contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714) encontra-se referido como "O Reduto de S. Matheus." na relação "Fortificações nos Açores existentes em 1710".[4]

Com a instalação da Capitania Geral dos Açores, o seu estado foi assim reportado em 1767:

"34º - Reducto de São Matheus. Precisa porta nova; tem tres canhoneiras com tres peças de ferro boas e os seus reparos bons, e para se guarnecer precisa de tres artilheiros e doze auxiliares."[5]

Encontra-se referido como "31. Reducto de S. Matheus da Calheta" no relatório "Revista aos fortes que defendem a costa da ilha Terceira", do Ajudante de Ordens Manoel Correa Branco (1776), que assinala: "Este reducto náo careçe de obra algua."[6]

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834) voltou a revestir-se de importância estratégica, constando o seu alçado e planta, sob o nº 23, na "Colecção de Plantas e Alçados de 32 Fortalezas dos Açores, por Joze Rodrigo d'Almeida em 1830", atualmente no Gabinete de Estudos de Arquitetura e Engenharia Militar, em Lisboa.[7]

A "Relação" do marechal de campo Barão de Bastos em 1862 informa que se encontrava incapaz desde longos anos.[8]

Quando da realização do tombo, em 1881, foi inspecionado pelo tenente de engenharia António Belo de Almeida Júnior, que o encontrou em bom estado de conservação, embora reparasse na fraca consistência das barreiras em que assentava, apenas protegidas pela rocha baixa que as orlava.[9]

Em 28 de agosto de 1893, um ciclone excepcionalmente forte foi-lhe fatal, assim como à vizinha Igreja de São Matheus.

Esta estrutura não chegou até aos nossos dias.

Características[editar | editar código-fonte]

De tipo abaluartado, era de pequenas dimensões com planta no formato de um trapézio isósceles, ocupando uma área de 204 metros quadrados. Em suas muralhas, de cantaria de pedra, rasgavam-se quatro canhoneiras, duas pelo lado menor e uma em cada um dos lados não paralelos. No intervalo das canhoneiras, a muralha era guarnecida por banquetas para a fuzilaria. No vértice leste erguia-se uma pequena edificação com a função de paiol e de casa da palamenta.

O acesso era feito, a partir de uma estrada pública, por uma rampa até um portão simples rasgado na muralha até ao cordão de rampa, tendo 1,4 metros de largura.

Referências

  1. A cerca de 22 metros de distância.
  2. a b Anais da Ilha Terceira, tomo I, cap. IV.
  3. FRUTUOSO, Gaspar. Saudades da Terra, Livro VI.
  4. "Fortificações nos Açores existentes em 1710" in Arquivo dos Açores, p. 178. Consultado em 8 dez 2011.
  5. JÚDICE, 1767.
  6. Revista aos Fortes que Defendem a costa da Ilha Terceira - 1776 Arquivado em 27 de dezembro de 2013, no Wayback Machine. in IHIT.pt. Consultado em 3 dez 2011.
  7. "Forte de São Mateus e Forte do Negrito, José Rodrigo de Almeida, 1830 (c.), ilha Terceira, Açores." in Arquipélagos.pt. Consultado em 30 dez 2011.
  8. BASTOS, 1997:267.
  9. Damião Pego. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira".

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anónimo. "Colecção de todos os fortes da jurisdição da Villa da Praia e da jurisdição da cidade na Ilha Terceira, com a indicação da importância da despesa das obras necessárias em cada um deles (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • Anónimo. "Revista aos Fortes que Defendem a Costa da Ilha Terceira – 1776 (Arquivo Histórico Ultramarino)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LVI, 1998.
  • BASTOS, Barão de. "Relação dos fortes, Castellos e outros pontos fortificados que se achão ao prezente inteiramente abandonados, e que nenhuma utilidade tem para a defeza do Pais, com declaração d'aquelles que se podem desde ja desprezar." in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LV, 1997. p. 267-271.
  • CASTELO BRANCO, António do Couto de; FERRÃO, António de Novais. "Memorias militares, pertencentes ao serviço da guerra assim terrestre como maritima, em que se contém as obrigações dos officiaes de infantaria, cavallaria, artilharia e engenheiros; insignias que lhe tocam trazer; a fórma de compôr e conservar o campo; o modo de expugnar e defender as praças, etc.". Amesterdão, 1719. 358 p. (tomo I p. 300-306) in Arquivo dos Açores, vol. IV (ed. fac-similada de 1882). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 178-181.
  • DRUMMOND, Francisco Ferreira. Anais da Ilha Terceira (fac-simil. da ed. de 1859). Angra do Heroísmo (Açores): Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1981.
  • FARIA, Manuel Augusto. "Ilha Terceira – Fortaleza do Atlântico: Forte de São Mateus". in Diário Insular, s/d.
  • JÚDICE, João António. "Revista dos Fortes da Terceira". in Arquivo dos Açores, vol. V (ed. fac-similada de 1883). Ponta Delgada (Açores): Universidade dos Açores, 1981. p. 359-363.
  • MARTINS, José Salgado, "Património Edificado da Ilha Terceira: o Passado e o Presente". Separata da revista Atlântida, vol. LII, 2007. p. 19.
  • MOTA, Valdemar. "Fortificação da Ilha Terceira". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LI-LII, 1993-1994.
  • NEVES, Carlos; CARVALHO, Filipe; MATOS, Arthur Teodoro de (coord.). "Documentação sobre as Fortificações dos Açores existentes nos Arquivos de Lisboa – Catálogo". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. L, 1992.
  • PEGO, Damião; ALMEIDA JR., António de. "Tombos dos Fortes da Ilha Terceira (Direcção dos Serviços de Engenharia do Exército)". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. LIV, 1996.
  • VIEIRA, Alberto. "Da poliorcética à fortificação nos Açores: introdução ao estudo do sistema defensivo nos Açores nos séculos XVI-XIX". in Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, tomo II, 1987.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]