Prosper Mérimée
Prosper Mérimée | |
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Nascimento | 28 de setembro de 1803 Paris |
Morte | 23 de setembro de 1870 (66 anos) Cannes |
Nacionalidade | francês |
Ocupação | historiador, arqueólogo, senador e escritor |
Magnum opus | La Vénus d'Ille (1837) Carmen (1845) |
Movimento estético | Romantismo |
Prosper Mérimée, (Paris, 28 de setembro de 1803 – Cannes, 23 de setembro de 1870) foi um historiador, arqueólogo, senador e escritor romântico francês, célebre pelo conto que resultou na ópera Carmen.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Era filho único de Leonor Merimée e Anne-Louise Merimée na Paris de Napoleão. Seu pai era pintor e professor de desenho, o que influenciou o filho a primeiro estudar no Liceu Imperial. Deixou o Liceu para fazer Direito, formando-se em 1823.[1]
Também aprendeu latim, grego, italiano, espanhol, inglês e russo. Foi o primeiro a traduzir obras literárias russas para o francês.
Ocupou diversos cargos públicos, em todos eles destacando-se pelo bom desempenho de seus deveres. Foi nomeado (1830) Inspetor dos Monumentos Históricos, revelando-se um arqueólogo nato, combinando suas habilidades linguísticas, uma notável avaliação histórica e sincero devotamento às artes, desenho e arquitetura. Neste mister, seus relatórios vieram muitas vezes a merecer publicação, e destaque em sua produção, ao largo da literária. A ele se deve, em boa parte, a conservação do rico legado cultural, do qual tanto se orgulha o povo francês.[1]
Neste mesmo ano conheceu e auxiliou a Condessa de Montijo, espanhola. Quando a filha dela tornou-se a Imperatriz Eugénie, da França, em 1853, Mérimée foi honrado com o cargo de senador.
Prosper Mérimée morreu em Cannes, França e ali foi sepultado no Cimetière du Grand Jas.
Literatura
[editar | editar código-fonte]Mérimée estreou como literato em 1825, com "O Teatro de Clara Gazul" - atribuindo satiricamente a autoria do texto a esta célebre "comediante espanhola",[1] e que teria sido traduzida por um fictício senhor Joseph Lestrange.[2] Antes, porém, havia escrito a peça trágica "Cromwell" (em 1822, contando então dezenove anos apenas) que nunca foi publicado e nenhuma cópia existe, mas que foi lida nos salões da época e sabendo-se que desobedecia às normas convencionais de narrativa; ilustrava a obra um retrato da "autora" feito por Étienne-Jean Delécluze com uma suposta biografia da mesma, despertando curiosidade até que o jornal Le Globe descobre a farsa e revela ser Merimée o verdadeiro autor - não sem antes várias revistas terem acreditado na falsa autoria.[2]
Apenas dois anos depois Merimée usa do mesmo recurso de atribuir a um falso autor uma obra, publicada em 1827 com o título de La Guzla (o nome é anagrama de "Gazul"), composto por baladas supostamente tradicionais da Ilíria; escritas em apenas quinze dias a obra ganhou grande projeção no exterior, graças à divulgação feita por Goethe e por Pushkin.[2]
Além das obras literárias, publicou outras em que revela sua predileção pela história, como em La Jacquerie (1828) e em La Chronique du temps de Charles IX (1829).[2]
Obras
[editar | editar código-fonte]Além dos dois escritos citados, tem-se:
- La Guzla (1827) - outra sátira, com vários textos de temas místicos, que teriam sido traduzidos do ilírico original por um certo Hyacinthe Maglanowich.
- La Jacquerie (1828) - drama sobre uma insurreição camponesa nos tempos feudais.
- La Chronique du temps de Charles IX (1829) - Novela sobre as dissidências religiosas entre protestantes (à altura conhecidos como huguenotes) e católicos, culminando em guerra civil na França do início do século XVI, cujo ponto máximo fora o conhecido massacre de S. Bartolomeu, em 1572.
- Mateo Falcone (1829) - conto sobre a ilha da Córsega, tendo o personagem título matado o próprio filho em nome da justiça, e publicado em seguida, numa coletânea. Este conto gerou uma ópera homônima, do compositor russo Cesar Cui (vide excerto abaixo).
- Mosaïque (1833) - Reunião de contos, dentre os quais Mateo Falcone, Tamango, Federigo, Baladas, O Vaso Etrusco, etc.. Além destes, três cartas espanholas. A maioria dos contos já havia sido publicada na "Revista de Paris", entre 1829 e 1830.
- La Vénus d'Ille (1837) - conto de horror maravilhoso onde uma estátua de bronze ganha vida. O suíço Othmar Schoeck compôs sua ópera Vênus baseado neste conto, com libreto de Armin Rüeger.[3]
- Notas de Viagens (1835-40) - em que descreve suas viagens pela Grécia, Espanha, Turquia, e na própria França.
- Colomba (1840) - esta foi sua primeira novela de sucesso. Conta a história de uma jovem moça corsa que obriga seu irmão a cometer um assassinato para se vingar.
- Carmen (1845) - A mais famosa de suas novelas, narra a história de uma bela cigana infiel que é morta pelo amante, um oficial espanhol. Em 1875, foi transformada em ópera, por Georges Bizet (cartaz da época, ao lado), além de vários filmes.
- Lokis (1869) - ambientado no Leste Europeu, é uma história de terror onde um homem, metade urso e metade gente, gostava de se alimentar de carne humana.
- A Câmara Azul (1872) - uma farsa com todos os caracteres de conto sobrenatural, mas onde ao final tudo volta a ser como era antes...
- Lettres à une inconnue (1874) - reunião de cartas de Mérimée para Jenny Dacquin, publicadas depois de sua morte.
Mateo Falcone - Excertos e resumo
[editar | editar código-fonte]Para ilustrar o estilo dramático e claro deste escritor, a novela Mateo Falcone é lapidar:[4]
Na Córsega, diz o autor, um lugar em especial serve de refúgio para os criminosos:
- Se matastes um homem, ide para o mato de Porto-Vecchio, e ali vivereis em segurança, com um bom fuzil, pólvora e balas; não esqueças duma capa escura com capuz, que fará as vezes de coberta e colchão. Os pastores vos darão leite, queijo e castanhas, e nada temereis da justiça ou dos parentes do morto, senão quando tiverdes de descer à cidade para renovar as munições.
(...) Mateo Falcone vivia sem precisar trabalhar, e este era seu perfil:
- Imaginai um homem baixo, mas robusto, de cabelos crespos, negros como ébano, nariz aquilino, lábios delgados, olhos grandes e vivos, uma pele da cor de couro cru. Mesmo na sua terra, onde há tão bons atiradores, passava por extraordinariamente hábil no manejo da espingarda.
- (...) granjeara Mateo Falcone enorme reputação. Diziam-no tão bom amigo quão perigoso inimigo; era aliás solícito, dado a fazer esmolas, e vivia em paz com todos no distrito de Porto-Vecchio.
(...) Mateo casara-se com Josefa, que, após dar-lhe três filhas, finalmente tivera um herdeiro homem, a quem, esperançoso em dar continuidade ao nome, batizara, o pai, de "Fortunato". Contava o menino com 10 anos de idade quando os pais se ausentam de casa, e pede-lhe abrigo um criminoso, Gianetto Sanpiero, ferido numa perseguição. O menino, a princípio, recusa-se, mas, depois de receber um pagamento, aceita dar abrigo ao fugitivo. Quando os perseguidores chegam, dissimula.
- Fortunato continuava com um riso zombeteiro.
- — Meu pai é Mateo Falcone! - disse ele enfaticamente.
- — Bem sabes, malandrinho, que posso levar-se pra a Corte ou para a Bastilha. Farei dormires num calabouço, em cima da palha, com ferros nos pés e mandarei guilhotinar-te se não disseres onde está Gianetto Sanpiero.
- A essa ridícula ameaça o menino soltou uma gargalhada, e repetiu:
- — Meu pai é Mateo Falcone!
(...) O chefe dos soldados perseguidores, Teodoro Gamba, então resolve subornar o menino com um relógio de prata, o que este acaba aceitando, delatando o esconderijo do albergado. Após a captura, quando vão saindo, o casal está de volta para casa. Amedrontado com a vista de Mateo, Gamba logo se aproxima, contando-lhe o ocorrido, e o importante papel que tivera seu filho. Em casa, vendo o garoto com o suborno, leva-o para o mato e encerra a história:
- O menino fez um desesperado esforço para se erguer e abraçar-se aos joelhos do pai; mas não teve tempo. Mateo fez fogo, e Fortunato caiu morto.
- Sem olhar para o cadáver, Mateo retomou o caminho de casa, em busca de uma enxada para enterrar o filho. Mal dera alguns passos, encontrou Josefa, que corria alarmada com o tiro.
- — Que fizeste?
- — Justiça.
- — Onde ele está?
- — Lá embaixo, no barranco. Vou enterrá-lo. Morreu como cristão, mandarei rezar uma missa para ele. Dize ao meu genro Teodoro Bianchi que venha morar conosco.
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c Edgard Cavalheiro, in: Diaulas Rieder (org.) (1956). Maravilhas do Conto Francês. São Paulo: Cultrix. p. 67-68
- ↑ a b c d Institucional. «Prosper Mérimée (1803-1870) - L'oeuvre de Merimee». Senado de França (Senat). Consultado em 28 de setembro de 2016
- ↑ Margaret Ross Griffel (2018). Operas in German: A Dictionary. [S.l.]: Rowman & Littlefield. 1050 páginas. ISBN 9781442247970. Consultado em 24 de maio de 2018.
Pág. 500.
- ↑ Prosper Merimée, Mateo Falcone, in: Diaulas Rieder (org.) (1956). Maravilhas do Conto Francês. São Paulo: Cultrix. p. 69-80
Ligações externas
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