Romantismo: diferenças entre revisões
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{{mais notas|arte=sim|data=novembro de 2014}}{{Ver desambig|este=|[[amor]]|amor romântico}} |
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[[Ficheiro:Caspar_David_Friedrich_032.jpg|miniaturadaimagem|[[Caspar David Friedrich]], ''[[Caminhante sobre o mar de névoa|Andarilho acima do Mar de Nevoeiro]]'', 1818]] |
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O '''romantismo''' foi um movimento [[arte|artístico]], [[Política|político]] e [[Filosofia|filosófico]] surgido nas últimas décadas do {{séc|XVIII}} na [[Europa]] que durou por grande parte do {{séc|XIX}}. Caracterizou-se como uma [[visão de mundo]] contrária ao [[racionalismo]] e ao [[iluminismo]]<ref>[http://www.ub.edu/histofilosofia/gmayos/4presentacio.htm "O Iluminismo frente ao Romantismo no marco da subjetividade moderna"] {{Wayback|url=http://www.ub.edu/histofilosofia/gmayos/4presentacio.htm |date=20110721181704 }} de G. Mayos (traduzido por Karine Salgado).</ref> e buscou um [[nacionalismo]] que viria a consolidar os Estados nacionais na Europa. |
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O '''romantismo''' (também conhecido como '''movimento romântico''' ou definidor de uma '''era romântica''') é um [[movimento artístico]] e intelectual que se originou na [[Europa]] no final do século XVIII. Na maior parte da Europa, atingiu o seu auge entre aproximadamente 1800 e 1850. O romantismo caracterizou-se pela ênfase na emoção e [[individualismo]], bem como na glorificação do passado e da [[natureza]], preferindo o [[medieval]] ao [[Classicismo|clássico]]. Ele foi em parte uma reação à [[Revolução Industrial]]<ref>{{Citar enciclopédia|url=http://www.britannica.com/eb/article-9083836|titulo=''Romanticism''. Retrieved 30 January 2008, from Encyclopædia Britannica Online|autor=Encyclopædia Britannica|arquivourl=https://web.archive.org/web/20051013060413/http://www.britannica.com/eb/article-9083836|arquivodata=13 de outubro de 2005|enciclopédia=Britannica.com}}</ref> e à ideologia predominante da [[Iluminismo|Era do Iluminismo]], especialmente a racionalização científica da Natureza.<ref name="Casey">{{Citar web|ultimo=Casey|primeiro=Christopher|url=http://ww2.jhu.edu/foundations/?p=8|titulo="Grecian Grandeurs and the Rude Wasting of Old Time": Britain, the Elgin Marbles, and Post-Revolutionary Hellenism|data=30 de outubro de 2008|website=Foundations. Volume III, Number 1|arquivourl=https://web.archive.org/web/20090513053304/http://ww2.jhu.edu/foundations/?p=8|arquivodata=13 de maio de 2009|urlmorta=dead}}</ref> Foi incorporado mais fortemente nas artes visuais, na música e na literatura; também teve um grande impacto na [[historiografia]],<ref>David Levin, ''History as Romantic Art: Bancroft, Prescott, and Parkman'' (1967)</ref> na educação,<ref>Gerald Lee Gutek, ''A history of the Western educational experience'' (1987) ch. 12 on [[Johann Heinrich Pestalozzi]]</ref> [[Escola romântica|no xadrez]], nas [[ciências sociais]] e nas [[ciências naturais]].<ref>[[Ashton Nichols]], "Roaring Alligators and Burning Tygers: Poetry and Science from William Bartram to Charles Darwin", ''Proceedings of the American Philosophical Society'' 2005 149(3): 304–15</ref> Teve um efeito significativo e complexo na política: o pensamento romântico influenciou o [[conservadorismo]], o [[liberalismo]], o [[radicalismo]] e o [[nacionalismo]].<ref>{{Citar enciclopédia|ultimo=Morrow|primeiro=John|url=https://www.cambridge.org/core/services/aop-cambridge-core/content/view/EEBC9BBCC0907F899DC10DE7A4ED87A9/9780511973581c2_p39-76_CBO.pdf/romanticism_and_political_thought_in_the_early_nineteenth_century.pdf|titulo=Romanticism and political thought in the early 19th century|publicado=[[Cambridge University Press]]|ano=2011|editor-sobrenome=Stedman Jones|editor-nome=Gareth|editor-link=Gareth Stedman Jones|series=[[The Cambridge History of Political Thought]]|local=Cambridge, United Kingdom|paginas=39–76|doi=10.1017/CHOL9780521430562|isbn=978-0-511-97358-1|editor-sobrenome2=Claeys|editor-nome2=Gregory|editor-link2=Gregory Claeys|enciclopédia=The Cambridge History of Nineteenth-Century Political Thought}}</ref><ref name="metafizika journal">{{Citar periódico |url=http://metafizikajurnali.az/storage/images/site/files/Metafizika-20/Metafizika.Vol.5%2CNo.4%2CSerial.20%2Cpp.113-128.pdf |título=Traces of Romanticism in the Creativity of Bahtiyar Vahabzade |data=2022-12-15 |acessodata=2022-10-14 |periódico=[[Metafizika (journal)|Metafizika]] |número=4 |ultimo=Guliyeva |primeiro=Gunesh |paginas=77–87 |lingua=az |issn=2616-6879 |oclc=1117709579 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20221114160047/https://metafizikajurnali.az/storage/images/site/files/Metafizika-20/Metafizika.Vol.5,No.4,Serial.20,pp.113-128.pdf |arquivodata=2022-11-14 |volume=5}}</ref> |
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O movimento enfatizou a emoção intensa como uma fonte autêntica de experiência estética. Concedeu uma nova importância às experiências de simpatia, admiração, admiração e terror, em parte ao naturalizar essas emoções como respostas ao "[[Beleza|belo]]" e ao "[[Sublime (estética)|sublime]]".<ref>{{Citar livro|título=Nature Shock: Getting Lost in America|ultimo=Coleman|primeiro=Jon T.|editora=Yale University Press|ano=2020|páginas=214|isbn=978-0-300-22714-7}}</ref><ref>{{Citar livro|título=Global Extremes: Spectacles of Wilderness Adventure, Endless Frontiers, and American Dreams|ultimo=Barnes|primeiro=Barbara A.|editora=University of California Press|ano=2006|localização=Santa Cruz|páginas=51|língua=en}}</ref> Os românticos enfatizaram a nobreza da arte popular e das práticas culturais antigas, mas também defenderam a política radical, o comportamento não convencional e a espontaneidade autêntica. Em contraste com o [[racionalismo]] e o classicismo do [[Iluminismo]], o Romantismo reviveu o [[medievalismo]] e justapôs uma concepção pastoral de um passado europeu mais "autêntico" com uma visão altamente crítica das mudanças sociais recentes, incluindo a [[urbanização]], provocadas pela [[Revolução Industrial]] . |
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Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito, o romantismo toma mais tarde a forma de um movimento, e o ''espírito romântico'' passa a designar toda uma visão de mundo centrada no [[indivíduo]]. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de [[escapismo]]. Se o século XVIII foi marcado pela objetividade, pelo iluminismo e pela [[razão]], o início do século XIX seria marcado pelo lirismo, pela [[subjetividade]], pela emoção e pelo ''eu''. |
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Muitos ideais românticos foram articulados pela primeira vez por pensadores alemães no movimento ''[[Sturm und Drang]]'', que elevou a [[intuição]] e o [[sentimentalismo]] acima do racionalismo iluminista.<ref>{{Citar livro|título=The Oxford Handbook of European Romanticism|ultimo=Hamilton|primeiro=Paul|editora=Oxford University Press|ano=2016|localização=Oxford|páginas=170|língua=en|isbn=978-0-19-969638-3}}</ref> Os acontecimentos e ideologias da [[Revolução Francesa]] também tiveram influência direta no movimento; muitos dos primeiros românticos em toda a Europa simpatizaram com os ideais e conquistas dos revolucionários franceses.<ref>{{Citar livro|título=Revolutionary Romanticism: A Drunken Boat Anthology|ultimo=Blechman|primeiro=Max|editora=City Lights Books|ano=1999|localização=San Francisco, CA|páginas=84–85|língua=en|isbn=0-87286-351-4}}</ref> O romantismo celebrou as conquistas de indivíduos "heroicos"―especialmente artistas, que começaram a ser representados como líderes culturais (um luminar romântico, [[P. B. Shelley|Percy Bysshe Shelley]], descreveu os poetas como os "legisladores não reconhecidos do mundo" em sua "Defesa da Poesia"). O romantismo também priorizou a imaginação única e individual do artista acima das restrições da forma clássica. Na segunda metade do século XIX, o [[realismo]] surgiu como uma resposta ao romantismo e foi, de certa forma, uma reação contra ele. O romantismo sofreu um declínio geral durante este período, visto que foi ofuscado por novos movimentos culturais, sociais e políticos, muitos deles hostis às ilusões e preocupações percebidas dos românticos. No entanto, teve um impacto duradouro na civilização ocidental, e muitos artistas e pensadores "românticos", "neo-românticos" e "pós-românticos" criaram as suas obras mais duradouras após o fim da Era Romântica como tal. |
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O termo ''romântico'' refere-se ao movimento estético, ou seja, à tendência idealista ou poética de alguém que carece de sentido objetivo. |
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== Etimologia e desenvolvimento conceitual == |
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O romantismo é a arte do sonho e fantasia. Valoriza as forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Opõe-se à arte equilibrada dos clássicos e baseia-se na inspiração fugaz dos momentos fortes da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na saudade, no sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.<ref>Livro Anglo Vestibulares; Português 2: Literatura I; Ano 2001</ref> |
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O conjunto de palavras com raiz "romana" nas diversas línguas europeias, como "romance" e "romanesco", tem uma história complicada. No século XVIII, as línguas europeias―nomeadamente o alemão, o inglês, o francês e o russo―utilizavam o termo "[[romance]]" no sentido de uma obra de ficção narrativa popular, como uma [[novela]].<ref name="Schellinger20142">{{Citar livro|título=Encyclopedia of the Novel|ultimo=Schellinger|primeiro=Paul|data=8 de abril de 2014|editora=Routledge|capitulo=Novel and Romance: Etymologies|isbn=978-1-135-91826-2}}</ref> Este uso derivou do termo "[[línguas românicas]]", que se refere à linguagem vernácula (ou popular) em contraste com o [[latim]] formal.<ref name="Schellinger20142" /> A maioria desses romances assumiu a forma de "[[romance de cavalaria]]", contos de aventura, devoção e honra.<ref name="Saul20092">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=vy5AAw9ODMgC&pg=PA1|título=The Cambridge Companion to German Romanticism|ultimo=Saul|primeiro=Nicholas|data=9 de julho de 2009|editora=Cambridge University Press|páginas=1–|isbn=978-0-521-84891-6}}</ref> |
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O conceito de "romântico", nas palavras em inglês ''romantick'' e em alemão ''romantisch'', ligadas assim aos romances medievais, surgiu antes do conceito de "romantismo" como uma escola literária definida; progressivamente no século XVIII, histórias de horror e amor passaram a se associar aos romances de cavalaria, formando sobre o termo uma conotação de gênero [[sentimental]], e o campo semântico do adjetivo passou a indicar aquilo que tinha características de narrativa. E no século XVII, "''Romantische''" também foi uma palavra utilizada para se referir a [[Pintura de paisagem|pinturas de paisagem]], evocando suas qualidades emotivas. Foi com a [[crítica literária]] de pensadores alemães no final do século XVIII que ganhou corpo o seu significado secundário de "crítico à civilização" ou à sociedade, ao mesmo tempo tornando-o uma categoria histórica-filosófica, em que se situava o "romântico" em contraposição ao "clássico" da [[Antiguidade]]. Enfim, passou a ser considerado um tipo distinto de [[gênero literário]] e artístico em geral.<ref name=":12">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=SDh9Mj4YTHUC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA15&hl=pt-BR|título=Nonfictional Romantic Prose: Expanding Borders|ultimo=Schmitz-Emans|primeiro=Monica|ultimo2=Nemoianu|primeiro2=Virgil|ultimo3=Gillespie|primeiro3=Gerald|data=2004|editora=John Benjamins Publishing|editor-sobrenome=Sondrup, Steven P.; Nemoianu, Virgil; Gillespie, Gerald|lingua=en|capitulo=Theories of Romanticism: The First Two Hundred Years}}</ref> |
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Considera-se que três obras declaradamente programáticas foram fundantes do romantismo no ano de 1798: O ''Pólen'' de [[Novalis]]; os ''Fragmentos'' de [[Friedrich Schlegel]] na revista [[Athenaeum (revista alemã)|''Athenaeum'']], e as ''[[Lyrical Ballads|Baladas Líricas]]'' de [[Wordsworth]] e [[Samuel Taylor Coleridge|Coleridge]].<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=b5ByCwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT336&hl=pt-BR|título=The Oxford Handbook of European Romanticism|ultimo=O'Brien|primeiro=Wm. Arctander|data=2016-01-14|editora=Oxford University Press|editor-sobrenome=Hamilton, Paul|lingua=en|capitulo=Friedrich von Hardenberg (Pseudonym Novalis)}}</ref> |
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Apesar de chamados de "[[Classicismo de Weimar|classicistas de Weimar]]", foram [[Wieland]], [[Johann Gottfried von Herder|Herder]], [[Goethe]] e [[Schiller]] que lançaram o termo ''romantisch'' em uma grande discussão literária na Alemanha. Goethe afirma que fora ele e Schiller quem inventaram a distinção entre classicismo e romantismo e,<ref name=":02">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=jDCHEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PT57&hl=pt-BR|título=An Outline of Romanticism in the West|ultimo=Isbell|primeiro=John Claiborne|data=2022-09-05|editora=Open Book Publishers|lingua=en}}</ref> apesar de suas diversas críticas contra o romantismo em vida,<ref name=":12" /> importantes obras de Goethe foram consideradas românticas ou serviram de plataforma inspiradora para o romantismo.<ref name=":02" /> |
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Inicialmente, toda poesia de uma tradição que não derivava da clássica e que era afim aos temas da cavalaria e do [[cristianismo]] era chamada de romântica, o que se encontra nos primeiros compêndios de [[história da literatura]], como os de [[Johann Gottfried Eichhorn]] (1799) e de [[Friedrich Bouterwek]] (1801-1805). Este último utilizou o termo "''altromantisch''" para composições da [[Idade Média]], e "''neuromantisch''" para autores da [[Renascença]].<ref name=":4">{{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/1768457 |título=The Concept of "Romanticism" in Literary History. I. The Term "Romantic" and Its Derivatives |data=1949 |acessodata=2023-09-09 |periódico=Comparative Literature |número=1 |ultimo=Wellek |primeiro=René |paginas=1–23 |doi=10.2307/1768457 |issn=0010-4124 |volume=1}}</ref> A distinção tipológica propriamente dita, que delimitava o romântico em contraste ao clássico, se iniciou com autores como Herder e Schiller, mas foi formulada principalmente com os irmãos Schlegel,<ref name=":12" /><ref name=":4" /> que expandiram o romantismo como uma tendência de espírito para além de somente uma categoria histórica.<ref name=":0">Ferber, 6–7</ref> |
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Friedrich Schlegel foi o mais influente teórico da arte romântica, avançando uma agenda literária que buscava dar ao romantismo um caráter universal e progressivo.<ref name=":12" /> Com o termo "poesia romântica", é provável que se referisse a todas as artes, não apenas as literárias, e também há evidência de que nisso incluiria a música.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=Rvw7EAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA168&hl=pt-BR|título=The Cambridge Companion to Music and Romanticism|ultimo=Mcauley|primeiro=Tomás|data=2021-08-26|editora=Cambridge University Press|editor-sobrenome=Taylor, Benedict|lingua=en|capitulo=Music in Early German Romantic Philosophy}}</ref> Ele escreveu no fragmento 116 da ''Athenaeum'':<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=nCBUCwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PR10&hl=pt-BR|título=Afterlives of Romantic Intermediality: The Intersection of Visual, Aural, and Verbal Frontiers|ultimo=Eilittä H.|primeiro=Leena|data=2015-12-24|editora=Lexington Books|editor-sobrenome=Eilittä H., Leena; Riccio-Berry, Catherine|lingua=en|capitulo=Introduction}}</ref><blockquote>"A poesia romântica é uma poesia progressiva e universal. Seu objetivo não é apenas reunir todas as espécies separadas de poesia e colocar a poesia em contato com a filosofia e a retórica. Ela tenta e deve misturar e fundir poesia e prosa, inspiração e crítica, a poesia da arte e a poesia da natureza (...) Outras poesias estão acabadas e já podem ser plenamente analisadas. A poesia romântica ainda está em estado de [[devir]], essa é, de fato, a sua verdadeira essência: que deva estar sempre se tornando e nunca se encontra perfeita. Não pode ser esgotada por nenhuma teoria e apenas uma crítica divinatória ousaria tentar caracterizar seu ideal. Só ela é infinita, assim como só ela é livre."</blockquote>Em 1797, havia escrito ao seu irmão August: "Mal posso enviar-lhe a minha explicação da palavra romântico (''romantisch''), porque ocuparia―125 páginas!".<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ZDCrBgAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA47&hl=pt-BR|título=Edinburgh Critical History of Nineteenth-Century Philosophy|ultimo=Norman|primeiro=Judith|ultimo2=Welchman|primeiro2=Alistair|data=2011-06-06|editora=Edinburgh University Press|editor-sobrenome=Stone, Alison|lingua=en|capitulo=The Question of Romanticism}}</ref><ref name=":02" /> Em sua obra pré-romântica, Schlegel já criticava o caráter de [[desencantamento do mundo]] que adveio com a [[racionalidade]] da cultura moderna, porém depois reconsiderou que essa racionalidade possibilitava a criação de uma nova literatura e de um olhar que considerasse o mistério, a [[magia]] e o encantamento da natureza. As características modernas como a fragmentação e o estar inacabado evocavam, segundo ele, um anseio constante por uma infinitude; para ele, a literatura romântica tem como marca principal a [[ironia]], que, sinuosa ao provocar tensões e oscilações, aponta ao "senso de infinito" e ao desconhecido. Isso leva a poesia romântica a ser "fiel aos fatos e verdadeiro no reino do visível e cheia de significado secreto e relação com o invisível’". Em um fragmento, afirma que o texto romântico deve "tentar (...) encantar a mente".<ref>{{Citar periódico |url=https://www.researchgate.net/publication/249001612_Friedrich_Schlegel_Romanticism_and_the_Re-enchantment_of_Nature |título=Friedrich Schlegel, Romanticism, and the Re‐enchantment of Nature |data=2005-02 |periódico=Inquiry |número=1 |ultimo=Stone |primeiro=Alison |paginas=3–25 |doi=10.1080/00201740510015338 |issn=0020-174X |volume=48}}</ref> Friedrich escreveu depois em seu ensaio de 1800 ''Gespräch über die Poesie'' ("Diálogo sobre Poesia"): "Procuro e encontro o romântico entre os modernos mais antigos, em Shakespeare, em [[Cervantes]], na poesia italiana, naquela era de cavalaria, amor e fábula, do qual deriva o fenômeno e a própria palavra."<ref name=":0" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=AGgyAQAAMAAJ&pg=PA122|título=Athenaeum|editora=Bey F. Vieweg dem Älteren|ano=1800}}</ref> |
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[[August Schlegel]] tentou demonstrar que havia um tipo caracteristicamente moderno de poesia que não era influenciada pela Antiguidade. Ele descrevia a poesia romântica como universal, imutável e imortal, e que uma característica definidora era seu apelo ao cristianismo ao invés de uma orientação à [[mitologia clássica]]. August foi nisso muito influente e realizou palestras públicas entre 1798 e 1808, afirmando a existência de um discurso ou cultura romântica. Seu conceito de "moderno" abrangia desde autores da Idade Média como [[Dante]] e [[Petrarca]], até aos mais modernos em sentido estrito, incluindo [[Shakespeare]], [[John Milton|Milton]], [[Rousseau]] e Goethe. O romantismo foi delimitado por ele com uma relação de contraste, e, por defender o potencial coesivo do cristianismo, acabou por infundir um teor psicológico e espiritual à estética romântica, de anseio pelo infinito.<ref name=":12" /> |
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[[Ficheiro:Anne-Louis_Girodet-Trioson_001.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Anne-Louis Girodet|Anne-Louis Girodet de Roussy-Trioson]], ''[[Ossian]] recebendo os fantasmas dos heróis franceses'' (1800–02). Musée national de Malmaison et Bois-Préau, [[Castelo de Malmaison|Château de Malmaison]]]] |
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Mas houve outras influências não clássicas formadoras do romantismo para além do foco sobre a Idade Média e o cristianismo, e uma grande contribuição e característica definidora do romantismo a partir desses expoentes foi também a divulgação do [[exótico]]. Isso adveio com as visões [[Historicismo|historicistas]] dos Schlegel, Herder e Goethe, os quais buscaram a literatura e tradições nacionais de outros países que não se originaram de fontes clássicas gregas. Assim, valorizou-se o [[folclore]] de [[Baladas (poemas)|baladas]], [[Trovadorismo|poetas provençais]], sagas mitológicas como [[Canção dos Nibelungos|a dos Nibelungos]] e a ''[[Edda]]'' e textos em vernáculo romântico, que influenciaram todo o corpo de produções românticas.<ref name=":5">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=DXswCwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA634&hl=pt-BR|título=The Oxford Handbook of European Romanticism|ultimo=Dainotto|primeiro=Roberto|data=2016|editora=Oxford University Press|editor-sobrenome=Hamilton, Paul|lingua=en|capitulo=Geographies of Historical Discourse}}</ref><ref>{{Citar periódico |url=http://dx.doi.org/10.14220/jsor.2019.8.1.13 |título=Bards, Ballads, and Barbarians in Jena. Germanic Medievalism in the Early Works of Friedrich Schlegel |data=2019-12-09 |periódico=Romantik. Journal for the Study of Romanticisms |número=1 |ultimo=Møller |primeiro=Andreas Hjort |paginas=13–34 |doi=10.14220/jsor.2019.8.1.13 |issn=2245-599X |volume=8}}</ref> Na fase do ''[[Sturm und Drang]]'' de Goethe, por exemplo, o [[Os Sofrimentos do Jovem Werther|wertherismo]] propagou uma onda de ossianismo na Europa, em que as narrativas de [[Ossian]] por [[James Macpherson]] serviam de contrapeso a [[Homero]]; ao mesmo tempo, o wertherismo promoveu ondas de Rousseau e Shakespeare.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=G8aokatYPsQC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA26&hl=pt-BR|título=Romantic Prose Fiction|ultimo=Dieterle|primeiro=Bernard|data=2008|editora=John Benjamins Publishing|lingua=en|capitulo=Wertherism and the Romantic ''Weltanschauung''}}</ref> O romantismo teve papel importante no reconhecimento do valor de produções do [[Oriente]], como em traduções de obras [[Sânscrito|sânscritas]].<ref name=":5" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=jDCHEAAAQBAJ&pg=PT32|título=An Outline of Romanticism in the West|ultimo=Isbell|primeiro=John Claiborne|data=2022-09-05|editora=Open Book Publishers|página=32|lingua=en}}</ref> |
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A dicotomia de clássico-romântico foi posteriormente popularizada pela [[Madame de Staël]] na década de 1810 e se difundiu pela França, Itália, Espanha, Portugal, Polônia, Rússia e Inglaterra. A "poesia da perfeição" clássica foi oposta ao estilo fragmentário, progressivo e ilimitado sem uma conclusão polida. Apoiadores como [[Stendhal]], na década de 1820, defenderiam o romantismo como presente em todos os tempos: um eterno impulso renovador e imaginativo em contraste a um eterno tradicionalismo.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=zwE2DwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA168&hl=pt-BR|título=Handbook of British Romanticism|ultimo=Lessenich|primeiro=Rolf|data=2017-09-11|editora=Walter de Gruyter GmbH & Co KG|editor-sobrenome=Haekel, Ralf|lingua=en|capitulo=The European Context}}</ref> |
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No início do século XIX, seus autores não se chamavam de românticos; eles frequentemente referiam a si mesmos como uma "escola" diferente, ou "nova escola".<ref name=":32">{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=MJDqJ6K2UgsC&pg=PA30|título=German Romantic Literary Theory|ultimo=Behler|primeiro=Ernst|data=1993-04-22|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref> Friedrich Schlegel e Novalis faziam menção à sua visão de mundo usando o verbo "romantizar" (em alemão: ''romantisieren''),<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=WzMPEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA35&hl=pt-BR|título=The Palgrave Handbook of German Romantic Philosophy|ultimo=Kneller|primeiro=Jane|data=2020-12-15|editora=Springer Nature|editor-sobrenome=Brusslan, Elizabeth Millán|lingua=en|capitulo=The Poem of the Understanding: Kant, Novalis, and Early German Romantic Philosophy}}</ref><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=-_JQEAAAQBAJ&pg=PA10|título=The Relevance of Romanticism: Essays on German Romantic Philosophy|ultimo=Nassar|primeiro=Dalia|data=2014|editora=Oxford University Press|página=10, nota 9|lingua=en|capitulo=Introduction}}</ref> cuja criação geralmente é creditada a Novalis.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=N4ZmAAAAMAAJ&newbks=0&printsec=frontcover&dq=%22romantisieren%22&hl=pt-BR|título=Historical Reflections: Réflexions Historiques|data=1992|editora=History Department, University of Waterloo|lingua=en}}</ref> Ele escreveu num fragmento em 1800:<ref name=":22">{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=6VN-DwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA199|título=Romanticism and the Re-Invention of Modern Religion: The Reconciliation of German Idealism and Platonic Realism|ultimo=Hampton|primeiro=Alexander J. B.|data=2019-01-17|editora=Cambridge University Press|lingua=en}}</ref><blockquote>"O mundo deve ser romantizado. Assim, pode-se encontrar o significado original novamente. Romantizar nada mais é do que uma exponenciação qualitativa. Nessa operação, o eu inferior é identificado com um eu superior. Assim como nós mesmos somos, como tal, uma série de potências qualitativas. Esta operação é ainda totalmente desconhecida. Ao dar ao comum um significado superior, ao ordinário um olhar misterioso, ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito a aparência do infinito, assim eu o romantizo―A operação para o superior, desconhecido, místico, infinito é invertida―isto será logaritmizado por meio dessa conexão―Ela assume uma expressão familiar. Filosofia romântica. ''Lingua romana''. Alternando elevação e rebaixamento."</blockquote>Mas Novalis já fizera uso também em 1789 da forma substantiva ''die Romantik'' para uma ciência própria desse espírito romântico, tal qual outras ciências como a física. Esse substantivo foi utilizado por [[Jean Paul Richter]] para caracterizar alguns escritores. Em 1808, [[Johann Heinrich Voss|Voss]] e [[Jens Baggesen|Baggesen]] chamariam outros escritores de ''Romantiker'' com tom de insulto, enquanto [[Clemens Brentano|Brentano]] e [[Achim von Arnim|Arnim]] assumiriam vocalmente esse título.<ref name=":02" /> [[Ludwig Tieck]], em carta de 1813, ressente ser chamado de "chefe da assim chamada Escola Romântica".<ref name=":02" /> |
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[[Ficheiro:William_Blake_-_Albion_Rose_-_from_A_Large_Book_of_Designs_1793-6.jpg|miniaturadaimagem|[[William Blake]], ''[[Albion (William Blake)|Albion]] Ergueu-se'', 1794–95]] |
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O historiador literário Bouterwek menciona em 1819: "a nova escola que, por falta de outro nome, pode ser chamada de romântica", talvez o primeiro reconhecimento de um especialista que faz menção explícita dos "''Romantiker''" como um grupo literário definido à parte;<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=TW05AAAAIAAJ&oi=fnd&pg=PA1|título=A History of Modern Criticism 1750-1950: Volume 2, The Romantic Age|ultimo=Wellek|primeiro=René|data=1981-08-13|editora=CUP Archive|lingua=en}}</ref> pouco depois, um [[crítico de arte]] francês também denominaria a nova escola de "Escola Romântica" em referência a pintores. O termo ganhou aderência por volta dessa época em diversos países para se referir também a outros artistas como músicos, além de filósofos e cientistas.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=L0haDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PP17&hl=pt-BR|título=Romanticism|ultimo=Honour|primeiro=Hugh|data=2018-05-04|editora=Routledge|lingua=en}}</ref> Mas em direção à metade do século XIX, ganhou conotação negativa, com o romantismo sendo considerado por vezes [[reacionário]]. Passou a ser objeto de diversas sátiras, como por [[Heinrich Heine]], que escreveu em 1836 o livro ''A Escola Romântica''.<ref name=":32" /> Em 1824, a [[Academia Francesa]] tomara a medida totalmente ineficaz de emitir um decreto condenando o romantismo na literatura.<ref>Christiansen, 242.</ref> Diferentes tendências que interpretavam o significado do romantismo tanto de forma positiva quanto negativa continuariam no século XIX, até ser universalmente reconhecido em seu valor histórico e conceitual como um campo estético e filosófico por estudos acadêmicos a partir do início do século XX.<ref name=":12" /> |
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O início do [[romantismo inglês]] é frequentemente demarcado com o prefácio às ''[[Lyrical Ballads|Baladas Líricas]]'' escrito em 1800 por [[Wordsworth]], mas não se pode negar as contribuições anteriores de [[William Blake]].<ref name=":12" /> Em 1811, [[Samuel Taylor Coleridge|Coleridge]] deu palestras que popularizaram a distinção clássico-romântico de Schlegel.<ref name=":4" /> Já o início do [[romantismo francês]] é mais dificilmente identificado de forma consensual, muitos admitindo a data de 1830 com o escândalo em torno do ''Hernani'' de [[Victor Hugo]], devido ao seu caráter de manifesto.<ref name=":12" /> |
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== Contexto histórico == |
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Alguns autores neoclássicos já nutriam um sentimento mais tarde dito romântico antes de seu nascimento de fato, sendo assim chamados ''pré-românticos''. Nesta classificação encaixam-se [[Francisco Goya]] e [[Manuel Maria Barbosa du Bocage|Bocage]]. |
Alguns autores neoclássicos já nutriam um sentimento mais tarde dito romântico antes de seu nascimento de fato, sendo assim chamados ''pré-românticos''. Nesta classificação encaixam-se [[Francisco Goya]] e [[Manuel Maria Barbosa du Bocage|Bocage]]. |
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O romantismo surge inicialmente naquela que futuramente seria a [[Alemanha]] e na [[Inglaterra]]. Na Alemanha, o romantismo, teria, inclusive, fundamental importância na unificação germânica com o movimento ''[[Sturm und Drang]]''. |
O romantismo surge inicialmente naquela que futuramente seria a [[Alemanha]] e na [[Inglaterra]]. Na Alemanha, o romantismo, teria, inclusive, fundamental importância na unificação germânica com o movimento ''[[Sturm und Drang]]''. Depois, foi avançado pelo [[Círculo de Jena|romantismo inicial de Jena]] (''Frühromantik''). |
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O romantismo viria a se manifestar de forma bastante variada nas diferentes [[arte]]s e marcaria, sobretudo, a [[literatura]] e a [[música]] (embora ele só venha a se manifestar realmente aqui mais tarde do que em outras artes). À medida que a escola foi sendo explorada, foram surgindo críticos à sua demasiada idealização da realidade. Destes críticos surgiu o movimento que daria forma ao [[realismo]]. |
O romantismo viria a se manifestar de forma bastante variada nas diferentes [[arte]]s e marcaria, sobretudo, a [[literatura]] e a [[música]] (embora ele só venha a se manifestar realmente aqui mais tarde do que em outras artes). À medida que a escola foi sendo explorada, foram surgindo críticos à sua demasiada idealização da realidade. Destes críticos surgiu o movimento que daria forma ao [[realismo]]. |
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Na [[ópera]], os compositores mais notáveis foram [[Verdi]] e [[Wagner]]. O primeiro procurou escrever óperas, em sua maioria, com conteúdo épico ou patriótico — entre as quais as óperas ''[[Nabucco]]'', ''[[Les vêpres siciliennes]]'', ''[[I Lombardi nella Prima Crociata]]'' — embora tenha escrito também algumas óperas baseadas em histórias de amor como ''[[La Traviata]]''; O segundo enfocava histórias mitológicas germânicas, caso da tetralogia do ''[[Anel do Nibelungo]]'' e outras óperas como ''[[Tristão e Isolda]]'' e ''[[O Holandês Voador]]'', ou sagas medievais como ''[[Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg|Tannhäuser]]'', ''[[Lohengrin (ópera)|Lohengrin]]'' e ''[[Parsifal]]''. Mais tarde na [[Itália]] o romantismo na ópera se desenvolveu ainda mais com [[Puccini]]. |
Na [[ópera]], os compositores mais notáveis foram [[Verdi]] e [[Wagner]]. O primeiro procurou escrever óperas, em sua maioria, com conteúdo épico ou patriótico — entre as quais as óperas ''[[Nabucco]]'', ''[[Les vêpres siciliennes]]'', ''[[I Lombardi nella Prima Crociata]]'' — embora tenha escrito também algumas óperas baseadas em histórias de amor como ''[[La Traviata]]''; O segundo enfocava histórias mitológicas germânicas, caso da tetralogia do ''[[Anel do Nibelungo]]'' e outras óperas como ''[[Tristão e Isolda]]'' e ''[[O Holandês Voador]]'', ou sagas medievais como ''[[Tannhäuser und der Sängerkrieg aus Wartburg|Tannhäuser]]'', ''[[Lohengrin (ópera)|Lohengrin]]'' e ''[[Parsifal]]''. Mais tarde na [[Itália]] o romantismo na ópera se desenvolveu ainda mais com [[Puccini]]. |
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== Romantismo além das artes == |
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=== Ciências === |
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O movimento romântico afetou a maioria dos aspectos da vida intelectual, e o [[Romantismo na ciência|romantismo e a ciência]] tiveram uma ligação poderosa, especialmente no período 1800-1840. Muitos cientistas foram influenciados por versões da ''[[Naturphilosophie]]'' de [[Johann Gottlieb Fichte]], [[Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling]] e [[Georg Wilhelm Friedrich Hegel]] e outros, e sem abandonar o [[empirismo]] buscaram no seu trabalho descobrir o que tendiam a acreditar ser uma Natureza unificada e orgânica. O cientista inglês Sir [[Humphry Davy]], um proeminente pensador romântico, disse que compreender a natureza exigia "uma atitude de admiração, amor e adoração, [...] uma resposta pessoal".<ref>Cunningham, A., and Jardine, N., ed. ''Romanticism and the Sciences'', p. 15.</ref> Ele acreditava que o conhecimento só era alcançável por quem realmente apreciava e respeitava a natureza. O autoentendimento foi um aspecto importante do romantismo. Tinha menos a ver com provar que o homem era capaz de compreender a natureza (através do seu intelecto em desenvolvimento) e, portanto, de controlá-la, e mais a ver com o apelo emocional de se conectar com a natureza e entendê-la através de uma coexistência harmoniosa.<ref>Bossi, M., and Poggi, S., ed. ''Romanticism in Science: Science in Europe, 1790–1840'', p.xiv; Cunningham, A., and Jardine, N., ed. ''Romanticism and the Sciences'', p. 2.</ref> |
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=== Historiografia === |
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A [[Historiografia|escrita da história]] foi fortemente, e muitos diriam prejudicialmente, influenciada pelo romantismo.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=jJVoi3PIejwC&pg=PR9|título=A Textbook of Historiography, 500 B.C. to A.D. 2000|ultimo=E. Sreedharan|editora=Orient Blackswan|ano=2004|páginas=128–68|isbn=978-81-250-2657-0}}</ref> Na Inglaterra, [[Thomas Carlyle]] foi um ensaísta altamente influente que se tornou historiador; ele inventou e exemplificou a frase "adoração de heróis",<ref>Em suas palestras publicadas ''On Heroes, Hero-Worship, and The Heroic in History'' de 1841</ref> esbanjando elogios em grande parte acríticos a líderes fortes como [[Oliver Cromwell]], [[Frederico II da Prússia|Frederico, o Grande]] e [[Napoleão Bonaparte|Napoleão]]. O [[nacionalismo romântico]] teve um efeito amplamente negativo na escrita da história no século XIX, pois cada nação tendia a [[Historiografia nacionalista|produzir a sua própria versão da história]], e a atitude crítica, até mesmo o cinismo, dos historiadores anteriores foi frequentemente substituída por uma tendência para criar histórias românticas. com heróis e vilões claramente distintos.<ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ovaIAgAAQBAJ|título=French Historians and Romanticism: Thierry, Guizot, the Saint-Simonians, Quinet, Michelet|ultimo=Ceri Crossley|editora=Routledge|ano=2002|isbn=978-1-134-97668-3}}</ref> |
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=== Teologia === |
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Para isolar a teologia do [[cientificismo]] ou do [[reducionismo]] na ciência, os teólogos alemães pós-iluministas do século XIX desenvolveram uma concepção modernista ou assim chamada [[Cristianismo liberal|liberal do cristianismo]], liderada por [[Friedrich Schleiermacher]] e [[Albrecht Ritschl]]. Eles adotaram a abordagem romântica de enraizar a religião no mundo interior do espírito humano, de modo que é o sentimento ou a sensibilidade de uma pessoa sobre questões espirituais que compreende a religião.<ref>Philip Clayton and Zachary Simpson, eds. ''The Oxford Handbook of Religion and Science'' (2006) p. 161</ref> |
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== Romantismo em Portugal == |
== Romantismo em Portugal == |
Revisão das 01h47min de 10 de setembro de 2023
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b9/Caspar_David_Friedrich_-_Wanderer_above_the_sea_of_fog.jpg/220px-Caspar_David_Friedrich_-_Wanderer_above_the_sea_of_fog.jpg)
O romantismo (também conhecido como movimento romântico ou definidor de uma era romântica) é um movimento artístico e intelectual que se originou na Europa no final do século XVIII. Na maior parte da Europa, atingiu o seu auge entre aproximadamente 1800 e 1850. O romantismo caracterizou-se pela ênfase na emoção e individualismo, bem como na glorificação do passado e da natureza, preferindo o medieval ao clássico. Ele foi em parte uma reação à Revolução Industrial[1] e à ideologia predominante da Era do Iluminismo, especialmente a racionalização científica da Natureza.[2] Foi incorporado mais fortemente nas artes visuais, na música e na literatura; também teve um grande impacto na historiografia,[3] na educação,[4] no xadrez, nas ciências sociais e nas ciências naturais.[5] Teve um efeito significativo e complexo na política: o pensamento romântico influenciou o conservadorismo, o liberalismo, o radicalismo e o nacionalismo.[6][7]
O movimento enfatizou a emoção intensa como uma fonte autêntica de experiência estética. Concedeu uma nova importância às experiências de simpatia, admiração, admiração e terror, em parte ao naturalizar essas emoções como respostas ao "belo" e ao "sublime".[8][9] Os românticos enfatizaram a nobreza da arte popular e das práticas culturais antigas, mas também defenderam a política radical, o comportamento não convencional e a espontaneidade autêntica. Em contraste com o racionalismo e o classicismo do Iluminismo, o Romantismo reviveu o medievalismo e justapôs uma concepção pastoral de um passado europeu mais "autêntico" com uma visão altamente crítica das mudanças sociais recentes, incluindo a urbanização, provocadas pela Revolução Industrial .
Muitos ideais românticos foram articulados pela primeira vez por pensadores alemães no movimento Sturm und Drang, que elevou a intuição e o sentimentalismo acima do racionalismo iluminista.[10] Os acontecimentos e ideologias da Revolução Francesa também tiveram influência direta no movimento; muitos dos primeiros românticos em toda a Europa simpatizaram com os ideais e conquistas dos revolucionários franceses.[11] O romantismo celebrou as conquistas de indivíduos "heroicos"―especialmente artistas, que começaram a ser representados como líderes culturais (um luminar romântico, Percy Bysshe Shelley, descreveu os poetas como os "legisladores não reconhecidos do mundo" em sua "Defesa da Poesia"). O romantismo também priorizou a imaginação única e individual do artista acima das restrições da forma clássica. Na segunda metade do século XIX, o realismo surgiu como uma resposta ao romantismo e foi, de certa forma, uma reação contra ele. O romantismo sofreu um declínio geral durante este período, visto que foi ofuscado por novos movimentos culturais, sociais e políticos, muitos deles hostis às ilusões e preocupações percebidas dos românticos. No entanto, teve um impacto duradouro na civilização ocidental, e muitos artistas e pensadores "românticos", "neo-românticos" e "pós-românticos" criaram as suas obras mais duradouras após o fim da Era Romântica como tal.
Etimologia e desenvolvimento conceitual
O conjunto de palavras com raiz "romana" nas diversas línguas europeias, como "romance" e "romanesco", tem uma história complicada. No século XVIII, as línguas europeias―nomeadamente o alemão, o inglês, o francês e o russo―utilizavam o termo "romance" no sentido de uma obra de ficção narrativa popular, como uma novela.[12] Este uso derivou do termo "línguas românicas", que se refere à linguagem vernácula (ou popular) em contraste com o latim formal.[12] A maioria desses romances assumiu a forma de "romance de cavalaria", contos de aventura, devoção e honra.[13]
O conceito de "romântico", nas palavras em inglês romantick e em alemão romantisch, ligadas assim aos romances medievais, surgiu antes do conceito de "romantismo" como uma escola literária definida; progressivamente no século XVIII, histórias de horror e amor passaram a se associar aos romances de cavalaria, formando sobre o termo uma conotação de gênero sentimental, e o campo semântico do adjetivo passou a indicar aquilo que tinha características de narrativa. E no século XVII, "Romantische" também foi uma palavra utilizada para se referir a pinturas de paisagem, evocando suas qualidades emotivas. Foi com a crítica literária de pensadores alemães no final do século XVIII que ganhou corpo o seu significado secundário de "crítico à civilização" ou à sociedade, ao mesmo tempo tornando-o uma categoria histórica-filosófica, em que se situava o "romântico" em contraposição ao "clássico" da Antiguidade. Enfim, passou a ser considerado um tipo distinto de gênero literário e artístico em geral.[14]
Considera-se que três obras declaradamente programáticas foram fundantes do romantismo no ano de 1798: O Pólen de Novalis; os Fragmentos de Friedrich Schlegel na revista Athenaeum, e as Baladas Líricas de Wordsworth e Coleridge.[15]
Apesar de chamados de "classicistas de Weimar", foram Wieland, Herder, Goethe e Schiller que lançaram o termo romantisch em uma grande discussão literária na Alemanha. Goethe afirma que fora ele e Schiller quem inventaram a distinção entre classicismo e romantismo e,[16] apesar de suas diversas críticas contra o romantismo em vida,[14] importantes obras de Goethe foram consideradas românticas ou serviram de plataforma inspiradora para o romantismo.[16]
Inicialmente, toda poesia de uma tradição que não derivava da clássica e que era afim aos temas da cavalaria e do cristianismo era chamada de romântica, o que se encontra nos primeiros compêndios de história da literatura, como os de Johann Gottfried Eichhorn (1799) e de Friedrich Bouterwek (1801-1805). Este último utilizou o termo "altromantisch" para composições da Idade Média, e "neuromantisch" para autores da Renascença.[17] A distinção tipológica propriamente dita, que delimitava o romântico em contraste ao clássico, se iniciou com autores como Herder e Schiller, mas foi formulada principalmente com os irmãos Schlegel,[14][17] que expandiram o romantismo como uma tendência de espírito para além de somente uma categoria histórica.[18]
Friedrich Schlegel foi o mais influente teórico da arte romântica, avançando uma agenda literária que buscava dar ao romantismo um caráter universal e progressivo.[14] Com o termo "poesia romântica", é provável que se referisse a todas as artes, não apenas as literárias, e também há evidência de que nisso incluiria a música.[19] Ele escreveu no fragmento 116 da Athenaeum:[20]
"A poesia romântica é uma poesia progressiva e universal. Seu objetivo não é apenas reunir todas as espécies separadas de poesia e colocar a poesia em contato com a filosofia e a retórica. Ela tenta e deve misturar e fundir poesia e prosa, inspiração e crítica, a poesia da arte e a poesia da natureza (...) Outras poesias estão acabadas e já podem ser plenamente analisadas. A poesia romântica ainda está em estado de devir, essa é, de fato, a sua verdadeira essência: que deva estar sempre se tornando e nunca se encontra perfeita. Não pode ser esgotada por nenhuma teoria e apenas uma crítica divinatória ousaria tentar caracterizar seu ideal. Só ela é infinita, assim como só ela é livre."
Em 1797, havia escrito ao seu irmão August: "Mal posso enviar-lhe a minha explicação da palavra romântico (romantisch), porque ocuparia―125 páginas!".[21][16] Em sua obra pré-romântica, Schlegel já criticava o caráter de desencantamento do mundo que adveio com a racionalidade da cultura moderna, porém depois reconsiderou que essa racionalidade possibilitava a criação de uma nova literatura e de um olhar que considerasse o mistério, a magia e o encantamento da natureza. As características modernas como a fragmentação e o estar inacabado evocavam, segundo ele, um anseio constante por uma infinitude; para ele, a literatura romântica tem como marca principal a ironia, que, sinuosa ao provocar tensões e oscilações, aponta ao "senso de infinito" e ao desconhecido. Isso leva a poesia romântica a ser "fiel aos fatos e verdadeiro no reino do visível e cheia de significado secreto e relação com o invisível’". Em um fragmento, afirma que o texto romântico deve "tentar (...) encantar a mente".[22] Friedrich escreveu depois em seu ensaio de 1800 Gespräch über die Poesie ("Diálogo sobre Poesia"): "Procuro e encontro o romântico entre os modernos mais antigos, em Shakespeare, em Cervantes, na poesia italiana, naquela era de cavalaria, amor e fábula, do qual deriva o fenômeno e a própria palavra."[18][23]
August Schlegel tentou demonstrar que havia um tipo caracteristicamente moderno de poesia que não era influenciada pela Antiguidade. Ele descrevia a poesia romântica como universal, imutável e imortal, e que uma característica definidora era seu apelo ao cristianismo ao invés de uma orientação à mitologia clássica. August foi nisso muito influente e realizou palestras públicas entre 1798 e 1808, afirmando a existência de um discurso ou cultura romântica. Seu conceito de "moderno" abrangia desde autores da Idade Média como Dante e Petrarca, até aos mais modernos em sentido estrito, incluindo Shakespeare, Milton, Rousseau e Goethe. O romantismo foi delimitado por ele com uma relação de contraste, e, por defender o potencial coesivo do cristianismo, acabou por infundir um teor psicológico e espiritual à estética romântica, de anseio pelo infinito.[14]
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fb/Anne-Louis_Girodet-Trioson_001.jpg/220px-Anne-Louis_Girodet-Trioson_001.jpg)
Mas houve outras influências não clássicas formadoras do romantismo para além do foco sobre a Idade Média e o cristianismo, e uma grande contribuição e característica definidora do romantismo a partir desses expoentes foi também a divulgação do exótico. Isso adveio com as visões historicistas dos Schlegel, Herder e Goethe, os quais buscaram a literatura e tradições nacionais de outros países que não se originaram de fontes clássicas gregas. Assim, valorizou-se o folclore de baladas, poetas provençais, sagas mitológicas como a dos Nibelungos e a Edda e textos em vernáculo romântico, que influenciaram todo o corpo de produções românticas.[24][25] Na fase do Sturm und Drang de Goethe, por exemplo, o wertherismo propagou uma onda de ossianismo na Europa, em que as narrativas de Ossian por James Macpherson serviam de contrapeso a Homero; ao mesmo tempo, o wertherismo promoveu ondas de Rousseau e Shakespeare.[26] O romantismo teve papel importante no reconhecimento do valor de produções do Oriente, como em traduções de obras sânscritas.[24][27]
A dicotomia de clássico-romântico foi posteriormente popularizada pela Madame de Staël na década de 1810 e se difundiu pela França, Itália, Espanha, Portugal, Polônia, Rússia e Inglaterra. A "poesia da perfeição" clássica foi oposta ao estilo fragmentário, progressivo e ilimitado sem uma conclusão polida. Apoiadores como Stendhal, na década de 1820, defenderiam o romantismo como presente em todos os tempos: um eterno impulso renovador e imaginativo em contraste a um eterno tradicionalismo.[28]
No início do século XIX, seus autores não se chamavam de românticos; eles frequentemente referiam a si mesmos como uma "escola" diferente, ou "nova escola".[29] Friedrich Schlegel e Novalis faziam menção à sua visão de mundo usando o verbo "romantizar" (em alemão: romantisieren),[30][31] cuja criação geralmente é creditada a Novalis.[32] Ele escreveu num fragmento em 1800:[33]
"O mundo deve ser romantizado. Assim, pode-se encontrar o significado original novamente. Romantizar nada mais é do que uma exponenciação qualitativa. Nessa operação, o eu inferior é identificado com um eu superior. Assim como nós mesmos somos, como tal, uma série de potências qualitativas. Esta operação é ainda totalmente desconhecida. Ao dar ao comum um significado superior, ao ordinário um olhar misterioso, ao conhecido a dignidade do desconhecido, ao finito a aparência do infinito, assim eu o romantizo―A operação para o superior, desconhecido, místico, infinito é invertida―isto será logaritmizado por meio dessa conexão―Ela assume uma expressão familiar. Filosofia romântica. Lingua romana. Alternando elevação e rebaixamento."
Mas Novalis já fizera uso também em 1789 da forma substantiva die Romantik para uma ciência própria desse espírito romântico, tal qual outras ciências como a física. Esse substantivo foi utilizado por Jean Paul Richter para caracterizar alguns escritores. Em 1808, Voss e Baggesen chamariam outros escritores de Romantiker com tom de insulto, enquanto Brentano e Arnim assumiriam vocalmente esse título.[16] Ludwig Tieck, em carta de 1813, ressente ser chamado de "chefe da assim chamada Escola Romântica".[16]
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/47/William_Blake_-_Albion_Rose_-_from_A_Large_Book_of_Designs_1793-6.jpg/220px-William_Blake_-_Albion_Rose_-_from_A_Large_Book_of_Designs_1793-6.jpg)
O historiador literário Bouterwek menciona em 1819: "a nova escola que, por falta de outro nome, pode ser chamada de romântica", talvez o primeiro reconhecimento de um especialista que faz menção explícita dos "Romantiker" como um grupo literário definido à parte;[34] pouco depois, um crítico de arte francês também denominaria a nova escola de "Escola Romântica" em referência a pintores. O termo ganhou aderência por volta dessa época em diversos países para se referir também a outros artistas como músicos, além de filósofos e cientistas.[35] Mas em direção à metade do século XIX, ganhou conotação negativa, com o romantismo sendo considerado por vezes reacionário. Passou a ser objeto de diversas sátiras, como por Heinrich Heine, que escreveu em 1836 o livro A Escola Romântica.[29] Em 1824, a Academia Francesa tomara a medida totalmente ineficaz de emitir um decreto condenando o romantismo na literatura.[36] Diferentes tendências que interpretavam o significado do romantismo tanto de forma positiva quanto negativa continuariam no século XIX, até ser universalmente reconhecido em seu valor histórico e conceitual como um campo estético e filosófico por estudos acadêmicos a partir do início do século XX.[14]
O início do romantismo inglês é frequentemente demarcado com o prefácio às Baladas Líricas escrito em 1800 por Wordsworth, mas não se pode negar as contribuições anteriores de William Blake.[14] Em 1811, Coleridge deu palestras que popularizaram a distinção clássico-romântico de Schlegel.[17] Já o início do romantismo francês é mais dificilmente identificado de forma consensual, muitos admitindo a data de 1830 com o escândalo em torno do Hernani de Victor Hugo, devido ao seu caráter de manifesto.[14]
Contexto histórico
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/90/Wappers_belgian_revolution.jpg/260px-Wappers_belgian_revolution.jpg)
O culto à natureza e à imaginação já havia começado com os escoceses no século XIII, quando surgiram as primeiras histórias de cavaleiros e donzelas, em verso. Nessa época, as narrativas eram chamadas de romance, palavra que deriva do advérbio latino romanice,[nota 1] que significa "na língua de Roma".[37]
Algumas características típicas do romantismo já podem ser rastreadas nas obras de Isabella di Morra, que se separou da poesia amorosa petrarquista do século XVI, afligida pela solidão a que foi forçada e que a acompanhará até sua morte trágica.[38]
A origem do que viria a ser conhecido como "romantismo", no entanto, fora plantada no século XVII, quando o "espírito clássico" começaria a ser contestado na Grã-Bretanha.[nota 2]
O romantismo surgiu na Europa em uma época em que o ambiente intelectual era de grande rebeldia. Na política, caíam sistemas de governo despóticos e surgia o liberalismo político (não confundir com o liberalismo econômico do século XX). No campo social imperava o inconformismo. No campo artístico, o repúdio às regras. A Revolução Francesa é o clímax desse século de oposição.
Alguns autores neoclássicos já nutriam um sentimento mais tarde dito romântico antes de seu nascimento de fato, sendo assim chamados pré-românticos. Nesta classificação encaixam-se Francisco Goya e Bocage.
O romantismo surge inicialmente naquela que futuramente seria a Alemanha e na Inglaterra. Na Alemanha, o romantismo, teria, inclusive, fundamental importância na unificação germânica com o movimento Sturm und Drang. Depois, foi avançado pelo romantismo inicial de Jena (Frühromantik).
O romantismo viria a se manifestar de forma bastante variada nas diferentes artes e marcaria, sobretudo, a literatura e a música (embora ele só venha a se manifestar realmente aqui mais tarde do que em outras artes). À medida que a escola foi sendo explorada, foram surgindo críticos à sua demasiada idealização da realidade. Destes críticos surgiu o movimento que daria forma ao realismo.
No Brasil, o romantismo coincidiu com a Independência política do Brasil em 1822, com o Primeiro reinado, com a Guerra do Paraguai e com a campanha abolicionista.
Características
Segundo Jacques Barzun, existiram três gerações de artistas românticos. A primeira emergiu entre 1790-1800, a segunda na década de 1820, e a terceira mais tarde nesse mesmo século.[39]
- 1.ª geração — As características centrais do romantismo viriam a ser o lirismo, o subjetivismo, o sonho de um lado, o exagero, a busca pelo exótico e pelo inóspito de outro. Também destacam-se o nacionalismo, presente da coletânea de textos e documentos de caráter fundacional e que remetam para o nascimento de uma nação, fato atribuído à época medieval, a idealização do mundo e da mulher e a depressão por essa mesma idealização não se materializar, assim como a fuga da realidade e o escapismo. A mulher era uma musa, ela era amada e desejada mas não era tocada.
- 2.ª geração — Posteriormente também seriam notados o pessimismo e um certo gosto pela morte, religiosidade e naturalismo. A mulher era alcançada mas a felicidade não era atingida.
- 3.ª geração — Seria a fase de transição para outra corrente literária, o realismo, a qual denuncia os vícios e males da sociedade, mesmo que o faça de forma enfatizada e irônica (vide Eça de Queirós), com o intuito de pôr a descoberto realidades desconhecidas que revelam fragilidades. A mulher era idealizada e acessível.
Individualismo
Os românticos libertam-se da necessidade de seguir formas reais de intuito humano, abrindo espaço para a manifestação da individualidade, muitas vezes definida por emoções e sentimentos.
Subjetivismo
O romancista trata dos assuntos de forma pessoal, de acordo com sua opinião sobre o mundo. O subjetivismo pode ser notado através do uso de verbos na primeira pessoa. Trata-se sempre de uma opinião parcelada, dada por um indivíduo que baseia sua perspectiva naquilo que as suas sensações captam. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.
Idealização
Empolgado pela imaginação, o autor idealiza temas, exagerando em algumas de suas características. Dessa forma, a mulher é vista como uma virgem frágil, o índio é visto como herói nacional e a noção de pátria também é idealizada.
Sentimentalismo exacerbado
Praticamente todos os poemas românticos apresentam sentimentalismo já que essa escola literária é movida através da emoção, sendo as mais comuns a saudade, a tristeza e a desilusão. Os poemas expressam o sentimento do poeta, suas emoções e são como o relato sobre uma vida.
O romântico analisa e expressa a realidade por meio dos sentimentos. E acredita que só sentimentalmente se consegue traduzir aquilo que ocorre no interior do indivíduo relatado. Emoção acima de tudo.
Egocentrismo
Como o nome já diz, é a colocação do ego no centro de tudo. Vários artistas românticos colocam, em seus poemas e textos, os seus sentimentos acima de tudo, destacando-os na obra. Pode-se dizer, talvez, que o egocentrismo é um subjetivismo exagerado.
Natureza interagindo com o eu lírico
A natureza, no romantismo, expressa aquilo que o eu-lírico está sentindo no momento narrado. A natureza pode estar presente desde as estações do ano, como formas de passagens, à tempestades, ou dias de muito sol. Diferentemente do Arcadismo, por exemplo, que a natureza é mera paisagem. No romantismo, a natureza interage com o eu-lírico. A natureza funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito do poeta.
Grotesco e sublime
Há a fusão do belo e do feio, diferentemente do arcadismo, que visa a idealização do personagem principal, tornando-o a imagem da perfeição. Como exemplo, temos o conto de A Bela e a Fera, no qual uma jovem idealizada, se apaixona por uma criatura horrenda.
Medievalismo
Alguns românticos se interessavam pela origem de seu povo, de sua língua e de seu próprio país. Na Europa, eles acharam no cavaleiro fiel à pátria um ótimo modo de retratar as culturas de seu país. Esses poemas passam-se em eras medievais e retratavam grandes guerras e batalhas.
Indianismo
É o medievalismo "adaptado" ao Brasil. Como os brasileiros não tinham um cavaleiro para idealizar, os escritores adotaram o índio como o ícone para a origem nacional e o colocam como um herói. O indianismo resgatava o ideal do "bom selvagem" (Jean-Jacques Rousseau), segundo o qual a sociedade corrompe o homem e o homem perfeito seria o índio, que não tinha nenhum contato com a sociedade europeia.
Byronismo
Inspirado na vida e na obra de Lord Byron, um poeta inglês. Estilo de vida boémio, voltado para vícios, bebida, fumo, podendo estar representado no personagem ou na própria vida do autor romântico. O byronismo é caracterizado pelo narcisismo, pelo egocentrismo, pelo pessimismo, pela angústia.
Romantismo nas belas-artes
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Segundo Giulio Carlo Argan na sua obra Arte moderna, o romantismo e o neoclassicismo são simplesmente duas faces de uma mesma moeda. Enquanto o neoclássico busca um ideal sublime, objetivando o mundo, o romântico faz o mesmo, embora tenda a subjetivar o mundo exterior. Os dois movimentos estão interligados, portanto, pela idealização da realidade (mesmo que com resultados diversos).
As primeiras manifestações românticas na pintura ocorreram quando Francisco Goya passou a pintar depois de começar a perder a audição. Um quadro de temática neoclássica como Saturno Devorando um Filho, por exemplo, apresenta uma série de emoções para o espectador que o fazem se sentir inseguro e angustiado. Goya cria um jogo de luz-e-sombra, linhas de composição diagonais e pinceladas "grosseiras" de forma a acentuar a situação dramática representada. Apesar de Goya ter sido um acadêmico, o romantismo somente chegaria à Academia mais tarde.
O francês Eugène Delacroix é considerado um pintor romântico por excelência. Sua tela A Liberdade Guiando o Povo reúne o vigor e o ideal românticos em uma obra que estrutura-se em um turbilhão de formas. O tema são os revolucionários de 1830 guiados pelo espírito da Liberdade (retratados aqui por uma mulher carregando a bandeira da França). O artista coloca-se metaforicamente como um revolucionário ao se retratar em um personagem da turba, apesar de olhar com uma certa reserva para os acontecimentos (refletindo a influência burguesa no romantismo). Esta é provavelmente a obra romântica mais conhecida.
A busca pelo exótico, pelo inóspito e pelo selvagem formaria outra característica fundamental do romantismo. Exaltavam-se as sensações extremas, os paraísos artificiais, a natureza em seu aspecto mais bruto. Lançar-se em "aventuras" ao embarcar em navios com destino aos polos, por exemplo, tornou-se uma forma de inspiração para alguns artistas. O pintor inglês William Turner refletiu este espírito em obras como Mar em tempestade onde o retrato de um fenômeno da Natureza é usado como forma de atingir os sentimentos supracitados.
Géricault é outro dos grandes nomes do romantismo na pintura.[40] A sua obra A Jangada da Medusa, pintada por volta de 1819, com a mistura entre os elementos barrocos, o naturalismo e o dramatismo pessoal das personagens, é uma das mais célebres pinturas do movimento romântico.[41]
Romantismo na literatura
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O romantismo surge na literatura quando os escritores trocam o mecenato aristocrático pelo editor, precisando assim cativar um público leitor. Esse público estará entre os pequenos burgueses, que não estavam ligados aos valores literários clássicos e, por isso, apreciariam mais a emoção do que a sutileza das formas do período anterior. A história do romantismo literário é bastante controversa.
Em primeiro lugar, as manifestações em poesia e prosa popular na Inglaterra são os primeiros antecedentes, embora sejam consideradas "pré-românticas" em sentido lato. Os autores ingleses mais conhecidos desse pré-romantismo "extra-oficial" são William Blake (cujo misticismo latente em The Marriage of Heaven and Hell - O Casamento do Céu e Inferno, 1793 atravessará o romantismo até o simbolismo) e Edward Young (cujos Night Thoughts - Pensamentos Noturnos, 1742, re-editados por Blake em 1795, influenciarão o ultrarromantismo), ao lado de James Thomson, William Cowper e Robert Burns. O romantismo "oficial" é reconhecido nas figuras de Coleridge e Wordsworth (Lyrical Ballads - Baladas Líricas, 1798), fundadores; Lord Byron (Childe Harold's Pilgrimage, Peregrinação de Childe Harold, 1818), Shelley (Hymn to Intellectual Beauty - Hino à Beleza Intelectual, 1817) e Keats (Endymion, 1817), após o Romantismo de Jena.
Em segundo lugar, os alemães procuraram renovar sua literatura através do retorno à natureza e à essência humana, com assídua recorrência ao "pré-romantismo extra-oficial" da Inglaterra. Esses escritores alemães formaram os movimentos Empfindsamkeit ("Sentimentalismo") e Sturm und Drang ("Tempestade e Ímpeto"), donde surge então, mergulhado no sentimentalismo, o pré-romantismo "oficial", isto é, conforme as convenções historiográficas. Goethe (Die Leiden des Jungen Werther - Os Sofrimentos do Jovem Werther, 1774), Schiller (An die Freude - "Ode à Alegria", 1785) e Herder (Auszug aus einem Briefwechsel über Ossian und die Lieder alter Völker - "Extrato da correspondência sobre Ossian e as canções dos povos antigos", 1773) formam a Tríade. Alguns jovens alemães, como Schegel e Novalis, com novos ideais artísticos, afirmam que a literatura, enquanto arte literária, precisa expressar não só o sentimento como também o pensamento, fundidos na ironia e na auto-reflexão. Era o "romantismo de Jena", o único romantismo autêntico em nível internacional.
Em terceiro lugar, a difusão europeia do romantismo tomou como românticas as formas pré-românticas da Inglaterra e da Alemanha, privilegiando, portanto, apenas o sentimentalismo em detrimento da complicada reflexão do romantismo de Jena. Por isso, mundialmente, o romantismo é uma extensão do pré-romantismo. Assim, na França, destacam-se Stendhal, Hugo e Musset; na Itália Leopardi e Alessandro Manzoni; em Portugal Garrett e Herculano; na Espanha Espronceda e Zorilla.
Tendo o liberalismo como referência ideológica, o romantismo renega as formas rígidas da literatura, como versos de métrica exata. O romance se torna o gênero narrativo preferencial, em oposição à epopeia. É a superação da retórica, tão valorizada pelos clássicos.
Os aspectos fundamentais da temática romântica são o historicismo e o individualismo. O historicismo está representado nas obras de Walter Scott (Inglaterra), Vitor Hugo (França), Almeida Garrett (Portugal), José de Alencar (Brasil), entre tantos outros. São resgates históricos apaixonados e saudosos ou observações sobre o momento histórico que atravessava-se àquela altura, como no caso de Balzac ou Stendhal (ambos franceses).
A outra vertente, focada no individualismo, traz consigo o culto do egocentrismo, vazado de melancolia e pessimismo (Mal do século). Pelo apego ao intimismo e a valores extremados, foram chamados de ultrarromânticos. Esses escritores como Byron, Alfred de Musset e Álvares de Azevedo beberam do Sturm und Drang alemão, perpetuando as fontes sentimentais.
O romantismo é um movimento que vai contra o avanço da modernidade em termos da intensa racionalização e mecanização. É uma crítica à perda das perspectivas que fogem àquelas correlacionadas à razão. Por parte o romantismo nos mostra como bases de vida o amor e a liberdade.
Romantismo na música
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As primeiras evidências do romantismo na música aparecem com Beethoven. Suas sinfonias, a partir da terceira, revelam uma música com temática profundamente pessoal e interiorizada, assim como algumas de suas sonatas para piano também, entre as quais é possível citar a Sonata Patética.
Outros compositores como Chopin, Tchaikovski, Felix Mendelssohn, Liszt, Grieg e Brahms levaram ainda mais adiante o ideal romântico de Beethoven, deixando o rigor formal do classicismo para escreverem músicas mais de acordo com suas emoções.
Na ópera, os compositores mais notáveis foram Verdi e Wagner. O primeiro procurou escrever óperas, em sua maioria, com conteúdo épico ou patriótico — entre as quais as óperas Nabucco, Les vêpres siciliennes, I Lombardi nella Prima Crociata — embora tenha escrito também algumas óperas baseadas em histórias de amor como La Traviata; O segundo enfocava histórias mitológicas germânicas, caso da tetralogia do Anel do Nibelungo e outras óperas como Tristão e Isolda e O Holandês Voador, ou sagas medievais como Tannhäuser, Lohengrin e Parsifal. Mais tarde na Itália o romantismo na ópera se desenvolveu ainda mais com Puccini.
Romantismo além das artes
Ciências
O movimento romântico afetou a maioria dos aspectos da vida intelectual, e o romantismo e a ciência tiveram uma ligação poderosa, especialmente no período 1800-1840. Muitos cientistas foram influenciados por versões da Naturphilosophie de Johann Gottlieb Fichte, Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling e Georg Wilhelm Friedrich Hegel e outros, e sem abandonar o empirismo buscaram no seu trabalho descobrir o que tendiam a acreditar ser uma Natureza unificada e orgânica. O cientista inglês Sir Humphry Davy, um proeminente pensador romântico, disse que compreender a natureza exigia "uma atitude de admiração, amor e adoração, [...] uma resposta pessoal".[42] Ele acreditava que o conhecimento só era alcançável por quem realmente apreciava e respeitava a natureza. O autoentendimento foi um aspecto importante do romantismo. Tinha menos a ver com provar que o homem era capaz de compreender a natureza (através do seu intelecto em desenvolvimento) e, portanto, de controlá-la, e mais a ver com o apelo emocional de se conectar com a natureza e entendê-la através de uma coexistência harmoniosa.[43]
Historiografia
A escrita da história foi fortemente, e muitos diriam prejudicialmente, influenciada pelo romantismo.[44] Na Inglaterra, Thomas Carlyle foi um ensaísta altamente influente que se tornou historiador; ele inventou e exemplificou a frase "adoração de heróis",[45] esbanjando elogios em grande parte acríticos a líderes fortes como Oliver Cromwell, Frederico, o Grande e Napoleão. O nacionalismo romântico teve um efeito amplamente negativo na escrita da história no século XIX, pois cada nação tendia a produzir a sua própria versão da história, e a atitude crítica, até mesmo o cinismo, dos historiadores anteriores foi frequentemente substituída por uma tendência para criar histórias românticas. com heróis e vilões claramente distintos.[46]
Teologia
Para isolar a teologia do cientificismo ou do reducionismo na ciência, os teólogos alemães pós-iluministas do século XIX desenvolveram uma concepção modernista ou assim chamada liberal do cristianismo, liderada por Friedrich Schleiermacher e Albrecht Ritschl. Eles adotaram a abordagem romântica de enraizar a religião no mundo interior do espírito humano, de modo que é o sentimento ou a sensibilidade de uma pessoa sobre questões espirituais que compreende a religião.[47]
Romantismo em Portugal
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Teve como marco inicial a publicação do poema "Camões", de Almeida Garrett, em 1825, e durou cerca de 40 anos terminando por volta de 1865 com a Questão Coimbrã.
A primeira geração do romantismo em Portugal vai de 1825 a 1840. Seus principais autores são Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Antônio Feliciano de Castilho. A segunda geração, ultra-romântica, de 1840 a 1860 e tem como principais autores, Camilo Castelo Branco e Soares de Passos. A terceira geração, pré-realista, de 1860 a 1870, aproximadamente, teve como principais autores Júlio Dinis e João de Deus.
Romantismo no Brasil
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De acordo com o tema principal, os romances no Brasil podem ser classificados como indianistas, urbanos ou históricos e regionalistas.
No romance indianista, o índio era o foco da literatura, pois era considerado uma autêntica expressão da nacionalidade, e era altamente idealizado. Como um símbolo da pureza e da inocência, representava o homem não corrompido pela sociedade, o não capitalista, além de assemelhar-se aos heróis medievais, fortes e éticos. Junto com tudo isso, o indianismo expressava os costumes e a linguagem indígenas, cujo retrato fez de certos romances excelentes documentos históricos.
Os romances urbanos tratam da vida na capital e relatam as particularidades da vida cotidiana da burguesia, cujos membros se identificavam com os personagens. Os romances faziam sempre uma crítica à sociedade através de situações corriqueiras, como o casamento por interesse ou a ascensão social a qualquer preço.
Por fim, o romance regionalista propunha uma construção de texto que valorizasse as diferenças étnicas, linguísticas, sociais e culturais que afastavam o povo brasileiro da Europa, e caracterizava-os como uma nação. Os romances regionalistas criavam um vasto panorama do Brasil, representando a forma de vida e individualidade da população de cada parte do país. A preferência dos autores era por regiões afastadas de centros urbanos, pois estes estavam sempre em contato com a Europa, além de o espaço físico afetar suas condições de vida.
A primeira geração (nacionalista–indianista) era voltada para a natureza, o regresso ao passado histórico e ao medievalismo. Cria um herói nacional na figura do índio, de onde surgiu a denominação de geração indianista. O sentimentalismo e a religiosidade são outras características presentes. Entre os principais autores podemos destacar Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre. Gonçalves de Magalhães foi o introdutor do romantismo no Brasil. Obras: Suspiros Poéticos e Saudades. Gonçalves Dias foi o mais significativo poeta romântico brasileiro. Obras: Canção do exílio e I-Juca-Pirama. Araújo Porto Alegre fundou com os outros dois a Revista Niterói-Brasiliense.
Entre as principais características da primeira geração romântica no Brasil estão: o nacionalismo ufanista, o indianismo, o subjetivismo, a religiosidade, o brasileirismo (linguagem), a evasão do tempo e espaço, o egocentrismo, o individualismo, o sofrimento amoroso, a exaltação da liberdade, a expressão de estados de alma, emoções e sentimentalismo.
A segunda geração, também conhecida como Byroniana e Ultrarromantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão.
Entre seus principais autores estão Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire e Pedro de Calasans. Álvares de Azevedo fazia parte da sociedade epicuréia destinada a repetir no Brasil a existência boêmia de Byron. Obras: Pálida à Luz, Soneto, Lembranças de Morrer, Noite na Taverna. Casimiro de Abreu escreveu As Primaveras, Poesia e amor, etc. Fagundes Varela, embora byroniano, já tinha em sua poesia algumas características da terceira geração do romantismo. Junqueira Freire, com estilo dividido entre a homossexualidade e a heterossexualidade, demonstrava as idiossincrasias da religião católica do século XIX.
Já as principais características da segunda geração foram o profundo subjetivismo, o egocentrismo, o individualismo, a evasão na morte, o saudosismo (lamentação) — em Casimiro de Abreu, por exemplo, o pessimismo, o sentimento de angústia, o sofrimento amoroso, o desespero, o satanismo e a fuga da realidade.
Por fim há a terceira geração, conhecida também como geração Condoreira, simbolizada pelo condor, uma ave que costuma construir seu ninho em lugares muito altos e tem visão ampla sobre todas as coisas, ou hugoniana, referente ao escritor francês Victor Hugo, grande pensador do social e influenciador dessa geração.
Os destaques desta geração foram Castro Alves, Sousândrade e Tobias Barreto. Castro Alves, denominado "Poeta dos Escravos", o mais expressivo representante dessa geração com obras como "Espumas Flutuantes" e "Navio Negreiro". Sousândrade não foi um poeta muito influente, mas tem uma pequena importância pelo descritivismo de suas obras. Tobias Barreto é famoso pelos seus poemas românticos.
As principais características são o erotismo, a mulher vista com virtudes e pecados, o abolicionismo, a visão ampla e conhecimento sobre todas as coisas, a realidade social e a negação do amor platônico, com a mulher podendo ser tocada e amada.
Essas três gerações citadas acima apenas se aplicam para a poesia romântica, pois a prosa no Brasil não foi marcada por gerações, e sim por estilos de textos — indianista, urbano ou regional — que aconteceram todos simultaneamente.
No país, entretanto, o romantismo perdurará até à década de 1880. Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, por Machado de Assis, em 1881, ocorre formalmente a passagem para o período realista.
Principais escritores românticos brasileiros
- Gonçalves Dias: principal poeta romântico e uns dos melhores da língua portuguesa, nacionalista, autor da famosa "Canção do Exílio", da nem tão famosa "I-Juca-Pirama" e de muitos outros poemas.
- Álvares de Azevedo: o maior romântico da Segunda Geração Romântica; autor de "Lira dos Vinte Anos"', "Noite na Taverna" e "Macário".
- Castro Alves: grande representante da Geração Condoeira, escreveu, principalmente, poesias abolicionistas como "O Navio Negreiro".
- Joaquim Manuel de Macedo, romancista urbano escreveu "A Moreninha" e também "O Moço Loiro".
- José de Alencar, principal romancista romântico. Romances urbanos: "Lucíola"; "A Viuvinha"; "Cinco Minutos"; "Senhora". Romances regionalistas: "O Gaúcho", "O Sertanejo", "O Tronco do Ipê". Romances históricos: "A Guerra dos Mascates"; "As Minas de Prata". Romances indianistas: "O Guarani", "Iracema" e o "Ubirajara".
- Manuel Antônio de Almeida: romancista urbano, precursor do realismo. Obras: "Memórias de um Sargento de Milícias".
- Bernardo Guimarães: considerado fundador do regionalismo. Obras: "A Escrava Isaura"; "O Seminarista"
- Franklin Távora: regionalista. Obra mais importante: "O Cabeleira".
- Visconde de Taunay: regionalista. Obra mais importante: "Inocência".
- Machado de Assis: estilo único, dotado de fase romântica e realista. Em sua fase romântica destacam-se "A Mão e a Luva" e "Helena". Ainda em tal fase, realizava análise psicológica e crítica social, mostrando-se atípico dentre os demais românticos.
Demais artes
Apesar da produção literária ser predominantemente romântica, vive-se no país neste período um grande incentivo ao academicismo e ao neoclassicismo. O neoclássico foi o estilo oficial do Império do Brasil recém-proclamado e o grande centro das artes no país é a Escola Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, lar do neoclassicismo no Brasil, sob influência direta da Missão francesa trazida pelo príncipe-regente D. João VI. Principais características: subjetivismo, evasão, erotismo, senso de mistério e religiosidade.
Ver também
- Lista de artistas do Romantismo
- Empfindsamkeit
- Romantismo sombrio
- Templo de Valhala
- Fritz Stern
- Realismo
- Música do romantismo
- Culto de qing
- Orientação romântica
Notas
- ↑ A palavra romanice foi utilizada, então, para definir um tipo de poema épico.
- ↑ Filósofos como John Locke passariam a refutar as ideias de Descartes (o conhecimento se dá pela razão) e a defender que a compreensão do mundo só é possível por meio dos sentidos.
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