Tancredo Neves (Salvador)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para Tancredo Neves, veja Tancredo Neves (Salvador) (desambiguação).
Tancredo Neves
Geografia
País
Unidade federativa
Município
Coordenadas
Funcionamento
Estatuto
bairro no Brasil (d)
História
Origem do nome
Mapa

Beiru ou Tancredo Neves é um bairro que se localiza no miolo central da cidade de Salvador, do estado da Bahia no Brasil na área que anteriormente pertencia ao antigo quilombo do Cabula. O bairro Beiru, tradicionalmente chamado de "Tancredo Neves", pertence a Prefeitura-Bairro VIII, Cabula/Tancredo Neves.[1] O bairro é um dos maiores da Região do miolo Central da cidade de Salvador e também um dos mais populosos da cidade.[2]

Historia[editar | editar código-fonte]

Beiru é a antiga denominação do bairro Tancredo Neves. Área histórica da resistência negra, o bairro tem início na extensão da Estrada das Barreiras, onde hoje atualmente se encontra o local chamado "Curva da Morte" seguindo até os limites com o bairro do Arenoso. Suas origens remontam ao antigo "Quilombo do Cabula", território de resistência da população de origem africana escravizada no Brasil Colônia que sofreu um processo de repressão violento no início do século XIX pelo 6º Conde da Ponte, administrador colonial da Capitania da Baía e herdeiro do morgadio da Casa da Ponte.[3]

O antigo nome da localidade refere-se ao escravo africano Gbeiru ou "Preto Beiru", que teria habitado a localidade no século XIX. Gbeiru era de etnia iorubá e oriundo da cidade de Oió, na atual Nigéria, onde foi sequestrado e escravizado sendo enviado para o Império do Brasil. No Brasil, depois de ser comprado pela família Silva Garcia e trazido para a fazenda Campo Seco, ele utilizou estratégias de sobrevivência e habilidade na relação com o senhorio, que lhe permitiram obter a posse de parte da fazenda Campo Seco em 1845, onde ele pode formar um quilombo e tornar-se uma liderança negra para os escravos da fazenda.[4]

Outra versão da história do bairro vem de documentos oficiais encontrados no Arquivo Público do estado da Bahia (APEB) que diz que à área que hoje pertence ao bairro do Beiru-Tancredo Neves pertenciam ao Senhor Tomás da Silva Paranhos, que provavelmente comprou as terras das mãos da Marquesa de Niza. Posteriormente o mesmo Tomás Paranhos irá revender essas terras a Domingos José da silva que também repassa as mesmas terras á Dr. Antonio Garcia Brandão. (APEB, Registros eclesiásticos de Terras.N.66, Ano 1857 - 1863)[carece de fontes?]

Assim a denominação Buraco, ficou ficou na memória de moradores, ao referir-se que uma determinada curva, era chamada pelos povos naturais de “Venda do Buraco”. Local coberto de mato, ocupado por invasões. Com a urbanização e acesso viário, a comunidade passou a nomear de "Curva da Morte" menção associada aos inúmeros acidentes que ocorreram na curva que atualmente fica na demarcação inicial da localidade.[5]

O bairro passou diversas e rápidas transformações nos últimos 40 anos, desta forma, ainda pode-se dialogar com os moradores mais antigos do bairro, a ialorixá do terreiro Olufanjá, que chegou na localidade no dia 1 de junho de 1970, caracterizava o O beiru-Tancredo neves, como uma área arborizada, com diversos recursos naturais e de difícil acesso.

                                                 "Isso aqui era tudo mato, só marcado com piquetes nos locais em que
                                                  eles estavam abrindo. O trator tinha passado há algum tempo, para
                                                  abrir o lote [...]. No local, não havia, água, luz, nada. Lavava-se as
                                                  roupas em um riacho na qual existia a fonte da vovó, que o povo
                                                  dizia que era encantada, porque tinha uma Gia que vinha, e por
                                                  causa dela é que tinha a água, e não podia matar. Tinha um
                                                  candomblé lá em baixo [...]. Esse riacho tinha uma pedra enorme,
                                                  tinha uma pedra de fogo imensa. Tinha um pé de Ingá, e agente
                                                  lavava ali, naquele lugar, um riacho limpo, só você vendo que
                                                  maravilha, a gente não sabia de onde vinha a água, uma coisa linda,
                                                  muito mato. Sabia que era a fonte da vovó, a fonte encantada [...].
                                                  [...]. Não era um riacho para pesca, havia muita gente lavando
                                                  roupas. Todo mundo dessa redondeza lavava roupa ali. Quem
                                                  morava por aqui, mesmo os gatos pingados, que eram as pessoas
                                                  mais antigas, lavavam roupas ali em baixo. Aparecia o povo só
                                                  descendo pelos caminhozinhos de matos e só via parecer, daqui a
                                                  pouco estava cheio de gente, de mulheres lavando, eu pegava meus
                                                  meninos e levava para fonte e lavava lá em baixo". (CONCEIÇÃO,
                                                  2015).

Sr, Hélio Oliveira, também morador do local, passas as mesmas características geográficas do Localidade, ele a descreve como um local de hábitos simples e com bastante contato dos moradores com a natureza ( O que contrasta com os dias atuais ), as habitações eram simples, e em sua grande maioria sem energia elétrica, transportes e água encanada a qual os moradores conseguiam por meio dos riachos e fontes encontradas no bairro. O mesmo diz que também existiam na região um grande número de roças e riachos e fontes das pedreiras. Esses riachos foram de grande importância para o culto das religiões de matrizes africanas , já que a localidade do Beiru foi marcada pelo grande número de terreiros de candomblé como o terreiro Tumbeci. Esses terreiros foram de suma importância nos períodos iniciais de loteamento da área do antigo Quilombo do cabula, já que esses mesmos terreiros eram usados como ponto de orientação, esses mesmos terreiros tem uma grande importância na história da localidade já que a maioria dos moradores mais antigos da região vem justamente de famílias que participavam das celebrações. Um dos candomblés mais antigos da região herdeiro dos batuques e rituais quilombolas, seja o do Sr.Miguel Arcanjo de Souza, de tradição amburaxó, cuja nação é congo-angola. Outro espaço de culto de matriz africana, composto por nativos, foi o terreiro de D. Maria Genoveva do Bonfim, importante matriarca da tradição banto, conhecida como Maria Neném. Ao morrer, o Sr. Miguel Arcanjo deixa herdeiros biológicos como Caetana Angélica de Souza e Guilhermina Angélica de Souza, e também herdeiro de axé,seu sucessor Sr. Manuel Jacinto. Esses habitantes, em suas vivências, expressaram a pujança das raízes quilombola desse território de resistência negra e de importante forma de conhecimento sobre povos africanos, por conta das raízes familiares destes moradores.

A partir dos anos 70, começa o processo de ocupação local, que foi lento e em uma comunidade que ainda era pequena e em sua grande maioria de pessoas que vieram de outras regiões. Os primeiros moradores da região após o início do processo de urbanização nos passam características importantíssimas sobre essa localidade nos anos 70.

                                                "Os caminhos eram trilhas, em meio da mata fechada. Não tinha
                                                 nada, era mato. O caminho mesmo era mato, e a gente descia pelas
                                                 trilhaszinhas que se caminhava. Eu não sei se já era uma ladeira
                                                 antiga que já tinha [...], eu sei que a gente descia por ali. E as fendas,
                                                 muitas fendas na terra, da água que descia, e a gente aproveitava os
                                                 lugares melhores para poder andar, descer e subir, com água na
                                                 cabeça, com bacia na cabeça, lavando roupas "

As casas nesse período ainda continuavam simples e feitas em grande parte por Taipa - que eram retiradas da matas locais - e o barro vermelho e grudento. O para cobrir a estrutura das casas. Estas eram baixas e cobertas com palha de bananeira, coqueiro ou licurizeiro. O chão era batido “com a folha de bananeira, e vinha com uma tabuinha para bater, para pilar o chão. Depois, andar daqui para Boca do Rio para pegar e jogar areia branca, para endurecer.

Com o passar dos anos e o crescimento populacional da cidade de Salvador, o Beiru perdeu as suas características inciais, de uma área arborizada, com matas e riachos, desta forma a localidade passa a ser ocupada por invasões e loteamentos , mas sem obedecer a nenhuma regra de organização habitacional, o que posteriormente vai gerar problemas graves de saneamento ou seja, era uma área desprovida de atenção governamental e que ainda carece de muitas melhorias nos dias atuais. As mudanças no Beirú ocorrem paulatinamente, e se intensificaram no momento em que acelerou o processo de urbanização. Foi nos governos de Antônio Carlos Magalhães e Roberto Santos, isto é, a partir da década de 1970, que a localidade iniciou desenvolvimento. Para Sr. Hélio, a construção do Hospital Roberto Santos (1978), foi um fator decisivo para atrair a construção de novos conjuntos habitacionais, mas principalmente de moradias irregulares. O resultado desse processo de urbanização foi o desmatamento do local.

Tancredo Neves- Salvador

Num plebiscito feito em 1985, o seu nome mudou para homenagear o ex-presidente falecido Tancredo de Almeida Neves. a mudança gerou uma controvérsia entre os moradores que preferiam o topônimo anterior para o bairro. Conforme Dionísio Juvenal á época presidente do Conselho de Moradores do Beiru, ente os motivos que levaram a população local a rebatizar o Bairro, a analogia feita entre o nome Beiru, a violência local e as possibilidades de rimas imorais que a terminação da palavra sugeria .

Em 2005, o fórum Comunitário em Defesa do Beiru lançou uma campanha reivindicando a mudança do nome do bairro para o que outrora foi Beiru.[6][7]

Demografia[editar | editar código-fonte]

População[editar | editar código-fonte]

O bairro de Tancredo neves, possui um total de 50,416 habitantes, sendo 46,79% homens e 53,41% mulheres segundo o Último Censo. No percentual de número de moradores por Cor/Raça 11,66% se autodenominam Brancos, 33,97% pretos, 1,54% amarelos, 52,36% pardos e 0,20% Indígena. Na questão econômica 24,44% dos chefes de família estão situados na faixa de renda mensal de 1 a 2 salários mínimos. No que se refere a escolaridade 33,07% dos chefes de família tem de 4 a 7 anos de estudos[1][8]

Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 é o sétimo bairro com a maior população de negros em Salvador, com 86,33% (43 523 habitantes).[9]

Segurança[editar | editar código-fonte]

Em 2007 foi divulgado pelo jornal A Tarde que o bairro estava na liderança do ranking da violência.[10]

Foi listado como um dos bairros mais perigosos de Salvador, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgados no mapa da violência de bairro em bairro pelo jornal Correio em 2012.[11] Ficou entre os mais violentos em consequência da taxa de homicídios para cada cem mil habitantes por ano (com referência da ONU) ter alcançado o segundo nível mais negativo, com o indicativo de "61-90", sendo um dos piores bairros na lista.[11]

Referências

  1. a b http://www.informs.conder.ba.gov.br/wp-content/uploads/2016/10/1_INFORMS_Painel_de_Informacoes_2016.pdf
  2. «Home». museudocabula.com.br. Consultado em 23 de março de 2023 
  3. «MAM sedia conversa sobre 'Quilombo do Cabula/Beiru' neste sábado (20), às 15h, Dia da Consciência Negra». Museu de Arte Moderna. Consultado em 3 de abril de 2024 
  4. «Moradores do Beiru discutem importância do museu e criam conselho». IBRAM. Consultado em 3 de abril de 2024 
  5. Silva, Francisca de Paula Santos da, Matta, Alfredo Eurico Rodrigues, Marques, Maria Inês Corrêa, Rego, André de Almeida, Nicolin, Janice de Sena, Boaventura, Edivaldo Machado. «História pública do Quilombo do Cabula: representações de resistências em museu virtual 3D aplicada à mobilização do turismo de base comunitária.». 24 de janeiro de 2018 
  6. Moraes, Luiz Roberto Santos (1 de janeiro de 2010). O Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Fontes. [S.l.: s.n.] 
  7. [1]
  8. [2]
  9. Redação (20 de novembro de 2013). «TOP 10: veja os bairros de Salvador com maior população negra». iBahia.com. Rede Bahia. Consultado em 27 de abril de 2019 
  10. «Tancredo Neves lidera o ranking da violência». A Tarde. 30 de setembro de 2007. Consultado em 29 de agosto de 2019. Cópia arquivada em 29 de agosto de 2019 
  11. a b Juan Torres e Rafael Rodrigues (22 de maio de 2012). «Mapa deixa clara a concentração de homicídios em bairros pobres». Correio (jornal). Consultado em 1 de maio de 2019