Transtorno de personalidade esquizotípica: diferenças entre revisões

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== Origens Históricas ==
== Origens Históricas ==


No início do século XX, se popularizava o termo "esquizóide" para descrever pessoas reclusas que possuíam dificuldades em criar laços sociais. A palavra "esquizóide" foi criada por [[Eugen Bleuler]]<nowiki/>para descrever traços de personalidade que ele frequentemente observava em familiares próximos de pacientes com esquizofrenia, segundo ele: "''[são] pessoas confortavelmente insensíveis, e ao mesmo tempo, sensíveis, que perseguem propósitos vazios de maneira contida''." Estas caracteristicas esquizóides não estavam presentes apenas nos familiares dos pacientes, mas nos próprios pacientes, de forma ainda mais intensa: ”Se alguém observar os familiares de nossos pacientes, encontrará características qualitativamente idênticas aos dos próprios pacientes, de forma que a doença [esquizofrenia] aparenta ser apenas um aumento das anomalias vistas nos pais e irmãos [do paciente]". Embora se referisse à uma personalidade pré-mórbida, ou seja, que antecedia os sintomas iniciais de esquizofrenia, o termo "esquizóide" passou a ser usado de forma demasiadamente ampla e vaga, principalmente em contextos pedagógicos para descrever crianças que preferiam atividades solitárias. Em 1925, [[Ernst Kretschmer]] introduz o conceito de "Temperamento Esquizóide", composto por três fatores:
No início do século XX, se popularizava o termo "esquizóide" para descrever pessoas reclusas que possuíam dificuldades em criar laços sociais. A palavra "esquizóide" foi criada por [[Eugen Bleuler]]<nowiki/>para descrever traços de personalidade que ele frequentemente observava em familiares próximos de pacientes com esquizofrenia, segundo ele: "''[são] pessoas confortavelmente insensíveis, e ao mesmo tempo, sensíveis, que perseguem propósitos vazios de maneira contida''." Estas características esquizóides não estavam presentes apenas nos familiares dos pacientes, mas nos próprios pacientes, de forma ainda mais intensa: ”''Se alguém observar os familiares de nossos pacientes, encontrará características qualitativamente idênticas aos dos próprios pacientes, de forma que a doença [esquizofrenia] aparenta ser apenas um aumento das anomalias vistas nos pais e irmãos [do paciente]''" <ref name=":8" />. Embora se referisse à uma personalidade pré-mórbida, ou seja, que antecedia os sintomas iniciais de esquizofrenia, o termo "esquizóide" passou a ser usado de forma demasiadamente ampla e vaga, principalmente em contextos pedagógicos para descrever crianças que preferiam atividades solitárias. Em 1925, [[Ernst Kretschmer]] introduz o conceito de "Temperamento Esquizóide", composto por três fatores:


# Associal, quieto, reservado, sério, excêntrico.
# Associal, quieto, reservado, sério, excêntrico.
# Tímido, sensível, nervoso, excitável, amante de livros e da natureza.
# Tímido, sensível, nervoso, excitável, amante de livros e da natureza.
# Flexível, amável, honesto, indiferente, lento no pensar, silencioso.
# Flexível, amável, honesto, indiferente, lento no pensar, silencioso.
Kretschmer enfatizava que estes indivíduos tinham poucos contatos sociais e frequentemente relatavam a sensação de que uma parede de vidro os separava da humanidade. Ele támbem descatava a receosidade como um traço essencial do temperamento Esquizóide: Estas pessoas sentiam a entrada de novas pessoas em sua vida como um estímulo doloroso, esmagador e desagradável. Décadas depois, o conceito de temperamento esquizóide se ampliaria e se dividiria em três perturbações de personalidade distintas, dando origem não só ao transtorno de personalidade esquizotípica como ao [[Transtorno de personalidade esquizoide|transtorno de personalidade esquizóide]] e o [[transtorno de personalidade esquiva]]. O próprio Kretschmer, no entanto, não pregava essa divisão, acreditando que o indivíduo esquizóide encorporava em si a ambivalência, por exemplo, ele não era nem apenas sensível nem insensível, mas ambos ao mesmo tempo.<ref>Kretschmer E (1931</ref>
Kretschmer enfatizava que estes indivíduos tinham poucos contatos sociais e frequentemente relatavam a sensação de que uma parede de vidro os separava da humanidade. Ele também destacava a receosidade como um traço essencial do temperamento Esquizóide: Estas pessoas sentiam a entrada de novas pessoas em sua vida como um estímulo doloroso, esmagador e desagradável. Décadas depois, o conceito de temperamento esquizóide se ampliaria e se dividiria em três perturbações de personalidade distintas, dando origem não só ao transtorno de personalidade esquizotípica como ao [[Transtorno de personalidade esquizoide|transtorno de personalidade esquizóide]] e o [[transtorno de personalidade esquiva]]. O próprio Kretschmer, no entanto, não pregava essa divisão, acreditando que o indivíduo esquizóide incorporava em si a ambivalência, por exemplo, ele não era nem apenas sensível nem insensível, mas ambos ao mesmo tempo.<ref>Kretschmer E (1931</ref>


Eugen Bleuer também considerava a ambivalência como um traço essencial da predisposição à esquizofrenia e a categorizou como um dos três sintomas básicos do transtorno:<blockquote>''"Ambivalência: o paciente deseja comer e não deseja comer, ele começa a levantar a colher em direção a sua boca mas nunca termina o ato. Ele clama para ser solto e depois reage com xingamentos quando é informado que será mandado embora da instituição. As ’vozes’ ordenam que ele se afogue, e na mesma sentença, para a surpresa dele, o repreendem com desprezo por querer se afogar. Um [esquizofrênico] catatônico educado em filosofia uma vez fez a seguinte observação: 'Quando alguém expressa um pensamento, ele sempre vê o contra-pensamento, isso se intensifica e se torna tão rápido que ele nem sabe mais qual veio primeiro.’ Um outro paciente, menos sofisticado, que em resposta à uma carta muito amigável de sua esposa, escreveu uma carta de despedida, disse: 'Eu poderia muito bem ter escrito outra carta; para desejar um bom dia ou para me despedir; é tudo a mesma coisa.’"<ref name=":8">{{citar livro|título=Affectivity, suggestibility, paranoia|ultimo=Eugen|primeiro=Bleuler|ano=1912}}</ref>''</blockquote>
Eugen Bleuler também considerava a ambivalência como um traço essencial da predisposição à esquizofrenia e a categorizou como um dos três sintomas básicos do transtorno:<blockquote>''"Ambivalência: o paciente deseja comer e não deseja comer, ele começa a levantar a colher em direção a sua boca mas nunca termina o ato. Ele clama para ser solto e depois reage com xingamentos quando é informado que será mandado embora da instituição. As ’vozes’ ordenam que ele se afogue, e na mesma sentença, para a surpresa dele, o repreendem com desprezo por querer se afogar. Um [esquizofrênico] catatônico educado em filosofia uma vez fez a seguinte observação: 'Quando alguém expressa um pensamento, ele sempre vê o contra-pensamento, isso se intensifica e se torna tão rápido que ele nem sabe mais qual veio primeiro.’ Um outro paciente, menos sofisticado, que em resposta à uma carta muito amigável de sua esposa, escreveu uma carta de despedida, disse: 'Eu poderia muito bem ter escrito outra carta; para desejar um bom dia ou para me despedir; é tudo a mesma coisa.’"<ref name=":8">{{citar livro|título=Affectivity, suggestibility, paranoia|ultimo=Eugen|primeiro=Bleuler|ano=1912}}</ref>''</blockquote>
Além da ambivalência, isto é, a presença de ideias e sentimentos contraditórios, haviam dois outros sintomas básicos de esquizofrenia. O segundo que pode ser listado era o embotamento afetivo. O paciente se tornava totalmente indiferente ao seu entorno, aparentando não se abalar com nenhum fato de sua vida e da vida de outros, por mais dificultosos. O paciente perdia o senso de auto-preservação, podendo não se importar nem com situações que colocavam sua vida em risco:<blockquote>''"O paciente não se importa se ele está passando fome ou não, se está deitado num banco cheio de neve ou num forno quente. Durante um incêndio no hospital, um número de pacientes tiveram que ser conduzidos; eles mesmos não teriam saído de seus lugares. Doenças, ameaças, ou qualquer forma possível de mal não perturbam a paz de muitos esquizofrênicos. Eles podem escrever autobiografias inteiras sem manifestar o minímo de emoção. Eles descrevem seu sofrimento e seus atos como se fossem um tema de física.”''<ref name=":8" /></blockquote>O outro sintoma básico da esquizofrenia se trava das 'associações frouxas' identificadas em seu discurso. O discurso do paciente assumia um carácter abstrato, por vezes completamente incoerente. Duas ideias sem relação direta tendiam a ser condensadas em apenas uma, o pensamento era gerado num fluxo demasiadamente elevado e por vezes haviam bloqueios do pensamento - o paciente parava de falar abruptamente, perdia o raciocínio de onde estava e retomava a conversa falando de um tópico sem nenhuma relação com o que estava sendo anteriormente dito, como se tudo que ele estava pensando anteriormente tivesse sido de fato varrido de sua mente.<ref name=":8" />
Além da ambivalência, isto é, a presença de ideias e sentimentos contraditórios, haviam dois outros sintomas básicos de esquizofrenia. Embotamento afetivo poderia ser o segundo a ser listado. Neste quadro, o paciente se tornava totalmente indiferente ao seu entorno, aparentando não se abalar com nenhum fato de sua vida e da vida de outros. O paciente perdia o senso de auto-preservação, podendo não se importar nem com situações que colocavam sua vida em risco:<blockquote>''"O paciente não se importa se ele está passando fome ou não, se está deitado num banco cheio de neve ou num forno quente. Durante um incêndio no hospital, um número de pacientes tiveram que ser conduzidos; eles mesmos não teriam saído de seus lugares. Doenças, ameaças, ou qualquer forma possível de mal não perturbam a paz de muitos esquizofrênicos. Eles podem escrever autobiografias inteiras sem manifestar o mínimo de emoção. Eles descrevem seu sofrimento e seus atos como se fossem um tema de física.”''<ref name=":8" /></blockquote>O outro sintoma básico da esquizofrenia se trava das 'associações frouxas' identificadas em seu discurso. O discurso do paciente assumia um carácter abstrato, por vezes completamente incoerente. Duas ideias sem relação direta tendiam a ser condensadas em apenas uma, o pensamento era gerado num fluxo demasiadamente elevado e por vezes haviam bloqueios do pensamento - o paciente parava de falar abruptamente, perdia o raciocínio de onde estava e retomava a conversa falando de um tópico sem nenhuma relação com o que estava sendo anteriormente dito, como se tudo que ele estava pensando anteriormente tivesse sido de fato varrido de sua mente.<ref name=":8" />


Os outros sintomas verificados em quadros de esquizofrenia, como delírios e alucinações, e que para o público leigo aparentam ser os sintomas principais de esquizofrenia, foram chamados de acessórios, isto é, poderiam ou não estar presentes. Não era necessário que os sintomas acessórios se manifestassem para que o quadro fosse caracterizado como esquizofrenia. Os sujeitos que apresentavam apenas os sintomas básicos de eram diagnosticados com 'Esquizofrenia Simples', ou seja, esquizofrenia sem sintomas psicóticos.<ref>N.C. Andreasen, A. Marneros, J. Angst, N.C. Andreasen, F.M. Benes, M.T.Tsuang, R.W. Buchanan, W.T. Carpenter, T.J.J. Crow, A. Deister, et al. Psychotic Continuum. Springer Berlin Heidelberg, 2012.</ref><ref>N. Pyatnitskiy. Accessory symptoms of schizophrenia: E. bleuler’s concept. Zhurnal nevrologii i psikhiatrii im. S.S. Korsakova, 117:114, 01 2017.</ref>
Os outros sintomas verificados em quadros de esquizofrenia, como delírios e alucinações, e que para o público leigo aparentam ser os sintomas principais de esquizofrenia, foram chamados de acessórios, isto é, poderiam ou não estar presentes. Não era necessário que os sintomas acessórios se manifestassem para que o quadro fosse caracterizado como esquizofrenia. Os sujeitos que apresentavam apenas os sintomas básicos de eram diagnosticados com 'Esquizofrenia Simples', ou seja, esquizofrenia sem sintomas psicóticos.<ref>N.C. Andreasen, A. Marneros, J. Angst, N.C. Andreasen, F.M. Benes, M.T.Tsuang, R.W. Buchanan, W.T. Carpenter, T.J.J. Crow, A. Deister, et al. Psychotic Continuum. Springer Berlin Heidelberg, 2012.</ref><ref>N. Pyatnitskiy. Accessory symptoms of schizophrenia: E. bleuler’s concept. Zhurnal nevrologii i psikhiatrii im. S.S. Korsakova, 117:114, 01 2017.</ref>


Haveria também um outro grupo de pacientes que apresentava apenas os sintomas básicos, mas de forma menos severa, e estes eram chamados de esquizofrênicos latentes. Esquizofrenia latente não era de fato um quadro de esquizofrenia, mas uma condição psiquíca que tornava o paciente sujeito à desenvolver esquizofrenia no futuro, principalmente se ele passasse por situações que o desestruturassem intimamente: <blockquote>
Haveria também um outro grupo de pacientes que apresentava apenas os sintomas básicos, mas de forma menos severa, e estes eram chamados de esquizofrênicos latentes. Esquizofrenia latente não era de fato um quadro de esquizofrenia, mas uma condição psiquíca que tornava o paciente sujeito à desenvolver esquizofrenia no futuro, principalmente se ele passasse por situações que o desequilibrassem intimamente: <blockquote>
''"Esquizofrenia latente não é esquizofrenia. Ao invés disso, esse diagnóstico é apenas uma previsão de que sob certas circunstâncias - que podem ser difíceis de especificar - essa pessoa demonstrará comportamento esquizofrênico. [...] Quando o esquizofrenico latente se encontra em situações em que ele é provido com pistas confiáveis e válidas de como se comportar e que exigem pouco de sua capacidade de julgar, decidir, e interpretar estímulos externos, ele pode funcionar em nível superior e parecer normal. [...] mas quando estes indivíduos são forçados a largar a proteção de situações estruturadas, seu potencial psicótico se manifesta, por exemplo, quando pessoas aparentemente normais são induzidas ao serviço militar e tem seu primeiro episódio de psicose [...]"''<ref name=":9">Benjamin B. Wolman. Explorations in latent schizophrenia. American journal of psychotherapy, 11 3:560–88, 1957.6</ref>
''"Esquizofrenia latente não é esquizofrenia. Ao invés disso, esse diagnóstico é apenas uma previsão de que sob certas circunstâncias - que podem ser difíceis de especificar - essa pessoa demonstrará comportamento esquizofrênico. [...] Quando o esquizofrênico latente se encontra em situações em que ele é provido com pistas confiáveis e válidas de como se comportar e que exigem pouco de sua capacidade de julgar, decidir, e interpretar estímulos externos, ele pode funcionar em nível superior e parecer normal. [...] mas quando estes indivíduos são forçados a largar a proteção de situações estruturadas, seu potencial psicótico se manifesta, por exemplo, quando pessoas aparentemente normais são induzidas ao serviço militar e tem seu primeiro episódio de psicose [...]"''<ref name=":9">Benjamin B. Wolman. Explorations in latent schizophrenia. American journal of psychotherapy, 11 3:560–88, 1957.6</ref>
</blockquote>Por vezes era difícil distinguir um quadro de esquizofrenia latente de um quadro de histeria, em vista de que o paciente apresentava sintomas severos de neurose, como ansiedade elevada, fobias, obsessões e flutuações de humor. Ainda sim, quando analisados cuidadosamente pelo terapeuta, os três sintomas básicos da esquizofrenia eram identificados. <blockquote>''"Um esquizofrênico latente vive sob o medo da morte; suas fobias, hipocondria, dores de cabecaa, sentimentos de inferioridade, ataques de raiva, fadiga, inabilidade em proteger a si mesmo, sua obsessão com a ordem, seu medo da propria raiva, tudo isso indica seu estado de panico. A energia investida no ego do esquizofrênico latente é insuficiente; eles frequentemente estão cansados e raramente se sentem felizes, experienciam mal humor, depressões e amargura. Eles aparentemente precisam de afeto e o desejam-o, ainda sim, evitam contato social e tem poucos amigos."''<ref name=":9" /></blockquote>
</blockquote>Por vezes era difícil distinguir um quadro de esquizofrenia latente de um quadro de histeria, em vista de que o paciente apresentava sintomas severos de neurose, como ansiedade elevada, fobias, obsessões e flutuações de humor. Ainda sim, quando analisados cuidadosamente pelo terapeuta, os três sintomas básicos da esquizofrenia eram identificados. <blockquote>''"Um esquizofrênico latente vive sob o medo da morte; suas fobias, hipocondria, dores de cabecaa, sentimentos de inferioridade, ataques de raiva, fadiga, inabilidade em proteger a si mesmo, sua obsessão com a ordem, seu medo da propria raiva, tudo isso indica seu estado de panico. A energia investida no ego do esquizofrênico latente é insuficiente; eles frequentemente estão cansados e raramente se sentem felizes, experienciam mal humor, depressões e amargura. Eles aparentemente precisam de afeto e o desejam-o, ainda sim, evitam contato social e tem poucos amigos."''<ref name=":9" /></blockquote>


Diversas outras formas de predisposição à psicose foram catalogadas, e a teoria genética ganhou força com as constatações de que estes indivíduos frequentemente possuíam parentes próximos que desenvolveram esquizofrenia. Outra ideia que influenciou a elaboração do diagnóstico de Transtorno de Personalidade Esquizotípica foi a ideia de [[esquizofrenia pseudoneurótica]]. Assim como no caso da esquizofrenia latente, o paciente pseudoneurótico apresentava sintomas de neurose severa, como ansiedade e obsessões, no entanto, os pseudoneuróticos também apresentavam sintomas de psicose, e que embora lembrassem alguns dos sintomas acessórios da esquizofrenia, tinham curta duração. Exemplos dessas manifestações pseudoneuróticas incluíam episódios onde as imaginações constantes do paciente emergiam como alucinações, ou quando seus temores ansiosos evoluíam para delírios. Essa transmutação de neurose em psicose não acontecia com neuróticos comuns nem quando eles estavam sob efeito de pânico intenso.<ref name=":02">{{citar periódico |título=Borderline Schizophrenia: Evidence of Its Validity' |data=1979 |periódico=Schizophrenia Bulletin |ultimo=Rieder |primeiro=Ronald O |doi=10.1093/schbul/5.1.39}}</ref> Pacientes com esquizofrenia pseudoneurótica eram marcados por uma ansiedade elevada que englobava toda sua estrutura psiquíca. Embora demonstrassem sintomas de neurose (como ansiedade social), as abordagens psicoterapêuticas comumente endereçadas à pacientes neuróticos surtiam efeito contrário, por vezes levando o paciente à episódios de psicose e tentativas de suicídio.<ref>Hoch (1962)</ref><ref>Astrup (1968)</ref>
Além do temperamento esquizóide e da esquizofrenia latente, diversas outras formas de predisposição à psicose foram catalogadas, e a teoria genética ganhou força com as constatações de que estes indivíduos frequentemente possuíam parentes próximos que desenvolveram esquizofrenia ou eles mesmos acabavam desenvolvendo o transtorno. A [[esquizofrenia pseudoneurótica]] foi uma dessas condições psiquícas que eram tidas como precursoras à esquizofrenia. Assim como no caso da esquizofrenia latente, o paciente pseudoneurótico apresentava sintomas de neurose severa, como ansiedade e obsessões, no entanto, os pseudoneuróticos também apresentavam sintomas de psicose, e que embora lembrassem alguns dos sintomas acessórios da esquizofrenia, tinham curta duração. Exemplos dessas manifestações pseudoneuróticas incluíam episódios onde as imaginações constantes do paciente passavam a emergir como alucinações, ou quando seus temores ansiosos evoluíam para delírios. Tais transmutações não ocorriam com neuróticos comuns nem quando eles estavam sob efeito de pânico intenso.<ref name=":02">{{citar periódico |título=Borderline Schizophrenia: Evidence of Its Validity' |data=1979 |periódico=Schizophrenia Bulletin |ultimo=Rieder |primeiro=Ronald O |doi=10.1093/schbul/5.1.39}}</ref> Pacientes com esquizofrenia pseudoneurótica eram marcados por uma ansiedade elevada que englobava toda sua estrutura psiquíca, e embora demonstrassem sintomas de neurose (como ansiedade social), as abordagens psicoterapêuticas comumente endereçadas à pacientes neuróticos surtiam efeito contrário, por vezes levando o paciente à episódios de psicose e tentativas de suicídio.<ref>Hoch (1962)</ref><ref>Astrup (1968)</ref>


As investigações acerca de desordens que se assemelhavam à esquizofrenia prosseguiram e em 1953, Slater realizou estudos com gêmeos e percebeu que indivíduos que possuíam parentesco com pacientes com esquizofrenia demonstravam mais traços de paranoia, excentricidade, personalidade reservada e falta de sentimentos. No mesmo ano, [[:en:Sandor_Rado|Sandor Rado]] propôs o nome ’esquizotípico’ como uma junção de ’esquizofrenia’ e ’genótipo’ para definir esse grupo de indivíduos. Os sintomas esquizotípicos eram marcados pela ausência da capacidade de sentir prazer e isso impedia os pacientes de realizarem atos com propósitos definidos. Desta déficit surgiam a anedonia, o medo excessivo e a desorganização que mais tarde poderia evoluir para sintomas mais severos de esquizofrenia.<ref name=":6">{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=HURsHiM_pBgC&dq=schizotypal&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s|título=Schizotypal Personality|ultimo=Adrian Raine, Todd Lencz, Sarnoff A Mednick.|editora=Cambridge University Press|ano=1995}}</ref>
As investigações acerca de desordens que se assemelhavam à esquizofrenia prosseguiram e em 1953, Slater realizou estudos com gêmeos e percebeu que indivíduos que possuíam parentesco com pacientes com esquizofrenia demonstravam mais traços de paranoia, excentricidade, personalidade reservada e falta de sentimentos. No mesmo ano, [[:en:Sandor_Rado|Sandor Rado]] propôs o nome ’esquizotípico’ como uma junção de ’esquizofrenia’ e ’genótipo’ para definir esse grupo de indivíduos. Os sintomas esquizotípicos eram marcados pela ausência da capacidade de sentir prazer. Desta déficit surgiam o medo excessivo e a desorganização que mais tarde poderia evoluir para sintomas mais severos de esquizofrenia.<ref name=":6">{{citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=HURsHiM_pBgC&dq=schizotypal&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s|título=Schizotypal Personality|ultimo=Adrian Raine, Todd Lencz, Sarnoff A Mednick.|editora=Cambridge University Press|ano=1995}}</ref>


Baseados na definição de esquizofrenia latente, transtorno de personalidade esquizóide, esquizofrenia pseudoneurótica e no diagnóstico do [[transtorno de personalidade inadequada]] (que não é mais utilizado atualmente), Kety e outros psiquiatras dinamarqueses iniciaram estudos sobre a geneticidade de transtornos do espectro da esquizofrenia. A intenção era demonstrar que os traços esquizotípicos eram uma questão genética muito antes de ser uma questão socioambiental. Os resultados dos estudos demonstraram que a esquizofrenia era mais de cinco vezes mais comum nas famílias biológicas de pacientes esquizofrênicos do que nas adotivas. Ao mesmo tempo, as famílias biológicas de pacientes com esquizofrenia exibiam mais traços esquizotípicos do que esquizofrenia em si. Isto também era favorável à ideia de que a esquizofrenia é um espectro.<ref>{{citar periódico |título=Schizotypal Personality Disorder: An Operational Definition of Bleuler's Latent Schizophrenia? |data=1985 |periódico=Schizophrenia Bulletin |número=4 |ultimo=Seymour S. Kety |volume=11}}</ref>
Baseados na definição de esquizofrenia latente, transtorno de personalidade esquizóide, esquizofrenia pseudoneurótica e no diagnóstico do [[transtorno de personalidade inadequada]] (que não é mais utilizado atualmente), Kety e outros psiquiatras dinamarqueses iniciaram estudos sobre a geneticidade de transtornos do espectro da esquizofrenia. A intenção era demonstrar que os traços esquizotípicos eram uma questão genética muito antes de ser uma questão socioambiental. Os resultados dos estudos demonstraram que a esquizofrenia era mais de cinco vezes mais comum nas famílias biológicas de pacientes esquizofrênicos do que nas adotivas. Ao mesmo tempo, as famílias biológicas de pacientes com esquizofrenia exibiam mais traços esquizotípicos do que esquizofrenia em si. Isto também era favorável à ideia de que a esquizofrenia é um espectro.<ref>{{citar periódico |título=Schizotypal Personality Disorder: An Operational Definition of Bleuler's Latent Schizophrenia? |data=1985 |periódico=Schizophrenia Bulletin |número=4 |ultimo=Seymour S. Kety |volume=11}}</ref>


Graças às pesquisas de Kety e seus associados, o transtorno de personalidade esquizotípica foi melhor definido e em 1980, com a publicação da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-III) substituiu o uso de termos como esquizofrenia latente, borderline ou ambulatória.<ref name=":02" /><ref>{{citar periódico |url=https://academic.oup.com/schizophreniabulletin/article/5/1/95/1943773?login=false |título=Justification for Separating Schizotypal and Borderline Personality Disorders* |data=1979 |periódico=Schizophrenia Bulletin |ultimo=Spitzel |primeiro=Robert L. |doi=10.1093/schbul/5.1.95}}</ref> Os sintomas do transtorno se assemelhavam àqueles do transtorno de personalidade esquizóide, mas com a adição de comportamentos excêntricos semelhantes aos da esquizofrenia, embora de intensidade moderada. O paciente poderia apresentar episódios de psicose, mas estes se diferenciavam de um quadro de esquizofrenia pois deveriam ser transitórios, durando apenas horas ou dias. O Manual reconhecia que a diferenciação entre um caso severo de transtorno de personalidade esquizotípica e esquizofrenia era difícil de ser feita. Alguns problemas estava em diferenciar uma ideação paranoide intensa de um delírio. Também poderia ser difícil diferenciar um caso de transtorno esquizotípico dos [[Pródromo (medicina)|sintomas prodromicos]] da esquizofrenia.<ref>{{citar livro|título=DSM-III|editora=American Psychiatry Association|ano=1980}}</ref>
Graças às pesquisas de Kety e seus associados, o transtorno de personalidade esquizotípica foi melhor definido e em 1980, com a publicação da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-III) substituiu o uso de termos como esquizofrenia latente, borderline ou ambulatória.<ref name=":02" /><ref>{{citar periódico |url=https://academic.oup.com/schizophreniabulletin/article/5/1/95/1943773?login=false |título=Justification for Separating Schizotypal and Borderline Personality Disorders* |data=1979 |periódico=Schizophrenia Bulletin |ultimo=Spitzel |primeiro=Robert L. |doi=10.1093/schbul/5.1.95}}</ref> Os sintomas do transtorno se assemelhavam àqueles do transtorno de personalidade esquizóide, mas com a adição de comportamentos excêntricos semelhantes aos da esquizofrenia, embora de intensidade moderada. O paciente poderia apresentar episódios de psicose, mas estes se diferenciavam de um quadro de esquizofrenia pois deveriam ser transitórios, durando apenas horas ou dias. O Manual reconhecia que a diferenciação entre um caso severo de transtorno de personalidade esquizotípica e esquizofrenia era difícil de ser feita. Alguns problemas estava em diferenciar uma ideação paranoide intensa de um delírio. Também poderia ser difícil diferenciar um caso de transtorno esquizotípico dos [[Pródromo (medicina)|sintomas prodromicos]] da esquizofrenia.<ref name=":10">{{citar livro|título=DSM-III|editora=American Psychiatry Association|ano=1980}}</ref>


Embora a conceitualização do transtorno esquizotípico tenha sido influenciada por observações feitas a respeito de pacientes com esquizofrenia e de seus familiares, atualmente existem sugestões de que o transtorno pode estar relacionado à um genótipo intermediário entre esquizofrenia e [[Transtorno bipolar|transtorno afetivo bipolar]], embora apenas nos casos onde o transtorno bipolar apresenta sintomas psicóticos.<ref>{{citar periódico |título=Schizotypal dimensions: Continuity between schizophrenia and bipolar disorders |data=2005 |periódico=Schizophrenia Research |ultimo=Schurhoff |primeiro=F |doi=10.1016/j.schres.2005.07.009}}</ref>
Embora a conceitualização do transtorno esquizotípico tenha sido influenciada por observações feitas a respeito de pacientes com esquizofrenia e de seus familiares, atualmente existem sugestões de que o transtorno pode estar relacionado à um genótipo intermediário entre esquizofrenia e [[Transtorno bipolar|transtorno afetivo bipolar]], embora apenas nos casos onde o transtorno bipolar apresenta sintomas psicóticos.<ref>{{citar periódico |título=Schizotypal dimensions: Continuity between schizophrenia and bipolar disorders |data=2005 |periódico=Schizophrenia Research |ultimo=Schurhoff |primeiro=F |doi=10.1016/j.schres.2005.07.009}}</ref>
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=== Sintomas desorganizados ===
=== Sintomas desorganizados ===
Este grupo de sintomas se referem à excentricidades encontradas no discurso e comportamento de pacientes esquizotípicos. Embora as pesquisas a respeito desse grupo de sintomas em específico ainda sejam contraditórias, a hipótese dominante é de que o discurso peculiar produzido por estes pacientes provêm dos mesmos processos dos distúrbios encontrados nas habilidades de comunicação de pacientes com esquizofrenia. Esses distúrbios na linguagem seriam caracterizados pelas chamadas 'associações soltas', um conceito inicialmente proposto por Bleuler no início do século XX e que tem sido apoiado por pesquisas modernas <ref>{{citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8918213/ |título=Loosening of Associations in Chronic Schizophrenia: Intersectionality of Verbal Learning, Negative Symptoms, and Brain Structure |data=2022 |periódico=Schizophrenia Bulletin Open |ultimo=Paul G Nestor, James J Levitt, Toshiyuki Ohtani, Dominick T Newell, Martha E Shenton e Margaret Niznikiewicz}}</ref>. Nas associações soltas, o discurso do paciente se torna vago e tangencial, por vezes fundindo duas ideias que não possuem forte semelhança em apenas uma, e aparenta ter dificuldades em limitar seu discurso ao contexto ou à um tema:<blockquote>''"Os pensamentos são subordinados à algum tipo de ideia geral, mas que não estão relacionados por um conceito unificador que indique propósito. Parece que ideias de dada categoria foram colocadas num pote, misturadas, e retiradas aleatoriamente, depois conectadas umas às outras por mera forma gramatical ou outras imagens auxiliares. Ainda sim, algumas sequencias de ideias estão ligadas por algum tipo de fio, que de toda a forma, se mostra demasiadamente frouxo para prover uma conexão que satisfaça a lógica. "'' <ref name=":8" /></blockquote>O paciente dado à 'associações frouxas' por vezes gera ligações improváveis entre uma ideia e outra, mas que atendem à algum tipo de lógica interna. Bleuler cita o exemplo de uma paciente que ao ser indagada sobre o que a palavra 'madeira' a faz recordar, respondeu: 'que meu tio estivesse vivo'. A paciente teria associado madeira com caixão, e imediatamente, com a morte de um ente querido. Por vezes, o discurso do paciente esquizotipico ou esquizofrenico pode revelar que ele está utilizando determinadas palavras mas com um significado oculto, totalmente diferente do significado atribuído ao termo.<blockquote>''"[Para o paciente] a palavra significa muitas coisas, qualquer coisa, mas não o que significa para os homens comuns. A palavra é dotada de um significado privado, pessoal e esotérico, apenas possível de ser entendido ao se estudar aquela pessoa muito cuidadosamente.''<ref>{{citar periódico |título=The Latency of Latent schizophrenia |data=1950 |periódico=Journal of Projective Techniques |ultimo=Bertram R. Forer |doi=10.1080/08853126.1950.10380331}}</ref></blockquote>
Este grupo de sintomas se referem à excentricidades encontradas no discurso e comportamento de pacientes esquizotípicos. Embora as pesquisas a respeito desse grupo de sintomas em específico ainda sejam contraditórias, a hipótese dominante é de que o discurso peculiar produzido por estes pacientes provêm dos mesmos processos dos distúrbios encontrados nas habilidades de comunicação de pacientes com esquizofrenia. Esses distúrbios na linguagem seriam caracterizados pelas chamadas 'associações soltas', um conceito inicialmente proposto por Bleuler no início do século XX e que tem sido apoiado por pesquisas modernas <ref>{{citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8918213/ |título=Loosening of Associations in Chronic Schizophrenia: Intersectionality of Verbal Learning, Negative Symptoms, and Brain Structure |data=2022 |periódico=Schizophrenia Bulletin Open |ultimo=Paul G Nestor, James J Levitt, Toshiyuki Ohtani, Dominick T Newell, Martha E Shenton e Margaret Niznikiewicz}}</ref>. Nas associações soltas, o discurso do paciente se torna vago e tangencial, por vezes fundindo duas ideias que não possuem forte semelhança. O paciente aparenta ter dificuldades em limitar seu discurso ao contexto ou à um tópico:<blockquote>''"Parece que ideias de dada categoria foram colocadas num pote, misturadas, e retiradas aleatoriamente, depois conectadas umas às outras por mera forma gramatical ou outras imagens auxiliares. Ainda sim, algumas sequencias de ideias estão ligadas por algum tipo de fio, que de toda a forma, se mostra demasiadamente frouxo para prover uma conexão que satisfaça a lógica. "'' <ref name=":8" /></blockquote>O paciente dado à 'associações frouxas' gera ligações improváveis entre uma ideia e outra, mas que por vezes atendem à algum tipo de lógica interna. Por vezes, o discurso do paciente esquizotípico ou esquizofrênico pode revelar que ele está utilizando determinadas palavras com um significado oculto, totalmente diferente do significado atribuído ao termo.<blockquote>''"[Para o paciente] a palavra significa muitas coisas, qualquer coisa, mas não o que significa para os homens comuns. A palavra é dotada de um significado privado, pessoal e esotérico, apenas possível de ser entendido ao se estudar aquela pessoa muito cuidadosamente.''<ref name=":11">{{citar periódico |título=The Latency of Latent schizophrenia |data=1950 |periódico=Journal of Projective Techniques |ultimo=Bertram R. Forer |doi=10.1080/08853126.1950.10380331}}</ref></blockquote>Estudos recentes indicam que a memória é organizada numa rede neural, e que conceitos que tenham significado semelhante são ativados antes de conceitos distantes. Por exemplo, se alguém escuta a palavra 'cachorro', seu cérebro ativará conceitos semelhantes à palavra, como "osso" ou "coleira". No entanto, palavras como "céu" e "mar" não tenderão a ser ativadas no começo pois estão mais distantes do termo "cachorro". No entanto, pacientes que exibem 'associações frouxas' possuem uma rede semântica exageradamente ativa. Quando um termo é ativado em suas mentes, não apenas os termos de significado associado são ativados, mas termos distantes também são, o que dificulta com que o paciente se prenda à um tópico ou o faça de maneira muito singular <ref>{{citar periódico |url=https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0167876009002578 |título=Abnormal inhibitory processes in semantic networks in schizophrenia |data=2010 |periódico=International Journal of Psychophysiology |ultimo=M. Niznikiewicz, M. Singh Mittal, P.G. Nestor, R.W. McCarley |doi=10.1016/j.ijpsycho.2009.10.006}}</ref>. Bleuler cita o exemplo de uma paciente que ao indagada sobre o que a palavra 'madeira' a fazia pensar, respondeu: 'que meu tio estivesse vivo'. A paciente teria associado madeira com caixão, e imediatamente, com seu familiar falecido. Devido à sua rede semântica estar mais ativa que o normal, o paciente será dado à 'associações frouxas' gera ligações improváveis entre uma ideia e outra, mas que por vezes atendem à algum tipo de lógica interna.

Por vezes, o discurso do paciente esquizotipico ou esquizofrênico pode revelar que ele está utilizando determinadas palavras com um significado oculto, totalmente diferente do significado atribuído ao termo:<blockquote>''"[Para o paciente] a palavra significa muitas coisas, qualquer coisa, mas não o que significa para os homens comuns. A palavra é dotada de um significado privado, pessoal e esotérico, apenas possível de ser entendido ao se estudar aquela pessoa muito cuidadosamente.''<ref name=":11" /></blockquote>Outros estudos sobre distúrbios na auto-expressão presentes no transtorno esquizotípico, indica que estes pacientes tendem a ter maiores dificuldades em reconhecer o uso da emoção no discurso e tendem a expressar poucas emoções quando falam e alterando pouco o tom de voz, produzindo um discurso mais monótono. <ref>{{citar periódico |url=https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0920996412005294 |título=Prosodic abnormalities in schizotypal personality disorder |data=2012 |periódico=Schizophrenia research |ultimo=Chandlee C. Dickey, Mai-Anh T. Vu, Martina M. Voglmaier, Margaret A. Niznikiewicz, Robert W. McCarley, Lawrence P. Panych |primeiro= |doi=10.1016/j.schres.2012.09.006}}</ref>


== Transtorno esquizotípico na infância ==
== Transtorno esquizotípico na infância ==
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Alguns traços de crianças diagnosticadas com transtorno esquizotípico incluem elevada dificuldade em fazer contato visual e dificuldades motoras. Estas dificuldades motoras poderiam se relacionar tanto a atividades minuciosas (e.g, letra díficil de entender) quanto complexas (e.g, dificuldades em andar de bicicleta). Essas crianças tendem a ser vistas pelas outras como estranhas, apresentam dificuldades em focar durante uma conversa e possuem um discurso muito abstrato [atendendo à idade]. Crianças esquizotípicas podem ter preocupações incomuns, como crer que outras crianças estão conspirando contra ela ou sofrerem com angústias que se originam de 'amigos imaginários'. De fato, amigos imaginários não são incomuns em crianças saudáveis, mas no caso de crianças com transtorno esquizotípico são resultado de distúrbios na percepção, como ilusões somáticas e breves alucinações auditivas <ref>{{citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4300034/ |título=The Melbourne Assessment of Schizotypy in Kids: A Useful Measure of Childhood Schizotypal Personality Disorder |data=2015 |periódico=Biomed research international |ultimo=Harvey Jones, Renee Testa, Nola Ross, Marc Seal, Christos Pantelis, e Bruce Tonge.}}</ref>
Alguns traços de crianças diagnosticadas com transtorno esquizotípico incluem elevada dificuldade em fazer contato visual e dificuldades motoras. Estas dificuldades motoras poderiam se relacionar tanto a atividades minuciosas (e.g, letra díficil de entender) quanto complexas (e.g, dificuldades em andar de bicicleta). Essas crianças tendem a ser vistas pelas outras como estranhas, apresentam dificuldades em focar durante uma conversa e possuem um discurso muito abstrato [atendendo à idade]. Crianças esquizotípicas podem ter preocupações incomuns, como crer que outras crianças estão conspirando contra ela ou sofrerem com angústias que se originam de 'amigos imaginários'. De fato, amigos imaginários não são incomuns em crianças saudáveis, mas no caso de crianças com transtorno esquizotípico são resultado de distúrbios na percepção, como ilusões somáticas e breves alucinações auditivas <ref>{{citar periódico |url=https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4300034/ |título=The Melbourne Assessment of Schizotypy in Kids: A Useful Measure of Childhood Schizotypal Personality Disorder |data=2015 |periódico=Biomed research international |ultimo=Harvey Jones, Renee Testa, Nola Ross, Marc Seal, Christos Pantelis, e Bruce Tonge.}}</ref>

== Relação com outras desordens ==

=== Transtorno de personalidade esquizóide ===
Tanto o transtorno de personalidade esquizotípica quanto o Transtorno de Personalidade Esquizóide surgiram através da definição de sujeito esquizóide feitas no inicio do século passado. No entanto, a criação da categoria "personalidade esquizotípica<nowiki>''</nowiki> representou o estreitamento da definição de Transtorno de personalidade esquizóide.

Na primeira versao do DSM, o transtorno esquizoide definia um individuo isolado e que possuía características excêntricas em sua personalidade:

"Evitam relacionamentos próximos com os outros, há inabilidade de expressar hostilidade diretamente, mesmo sentimentos hostis comuns, e pensamento autístico [...] na puberdade há introversão, quietude, associabilidade, frequentemente com excentricidade.<nowiki>''</nowiki> <ref>{{citar periódico |título=A historical account of schizophrenia proneness categories from DSM-I to DSM-5 (1952-2013) |data=2018 |periódico=Revista Latinoamericana de psicopatologia fundamental |ultimo=Arthur Maciel Nunes Gonçalves, Clarissa de Rosalmeida Dantas, Claudio E. M. Banzato, Ana Maria Galdini Raimundo Oda |doi=10.1590/1415-4714.2018v21n4p798.7}}</ref>

Na segunda edição do DSM, os fatores foram descritos de forma menos lacônica:

"O padrão de comportamento se manifesta em timidez, sensibilidade excessiva, isolamento, evitação tanto de laços sociais íntimos como de rivalidades, e muitas vezes apresenta comportamento excêntrico. Pensamento autístico e falta de capacidade de reconhecer o que é real são frequentes, assim como devaneios e a inabilidade em expressar hostilidade e sentimentos agressivos ordinários. Estes pacientes reagem à situações perturbadoras e à conflitos com aparente distanciamento" <ref>{{citar livro|título=DSM-II|editora=American Psychiatry Association|ano=1968}}</ref>

No entanto, na terceira edição do DSM, quando o transtorno esquizotípico aparece listado pela primeira vez, o transtorno de personalidade sofre uma reformulação. Os antigos sintomas de 'sensibilidade excessiva' são realocados no [[transtorno de personalidade esquiva]] e o esquizóide passa a ser descrito como 'insensível'. Da mesma forma, os sintomas de excentricidade antes relacionados ao esquizoide são retirados dos critérios diagnóstico do transtorno e reagrupados no transtorno de personalidade esquizotípica:

"A característica principal do transtorno de personalidade esquizoide é que há uma deficit na capacidade de formar relacionamentos sociais, evidenciados pela ausência de calorosidade e de sentimentos afetuosos com os demais, bem como indiferença à elogios, criticas e aos sentimentos alheios. Este diagnóstico não deve ser feito se excentricidades na fala, no comportamento ou no pensamento estão presentes [..] neste caso deve-se optar pelo diagnostico de Trantorno de Personalidade Esquizotipica."<ref name=":10" />

Os esquizóides e os esquizotípicos apresentam os mesmos aspectos de inadequação social ao evitarem relações próximas, mas o esquizotípico apresenta comportamentos vistos excêntricos, dentre uma séria de disfunções perceptivas que o aproxima mais à esquizofrenia.


==Causas==
==Causas==

Revisão das 10h48min de 21 de fevereiro de 2024

Transtorno de personalidade esquizotípica
Especialidade psiquiatria, psicologia
Classificação e recursos externos
CID-10 F21
CID-9 301.22
CID-11 18178000
MedlinePlus 001525
MeSH D012569
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O transtorno de personalidade esquizotípica (Schizotypal personality disorder) é um transtorno de personalidade do cluster A e parte do espectro da esquizofrenia.[1] É caracterizado por desordens do pensamento, ansiedade social e episódios de despersonalização.[2] Os portadores deste transtorno apresentam dificuldades em criar e manter laços sociais, comportamentos tido como excêntricos, ideias de referência e dificuldades em manter a concentração.[3][4] O discurso de um paciente esquizotípico pode ser excessivamente metafórico e difícil de acompanhar. Eles também podem apresentar quadros de mutismo, não respondendo à interação social.[4]

Origens Históricas

No início do século XX, se popularizava o termo "esquizóide" para descrever pessoas reclusas que possuíam dificuldades em criar laços sociais. A palavra "esquizóide" foi criada por Eugen Bleulerpara descrever traços de personalidade que ele frequentemente observava em familiares próximos de pacientes com esquizofrenia, segundo ele: "[são] pessoas confortavelmente insensíveis, e ao mesmo tempo, sensíveis, que perseguem propósitos vazios de maneira contida." Estas características esquizóides não estavam presentes apenas nos familiares dos pacientes, mas nos próprios pacientes, de forma ainda mais intensa: ”Se alguém observar os familiares de nossos pacientes, encontrará características qualitativamente idênticas aos dos próprios pacientes, de forma que a doença [esquizofrenia] aparenta ser apenas um aumento das anomalias vistas nos pais e irmãos [do paciente]" [5]. Embora se referisse à uma personalidade pré-mórbida, ou seja, que antecedia os sintomas iniciais de esquizofrenia, o termo "esquizóide" passou a ser usado de forma demasiadamente ampla e vaga, principalmente em contextos pedagógicos para descrever crianças que preferiam atividades solitárias. Em 1925, Ernst Kretschmer introduz o conceito de "Temperamento Esquizóide", composto por três fatores:

  1. Associal, quieto, reservado, sério, excêntrico.
  2. Tímido, sensível, nervoso, excitável, amante de livros e da natureza.
  3. Flexível, amável, honesto, indiferente, lento no pensar, silencioso.

Kretschmer enfatizava que estes indivíduos tinham poucos contatos sociais e frequentemente relatavam a sensação de que uma parede de vidro os separava da humanidade. Ele também destacava a receosidade como um traço essencial do temperamento Esquizóide: Estas pessoas sentiam a entrada de novas pessoas em sua vida como um estímulo doloroso, esmagador e desagradável. Décadas depois, o conceito de temperamento esquizóide se ampliaria e se dividiria em três perturbações de personalidade distintas, dando origem não só ao transtorno de personalidade esquizotípica como ao transtorno de personalidade esquizóide e o transtorno de personalidade esquiva. O próprio Kretschmer, no entanto, não pregava essa divisão, acreditando que o indivíduo esquizóide incorporava em si a ambivalência, por exemplo, ele não era nem apenas sensível nem insensível, mas ambos ao mesmo tempo.[6]

Eugen Bleuler também considerava a ambivalência como um traço essencial da predisposição à esquizofrenia e a categorizou como um dos três sintomas básicos do transtorno:

"Ambivalência: o paciente deseja comer e não deseja comer, ele começa a levantar a colher em direção a sua boca mas nunca termina o ato. Ele clama para ser solto e depois reage com xingamentos quando é informado que será mandado embora da instituição. As ’vozes’ ordenam que ele se afogue, e na mesma sentença, para a surpresa dele, o repreendem com desprezo por querer se afogar. Um [esquizofrênico] catatônico educado em filosofia uma vez fez a seguinte observação: 'Quando alguém expressa um pensamento, ele sempre vê o contra-pensamento, isso se intensifica e se torna tão rápido que ele nem sabe mais qual veio primeiro.’ Um outro paciente, menos sofisticado, que em resposta à uma carta muito amigável de sua esposa, escreveu uma carta de despedida, disse: 'Eu poderia muito bem ter escrito outra carta; para desejar um bom dia ou para me despedir; é tudo a mesma coisa.’"[5]

Além da ambivalência, isto é, a presença de ideias e sentimentos contraditórios, haviam dois outros sintomas básicos de esquizofrenia. Embotamento afetivo poderia ser o segundo a ser listado. Neste quadro, o paciente se tornava totalmente indiferente ao seu entorno, aparentando não se abalar com nenhum fato de sua vida e da vida de outros. O paciente perdia o senso de auto-preservação, podendo não se importar nem com situações que colocavam sua vida em risco:

"O paciente não se importa se ele está passando fome ou não, se está deitado num banco cheio de neve ou num forno quente. Durante um incêndio no hospital, um número de pacientes tiveram que ser conduzidos; eles mesmos não teriam saído de seus lugares. Doenças, ameaças, ou qualquer forma possível de mal não perturbam a paz de muitos esquizofrênicos. Eles podem escrever autobiografias inteiras sem manifestar o mínimo de emoção. Eles descrevem seu sofrimento e seus atos como se fossem um tema de física.”[5]

O outro sintoma básico da esquizofrenia se trava das 'associações frouxas' identificadas em seu discurso. O discurso do paciente assumia um carácter abstrato, por vezes completamente incoerente. Duas ideias sem relação direta tendiam a ser condensadas em apenas uma, o pensamento era gerado num fluxo demasiadamente elevado e por vezes haviam bloqueios do pensamento - o paciente parava de falar abruptamente, perdia o raciocínio de onde estava e retomava a conversa falando de um tópico sem nenhuma relação com o que estava sendo anteriormente dito, como se tudo que ele estava pensando anteriormente tivesse sido de fato varrido de sua mente.[5]

Os outros sintomas verificados em quadros de esquizofrenia, como delírios e alucinações, e que para o público leigo aparentam ser os sintomas principais de esquizofrenia, foram chamados de acessórios, isto é, poderiam ou não estar presentes. Não era necessário que os sintomas acessórios se manifestassem para que o quadro fosse caracterizado como esquizofrenia. Os sujeitos que apresentavam apenas os sintomas básicos de eram diagnosticados com 'Esquizofrenia Simples', ou seja, esquizofrenia sem sintomas psicóticos.[7][8]

Haveria também um outro grupo de pacientes que apresentava apenas os sintomas básicos, mas de forma menos severa, e estes eram chamados de esquizofrênicos latentes. Esquizofrenia latente não era de fato um quadro de esquizofrenia, mas uma condição psiquíca que tornava o paciente sujeito à desenvolver esquizofrenia no futuro, principalmente se ele passasse por situações que o desequilibrassem intimamente:

"Esquizofrenia latente não é esquizofrenia. Ao invés disso, esse diagnóstico é apenas uma previsão de que sob certas circunstâncias - que podem ser difíceis de especificar - essa pessoa demonstrará comportamento esquizofrênico. [...] Quando o esquizofrênico latente se encontra em situações em que ele é provido com pistas confiáveis e válidas de como se comportar e que exigem pouco de sua capacidade de julgar, decidir, e interpretar estímulos externos, ele pode funcionar em nível superior e parecer normal. [...] mas quando estes indivíduos são forçados a largar a proteção de situações estruturadas, seu potencial psicótico se manifesta, por exemplo, quando pessoas aparentemente normais são induzidas ao serviço militar e tem seu primeiro episódio de psicose [...]"[9]

Por vezes era difícil distinguir um quadro de esquizofrenia latente de um quadro de histeria, em vista de que o paciente apresentava sintomas severos de neurose, como ansiedade elevada, fobias, obsessões e flutuações de humor. Ainda sim, quando analisados cuidadosamente pelo terapeuta, os três sintomas básicos da esquizofrenia eram identificados.

"Um esquizofrênico latente vive sob o medo da morte; suas fobias, hipocondria, dores de cabecaa, sentimentos de inferioridade, ataques de raiva, fadiga, inabilidade em proteger a si mesmo, sua obsessão com a ordem, seu medo da propria raiva, tudo isso indica seu estado de panico. A energia investida no ego do esquizofrênico latente é insuficiente; eles frequentemente estão cansados e raramente se sentem felizes, experienciam mal humor, depressões e amargura. Eles aparentemente precisam de afeto e o desejam-o, ainda sim, evitam contato social e tem poucos amigos."[9]

Além do temperamento esquizóide e da esquizofrenia latente, diversas outras formas de predisposição à psicose foram catalogadas, e a teoria genética ganhou força com as constatações de que estes indivíduos frequentemente possuíam parentes próximos que desenvolveram esquizofrenia ou eles mesmos acabavam desenvolvendo o transtorno. A esquizofrenia pseudoneurótica foi uma dessas condições psiquícas que eram tidas como precursoras à esquizofrenia. Assim como no caso da esquizofrenia latente, o paciente pseudoneurótico apresentava sintomas de neurose severa, como ansiedade e obsessões, no entanto, os pseudoneuróticos também apresentavam sintomas de psicose, e que embora lembrassem alguns dos sintomas acessórios da esquizofrenia, tinham curta duração. Exemplos dessas manifestações pseudoneuróticas incluíam episódios onde as imaginações constantes do paciente passavam a emergir como alucinações, ou quando seus temores ansiosos evoluíam para delírios. Tais transmutações não ocorriam com neuróticos comuns nem quando eles estavam sob efeito de pânico intenso.[10] Pacientes com esquizofrenia pseudoneurótica eram marcados por uma ansiedade elevada que englobava toda sua estrutura psiquíca, e embora demonstrassem sintomas de neurose (como ansiedade social), as abordagens psicoterapêuticas comumente endereçadas à pacientes neuróticos surtiam efeito contrário, por vezes levando o paciente à episódios de psicose e tentativas de suicídio.[11][12]

As investigações acerca de desordens que se assemelhavam à esquizofrenia prosseguiram e em 1953, Slater realizou estudos com gêmeos e percebeu que indivíduos que possuíam parentesco com pacientes com esquizofrenia demonstravam mais traços de paranoia, excentricidade, personalidade reservada e falta de sentimentos. No mesmo ano, Sandor Rado propôs o nome ’esquizotípico’ como uma junção de ’esquizofrenia’ e ’genótipo’ para definir esse grupo de indivíduos. Os sintomas esquizotípicos eram marcados pela ausência da capacidade de sentir prazer. Desta déficit surgiam o medo excessivo e a desorganização que mais tarde poderia evoluir para sintomas mais severos de esquizofrenia.[13]

Baseados na definição de esquizofrenia latente, transtorno de personalidade esquizóide, esquizofrenia pseudoneurótica e no diagnóstico do transtorno de personalidade inadequada (que não é mais utilizado atualmente), Kety e outros psiquiatras dinamarqueses iniciaram estudos sobre a geneticidade de transtornos do espectro da esquizofrenia. A intenção era demonstrar que os traços esquizotípicos eram uma questão genética muito antes de ser uma questão socioambiental. Os resultados dos estudos demonstraram que a esquizofrenia era mais de cinco vezes mais comum nas famílias biológicas de pacientes esquizofrênicos do que nas adotivas. Ao mesmo tempo, as famílias biológicas de pacientes com esquizofrenia exibiam mais traços esquizotípicos do que esquizofrenia em si. Isto também era favorável à ideia de que a esquizofrenia é um espectro.[14]

Graças às pesquisas de Kety e seus associados, o transtorno de personalidade esquizotípica foi melhor definido e em 1980, com a publicação da terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-III) substituiu o uso de termos como esquizofrenia latente, borderline ou ambulatória.[10][15] Os sintomas do transtorno se assemelhavam àqueles do transtorno de personalidade esquizóide, mas com a adição de comportamentos excêntricos semelhantes aos da esquizofrenia, embora de intensidade moderada. O paciente poderia apresentar episódios de psicose, mas estes se diferenciavam de um quadro de esquizofrenia pois deveriam ser transitórios, durando apenas horas ou dias. O Manual reconhecia que a diferenciação entre um caso severo de transtorno de personalidade esquizotípica e esquizofrenia era difícil de ser feita. Alguns problemas estava em diferenciar uma ideação paranoide intensa de um delírio. Também poderia ser difícil diferenciar um caso de transtorno esquizotípico dos sintomas prodromicos da esquizofrenia.[16]

Embora a conceitualização do transtorno esquizotípico tenha sido influenciada por observações feitas a respeito de pacientes com esquizofrenia e de seus familiares, atualmente existem sugestões de que o transtorno pode estar relacionado à um genótipo intermediário entre esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar, embora apenas nos casos onde o transtorno bipolar apresenta sintomas psicóticos.[17]

Estrutura do Transtorno

Os sintomas do transtorno esquizotípico são usualmente organizados em três domínios diferentes: Disfunções cognitivo-perceptuais, déficits interpessoais e sintomas desorganizados. Há também sugestões de que o transtorno apresenta uma estrutura dividida em dois ou mesmo quatro domínios. O método de três domínios continua sendo, no entanto, o mais aceito, especialmente pois coincide com a organização feita com os sintomas de esquizofrenia.[18]

Disfunções cognitivo-perceptuais

Esquizotípicos têm auto-consciência diminuta e sentimentos de não perticimento. Muitos apresentam ilusões onde sentem que eles mesmos não existem ou que eles já morreram. Também podem crer que seus próprios pensamentos na verdade são de outro, ou que uma parte de sua mente foi furtada. Estes indivíduos apresentam episódios de ilusões somáticas variadas. Alguns exemplos incluem sentir que partes do seu corpo foram amputadas ou sentir seus órgãos apodrecendo.[4] Estes pacientes vivenciam a chamada despersonalização somatopsiquíca, que é o sentimento crescente de estarem distanciados do próprio corpo. Alguns pacientes relatam que sentem a mente e o corpo como duas entidades distintas ou que sentem partes do seu corpo se tornando completamente dormentes, como se deixassem de existir. Outros podem vivenciar o corpo não como um local onde seu Eu está integrado, mas um ente quase tão externo à si quanto um objeto.[19] Assim como pacientes com esquizofrenia, indivíduos esquizotípicos apresentam dificuldade em processar informações relacionadas à própria identidade, um exemplo disso é que em ambos os grupos existe uma marcada tendência à reconhecer rostos de outras pessoas antes de retratos de si mesmos, enquanto na população normal a tendencia é inversa.[20] Pacientes esquizotípicos apresentam ideias de referência, ou seja, creem que eventos não relacionados estão direcionados à ele e possuem significado importante em suas vidas, seja este positivo ou negativo. Exemplos incluem sentir que um radialista está falando diretamente para ele em tom de ameaça ou que artigos escritos em jornais possuem significados ocultos que o paciente pode usar para guiar suas próximas ações. Além das ideias de referência, o paciente pode apresentar crenças inusuais, como crer que possui poderes extrassensoriais e pode prever eventos futuros.[21] Indivíduos com traços esquizotípicos tendem à atribuir capacidades mentais à seres que normalmente não são vistos como dotados de raciocínio, por exemplo, estes indivíduos podem interpretar objetos inanimados como entes possuídores de vontades e desejos. Esquizotípicos tendem a enxergar a presença de consciência onde não há e essas distorções na percepção podem justificar a presença de suas ideias excentricas.[22] Outro sintoma característico é a presença de pensamentos mágicos, que é a crença que determinadas palavras ou ações simples podem alterar a realidade externa de uma maneira que desafia as leis usuais de causa e efeito. Exemplos incluem crer que lavar as mãos três vezes livrará sua família de problemas financeiros ou que repetir determinada palavra sempre que escutá-la o livrará de situações perigosas. Pensamentos mágicos não são exclusivos do transtorno esquizotípico, ocorrendo frequentemente em desordens como o transtorno obsessivo compulsivo.[23]

Déficits interpessoais

Pacientes esquizotípicos frequentemente não possuem amigos, tem dificuldade em terminar o ensino superior, menores probabilidades de se integrar de forma independente à sociedade e frequentemente ocupam profissões marginalizadas e que oferecem pouca remuneração financeira.[24][2] Em seus modos sociais, esquizotípicos desconfiam excessivamente dos outros, se isolam e se sentem desconfortáveis quando forçados a interagir. Estes indivíduos apresentam um quadro severo de ansiedade social.[25] Não se trata, no entanto, de um caso clássico da fobia social pois ele experimentará uma gama de distorções cognitivas.[26] Uma forma de exemplificar é que um paciente que possui fobia social mas não possui transtorno esquizotípico sentirá-se ansioso em público ou com a ideia de estar em público, intuindo ser alvo de julgamentos e humilhações. Estes sintomas se agravam diante de situações socialmente ambíguas, como quando o paciente escuta um grupo de pessoas rindo próximo à ele e se angustia por presumir que ele está sendo alvos dos comentários. Devido a suas ideias de referência, no entanto, o paciente esquizotípico se angustiará com atos que não são socialmente ambíguos, como ações simples e até involuntárias, além disso, sua tensão social se mesclará com seus outros pensamentos excêntricos. Por exemplo, um paciente esquizotípico poderá sentir que uma pessoa bocejando ao seu lado realizou este ato para hostilizá-lo, ou que pessoas desconhecidas podem ler seus pensamentos e estão o julgando baseadas nisso. Estas percepções tenderão a se tornar ideações mais elaboradas, como sentir que todos os ciclistas que passam na rua estão o vigiando ou que todas as pessoas que passaram dentro de um ônibus estão comentando negativamente sobre ele.[21] Este quadro poderá se mostrar particularmente severo, com consequências que variam entre impedir que o paciente se integre à comunidade ou fazer com que ele tenha dificuldades em realizar ações corriqueiras, como sair de casa, devido ao seu número elevado de temores.[27] A presença de ansiedade social com ideias de referência pode acontecer com pessoas que possuam transtornos fora do espectro da esquizofrenia, mas é raro e mais moderado.[28] Esquizotípicos apresentam baixa autoestima e sentimentos frequentes de inferioridade, sendo o transtorno de personalidade esquiva uma comorbidade comum (estima-se que 48% dos esquizotípos preencham os critérios do diagnóstico de personalidade esquiva).[29] Para o observador externo estes indivíduos aparentam ser insensiveis e distantes, eles sofrem de anedonia e são altamente suscetíveis à quadros de depressão (estima-se que 66% dos pacientes esquizotípicos preencham os critérios para depressão maior).[30] Há maior prevalência de uso de substancias e tentativas de suicídio.[31] Por serem vistos como estranhos, esquizotípicos estão propensos a vivenciar situações sociais onde são ignorados ou hostilizados e em razão disto estes indivíduos podem passar a encarar o contato social como um evento que apenas serve para puni-los.[4] Esquizotípicos demoram a reconhecer expressões faciais e tendem a interpretá-las incorretamente, confundindo expressões neutras com raivosas e hostis. Da mesma forma, esquizotípicos possuem dificuldades com suas próprias expressões faciais, comumente apresentam expressões ambíguas onde a emoção pretendida não é identificável, gerando sentimentos de estranheza nos observadores externos.[32][33] Frequentemente estes pacientes não mudam suas expressões faciais ou as fazem de forma pouco natural. Também podem não fazer contato visual e não sorrir mesmo quando solicitados.[13] Apesar de encontrarem dificuldade em se portar adequadamente, pacientes esquizotípicos são geralmente capazes de categorizar o comportamento de outros como socialmente adequado ou inadequado. Sua déficit está na capacidade de implementar estas normas de adequação em si mesmos.[34] Esta capacidade de perceber que seus pensamentos são considerados socialmente inadequados pode aumentar sua tendência ao isolamento, pois podem se sentir angustiados com a falta de identificação que os outros tem com ele e vice-versa.[19]

Sintomas desorganizados

Este grupo de sintomas se referem à excentricidades encontradas no discurso e comportamento de pacientes esquizotípicos. Embora as pesquisas a respeito desse grupo de sintomas em específico ainda sejam contraditórias, a hipótese dominante é de que o discurso peculiar produzido por estes pacientes provêm dos mesmos processos dos distúrbios encontrados nas habilidades de comunicação de pacientes com esquizofrenia. Esses distúrbios na linguagem seriam caracterizados pelas chamadas 'associações soltas', um conceito inicialmente proposto por Bleuler no início do século XX e que tem sido apoiado por pesquisas modernas [35]. Nas associações soltas, o discurso do paciente se torna vago e tangencial, por vezes fundindo duas ideias que não possuem forte semelhança. O paciente aparenta ter dificuldades em limitar seu discurso ao contexto ou à um tópico:

"Parece que ideias de dada categoria foram colocadas num pote, misturadas, e retiradas aleatoriamente, depois conectadas umas às outras por mera forma gramatical ou outras imagens auxiliares. Ainda sim, algumas sequencias de ideias estão ligadas por algum tipo de fio, que de toda a forma, se mostra demasiadamente frouxo para prover uma conexão que satisfaça a lógica. " [5]

O paciente dado à 'associações frouxas' gera ligações improváveis entre uma ideia e outra, mas que por vezes atendem à algum tipo de lógica interna. Por vezes, o discurso do paciente esquizotípico ou esquizofrênico pode revelar que ele está utilizando determinadas palavras com um significado oculto, totalmente diferente do significado atribuído ao termo.

"[Para o paciente] a palavra significa muitas coisas, qualquer coisa, mas não o que significa para os homens comuns. A palavra é dotada de um significado privado, pessoal e esotérico, apenas possível de ser entendido ao se estudar aquela pessoa muito cuidadosamente.[36]

Estudos recentes indicam que a memória é organizada numa rede neural, e que conceitos que tenham significado semelhante são ativados antes de conceitos distantes. Por exemplo, se alguém escuta a palavra 'cachorro', seu cérebro ativará conceitos semelhantes à palavra, como "osso" ou "coleira". No entanto, palavras como "céu" e "mar" não tenderão a ser ativadas no começo pois estão mais distantes do termo "cachorro". No entanto, pacientes que exibem 'associações frouxas' possuem uma rede semântica exageradamente ativa. Quando um termo é ativado em suas mentes, não apenas os termos de significado associado são ativados, mas termos distantes também são, o que dificulta com que o paciente se prenda à um tópico ou o faça de maneira muito singular [37]. Bleuler cita o exemplo de uma paciente que ao indagada sobre o que a palavra 'madeira' a fazia pensar, respondeu: 'que meu tio estivesse vivo'. A paciente teria associado madeira com caixão, e imediatamente, com seu familiar falecido. Devido à sua rede semântica estar mais ativa que o normal, o paciente será dado à 'associações frouxas' gera ligações improváveis entre uma ideia e outra, mas que por vezes atendem à algum tipo de lógica interna. Por vezes, o discurso do paciente esquizotipico ou esquizofrênico pode revelar que ele está utilizando determinadas palavras com um significado oculto, totalmente diferente do significado atribuído ao termo:

"[Para o paciente] a palavra significa muitas coisas, qualquer coisa, mas não o que significa para os homens comuns. A palavra é dotada de um significado privado, pessoal e esotérico, apenas possível de ser entendido ao se estudar aquela pessoa muito cuidadosamente.[36]

Outros estudos sobre distúrbios na auto-expressão presentes no transtorno esquizotípico, indica que estes pacientes tendem a ter maiores dificuldades em reconhecer o uso da emoção no discurso e tendem a expressar poucas emoções quando falam e alterando pouco o tom de voz, produzindo um discurso mais monótono. [38]

Transtorno esquizotípico na infância

Desenho feito por uma criança de oito anos diagnosticada com transtorno esquizotípico retratando 'as vozes e os monstros', bem como seu desejo de "empurrá-los de volta para os pensamentos e memórias".

Apesar de geralmente diagnosticado em jovens adultos, o transtorno esquizotípico pode ser diagnosticado em crianças com idades entre 5 e 12 anos. O diagnóstico não costuma ser feito, no entanto, devido a profissionais optarem por um diagnóstico de autismo, o que ofusca a presença de casos registrados de transtorno esquizotípico. De fato, autismo e transtorno esquizotípico possuem alguns sintomas semelhantes, especialmente no que se refere à dificuldades em integração social. Também tem semelhança com casos de esquizofrenia infantil, mas os casos de transtorno esquizotípico possuem severidade flutuante e são agravados com o stress [39]. Estudos realizados com indivíduos diagnosticados com transtorno esquizotípico revelam que adultos com transtorno esquizotípico comumente foram crianças extremamente sensíveis à críticas, sérias e socialmente desengajadas. Há suposições de que a elevada sensibilidade ao criticismo presente em crianças esquizotípicas ou pré-esquizotípicas reflita o fato de que um adulto esquizotípico possui elevada ansiedade social. [40]

Alguns traços de crianças diagnosticadas com transtorno esquizotípico incluem elevada dificuldade em fazer contato visual e dificuldades motoras. Estas dificuldades motoras poderiam se relacionar tanto a atividades minuciosas (e.g, letra díficil de entender) quanto complexas (e.g, dificuldades em andar de bicicleta). Essas crianças tendem a ser vistas pelas outras como estranhas, apresentam dificuldades em focar durante uma conversa e possuem um discurso muito abstrato [atendendo à idade]. Crianças esquizotípicas podem ter preocupações incomuns, como crer que outras crianças estão conspirando contra ela ou sofrerem com angústias que se originam de 'amigos imaginários'. De fato, amigos imaginários não são incomuns em crianças saudáveis, mas no caso de crianças com transtorno esquizotípico são resultado de distúrbios na percepção, como ilusões somáticas e breves alucinações auditivas [41]

Relação com outras desordens

Transtorno de personalidade esquizóide

Tanto o transtorno de personalidade esquizotípica quanto o Transtorno de Personalidade Esquizóide surgiram através da definição de sujeito esquizóide feitas no inicio do século passado. No entanto, a criação da categoria "personalidade esquizotípica'' representou o estreitamento da definição de Transtorno de personalidade esquizóide.

Na primeira versao do DSM, o transtorno esquizoide definia um individuo isolado e que possuía características excêntricas em sua personalidade:

"Evitam relacionamentos próximos com os outros, há inabilidade de expressar hostilidade diretamente, mesmo sentimentos hostis comuns, e pensamento autístico [...] na puberdade há introversão, quietude, associabilidade, frequentemente com excentricidade.'' [42]

Na segunda edição do DSM, os fatores foram descritos de forma menos lacônica:

"O padrão de comportamento se manifesta em timidez, sensibilidade excessiva, isolamento, evitação tanto de laços sociais íntimos como de rivalidades, e muitas vezes apresenta comportamento excêntrico. Pensamento autístico e falta de capacidade de reconhecer o que é real são frequentes, assim como devaneios e a inabilidade em expressar hostilidade e sentimentos agressivos ordinários. Estes pacientes reagem à situações perturbadoras e à conflitos com aparente distanciamento" [43]

No entanto, na terceira edição do DSM, quando o transtorno esquizotípico aparece listado pela primeira vez, o transtorno de personalidade sofre uma reformulação. Os antigos sintomas de 'sensibilidade excessiva' são realocados no transtorno de personalidade esquiva e o esquizóide passa a ser descrito como 'insensível'. Da mesma forma, os sintomas de excentricidade antes relacionados ao esquizoide são retirados dos critérios diagnóstico do transtorno e reagrupados no transtorno de personalidade esquizotípica:

"A característica principal do transtorno de personalidade esquizoide é que há uma deficit na capacidade de formar relacionamentos sociais, evidenciados pela ausência de calorosidade e de sentimentos afetuosos com os demais, bem como indiferença à elogios, criticas e aos sentimentos alheios. Este diagnóstico não deve ser feito se excentricidades na fala, no comportamento ou no pensamento estão presentes [..] neste caso deve-se optar pelo diagnostico de Trantorno de Personalidade Esquizotipica."[16]

Os esquizóides e os esquizotípicos apresentam os mesmos aspectos de inadequação social ao evitarem relações próximas, mas o esquizotípico apresenta comportamentos vistos excêntricos, dentre uma séria de disfunções perceptivas que o aproxima mais à esquizofrenia.

Causas

Teoria genética

Embora listado no Eixo II da última edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-IV-TR), o transtorno de personalidade esquizotípica é geralmente compreendido como um transtorno do espectro da esquizofrenia. Está classificado no CID-10 na seção "esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes" não como um transtorno de personalidade e sim como uma versão mais moderada de esquizofrenia.[44] Indivíduos diagnosticados com transtorno esquizotípico são muito mais comuns em famílias com pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, transtornos do espectro da esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar com sintomas psicóticos.[29] O transtorno de personalidade esquizotípica é um "fenótipo estendido" que ajuda os geneticistas a rastrear a transmissão genética ou familiar dos genes que estão implicados na esquizofrenia.[45]

Existem vários estudos demonstrando que indivíduos com transtorno de personalidade esquizotípica obtém resultados de maneira parecida àqueles com esquizofrenia em uma larga variedade de testes neurofisiológicos. Déficits cognitivos em pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica são muito semelhantes, só que mais moderados, àqueles com esquizofrenia.[46]

Aspectos sociais / ambientais

Pessoas com transtorno de personalidade esquizotípica, assim como pacientes com esquizofrenia, podem ser bem sensíveis a críticas pessoais e hostilidade, e existem evidências que atualmente sugerem que certos modos de educação familiar, separação precoce, e negligência infantil podem levar ao desenvolvimento de traços esquizotípicos.[47][48] Múltiplas formas de abuso infantil e sintomas de stress pós-traumático são associados com altos níveis de esquizotipia e sintomas de personalidade esquizotípica.[49] Pacientes com transtorno de personalidade esquizotípica (bem como pacientes com transtorno de personalidade borderline) comumente sofreram tipos mais variados de trauma em comparação com pacientes com depressão e outros transtornos de personalidade.[50] Indivíduos com traços esquizotípicos representam maior vulnerabilidade a apresentar pensamentos intrusivos relacionados à eventos traumáticos.[51][52]

Neurodesenvolvimento

Há evidências crescentes de que o transtorno esquizotípico se trata de uma desordem do neurodesenvolvimento, e que eventos pré e pós-natais podem resultar no seu aparecimento, como por exemplo, exposições à influenza e à baixas temperaturas no quinto e sexto mês de gestação.[53] Na China, indivíduos que foram expostos à terremotos de alta intensidade durante o sexto mês de gestação tinham maior presença de traços esquizotípicos na idade adulta, o que sugere que o stress pré-natal é um fator para o desenvolvimento do transtorno.[54] Nos Estados Unidos, foi identificado que adolescentes diagnosticados com o transtorno frequentemente possuíam anomalias físicas menores, refletindo o mal desenvolvimento nos primeiros semestres de gestação.[55] Má nutrição durante a gestação, complicações no parto e falta de amamentação foram também associadas à prevalência do transtorno.[56][57]

Neuroquímica

Distúrbios relacionados ao níveis de cortisol foram observados em indivíduos esquizotípicos, tanto adultos quanto adolescentes.[55] Estes níveis elevados de cortisol contribuem para a tendencia aos sentimentos de stress experienciados por estes indivíduos, da mesma forma, níveis anormais de cortisol podem ser sequelas de seus danos psicossociais e traumas experienciados no começo da vida e contribuem para o mal funcionamento do hipocampo.[58]

Critérios de diagnóstico

Distorções perceptivas e cognitivas podem levar a ilusões somáticas como sensação de sufocamento, tonturas, náuseas, manchas e sensações táteis (Critério 3 do DSM-IV).

O diagnóstico é baseado nas experiências reportadas pelo paciente, como também marcadores do transtorno observados por um profissional da saúde mental. A lista de critérios, que precisam ser alcançados para o diagnóstico, está descrita no DSM-V.

Critérios do DSM-V

A última versão do DSM define o transtorno de personalidade esquizotípica[59] como: "Um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos".

Os critérios são (pelo menos cinco):

  1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência).
  2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras).
  3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais.
  4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado).
  5. Desconfiança ou ideação paranoide.
  6. Afeto inadequado ou constrito.
  7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar.
  8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.
  9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo.

O transtorno não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista. Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, é caracterizado como "“transtorno da personalidade esquizotípica (pré-morbido)”.

Critérios da CID-10

A CID-10 da Organização Mundial de Saúde define o transtorno de personalidade esquizotípica[60] como transtorno esquizotípico, na categoria F21. - e de forma semelhante ao DSM-V (com a diferença que no CID-10 é classificado como transtorno mental associado com a esquizofrenia, ao invés de um transtorno de personalidade como no DSM-V, que é algo controverso).[61]

Segundo a CID-10, são necessários pelo menos 4 destes sintomas, manifestados por um período de pelo menos dois anos, contínua ou repetidamente (e o paciente nunca deve preencher os critérios para algum transtorno na categoria F20, de esquizofrenia):

  1. Afeto inapropriado ou restrito, o indivíduo parece frio e indiferente;
  2. Comportamento ou aparência estranhos, excêntricos ou peculiares;
  3. Relacionamento pobre com outros e uma tendência ao retraimento social;
  4. Crenças estranhas ou pensamento mágico influenciando o comportamento e inconsistente com normas subculturais;
  5. Suspeita ou ideias paranoides;
  6. Ruminações sem resistência interna, muitas vezes com conteúdo dismorfofóbico, sexual ou agressivo;
  7. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões somato sensórias (corporais) ou outras, despersonalização ou fuga de realidade;
  8. Pensamento vago, circunstancial, metafórico, super elaborado ou muitas vezes estereotipado, manifesto por fala estranha ou de outros modos, sem incoerência grosseira;
  9. Episódios ocasionais transitórios quase psicóticos com ilusões intensas, alucinações auditivas ou outras e ideias semelhantes a delírios, geralmente ocorrendo sem provocação externa;

Exclui: Síndrome de Asperger e Transtorno de personalidade esquizóide. Não ocorre exclusivamente durante o curso de Esquizofrenia, Transtorno do Humor Com Aspectos Psicóticos, outro Transtorno Psicótico ou um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento.

O transtorno de personalidade esquizotípica segue um curso crônico com flutuações de intensidade. Ocasionalmente, ela evolui para esquizofrenia franca. Não há um indício definido, e sua evolução e curso são usualmente aqueles de um transtorno de personalidade.

Orientações Diagnósticas

Este diagnóstico não é recomendado para uso geral porque não é claramente demarcado seja da esquizofrenia simples ou dos transtornos de personalidade esquizóide ou paranóide. Se o termo é utilizado, três ou quatro características listadas acima devem estar presentes, de maneira contínua ou episódica, por pelo menos 2 anos. O indivíduo nunca deve ter preenchido os critérios para esquizofrenia. Um histórico de esquizofrenia em parentes de primeiro-grau reforça o diagnóstico mas não é um pré-requisito.

Comorbidades comuns

É comum que também ocorra simultaneamente com sintomas de outros transtornos de personalidade como o transtorno de personalidade esquiva, transtorno de personalidade paranóide e transtorno de personalidade borderline.[30]

Prevalência

O transtorno de personalidade esquizotípica ocorre em 2% da população geral e é um pouco mais comum em homens.[29]

Tratamento

Caso não seja tratado, o distanciamento social tende a aumentar, a habilidade de se comunicar adequadamente diminuem, as alucinações podem se tornam mais frequentes e cada vez mais ameaçadoras passando a ser caracterizado como esquizofrenia.[62]

Frequentemente eles buscam terapia para transtornos afetivos, ansiosos ou sociais, sendo o mais comum depressão maior (cerca de 30 a 50% dos casos).[63]

O terapeuta não deve desafiar e contrariar diretamente as crenças e pensamentos socialmente inadequados. Primeiro ele deve oferecer um ambiente acolhedor, solidário e dar atenção ao paciente procurando estabelecer um sentimento de confiança e segurança, pois trata-se de um indivíduo que carece de um sistema adequado de apoio social e normalmente não consegue estabelecer interações sociais saudáveis por causa de ansiedade extrema e por possuir pouca experiência formando amizades duradouras.[64] Muitas vezes o paciente relata sensação de ser "diferente" e não se "encaixar" com os outros com facilidade, geralmente por causa de suas crenças e hábitos não compartilhados socialmente. A terapia é difícil e os resultados demoram a aparecer.

Treinamento de habilidades sociais e outras abordagens comportamentais que enfatizam a aprendizagem das noções básicas das relações sociais e interações sociais podem ser benéficas. Deve-se ensinar o paciente a questionar suas próprias crenças e a buscar evidências sólidas para sustentá-las. Para isso o terapeuta pode se mostrar interessado e disposto a acreditar nas mesmas crenças do paciente desde que ele produza evidências, estimulando-o assim a fazer testes de realidade e questionando de forma educada se aquelas evidências são a explicação mais provável ou se existem outras possibilidades e explicações possíveis. Terapia em grupo pode ser útil para estimular o treino de habilidades sociais, porém a desconfiança e suspeitas podem tornar ajuda em grupo e dinâmicas ineficientes ou até prejudiciais.[64]

Durante períodos estressantes em que ocorram alucinações e delírios constantes, indicando excesso de estimulação neurológica por neurotransmissores, antipsicóticos podem servir para estabilizar o sistema dopaminérgico.[65] Antidepressivos também podem ajudar a controlar a ansiedade, desânimo, melhorando o humor e assim diminuir a frequência de pensamentos desagradáveis recorrentes e incontroláveis de medo e angústia.

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