Clítoris

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Clitóris

A anatomia do clitóris
Detalhes
Vascularização Artéria dorsal do clitóris
Inervação Nervo dorsal do clitóris
Precursor Tubérculo genital
Identificadores
Gray pág.1266
MeSH Clitoris

Clitóris ou clítoris[1] (do grego κλειτορἰς - kleitorís) é, na anatomia, o nome que se dá ao órgão sexual feminino alongado e erétil, localizado na parte superior da vulva, nos mamíferos. Similar ao pénis, que é homólogo[2] ao clitóris - este, porém, não possui a divisão distal que aquele apresenta para a uretra e tem função exclusivamente no prazer sexual, normalmente nos humanos (a única exceção nesta conformação anatômica ocorre com a hiena-malhada: nesta espécie, o sistema urogenital é único, possuindo um grande clitóris, chamado de pseudopénis, que tem o canal urinário e as vias sexuais e reprodutivas).[3]

Descoberta

A descoberta desta região é normalmente atribuída ao professor de anatomia e cirurgia da Universidade de Pádua Mateo Realdo Colombo (1516-1559)[4], quando Colombo publicou e o denominou de "prazer de Vénus", mas ele é questionado como descobridor por Kasper Bartholin, no século XVII, que afirma que ele já era conhecido desde o século II a.C..

Estrutura

Durante o desenvolvimento dos órgãos urinários e reprodutores na embriogénese, a genitália indiferenciada é chamada de falo e pode se desenvolver e dar origem ao clitóris ou ao pênis, o que os torna homólogos, assim como os grandes lábios são homólogos do saco escrotal.

A cabeça ou glande do clitóris apresenta normalmente 8000 feixes de fibras nervos (nervo dorsal do clitoris), tendo aproximadamente o dobro do número de fibras nervosas encontradas na pele do pênis.[5] É preenchido internamente por tecido vascular, envolvido pelo músculo isquio -cavernoso. Na parte externa, é revestido por uma mucosa fina. O ápice do clitóris é bulboso, chamado de glande (glans clitoridis, em alusão à glande do pênis dos homens), onde se encontra a maior parte dos terminais nervosos responsáveis pela sensação de prazer.

O clitóris é uma estrutura complexa que inclui componentes internos e externos. Visível está o capuz de clitóris (prepúcio), que cobre totalmente ou em parte a cabeça (glande clitoridiana) quando este está em repouso. Dentro do corpo estão os crus clitoris (crura) que são constituídos por dois corpos cavernosos que se unem formando o corpo do clitóris.A uretra esponjosa, bulbo clitoridiano (anteriormente designada por vestíbulo bulbar) e períneo esponjosa, de uma rede de nervos e vasos sanguíneos, ligamentos suspensivos, músculo e diafragma pélvico.As estruturas perineais estão interligadas no que se refere à estimulação sensitiva estendendo-se desde a frente da junção dos pilares (crura) das bordas dos lábios externo (grandes lábios), que se reúnem na base do monte púbico ao frenulum labiorum pudendi, junção posterior dos pequenos lábios.[4] Nos seres humanos, a região da coluna, após a glande clitorial, estende-se vários centímetros para cima e em direção à parte traseira, em frente da divisão da crus do clitóris, que tem forma de um "V" invertido, esta crus estende-se na profundidade, ao longo dos 2 ramos isquio-pubicos da bacia.

A estrutura do clitóris é responsável pela sua ereção em ocasiões de excitação sexual. Deste modo, a glande do clitóris pode emergir do prepúcio e torna-se mais acessível ao toque.

Masters e Johnson foram os primeiros a determinar que a estrutura do clitóris rodeia e estende-se ao longo da vagina, assim determinaram que todos os orgasmos são de origem clitorial. Mais recentemente, a urologista australiana Dr. Helen O'Connell, utilizando a tecnologia MRI, notou que existe uma relação direta entre as crus clitoris (crura ou pernas ou raízes do clitóris) e o tecido erétil do bulbos clitorial e corpo, e distais uretra e vagina.[6] Ela afirma que esta relação de interligação é a explicação fisiológica para o ponto G e a experiência do orgasmo vaginal, tendo em vista a estimulação das partes internas do clitóris durante a penetração da vagina.[7]

Durante a relação sexual humana, a estimulação e o orgasmo, o clitóris e toda a genitália ficam túrgidos e mudam de cor quando estes tecidos eréteis enchem com sangue, e experimentam contrações vaginais. Masters e Johnson documentada a ciclo resposta sexuais, que tem quatro fases e ainda é o clinicamente aceito como definição do orgasmo humano, dividido em: fase de excitação, fase de platô, fase do orgasmo e fase de resolução. Investigação mais recente determinou que alguns podem experimentar uma orgasmo prolongado intenso através da estimulação do clitóris e permanecem na fase do orgasmo por muito mais tempo do que os estudos originais indicaram, evidenciado pela turgência genital, mudança de cor, e contrações vaginais.

Vulva:
1) Capuz clitorial (prepúcio)
2) Clítoris
Foto de um clítoris humano
Clitóris,
e também:
Pequenos lábios (labia minora),
Uretra,
Glândula de Skene,
Vagina,
Glândula de Bartholin.

De acordo com um artigo publicado em 6 de outubro de 2014 na revista científica Clinical Anatomy,[8] que discute a terminologia, o clitóris interna não existe: o clitóris é um órgão externo. O clitóris não é composto por dois arcos, mas por glande, o corpo, e crura. "Bulbos do clitóris" é um termo incorreto do ponto de vista embriológico e anatômico: o termo correto é "bulbos vestibulares." Os músculos bulbocavernoso estão implicados no vaginismo inferior, enquanto que o músculo pubovaginal é responsável para o vaginismo superior. O complexo do clítoris ou clitóris-uretra vaginal não tem suporte embriológico, anatômico e fisiológico: a vagina não tem relação anatômica com o clitóris, e o clitóris é um órgão perineal enquanto o suposto ponto G é na uretra pélvica. Os orgasmos do ponto G/vaginal/clitoriano, são termos incorretos: assim como "orgasmo masculino" é o termo correto, "orgasmo feminino" é o termo correto. Além disso, a ejaculação feminina, ejaculação precoce, Transtorno da Excitação Genital Persistente (PGAD), glândulas periuretrais, componente genito sensorial vaginal-cervical do nervo vago, e amplificação do ponto G, são termos sem base científica. A satisfação sexual feminina é baseada em orgasmo: em todas as mulheres, o orgasmo é sempre possível se os órgãos eréteis femininos, ou seja, o pênis feminino, são efetivamente estimulado durante a masturbação, cunnilingus (sexo oral), masturbação pelo parceiro, ou durante a relação sexual vaginal/anal, se o clitóris é simplesmente estimulada com um dedo.

Origem do clitóris

Desenvolvimento da genitália externa. A: Desenvolvimento em comum. C,E: Desenvolvimento masculino. B,D, F: Desenvolvimento feminino

Pesquisadores têm se dedicado a estudar as origens ontogenéticas dos órgãos sexuais masculinos e femininos, observando seu desenvolvimento desde o embrião até à puberdade. Os estudos apontaram uma homologia, ou seja, uma origem comum entre pênis e clitóris.

No início do desenvolvimento do embrião, suas células ainda indiferenciadas são influenciadas pelos hormônios maternos, direcionando o desenvolvimento do corpo dos embriões masculinos e femininos para uma forma feminina. Num estágio imediatamente anterior à diferenciação sexual, a região que se tornara a genitália externa apresenta os grandes lábios e a saída da uretra e o falo, ainda neste estado não há a entrada do canal vaginal, assim como o próprio canal vaginal. Somente quando as gônadas masculinas são formadas e começam a produzir testosterona é que o falo começa a se desenvolver e ocorre o processo de criação da uretra para dar origem ao órgão sexual masculino e os grandes lábios se fusionam para dar origem ao saco escrotal. Ou seja, é basicamente pela influência de um hormônio que existe diferenciação sexual entre homens e mulheres no início de seu desenvolvimento. Quando ocorre a diferenciação em gônadas femininas o falo não se desenvolve e há a criação do canal vaginal.

O clitóris em outras espécies

O clitóris, como descrito acima, só é conhecido em mamíferos, embora outros grupos de animais possam apresentar estruturas análogas. Em muitas espécies de mamíferos, o clitóris não apresenta uma função evidente ligada ao sexo, visto que nessas espécies não é detetado o orgasmo nas fêmeas. Em hienas, por exemplo, o clitóris é tão grande quanto o pênis dos machos, e durante a cópula, a fêmea sente dores intensas ao passo que seu clitóris sofre lacerações. Em muitas espécies, o clitóris é pequeno ou quase inexistente. Em baleias, pode chegar a 8 centímetros de comprimento. Em algumas espécies, sobretudo em marsupiais, o clitóris apresenta duas glandes. Em gatos e civetas, o clitóris é sustentado por um pequeno osso, que o torna rígido e semelhante a um pênis.

Função evolutiva

Em seres humanos, o clitóris é especialmente sensível, e assume função importante durante o ato sexual. O prazer ligado ao sexo é um mecanismo evolutivo que favorece a reprodução, oferecendo o orgasmo como recompensa ao ato sexual. Nas mulheres, o clitóris é uma das estruturas envolvidas diretamente na penetração capazes de causar orgasmo (a outra, interna, é uma zona sensível no interior da vagina, e chamada popularmente de ponto G). Na posição sexual mais comum em nossa espécie, onde o homem deita-se de frente sobre o corpo da mulher, o clitóris é constantemente friccionado pela pelve do homem, o que pode levar ao orgasmo mesmo sem a excitação do "ponto G". Há controvérsias sobre este assunto, pois o se o clitóris ficar posicionado longe da penetração não e algo que estimula a reprodução.

O clitóris sensível pode ter sido, portanto, uma solução evolutiva, uma característica selecionada para se adequar à anatomia e ao posicionamento durante o ato sexual, de forma a produzir prazer intenso e favorecer a reprodução.

Clitóris e as sociedades

Ver artigo principal: Mutilação genital feminina

O clitóris é tradicionalmente encarado pela maioria das sociedades humanas como um tabu que não pode ser visto, tocado, ou mencionado sem que haja extrema intimidade entre a mulher e seu parceiro, mesmo em culturas onde não se utilizam vestimentas cobrindo as genitálias.

A circuncisão feminina, ou seja, a laceração ou amputação (excisão) do clitóris (mutilação genital feminina), é praticada em algumas sociedades, especialmente em algumas tribos africanas, famosas pelas reportagens e relatos da imprensa, que muitas vezes qualificam este ritual como sendo "bárbaro" (o que é uma verdade perante os Direitos Humanos, já que são feitos sem a permissão das mulheres vitimizadas) e uma "violação dos direitos humanos". O termo técnico para a "castração feminina" é clitoridectomia.[9]

Clitoromegalia

Ver artigo principal: Clitoromegalia

Como a maior parte das estruturas do corpo humano, o clitóris varia em tamanho e constituição de mulher para mulher. Um artigo publicado no Journal of Obstetrics and Gynecology, em Julho de 1992, estipula que a largura média da glande clitoridiana está entre 2,5 milímetros a 4,5 milímetros em indicando que a sua dimensão é em média menor do que uma borracha de lápis.

O tamanho do clítoris pode variar muito, sendo que em algumas ele é quase impercetível, e em outras é extremamente grande. Algumas mulheres podem apresentar clitóris muito reduzidos (que nem quando eretos conseguem emergir do prepúcio) ou muito desenvolvidos, embora isso não influencie na sensação de prazer, mas há casos em que terminações nervosas são defeituosas e o clitóris é incapaz desta sensação. Há casos raros em que o clitóris é hipertrofiado ao ponto de se assemelhar a um pênis incompleto. Alguns casos de hermafroditismo estão associados a essa anomalia.

Vale lembrar que um clítoris grande é perfeitamente normal, apesar de que algumas pessoas acreditam que é uma anormalidade.

Ver também

Referências

  1. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. «Clitóris». Consultado em 3 de fevereiro de 2015 
  2. Nota: em biologia, o termo homólogo designa corpos do organismo que desempenham as mesmas funções e sofrem as mesmas mudanças estruturais, ou metamorfoses
  3. Laurence S. Baskina, Selcuk Yucelae, Gerald R. Cunhab, Stephen E. Glickmancd, Ned J. Placec (January 2006). «A Neuroanatomical Comparison of Humans and Spotted Hyena, a Natural Animal Model for Common Urogenital Sinus: Clinical Reflections on Feminizing Genitoplasty». Journal of Urology. 175 (1): 276-283  Verifique data em: |ano= (ajuda)
  4. a b Chalker, Rebecca (2001). A Verdade Sobre o Clitóris 1 ed. [S.l.]: Imago. ISBN 85-312-0791-6  Parâmetro desconhecido |Autor= ignorado (|autor=) sugerido (ajuda); Parâmetro desconhecido |Volumes= ignorado (|volume=) sugerido (ajuda); Parâmetro desconhecido |Páginas= ignorado (|páginas=) sugerido (ajuda)
  5. Angier, Natalie (1999). Woman – An Intimate Geography. [S.l.]: Anchor Books. 63 páginas. ISBN 0-385-49841-1 
  6. O'Connell, Helen, Anatomy of the Clitoris, J Urol. 2005 Oct;174(4 Pt 1):1189-95, PMID 16145367
  7. Mascall, Sharon, BBC News (Junho 2006). «Time for Rethink on the Clitoris.» (em inglês) 
  8. Puppo V, Puppo G. «Anatomy of sex: Revision of the new anatomical terms used for the clitoris and the female orgasm by sexologists». Clin Anat. PMID 25283533. doi:10.1002/ca.22471 
  9. «Mutilação genital gera problemas semelhantes ao do abuso sexual». G1. 6 de fevereiro de 2012 
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