Conspiração dos Iguais

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Graco Babeuf, líder da Conjuração dos Iguais.

Conspiração dos Iguais[nota 1] foi um movimento igualitário (precursor do anarquismo e do comunismo) ocorrido durante a Revolução Francesa e liderado por Graco Babeuf que, em 1796, propunha a "comunidade dos bens e do trabalho", cuja atenção era voltada a alcançar a igualdade efetiva entre os homens. A revolta foi "esmagada" pelo Diretório que decretou pena de morte a todos os participantes da conspiração.

As ideias de Babeuf[editar | editar código-fonte]

Após a queda de Robespierre, Babeuf iniciou a exposição de suas ideias revolucionárias, e reclamando uma participação política dos pobres: "Tu, Robespierre, que definiste com toda precisão a propriedade, que pôs claramente os limites que este direito tem quando é prejudicial para a sociedade. Tu és nosso libertador".[1]

Babeuf escreve crônicas no jornal Correspondant Picard de seu protetor Marat, nelas denunciando que as camadas mais baixas não participam dos benefícios da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.[1]

Nas páginas do periódico Babeuf questiona: "O cidadão pobre é propriamente um cidadão? ... Chegamos a estar persuadidos de que contávamos algo na ordem social, e nos entregamos à doce paixão do amor à pátria. (...) pretender que aquele que não tem rendas próprias não tem interesse pela coisa política não supõe injuriar ao bom senso e à razão?" E conclui mais adiante que, se não podem interferir na vida política os pobres também não estão obrigados a cumprir a lei, estão dispensados do serviço militar e de toda contribuição pública, direta ou indireta.[1]

Causas e consequências[editar | editar código-fonte]

Foi o primeiro movimento socialista que contou com um programa político concreto. Assim como os movimentos comunista e socialista que vieram posteriormente, não contava com nenhuma justificação teológica ou religiosa.[2]

Babeuf tornara-se inimigo de toda propriedade privada em 1795, e procurou eliminar o mercado e substituí-lo por um modo de produção comunista que haveria de acabar com a miséria; quando implementou suas ideias, adotou um sistema que criava uma classe dirigente, formada por uma minoria que se compunha dos revolucionários de vanguarda.[3]

Quando no começo de 1796 o governo do Diretório perseguiu os clubes em Paris e nas províncias, Babeuf se insurgiu, sendo preso a 10 de março; seu levante deu motivos ao governo para perseguir os jacobinos e este, junto a um comparsa, foi executado um ano depois. A situação de insatisfação entre os trabalhadores foi motivada, principalmente, pela desastrosa política monetária então adotada, que prejudicara tanto ricos como pobres, caracterizada pela desvalorização dos "assinados" e alta geral dos preços.[3]

Já antes Joseph Fouché se colocara como um dos iniciadores das ideias socialistas francesas, traçando um programa radical e social face a propriedade privada.[nota 2] O socialismo foi, assim, um subproduto da Revolução Francesa, um "produto da decepção revolucionária", no dizer de Stefan Zweig.[4]

François Babeuf, homem simples e sincero que adotara o prenome romano Graco, deixa-se embair pelos conselhos do célebre Fouché, e passa a atacar Tallien (amante de Barras), o governo e os termidorianos.[5] Otto Flake, sobre isto, registrou: "Fouché, que não fora reeleito e vivia em completa miséria depois de consumidos os que bens que roubara em Lião (...) [e] Babeuf, visionário com cabeça a recordar Schiller, aceitava tudo por verdadeiro e acreditava até em Fouché, desprezado pelos próprios companheiros ao tempo do Terror, tão repelente era seu semblante" e teria oferecido a Babeuf que tornaria seu jornal rentável, dizendo-se emissário de Barras - desde que as matérias passassem por sua censura.[6]

Tendo por principal redator Sylvain Maréchal, foi publicado o "Manifesto dos Iguais", que se constituiu na primeira declaração política do Socialismo. Babeuf é o principal divulgador dessas ideias e, junto aos companheiros, elaboram um plano para a tomada de Paris, ocupando-lhe os principais pontos estratégicos. Pretendem, com o sucesso da empreitada, promover a uma distribuição equitativa das riquezas, mas o movimento foi desarticulado antes mesmo de seu início. Suas ideias permaneceram quase esquecidas, até 1830.[4]

Contudo, em 1828, Michel Bounarroti publicou um "História da Revolução dos Iguais", que se tornou uma espécie de manual revolucionário, e teve bastante sucesso. O movimento integra, para Karl Marx e Friedrich Engels, aquilo que denominaram de socialismo utópico por terem um caráter irrealizável e serem meramente teóricas suas propostas.[4]

Desfecho[editar | editar código-fonte]

Babeuf, Darthé e outros são presos em Vendôme, por questão de segurança, correndo lá os processos.[6] Tallien procura desmascarar Fouché como integrante da conspiração, ao que o astuto político nega, dizendo que não o conhecia senão superficialmente; julgado, Babeuf é executado num quartel, em 21 de maio de 1797, enquanto mais uma vez o traidor Fouché escapa impune.[5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. Também chamada Conjuração dos Iguais ou simplesmente Os Iguais.
  2. Fouché viria a trair não apenas estes ideais, como ao próprio Babeuf, a quem insuflara a ação.

Referências

  1. a b c Nazario González (1998). Los Derechos Humanos en la Historia. [S.l.]: Univ. Autònoma de Barcelona. p. 130-131. 290 páginas. ISBN 8449014131 
  2. Salvador Giner (2008). Historia del pensamiento social. [S.l.]: Editorial Ariel. pp. 499, 501 e 784. ISBN 8434434830 
  3. a b Jacques Solé (1989). Historia y Mito de la Revolución Francesa. [S.l.]: Siglo XXI. p. 243. 414 páginas. ISBN 9682315352 
  4. a b c Arístides Silva Otero, Mariela Mata de Gross (1998). La llamada Revolución Industrial. [S.l.]: Universidad Catolica Andres. p. 257. 430 páginas. ISBN 9802441724 
  5. a b Stefan Zweig. Joseph Fouché: Retrato de um homem político (tradução de Medeiros e Albuquerque). Rio de Janeiro: ed. Guanabara / Waissman Koogan Ltda., 1945. págs. 106-110
  6. a b Otto Flake (tradução de Alcides Rössler). A Revolução Francesa. Porto Alegre: Globo, 1937. pág. 246
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