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Brasil Paralelo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Brasil Paralelo
Brasil Paralelo
Logo da Brasil Paralelo
Brasil Paralelo
Fundadores e equipe da Brasil Paralelo
Razão social Brasil Paralelo Entretenimento e Educação
Sociedade anônima
Atividade Produtora audiovisual, cursos, marketing digital, promoção de vendas[1]
Fundação 9 de agosto de 2016 (7 anos)[1]
Sede São Paulo, São Paulo
Proprietário(s) Lucas Ferrugem, Henrique Viana, Filipe Valerim
Empregados 100[2]
Faturamento Aumento R$30 milhões(2020)[3]
Website oficial brasilparalelo.com.br

A Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A,[4] mais conhecida por seu nome fantasia Brasil Paralelo, é uma empresa brasileira fundada em 2016, em Porto Alegre, que produz material audiovisual com viés da direita conservadora sobre política, história e temas da atualidade.[5] Os vídeos são publicados no YouTube e, desde 6 de abril de 2021, na plataforma Panflix do grupo Jovem Pan.[6] A série Brasil: A Última Cruzada passou, em 9 de dezembro de 2019, a ser exibida na TV Escola, canal de televisão estatal vinculado ao Ministério da Educação.[7][8]

Surgiu no contexto da onda conservadora no Brasil na década de 2010.[9] A produtora se coloca como uma "conexão com uma realidade paralela"[4] e se propõe a produzir conteúdo dissonante das perspectivas de mundo mainstream entre intelectuais e jornalistas brasileiros,[9][4] as quais considera dominadas pela esquerda.[10][11][12][13] Suas produções apresentam conteúdos que defendem valores da direita política e do cristianismo.[14][13][7][10]

A empresa tem sido definida como próxima ao governo Bolsonaro[15][16] e suas produções têm sido apontadas como alinhadas às ideias de personalidades da extrema-direita brasileira,[17] como Olavo de Carvalho,[18][19] Jair Bolsonaro[20][21] e Ernesto Araújo,[22] e têm sido criticadas por distorcer fatos da atualidade,[23][24][25][26] a história do Brasil e de Portugal.[14][27][13] A exibição na TV Escola foi repudiada pela regional São Paulo da Associação Nacional de História, que classificou o material como "propaganda ideológica de um grupo extremista", contendo "versões mentirosas e negacionistas da história".[28] A produtora afirma que seus conteúdos são despidos de qualquer ideologia política e rechaça as críticas de acadêmicos e jornalistas, e as citadas no verbete sobre a empresa na Wikipédia,[4] e já fez ameaças judiciais a acadêmicos que publicaram avaliações negativas sobre a empresa.[29]

Em abril de 2021, o canal do YouTube listava 421 vídeos, contava 1,71 milhão de inscritos e mais de 100 milhões de visualizações.[30] Segundo levantamento da agência Aos Fatos, a Brasil Paralelo também é o segundo maior canal bolsonarista no Telegram, com 80 mil inscritos, perdendo apenas para o perfil de Allan dos Santos, do Terça Livre.[31] Conforme ranking do Facebook, a Brasil Paralelo é a empresa brasileira que mais investe em propaganda política naquela plataforma.[2][32]

Histórico

O logotipo da empresa se assemelha à imagem de um disco de acreção de um buraco negro

A Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S/A[4] foi fundada em Porto Alegre em 2016 por Lucas Ferrugem, Henrique Viana e Filipe Valerim,[10] ex-alunos da Escola Superior de Propaganda e Marketing[13] em meio à ascensão da onda conservadora no Brasil.[9] Felipe Valerim afirmou que a empresa surgiu por meio de "um grupo de jovens empreendedores, hoje sócios do projeto, que entendiam que o país estava passando por um momento novo. Diante do cenário político de 2014, com a reeleição de Dilma Rousseff, um despertar de consciência política ganhava cada vez mais força a partir do sentimento de revolta da maioria da população".[33]

Antes de decidir o nome fantasia, a equipe havia decidido pelos nomes Brado, palavra encontrada no Hino Nacional Brasileiro, e Paralelo 15, o paralelo que passa sobre Brasília. O nome Brasil Paralelo foi inspirado no filme Interstellar (2014), apreciado pelos sócios. Segundo eles, o "nome é uma referência a uma forma de agir, totalmente independente do Estado. Afinal, duas retas paralelas nunca se encontram." O logotipo da empresa, um buraco negro, remete à ideia "de conexão com uma realidade paralela",[4] uma vez que a empresa se propõe a produzir conteúdo dissonante das perspectivas de mundo mainstream entre intelectuais e jornalistas brasileiros,[9][4] as quais considera dominadas pela esquerda.[10][11][12][13] O logotipo também foi inspirado no filme Interestelar.[4]

A Brasil Paralelo afirma que a produção é feita de forma independente, apartidária, isenta e com base em um grande acervo informativo analisado por especialistas. Segundo a empresa, todos os recursos provêm da venda de assinaturas, que permitem acesso a conteúdo adicional.[4] O jornal Le Monde Diplomatique Brasil, no entanto, argumenta que, desde sua origem, a produtora esteve ligada a uma série de privilégios na cobertura de personalidades políticas pouco acessíveis a pessoas comuns, além de se beneficiar da facilitação em captar recursos da Agência Nacional de Cinema (Ancine) para a produção de um documentário sobre a eleição de Jair Bolsonaro.[34] Em nota publicada em 15 de fevereiro de 2021 criticando o verbete na Wikipédia em português sobre a empresa, a Brasil Paralelo explicou que "No próprio Le Monde, pode-se encontrar a informação de que Josias Teófilo, de outra empresa, é o responsável pelo dinheiro e pelo filme, e não a Brasil Paralelo."[4]

Em fevereiro de 2017, para o sexto episódio da série de filmes documentários, a empresa colheu 88 depoimentos com formadores de opinião da direita para lançarem um filme sobre o impeachment de Dilma Rousseff, como contraponto à versão homônima produzida com apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), focado na narrativa de que o impeachment teria sido um golpe de Estado. O título do episódio sexto foi Impeachment - Do apogeu à queda, cujo lançamento oficial ocorreu em 21 de março de 2017 em São Paulo e Porto Alegre.[35] Na capital paulista, a estreia se deu no Cinemark Metrô Santa Cruz e após a exibição do filme, houve um debate ao vivo com Henrique Viana, Ícaro de Carvalho, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Hélio Coutinho Beltrão e Joice Hasselmann. Na capital gaúcha, a estreia ocorreu no Cinemark Barra Shopping Sul e, após a exibição, houve debate com Lucas Ferrugem, Felipe Moura Brasil, Guilherme Macalossi e Diego Casagrande. Esses foram os primeiros eventos presenciais da Brasil Paralelo.[13][não consta na fonte citada] No dia seguinte foi realizado o seminário "O que esperar de 2017", na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com a presença do jornalista e arquiteto Percival Puggina, do diplomata Paulo Roberto de Almeida e do deputado Marcel van Hattem, no qual foram debatidos as atividades da Brasil Paralelo.[35]

Em abril de 2017, a empresa participou da 30.ª edição do Fórum da Liberdade. O evento é promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE) e a edição aconteceu no Centro de Eventos da PUC/RS com palestras de João Doria Jr., Pedro Malan, Eduardo Giannetti, Luiz Felipe Pondé, dentre outros. Nesse evento, os representantes da Brasil Paralelo expuseram, no salão Unconference, o trabalho da entidade na produção de conteúdo e como alternativa de mídia independente.[27]

No início de 2017, a produtora contava com mais de cinco mil assinantes. Em apenas seis meses de existência, a empresa faturou mais de 1,5 milhão de reais, conforme noticiado no jornal O Estado de S. Paulo, dado que foi contestado por seus fundadores.[13][18] A empresa declara que seu faturamento tem origem na venda de cursos e conteúdos exclusivos a assinantes e na monetização dos vídeos enviados ao YouTube, ao mesmo tempo afirmou que seus documentários são gratuitos.[5] Em setembro de 2020, informou que essa última fonte de renda não estava mais em funcionamento, tendo todo seu faturamento na venda de cursos e conteúdos a assinantes.[5]

Em 28 de setembro de 2019, a empresa assinou contrato com a TV Escola, canal de televisão estatal vinculado ao Ministério da Educação.[8] Com validade de três anos, o contrato autorizou a cessão gratuita e não exclusiva pela empresa dos direitos de exibição de uma de suas séries para o canal.[8] Assim, em 9 de dezembro de 2019, a série Brasil, a Última Cruzada começou a ser exibida na TV Escola.[7] A exibição foi criticada em nota de repúdio emitida pela regional São Paulo da Associação Nacional de História (ANPUH-SP) que classificou o material como "uma peça de propaganda ideológica de um grupo extremista", contendo "versões mentirosas e negacionistas da história", sem amparo na historiografia nacional e internacional.[28]

Segundo levantamento da agência Aos Fatos publicado 4 de fevereiro de 2021, a Brasil Paralelo é o segundo maior canal bolsonarista no Telegram, com 80 mil inscritos, perdendo apenas para o perfil de Allan dos Santos, do Terça Livre. O canal, no entanto, foi o único dos 20 estudados que apresentou no mês de janeiro daquele ano redução no número de visualizações e de mensagens publicadas.[31]

Entre os dias 18 e 24 de maio de 2021, a Brasil Paralelo gastou 104,4 mil em propaganda no Facebook e no Instagram. Desde 2020 até esta data, foram mais de 3,3 milhões de reais investidos em marketing, que a própria empresa classifica como político, no Facebook. Somados, os anúncios chegam a mais de 24 mil.[2]

Produção

Historiadores consideram 1964: O Brasil entre Armas e Livros (capa) um exemplo de negacionismo e distorção da história da ditadura militar,[14][36][37] apesar de a própria discordar.[38]

A série Congresso Brasil Paralelo foi a primeira produção da empresa e foi feita a partir de depoimentos em vídeo de personalidades do conservadorismo brasileiros, como Hélio Beltrão, Olavo de Carvalho, Janaina Paschoal, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Luiz Felipe Pondé, Lobão, Rodrigo Constantino, Joice Hasselmann e Jair Bolsonaro.[39] Sucedendo Congresso Brasil Paralelo, foram lançados os episódios de Brasil: A Última Cruzada entre 2017 e 2018.[5] Uma análise do discurso do conteúdo apresentado no segundo capítulo da série constatou a divulgação de ideias milenaristas e teorias da conspiração, apresentando um conteúdo político-ideológico e revisionista disfarçado de histórico. A análise foi feita em junho de 2018 pelo professor de história Roldão Carvalho Pires e comunicadora social Mara Rovida, da Universidade de Sorocaba.[40] Em 9 de dezembro de 2019, a série passou a ser exibida no canal de televisão estatal TV Escola.[7]

Com estreia em 21 de agosto de 2018, O Teatro das Tesouras abordou bastidores de sete eleições presidenciais do Brasil após o fim da Ditadura Militar instaurada pelo golpe civil-militar de 1964. Intitulada em alusão ao lema do segundo governo de Dilma Rousseff ("Brasil: Pátria Educadora"), Pátria Educadora: A Trilogia fez críticas à educação no Brasil e a Paulo Freire em três episódios.[41][42]

De 2019, o lançamento do documentário 1964: O Brasil entre Armas e Livros na rede de salas de cinema Cinemark foi cancelado em função de protestos contra a relativização da repressão e tortura do Estado durante a ditadura militar brasileira.[5] O historiador e professor de literatura comparada, João Cezar de Castro Rocha, no entanto, afirma, em sua coluna na revista Veja, que "o documentário não apoia a ditadura e condena explicitamente a tortura", embora também afirme que a premissa do filme "favorece a explicação de processos complexos por meio de teorias conspiratórias" e dá "amparo à política beligerante de Jair Bolsonaro".[43] Rocha também comparou o papel da produtora na ascensão do Bolsonarismo à participação do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais no preparo do Golpe de Estado no Brasil em 1964.[44]

No segundo semestre de 2020, lançou dois documentários.[5] Os Donos da Verdade buscou defender falas de Abraham Weintraub por meio do argumento da liberdade de expressão, enquanto que 7 denúncias: as consequências do caso Covid-19 direcionou críticas à medida do distanciamento físico no combate à pandemia de COVID-19 e seus formuladores e disseminadores.[5] As duas produções motivaram a observação de adesão pela Brasil Paralelo à "tropa de choque digital do presidente" Jair Bolsonaro, expressa pelo jornalista Fábio Zanini.[5][45]

Em 2021, o grupo lançou o documentário Cortina de Fumaça, em que exalta o agronegócio brasileiro, critica ONGs ambientais, nega os dados atestados pela ciência sobre o desmatamento da Floresta Amazônica, classificando-o como alarmismo e acusa a antropologia de esquerda de instrumentalizar a questão indígena.[46][47][48] Propondo-se a apresentar "uma visão inédita e destoante das narrativas enviesadas a que estamos acostumados",[49] o filme se aproxima da retórica de direita, faz referências às ONGs ambientalistas como vilãs e as descreve como grandes corporações voltadas a montar esquemas de financiamento internacional e se beneficiar do orçamento brasileiro.[46][47] Segundo o sócio Lucas Ferrugem a mensagem do filme é que "o meio ambiente brasileiro não está em risco" e que o Brasil "pode ser peça fundamental na paz do mundo" através de produção de alimentos. Ele também nega a existência do consenso científico sobre mudanças climáticas.[50] A produção conta com comentários de personalidades como Alysson Paulinelli, Aldo Rebelo, Marcelo Xavier, presidente da Fundação Nacional do Índio, Damares Alves e Patrick Moore, fundador e ex-presidente do Greenpeace.[49] Desde novembro de 2021, a peça está disponível em inglês.[49]

A Brasil Paralelo produziu diversas séries de documentários, entre elas estão:[51]

  • Congresso Brasil Paralelo (2016)[52]
  • Brasil: A Última Cruzada (2017)
  • O Dia Depois da Eleição (2018)
  • O Teatro das Tesouras (2018)
  • Era Vargas: o crepúsculo de um ídolo (2018)
  • 1964: O Brasil entre Armas e Livros (2019)[5]
  • Pátria Educadora: A Trilogia (2020)
  • 7 Denúncias: As Consequências do Caso Covid-19 (2020)[5]
  • Os Donos da Verdade (2020)[5]
  • O Fim das Nações (2020)
  • Os 11 Supremos (2020)
  • As Grandes Minorias (2020)
  • Especial de Natal 2020 (2020)
  • A Queda Argentina (2021)
  • A Primeira Arte (2021)
  • Cortina de Fumaça (2021)

Crítica especializada

Historiadores criticaram a empresa pelo conteúdo negacionista e anti-intelectualista[53] de seus vídeos, por distorcerem fatos históricos como a ditadura militar, a escravidão e a colonização do Brasil e disseminarem teorias conspiratórias e negacionistas[54][55][56][57] promovidas por Olavo de Carvalho,[18][19] Jair Bolsonaro[20][21] e Ernesto Araújo.[22] Especialistas apontaram também que o conteúdo dos vídeos tem cariz ciberativista[58][59][60][44][61] e distorce o passado[36][37] com o viés da direita política, especificamente da nova direita e do cristianismo[27][13][62][7][18][10][59] e classificaram o discurso de alguns documentários como milenarista e conspiracionista.[40][22][18][10] As posições da Brasil Paralelo em relação à ditadura militar, tratando o golpe sofrido por João Goulart em 1964 como uma ameaça comunista, também são consideradas exageradas por quase a totalidade dos acadêmicos.[3]

Paulo Pachá, professor de história medieval da Universidade Federal Fluminense, apontou que o documentário Brasil: A Última Cruzada tem ideologias da extrema-direita em publicação na Pacific Standard, declarando em uma parte: "Ao retratar a Idade Média europeia como o verdadeiro passado da nação, a extrema-direita brasileira branqueia tanto sua própria história verdadeira quanto a crueldade de sua prática política contínua, especialmente (mas não apenas) a persistência de racismo ativo, misoginia, homofobia e intolerância religiosa."[63] Em texto na Agência Pública, escreve: "A primeira coisa é entender qual é o papel da Cruzada ou dessa nova Cruzada no pensamento da extrema-direita, que é semelhante no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e na Nova Zelândia. Isso vem aparecendo de maneira congruente, o que é um pouco assustador.[64]

Em dezembro de 2019, o filósofo Paulo Ghiraldelli definiu a Brasil Paralelo como "a produtora de Olavo [de Carvalho]", ideólogo da nova direita brasileira, e disse que se tratava de aparelhamento ideológico. Também criticou a qualidade do conteúdo: "O nível é de terraplanismo para além, com direito a campanhas de antivacinação e a conversão da História do Brasil em disciplina sem pé nem cabeça."[65]

Sobre a exibição na TV Escola da série Brasil: a última cruzada, a regional São Paulo da Associação Nacional de História (ANPUH-SP) emitiu nota conjunta com docentes e estudantes da Universidade de São Paulo, no qual classificou o material como "uma peça de propaganda ideológica de um grupo extremista", contendo "versões mentirosas e negacionistas da história", sem amparo na historiografia nacional e internacional.[28]

Em maio de 2020, o Le Monde Diplomatique Brasil também classificou o material produzido como extrema-direita, dizendo: "Considerá-la como produtora de mitos evidencia não apenas os mecanismos de sua atuação, mas também a função que ela cumpre no arco maior de forças que são coligidas no pacto bolsonarista-olavista, do qual faz parte."[34] O historiador Ítalo Nelli Borges apontou propaganda política no conteúdo da empresa: "Ao atuar fora dos ambientes educacionais institucionalizados, o Brasil Paralelo leva isto à risca com muita habilidade propagandística para o seu público alvo [...]".[14]

Em 2021, a produtora negou apresentar qualquer ideologia política e afirma já ter criticado "absolutamente todos os grupos políticos da história do Brasil".[4] Também explica que entrevista personalidades de esquerda, explicando: "As entrevistas são escassas, mas o que muitos podem não saber é que os autores considerados 'de esquerda' são lidos.[4]

Acusações de notícias falsas

Agências de checagem de fatos identificaram a transmissão de notícias falsas em dois vídeos lançados próximos às eleições presidenciais de 2018 sobre as urnas eletrônicas brasileiras.[23][24]

Em outubro de 2018, durante as campanhas das eleições gerais, o grupo publicou um vídeo no YouTube. Um homem identificado como Hugo Cesar Hoeschl afirmou que "estudos internacionais indicam que a probabilidade de fraude na última eleição presidencial foi de 73,14%". Essa informação foi considerada falsa. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emitiu uma nota desmentido o que foi informado no vídeo, onde afirmou que "não há registro [...] de que o autor do vídeo tenha participado de qualquer evento de auditoria e transparência, a exemplo dos testes públicos de segurança realizados pelo TSE e da apresentação dos códigos-fonte".[23][24]

Ainda quando das campanhas de 2018, especialistas desmentiram a acusação da Brasil Paralelo de que houve fraude nas urnas das eleições de 2014 no Brasil. A acusação teve como base a Lei de Benford, porém, o Projeto Comprova checou a acusação e a desmentiu, apontando que a Lei de Benford por si só não é suficiente para provar irregularidades. Não obstante, o vídeo da Brasil Paralelo já contava aproximadamente dois milhões de visualizações na época em que a checagem foi publicada.[24]

Em 2020, após denúncia do movimento Sleeping Giants, a produtora foi removida da plataforma de pagamentos Hotmart, perdendo uma de suas formas de monetização.[15]

Em abril de 2021, a Brasil Paralelo publicou no Facebook que a Universidade de Oxford estaria considerando retirar "partituras clássicas de Beethoven, Mozart e Bach dos cursos de música por serem 'muito coloniais'". A publicação era acompanhada de uma imagem que sugeria que esses compositores seriam "cancelados". A agência de verificação de fatos Observador classificou o conteúdo como "enganador" e explicou que a Universidade de Oxford tem a intenção de oferecer uma "gama mais ampla de música não ocidental" a seus estudantes, mas não planeja retirar compositores clássicos europeus dos cursos.[26]

Em agosto de 2021, a CPI da COVID-19 solicitou a quebra de sigilo bancário e telemático da Brasil Paralelo, da rádio Jovem Pan e de blogueiros e sites bolsonaristas.[66][67] O objetivo é verificar se os veículos receberam dinheiro, público ou privado, para divulgar notícias falsas sobre a pandemia.[68] Posteriormente, o ministro Gilmar Mendes restringiu o acesso aos dados bancários e fiscais da empresa, sob a justificativa de que o acesso a materiais de datas anteriores a pandemia extrapolariam os objetivos da comissão.[69]

Proximidade à mídia pró-governo Bolsonaro

Em entrevista à revista Piauí, Henrique Viana, um dos fundadores da empresa, afirmou: "a gente costuma dizer que nós não somos bolsonaristas – o Bolsonaro é que é ‘paralelista’.”[2]

Apesar de autodenominar-se mídia independente e desvinculada de partidos políticos,[70][18] a Brasil Paralelo obteve acesso privilegiado na posse presidencial de Jair Bolsonaro[71] e também à veiculação de uma de suas séries pelo canal estatal TV Escola durante o governo desse presidente,[21][8][72][73] além de receber amplo apoio de Eduardo Bolsonaro através de sua conta no Facebook divulgando vídeos e planos de assinatura.[15] De acordo com Henrique Viana, sócio da empresa, suas visões conservadoras, embora compartilhem da narrativa do governo em algumas questões, não são sempre coincidentes com a de Jair Bolsonaro.[3]

Em janeiro de 2019, as condições de trânsito livre na posse do presidente Jair Bolsonaro foram concedidas à Brasil Paralelo, Terça Livre TV, Conexão Política, enquanto jornalistas de vários veículos relataram limitações ao trabalho de cobertura jornalística da posse, inclusive quanto à alimentação, banheiro e acesso a autoridades e fontes.[71]

Em março de 2019, após ouvir especialistas, a Deutsche Welle noticiou o Brasil Paralelo ao lado de outros revisionistas históricos no artigo "O negacionismo histórico como arma política": "Teses deste revisionismo foram condensadas numa série de documentários produzidos por um canal simpático à extrema-direita e à linha de pensamento de Olavo de Carvalho no Youtube. Em seus vídeos, o grupo Brasil Paralelo alega querer apresentar uma História "livre de narrativas ideológicas", porém, segundo historiadores ouvidos pela DW Brasil, faz justamente o contrário ao não mencionar as fontes de onde vieram as informações citadas pelo narrador."[74]

Em abril de 2019, a rede de cinema Cinemark retirou de cartaz 1964: O Brasil entre Armas e Livros dizendo que não se envolve com "questões político-partidárias [...] não autorizamos em nossos complexos divulgação de mídia partidária tampouco eventos de cunho político [...] não apoiamos organizações políticas ou partidos." Houve manifestantes em rede social pedindo boicote à Cinemark.[75] Escrevendo para a revista Piauí, Eduardo Escorel disse que uma das produções da Brasil Paralelo é propaganda política didática: "1964: O Brasil entre Armas e Livros não é propriamente um filme; parece mais uma versão atualizada das conferências feitas na época do cinema silencioso para financiar as incursões de exploradores e viajantes por terras distantes e exóticas."[76]

Em maio de 2019, um monitoramento de perfis das redes sociais feito pela Agência Pública listou a Brasil Paralelo como "parte de sites alternativos de apoio ao governo Bolsonaro" ao lado do Terça Livre, Senso Incomum, Conexão Política, Reaçonaria e Renova Mídia. O monitoramento foi feito para entender como um grupo de 54 simpatizantes de Olavo de Carvalho tentam influenciar a agenda da educação do governo.[16] Em 25 de junho de 2019, a empresa teve seu direito de resposta publicado pelo jornal O Globo, uma vez que foi concedido pela 6ª Vara Cível de Porto Alegre por causa da acusação de caráter difamatório presente em texto publicado pelo jornal no início daquele ano sobre o filme 1964 – O Brasil entre Armas e Livros produzido pela empresa.[77]

No segundo semestre de 2020, lançou dois documentários.[5] Os Donos da Verdade buscou defender falas de Abraham Weintraub por meio do argumento da liberdade de expressão, enquanto que 7 denúncias: as consequências do caso Covid-19 direcionou críticas à medida do distanciamento físico no combate à pandemia de COVID-19 e seus formuladores e disseminadores.[5] As duas produções motivaram a observação de adesão pela Brasil Paralelo à "tropa de choque digital do presidente" Jair Bolsonaro, expressa pelo jornalista Fábio Zanini.[5][45]

Em relação aos lançamentos de Os Donos da Verdade e 7 denúncias: as consequências do caso Covid-19, o jornalista Fábio Zanini criticou a menor qualidade da produção e a proximidade com as as ideias de Bolsonaro e comparou a produtora ao canal Terça Livre: "Desta vez, a produtora parece ter assumido seu papel na tropa de choque digital do presidente, talvez porque precise energizar sua base de assinantes. Poderia ser um documentário feito pelo canal Terça Livre, e não apenas pelo tom, mas também em razão da qualidade."[45]

Em reportagem publicada em 28 de setembro de 2020, O Estado de S. Paulo define a empresa de "'Netflix' dos bolsonaristas".[15] Na mesma reportagem, Lucas Ferrugem, sócio da empresa, declarou que a Brasil Paralelo não tem relação com Eduardo Bolsonaro nem com as pautas do governo, embora tenha simpatia por Bolsonaro e se sinta representado em algumas pautas.[15] Em reportagem da revista Piauí de 27 de maio de 2021, Henrique Viana, sócio da empresa, explicou: "A gente costuma dizer que nós não somos bolsonaristas – o Bolsonaro é que é 'paralelista'".[2]

Ao investigar sobre os documentários Cortina de fumaça e A esperança se chama liberdade, a Agência Pública mostrou que novamente o Brasil Paralelo se aproximou do governo Bolsonaro, e também recebeu investimento de um ruralista que apoiou em fiscalização contra uso de mão de obra escravizada. O Brasil Paralelo acabou por reportar informação falsa ao divulgar na própria plataforma as declarações da entrevista de Marcelo Xavier, o atual presidente da Funai. Na entrevista, Xavier alegou que são causadas poucas mortes indígenas em conflitos agrários, o que contradiz o levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que registrou recorde de assassinatos de indígenas sob o governo Bolsonaro. O documentário também foi promovido no site da Funai com a manchete: "Documentário destaca importância do desenvolvimento sustentável para a autonomia indígena". Marcelo Xavier chamou o trailer do documentário de "emocionante" e usou o vídeo para legitimar os esforços da "Nova Funai". O documentário também foi divulgado por políticos governistas, como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Carla Zambeli (PSL). De acordo com fontes ouvidas pela Agência Pública, "a presença de fontes de diferentes governos e partidos é utilizada pelos produtores como prova de que o documentário une visões e ideologias distintas (...) porém, a narrativa é a mesma de bolsonaristas e ruralistas."[78]

No inquérito iniciado para investigar a organização de atos antidemocráticos no STF foram encontradas anotações de 2019 do blogueiro Allan dos Santos, dono do portal Terça Livre, com diretrizes e estratégias que foram apontadas por Olavo de Carvalho para políticos e influenciadores bolsonaristas. Nas notas, Allan dos Santos listou "documentários da Brasil Paralelo" como uma das demandas a serem feitas para a Secretaria de Comunicação do Governo (Secom), mas até o momento, as investigações não avançaram.[78]

Em agosto de 2021, a CPI da COVID-19 solicitou a quebra de sigilo bancário da Brasil Paralelo e de outros veículos bolsonaristas.[66] Ao ser acusada de disseminar notícias falsas, a Brasil Paralelo se comparou ao veículo de mídia Jovem Pan e posteriormente solicitou a suspensão da quebra de sigilo financeiro.[79] A justificativa do requerimento de quebra de sigilo acuso o grupo de ter influenciado "fortemente na radicalização política adotada pelo Palácio do Planalto, interferindo e influenciando ações políticas por meio da divulgação de informações falsas em redes sociais".[67] O objetivo é verificar se os veículos receberam dinheiro, público ou privado, para divulgar notícias falsas sobre a pandemia.[68]

Ideologia no processo seletivo

A Brasil Paralelo se diz livre de "amarras ideológicas", porém, no processo seletivo, a empresa testa os posicionamentos dos candidatos com afirmações como "cientificamente falando, é impossível nascer homossexual", "Jesus é a verdade revelada e sobre isso não há discussão", "Não se pode confiar nas corporações para proteger voluntariamente o meio ambiente, elas precisam de regulação" ou "é um absurdo que em pleno século XXI a humanidade ainda não tenha se unido para salvar o meio ambiente", dentre outras. Os candidatos devem afirmar se concordam ou não com as afirmações.[78]

Críticas à Wikipédia

Quadro de vídeo veiculado no YouTube pela empresa criticando a Wikipédia pela forma como a descreve.[51]

Em setembro de 2020, o advogado da empresa, identificado como Fmdonadel[a] na Wikipédia em português, solicitou na página de discussão do verbete que o conteúdo fosse alterado e sugeriu substituir o conteúdo por uma versão fornecida por ele, já que entendia que o artigo trazia informações inverídicas e "escritas para denegrir a imagem da empresa". Segundo ele, a Brasil Paralelo é "absolutamente independente, apartidária, despida de viés ideológico".[5] O verbete sobre a empresa estava protegido,[b] isto é, contas recém-criadas estavam impedidas de editá-lo. Lucas Ferrugem, um dos fundadores da empresa, classificou o verbete como "absurdo e difamatório" e explicou que a produtora tentara colaborar na página da Wikipédia, mas "não podia mais editar, corrigir informações e submeter fontes novas" e que por isso seu escritório jurídico teria entrado em cena.[5] Henrique Viana, outro fundador da empresa, declarou no Gazeta do Povo: "A página da Wikipédia sobre a Brasil Paralelo tornou-se um repositório de fake news e narrativas ideológicas [...] Somos uma empresa de mídia, privada e 100% independente, orientada à busca da verdade e contrária à ideologização em produção de conteúdo".[9]

Em 15 de fevereiro de 2021, a redação da produtora emitiu pronunciamento explicando não ser uma farsa, conforme propagado em diversos meios tanto jornalísticos como acadêmicos, criticou o verbete na Wikipédia sobre a empresa e rebateu críticas de professores de história, jornalistas e membros de partidos políticos. Na nota, a produtora rechaça as classificações de empresa de extrema-direita, anti-intelectualista, negacionista, ciberativista, milenarista e revisionista.[4][c]

Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda. um dos fundadores relata ter posteriormente entrado em contato com colaboradores da Wikipédia e uma consultoria para entender melhor as dinâmicas do site e que a partir de então teriam passado a fornecer informações descritivas e referências para alterar as informações lá contidas, que considerava inadequadas. Segundo os fundadores, os dados citados na Wikipédia geraram desconfianças e até mesmo dificuldades contratuais em serviços e contatos com entrevistados. Na entrevista, a empresa ainda relata que houve melhorias no artigo a partir da intervenção de um editor, que sequer seria de direita, e a empresa está mais bem retratada mas, o artigo ainda estaria "muito longe do ideal".[80]

Em outubro de 2020 a produtora abriu um processo contra a Wikimedia Foundation por danos morais, além de requisitando informações sobre um editor. O processo foi arquivado em março de 2022. [81]

Ver também

Notas

  1. A conta realizou duas edições nos dias 15 e 27 de julho de 2020: 58772978] e 58881656].
  2. Proteger uma página é uma medida extrema, reservada normalmente aos casos nos quais a discussão não surte mais efeito. Para mais informações, veja Wikipédia:Página protegida.
  3. No dia que a nota foi publicada, a versão do artigo era esta.

Referências

  1. a b Receita Federal 2021.
  2. a b c d e Mazza 2021.
  3. a b c Zanini 2021.
  4. a b c d e f g h i j k l m Redação Brasil Paralelo 2021.
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p Sayuri 2020.
  6. Jovem Pan 2021.
  7. a b c d e Saldaña 2019.
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Fontes

Artigos científicos

Livros

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