Luta armada contra a ditadura militar brasileira: diferenças entre revisões

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A '''esquerda armada no Brasil''' se iniciou antes do [[golpe militar de 1964]] quando o [[socialismo]] revolucionário trouxe métodos empíricos do chamado político pelos [[anarquistas]] espanhóis, portugueses e italianos, que fundaram, no início do [[século XX]], os primeiros sindicatos do País.
A '''esquerda armada no Brasil''' se iniciou antes do [[golpe militar de 1964]] quando o [[socialismo]] revolucionário trouxe métodos empíricos do chamado político pelos [[anarquistas]] espanhóis, portugueses e italianos, que fundaram, no início do [[século XX]], os primeiros [[sindicato]]s do País.


== Revolução Russa e Anarquismo ==
== Revolução Russa e Anarquismo ==
A vitória da [[Revolução Russa]] de [[1917]] repercutiu fortemente na [[Esquerdismo|esquerda]] brasileira. Alguns dizem que fez com que os anarquistas brasileiros entrassem em um período de revisão de valores ideológicos.


A vitória da [[Revolução Russa]] de [[1917]] repercutiu fortemente na [[Esquerdismo|esquerda]] brasileira. Alguns dizem que fez com que os [[Anarquismo no Brasil|anarquistas brasileiros]] entrassem em um período de revisão de valores ideológicos.
O anarquismo passou a ser visto como incapaz de modificar radicalmente a estrutura social, ao mesmo tempo em que os esquerdistas brasileiros, de formação originalmente anarquista, acompanhavam a experiência russa, que aos seus olhos se mostrava como uma nova alvorada para a Revolução Social<ref>http://blogdoamere.wordpress.com/2013/11/26/a-esquerda-armada-no-brasil-antes-de-1964/</ref>. Chefes anarquistas, então, aderiram ao comunismo e entregaram-se apressadamente ao estudo das obras de [[Karl Marx]] e [[Lenin]].


O [[anarquismo]] passou a ser visto como incapaz de modificar radicalmente a estrutura social, ao mesmo tempo em que os esquerdistas brasileiros, de formação originalmente anarquista, acompanhavam a experiência russa, que aos seus olhos se mostrava como uma nova alvorada para a Revolução Social<ref>http://blogdoamere.wordpress.com/2013/11/26/a-esquerda-armada-no-brasil-antes-de-1964/</ref>. Chefes anarquistas, então, aderiram ao [[comunismo]] e entregaram-se apressadamente ao estudo das obras de [[Karl Marx]] e [[Lenin]].
Em abril de [[1922]] realizou-se o [[I Congresso Comunista do Brasil]], na cidade do [[Rio de Janeiro]]. O resultado desse Congresso foi a unificação dos grupos comunistas esparsos pelo País, com a fundação do [[Partido Comunista Brasileiro|PCB]] (registrado na época como [[Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista|PC-SBIC]]).


Em abril de [[1922]] realizou-se o [[I Congresso Comunista do Brasil]], na cidade do [[Rio de Janeiro]]. O resultado desse Congresso foi a unificação dos grupos comunistas esparsos pelo País, com a fundação do PCB ([[Partido Comunista Brasileiro]]) (registrado na época como PC-SBIC - [[Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista]]).
Desde a fundação do Partido, a via revolucionária para o socialismo, ou seja, a tomada do poder pela força, sempre foi a grande discussão de muitos comunistas brasileiros. Esse projeto pareceu ficar mais concreto depois da adesão ao Partido do conhecido líder tenentista Capitão [[Luís Carlos Prestes]].


Desde a fundação do Partido, a via revolucionária para o socialismo, ou seja, a tomada do poder pela força, sempre foi a grande discussão de muitos comunistas brasileiros. Esse projeto pareceu ficar mais concreto depois da adesão ao Partido do conhecido líder [[Tenentismo|tenentista]] Capitão [[Luís Carlos Prestes]].
Em [[1935]], com a [[Intentona Comunista]], houve a primeira tentativa da esquerda revolucionária brasileira tomar o poder. O levante, alegadamente mal planejado e executado, só serviu para abalar as frágeis instituições democráticas e preparar o caminho para que o presidente nacionalista [[Getúlio Vargas]] instaurasse o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]].

Em [[1935]], com a [[Intentona Comunista]], houve a primeira tentativa da [[esquerda revolucionária]] brasileira tomar o poder. O levante, alegadamente mal planejado e executado, só serviu para abalar as frágeis instituições democráticas e preparar o caminho para que o presidente [[nacionalista]] [[Getúlio Vargas]] instaurasse o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]].


== A radicalização política na década de 1960 ==
== A radicalização política na década de 1960 ==

Mesmo tendo sido derrotados em 1935, alguns dos militantes comunistas continuavam acalentando o sonho da revolução popular e da tomada do poder pelas classes humildes e oprimidas do Brasil. Segundo alguns dos comunistas, depois da [[Revolução Russa]] e da [[Revolução Chinesa]], o Brasil estava destinado a ser o palco da terceira grande [[revolução socialista]] do século.
Mesmo tendo sido derrotados em 1935, alguns dos [[militante]]s comunistas continuavam acalentando o sonho da revolução popular e da tomada do poder pelas classes humildes e oprimidas do Brasil. Segundo alguns dos comunistas, depois da [[Revolução Russa]] e da [[Revolução Chinesa]], o [[Brasil]] estava destinado a ser o palco da terceira grande [[revolução socialista]] do século.

[[Jacob Gorender]] sobre a radicalização da esquerda na década de 1960:

{{citação2|''O período de 60 a 64 marca o auge da ''[[luta de classes]]'' no Brasil. Nos primeiros meses de 1964 esboçou-se uma situação pré revolucionária e o golpe ''[[direitista]]'' se definiu pelo caráter ''[[Contrarrevolução|contrarrevolucionário]]'' preventivo. Houve chance de vencer, mas foi perdida. O pior é que foi perdida de maneira desmoralizante.''<ref name="Combate nas Trevas">''[[Combate nas Trevas]]'' de Jacob Gorender, [[Editora Ática]], 1999. ISBN 9788508069194 Adicionado em 10/05/2015.</ref>}}


=== Brizola e a luta armada ===
=== Brizola e a luta armada ===

De acordo com [[Carlos Alberto Brilhante Ustra]], em seu livro ''[[A Verdade Sufocada]]'':
De acordo com [[Carlos Alberto Brilhante Ustra]], em seu livro ''[[A Verdade Sufocada]]'':


<blockquote>Dos primeiros a chegar, com seu arroubo platino, seu inegável carisma e sua popularidade, alcançada graças a sua “Cadeia da Legalidade” em [[1961]], Brizola não perdeu a oportunidade para aglutinar resistência em torno de seu nome. Com planos mirabolantes, fez contatos com ex-militares cassados, sindicalistas, estudantes, comunistas, políticos, padres e freiras. Contatou, também com agentes cubanos e organizou um “livro de ouro” para financiar a derrubada do novo regime no Brasil. (Jango, Brizola, Exílio, AIDS e outras histórias de Betinho”<ref name="ReferenceA">USTRA, A Verdade Sufocada, Editora Permanência,</ref></blockquote>
{{citação2|''Dos primeiros a chegar, com seu arroubo platino, seu inegável carisma e sua popularidade, alcançada graças a sua ''"[[Cadeia da Legalidade]]"'' em [[1961]], Brizola não perdeu a oportunidade para aglutinar resistência em torno de seu nome. Com planos mirabolantes, fez contatos com ex-militares cassados, sindicalistas, estudantes, comunistas, políticos, padres e freiras. Contatou, também com agentes cubanos e organizou um "livro de ouro" para financiar a derrubada do novo regime no Brasil.''|'''"Jango, Brizola, Exílio, AIDS e outras histórias de Betinho."'''<ref name="ReferenceA">USTRA, A Verdade Sufocada, Editora Permanência</ref>}}


“Logo depois do golpe militar no Brasil, em 1964, Cuba mandou pelo menos US$ 200 mil para financiar a resistência articulada no Uruguai por Leonel Brizola. Quem negociou a remessa de dinheiro foi o sociólogo [[Herbert de Souza]], o Betinho, então dirigente da [[União Nacional dos Estudantes]]. Para não deixar pistas ele cumpriu um roteiro até Havana; embarcou em Montevidéu; trocou de avião em Buenos Aires, de lá voou para Pais; de Paris para Praga; de Praga para a Irlanda para o Canadá; e finalmente para Cuba. Só até Praga foram 26 horas de voo, lembra Betinho, portador de uma carta de Brizola para [[Fidel Castro]], em que palavras-chave como “dinheiro” e “Fidel” foram picadas e espalhadas em suas roupas”.<ref>Jornal do Brasil – Ideias – 14/07/1996</ref>
{{citação2|''Logo depois do golpe militar no Brasil, em 1964, ''[[Cuba]]'' mandou pelo menos US$ 200 mil para financiar a resistência articulada no ''[[Uruguai]]'' por ''[[Leonel Brizola]].'' Quem negociou a remessa de dinheiro foi o sociólogo ''[[Herbert de Souza]],'' o Betinho, então dirigente da ''[[União Nacional dos Estudantes]].'' Para não deixar pistas ele cumpriu um roteiro até ''[[Havana]];'' embarcou em ''[[Montevidéu]];'' trocou de avião em ''[[Buenos Aires]]'', de lá voou para ''[[Paris]];'' de Paris para ''[[Praga]];'' de Praga para a ''[[Irlanda]]'' para o ''[[Canadá]];'' e finalmente para Cuba. Só até Praga foram 26 horas de voo, lembra Betinho, portador de uma carta de Brizola para ''[[Fidel Castro]],'' em que palavras-chave como "dinheiro" e "Fidel" foram picadas e espalhadas em suas roupas.<ref>Jornal do Brasil – Ideias – 14/07/1996</ref>}}


Brizola, para difundir seus planos, mandou imprimir em [[Montevidéu]] 10.000 exemplares do Regulamento Revolucionário, elaborado por ele, e os distribuiu em Montevidéu e, também entre simpatizantes, no Brasil. Mandava mensagens constantes, usando intermediários, como o ex-sargento da Brigada Militar Alberi Vieira dos Santos e Lúcio Soares Costa, que tinham livre trânsito na fronteira.<ref name="ReferenceA"/>
Brizola, para difundir seus planos, mandou imprimir em [[Montevidéu]] 10.000 exemplares do Regulamento Revolucionário, elaborado por ele, e os distribuiu em Montevidéu e, também entre simpatizantes, no Brasil. Mandava mensagens constantes, usando intermediários, como o ex-sargento da Brigada Militar Alberi Vieira dos Santos e Lúcio Soares Costa, que tinham livre trânsito na fronteira.<ref name="ReferenceA"/>
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=== Francisco Julião e as Ligas Camponesas ===
=== Francisco Julião e as Ligas Camponesas ===

Em janeiro de [[1961]], o dirigente das [[Ligas Camponesas]], [[Francisco Julião]], visitou a [[República Popular da China]], integrando uma delegação de advogados brasileiros, entre os quais [[Sinval Pereira]], militante do [[PCB]], e [[Aguiar Dias]], ministro do extinto Tribunal Federal de Recursos. Em [[Pequim]], Julião teve um encontro reservado com dirigentes chineses que, falando em nome de [[Mao Tse-tung]], lhe fizeram uma proposta atraente: treinar militantes das Ligas Camponesas na Academia Militar de Pequim. Julião retornou ao Brasil e iniciou os preparativos para montar o grupo. Três agentes chineses vieram ao Brasil, especialmente destacados para atender as Ligas, encontrando-se com Julião no Rio de Janeiro. Os planos, todavia, tiveram que ser suspensos por causa da crise política que se seguiu à renúncia do presidente [[Jânio Quadros]].
Em janeiro de [[1961]], o dirigente das [[Ligas Camponesas]], [[Francisco Julião]], visitou a [[República Popular da China]], integrando uma delegação de advogados brasileiros, entre os quais [[Sinval Pereira]], militante do [[PCB]], e [[Aguiar Dias]], ministro do extinto Tribunal Federal de Recursos. Em [[Pequim]], Julião teve um encontro reservado com dirigentes chineses que, falando em nome de [[Mao Tse-tung]], lhe fizeram uma proposta atraente: treinar militantes das Ligas Camponesas na Academia Militar de Pequim. Julião retornou ao Brasil e iniciou os preparativos para montar o grupo. Três agentes chineses vieram ao Brasil, especialmente destacados para atender as Ligas, encontrando-se com Julião no Rio de Janeiro. Os planos, todavia, tiveram que ser suspensos por causa da crise política que se seguiu à renúncia do presidente [[Jânio Quadros]].


Os dirigentes das Ligas Camponesas planejaram dedicar de cinco a dez anos para a organização das massas rurais para a chamada "aliança operário-camponesa", tida como imprescindível para a futura Revolução Socialista no Brasil. Em março de 1961, [[José Felipe Carneado Rodríguez]], membro do Comitê Central do [[Partido Comunista Cubano]], veio ao Brasil com a missão de convidar líderes camponeses brasileiros para a comemoração do [[Dia do Trabalhador|1 de Maio]] em [[Havana]], e para que conhecessem a [[Reforma agrária]] feita pelo governo castrista. Ficou hospedado em [[Recife]] (PE), na casa de [[Clodomir Morais]]. A delegação acabou excedendo o número inicialmente previsto e terminou com 122 nomes. Além do ''Britannia'', o avião oficial da Presidência cubana, veio um DC-4 extra para transportar os convidados brasileiros de Fidel.
Os dirigentes das Ligas Camponesas planejaram dedicar de cinco a dez anos para a organização das massas rurais para a chamada "aliança operário-camponesa", tida como imprescindível para a futura Revolução Socialista no Brasil. Em março de 1961, [[José Felipe Carneado Rodríguez]], membro do Comitê Central do [[Partido Comunista Cubano]], veio ao Brasil com a missão de convidar líderes camponeses brasileiros para a comemoração do [[Dia do Trabalhador|1 de Maio]] em [[Havana]], e para que conhecessem a [[Reforma agrária]] feita pelo governo [[Castrismo|castrista]]. Ficou hospedado em [[Recife]] (PE), na casa de [[Clodomir Morais]]. A delegação acabou excedendo o número inicialmente previsto e terminou com 122 nomes. Além do ''Britannia'', o avião oficial da Presidência cubana, veio um [[Douglas DC-4|DC-4]] extra para transportar os convidados brasileiros de Fidel.


Nesta comemoração do 1o de Maio de 1961, em Havana, Francisco Julião teve seu segundo encontro com [[Fidel Castro]] (o primeiro fora em março de [[1960]], quando Julião fez parte da comitiva do candidato presidencial Janio Quadros, em visita a [[Cuba]]). Foi nessa comemoração que Fidel declarou o caráter marxista-lenista da [[Revolução Cubana]] e que se ouviu pela primeira vez a ''Internacional'' executada oficialmente por um governo do Continente Americano.
Nesta comemoração do 1o de Maio de 1961, em Havana, Francisco Julião teve seu segundo encontro com [[Fidel Castro]] (o primeiro fora em março de [[1960]], quando Julião fez parte da comitiva do candidato presidencial Janio Quadros, em visita a [[Cuba]]). Foi nessa comemoração que Fidel declarou o caráter [[Marxismo-leninismo|marxista-lenista]] da [[Revolução Cubana]] e que se ouviu pela primeira vez ''[[A Internacional]]'' executada oficialmente por um governo do Continente Americano.


Em julho de 1961 desembarcaram em Cuba treze militantes das Ligas Camponesas que receberiam adestramento militar em Cuba. Entre eles, [[Adalto Freire da Cruz]], paraibano, membro do comitê estadual do PCB em [[Pernambuco]], designado comandante militar do grupo; [[Amaro Luís de Carvalho]], militante do PCB e aluno do curso Stalin; [[Adamastor Bonilha]], militante do PCB, e [[Joaquim Mariano da Silva]], também militante do PCB.
Em julho de 1961 desembarcaram em Cuba treze militantes das Ligas Camponesas que receberiam adestramento militar em Cuba. Entre eles, [[Adalto Freire da Cruz]], paraibano, membro do comitê estadual do PCB em [[Pernambuco]], designado comandante militar do grupo; [[Amaro Luís de Carvalho]], militante do PCB e aluno do curso Stalin; [[Adamastor Bonilha]], militante do PCB, e [[Joaquim Mariano da Silva]], também militante do PCB.
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Estabelecida a relação oficial entre as Ligas Camponesas e a Revolução Cubana, o advogado Francisco Julião seria o homem da Organização de Massas (OM), e Clodomir de Morais o homem da Organização Política (OP).
Estabelecida a relação oficial entre as Ligas Camponesas e a Revolução Cubana, o advogado Francisco Julião seria o homem da Organização de Massas (OM), e Clodomir de Morais o homem da Organização Política (OP).


O plano da esquerda brasileira era que as Ligas Camponesas desatassem a guerrilha rural no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]] e Norte brasileiros, enquanto eclodissem simultaneamente outros movimentos revolucionários na [[Colômbia]] e na [[Venezuela]].
O plano da esquerda brasileira era que as Ligas Camponesas desatassem a [[guerrilha] rural no [[Região Nordeste do Brasil|Nordeste]] e [[Região Norte do Brasil|Norte brasileiros]], enquanto eclodissem simultaneamente outros movimentos revolucionários na [[Colômbia]] e na [[Venezuela]].


Comandando uma força internacionalista, afirmam que [[Che Guevara]] pretendia estabelecer-se na [[Amazônia]] sul-americana, ligando assim as guerrilhas do Brasil, da Colômbia e da Venezuela.
Comandando uma força [[Internacionalismo|internacionalista]], afirmam que [[Che Guevara]] pretendia estabelecer-se na [[Amazônia]] sul-americana, ligando assim as guerrilhas do Brasil, da Colômbia e da Venezuela.


Por volta de novembro de 1961, começou a ser executado um projeto político-militar das Ligas Camponesas. Francisco Julião percorria o país convidando militantes do PCB para aderirem à tese da Revolução Socialista através da luta armada. O líder da revolta camponesa de Formosa ([[Goiás]]), José Porfírio de Sousa, foi convidado por Julião para ser o instrutor militar da guerrilha.
Por volta de novembro de 1961, começou a ser executado um projeto político-militar das Ligas Camponesas. Francisco Julião percorria o país convidando militantes do PCB para aderirem à tese da [[Revolução socialista]] através da luta armada. O líder da revolta camponesa de Formosa ([[Goiás]]), José Porfírio de Sousa, foi convidado por Julião para ser o instrutor militar da guerrilha.


As movimentações de Julião, entretanto, terminam em escândalo. Em 27 de novembro de 1962, um avião da [[VARIG]] colidiu com uma montanha nas proximidades de [[Lima]], [[Peru]]. Entre as vítimas estava o Presidente do Banco Nacional de Cuba, Raúl Cepero Bonilla.
As movimentações de Julião, entretanto, terminam em escândalo. Em 27 de novembro de 1962, um avião da [[VARIG]] colidiu com uma montanha nas proximidades de [[Lima]], [[Peru]]. Entre as vítimas estava o Presidente do Banco Nacional de Cuba, Raúl Cepero Bonilla.
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=== A cisão do Partido Comunista do Brasil e o surgimento do PC do B ===
=== A cisão do Partido Comunista do Brasil e o surgimento do PC do B ===
As denúncias de [[Nikita Khrushchev|Khrushchev]] contra o [[stalinismo]], no XX Congresso do [[Partido Comunista da União Soviética]] provocaram crises internas em praticamente todos os partidos comunistas do mundo, repercutindo também no PCB, que em [[1960]] alterou sua denominação de [[Partido Comunista do Brasil]] para [[Partido Comunista Brasileiro]]


As denúncias de [[Nikita Khrushchev|Khrushchev]] contra o [[stalinismo]], no XX Congresso do [[Partido Comunista da União Soviética]] (''ver: [[Discurso Secreto]]'') provocaram crises internas em praticamente todos os partidos comunistas do mundo, repercutindo também no PCB, que em [[1960]] alterou sua denominação de [[Partido Comunista do Brasil]] para [[Partido Comunista Brasileiro]]
Em fevereiro de 1962 foram expulsos do Comitê Central do PCB todos os membros que ainda continuavam apegados à '''linha stalinista:''' Diógenes de Arruda Câmara, [[João Amazonas|João Amazonas de Sousa Pedroso]], Pedro Ventura Araújo Pomar, [[Maurício Grabois]], Miguel Batista dos Santos, José Maria Cavalcanti, José Duarte, Angelo Arroyo e Orlando Piotto. Tais membros expulsos viriam a fundar ainda neste ano o [[PC do B]].<ref>Cf. GORENDER, Jacob. Combate nas trevas. São Paulo, Ática, 1987.</ref>

Em fevereiro de 1962 foram expulsos do Comitê Central do PCB todos os membros que ainda continuavam apegados à linha stalinista: Diógenes de Arruda Câmara, [[João Amazonas|João Amazonas de Sousa Pedroso]], [[Pedro Pomar|Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar]], [[Maurício Grabois]], Miguel Batista dos Santos, José Maria Cavalcanti, José Duarte, [[Ângelo Arroyo]] e Orlando Piotto. Tais membros expulsos viriam a fundar ainda neste ano o [[PC do B]].<ref name="Combate nas Trevas"/>


== A luta armada contra o Regime Militar de 1964 ==
== A luta armada contra o Regime Militar de 1964 ==
Com o golpe militar de 1964 e o combate cada vez maior dos militares contra os focos de agitação, grupos dissidentes dos partidos comunistas iniciaram as atividades de guerrilha armada urbana ou rural com vista a derrubar a [[ditadura militar]] e restabelecer o governo democraticamente eleito de [[João Goulart]].


Com o [[golpe militar de 1964]] e o combate cada vez maior dos militares contra os focos de agitação, grupos dissidentes dos partidos comunistas iniciaram as atividades de guerrilha armada urbana ou rural com vista a derrubar a [[ditadura militar]] e restabelecer o governo democraticamente eleito de [[João Goulart]].
Dentro do próprio exército, cerca de doze militares perseguidos pelo novo poder vigente (regime militar autoritário de direita) se organizaram no [[MNR]] (Movimento Nacionalista Revolucionário), o grupo que teria sido o primeiro a se dedicar às atividades armadas de oposição ao militarismo ditatorial. Paralelamente organizações esquerdistas como a [[POLOP]] deram origem a grupos cada vez mais radicais de "resistência", praticando assassinatos políticos, sequestros de embaixadores para troca de prisioneiros políticos, assaltos a bancos e supermercados, para financiar as lutas armadas contra o regime militar.

Dentro do próprio exército, cerca de doze militares perseguidos pelo novo poder vigente (regime militar autoritário de [[Direita política|direita]]) se organizaram no [[MNR]] (Movimento Nacionalista Revolucionário), o grupo que teria sido o primeiro a se dedicar às atividades armadas de oposição ao [[militarismo]] ditatorial. Paralelamente organizações esquerdistas como a [[POLOP]] deram origem a grupos cada vez mais radicais de "resistência", praticando assassinatos políticos, [[sequestro]]s de [[embaixador]]es para troca de [[Preso político|presos políticos]], assaltos a bancos e supermercados, para financiar as lutas armadas contra o regime militar.


A luta armada foi travada especialmente de 1967 a 1974.<ref>Cf. REZENDE, Claudinei Cássio de. Suicídio Revolucionário. São Paulo: Editora Unesp, 2010.</ref>
A luta armada foi travada especialmente de 1967 a 1974.<ref>Cf. REZENDE, Claudinei Cássio de. Suicídio Revolucionário. São Paulo: Editora Unesp, 2010.</ref>
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=== Táticas de guerrilha ===
=== Táticas de guerrilha ===


A respeito da tática de guerrilha, usada por parte da oposição esquerdista ao regime militar, o seu maior incentivador foi [[Carlos Marighella]], que assim se posicionou sobre guerrilhas, especialmente sobre a guerrilha rural como a "[[Guerrilha do Araguaia]]":
A respeito da [[tática de guerrilha]], usada por parte da oposição esquerdista ao regime militar, o seu maior incentivador foi [[Carlos Marighella]], que assim se posicionou sobre guerrilhas, especialmente sobre a guerrilha rural como a "[[Guerrilha do Araguaia]]":


{{quote2|''O princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural, servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a guerrilha rural''!|Carlos Marighella}}
{{Citação2|''O princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural, servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a guerrilha rural!''|Carlos Marighella}}


Carlos Marighella, em seu “Manual de Guerrilha” assim explicava como deveria ser a luta armada visando a implantação do comunismo no Brasil:
Carlos Marighella, em seu “Manual de Guerrilha” assim explicava como deveria ser a luta armada visando a implantação do comunismo no Brasil:
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===== Principais ações =====
===== Principais ações =====

*O [[Atentado do Aeroporto dos Guararapes|atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes]], em [[Recife]], em [[25 de julho]] de 1966, visando atingir o candidato a presidente [[Costa e Silva]]. Foram mortos o jornalista Edson Regis de Carvalho e o almirante Nelson Gomes Fernandes e mais 20 feridos graves.
*O [[Atentado do Aeroporto dos Guararapes|atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes]], em [[Recife]], em [[25 de julho]] de 1966, visando atingir o candidato a presidente [[Costa e Silva]]. Foram mortos o jornalista [[Edson Régis de Carvalho]] e o [[almirante]] [[Nelson Gomes Fernandes]] e mais 20 feridos graves.
*Em 26 de junho de 1968, é atacado a bombas, o Quartel General do II Exército, em São Paulo, morre o soldado [[Mário Kozel Filho]].
*Em 26 de junho de 1968, é atacado a bombas, o Quartel General do II Exército, em São Paulo, morre o soldado [[Mário Kozel Filho]].
*O Capitão do Exército dos EUA enviado ao Brasil para ensinar "técnicas de interrogatório" aos órgãos de repressão, [[Charles Rodney Chandler]], é metralhado em seu carro, no dia 12 de outubro de 1968.
*O Capitão do Exército dos EUA enviado ao Brasil para ensinar "técnicas de interrogatório" aos órgãos de repressão, [[Charles Rodney Chandler]], é metralhado em seu carro, no dia 12 de outubro de 1968.
*Em 24 de janeiro de 1969, é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em [[Quitaúna]] São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros.
*Em 24 de janeiro de 1969, é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em [[Quitaúna]] São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros.
*No dia 4 de setembro de 1969, militantes da [[Ação Libertadora Nacional]] ('''ALN''') e o [[Movimento Revolucionário 8 de Outubro]] ('''MR-8'''), capturaram o embaixador dos Estados Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que corriam risco de morte.<ref>[http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=manifesto-do-sequestro-do-embaixador-americano-rio-1969]</ref>
*No dia 4 de setembro de 1969, militantes da [[Ação Libertadora Nacional]] ('''ALN''') e o [[Movimento Revolucionário 8 de Outubro]] ('''MR-8'''), capturaram o embaixador dos Estados Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que corriam risco de morte.<ref>[http://www.franklinmartins.com.br/estacao_historia_artigo.php?titulo=manifesto-do-sequestro-do-embaixador-americano-rio-1969]</ref>
*No dia 18 de julho de 1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção do ex-governador paulista Adhemar de Barros, conhecido pelo slogan "rouba, mas faz".
*No dia 18 de julho de 1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção do ex-governador paulista [[Adhemar de Barros]], conhecido pelo slogan "rouba, mas faz".
*Em 11 de março de 1970, revolucionários brasileiros sequestraram o cônsul japonês, Nobuo Okushi, com a intenção de libertar presos políticos.
*Em 11 de março de 1970, revolucionários brasileiros sequestraram o cônsul japonês, Nobuo Okushi, com a intenção de libertar presos políticos.
*Na noite de 8 de maio de 1970, após descobrirem que o tenente da [[Polícia Militar do Estado de São Paulo]] [[Alberto Mendes Júnior]] havia se infiltrado e delatado a VPR, o mesmo foi sequestrado por guerrilheiros e executado a golpes de coronhadas no rosto pelo desertor do exército [[Carlos Lamarca]]. Alberto tinha se entregue como refém em troca da liberação de seus subordinados, que haviam se ferido no confronto com o grupo de Lamarca.<ref>{{citar web |url=http://www.aggio.jor.br/jornal23/mendes_jr.htm|publicado=|autor=Modesto Spachesi|título="A morte inglória de um Heroi"|data= |acessodata=12 novembro 2012}}</ref>
*Na noite de 8 de maio de 1970, após descobrirem que o tenente da [[Polícia Militar do Estado de São Paulo]] [[Alberto Mendes Júnior]] havia se infiltrado e delatado a VPR, o mesmo foi sequestrado por guerrilheiros e executado a golpes de coronhadas no rosto pelo [[desertor]] do exército [[Carlos Lamarca]]. Alberto tinha se entregue como refém em troca da liberação de seus subordinados, que haviam se ferido no confronto com o grupo de Lamarca.<ref>{{citar web |url=http://www.aggio.jor.br/jornal23/mendes_jr.htm|publicado=|autor=Modesto Spachesi|título="A morte inglória de um Heroi"|data= |acessodata=12 novembro 2012}}</ref>


===== Atentado ao Gasômetro =====
===== Atentado ao Gasômetro =====

{{Artigo principal|Caso Para-Sar}}
{{Artigo principal|Caso Para-Sar}}

No contexto da oposição aos comunistas e esquerdistas em geral, o regime militar brasileiro planejou várias ações com o intuito de incriminar setores de oposição por atentados e ataques: o mais conhecido desses foi o caso Para-SAR, ou Atentado ao Gasômetro.
No contexto da oposição aos comunistas e esquerdistas em geral, o regime militar brasileiro planejou várias ações com o intuito de incriminar setores de oposição por atentados e ataques: o mais conhecido desses foi o caso Para-SAR, ou Atentado ao Gasômetro.


Em [[1968]], o brigadeiro [[João Paulo Burnier]], que era na época chefe de gabinete do ministro [[Márcio Melo]], planejou explodir o gasômetro do [[Rio de Janeiro]] com o auxílio do Para-SAR, uma divisão da [[Aeronáutica]] empregada para salvamentos em local de difícil acesso.
Em [[1968]], o [[brigadeiro]] [[João Paulo Burnier]], que era na época chefe de gabinete do ministro [[Márcio Melo]], planejou explodir o gasômetro do [[Rio de Janeiro]] com o auxílio do Para-SAR, uma divisão da [[Aeronáutica]] empregada para salvamentos em local de difícil acesso.


O projeto foi levado adiante com grande segredo. Confiou-se a missão ao capitão-aviador [[Sérgio Miranda de Carvalho]], que no entanto negou-se a cumprir a missão e ameaçou denunciar Burnier caso tentasse levar o plano adiante com outro oficial.
O projeto foi levado adiante com grande segredo. Confiou-se a missão ao [[capitão]]-[[aviador]] [[Sérgio Miranda de Carvalho]], que no entanto negou-se a cumprir a missão e ameaçou denunciar Burnier caso tentasse levar o plano adiante com outro oficial.


Sérgio foi declarado [[loucura|louco]] e afastado da Aeronáutica em [[1969]]. O caso continuou abafado até [[1978]], quando o brigadeiro Eduardo Gomes fez uma declaração defendendo seu colega, confirmando o projeto de explosão de gasômetros e destruição de instalações elétricas para criar pânico na população, revelando o caso para o conhecimento público.<ref name="oglobo:gasometro">{{Citar jornal |url=http://oglobo.globo.com/rio/mat/2006/11/22/286760873.asp |título=Começa o desmonte de tanques do Gasômetro|data = 22 de novembro de 2006| editora=[[Organizações Globo]]|jornal=[[O Globo|O Globo Online]]|acessodata=16 de fevereiro de 2010}}</ref><ref>{{Citar jornal|url=http://www.arqanalagoa.ufscar.br/pdf/recortes/R04919.pdf |título=Capitão Sérgio acha que no episódio do Para-Sar réu é o antigo regime |jornal=[[Jornal do Brasil]]|data= 21 de junho de 1985|acessodata=16 de fevereiro de 2010}}</ref><ref name="dhbb:para-sar">{{citar web | título = [[Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro]] | publicado= [[Fundação Getulio Vargas]] |url=http://www.cpdoc.fgv.br/dhbb/verbetes_htm/2353_7.asp}}{{ligação inativa}} Verbete ''Eduardo Gomes. O Caso Para-Sar.''</ref>
Sérgio foi declarado [[loucura|louco]] e afastado da Aeronáutica em [[1969]]. O caso continuou abafado até [[1978]], quando o brigadeiro [[Eduardo Gomes]] fez uma declaração defendendo seu colega, confirmando o projeto de explosão de gasômetros e destruição de instalações elétricas para criar pânico na população, revelando o caso para o conhecimento público.<ref name="oglobo:gasometro">{{Citar jornal |url=http://oglobo.globo.com/rio/mat/2006/11/22/286760873.asp |título=Começa o desmonte de tanques do Gasômetro|data = 22 de novembro de 2006| editora=[[Organizações Globo]]|jornal=[[O Globo|O Globo Online]]|acessodata=16 de fevereiro de 2010}}</ref><ref>{{Citar jornal|url=http://www.arqanalagoa.ufscar.br/pdf/recortes/R04919.pdf |título=Capitão Sérgio acha que no episódio do Para-Sar réu é o antigo regime |jornal=[[Jornal do Brasil]]|data= 21 de junho de 1985|acessodata=16 de fevereiro de 2010}}</ref><ref name="dhbb:para-sar">{{citar web | título = [[Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro]] | publicado= [[Fundação Getulio Vargas]] |url=http://www.cpdoc.fgv.br/dhbb/verbetes_htm/2353_7.asp}}{{ligação inativa}} Verbete ''Eduardo Gomes. O Caso Para-Sar.''</ref>


===== Sequestro do embaixador norte-americano =====
===== Sequestro do embaixador norte-americano =====

No dia [[4 de Setembro]] de 1969, o grupo de resistência armada [[MR-8]], ([[Movimento Revolucionário 8 de Outubro]]), sequestra o embaixador americano no Brasil, [[Charles Burke Elbrick]]. Em [[5 de Setembro]] de 1969, é mandado cumprir o [[Ato Institucional Número Treze]], ou AI-13, que institui o ''…(sic) banimento do território nacional o brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional''. Em [[7 de Setembro]] de 1969 é liberado o Embaixador americano e os 15 guerrilheiros presos libertados, e em função do AI-13, são banidos para o México. Foram também sequestrados o embaixador alemão [[Ehrenfried von Holleben]] e o embaixador suiço [[Giovanni Bucher]].
No dia [[4 de Setembro]] de 1969, o grupo de resistência armada [[MR-8]], ([[Movimento Revolucionário 8 de Outubro]]), sequestra o embaixador americano no Brasil, [[Charles Burke Elbrick]]. Em [[5 de Setembro]] de 1969, é mandado cumprir o [[Ato Institucional Número Treze]], ou AI-13, que institui o ''…(sic) banimento do território nacional o brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional''. Em [[7 de Setembro]] de 1969 é liberado o Embaixador americano e os 15 guerrilheiros presos libertados, e em função do AI-13, são banidos para o [[México]]. Foram também sequestrados o embaixador alemão [[Ehrenfried von Holleben]] e o embaixador suiço [[Giovanni Bucher]].


== Lista completa de organizações que abraçaram a luta armada ou de massas contra o regime militar ==
== Lista completa de organizações que abraçaram a luta armada ou de massas contra o regime militar ==
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== As consequências ==
== As consequências ==

* Mais de mil sindicatos de trabalhadores foram fundados até 1964
* Mais de mil [[sindicato]]s de trabalhadores foram fundados até 1964
* Surge o [[Comando Geral dos Trabalhadores]] (CGT)
* Surge o [[Comando Geral dos Trabalhadores]] (CGT)
* [[Pacto de Unidade e Ação]] (PUA ­ aliança intersindical)
* [[Pacto de Unidade e Ação]] (PUA ­ aliança intersindical)
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* [[Ação Popular (esquerda cristã)|Ação Popular]] (católicos de esquerda)
* [[Ação Popular (esquerda cristã)|Ação Popular]] (católicos de esquerda)
* [[Instituto Superior de Estudos Brasileiros]] (Iseb - reunindo intelectuais de esquerda)
* [[Instituto Superior de Estudos Brasileiros]] (Iseb - reunindo intelectuais de esquerda)
* [[Frente de Mobilização Popular]] (FMP, liderada por Leonel Brizola)
* [[Frente de Mobilização Popular]] (FMP, liderada por [[Leonel Brizola]])
* [[União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil]]
* [[União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil]]
* [[Ligas camponesas]]
* [[Ligas camponesas]]


== Críticas ==
{{referências}}

Os movimentos que enfrentaram a [[Ditadura militar no Brasil (1964-1985)|ditadura militar]] são criticados, inclusive, por ex militantes da esquerda armada. Segundo críticos, os grupos que lutaram contra o regime, na realidade, não desejavam democracia e sim, estabelecer no [[Brasil]] um regime inspirado no modelo [[totalitário]] de [[Cuba]].<ref>[http://spotniks.com/quem-disse-que-dilma-rousseff-lutou-por-democracia/ Spotniks] - Quem disse que Dilma Rousseff lutou por democracia? Rodrigo da Silva, 6 de Maio de 2015. Acessado em 10 de Maio de 2015.</ref> <ref name="Um adendo modesto à verdade.">[http://www.revistadacultura.com.br/resultado/14-03-06/Um_adendo_modesto_%C3%A0_verdade.aspx Revista da Cultura] - Um adendo modesto à verdade. Luiz Felipe Pondé, 06/03/2014. Acessado em 10 de Maio de 2015.</ref>

[[Daniel Aarão Reis Filho]] afirma que a luta armada de esquerda foi [[mitificação|mitificada]] e [[romantização|romantizada]]:

{{Citação2|''As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 ''(inclusive eu)'' fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da ''[[Lei da anistia (Brasil)|anistia]].'' Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ''[[ditadura revolucionária]].'' Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática.''<ref>Entrevista de Daniel Aarão Reis Filho, concedida ao [[jornal]] [[O Globo]] em 23 de Setembro de 2001. Adicionado em 10/05/2015.</ref>}}

O ex comunista <ref>[http://wn.com/porque_me_frustrei_com_o_comunismo World News] - Olavo de Carvalho: Porque me frustrei com o comunismo. Acessado em 10/05/2015.</ref> e, atualmente, [[anticomunismo|anticomunista]] [[Olavo de Carvalho]]:

{{Citação2|''Traduzido do peculiar idioma universitário nacional — o único, no mundo, em que ambigüidade é sinônimo de rigor — que significa esse parágrafo senão que a esquerda brasileira, com a ajuda de Cuba, tentava conquistar o poder por via armada desde três anos antes do golpe militar e que, depois dele, passou a usar o novo regime como pretexto retroativo para alegar que fora compelida ao uso das armas, a contragosto, com lágrimas de piedade nos olhos, pela supressão autoritária de seus meios incruentos de luta? <br />A esquerda, enfim, mentiu durante quase 40 anos, enquanto a ''[[Direita política|direita]],'' a execrável direita, simplesmente dizia a verdade ao alegar que o golpe de 1964 fora uma reação legítima contra uma revolução em curso que não se vexava de recorrer à violência armada com a ajuda clandestina de uma ditadura estrangeira.''<ref>[http://www.olavodecarvalho.org/semana/semfim.htm Olavodecarvalho.org] - Traição sem fim. Olavo de Carvalho, O Globo, 5 de Maio de 2001. Acessado em 10/05/2015.</ref>}}

[[Luiz Felipe Pondé]] lamentou que a CNV ([[Comissão Nacional da Verdade]]), criada para esclarecer os crimes cometidos durante a ditadura, não apurou adequadamente os crimes também cometidos pela oposição armada de esquerda durante aquele período. E, além disso, não revelou as reais intenções de seus integrantes.<ref name="Um adendo modesto à verdade." />

{{Citação2|''Essa moçada que diz que combatia em nome da ''[[democracia]]'' era financiada por regimes totalitários descarados e, se vencessem naquele momento histórico, seríamos hoje uma grande Cuba. <br /> Outra mentira a ser trazida à luz é que a ditadura desarticulou a esquerda. Não, não só a esquerda passa muito bem (tanto que está no poder há anos) como venceu a ditadura. Não pelas armas, mas pela cultura. Venceu enquanto transava com as alunas e tomava vinho nos ''[[Jardins]].'' <br />Quando afirmo que a esquerda venceu, não me refiro a uma esquerda dos ''[[anos 1960]],'' mas sim a uma esquerda cozida no espírito de'' [[Antonio Gramsci]]: "a batalha não deve se dar pelas armas, mas pela conquista das mentes."<ref name="Um adendo modesto à verdade." />}}


== Ver também ==
== Ver também ==

* [[Ações da KGB no Brasil]]
* [[Anos de chumbo (Brasil)|Anos de chumbo]]
* [[Atividades da CIA no Brasil]]
* [[Memorial da Resistência de São Paulo|Memorial da Resistência]]
* [[Memorial da Resistência de São Paulo|Memorial da Resistência]]
* [[Pressão social sobre o Regime Militar de 1964]]

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== Bibliografia ==
== Bibliografia ==
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* SAUTCHUK, J. Luta armada no Brasil dos anos 60 e 70. São Paulo: Anita Garibaldi, 1995.
* SAUTCHUK, J. Luta armada no Brasil dos anos 60 e 70. São Paulo: Anita Garibaldi, 1995.
* WEFFORT, F. Por que democracia? 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.
* WEFFORT, F. Por que democracia? 2ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1984.

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Revisão das 02h18min de 11 de maio de 2015

Predefinição:Anos de Chumbo A esquerda armada no Brasil se iniciou antes do golpe militar de 1964 quando o socialismo revolucionário trouxe métodos empíricos do chamado político pelos anarquistas espanhóis, portugueses e italianos, que fundaram, no início do século XX, os primeiros sindicatos do País.

Revolução Russa e Anarquismo

A vitória da Revolução Russa de 1917 repercutiu fortemente na esquerda brasileira. Alguns dizem que fez com que os anarquistas brasileiros entrassem em um período de revisão de valores ideológicos.

O anarquismo passou a ser visto como incapaz de modificar radicalmente a estrutura social, ao mesmo tempo em que os esquerdistas brasileiros, de formação originalmente anarquista, acompanhavam a experiência russa, que aos seus olhos se mostrava como uma nova alvorada para a Revolução Social[1]. Chefes anarquistas, então, aderiram ao comunismo e entregaram-se apressadamente ao estudo das obras de Karl Marx e Lenin.

Em abril de 1922 realizou-se o I Congresso Comunista do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. O resultado desse Congresso foi a unificação dos grupos comunistas esparsos pelo País, com a fundação do PCB (Partido Comunista Brasileiro) (registrado na época como PC-SBIC - Partido Comunista - Seção Brasileira da Internacional Comunista).

Desde a fundação do Partido, a via revolucionária para o socialismo, ou seja, a tomada do poder pela força, sempre foi a grande discussão de muitos comunistas brasileiros. Esse projeto pareceu ficar mais concreto depois da adesão ao Partido do conhecido líder tenentista Capitão Luís Carlos Prestes.

Em 1935, com a Intentona Comunista, houve a primeira tentativa da esquerda revolucionária brasileira tomar o poder. O levante, alegadamente mal planejado e executado, só serviu para abalar as frágeis instituições democráticas e preparar o caminho para que o presidente nacionalista Getúlio Vargas instaurasse o Estado Novo.

A radicalização política na década de 1960

Mesmo tendo sido derrotados em 1935, alguns dos militantes comunistas continuavam acalentando o sonho da revolução popular e da tomada do poder pelas classes humildes e oprimidas do Brasil. Segundo alguns dos comunistas, depois da Revolução Russa e da Revolução Chinesa, o Brasil estava destinado a ser o palco da terceira grande revolução socialista do século.

Jacob Gorender sobre a radicalização da esquerda na década de 1960:

O período de 60 a 64 marca o auge da luta de classes no Brasil. Nos primeiros meses de 1964 esboçou-se uma situação pré revolucionária e o golpe direitista se definiu pelo caráter contrarrevolucionário preventivo. Houve chance de vencer, mas foi perdida. O pior é que foi perdida de maneira desmoralizante.[2]

Brizola e a luta armada

De acordo com Carlos Alberto Brilhante Ustra, em seu livro A Verdade Sufocada:

Dos primeiros a chegar, com seu arroubo platino, seu inegável carisma e sua popularidade, alcançada graças a sua "Cadeia da Legalidade" em 1961, Brizola não perdeu a oportunidade para aglutinar resistência em torno de seu nome. Com planos mirabolantes, fez contatos com ex-militares cassados, sindicalistas, estudantes, comunistas, políticos, padres e freiras. Contatou, também com agentes cubanos e organizou um "livro de ouro" para financiar a derrubada do novo regime no Brasil.
 
"Jango, Brizola, Exílio, AIDS e outras histórias de Betinho."[3].
Logo depois do golpe militar no Brasil, em 1964, Cuba mandou pelo menos US$ 200 mil para financiar a resistência articulada no Uruguai por Leonel Brizola. Quem negociou a remessa de dinheiro foi o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, então dirigente da União Nacional dos Estudantes. Para não deixar pistas ele cumpriu um roteiro até Havana; embarcou em Montevidéu; trocou de avião em Buenos Aires, de lá voou para Paris; de Paris para Praga; de Praga para a Irlanda para o Canadá; e finalmente para Cuba. Só até Praga foram 26 horas de voo, lembra Betinho, portador de uma carta de Brizola para Fidel Castro, em que palavras-chave como "dinheiro" e "Fidel" foram picadas e espalhadas em suas roupas.[4]

Brizola, para difundir seus planos, mandou imprimir em Montevidéu 10.000 exemplares do Regulamento Revolucionário, elaborado por ele, e os distribuiu em Montevidéu e, também entre simpatizantes, no Brasil. Mandava mensagens constantes, usando intermediários, como o ex-sargento da Brigada Militar Alberi Vieira dos Santos e Lúcio Soares Costa, que tinham livre trânsito na fronteira.[3]

Os grupos de refugiados que, naturalmente, se dividiram em três – um sindical, um militar e um terceiro liderado por Brizola -, discutiam a criação de uma frente única e exigiam ação.

Francisco Julião e as Ligas Camponesas

Em janeiro de 1961, o dirigente das Ligas Camponesas, Francisco Julião, visitou a República Popular da China, integrando uma delegação de advogados brasileiros, entre os quais Sinval Pereira, militante do PCB, e Aguiar Dias, ministro do extinto Tribunal Federal de Recursos. Em Pequim, Julião teve um encontro reservado com dirigentes chineses que, falando em nome de Mao Tse-tung, lhe fizeram uma proposta atraente: treinar militantes das Ligas Camponesas na Academia Militar de Pequim. Julião retornou ao Brasil e iniciou os preparativos para montar o grupo. Três agentes chineses vieram ao Brasil, especialmente destacados para atender as Ligas, encontrando-se com Julião no Rio de Janeiro. Os planos, todavia, tiveram que ser suspensos por causa da crise política que se seguiu à renúncia do presidente Jânio Quadros.

Os dirigentes das Ligas Camponesas planejaram dedicar de cinco a dez anos para a organização das massas rurais para a chamada "aliança operário-camponesa", tida como imprescindível para a futura Revolução Socialista no Brasil. Em março de 1961, José Felipe Carneado Rodríguez, membro do Comitê Central do Partido Comunista Cubano, veio ao Brasil com a missão de convidar líderes camponeses brasileiros para a comemoração do 1 de Maio em Havana, e para que conhecessem a Reforma agrária feita pelo governo castrista. Ficou hospedado em Recife (PE), na casa de Clodomir Morais. A delegação acabou excedendo o número inicialmente previsto e terminou com 122 nomes. Além do Britannia, o avião oficial da Presidência cubana, veio um DC-4 extra para transportar os convidados brasileiros de Fidel.

Nesta comemoração do 1o de Maio de 1961, em Havana, Francisco Julião teve seu segundo encontro com Fidel Castro (o primeiro fora em março de 1960, quando Julião fez parte da comitiva do candidato presidencial Janio Quadros, em visita a Cuba). Foi nessa comemoração que Fidel declarou o caráter marxista-lenista da Revolução Cubana e que se ouviu pela primeira vez A Internacional executada oficialmente por um governo do Continente Americano.

Em julho de 1961 desembarcaram em Cuba treze militantes das Ligas Camponesas que receberiam adestramento militar em Cuba. Entre eles, Adalto Freire da Cruz, paraibano, membro do comitê estadual do PCB em Pernambuco, designado comandante militar do grupo; Amaro Luís de Carvalho, militante do PCB e aluno do curso Stalin; Adamastor Bonilha, militante do PCB, e Joaquim Mariano da Silva, também militante do PCB.

Os treze militantes foram alojados no quartel de Manágua, 30 quilômetros ao sul de Havana. A maioria tinha feito o serviço militar obrigatório no Brasil e sabia manejar armas com desembaraço.

Estabelecida a relação oficial entre as Ligas Camponesas e a Revolução Cubana, o advogado Francisco Julião seria o homem da Organização de Massas (OM), e Clodomir de Morais o homem da Organização Política (OP).

O plano da esquerda brasileira era que as Ligas Camponesas desatassem a [[guerrilha] rural no Nordeste e Norte brasileiros, enquanto eclodissem simultaneamente outros movimentos revolucionários na Colômbia e na Venezuela.

Comandando uma força internacionalista, afirmam que Che Guevara pretendia estabelecer-se na Amazônia sul-americana, ligando assim as guerrilhas do Brasil, da Colômbia e da Venezuela.

Por volta de novembro de 1961, começou a ser executado um projeto político-militar das Ligas Camponesas. Francisco Julião percorria o país convidando militantes do PCB para aderirem à tese da Revolução socialista através da luta armada. O líder da revolta camponesa de Formosa (Goiás), José Porfírio de Sousa, foi convidado por Julião para ser o instrutor militar da guerrilha.

As movimentações de Julião, entretanto, terminam em escândalo. Em 27 de novembro de 1962, um avião da VARIG colidiu com uma montanha nas proximidades de Lima, Peru. Entre as vítimas estava o Presidente do Banco Nacional de Cuba, Raúl Cepero Bonilla.

Dentro da pasta que ele carregava, havia relatórios que foram atribuídos, não comprovadamente, por alguns a Carlos Franklin Paixão de Araújo e Tarzan de Castro, militante das Ligas de Goiás, acusando Julião e Clodomir Morais de malversação dos fundos recebidos para a guerrilha.

Dizem alguns ainda, sem comprovação, que os relatórios (que não foram apresentados a público) detalhavam o atraso nos preparativos, a inexistência de infra-estrutura para o treinamento guerrilheiro, a precariedade e as deficiências dos planos políticos e paramilitares. Descrevia também, detalhadamente, as supostas algazarras e festas em que eram gastos os recursos enviados para a guerrilha rural.

Os relatórios encontrados com Cepero foram encaminhados para a CIA dos Estados Unidos e o embaixador peruano no Brasil, César Echecopar Herce, entregou uma cópia ao Governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, que iniciou uma virulenta campanha na imprensa contra a interferência cubana no Brasil.

A cisão do Partido Comunista do Brasil e o surgimento do PC do B

As denúncias de Khrushchev contra o stalinismo, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (ver: Discurso Secreto) provocaram crises internas em praticamente todos os partidos comunistas do mundo, repercutindo também no PCB, que em 1960 alterou sua denominação de Partido Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro

Em fevereiro de 1962 foram expulsos do Comitê Central do PCB todos os membros que ainda continuavam apegados à linha stalinista: Diógenes de Arruda Câmara, João Amazonas de Sousa Pedroso, Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar, Maurício Grabois, Miguel Batista dos Santos, José Maria Cavalcanti, José Duarte, Ângelo Arroyo e Orlando Piotto. Tais membros expulsos viriam a fundar ainda neste ano o PC do B.[2]

A luta armada contra o Regime Militar de 1964

Com o golpe militar de 1964 e o combate cada vez maior dos militares contra os focos de agitação, grupos dissidentes dos partidos comunistas iniciaram as atividades de guerrilha armada urbana ou rural com vista a derrubar a ditadura militar e restabelecer o governo democraticamente eleito de João Goulart.

Dentro do próprio exército, cerca de doze militares perseguidos pelo novo poder vigente (regime militar autoritário de direita) se organizaram no MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário), o grupo que teria sido o primeiro a se dedicar às atividades armadas de oposição ao militarismo ditatorial. Paralelamente organizações esquerdistas como a POLOP deram origem a grupos cada vez mais radicais de "resistência", praticando assassinatos políticos, sequestros de embaixadores para troca de presos políticos, assaltos a bancos e supermercados, para financiar as lutas armadas contra o regime militar.

A luta armada foi travada especialmente de 1967 a 1974.[5]

Táticas de guerrilha

A respeito da tática de guerrilha, usada por parte da oposição esquerdista ao regime militar, o seu maior incentivador foi Carlos Marighella, que assim se posicionou sobre guerrilhas, especialmente sobre a guerrilha rural como a "Guerrilha do Araguaia":

O princípio básico estratégico da organização é o de desencadear, tanto nas cidades como no campo, um volume tal de ações, que o governo se veja obrigado a transformar a situação política do País em uma situação militar, destruindo a máquina burocrático- militar do Estado e substituindo-a pelo povo armado. A guerrilha urbana exercerá um papel tático em face da guerrilha rural, servindo de instrumento de inquietação, distração e retenção das forças armadas, para diminuir a concentração nas operações repressivas contra a guerrilha rural!
 
Carlos Marighella.

Carlos Marighella, em seu “Manual de Guerrilha” assim explicava como deveria ser a luta armada visando a implantação do comunismo no Brasil:

Principais ações
  • O atentado no Aeroporto Internacional dos Guararapes, em Recife, em 25 de julho de 1966, visando atingir o candidato a presidente Costa e Silva. Foram mortos o jornalista Edson Régis de Carvalho e o almirante Nelson Gomes Fernandes e mais 20 feridos graves.
  • Em 26 de junho de 1968, é atacado a bombas, o Quartel General do II Exército, em São Paulo, morre o soldado Mário Kozel Filho.
  • O Capitão do Exército dos EUA enviado ao Brasil para ensinar "técnicas de interrogatório" aos órgãos de repressão, Charles Rodney Chandler, é metralhado em seu carro, no dia 12 de outubro de 1968.
  • Em 24 de janeiro de 1969, é atacado e assaltado o quartel do 4º RI, em Quitaúna São Paulo, com o roubo de grande quantidade de armas e munições, com intuito de fortalecer os armamentos dos guerrilheiros.
  • No dia 4 de setembro de 1969, militantes da Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), capturaram o embaixador dos Estados Unidos, com intuito de trocá-lo por presos políticos e estudantes que corriam risco de morte.[6]
  • No dia 18 de julho de 1969, guerrilheiros brasileiros roubam o famoso "cofre do Adhemar". De acordo com os revolucionários, esse dinheiro deveria ser empregado na luta contra a ditadura, pois era fruto dos atos de corrupção do ex-governador paulista Adhemar de Barros, conhecido pelo slogan "rouba, mas faz".
  • Em 11 de março de 1970, revolucionários brasileiros sequestraram o cônsul japonês, Nobuo Okushi, com a intenção de libertar presos políticos.
  • Na noite de 8 de maio de 1970, após descobrirem que o tenente da Polícia Militar do Estado de São Paulo Alberto Mendes Júnior havia se infiltrado e delatado a VPR, o mesmo foi sequestrado por guerrilheiros e executado a golpes de coronhadas no rosto pelo desertor do exército Carlos Lamarca. Alberto tinha se entregue como refém em troca da liberação de seus subordinados, que haviam se ferido no confronto com o grupo de Lamarca.[7]
Atentado ao Gasômetro
Ver artigo principal: Caso Para-Sar

No contexto da oposição aos comunistas e esquerdistas em geral, o regime militar brasileiro planejou várias ações com o intuito de incriminar setores de oposição por atentados e ataques: o mais conhecido desses foi o caso Para-SAR, ou Atentado ao Gasômetro.

Em 1968, o brigadeiro João Paulo Burnier, que era na época chefe de gabinete do ministro Márcio Melo, planejou explodir o gasômetro do Rio de Janeiro com o auxílio do Para-SAR, uma divisão da Aeronáutica empregada para salvamentos em local de difícil acesso.

O projeto foi levado adiante com grande segredo. Confiou-se a missão ao capitão-aviador Sérgio Miranda de Carvalho, que no entanto negou-se a cumprir a missão e ameaçou denunciar Burnier caso tentasse levar o plano adiante com outro oficial.

Sérgio foi declarado louco e afastado da Aeronáutica em 1969. O caso continuou abafado até 1978, quando o brigadeiro Eduardo Gomes fez uma declaração defendendo seu colega, confirmando o projeto de explosão de gasômetros e destruição de instalações elétricas para criar pânico na população, revelando o caso para o conhecimento público.[8][9][10]

Sequestro do embaixador norte-americano

No dia 4 de Setembro de 1969, o grupo de resistência armada MR-8, (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), sequestra o embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick. Em 5 de Setembro de 1969, é mandado cumprir o Ato Institucional Número Treze, ou AI-13, que institui o …(sic) banimento do território nacional o brasileiro que, comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à segurança nacional. Em 7 de Setembro de 1969 é liberado o Embaixador americano e os 15 guerrilheiros presos libertados, e em função do AI-13, são banidos para o México. Foram também sequestrados o embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e o embaixador suiço Giovanni Bucher.

Lista completa de organizações que abraçaram a luta armada ou de massas contra o regime militar

[controverso]

As consequências

Críticas

Os movimentos que enfrentaram a ditadura militar são criticados, inclusive, por ex militantes da esquerda armada. Segundo críticos, os grupos que lutaram contra o regime, na realidade, não desejavam democracia e sim, estabelecer no Brasil um regime inspirado no modelo totalitário de Cuba.[11] [12]

Daniel Aarão Reis Filho afirma que a luta armada de esquerda foi mitificada e romantizada:

As ações armadas da esquerda brasileira não devem ser mitificadas. Nem para um lado nem para o outro. Eu não compartilho da lenda de que no final dos anos 60 e no início dos 70 (inclusive eu) fomos o braço armado de uma resistência democrática. Acho isso um mito surgido durante a campanha da anistia. Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática.[13]

O ex comunista [14] e, atualmente, anticomunista Olavo de Carvalho:

Traduzido do peculiar idioma universitário nacional — o único, no mundo, em que ambigüidade é sinônimo de rigor — que significa esse parágrafo senão que a esquerda brasileira, com a ajuda de Cuba, tentava conquistar o poder por via armada desde três anos antes do golpe militar e que, depois dele, passou a usar o novo regime como pretexto retroativo para alegar que fora compelida ao uso das armas, a contragosto, com lágrimas de piedade nos olhos, pela supressão autoritária de seus meios incruentos de luta?
A esquerda, enfim, mentiu durante quase 40 anos, enquanto a
direita, a execrável direita, simplesmente dizia a verdade ao alegar que o golpe de 1964 fora uma reação legítima contra uma revolução em curso que não se vexava de recorrer à violência armada com a ajuda clandestina de uma ditadura estrangeira.[15]

Luiz Felipe Pondé lamentou que a CNV (Comissão Nacional da Verdade), criada para esclarecer os crimes cometidos durante a ditadura, não apurou adequadamente os crimes também cometidos pela oposição armada de esquerda durante aquele período. E, além disso, não revelou as reais intenções de seus integrantes.[12]

Essa moçada que diz que combatia em nome da democracia era financiada por regimes totalitários descarados e, se vencessem naquele momento histórico, seríamos hoje uma grande Cuba.
Outra mentira a ser trazida à luz é que a ditadura desarticulou a esquerda. Não, não só a esquerda passa muito bem (tanto que está no poder há anos) como venceu a ditadura. Não pelas armas, mas pela cultura. Venceu enquanto transava com as alunas e tomava vinho nos
Jardins.
Quando afirmo que a esquerda venceu, não me refiro a uma esquerda dos
anos 1960, mas sim a uma esquerda cozida no espírito de Antonio Gramsci: "a batalha não deve se dar pelas armas, mas pela conquista das mentes."[12]

Ver também

Referências

  1. http://blogdoamere.wordpress.com/2013/11/26/a-esquerda-armada-no-brasil-antes-de-1964/
  2. a b Combate nas Trevas de Jacob Gorender, Editora Ática, 1999. ISBN 9788508069194 Adicionado em 10/05/2015.
  3. a b USTRA, A Verdade Sufocada, Editora Permanência
  4. Jornal do Brasil – Ideias – 14/07/1996
  5. Cf. REZENDE, Claudinei Cássio de. Suicídio Revolucionário. São Paulo: Editora Unesp, 2010.
  6. [1]
  7. Modesto Spachesi. «"A morte inglória de um Heroi"». Consultado em 12 novembro 2012 
  8. «Começa o desmonte de tanques do Gasômetro». O Globo Online. Organizações Globo. 22 de novembro de 2006. Consultado em 16 de fevereiro de 2010 
  9. «Capitão Sérgio acha que no episódio do Para-Sar réu é o antigo regime» (PDF). Jornal do Brasil. 21 de junho de 1985. Consultado em 16 de fevereiro de 2010 
  10. «Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro» 🔗. Fundação Getulio Vargas [ligação inativa] Verbete Eduardo Gomes. O Caso Para-Sar.
  11. Spotniks - Quem disse que Dilma Rousseff lutou por democracia? Rodrigo da Silva, 6 de Maio de 2015. Acessado em 10 de Maio de 2015.
  12. a b c Revista da Cultura - Um adendo modesto à verdade. Luiz Felipe Pondé, 06/03/2014. Acessado em 10 de Maio de 2015.
  13. Entrevista de Daniel Aarão Reis Filho, concedida ao jornal O Globo em 23 de Setembro de 2001. Adicionado em 10/05/2015.
  14. World News - Olavo de Carvalho: Porque me frustrei com o comunismo. Acessado em 10/05/2015.
  15. Olavodecarvalho.org - Traição sem fim. Olavo de Carvalho, O Globo, 5 de Maio de 2001. Acessado em 10/05/2015.

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