Mario Vargas Llosa

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Mario Vargas Llosa Medalha Nobel
Mario Vargas Llosa
Mario Vargas Llosa na Feira do Livro de Gotemburgo, quinta-feira 22 de setembro de 2011.
Nascimento 28 de março de 1936 (88 anos)
Arequipa, Arequipa, Peru
Nacionalidade peruana


espanhola

Cônjuge Julia Urquidi (1955–1964)
Patricia Llosa (1965–2015)
Filho(a)(s) Álvaro Vargas Llosa
Gonzalo Vargas Llosa
Morgana Vargas Llosa
Alma mater Universidade Nacional Maior de São Marcos
Universidade Complutense de Madrid
Prémios Prémio Rómulo Gallegos (1967)

Prémio Princesa das Astúrias (1986)
Prémio Planeta (1993)
Prêmio Miguel de Cervantes (1994)
Prémio Jerusalém (1995)
Prémio Mundial Cino Del Duca (2008)
Nobel de Literatura (2010)

Movimento literário Boom Latino-americano
Assinatura
Mario Vargas Llosa Signature.svg
Página oficial
www.mvargasllosa.com

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, marquês de Vargas Llosa[1][2] (Arequipa, 28 de março de 1936), é um escritor, jornalista, ensaísta e político peruano, laureado com o Nobel de Literatura de 2010.[3]

Biografia

Mario Vargas Llosa em 1982.
Mario Vargas Llosa em 2007.

Nascido em uma família de classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Com isto o menino não conheceu o pai até os dez anos de idade. Sua primeira infância foi em Cochabamba, na Bolívia, mas no período do governo José Luis Bustamante y Rivero, seu avô obtém um importante cargo político no governo, em Piura, no norte do Peru, e sua mãe retorna ao Peru, para viver naquela cidade.

Em 1946 muda-se para Lima e então conhece seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante sua adolescência, a família continuará vivendo ali.

Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo por dois anos. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros ("A cidade e os cachorros", em tradução livre), publicado no Brasil como "Batismo de Fogo" e, posteriormente, como A cidade e os cachorros.[4]

Em 1953 é admitido na tradicional Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, a mais antiga da América. Ali estudou Letras e Direito, contra a vontade de seu pai.

Aos 19 anos, casa-se com Julia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, e passa a ter vários empregos para sobreviver: atua como redator mas também fichando livros e até mesmo revisando nomes em túmulos nos cemitérios. Em 1958 recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" a vai para a Espanha, onde obtém doutorado em Filosofia e Letras, em 19, na Universidade Complutense de Madri. Após isso vai para a França, onde vive durante alguns anos. Em 1964 divorcia-se de Júlia e em 1965 casa-se com a prima Patrícia Llosa, com quem tem três filhos Álvaro, Gonzalo e Morgana.

Obra

Sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo o escritor, no Peru e na América Latina. Seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A princípio, assim como vários outros intelectuais de sua geração, Vargas Llosa sofreu a influência do existencialismo de Jean Paul Sartre.

Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador"(1977). Por A cidade e os cachorros recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Sua obra seguinte, A Casa Verde mostra a influência de William Faulkner. O romance narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro. Seu terceiro romance, Conversa na Catedral publicado em quatro volumes e que o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950.

Há um encontro, num botequim chamado "La Catedral", entre dois personagens: o filho de um ministro e um motorista particular. O romance caracteriza-se por uma sofisticada técnica narrativa, alternando a conversa dos dois e cenas do passado. Em 1981 publica A Guerra do Fim do Mundo, sobre a Guerra de Canudos, que dedica ao escritor brasileiro Euclides da Cunha, autor de Os Sertões.

No ano de 2006 Vargas Llosa publicou o livro Cartas a um jovem romancista, uma espécie de guia para jovens escritores. O livro trata das técnicas do romance. Em uma série de capítulos escritos como se fossem cartas a um jovem ávido por conhecimento da profissão, o autor discorre sobre o que é imprescindível para a criação de um livro. Começa afirmando que todas as histórias se alimentam da vida de seu criador, como um catóblepa - criatura fantástica, descrita Jorge Luis Borges e que, inadvertidamente, pode comer partes do próprio corpo. [5] O autor aborda também o estilo, que deve ser coerente com a história contada e fazer o leitor viver a obra sem perceber que está lendo. Sobre a relação entre narrador e espaço, afirma que o narrador é o personagem mais importante de todos os romances, pois dele dependem os demais, e, no entanto, ele não deve ser confundido com o autor. O narrador pode ser um personagem externo à trama ou ambíguo - de modo que não sabemos se está dentro ou fora do mundo narrado. Além disso, várias obras possuem mais de um narrador. Chama a atenção para a relação entre o espaço ocupado pelo narrador e o espaço narrado: na narração de um personagem, esses dois espaços coincidem, mas, quando o narrador é externo à trama, isso não acontece. Já o narrador ambíguo pode assumir qualquer um desses papéis. Quanto ao tempo, Vargas Llosa afirma que o tempo do romance não é igual ao da realidade, mas uma outra forma, que o autor pode usar para se desvencilhar dela. Ha uma distinção simples: o tempo cronológico e o tempo psicológico. O primeiro existe independentemente da subjetividade humana; o segundo se transforma em função de nossas emoções. Outro capítulo trata dos níveis de realidade, da relação entre o plano de realidade em que se situa o narrador e aquele em que se desenrola a história narrada. Nesse caso, também, os planos podem coincidir ou não. Os planos mais claramente autônomos são o do "mundo real" e o do "mundo fantástico". Além disso há guinadas, alterações em qualquer ponto de vista (espacial, temporal ou de nível de realidade). E, por fim, Llosa fala sobre "a caixa chinesa" ou a "boneca russa" (matriosca), como um recurso narrativo em que, tal como esses objetos, uma história principal gera outra ou outras histórias derivadas. Ele conclui encorajando o leitor, afirmando que esforço, disciplina e leituras sistemáticas podem levá-lo a desenvolver seu próprio estilo.[6]

Em 7 de outubro de 2010 foi agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura pela Academia Sueca de Ciências "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual".[3] O presidente do Peru, Alan García, considerou o prêmio a Llosa como "um reconhecimento a um peruano universal"[7]

Vida política

Inicialmente simpatizante do socialismo e admirador de Fidel Castro, assim como da revolução cubana, Vargas Llosa acabou por adotar posições neoliberais, a ponto de candidatar-se à presidência de seu país por uma coligação de centro-direita, em 1990.

Na juventude, quando ainda era um escritor iniciante, Mario Vargas Llosa rendeu homenagem aos revolucionários cubanos de 26 de julho de 1953, que, sob a liderança de um guerrilheiro romântico — "assim nos parecia  Fidel Castro" — combatiam a tirania de Batista. A partir daí sua simpatia pela Revolução Cubana iria crescer paralelamente a sua exitosa carreira literária e à reação conservadora a sua obra no Peru. Em 1962, seu premiado romance La ciudad y los perros (no Brasil, Batismo de fogo), ambientado num colégio militar onde ele próprio havia estudado, foi violentamente criticada por autoridades do seu país, incluindo dois generais, que classificam Vargas Llosa como inimigo do Peru e caluniador dos sagrados valores nacionais. O escritor, que havia tido um contato superficial com o marxismo quando ingressou na universidade, em 1953, continuava apoiando a Revolução Cubana, escrevendo cartas de solidariedade ao novo regime, participando de eventos literários e congressos na ilha e fazendo parte do conselho de colaboração da revista do centro de pesquisa literária Casa de las Américas, fundada pela mítica revolucionária Haydée Santamaría. Nessa época, Vargas Llosa apoiava radicalmente todo o movimento de esquerda da América Latina. Sua postura começa a mudar depois de visitar por uma semana URSS, em 1966. Chegou a declarar que, se fosse russo, estaria preso ou exilado. Seu entusiasmo diante da Revolução Cubana também arrefecera, sobretudo em razão da censura governamental, particularmente no caso do escritor cubano José Lezama Lima, que, em 1966, teve proibido o seu romance autobiográfico Paradiso — não só pelo conteúdo erótico e homossexual como também por expressar uma estética diametralmente oposta à preconizada pela UNEAC (Unión de Escritores y Artistas de Cuba). Vargas Llosa começa a afastar-se da política de Cuba e escreve um artigo criticando a invasão da Checoslováquia pelos soviéticos e o apoio dado por Fidel Castro à operação. Também, por várias vezes, assumiu a defesa de alguns dos escritores cubanos proscritos pelo regime. Posteriormente, Fidel Castro, em um discurso, declarou que Vargas Llosa não mais poderia voltar a Cuba. Na sequência, Vargas Llosa envia uma carta a Haydée Santamaría, informando sua renúncia ao comitê de redação da revista, selando assim sua separação definitiva da revolução. Dali em diante passaria a defender radicalmente a democracia capitalista e a combater o regime de Castro com uma ferocidade tal que acabou por ser catalogado como um defensor dos interesses da burguesia reacionária.[8]

Em 1980 começa a ter maior atividade política em seu próprio país. Em 1983, a pedido do próprio presidente Fernando Belaunde Terry, preside comissão que investiga o caso de oito jornalistas mortos em Ayacucho durante uma campanha contra o movimento maoísta Sendeiro Luminoso [1] [2]. Em 1987 inicia o movimento político liberal contra a estatização da economia, o que ia de encontro ao presidente Alan García. Em 1990 concorre à presidência do país pela coalizão liberal de direita Frente Demócrata (FREDEMO), vencendo o primeiro turno. No segundo turno, perde a eleição para Alberto Fujimori. Decide deixar seu país e, em 1993, obtém a cidadania espanhola[9].

Após isso, retorna a Londres e reinicia suas atividades literárias. Em 2006, em sua mais recente visita ao país, apoia a candidatura de Lourdes Flores, que perdeu para Alan García. Suas experiências como escritor e candidato presidencial estão expostas na autobiografia "Peixe na Água", publicada em 1991.

Bibliografia

Ficção

Teatro

  • A menina de Tacna (1981)
  • Kathie e o hipopótamo (1983)
  • La Chunga (1986)
  • El loco de los balcones (1993)
  • Olhos bonitos, quadros feios(1996)

Ensaio

  • García Márquez: historia de un deicidio (1971)
  • Historia secreta de una novela (1971)
  • La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
  • Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983)
  • Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986)
  • La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
  • Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
  • Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
  • Desafíos a la libertad (1994)
  • La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
  • Cartas a un joven novelista (1997)
  • El lenguaje de la pasión (2001)
  • La tentación de lo imposible (2004)
  • Sabres e Utopias (2009)
  • A civilização do espetáculo (2012)

Prêmios e condecorações

Ao longo de sua carreira, Mario Vargas Llosa recebeu inúmeros prêmios e condecorações, destacando-se o Prêmio Rómulo Gallegos (1967) e o Prémio Cervantes (1994). Também recebeu o Prêmio Nacional de Novela do Peru em 1967, por seu romance A Casa Verde, o Prêmio Príncipe das Astúrias de Letras da Espanha (1986) e o Prêmio da Paz de Autores da Alemanha, concedido na Feira do Livro de Frankfurt (1997). Em 1993, obteve o Prêmio Planeta por seu romance Lituma nos Andes. Um marco na sua carreira literária foi o Prêmio Biblioteca Breve, que lhe foi concedido por Batismo de Fogo, em 1963, assinalando o início de sua brilhante carreira literária internacional.

Vargas Llosa é membro da Academia Peruana de Línguas desde 1977, e da Real Academia Española (RAE) desde 1994. Tem vários títulos de doutorado honorários, concedidos por universidades da Europa, América e Ásia, dentre as quais Yale (1994), Universidade Ben-Gurion do Negev, de Israel (1998),[10] Harvard (1999), Universidade de Lima (2001), Oxford (2003), Universidade Europeia de Madrid (2005) e Sorbonne (2005). Foi condecorado pelo governo francês com medalha da Legião de Honra, em 1985.

Nobel da Literatura

Ganhou o prémio Nobel da literatura em 2010 [11]

Marquês de Vargas Llosa

Em 4 de fevereiro de 2011, Vargas Llosa foi levantado na nobreza espanhola pelo rei Juan Carlos I com o título hereditário de Marqués de Vargas Llosa[12][13].

Referências

Ver também

Ligações externas

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Precedido por
Herta Müller
Nobel de Literatura
2010
Sucedido por
Tomas Tranströmer