Márcio Souza

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Márcio Souza
Nome completo Márcio Gonçalves Bentes de Souza
Nascimento 4 de março de 1946 (78 anos)
Manaus, Amazonas
Nacionalidade brasileiro
Ocupação escritor
jornalista
dramaturgo
Prémios Troféu APCA (1997)
Magnum opus Mad Maria e Galvez - Imperador do Acre
Página oficial
www.marciosouza.com.br

Márcio Gonçalves Bentes de Souza (Manaus, 4 de março 1946) é um jornalista, dramaturgo, editor, roteirista e romancista brasileiro.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fez o curso primário no Grupo Escolar Princesa Isabel, cursou o ginasial e científico no Colégio Dom Bosco, em Manaus. Na sua cidade natal, ainda jovem, começou a trabalhar como crítico de cinema no jornal O Trabalhista, do qual seu pai era sócio. Em 1965 assumiu a coordenação das edições do governo do estado do Amazonas, mas, logo em seguida, deixou a cidade para estudar Ciências Sociais, de início, em Brasília, depois em São Paulo, onde ingressou Universidade de São Paulo (USP). Perseguido pela ditadura militar, interrompeu os estudos em 1969 e começou a vida profissional no cinema, como crítico, roteirista e diretor. Na dramaturgia, escreveu peças como As folias do látex e Tem piranha no pirarucu. Como roteirista, é autor, entre outros, de Rapsódia Incoerente, Prelúdio Azul, e Manaus Fantástica.[1]

Esteve preso em 1966 pela exibição da peça francesa A idade do ouro; em 1969 e 1972, em virtude de sua militância política. Além disso, teve censurada a sua peça Zona Franca, meu amor. Regressou a Manaus em 1972, onde passou a integrar o Teatro Experimental do Serviço Social do Comércio - Tesc/Sesc, grupo que discutia temas ligados à cultura local.

Em 1976, assumiu o cargo de diretor de planejamento da Fundação Cultural do Amazonas.

No ano de 1990, exerceu o cargo de diretor do Departamento Nacional do Livro e foi também presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) entre 1995 e 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ocupou ainda a presidência do Conselho Municipal de Política Cultural da cidade de Manaus.

Em 1997, Lealdade[2][3][4] recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos no gênero ficção.[5]

Foi professor assistente na Universidade de Berkeley e escritor residente nas universidades de Stanford, Austin e Dartmouth. Como palestrante foi convidado pela Sorbonne, Heldelberg, Coimbra, Universidade Livre de Berlin, Harvard University e Santiago de Compostela. É acadêmico titular da Academia Amazonense de Letras, na cadeira nº 25, eleito em 11 de setembro de 2004 e recebido em 25 de outubro do mesmo ano.[6]

Carreira artística[editar | editar código-fonte]

O seu primeiro livro, uma obra de crítica cinematográfica, data de 1967, O mostrador de sombras.[7]

Em 1970, dirigiu o filme A Selva, baseado no romance do escrito português Ferreira de Castro. Trata-se de um drama, produzido pela L.M.Produções Cinematográficas Ltda, com locações em Manaus/AM.[8]

Com a obra Galvez - Imperador do Acre,[9][10] iniciou sua carreira literária, em 1976. A obra não foi teria sido bem aceita pelas autoridades da região que a consideraram um desrespeito à História oficial, não observando, porém, que, na nota introdutória, o seu autor alertava para a ficcionalidade da narrativa: " (...) o livro despertou forte reação adversa nos meios oficiais amazonenses, que viram nessa narrativa uma forma injusta de revelar a narrativa".[11][12]

Escreveu diversas obras inseridas no ambiente sociocultural da Amazônia,[13][14] tais como Mad Maria,[15] Plácido de Castro contra o Bolivian Syndicate, Zona Franca, meu amor e Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha, entre outras.[16][17] Entre 1981 e 1982, publicou em folhetins, no jornal Folha de S.Paulo, o romance A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi.[18][19] Mad Maria foi adaptada como minissérie e exibida em rede nacional de televisão, fato que popularizou a obra do autor.[20][21]

O autor, em entrevista, reconheceu a influência de Machado de Assis em sua ficção, especialmente a ironia que pontua as suas obras, assim como aponta a fragmentação trazida pelo Modernismo como um ponto marcante, ainda que admita certa linearidade narrativa em suas histórias. "O humor (...) incrustado mimeticamente na linguagem, me veio primeiro a partir do sarcasmo machadiano".[22]

Destacou-se também como cineasta e ensaísta (A selva; A expressão amazonense do neolítico à sociedade de consumo). Mais recentemente, tem se dedicado a uma teatrologia sobre os anos em que a antiga Província do Grão-Pará,[23] que fora durante todo o período colonial um estado separado, atravessou a séria crise de sua anexação ao Brasil e de revoltas contra o poder do Rio de Janeiro e/ou contra a desigualdade social, de que padeciam sobretudo os negros e os indígenas.[24]

A sua experiência com o cinema e a censura política parece ter rendido o romance Operação silêncio,[25] em que o protagonista Paulo Conti tenciona realizar um filme sobre a violência - política - entre os colonizadores, como forma de denúncia, mas se valendo do financiamento do governo nacional para os custos de sua produção. "O romance discute ainda a relação entre a arte, sobretudo o cinema, e a revolução, o papel social do escritor e do cineasta no auge do regime militar e a necessidade de diminuir a distância entre o artista e sua época".[26]

Obras[editar | editar código-fonte]

Literatura[editar | editar código-fonte]

  • Mostrador de Sombras, UBE/Amazonas e Editora Sérgio Cardoso. 1969
  • Galvez – Imperador do Acre, Edições Governo do Estado do Amazonas. 1976
  • A Expressão Amazonense, Editora Alfa-ômega, São Paulo. 1977
  • Operação Silêncio, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. 1978
  • Teatro Indígena do Amazonas, Editora Codecri, Rio de Janeiro. 1979
  • Feira Brasileira de Opinião, Editora Global, São Paulo. 1979
  • Malditos Escritores, Movimento, São Paulo. 1979
  • Mad Maria, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. 1980
  • Tem Piranha no Pacu, Editora Codecri, Rio de Janeiro. 1980
  • A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi, Editora Marco Zero, Rio de Janeiro. 1982
  • A Ordem do Dia, Editora Marco Zero, Rio de Janeiro. 1983
  • O Palco Verde, Editora Marco Zero, São Paulo. 1983
  • A Condolência, Editora Marco Zero, São Paulo. 1984
  • O Brasileiro Voador, Editora Marco Zero, São Paulo. 1985
  • O Empate Contra Chico Mendes, Editora Marco Zero, São Paulo. 1986
  • O Fim do Terceiro Mundo, Editora Marco Zero, São Paulo;1989
  • Breve História da Amazônia, Editora Marco Zero, São Paulo. 1992
  • A Caligrafia de Deus, Editora Marco Zero, São Paulo. 1993
  • Anavilhanas, o Jardim do Rio Negro Editora Agir, Rio de Janeiro. 1996
  • Lealdade, Editora Marco Zero, São Paulo. 1997
  • Teatro Completo – Volumes I, II e III, Editora Marco Zero, São Paulo. 1997
  • Um Olhar sobre a Cultura Brasileira, com Francisco Weffort. Edição do Ministério da Cultura, Brasília. 1998
  • Silvino Santos, o cineasta do ciclo da borracha, Edições Funarte, Rio de Janeiro. 1996
  • Parque do Jaú, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2000
  • Fascínio e Repulsa, Edições do Fundo Nacional de Cultura, Rio de Janeiro. 2000
  • Entre Moisés e Macunaíma, com Moacyr Scliar, Editora Garamond, Rio de Janeiro. 2000
  • Desordem, Editora Record Rio de Janeiro. 2001
  • Pico da Neblina, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2001
  • Breve História da Amazônia, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2001
  • Políticas Culturais Brasileiras, Editora Manole, São Paulo. 2002
  • A Expressão Amazonense, edição revista, Editora Valer, Manaus. 2002
  • Galvez, Imperador do Acre, versão em quadrinhos. Secult-Pará, Belém. 2004
  • A paixão de Ajuricaba, Editora Valer, 2005
  • Ajuricaba, o Caudilho das Selvas, Editora Callis, 2006
  • O Nascimento do Rio Amazonas, Editora Lazuli, 2006
  • História da Amazônia, Editora Valer, 2009
  • A Substância das Sombras, Cinema Arte do Nosso Tempo, Editora Valer, 2010
  • Amazônia Indígena, Editora Record, 2015

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Santos, Maíra Bastos dos (11 de agosto de 2009). «Galvez imperador do Acre, de Márcio de Souza: um "folhetim oficial" da história do Brasil» 
  2. «Folha de S.Paulo - Márcio Souza remexe história esquecida - 12/7/1997». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  3. MESQUITA, Maria Cláudia de.; CARLOS, Ana Maria. "A intertextualidade em Lealdade de Marcio Souza". XI Congresso da Abralic. - pdf
  4. Mesquita, Maria Cláudia de [UNESP (18 de dezembro de 2009). «Literatura e história: uma leitura de Lealdade (1997), de Márcio Souza». Aleph: 103 f. 
  5. Londrina, Folha de. «Melhores de 97 recebem prêmio APCA». Folha de Londrina. Consultado em 4 de março de 2021 
  6. Academia Amazonense de Letras. «Márcio Souza». Consultado em 23 de junho de 2023 
  7. «Jornal Rascunho». Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  8. «Clássico de Márcio Souza será filme de abertura da Mostra do Cinema Amazonense». Cine Set. 22 de novembro de 2017. Consultado em 4 de março de 2021 
  9. todasasmusas.org - pdf
  10. Silva Júnior, Renato Otero da (2006). «Galvez imperador do Acre: o discurso do romance e a ficcionalização da história». bdtd.ibict.br. Consultado em 6 de fevereiro de 2019 
  11. DIMAS, Antonio. Literatura comentada. Márcio Souza. São Paulo: Abril Educação, 1982.
  12. «Folha de S.Paulo - Em "Galvez", Marcio Aurelio analisa as ignorâncias do país - 14/04/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de fevereiro de 2019 
  13. Carvalho, João Carlos de [UNESP (6 de julho de 2001). «Amazônia revisitada: de Carvajal a Márcio Souza». Aleph: 280 f. 
  14. «Academia Amazonense de Letras promove debate sobre a obra de Márcio Souza | Entretenimento». A Crítica. Consultado em 6 de fevereiro de 2019 
  15. Gomes, Márcia Letícia; Nenevé, Miguel (2012). «A ficção descolonizadora em Márcio Souza: uma análise de Mad Maria sob uma perspectiva pós-colonial» 
  16. Márcio Souza, um escritor que discute a Amazônia | Impressões do Brasil | TV Brasil | Cidadania, consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  17. «Marcio Souza». www.tirodeletra.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  18. Notícias, Redação Amazonas (24 de maio de 2018). «Senac AM inaugura primeira biblioteca voltada à educação profissional da região norte de Manaus». Amazonas Notícias. Consultado em 7 de fevereiro de 2019 
  19. Minuzzi, Luara Pinto (12 de setembro de 2015). «A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DO BAIXO OU A POLÍTICA CARNAVALIZADA EM A RESISTÍVEL ASCENSÃO DO BOTO TUCUXI, DE MÁRCIO SOUZA». Revista e-scrita: Revista do Curso de Letras da UNIABEU. 6 (2): 133–140. ISSN 2177-6288 
  20. Xavier, Nilson. «Mad Maria». Teledramaturgia. Consultado em 6 de fevereiro de 2019 
  21. «Fábio Assunção relembra minissérie Mad Maria». Jornal O Mamoré. Consultado em 6 de fevereiro de 2019 
  22. CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Marcio Souza. Instituto Moreira Salles, 2005.
  23. Mesquita, Maria Cláudia (5 de novembro de 2008). «A TRAJETÓRIA DO HERÓI NAS CRÔNICAS DO GRÃO-PARÁ E RIO NEGRO DE MÁRCIO SOUZA». Revista do SETA - ISSN 1981-9153 (0). ISSN 1981-9153. Consultado em 4 de março de 2021 
  24. OLIVEIRA, Jeciane de Paula. "Tecendo a palavra: A constituição de si e a perspectivação do espaço-tempo em Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro, de Márcio Souza". 2018, 201p. Tese (Doutorado em Estudos Literários). Universidade Estadual do Mato Grosso, 2018.
  25. Costa, Izabelly Cruz da (31 de julho de 2009). «A realidade fragmentada: a relação entre literatura e cinema em Operação silêncio, de Márcio Souza, e Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum» 
  26. VIEIRA, André Soares. "Operações estéticas e políticas em Marcio Souza". Scripta Uniandrade.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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