Acidente do ônibus espacial Challenger

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Ônibus espacial Challenger momentos após a explosão.

O desastre do Ônibus Espacial Challenger foi um acidente fatal no programa espacial dos Estados Unidos que ocorreu em 28 de janeiro de 1986, quando o ônibus espacial Challenger (OV-099) se partiu 73 segundos em seu vôo, matando todos os sete tripulantes a bordo; foi o primeiro acidente fatal envolvendo uma espaçonave estadunidense em voo. A missão carregou a designação STS-51-L e foi o décimo vôo para o orbitador Challenger e vigésimo quinto vôo da frota de ônibus espaciais. A tripulação estava programada para implantar um satélite de comunicações e estudar o Cometa Halley enquanto estivessem em órbita. A espaçonave desintegrou-se sobre o Oceano Atlântico, na costa do Cabo Canaveral, Flórida, às 11h39 EST (16h39 UTC).

O desastre foi causado pela falha dos dois O-rings redundantes em uma junta no propulsor de foguete sólido direito do ônibus espacial (SRB). As baixas temperaturas recordes do lançamento reduziram a elasticidade dos O-rings de borracha, reduzindo sua capacidade de vedação das juntas. Os selos quebrados causaram uma brecha na junta logo após a decolagem, o que permitiu que o gás pressurizado de dentro do SRB vazasse e queimasse através da parede até o tanque de combustível externo adjacente. Isso levou à separação do anexo de popa do SRB do lado direito, o que fez com que ele colidisse com o tanque externo, o que causou uma falha estrutural do tanque externo e uma explosão. Após a explosão, o orbitador, que incluía o compartimento da tripulação, foi quebrado por forças aerodinâmicas.

Este acidente causou atrasos nas missões da NASA e críticas sobre estar privilegiando o cronograma de lançamentos ao invés da segurança dos astronautas.[1] Após o acidente, Ronald Reagan, o presidente dos EUA na época, nomeou uma comissão especial, nomeada de Comissão Rogers, para investigar as causas do acidente, sendo liderada pelo ex-secretário de Estado William P. Rogers e tendo como membros personalidades como Neil Armstrong, Richard Feynman, Sally Ride, Charles Yeager, Donald J. Kutyna, dentre outros.[2] A comissão chegou à conclusão de que os anéis O-ring dos foguetes propulsores de combustível sólido expandiam-se e se contraiam à medida que sua temperatura variava. No dia do acidente, a temperatura no Centro Espacial Kennedy estava abaixo de zero, o que fez com que os anéis se contraíssem. Com os anéis contraídos, houve escape de combustível dos foguetes, o que causou a explosão.[3]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Ônibus espacial[editar | editar código-fonte]

Ônibus espacial Challenger montado para lançamento junto ao tanque externo e dois SRBs, sendo transportado por uma esteira em dezembro de 1985.

O ônibus espacial era uma espaçonave parcialmente reutilizável operada pela Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (NASA) dos Estados Unidos.[4] Voou pela primeira vez em abril de 1981,[5] e foi usado para conduzir pesquisas em órbita,[6] e desdobramento comercial,[7] militar,[8] e cargas úteis científicas.[9] No lançamento, consistia em um orbitador que continha a tripulação, carga útil, tanque externo (ET) e dois propulsores de foguetes sólidos (SRBs).[10] O orbitador era um veículo alado reutilizável que se lançava verticalmente e aterrissava como um planador.[11] Cinco orbitadores foram construídos durante o programa do ônibus espacial.[12]Challenger (OV-099) foi o segundo orbitador construído após sua conversão de um artigo de teste estrutural.[13] O orbitador continha o compartimento da tripulação, onde a tripulação vivia e trabalhava predominantemente durante a missão.[14] Três motores principais do ônibus espacial (SSMEs) foram montados na extremidade traseira do orbitador e forneceram impulso durante o lançamento.[15] Uma vez no espaço, a tripulação manobra usando os dois motores com sistema de manobra orbital (OMS) montados na popa.[16]

Investigação[editar | editar código-fonte]

Após o acidente, uma comissão de investigação presidencial do acidente, a Presidential Commission on the Space Shuttle Challenger Accident, foi formada. Os membros da comissão eram o secretário de estado William Rogers, na presidência, o vice-presidente Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua, David Acheson, Eugene Covert, o físico laureado com o Nobel Richard Feynman, Robert Hotz, Donald Kutyna, Sally Ride, a primeira astronauta dos Estados Unidos, Robert Rummel, Joseph Sutter, Arthur Walker, Albert Wheelon, e o ex-piloto de provas Chuck Yeager.[17] A comissão foi apelidada de Comissão Rogers devido ao presidente William Rogers. A comissão trabalhou por muitos meses para determinar o que havia ocorrido no acidente e publicou um texto com suas descobertas. O texto se encontra no site da NASA.[18]

De forma resumida, a causa principal do acidente foi a perda de elasticidade de simples anéis de vedação, feitos de borracha, causada pela baixa temperatura no dia do lançamento.[19][20]

Tributo[editar | editar código-fonte]

Os restos mortais dos membros da tripulação da Challenger, sendo transferidos de sete veículos para um avião de transporte MAC C-141 no SLF para serem levados à base de Dover Air Force, Delaware.

Na noite do desastre, o presidente Ronald Reagan realizaria o discurso do Estado da Nação (State of the Union), que depois preferiu adiar por uma semana, realizando um comovente discurso no Salão Oval da Casa Branca. Ao fim deste, fez a seguinte declaração retirada do poema "High Flight" de John Gillespie Magee Jr.: Nunca iremos esquecê-los, nem a última vez em que os vimos, esta manhã, conforme eles se preparavam para sua jornada e se despediram e "abandonaram os cruéis limites da Terra" para "tocar a face de Deus." Esta citação foi lembrada como um dos melhores discursos de Reagan. Três dias depois, ele e sua esposa, Nancy viajaram até o Johnson Space Center para um serviço fúnebre em homenagem aos astronautas.

Destroços[editar | editar código-fonte]

Em 2022, um grupo de mergulhadores de uma equipa de filmagens, a fazer um documentário à procura de destroços de um avião da Segunda Guerra Mundial na costa da Florida, descobriu uma peça com seis metros do Challenger.[21]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Há 30 anos, ônibus espacial Challenger explode e abre crise na Nasa». O Globo. Consultado em 19 de janeiro de 2017 
  2. «Report to the President By the PRESIDENTIAL COMMISSION On the Space Shuttle Challenger Accident» (PDF). NASA. Consultado em 4 de agosto de 2017 
  3. «Por Que o Ônibus Espacial Challenger Explodiu». MotherBoard. Consultado em 24 de novembro de 2017 
  4. Rogers et al. 1986, pp. 5, 95.
  5. Jenkins 2016, p. 24, capítulo III.
  6. Jenkins 2016, p. 188, capítulo III.
  7. Jenkins 2016, p. 66, capítulo III.
  8. Jenkins 2016, p. 68, capítulo III.
  9. Jenkins 2016, p. 148, capítulo III.
  10. Jenkins 2001, p. 363.
  11. Jenkins 2016, p. 1, capítulo II.
  12. Rogers et al. 1986, pp. 5.
  13. Jenkins 2016, p. 455, capítulo I.
  14. Jenkins 2016, p. 5, capítulo II.
  15. Jenkins 2001, p. 363, capítulo II.
  16. Jenkins 2001, p. 79, capítulo II.
  17. GOODRICH, Malinda K., BUCHALTER, Alice R., MILLER, Patrick M. Toward a History of the Space Shuttle: an annotated bibliography, Part 2 (1992–2011). Houston, TX: NASA, 2012.
  18. «genindex.htm». history.nasa.gov. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  19. DARLING, David. The Complete Book of Spaceflight. New York, NY: John Willey & Sons, 2002.
  20. GAWDIAK, Ihor Y.; MIRO, Ramon J; STUELAND, Sam. Astronautics and Aeronautics, 1986–1990: a chronology. Houston, TX: NASA, 1997.
  21. «Destroços do vaivém espacial Challenger encontrados 25 anos depois da explosão» 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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