Alan Turing

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Alan Turing
Alan Turing Aged 16 (cropped).jpg
Alan Turing em 1927, aos dezesseis anos de idade
Nome completo Alan Mathison Turing
Conhecido(a) por Máquina de Turing, Problema da parada, Teste de Turing, Prêmio Turing
Nascimento 23 de junho de 1912
Paddington, Londres, Inglaterra, Reino Unido
Morte 7 de junho de 1954 (41 anos)
Wilmslow, Cheshire, Inglaterra, Reino Unido
Causa da morte Suposto suicídio por ingestão de cianeto
Residência Reino Unido
Nacionalidade britânico
Alma mater Universidade de Cambridge
Universidade de Princeton
Prêmios Officer of the Order of the British Empire
Fellow of the Royal Society
Orientador(es)(as) Alonzo Church
Orientado(a)(s) Robin Gandy
Instituições Universidade de Manchester
National Physical Laboratory
Universidade de Cambridge
Campo(s) matemática, lógica e criptoanálise

Alan Mathison Turing OBE (Paddington, Londres, 23 de junho de 1912 — Cheshire East, Cheshire, 7 de junho de 1954) foi um matemático, lógico, criptoanalista e cientista da computação britânico. Foi influente no desenvolvimento da ciência da computação e na formalização do conceito de algoritmo e computação com a máquina de Turing, desempenhando um papel importante na criação do computador moderno.[1][2][3] Foi também pioneiro na inteligência artificial e na ciência da computação.[4] É conhecido como o pai da computação.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Turing trabalhou para a inteligência britânica em Bletchley Park, num centro especializado em quebra de códigos. Por um tempo ele foi chefe do Hut 8, a seção responsável pela criptoanálise da frota naval alemã. Planejou uma série de técnicas para quebrar os códigos alemães, incluindo o método da bomba eletromecânica, uma máquina eletromecânica que poderia encontrar definições para a máquina Enigma.

Após a guerra, trabalhou no Laboratório Nacional de Física do Reino Unido, onde criou um dos primeiros projetos para um computador com um programa armazenado, o ACE. Posteriormente, Turing se interessou pela química. Escreveu um artigo sobre a base química da morfogênese[5] e previu reações químicas oscilantes como a Reação de Belousov-Zhabotinsky, que foram observadas pela primeira vez na década de 1960.

A homossexualidade de Turing resultou em um processo criminal em 1952, pois atos homossexuais eram ilegais no Reino Unido na época, e ele aceitou o tratamento com hormônios femininos e castração química, como alternativa à prisão. Morreu em 1954, algumas semanas antes de seu aniversário de 42 anos, devido a um aparente autoadministrado envenenamento por cianeto, apesar de sua mãe (e alguns outros) terem considerado sua morte acidental. Em 10 de setembro de 2009, após uma campanha de internet, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown fez um pedido oficial de desculpas público, em nome do governo britânico, devido à maneira pela qual Turing foi tratado após a guerra.[6] Em 24 de dezembro de 2013, Alan Turing recebeu o perdão real da rainha Elizabeth II, da condenação por homossexualidade.[7]

Juventude e carreira

Turing nasceu em Londres enquanto seu pai estava de férias do seu trabalho no Indian Civil Service (ICS) em Chhatrapur, província de Bihar e Orissa, na Índia Britânica.[8][9] Seu pai, Julius Mathison Turing (1873–1947), era filho de um clérigo de uma família de comerciantes escoceses que havia se estabelecido nos Países Baixos. A mãe de Alan, Ethel Sara (nascida Stoney; 1881–1976), era filha de Edward Waller Stoney, engenheiro chefe da Estrada de Ferro Madras.

Os Stoneys eram uma família gentia de anglo-irlandeses e protestantes dos condados de Tipperary e Condado de Longford.[10] O trabalho de Julius no ICS havia trazido a família para a Índia Britânica onde seu avô havia sido um general do Exército Bengali. Entretanto, Julius e Ethel queriam que seus filhos fossem criados na Inglaterra, então se mudaram para Maida Vale.[11]

Ele tinha um irmão mais velho, John (o pai de Sir John Dermot Turing, 12º Barão do baronete Turing). A comissão do serviço civil de seu pai ainda estava ativa, e durante a infância de Turing viajaram entre Hastings, na Inglaterra[12] e Índia, deixando seus dois filhos com um casal de aposentados[13].

Dedicação

Dedicava-se a teoremas que podiam ser comprovados, e à Teoria da Computabilidade. A sua preocupação depois de formado era o que se poderia fazer através da computação. Suas respostas iniciais vieram sob a forma teórica.

Consagração

Aos 24 anos, consagrou-se com a projeção de uma máquina que, de acordo com um sistema formal, pudesse fazer operações computacionais. Mostrou como um simples sistema automático poderia manipular símbolos de um sistema de regras próprias. A máquina teórica de Turing pode indicar que sistemas poderosos poderiam ser construídos. Tornou possível o processamento de símbolos, ligando a abstração de sistemas cognitivos e a realidade concreta dos números. Isto é buscado até hoje por pesquisadores de sistemas com Inteligência Artificial (IA). Para comprovar a inteligência artificial ou não de um computador, Turing desenvolveu um teste que consistia em um operador não poder diferenciar se as respostas a perguntas elaboradas pelo operador eram vindas ou não de um computador. Caso afirmativo, o computador poderia ser considerado como dotado de inteligência artificial. Sua máquina pode ser programada de tal modo que pode imitar qualquer sistema formal. A ideia de computabilidade começou a ser delineada. Devido a esses feitos, Alan Turing é tido como Pai da ciência da computação.

Bletchley Park

Em 1938, Turing se uniu ao GC&CS, o braço de decodificação de mensagens da inteligência britânica, para efetuar a Criptoanálise da Máquina Enigma. O Enigma era uma máquina de codificação que mudava seus códigos diariamente, obrigando a que o projeto de decifração se tornasse bastante rápido. Após o Reino Unido iniciar a Segunda Guerra Mundial ao declarar guerra à Alemanha em 1939, Turing foi direcionado para o quartel da GC&CS em Bletchley Park. A partir de uma máquina decodificadora polonesa, Turing projetou a Bomba eletromecânica ("Bombe"), um equipamento eletromecânico que ajudaria a decriptar as mensagens do Enigma e foi montada em 1940. Novas Bombas foram construídas após Turing e sua equipe pedirem apoio a Winston Churchill, e mais de duzentas operavam ao fim da Guerra em 1945. Turing também introduziu sua equipe em Bletchley Park ao matemático Tommy Flowers, que em 1943 projetou o Colossus, um computador primitivo que ajudou a decodificar outra máquina criptográfica alemã, o Lorenz.

Turing foi depois até os Estados Unidos para um projeto de transmissão de dados transatlânticos de forma segura.

Morte

Estátua de Alan Turing com sua fotografia na parede.

Em 8 de junho de 1954, um criado de Turing encontrou-o morto, o que tinha ocorrido no dia anterior, em sua residência em Wilmslow, Cheshire.[14] Um exame post-mortem estabeleceu que a causa da morte foi envenenamento por cianeto. Quando seu corpo foi descoberto, uma maçã estava meio comida ao lado de sua cama,[15] e embora a maçã não tenha sido testada quanto ao cianeto,[16] especula-se que este foi o meio pelo qual uma dose fatal foi ingerida. Um inquérito determinou que ele tinha cometido suicídio, tendo sido então cremado no crematório de Woking em 12 de junho de 1954.

A mãe de Turing argumentou com veemência que a ingestão fora acidental, causada pelo armazenamento descuidado de seu filho de produtos químicos de laboratório. O biógrafo Andrew Hodges sugere que Turing pode ter se matado deliberadamente de forma bastante ambígua para dar à sua mãe alguma negação plausível.[17] Outros sugerem que Turing estava encenando uma cena do filme Branca de Neve, de 1937, seu conto de fadas favorito, salientando que ele tinha "um prazer especialmente mordaz na cena em que a bruxa malvada mergulha a maçã na poção venenosa".[18]

Jack Copeland defende que a morte pode ter sido acidental como resultado de inalação de vapores de cianeto durante uma experiência química conduzida no improvisado laboratório que tinha em casa e onde já anteriormente sofrera acidentes por descuido. O mesmo autor afirma que - contrariamente ao que se tem afirmado - profissionalmente o trabalho lhe corria bem, que andava alegre e que interagia socialmente com normalidade e boa disposição. Constata que a maçã encontrada à cabeceira não foi testada laboratorialmente para determinar a presença de cianeto, que os níveis do veneno no organismo eram uniformes, portanto mais compatíveis com a inalação lenta do que com a ingestão. Conclui, deste modo, que a investigação foi mal conduzida e precipitada e que os elementos disponíveis não indiciam necessariamente que a causa da morte seja suicídio.[19]

Pedidos oficiais de desculpa

Por muitos anos, foram feitas campanhas que envolveram ativistas da tecnologia da informação, do meio político e do público LGBT.[20] Em 11 de setembro de 2009, 55 anos após sua morte, o primeiro-ministro do Reino UnidoGordon Brown, seguindo um pedido feito através de uma petição direcionada ao governo britânico, pediu desculpas formais em nome do governo pelo tratamento preconceituoso e desumano dado a Turing, que o levou ao suicídio.[21][22] Em 24 de dezembro de 2013, passou a ter efeito a Real Prerrogativa do Perdão, concedida a Turing pela Rainha Elizabeth II,[23] a pedido do ministro da justiça do Reino Unido, Chirs Grayling, depois que uma petição criada em 2012 obteve mais de 37.000 assinaturas solicitando o devido perdão.[24][25]

Homenagens

  • Em 2019, ele foi escolhido de uma lista de quase mil candidatos para ser homenageado na nota de 50 libras na Inglaterra, que será a última da coleção do Banco da Inglaterra a mudar de papel para polímero.[26] O rosto de Alan Turing aparecerá na nova nota de 50 libras, quando entrar em circulação em 2021, após um processo de consulta pública destinado a homenagear o cientista britânico. Os 12 finalistas para ocuparem a nota de 50 libras eram Mary Anning, Paul Dirac, Rosalind Franklin, William Herschel e Caroline Herschel, Dorothy Hodgkin, Ada Lovelace e Charles Babbage, Stephen Hawking, James Clerk Maxwell, Srinivasa Ramanujan, Ernest Rutherford, Frederico Sanger, e Alan Turing[27].

Cinebiografias

Parte de sua vida foi retratada no telefilme Breaking the Code, de 1996, com o ator Derek Jacobi no papel principal.[28]

Em 2014, Turing foi retratado em The Imitation Game, interpretado por Benedict Cumberbatch. Dirigido pelo norueguês Morten Tyldum, filme é focado em Turing durante a Segunda Guerra, com seu trabalho decisivo para a criação da Bomba Eletromecânica, além de passagens de sua infância (onde o jovem Turing é interpretado por Alex Lawther) e o pós-guerra, onde Turing foi preso por sodomia e forçado à castração química.[29][30]

Ver também

Referências

  1. «Alan Turing – Time 100 People of the Century». Time Magazine. The fact remains that everyone who taps at a keyboard, opening a spreadsheet or a word-processing program, is working on an incarnation of a Turing machine. 
  2. Newman, M. H. A. (1 de janeiro de 1955). «Alan Mathison Turing. 1912-1954». Biographical Memoirs of Fellows of the Royal Society. 1 (0). doi:10.1098/rsbm.1955.0019 
  3. Sipser 2006, p. 137
  4. Homer, Steven; Selman, Alan L. (2001). Computability and Complexity Theory. [S.l.: s.n.] p. 35. ISBN 0-387-95055-9. Consultado em 13 de maio de 2011 
  5. A.M. Turing, "The Chemical Basis of Morphogenesis", Philosophical Transactions of The Royal Society of London, series B, volume 237, pages 37–72, 1952.
  6. «PM apology after Turing petition». BBC News. 11 de setembro de 2009 
  7. «Rainha perdoa génio matemático condenado por homossexualidade» 
  8. Hodges 1992, p. 5
  9. «The Alan Turing Internet Scrapbook». Turing.org.uk. Consultado em 2 de janeiro de 2012 
  10. Phil Maguire, "An Irishman's Diary", page 5. The Irish Times, 23 June 2012
  11. «London Blue Plaques». English Heritage. Consultado em 10 de fevereiro de 2007. Cópia arquivada em 13 de Setembro de 2009 
  12. Hodges 1992, p. 6
  13. Jones, G. James (11 de dezembro de 2001). «Alan Turing – Towards a Digital Mind: Part 1». System Toolbox. Consultado em 27 de julho de 2007. Arquivado do original em 3 de Agosto de 2007  |deadurl= e |urlmorta= redundantes (ajuda)
  14. COPELAND, B. Jack (Editor) (2004). The Essential Turing. The Ideas that Gave Birth to the Computer Age. Oxford: Clarendon Press, Oxford. 613 páginas. ISBN 0-19-825079-7 
  15. STRATHERN, Paul (1997). The Big Idea: Turing & the Computer. London: Arrow. 95 páginas. ISBN 0-09-923782-2 
  16. Hodges 1983, p. 488
  17. Hodges 1983, pp. 488, 489
  18. Leavitt 2006, p. 140
  19. Roland Pease (26 de junho de 2012). «Alan Turing: Inquest's suicide verdict 'not supportable'». BBC. Consultado em 11 de março de 2013 
  20. «Alan Turing finally gets royal pardon». Consultado em 4 de setembro de 2015 
  21. «PM apology after Turing petition». BBC. 11 de setembro de 2009. Consultado em 11 de março de 2013 
  22. Luciana Coelho (20 de agosto de 2009). «Folha: Britânicos buscam pedido de desculpas a cientista gay». Folha de S.Paulo. Consultado em 11 de março de 2013 
  23. Steven Swinford (24 de Dezembro de 2013). «Alan Turing granted Royal pardon by the Queen» (em inglês). The Daily Telegraph. Consultado em 15 de Agosto de 2017 
  24. «Condenado por homossexualidade, homem que quebrou código nazista recebe perdão». BBC Brasil. Consultado em 4 de setembro de 2015 
  25. «Archived Petition: Grant a pardon to Alan Turing». Consultado em 4 de setembro de 2015. Arquivado do original em 7 de julho de 2015 
  26. g1.globo.com/ Alan Turing será homenageado na nota de 50 libras na Inglaterra
  27. «Há um novo rosto na nota de 50 libras. Quem foi o matemático Alan Turing?» 
  28. «Breaking the Code (1996) (TV)». IMDB. Consultado em 11 de março de 2013 
  29. Cabine Cultural (29 de dezembro de 2014). «O Jogo da Imitação estreia em janeiro com boas chances no Oscar». Cabine Cultural. Consultado em 9 de janeiro de 2015 
  30. «Benedict Cumberbatch será Alan Turing, um dos pais da computação moderna» 

Bibliografia

  • Hodges, Andrew (1983). Alan Turing. The Enigma of Intelligence. London: Burnett Books. ISBN 0-04-510060-8 
  • Leavitt, David (2007). The Man Who Knew Too Much. Alan Turing and the invention of the computer. [S.l.]: Phoenix. ISBN 978-0-7538-2200-5 
  • Agar, Jon (2003). MIT Press, ed. The government machine: a revolutionary history of the computer (em inglês). Cambridge, Massachusetts: [s.n.] ISBN 978-0-262-01202-7 
  • Paul Ceruzzi (1998). A History of Modern Computing (em inglês) MIT Press ed. Cambridge, Massachusetts, e Londres: [s.n.] ISBN 0-262-53169-0 

Ligações externas

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