Droga psicoativa: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Psychoactive Drugs.jpg|300px|thumb|Um sortimento de drogas psicoativas.]]
[[Imagem:Psychoactive Drugs.jpg|300px|thumb|Um sortimento de drogas psicoativas]]
Uma '''substância psicoativa''', '''substância psicotrópica''', '''droga psicotrópica''' ou simplesmente '''psicotrópico''' é uma [[substância|substância química]] que age principalmente no [[sistema nervoso central]], onde altera a função [[cérebro|cerebral]] e temporariamente muda a [[percepção]], o [[humor]], o [[comportamento]] e a [[consciência]]. Essa alteração pode ser proporcionada para fins [[recreação|recreacionais]] (alteração proposital da [[consciência]]); [[Religião|religiosos]] (uso de [[enteógeno]]s); [[Ciência|científicos]] (visando a compreensão do funcionamento da [[mente]]); ou [[Medicina|médico]]-[[Farmacologia|farmacológicos]] (como [[medicação]]). Alternativamente, tal efeito na mente pode não ser o objetivo do consumo da substância psicotrópica, mas um efeito adverso do mesmo<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.</ref>.
Uma '''substância psicoativa''', '''substância psicotrópica''', '''droga psicotrópica''' ou simplesmente '''psicotrópico''' é uma [[substância|substância química]] que age principalmente no [[sistema nervoso central]], onde altera a função [[cérebro|cerebral]] e temporariamente muda a [[percepção]], o [[humor]], o [[comportamento]] e a [[consciência]]. Essa alteração pode ser proporcionada para fins [[recreação|recreacionais]] (alteração proposital da consciência); [[Religião|religiosos]] (uso de [[enteógeno]]s); [[Ciência|científicos]] (visando a compreensão do funcionamento da [[mente]]); ou [[Medicina|médico]]-[[Farmacologia|farmacológicos]] (como [[medicação]]). Alternativamente, tal efeito na mente pode não ser o objetivo do consumo da substância psicotrópica, mas um efeito adverso do mesmo.<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.</ref>


Tais alterações [[Subjetividade|subjetivas]] da consciência e do humor são fonte de [[prazer]] (por exemplo, a [[euforia]]) ou servem para criar uma melhora nos sentidos e estados já experimentados naturalmente (por exemplo, o aumento da [[concentração]]), ou uma mudança na perspectiva mental, podendo aumentar também a [[criatividade]], por isso, tantos [[artista]]s e [[Intelectual|intelectuais]] são defensores do consumo dessas drogas. Tais efeitos das drogas, contudo, podem levar ao uso recorrente das mesmas, o que pode levar à [[dependência física]] ou [[dependência psicológica|psicológica]], promovendo um ciclo progressivamente mais difícil de ser interrompido. A impossibilidade física ou psicológica de interrupção desse ciclo caracteriza o vício em drogas, também chamado de [[drogadição]] e toxicodependência. A [[Reabilitação (medicina)|reabilitação]] de drogaditos/toxicodependentes, geralmente, envolve uma combinação de [[psicoterapia]], grupos de apoio, e até mesmo o uso de outras substâncias psicoativas que ajudam a interromper o ciclo de dependência.
Tais alterações [[Subjetividade|subjetivas]] da consciência e do humor são fonte de [[prazer]] (por exemplo, a [[euforia]]) ou servem para criar uma melhora nos sentidos e estados já experimentados naturalmente (por exemplo, o aumento da [[concentração]]), ou uma mudança na perspectiva mental, podendo aumentar também a [[criatividade]], por isso, tantos [[artista]]s e [[Intelectual|intelectuais]] são defensores do consumo dessas drogas. Tais efeitos das drogas, contudo, podem levar ao uso recorrente das mesmas, o que pode levar à [[dependência física]] ou [[dependência psicológica|psicológica]], promovendo um ciclo progressivamente mais difícil de ser interrompido. A impossibilidade física ou psicológica de interrupção desse ciclo caracteriza o vício em drogas, também chamado de [[drogadição]] e toxicodependência. A [[Reabilitação (medicina)|reabilitação]] de drogaditos/toxicodependentes, geralmente, envolve uma combinação de [[psicoterapia]], grupos de apoio, e até mesmo o uso de outras substâncias psicoativas que ajudam a interromper o ciclo de dependência.


A [[ética]] relativa ao uso dessas drogas é assunto de um contínuo [[debate]], em parte por causa desse potencial para abuso e dependência. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e venda dessas substâncias, na tentativa de diminuir o abuso de drogas.
A [[ética]] relativa ao uso dessas drogas é assunto de um contínuo [[debate]], em parte por causa desse potencial para abuso e dependência. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e venda dessas substâncias, na tentativa de diminuir o abuso de drogas.

== Etimologia ==
== Etimologia ==
"Psicotrópico" é formado pela junção de "psic(o)" ("alma", "espírito", "intelecto"), "trop(o)" ("desvio", "mudança", "afinidade") e "ico" ("participação", "referência", "relação")<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.</ref>.
"Psicotrópico" é formado pela junção de "psic(o)" ("alma", "espírito", "intelecto"), "trop(o)" ("desvio", "mudança", "afinidade") e "ico" ("participação", "referência", "relação").<ref>FERREIRA, A. B. H. ''Novo dicionário da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.</ref>

==História==
== História ==
O uso de drogas é uma prática desde tempos [[pré-história|pré-históricos]]. Há provas [[Arqueologia|arqueológicas]] do uso de substâncias psicoativas 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural desde 5 mil anos atrás<ref name="merlin">{{citar jornal | autor=MERLIN, M D | titulo=Archaeological Evidence for the Tradition of Psychoactive Plant Use in the Old World | jornal=Economic Botany | ano=2003 | volume=57 | numero=3 | paginas= 295–323 | doi=10.1663/0013-0001(2003)057}}</ref>. Embora o uso pareça ter sido mais frequentemente medicinal, sugeriu-se que o desejo de alterar a consciência é tão primevo quanto o ímpeto de saciar a [[sede]], a [[fome]] ou o [[desejo sexual]]<ref name="siegel">{{citar livro | autor=SIEGEL, Ronald K.| titulo=Intoxication: The Universal Drive for Mind-Altering Substances| editora=Park Street Press | local=Rochester, Vermont | ano=2005 | idioma=inglês | isbn=1-59477-069-7}}</ref>. Outros sugerem que a [[propaganda]], a disponibilidade ou a pressão da vida moderna são algumas das razões pelas quais as pessoas usam drogas psicoativas no cotidiano. Contudo, a longa história do uso de drogas e mesmo o desejo da [[criança]] de rodar, balançar ou escorregar indicam que o ímpeto de alterar a [[percepção]] é universal<ref name="weil">{{citar livro | autor=WEIL, Andrew | ano=2004 | titulo=The Natural Mind: A Revolutionary Approach to the Drug Problem (Revised edition) | paginas=15 | local=Boston | editora=Houghton Mifflin | idioma=ingles | isbn=0-618-46513-8}}</ref>.
O uso de drogas é uma prática desde tempos [[pré-história|pré-históricos]]. Há provas [[Arqueologia|arqueológicas]] do uso de substâncias psicoativas 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural desde 5 mil anos atrás.<ref name="merlin">{{citar jornal | autor=MERLIN, M D | titulo=Archaeological Evidence for the Tradition of Psychoactive Plant Use in the Old World | jornal=Economic Botany | ano=2003 | volume=57 | numero=3 | paginas= 295–323 | doi=10.1663/0013-0001(2003)057}}</ref> Embora o uso pareça ter sido mais frequentemente medicinal, sugeriu-se que o desejo de alterar a consciência é tão primevo quanto o ímpeto de saciar a [[sede]], a [[fome]] ou o [[desejo sexual]].<ref name="siegel">{{citar livro | autor=SIEGEL, Ronald K.| titulo=Intoxication: The Universal Drive for Mind-Altering Substances| editora=Park Street Press | local=Rochester, Vermont | ano=2005 | idioma=inglês | isbn=1-59477-069-7}}</ref> Outros sugerem que a [[propaganda]], a disponibilidade ou a pressão da vida moderna são algumas das razões pelas quais as pessoas usam drogas psicoativas no cotidiano. Contudo, a longa história do uso de drogas e mesmo o desejo da [[criança]] de rodar, balançar ou escorregar indicam que o ímpeto de alterar a [[percepção]] é universal.<ref name="weil">{{citar livro | autor=WEIL, Andrew | ano=2004 | titulo=The Natural Mind: A Revolutionary Approach to the Drug Problem (Revised edition) | paginas=15 | local=Boston | editora=Houghton Mifflin | idioma=ingles | isbn=0-618-46513-8}}</ref>


Essa relação não se limita ao homem. Alguns [[Animal|animais]] consomem diferentes [[planta]]s, [[fruto]]s, frutos [[Fermentação alcoólica|fermentados]] e ou outros animais, como fonte de substâncias psicoativas, como por exemplo os [[gato]]s e sua predileção pela [[nepeta]]. Durante o [[século XX]], muitos países inicialmente responderam ao uso recreacional das drogas banindo seu uso e considerando [[Crime|criminosos]] seu uso, armazenamento e ou venda.
Essa relação não se limita ao homem. Alguns [[Animal|animais]] consomem diferentes [[planta]]s, [[fruto]]s, frutos [[Fermentação alcoólica|fermentados]] e ou outros animais, como fonte de substâncias psicoativas, como por exemplo os [[gato]]s e sua predileção pela [[nepeta]]. Durante o [[século XX]], muitos países inicialmente responderam ao uso recreacional das drogas banindo seu uso e considerando [[Crime|criminosos]] seu uso, armazenamento e ou venda.
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*'''[[Estimulante]]s''' (recebem também o nome de psicoanaléticos, noanaléticos, timoléticos etc.)
*'''[[Estimulante]]s''' (recebem também o nome de psicoanaléticos, noanaléticos, timoléticos etc.)

*'''[[Depressor]]as''' (podem também ser chamadas de psicoléticos)
*'''[[Depressor]]as''' (podem também ser chamadas de psicoléticos)

*'''[[Droga alucinógena|Alucinógenas]]''' (psicoticomiméticos, psicodélicos, perturbadoras, psicometamórficos etc.)
*'''[[Droga alucinógena|Alucinógenas]]''' (psicoticomiméticos, psicodélicos, perturbadoras, psicometamórficos etc.)


==Usos==
== Usos ==
As substâncias psicoativas são usadas para diferentes propósitos. Os usos variam grandemente entre as diferentes culturas. Algumas substâncias são de uso controlado ou ilegal, enquanto algumas podem ser usadas para propósitos [[Xamanismo|xamânicos]], e outras são usadas de modo terapêutico. Outros exemplos seriam o consumo social de [[bebida alcoólica|álcool]] e os [[hipnótico|soníferos]]. A [[cafeína]] é a substância psicoativa mais consumida no mundo, mas, ao contrário de muitas outras, seu uso é legal e irrestrito em praticamente todas as [[Jurisdição|jurisdições]]. No [[Brasil]], maior produtor e segundo maior consumidor de [[café]] do mundo, 85% das pessoas consome café no desjejum<ref name="matsumoto">{{citar jornal | autor=MATSUMOTO, K L. ROSANELI, C F. BIANCARDI, C R. | titulo=A Cultura Gastronômica do Café e Sua Influência Social e Emocional no Dia-a-dia do Brasileiro | jornal=SaBios: Rev. Saúde e Biol. | ano=2008 | volume=3 | numero=1 | paginas= 10–15 }}</ref>.
As substâncias psicoativas são usadas para diferentes propósitos. Os usos variam grandemente entre as diferentes culturas. Algumas substâncias são de uso controlado ou ilegal, enquanto algumas podem ser usadas para propósitos [[Xamanismo|xamânicos]], e outras são usadas de modo terapêutico. Outros exemplos seriam o consumo social de [[bebida alcoólica|álcool]] e os [[hipnótico|soníferos]]. A [[cafeína]] é a substância psicoativa mais consumida no mundo, mas, ao contrário de muitas outras, seu uso é legal e irrestrito em praticamente todas as [[Jurisdição|jurisdições]]. No [[Brasil]], maior produtor e segundo maior consumidor de [[café]] do mundo, 85% das pessoas consome café no desjejum.<ref name="matsumoto">{{citar jornal | autor=MATSUMOTO, K L. ROSANELI, C F. BIANCARDI, C R. | titulo=A Cultura Gastronômica do Café e Sua Influência Social e Emocional no Dia-a-dia do Brasileiro | jornal=SaBios: Rev. Saúde e Biol. | ano=2008 | volume=3 | numero=1 | paginas= 10–15 }}</ref>

===Anestesia===


=== Anestesia ===
{{Ver artigo principal | [[anestesia]]}}
{{Ver artigo principal | [[anestesia]]}}
Os anestésicos são uma classe de drogas psicoativas usadas em pacientes para bloquear a [[dor]] e outras [[Sensação|sensações]]. A maioria dos anestésicos induz à [[inconsciência]], o que permite, ao paciente, submeter-se a procedimentos médicos tais como a [[cirurgia]] sem dor física ou [[Trauma psicológico|trauma emocional]]<ref>Medline Plus. [http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/anesthesia.html Anesthesia.] Acesso em 25 de abril de 2009.</ref>. Para induzir à inconsciência, os anestésicos afetam os sistemas [[GABA]] e [[NMDA]]. Por exemplo, o [[halotano]] é um [[agonista]] para GABA,<ref>{{citar jornal |autor=LI, X. PEARCE, R A. |titulo=Effects of halothane on GABA(A) receptor kinetics: evidence for slowed agonist unbinding |jornal=J. Neurosci. |volume=20 |numero=3 |paginas=899–907 |ano=2000 |pmid=10648694 |doi=}}</ref> e a [[cetamina]] é um [[Antagonista (farmacologia)|antagonista]] para o [[Receptor (bioquímica)|receptor]] de NMDA<ref>{{citar jornal |autor=HARRISON N. SIMMONDS M. |titulo=Quantitative studies on some antagonists of N-methyl D-aspartate in slices of rat cerebral cortex |jornal=Br J Pharmacol |volume=84 |numero=2 |paginas=381–91 |ano=1985 |pmid=2858237}}</ref>.
Os anestésicos são uma classe de drogas psicoativas usadas em pacientes para bloquear a [[dor]] e outras [[Sensação|sensações]]. A maioria dos anestésicos induz à [[inconsciência]], o que permite, ao paciente, submeter-se a procedimentos médicos tais como a [[cirurgia]] sem dor física ou [[Trauma psicológico|trauma emocional]].<ref>Medline Plus. [http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/anesthesia.html Anesthesia.] Acesso em 25 de abril de 2009.</ref> Para induzir à inconsciência, os anestésicos afetam os sistemas [[GABA]] e [[NMDA]]. Por exemplo, o [[halotano]] é um [[agonista]] para GABA,<ref>{{citar jornal |autor=LI, X. PEARCE, R A. |titulo=Effects of halothane on GABA(A) receptor kinetics: evidence for slowed agonist unbinding |jornal=J. Neurosci. |volume=20 |numero=3 |paginas=899–907 |ano=2000 |pmid=10648694 |doi=}}</ref> e a [[cetamina]] é um [[Antagonista (farmacologia)|antagonista]] para o [[Receptor (bioquímica)|receptor]] de NMDA.<ref>{{citar jornal |autor=HARRISON N. SIMMONDS M. |titulo=Quantitative studies on some antagonists of N-methyl D-aspartate in slices of rat cerebral cortex |jornal=Br J Pharmacol |volume=84 |numero=2 |paginas=381–91 |ano=1985 |pmid=2858237}}</ref>


===Controle da dor===
=== Controle da dor ===
{{Artigo principal|[[analgésico]]}}
Drogas psicoativas são frequentemente prescritas para controle da dor. Como a experiência subjetiva da dor é regulada por [[opioide|peptídios opioides]] endógenos, a dor pode ser controlada usando psicoativos que operam nesse sistema neurotransmissor como agonistas dos receptores opioides. A esta classe de drogas incluem-se [[narcótico]]s [[opiáceo]]s, como a [[morfina]] e a [[codeína]].<ref>{{citar jornal |autor=QUIDING H, LUNDQVIST G, BORÉUS L O, BONDESSON U, OHRVIK J |titulo=Analgesic effect and plasma concentrations of codeine and morphine after two dose levels of codeine following oral surgery |jornal=Eur. J. Clin. Pharmacol. |volume=44 |numero=4 |paginas=319–23 |ano=1993 |pmid=8513842| doi = 10.1007/BF00316466}}</ref> [[AINE]]s, como a [[aspirina]] e o [[ibuprofeno]], são uma segunda classe de analgésicos. Eles reduzem a [[inflamação]] mediada por [[eicosanoide]]s ao inibir a enzima [[ciclo-oxigenase]].


=== Medicamentos psiquiátricos ===
{{ver artigo principal|[[analgésico]]}}
{{Artigo principal|[[medicamento psiquiátrico]]}}
Drogas psicoativas são frequentemente prescritas para controle da dor. Como a experiência subjetiva da dor é regulada por [[opioide|peptídios opioides]] endógenos, a dor pode ser controlada usando psicoativos que operam nesse sistema neurotransmissor como agonistas dos receptores opioides. A esta classe de drogas incluem-se [[narcótico]]s [[opiáceo]]s, como a [[morfina]] e a [[codeína]]<ref>{{citar jornal |autor=QUIDING H, LUNDQVIST G, BORÉUS L O, BONDESSON U, OHRVIK J |titulo=Analgesic effect and plasma concentrations of codeine and morphine after two dose levels of codeine following oral surgery |jornal=Eur. J. Clin. Pharmacol. |volume=44 |numero=4 |paginas=319–23 |ano=1993 |pmid=8513842| doi = 10.1007/BF00316466}}</ref>. [[AINE]]s, como a [[aspirina]] e o [[ibuprofeno]], são uma segunda classe de analgésicos. Eles reduzem a [[inflamação]] mediada por [[eicosanoide]]s ao inibir a enzima [[ciclo-oxigenase]].
[[Imagem:Zoloft bottles.jpg|thumb|esquerda|Zoloft®, um medicamento [[antidepressivo]] (e ansiolítico).]]

===Medicamentos psiquiátricos===

{{ver artigo principal|[[medicamento psiquiátrico]]}}
[[Ficheiro:Zoloft bottles.jpg|thumb|esquerda|Zoloft®, um medicamento [[antidepressivo]] (e ansiolítico).]]
Medicamentos psiquiátricos são prescritos para o tratamento de [[doença mental|doenças mentais e emocionais]]. Existem 6 classes principais de medicamentos psiquiátricos:
Medicamentos psiquiátricos são prescritos para o tratamento de [[doença mental|doenças mentais e emocionais]]. Existem 6 classes principais de medicamentos psiquiátricos:
* [[Antidepressivo]]s, que são usados para tratar diversos males, tais como [[depressão nervosa]], [[epilepsia]], [[ansiedade]], [[disfunção alimentar|transtornos alimentares]] e [[transtorno de personalidade limítrofe]]<ref>
* [[Antidepressivo]]s, que são usados para tratar diversos males, tais como [[depressão nervosa]], [[epilepsia]], [[ansiedade]], [[disfunção alimentar|transtornos alimentares]] e [[transtorno de personalidade limítrofe]].<ref>{{citar jornal | autor = SCHATZBERG, A F | ano = 2000 | titulo = New indications for antidepressants | jornal = Journal of Clinical Psychiatry | volume = 61 | numero = 11 | paginas = 9–17 | pmid = 10926050 }}</ref>
{{citar jornal | autor = SCHATZBERG, A F | ano = 2000 | titulo = New indications for antidepressants | jornal = Journal of Clinical Psychiatry | volume = 61 | numero = 11 | paginas = 9–17 | pmid = 10926050 }}</ref>.
* [[Estimulante]]s, usados para tratar distúrbios como o [[Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade|transtorno do défice de atenção]], e como [[anorexígeno|supressores do apetite]].
* [[Estimulante]]s, usados para tratar distúrbios como o [[Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade|transtorno do défice de atenção]], e como [[anorexígeno|supressores do apetite]].
* [[Antipsicótico]]s, que são usados para tratar [[psicose]]s, [[esquizofrenia]] e [[mania]].
* [[Antipsicótico]]s, que são usados para tratar [[psicose]]s, [[esquizofrenia]] e [[mania]].
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* [[Depressores]], que são utilizados como [[hipnótico]]s, [[sedativo]]s e [[anestésico]]s.
* [[Depressores]], que são utilizados como [[hipnótico]]s, [[sedativo]]s e [[anestésico]]s.


===Uso recreativo da droga===
=== Uso recreativo da droga ===
{{ver artigo principal|[[droga]]}}
{{Artigo principal|[[droga]]}}


Muitas substâncias psicoativas são usadas pelos efeitos de alteração do humor e da percepção, inclusive aquelas com uso aceito pela medicina e psiquiatria. Os tipos de drogas usadas frequentemente para uso recreacional incluem:
Muitas substâncias psicoativas são usadas pelos efeitos de alteração do humor e da percepção, inclusive aquelas com uso aceito pela medicina e psiquiatria. Os tipos de drogas usadas frequentemente para uso recreacional incluem:
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* [[Inalante]]s, sob a forma de [[aerossol|aerossóis]] ou [[solvente]]s, que são inalados por causa de seu efeito estupefaciente. Muitos inalantes também se incluem em alguma categoria acima (como o [[óxido nitroso]], que também tem efeito analgésico).
* [[Inalante]]s, sob a forma de [[aerossol|aerossóis]] ou [[solvente]]s, que são inalados por causa de seu efeito estupefaciente. Muitos inalantes também se incluem em alguma categoria acima (como o [[óxido nitroso]], que também tem efeito analgésico).


Em algumas [[subcultura]]s, o uso de drogas é visto como símbolo de ''[[status social|statu]]'', o que ocorre em lugares como [[casa noturna|casas noturnas]], [[boate]]s, ''[[rave]]s'' e [[festa]]s<ref>{{citar jornal |autor=ANDERSON T L |titulo=Drug identity change processes, race, and gender. III. Macrolevel opportunity concepts |jornal=Substance use & misuse |volume=33 |numero=14 |paginas=2721–35 |ano=1998 |pmid=9869440 |doi=10.3109/10826089809059347}}</ref>. Isso é fato histórico em muitas culturas. Drogas têm sido consideradas símbolos de ''statu'' desde a [[antiguidade]]. Por exemplo, no [[Antigo Egito]], eram comuns as representações de [[Divindade|deuses]] segurando plantas alucinógenas<ref>{{citar jornal |autor=BERTOL E, FINESCHI V, KARCH S, MARI F, RIEZZO I |titulo=Nymphaea cults in ancient Egypt and the New World: a lesson in empirical pharmacology |jornal=Journal of the Royal Society of Medicine |volume=97 |numero=2 |paginas=84–5 |ano=2004 |pmid=14749409 | doi = 10.1258/jrsm.97.2.84}}</ref>.
Em algumas [[subcultura]]s, o uso de drogas é visto como símbolo de ''[[status social|statu]]'', o que ocorre em lugares como [[casa noturna|casas noturnas]], [[boate]]s, ''[[rave]]s'' e [[festa]]s.<ref>{{citar jornal |autor=ANDERSON T L |titulo=Drug identity change processes, race, and gender. III. Macrolevel opportunity concepts |jornal=Substance use & misuse |volume=33 |numero=14 |paginas=2721–35 |ano=1998 |pmid=9869440 |doi=10.3109/10826089809059347}}</ref> Isso é fato histórico em muitas culturas. Drogas têm sido consideradas símbolos de ''statu'' desde a [[antiguidade]]. Por exemplo, no [[Antigo Egito]], eram comuns as representações de [[Divindade|deuses]] segurando plantas alucinógenas.<ref>{{citar jornal |autor=BERTOL E, FINESCHI V, KARCH S, MARI F, RIEZZO I |titulo=Nymphaea cults in ancient Egypt and the New World: a lesson in empirical pharmacology |jornal=Journal of the Royal Society of Medicine |volume=97 |numero=2 |paginas=84–5 |ano=2004 |pmid=14749409 | doi = 10.1258/jrsm.97.2.84}}</ref>


Por causa da controvérsia sobre o regulamento das drogas recreacionais, existe um debate sobre a proibição das drogas. Críticos da proibição acreditam que a regulamentação do uso de drogas recreacionais é uma violação da [[autonomia]] pessoal e da [[liberdade]]<ref>{{citar jornal |autor=HAYRY M |titulo=Prescribing cannabis: freedom, autonomy, and values |jornal=Journal of Medical Ethics |volume=30 |numero=4 |paginas=333–6 |ano=2004 |pmid=15289511| doi = 10.1136/jme.2002.001347}}</ref>. Também alegam que a guerra às drogas pode trazer problemas maiores, como a produção e venda de drogas de qualidade duvidosa por cartéis do narcotráfico, uma vez que criam-se monopólios violentos, e impossibilita-se um mercado transparente.
Por causa da controvérsia sobre o regulamento das drogas recreacionais, existe um debate sobre a proibição das drogas. Críticos da proibição acreditam que a regulamentação do uso de drogas recreacionais é uma violação da [[autonomia]] pessoal e da [[liberdade]].<ref>{{citar jornal |autor=HAYRY M |titulo=Prescribing cannabis: freedom, autonomy, and values |jornal=Journal of Medical Ethics |volume=30 |numero=4 |paginas=333–6 |ano=2004 |pmid=15289511| doi = 10.1136/jme.2002.001347}}</ref> Também alegam que a guerra às drogas pode trazer problemas maiores, como a produção e venda de drogas de qualidade duvidosa por cartéis do narcotráfico, uma vez que criam-se monopólios violentos, e impossibilita-se um mercado transparente.


===Uso ritual e espiritual===
=== Uso ritual e espiritual ===
{{Artigo principal|[[enteógeno]]}}
Certos psicoativos, principalmente os alucinógenos, têm sido usados para fins religiosos desde tempos pré-históricos. Os nativos estadunidenses têm usado o [[peiote]], que contém [[mescalina]], em cerimônias religiosas há 5 700 anos.<ref>{{citar jornal |autor=El-SEEDI H R, De SMET P A, BECK O, POSSNERT G, BRUHN J G |titulo=Prehistoric peyote use: alkaloid analysis and radiocarbon dating of archaeological specimens of Lophophora from Texas |jornal=Journal of Ethnopharmacology |volume=101 |número=1-3 |paginas=238–42 |ano=2005 |pmid=15990261 |doi=10.1016/j.jep.2005.04.022}}</ref> Os índios da [[Amazônia]] usam, para fins religiosos, a combinação de [[cipó-mariri]] e [[chacrona]] para a produção de ''[[ayahuasca]]'' há mais de 4 000 anos.<ref>{{citar jornal |autor=McKENNA D J, CALLAWAY J C, GROB C S | titulo=The Scientific investigation of ayahuasca: a review of past and current research |jornal=The Heffer Review of Psychedelic Research |volume=1 |paginas=65–77 |ano=1998 }}</ref> O cogumelo ''[[Amanita muscaria]]'', que produz [[muscimol]], era usado com propósitos [[Ritual|rituais]] por toda a [[Europa]] [[Pré-história|pré-histórica]].<ref>{{citar jornal |autor=VETULANI J |titulo=Drug addiction. Part I. Psychoactive substances in the past and presence |jornal=Polish journal of pharmacology |volume=53 |numero=3 |paginas=201–14 |ano=2001 |pmid=11785921 |doi=}}</ref> Vários outros alucinógenos, como o [[Datura stramonium|estramônio]] e os [[cogumelo psicadélico|cogumelos psicodélicos]], são parte de cerimônias religiosas há séculos.<ref name="hall">HALL, Andy. [http://www.nerdshit.com/wordpress/?p=1433 Entheogens and the Origins of Religion]. Retrieved on May 13, 2007.</ref>


O uso de enteógenos para fins religiosos ressurgiu no [[Mundo ocidental|Ocidente]] durante os movimentos de [[contracultura]] dos anos [[década de 1960|1960]] e [[década de 1970|1970]]. Sob a liderança do [[Povo dos Estados Unidos|estadunidense]] [[Timothy Leary]], novos movimentos religiosos começaram a usar o [[LSD]] e outros alucinógenos como formas de "[[Sacramento (cristianismo)|sacramento]]".<ref>{{citar jornal |autor=BECKER H S |titulo=History, culture and subjective experience: an exploration of the social bases of drug-induced experiences |jornal=Journal of health and social behavior |volume=8 |numero=3 |paginas=163–76 |ano=1967 |pmid=6073200| doi = 10.2307/2948371}}</ref> No Brasil, o uso do ''ayahuasca'' é permitido por [[lei]] para os praticantes das [[seita]]s que o usam para fins rituais, como as do [[Santo Daime]] e da [[União do Vegetal]].<ref>{{citar web | url=http://www2.uol.com.br/pagina20/16052006/opiniao1.htm | autor=FACUNDES, J A | ano=2006 | titulo=Constituição, ayahuasca e o CONAD: um novo caminho | mes=maio | acessodata = 25 de abril de 2009 | formato=HTML | publicado=Página 20 On-line}}</ref>
{{ver artigo principal|[[enteógeno]]}}
Certos psicoativos, principalmente os alucinógenos, têm sido usados para fins religiosos desde tempos pré-históricos. Os nativos estadunidenses têm usado o [[peiote]], que contém [[mescalina]], em cerimônias religiosas há 5 700 anos<ref>{{citar jornal |autor=El-SEEDI H R, De SMET P A, BECK O, POSSNERT G, BRUHN J G |titulo=Prehistoric peyote use: alkaloid analysis and radiocarbon dating of archaeological specimens of Lophophora from Texas |jornal=Journal of Ethnopharmacology |volume=101 |número=1-3 |paginas=238–42 |ano=2005 |pmid=15990261 |doi=10.1016/j.jep.2005.04.022}}</ref>. Os índios da [[Amazônia]] usam, para fins religiosos, a combinação de [[cipó-mariri]] e [[chacrona]] para a produção de ''[[ayahuasca]]'' há mais de 4 000 anos<ref>{{citar jornal |autor=McKENNA D J, CALLAWAY J C, GROB C S | titulo=The Scientific investigation of ayahuasca: a review of past and current research |jornal=The Heffer Review of Psychedelic Research |volume=1 |paginas=65–77 |ano=1998 }}</ref>. O cogumelo ''[[Amanita muscaria]]'', que produz [[muscimol]], era usado com propósitos [[Ritual|rituais]] por toda a [[Europa]] [[Pré-história|pré-histórica]]<ref>{{citar jornal |autor=VETULANI J |titulo=Drug addiction. Part I. Psychoactive substances in the past and presence |jornal=Polish journal of pharmacology |volume=53 |numero=3 |paginas=201–14 |ano=2001 |pmid=11785921 |doi=}}</ref>. Vários outros alucinógenos, como o [[Datura stramonium|estramônio]] e os [[cogumelo psicadélico|cogumelos psicodélicos]], são parte de cerimônias religiosas há séculos<ref name="hall">HALL, Andy. [http://www.nerdshit.com/wordpress/?p=1433 Entheogens and the Origins of Religion]. Retrieved on May 13, 2007.</ref>.


== Administração ==
O uso de enteógenos para fins religiosos ressurgiu no [[Mundo ocidental|Ocidente]] durante os movimentos de [[contracultura]] dos anos [[década de 1960|1960]] e [[década de 1970|1970]]. Sob a liderança do [[Povo dos Estados Unidos|estadunidense]] [[Timothy Leary]], novos movimentos religiosos começaram a usar o [[LSD]] e outros alucinógenos como formas de "[[Sacramento (cristianismo)|sacramento]]"<ref>{{citar jornal |autor=BECKER H S |titulo=History, culture and subjective experience: an exploration of the social bases of drug-induced experiences |jornal=Journal of health and social behavior |volume=8 |numero=3 |paginas=163–76 |ano=1967 |pmid=6073200| doi = 10.2307/2948371}}</ref>. No Brasil, o uso do ''ayahuasca'' é permitido por [[lei]] para os praticantes das [[seita]]s que o usam para fins rituais, como as do [[Santo Daime]] e da [[União do Vegetal]]<ref>{{citar web | url=http://www2.uol.com.br/pagina20/16052006/opiniao1.htm | autor=FACUNDES, J A | ano=2006 | titulo=Constituição, ayahuasca e o CONAD: um novo caminho | mes=maio | acessodata = 25 de abril de 2009 | formato=HTML | publicado=Página 20 On-line}}</ref>.
Para que uma substância seja psicoativa, deve atravessar a [[barreira hematoencefálica]] de modo a afetar a função neuroquímica. As drogas psicoativas são [[vias de administração|administradas]] de diferentes maneiras. Na medicina, a maioria das drogas psicoativas, como a [[fluoxetina]], a [[quetiapina]] e o [[lorazepam]], são [[ingestão|ingeridas]] sob forma de [[comprimido]]s ou [[Cápsula (medicamento)|cápsulas]]. Contudo, alguns psicoativos farmacêuticos são administrados via [[inalação]], injeções [[Injeção intramuscular|intramusculares]] ou [[Via intravenosa|intravenosas]], ou ainda via [[reto|retal]] em [[supositório]]s e [[enema]]s. As drogas usadas com fins recreativo são muitas vezes administradas sob formas incomuns ao uso medicinal. Algumas delas, como o [[bebida alcoólica|álcool]] e a [[cafeína]] são ingeridas sob a forma de bebida; [[nicotina]] e [[THC]] são [[fumo|fumados]]; o [[peiote]] e os [[cogumelo psicadélico|cogumelos psicodélicos]] são ingeridos ''in natura'' ou desidratados; e algumas drogas cristalinas, como a [[cocaína]] e as [[metanfetamina]]s são [[inspiração|aspiradas]]. A eficiência de cada método de administração varia de acordo com a droga.<ref>United States Food and Drug Administration. [http://www.fda.gov/cder/dsm/DRG/drg00301.htm CDER Data Standards Manual]. Acessado em 26 de abril de 2009.</ref>


==Administração==
== Efeitos ==
[[Imagem:Synapse Illustration2 tweaked.svg|thumb|direita|300px|Ilustração dos principais elementos da [[neurotransmissão]]. Dependendo do mecanismo de ação, uma substância psicoativa pode bloquear os receptores nos [[dendrito]]s do neurônio pós-sináptico, bloquear a recaptação ou afetar a síntese de neurotransmissores no [[axônio]] do neurônio pré-sináptico]]

Para que uma substância seja psicoativa, deve atravessar a [[barreira hematoencefálica]] de modo a afetar a função neuroquímica. As drogas psicoativas são [[vias de administração|administradas]] de diferentes maneiras. Na medicina, a maioria das drogas psicoativas, como a [[fluoxetina]], a [[quetiapina]] e o [[lorazepam]], são [[ingestão|ingeridas]] sob forma de [[comprimido]]s ou [[Cápsula (medicamento)|cápsulas]]. Contudo, alguns psicoativos farmacêuticos são administrados via [[inalação]], injeções [[Injeção intramuscular|intramusculares]] ou [[Via intravenosa|intravenosas]], ou ainda via [[reto|retal]] em [[supositório]]s e [[enema]]s. As drogas usadas com fins recreativo são muitas vezes administradas sob formas incomuns ao uso medicinal. Algumas delas, como o [[bebida alcoólica|álcool]] e a [[cafeína]] são ingeridas sob a forma de bebida; [[nicotina]] e [[THC]] são [[fumo|fumados]]; o [[peiote]] e os [[cogumelo psicadélico|cogumelos psicodélicos]] são ingeridos ''in natura'' ou desidratados; e algumas drogas cristalinas, como a [[cocaína]] e as [[metanfetamina]]s são [[inspiração|aspiradas]]. A eficiência de cada método de administração varia de acordo com a droga<ref>United States Food and Drug Administration. [http://www.fda.gov/cder/dsm/DRG/drg00301.htm CDER Data Standards Manual]. Acessado em 26 de abril de 2009.</ref>.

==Efeitos==
[[Ficheiro:Synapse Illustration2 tweaked.svg|thumb|right|300px|Ilustração dos principais elementos da [[neurotransmissão]]. Dependendo do mecanismo de ação, uma substância psicoativa pode bloquear os receptores nos [[dendrito]]s do neurônio pós-sináptico, bloquear a recaptação ou afetar a síntese de neurotransmissores no [[axônio]] do neurônio pré-sináptico]]


As drogas psicoativas atuam afetando temporariamente a neuroquímica do indivíduo, o que leva a mudanças de humor, cognição, percepção e comportamento. Há muitas maneiras pelas quais as drogas psicoativas podem afetar o cérebro. Cada droga tem uma ação específica em um ou mais [[neurotransmissor]]es ou [[Receptor (bioquímica)|neurorreceptores]] cerebrais.
As drogas psicoativas atuam afetando temporariamente a neuroquímica do indivíduo, o que leva a mudanças de humor, cognição, percepção e comportamento. Há muitas maneiras pelas quais as drogas psicoativas podem afetar o cérebro. Cada droga tem uma ação específica em um ou mais [[neurotransmissor]]es ou [[Receptor (bioquímica)|neurorreceptores]] cerebrais.


As drogas que aumentam a atividade em certos sistemas neurotransmissores são chamadas [[agonista]]s, aumentando a [[Síntese (química)|síntese]] de um ou mais neurotransmissores ou reduzindo sua [[recaptação]] nas [[sinapse]]s. As drogas que reduzem a atividade neurotransmissora são chamadas de [[antagonista (bioquímica)|antagonistas]], e interferem na síntese ou bloqueiam os receptores pós-sináticos de modo que os neurotransmissores não se liguem a eles<ref>{{citar livro | autor = SELIGMAN, Martin E P | titulo = Abnormal Psychology | editora = W. W. Norton & Company |ano=1984 | local=Nova York|| isbn = 039394459X }}</ref>.
As drogas que aumentam a atividade em certos sistemas neurotransmissores são chamadas [[agonista]]s, aumentando a [[Síntese (química)|síntese]] de um ou mais neurotransmissores ou reduzindo sua [[recaptação]] nas [[sinapse]]s. As drogas que reduzem a atividade neurotransmissora são chamadas de [[antagonista (bioquímica)|antagonistas]], e interferem na síntese ou bloqueiam os receptores pós-sináticos de modo que os neurotransmissores não se liguem a eles.<ref>{{citar livro | autor = SELIGMAN, Martin E P | titulo = Abnormal Psychology | editora = W. W. Norton & Company |ano=1984 | local=Nova York|| isbn = 039394459X }}</ref>

A exposição a substâncias psicoativas pode causar mudanças na estrutura e no funcionamento dos [[neurônio]]s, enquanto o sistema nervoso tenta restabelecer a [[homeostase]] alterada pela presença da droga. A exposição a antagonistas para um determinado neurotransmissor aumenta o número de receptores para ele, e os receptores ficam mais sensíveis. Isso é chamado de [[sensibilização]]. Ao contrário, o estímulo dos receptores por um determinado neurotransmissor causa uma diminuição em número e sensibilidade desses receptores, um processo chamado de [[dessensibilização]] ou [[tolerância (farmacologia)|tolerância]]. Sensibilização e dessensibilização são mais prováveis de ocorrerem em exposições prolongadas, embora possam acontecer após uma só exposição. Acredita-se que esses processos subjazem ao vício<ref>{{citar web | titulo=University of Texas, Addiction Science Research and Education Center | url=http://www.utexas.edu/research/asrec/dopamine.html | acessodata=26 de abril de 2009 | arquivourl=https://www.webcitation.org/618NxQOGJ?url=http://www.utexas.edu/research/asrec/dopamine.html | arquivodata=2011-08-22 | urlmorta=yes }}</ref>.


A exposição a substâncias psicoativas pode causar mudanças na estrutura e no funcionamento dos [[neurônio]]s, enquanto o sistema nervoso tenta restabelecer a [[homeostase]] alterada pela presença da droga. A exposição a antagonistas para um determinado neurotransmissor aumenta o número de receptores para ele, e os receptores ficam mais sensíveis. Isso é chamado de [[sensibilização]]. Ao contrário, o estímulo dos receptores por um determinado neurotransmissor causa uma diminuição em número e sensibilidade desses receptores, um processo chamado de [[dessensibilização]] ou [[tolerância (farmacologia)|tolerância]]. Sensibilização e dessensibilização são mais prováveis de ocorrerem em exposições prolongadas, embora possam acontecer após uma só exposição. Acredita-se que esses processos subjazem ao vício.<ref>{{citar web | titulo=University of Texas, Addiction Science Research and Education Center | url=http://www.utexas.edu/research/asrec/dopamine.html | acessodata=26 de abril de 2009 | arquivourl=https://www.webcitation.org/618NxQOGJ?url=http://www.utexas.edu/research/asrec/dopamine.html | arquivodata=2011-08-22 | urlmorta=yes }}</ref>
===Sistemas neurotransmissores afetados===


=== Sistemas neurotransmissores afetados ===
A seguir, uma pequena tabela de drogas conhecidas e seus principais neurotransmissores, receptores ou mecanismos de ação. Note-se que muitas drogas agem em mais de um neurotransmissor ou receptor no cérebro<ref>{{citar jornal |autor=LÜSCHER C, UGLESS M |titulo=The mechanistic classification of addictive drugs |jornal=PLoS Med. |volume=3 |numero=11 |paginas=437 |ano=2006 |pmid=17105338 | doi = 10.1371/journal.pmed.0030437}}</ref>.
A seguir, uma pequena tabela de drogas conhecidas e seus principais neurotransmissores, receptores ou mecanismos de ação. Note-se que muitas drogas agem em mais de um neurotransmissor ou receptor no cérebro.<ref>{{citar jornal |autor=LÜSCHER C, UGLESS M |titulo=The mechanistic classification of addictive drugs |jornal=PLoS Med. |volume=3 |numero=11 |paginas=437 |ano=2006 |pmid=17105338 | doi = 10.1371/journal.pmed.0030437}}</ref>


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!''Exemplos''
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|[[Agonista muscarínico|Colinérgico]] (agonistas da acetilcolina)
|[[Agonista muscarínico|Colinérgico]] (agonistas da acetilcolina)
|''[[nicotina]], [[piracetam]]''
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|''[[escopolamina]], [[dimenidrinato]], [[difenidramina]], [[atropina]]'', a maioria dos [[tricíclico]]s
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|rowspan=1|<center>[[Imagem:Adenosin.svg|150px]]</center><center>[[Adenosina]]</center>
|rowspan=1|<div style="text-align: center;">[[Imagem:Adenosin.svg|150px]]</div><div style="text-align: center;">[[Adenosina]]</div>
|Antagonistas do receptor de adenosina<ref>FORD, Marsha. ''Clinical Toxicology.'' Filadélfia: Saunders, 2001. Capítulo 36 - Caffeine and Related Nonprescription Sympathomimetics. ISBN 0721654851</ref>
|Antagonistas do receptor de adenosina<ref>FORD, Marsha. ''Clinical Toxicology.'' Filadélfia: Saunders, 2001. Capítulo 36 - Caffeine and Related Nonprescription Sympathomimetics. ISBN 0721654851</ref>
|''[[cafeína]], [[teobromina]], [[teofilina]]''
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|Inibidores da recaptação de dopamina (IRDs)
|Inibidores da recaptação de dopamina (IRDs)
|''[[cocaína]]'', ''[[metilfenidato]]'', ''[[anfetamina]]'', ''[[bupropiona]]''
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|Inibidores da recaptação de GABA
|Inibidores da recaptação de GABA
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|Inibidores da recaptação de noradrenalina
|Inibidores da recaptação de noradrenalina
|a maioria [[antidepressivo]]s não-[[ISRS]] como a ''[[amoxapina]], [[atomoxetina]], [[bupropiona]], [[venlafaxina]]'' e os [[tricíclico]]s
|a maioria [[antidepressivo]]s não-[[ISRS]] como a ''[[amoxapina]], [[atomoxetina]], [[bupropiona]], [[venlafaxina]]'' e os [[tricíclico]]s
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|''[[mianserina]], [[mirtazapina]]''
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|Agonistas dos receptores de serotonina
|Agonistas dos receptores de serotonina
|''[[LSD]], [[psilocibina]], [[mescalina]], [[Dimetiltriptamina|DMT]]''
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|''[[MDMA]]'' (ecstasy), ''[[mirtazapina]]'', ''[[dextrometorfano]]''
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|Antagonistas de receptores AMPA
|Antagonistas de receptores AMPA
|''[[ácido cinurênico]], [[NBQX]]''
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|Agonistas de receptores canabinoides
|Agonistas de receptores canabinoides
|''[[THC]]''
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|''[[Rimonabanto]]''
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|Agonistas dos receptores de melanocortina
|Agonistas dos receptores de melanocortina
|''[[bremelanotide]]
|''[[bremelanotide]]
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|Antagonistas do receptor de NMDA
|Antagonistas do receptor de NMDA
|''[[etanol]], [[cetamina]], [[Cicloexilpiperidina|PCP]], [[dextrometorfano]], [[óxido nitroso]]
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|Agonistas do receptor de GHB
|Agonistas do receptor de GHB
|''[[GHB]], [[T-HCA]]
|''[[GHB]], [[T-HCA]]
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|Agonistas do receptor µ-opioide
|Agonistas do receptor µ-opioide
|''[[morfina]], [[heroína]], [[oxicodona]], [[codeína]]''
|''[[morfina]], [[heroína]], [[oxicodona]], [[codeína]]''
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|''[[buprenorfina]]
|''[[buprenorfina]]
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|rowspan=2|<center>[[Monoamina oxidase]]</center>
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|[[Inibidor da MAO|Inibidores da monoamina oxidase]] (IMAOs)
|[[Inibidor da MAO|Inibidores da monoamina oxidase]] (IMAOs)
|''[[fenelzina]], [[iproniazida]]''
|''[[fenelzina]], [[iproniazida]]''
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==Dependência==
== Dependência ==
{{Artigo principal|[[drogadição]]}}

[[Imagem:Bayer Heroin bottle.jpg|thumb|esquerda|200px|Frasco de [[heroína]].]]
{{ver artigo principal|[[drogadição]]}}
[[Imagem:Bayer Heroin bottle.jpg|thumb|left|200px|Frasco de [[heroína]].]]

As drogas psicoativas são frequentemente associadas ao vício. A drogadição pode ser dividida em dois tipos: [[dependência psicológica]], na qual o usuário se sente compelido a usar a droga apesar das conseqüências físicas ou sociais, e [[dependência física]], em que o usuário tem de usar a droga para evitar as consequências da [[síndrome de abstinência]]<ref name="johnson">{{citar jornal|autor=JOHNSON, Brian | titulo=Psychological addiction, physical addiction, addictive character, and addictive personality disorder: a nosology of addictive disorders | ano=2003 | volume=11 | paginas=135–60 | jornal=Canadian journal of psychoanalysis}}</ref>. Nem todas as drogas provocam dependência física, mas qualquer atividade que estimula o sistema de recompensa dopaminérgico do cérebro — normalmente qualquer atividade prazerosa<ref>{{citar jornal |autor=ZHANG J, XU M |titulo=Toward a molecular understanding of psychostimulant actions using genetically engineered dopamine receptor knockout mice as model systems |jornal=J Addict Dis |volume=20 |numero=3 |paginas=7–18 |ano=2001 |pmid=11681595 |doi=10.1300/J069v20n04_02}}</ref> — pode levar à dependência psicológica<ref name="johnson" />. As drogas que mais comumente causam dependência são as que estimulam diretamente o sistema dopaminérgico, como a [[cocaína]] e as [[anfetamina]]s. As drogas que agem indiretamente nesse sistema, como [[droga psicodélica|psicodélicos]], necessariamente não causam dependência.


As drogas psicoativas são frequentemente associadas ao vício. A drogadição pode ser dividida em dois tipos: [[dependência psicológica]], na qual o usuário se sente compelido a usar a droga apesar das conseqüências físicas ou sociais, e [[dependência física]], em que o usuário tem de usar a droga para evitar as consequências da [[síndrome de abstinência]].<ref name="johnson">{{citar jornal|autor=JOHNSON, Brian | titulo=Psychological addiction, physical addiction, addictive character, and addictive personality disorder: a nosology of addictive disorders | ano=2003 | volume=11 | paginas=135–60 | jornal=Canadian journal of psychoanalysis}}</ref> Nem todas as drogas provocam dependência física, mas qualquer atividade que estimula o sistema de recompensa dopaminérgico do cérebro — normalmente qualquer atividade prazerosa<ref>{{citar jornal |autor=ZHANG J, XU M |titulo=Toward a molecular understanding of psychostimulant actions using genetically engineered dopamine receptor knockout mice as model systems |jornal=J Addict Dis |volume=20 |numero=3 |paginas=7–18 |ano=2001 |pmid=11681595 |doi=10.1300/J069v20n04_02}}</ref> — pode levar à dependência psicológica.<ref name="johnson" /> As drogas que mais comumente causam dependência são as que estimulam diretamente o sistema dopaminérgico, como a [[cocaína]] e as [[anfetamina]]s. As drogas que agem indiretamente nesse sistema, como [[droga psicodélica|psicodélicos]], necessariamente não causam dependência.
Muitos profissionais, grupos de ajuda, estabelecimentos especializados em [[Reabilitação (medicina)|reabilitação]] de drogas e pais tentam influenciar as decisões e ações de seus filhos quanto aos psicoativos, com variáveis graus de sucesso<ref>{{citar jornal |autor=HOPS H, TILDESLEY E, LICHTENSTEIN E, ARY D, SHERMAN L |titulo=Parent-adolescent problem-solving interactions and drug use |jornal=The American journal of drug and alcohol abuse |volume=16 |numero=3-4 |paginas=239–58 |ano=1990 |pmid=2288323| doi = 10.3109/00952999009001586}}</ref>.


Muitos profissionais, grupos de ajuda, estabelecimentos especializados em [[Reabilitação (medicina)|reabilitação]] de drogas e pais tentam influenciar as decisões e ações de seus filhos quanto aos psicoativos, com variáveis graus de sucesso.<ref>{{citar jornal |autor=HOPS H, TILDESLEY E, LICHTENSTEIN E, ARY D, SHERMAN L |titulo=Parent-adolescent problem-solving interactions and drug use |jornal=The American journal of drug and alcohol abuse |volume=16 |numero=3-4 |paginas=239–58 |ano=1990 |pmid=2288323| doi = 10.3109/00952999009001586}}</ref>
São métodos comuns de reabilitação a [[psicoterapia]], [[grupos de apoio]] para [[autoajuda]], e também a [[farmacoterapia]], que usa drogas psicoativas para reduzir a compulsão e a [[síndrome de abstinência]] enquanto a desintoxicação se processa. A [[metadona]], um [[opioide]] psicoativo, é um tratamento corriqueiro para a dependência em [[heroína]]. Pesquisas recentes em [[toxicomania]] têm mostrado que o uso de [[drogas psicodélicas]] como a [[ibogaína]] pode tratar e até mesmo curar [[drogadição|drogadições]], embora a prática ainda esteja longe de se tornar universalmente aceita<ref name="macpherson">{{citar web | titulo=Psychedelics Could Treat Addiction Says Vancouver Official | url=http://thetyee.ca/News/2006/08/09/Psychedelics/ |acessodata=27 de abril de 2009}}</ref><ref name="mojeiko">{{citar web | titulo=Ibogaine research to treat alcohol and drug addiction | url=http://www.maps.org/ibogaine/ |acessodata=27 de abril de 2009}}</ref>.


São métodos comuns de reabilitação a [[psicoterapia]], [[grupos de apoio]] para [[autoajuda]], e também a [[farmacoterapia]], que usa drogas psicoativas para reduzir a compulsão e a [[síndrome de abstinência]] enquanto a desintoxicação se processa. A [[metadona]], um [[opioide]] psicoativo, é um tratamento corriqueiro para a dependência em [[heroína]]. Pesquisas recentes em [[toxicomania]] têm mostrado que o uso de [[drogas psicodélicas]] como a [[ibogaína]] pode tratar e até mesmo curar [[drogadição|drogadições]], embora a prática ainda esteja longe de se tornar universalmente aceita.<ref name="macpherson">{{citar web | titulo=Psychedelics Could Treat Addiction Says Vancouver Official | url=http://thetyee.ca/News/2006/08/09/Psychedelics/ |acessodata=27 de abril de 2009}}</ref><ref name="mojeiko">{{citar web | titulo=Ibogaine research to treat alcohol and drug addiction | url=http://www.maps.org/ibogaine/ |acessodata=27 de abril de 2009}}</ref>
==Legalização==


== Legalização ==
Muito se tem debatido acerca da legalização das drogas psicoativas em nossa história recente. As [[guerras do Ópio]] e a [[lei Seca]] estadunidense são dois exemplos históricos sobre a controvérsia legal acerca dessas substâncias. Contudo, mais recentemente, o documento mais influente concernente à legalidade de drogas psicoativas é o da [[Convenção Única sobre Entorpecentes]], um [[tratado]] internacional assinado em [[1961]] como um [[decreto]] das [[Nações Unidas]]. Assinado por 73 países, a Convenção Única sobre Entorpecentes estabeleceu agendas para a regulamentação de cada droga e dispôs um acordo internacional contra a dependência de drogas recreacionais combatendo a venda, o [[Narcotráfico|tráfico]] e o uso das referidas drogas<ref name="UN">[http://css.unodc.org/pdf/brazil/Convencao%20Unica%20de%201961%20portugues.pdf Convenção Única sobre Entorpecentes.]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }} Acessado em 27 de abril de 2009.</ref>. Todos os países signatários firmaram leis que implementassem as regras dentro de suas fronteiras. Contudo, alguns desses países, como [[Países Baixos]], são mais complacentes quanto à aplicação dessas leis<ref>{{citar jornal |autor=McCOUN R, REUTER P |titulo=Interpreting Dutch cannabis policy: reasoning by analogy in the legalization debate |jornal=Science |volume=278 |numero=5335 |paginas=47–52 |ano=1997 |pmid=9311925| doi = 10.1126/science.278.5335.47}}</ref>.
Muito se tem debatido acerca da legalização das drogas psicoativas em nossa história recente. As [[guerras do Ópio]] e a [[lei Seca]] estadunidense são dois exemplos históricos sobre a controvérsia legal acerca dessas substâncias. Contudo, mais recentemente, o documento mais influente concernente à legalidade de drogas psicoativas é o da [[Convenção Única sobre Entorpecentes]], um [[tratado]] internacional assinado em [[1961]] como um [[decreto]] das [[Nações Unidas]]. Assinado por 73 países, a Convenção Única sobre Entorpecentes estabeleceu agendas para a regulamentação de cada droga e dispôs um acordo internacional contra a dependência de drogas recreacionais combatendo a venda, o [[Narcotráfico|tráfico]] e o uso das referidas drogas.<ref name="UN">[http://css.unodc.org/pdf/brazil/Convencao%20Unica%20de%201961%20portugues.pdf Convenção Única sobre Entorpecentes.]{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }} Acessado em 27 de abril de 2009.</ref> Todos os países signatários firmaram leis que implementassem as regras dentro de suas fronteiras. Contudo, alguns desses países, como [[Países Baixos]], são mais complacentes quanto à aplicação dessas leis.<ref>{{citar jornal |autor=McCOUN R, REUTER P |titulo=Interpreting Dutch cannabis policy: reasoning by analogy in the legalization debate |jornal=Science |volume=278 |numero=5335 |paginas=47–52 |ano=1997 |pmid=9311925| doi = 10.1126/science.278.5335.47}}</ref>


No contexto sanitário, drogas psicoativas usadas como tratamentos para doenças são geral e amplamente aceitas. Há alguma controvérsia quanto os [[Medicamento de venda livre|medicamentos de venda livre]] como alguns [[antiemético]]s e [[antitussígeno]]s. Geralmente, as drogas psicoativas são prescritas para pacientes com problemas psiquiátricos. Contudo, há quem critique dizendo que prescrições de certos psicoativos, como [[antidepressivo]]s e [[estimulante]]s, são exageradas e podem comprometer a autonomia e o discernimento dos pacientes<ref>DWORKIN, Ronald. ''Artificial Happiness.'' New York: Carroll & Graf, 2006. pp. 2–6. ISBN 0786719338</ref><ref>{{citar jornal |autor=MANNINEN B A |titulo=Medicating the mind: a Kantian analysis of overprescribing psychoactive drugs |jornal=Journal of medical ethics |volume=32 |numero=2 |paginas=100–5 |ano=2006 |pmid=16446415 |doi=10.1136/jme.2005.013540}}</ref>.
No contexto sanitário, drogas psicoativas usadas como tratamentos para doenças são geral e amplamente aceitas. Há alguma controvérsia quanto os [[Medicamento de venda livre|medicamentos de venda livre]] como alguns [[antiemético]]s e [[antitussígeno]]s. Geralmente, as drogas psicoativas são prescritas para pacientes com problemas psiquiátricos. Contudo, há quem critique dizendo que prescrições de certos psicoativos, como [[antidepressivo]]s e [[estimulante]]s, são exageradas e podem comprometer a autonomia e o discernimento dos pacientes.<ref>DWORKIN, Ronald. ''Artificial Happiness.'' New York: Carroll & Graf, 2006. pp. 2–6. ISBN 0786719338</ref><ref>{{citar jornal |autor=MANNINEN B A |titulo=Medicating the mind: a Kantian analysis of overprescribing psychoactive drugs |jornal=Journal of medical ethics |volume=32 |numero=2 |paginas=100–5 |ano=2006 |pmid=16446415 |doi=10.1136/jme.2005.013540}}</ref>


== Ver também==
== Ver também ==
* [[Droga psicodélica]]
* [[Droga alucinógena|Droga alucinógena/psicodélica]]
* [[Droga inalante]]
* [[Droga inalante]]
* [[Drogas legais sintéticas]]
* [[Drogas legais sintéticas]]
* [[Psicodelia]]
* [[Enteógeno]]


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== Ligações externas ==
== Ligações externas ==
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Revisão das 19h38min de 12 de julho de 2019

Um sortimento de drogas psicoativas

Uma substância psicoativa, substância psicotrópica, droga psicotrópica ou simplesmente psicotrópico é uma substância química que age principalmente no sistema nervoso central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência. Essa alteração pode ser proporcionada para fins recreacionais (alteração proposital da consciência); religiosos (uso de enteógenos); científicos (visando a compreensão do funcionamento da mente); ou médico-farmacológicos (como medicação). Alternativamente, tal efeito na mente pode não ser o objetivo do consumo da substância psicotrópica, mas um efeito adverso do mesmo.[1]

Tais alterações subjetivas da consciência e do humor são fonte de prazer (por exemplo, a euforia) ou servem para criar uma melhora nos sentidos e estados já experimentados naturalmente (por exemplo, o aumento da concentração), ou uma mudança na perspectiva mental, podendo aumentar também a criatividade, por isso, tantos artistas e intelectuais são defensores do consumo dessas drogas. Tais efeitos das drogas, contudo, podem levar ao uso recorrente das mesmas, o que pode levar à dependência física ou psicológica, promovendo um ciclo progressivamente mais difícil de ser interrompido. A impossibilidade física ou psicológica de interrupção desse ciclo caracteriza o vício em drogas, também chamado de drogadição e toxicodependência. A reabilitação de drogaditos/toxicodependentes, geralmente, envolve uma combinação de psicoterapia, grupos de apoio, e até mesmo o uso de outras substâncias psicoativas que ajudam a interromper o ciclo de dependência.

A ética relativa ao uso dessas drogas é assunto de um contínuo debate, em parte por causa desse potencial para abuso e dependência. Muitos governos têm imposto restrições sobre a produção e venda dessas substâncias, na tentativa de diminuir o abuso de drogas.

Etimologia

"Psicotrópico" é formado pela junção de "psic(o)" ("alma", "espírito", "intelecto"), "trop(o)" ("desvio", "mudança", "afinidade") e "ico" ("participação", "referência", "relação").[2]

História

O uso de drogas é uma prática desde tempos pré-históricos. Há provas arqueológicas do uso de substâncias psicoativas 10 mil anos atrás, e evidência histórica de uso cultural desde 5 mil anos atrás.[3] Embora o uso pareça ter sido mais frequentemente medicinal, sugeriu-se que o desejo de alterar a consciência é tão primevo quanto o ímpeto de saciar a sede, a fome ou o desejo sexual.[4] Outros sugerem que a propaganda, a disponibilidade ou a pressão da vida moderna são algumas das razões pelas quais as pessoas usam drogas psicoativas no cotidiano. Contudo, a longa história do uso de drogas e mesmo o desejo da criança de rodar, balançar ou escorregar indicam que o ímpeto de alterar a percepção é universal.[5]

Essa relação não se limita ao homem. Alguns animais consomem diferentes plantas, frutos, frutos fermentados e ou outros animais, como fonte de substâncias psicoativas, como por exemplo os gatos e sua predileção pela nepeta. Durante o século XX, muitos países inicialmente responderam ao uso recreacional das drogas banindo seu uso e considerando criminosos seu uso, armazenamento e ou venda.

Classificações

As drogas psicotrópicas são classificadas em:

  • Estimulantes (recebem também o nome de psicoanaléticos, noanaléticos, timoléticos etc.)
  • Depressoras (podem também ser chamadas de psicoléticos)
  • Alucinógenas (psicoticomiméticos, psicodélicos, perturbadoras, psicometamórficos etc.)

Usos

As substâncias psicoativas são usadas para diferentes propósitos. Os usos variam grandemente entre as diferentes culturas. Algumas substâncias são de uso controlado ou ilegal, enquanto algumas podem ser usadas para propósitos xamânicos, e outras são usadas de modo terapêutico. Outros exemplos seriam o consumo social de álcool e os soníferos. A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo, mas, ao contrário de muitas outras, seu uso é legal e irrestrito em praticamente todas as jurisdições. No Brasil, maior produtor e segundo maior consumidor de café do mundo, 85% das pessoas consome café no desjejum.[6]

Anestesia

Ver artigo principal: anestesia

Os anestésicos são uma classe de drogas psicoativas usadas em pacientes para bloquear a dor e outras sensações. A maioria dos anestésicos induz à inconsciência, o que permite, ao paciente, submeter-se a procedimentos médicos tais como a cirurgia sem dor física ou trauma emocional.[7] Para induzir à inconsciência, os anestésicos afetam os sistemas GABA e NMDA. Por exemplo, o halotano é um agonista para GABA,[8] e a cetamina é um antagonista para o receptor de NMDA.[9]

Controle da dor

Ver artigo principal: analgésico

Drogas psicoativas são frequentemente prescritas para controle da dor. Como a experiência subjetiva da dor é regulada por peptídios opioides endógenos, a dor pode ser controlada usando psicoativos que operam nesse sistema neurotransmissor como agonistas dos receptores opioides. A esta classe de drogas incluem-se narcóticos opiáceos, como a morfina e a codeína.[10] AINEs, como a aspirina e o ibuprofeno, são uma segunda classe de analgésicos. Eles reduzem a inflamação mediada por eicosanoides ao inibir a enzima ciclo-oxigenase.

Medicamentos psiquiátricos

Ver artigo principal: medicamento psiquiátrico
Zoloft®, um medicamento antidepressivo (e ansiolítico).

Medicamentos psiquiátricos são prescritos para o tratamento de doenças mentais e emocionais. Existem 6 classes principais de medicamentos psiquiátricos:

Uso recreativo da droga

Ver artigo principal: droga

Muitas substâncias psicoativas são usadas pelos efeitos de alteração do humor e da percepção, inclusive aquelas com uso aceito pela medicina e psiquiatria. Os tipos de drogas usadas frequentemente para uso recreacional incluem:

Em algumas subculturas, o uso de drogas é visto como símbolo de statu, o que ocorre em lugares como casas noturnas, boates, raves e festas.[12] Isso é fato histórico em muitas culturas. Drogas têm sido consideradas símbolos de statu desde a antiguidade. Por exemplo, no Antigo Egito, eram comuns as representações de deuses segurando plantas alucinógenas.[13]

Por causa da controvérsia sobre o regulamento das drogas recreacionais, existe um debate sobre a proibição das drogas. Críticos da proibição acreditam que a regulamentação do uso de drogas recreacionais é uma violação da autonomia pessoal e da liberdade.[14] Também alegam que a guerra às drogas pode trazer problemas maiores, como a produção e venda de drogas de qualidade duvidosa por cartéis do narcotráfico, uma vez que criam-se monopólios violentos, e impossibilita-se um mercado transparente.

Uso ritual e espiritual

Ver artigo principal: enteógeno

Certos psicoativos, principalmente os alucinógenos, têm sido usados para fins religiosos desde tempos pré-históricos. Os nativos estadunidenses têm usado o peiote, que contém mescalina, em cerimônias religiosas há 5 700 anos.[15] Os índios da Amazônia usam, para fins religiosos, a combinação de cipó-mariri e chacrona para a produção de ayahuasca há mais de 4 000 anos.[16] O cogumelo Amanita muscaria, que produz muscimol, era usado com propósitos rituais por toda a Europa pré-histórica.[17] Vários outros alucinógenos, como o estramônio e os cogumelos psicodélicos, são parte de cerimônias religiosas há séculos.[18]

O uso de enteógenos para fins religiosos ressurgiu no Ocidente durante os movimentos de contracultura dos anos 1960 e 1970. Sob a liderança do estadunidense Timothy Leary, novos movimentos religiosos começaram a usar o LSD e outros alucinógenos como formas de "sacramento".[19] No Brasil, o uso do ayahuasca é permitido por lei para os praticantes das seitas que o usam para fins rituais, como as do Santo Daime e da União do Vegetal.[20]

Administração

Para que uma substância seja psicoativa, deve atravessar a barreira hematoencefálica de modo a afetar a função neuroquímica. As drogas psicoativas são administradas de diferentes maneiras. Na medicina, a maioria das drogas psicoativas, como a fluoxetina, a quetiapina e o lorazepam, são ingeridas sob forma de comprimidos ou cápsulas. Contudo, alguns psicoativos farmacêuticos são administrados via inalação, injeções intramusculares ou intravenosas, ou ainda via retal em supositórios e enemas. As drogas usadas com fins recreativo são muitas vezes administradas sob formas incomuns ao uso medicinal. Algumas delas, como o álcool e a cafeína são ingeridas sob a forma de bebida; nicotina e THC são fumados; o peiote e os cogumelos psicodélicos são ingeridos in natura ou desidratados; e algumas drogas cristalinas, como a cocaína e as metanfetaminas são aspiradas. A eficiência de cada método de administração varia de acordo com a droga.[21]

Efeitos

Ilustração dos principais elementos da neurotransmissão. Dependendo do mecanismo de ação, uma substância psicoativa pode bloquear os receptores nos dendritos do neurônio pós-sináptico, bloquear a recaptação ou afetar a síntese de neurotransmissores no axônio do neurônio pré-sináptico

As drogas psicoativas atuam afetando temporariamente a neuroquímica do indivíduo, o que leva a mudanças de humor, cognição, percepção e comportamento. Há muitas maneiras pelas quais as drogas psicoativas podem afetar o cérebro. Cada droga tem uma ação específica em um ou mais neurotransmissores ou neurorreceptores cerebrais.

As drogas que aumentam a atividade em certos sistemas neurotransmissores são chamadas agonistas, aumentando a síntese de um ou mais neurotransmissores ou reduzindo sua recaptação nas sinapses. As drogas que reduzem a atividade neurotransmissora são chamadas de antagonistas, e interferem na síntese ou bloqueiam os receptores pós-sináticos de modo que os neurotransmissores não se liguem a eles.[22]

A exposição a substâncias psicoativas pode causar mudanças na estrutura e no funcionamento dos neurônios, enquanto o sistema nervoso tenta restabelecer a homeostase alterada pela presença da droga. A exposição a antagonistas para um determinado neurotransmissor aumenta o número de receptores para ele, e os receptores ficam mais sensíveis. Isso é chamado de sensibilização. Ao contrário, o estímulo dos receptores por um determinado neurotransmissor causa uma diminuição em número e sensibilidade desses receptores, um processo chamado de dessensibilização ou tolerância. Sensibilização e dessensibilização são mais prováveis de ocorrerem em exposições prolongadas, embora possam acontecer após uma só exposição. Acredita-se que esses processos subjazem ao vício.[23]

Sistemas neurotransmissores afetados

A seguir, uma pequena tabela de drogas conhecidas e seus principais neurotransmissores, receptores ou mecanismos de ação. Note-se que muitas drogas agem em mais de um neurotransmissor ou receptor no cérebro.[24]

Neurotransmissor/receptor Classificação Exemplos

Colinérgico (agonistas da acetilcolina) nicotina, piracetam
Anticolinérgicos (antagonistas da acetilcolina) escopolamina, dimenidrinato, difenidramina, atropina, a maioria dos tricíclicos
Antagonistas do receptor de adenosina[25] cafeína, teobromina, teofilina

Dopamina
Inibidores da recaptação de dopamina (IRDs) cocaína, metilfenidato, anfetamina, bupropiona
Liberadores de dopamina anfetamina
Agonistas dopaminérgicos pramipexol, Levodopa
antagonistas do receptor de dopamina haloperidol, droperidol, vários antipsicóticos


Inibidores da recaptação de GABA tiagabina
Agonistas dos receptores de GABA etanol, barbitúricos, diazepam e outros benzodiazepínicos, muscimol, ácido isobotênico
Agonistas GABA tujona, bicuculina

Inibidores da recaptação de noradrenalina a maioria antidepressivos não-ISRS como a amoxapina, atomoxetina, bupropiona, venlafaxina e os tricíclicos
Liberadores de noradrenalina mianserina, mirtazapina
Agonistas dos receptores de serotonina LSD, psilocibina, mescalina, DMT
Inibidores da recaptação de serotonina a maioria antidepressivos, inclusive os tricíclicos como a amitriptilina and ISRSs como a fluoxetina, a sertralina and o citalopram
Liberadores de serotonina MDMA (ecstasy), mirtazapina, dextrometorfano
Antagonistas de receptores AMPA ácido cinurênico, NBQX
Agonistas de receptores canabinoides THC
Agonistas inversos dos receptores canabinoides Rimonabanto
Receptor de melanocortina
Agonistas dos receptores de melanocortina bremelanotide
Antagonistas do receptor de NMDA etanol, cetamina, PCP, dextrometorfano, óxido nitroso
Agonistas do receptor de GHB GHB, T-HCA
Agonistas do receptor µ-opioide morfina, heroína, oxicodona, codeína
µ-opioid receptor Agonistas inversos do receptor µ-opioide naloxona, naltrexona
Agonistas do receptor κ-opioide salvinorin A, butorfanol, nalbufina
Agonistas inversos do receptor κ-opioide buprenorfina
Inibidores da monoamina oxidase (IMAOs) fenelzina, iproniazida
Ligam-se à proteína transportadora de MAO anfetamina, metanfetamina

Dependência

Ver artigo principal: drogadição
Frasco de heroína.

As drogas psicoativas são frequentemente associadas ao vício. A drogadição pode ser dividida em dois tipos: dependência psicológica, na qual o usuário se sente compelido a usar a droga apesar das conseqüências físicas ou sociais, e dependência física, em que o usuário tem de usar a droga para evitar as consequências da síndrome de abstinência.[26] Nem todas as drogas provocam dependência física, mas qualquer atividade que estimula o sistema de recompensa dopaminérgico do cérebro — normalmente qualquer atividade prazerosa[27] — pode levar à dependência psicológica.[26] As drogas que mais comumente causam dependência são as que estimulam diretamente o sistema dopaminérgico, como a cocaína e as anfetaminas. As drogas que agem indiretamente nesse sistema, como psicodélicos, necessariamente não causam dependência.

Muitos profissionais, grupos de ajuda, estabelecimentos especializados em reabilitação de drogas e pais tentam influenciar as decisões e ações de seus filhos quanto aos psicoativos, com variáveis graus de sucesso.[28]

São métodos comuns de reabilitação a psicoterapia, grupos de apoio para autoajuda, e também a farmacoterapia, que usa drogas psicoativas para reduzir a compulsão e a síndrome de abstinência enquanto a desintoxicação se processa. A metadona, um opioide psicoativo, é um tratamento corriqueiro para a dependência em heroína. Pesquisas recentes em toxicomania têm mostrado que o uso de drogas psicodélicas como a ibogaína pode tratar e até mesmo curar drogadições, embora a prática ainda esteja longe de se tornar universalmente aceita.[29][30]

Legalização

Muito se tem debatido acerca da legalização das drogas psicoativas em nossa história recente. As guerras do Ópio e a lei Seca estadunidense são dois exemplos históricos sobre a controvérsia legal acerca dessas substâncias. Contudo, mais recentemente, o documento mais influente concernente à legalidade de drogas psicoativas é o da Convenção Única sobre Entorpecentes, um tratado internacional assinado em 1961 como um decreto das Nações Unidas. Assinado por 73 países, a Convenção Única sobre Entorpecentes estabeleceu agendas para a regulamentação de cada droga e dispôs um acordo internacional contra a dependência de drogas recreacionais combatendo a venda, o tráfico e o uso das referidas drogas.[31] Todos os países signatários firmaram leis que implementassem as regras dentro de suas fronteiras. Contudo, alguns desses países, como Países Baixos, são mais complacentes quanto à aplicação dessas leis.[32]

No contexto sanitário, drogas psicoativas usadas como tratamentos para doenças são geral e amplamente aceitas. Há alguma controvérsia quanto os medicamentos de venda livre como alguns antieméticos e antitussígenos. Geralmente, as drogas psicoativas são prescritas para pacientes com problemas psiquiátricos. Contudo, há quem critique dizendo que prescrições de certos psicoativos, como antidepressivos e estimulantes, são exageradas e podem comprometer a autonomia e o discernimento dos pacientes.[33][34]

Ver também

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 412.
  3. MERLIN, M D (2003). «Archaeological Evidence for the Tradition of Psychoactive Plant Use in the Old World». Economic Botany. 57 (3). pp. 295–323. doi:10.1663/0013-0001(2003)057 
  4. SIEGEL, Ronald K. (2005). Intoxication: The Universal Drive for Mind-Altering Substances (em inglês). Rochester, Vermont: Park Street Press. ISBN 1-59477-069-7 
  5. WEIL, Andrew (2004). The Natural Mind: A Revolutionary Approach to the Drug Problem (Revised edition) (em ingles). Boston: Houghton Mifflin. 15 páginas. ISBN 0-618-46513-8 
  6. MATSUMOTO, K L. ROSANELI, C F. BIANCARDI, C R. (2008). «A Cultura Gastronômica do Café e Sua Influência Social e Emocional no Dia-a-dia do Brasileiro». SaBios: Rev. Saúde e Biol. 3 (1). pp. 10–15 
  7. Medline Plus. Anesthesia. Acesso em 25 de abril de 2009.
  8. LI, X. PEARCE, R A. (2000). «Effects of halothane on GABA(A) receptor kinetics: evidence for slowed agonist unbinding». J. Neurosci. 20 (3). pp. 899–907. PMID 10648694 
  9. HARRISON N. SIMMONDS M. (1985). «Quantitative studies on some antagonists of N-methyl D-aspartate in slices of rat cerebral cortex». Br J Pharmacol. 84 (2). pp. 381–91. PMID 2858237 
  10. QUIDING H, LUNDQVIST G, BORÉUS L O, BONDESSON U, OHRVIK J (1993). «Analgesic effect and plasma concentrations of codeine and morphine after two dose levels of codeine following oral surgery». Eur. J. Clin. Pharmacol. 44 (4). pp. 319–23. PMID 8513842. doi:10.1007/BF00316466 
  11. SCHATZBERG, A F (2000). «New indications for antidepressants». Journal of Clinical Psychiatry. 61 (11). pp. 9–17. PMID 10926050 
  12. ANDERSON T L (1998). «Drug identity change processes, race, and gender. III. Macrolevel opportunity concepts». Substance use & misuse. 33 (14). pp. 2721–35. PMID 9869440. doi:10.3109/10826089809059347 
  13. BERTOL E, FINESCHI V, KARCH S, MARI F, RIEZZO I (2004). «Nymphaea cults in ancient Egypt and the New World: a lesson in empirical pharmacology». Journal of the Royal Society of Medicine. 97 (2). pp. 84–5. PMID 14749409. doi:10.1258/jrsm.97.2.84 
  14. HAYRY M (2004). «Prescribing cannabis: freedom, autonomy, and values». Journal of Medical Ethics. 30 (4). pp. 333–6. PMID 15289511. doi:10.1136/jme.2002.001347 
  15. El-SEEDI H R, De SMET P A, BECK O, POSSNERT G, BRUHN J G (2005). «Prehistoric peyote use: alkaloid analysis and radiocarbon dating of archaeological specimens of Lophophora from Texas». Journal of Ethnopharmacology. 101 (1-3). pp. 238–42. PMID 15990261. doi:10.1016/j.jep.2005.04.022 
  16. McKENNA D J, CALLAWAY J C, GROB C S (1998). «The Scientific investigation of ayahuasca: a review of past and current research». The Heffer Review of Psychedelic Research. 1. pp. 65–77 
  17. VETULANI J (2001). «Drug addiction. Part I. Psychoactive substances in the past and presence». Polish journal of pharmacology. 53 (3). pp. 201–14. PMID 11785921 
  18. HALL, Andy. Entheogens and the Origins of Religion. Retrieved on May 13, 2007.
  19. BECKER H S (1967). «History, culture and subjective experience: an exploration of the social bases of drug-induced experiences». Journal of health and social behavior. 8 (3). pp. 163–76. PMID 6073200. doi:10.2307/2948371 
  20. FACUNDES, J A (2006). «Constituição, ayahuasca e o CONAD: um novo caminho» (HTML). Página 20 On-line. Consultado em 25 de abril de 2009 
  21. United States Food and Drug Administration. CDER Data Standards Manual. Acessado em 26 de abril de 2009.
  22. SELIGMAN, Martin E P (1984). Abnormal Psychology. Nova York: W. W. Norton & Company. ISBN 039394459X 
  23. «University of Texas, Addiction Science Research and Education Center». Consultado em 26 de abril de 2009. Arquivado do original em 22 de agosto de 2011 
  24. LÜSCHER C, UGLESS M (2006). «The mechanistic classification of addictive drugs». PLoS Med. 3 (11). 437 páginas. PMID 17105338. doi:10.1371/journal.pmed.0030437 
  25. FORD, Marsha. Clinical Toxicology. Filadélfia: Saunders, 2001. Capítulo 36 - Caffeine and Related Nonprescription Sympathomimetics. ISBN 0721654851
  26. a b JOHNSON, Brian (2003). «Psychological addiction, physical addiction, addictive character, and addictive personality disorder: a nosology of addictive disorders». Canadian journal of psychoanalysis. 11. pp. 135–60 
  27. ZHANG J, XU M (2001). «Toward a molecular understanding of psychostimulant actions using genetically engineered dopamine receptor knockout mice as model systems». J Addict Dis. 20 (3). pp. 7–18. PMID 11681595. doi:10.1300/J069v20n04_02 
  28. HOPS H, TILDESLEY E, LICHTENSTEIN E, ARY D, SHERMAN L (1990). «Parent-adolescent problem-solving interactions and drug use». The American journal of drug and alcohol abuse. 16 (3-4). pp. 239–58. PMID 2288323. doi:10.3109/00952999009001586 
  29. «Psychedelics Could Treat Addiction Says Vancouver Official». Consultado em 27 de abril de 2009 
  30. «Ibogaine research to treat alcohol and drug addiction». Consultado em 27 de abril de 2009 
  31. Convenção Única sobre Entorpecentes.[ligação inativa] Acessado em 27 de abril de 2009.
  32. McCOUN R, REUTER P (1997). «Interpreting Dutch cannabis policy: reasoning by analogy in the legalization debate». Science. 278 (5335). pp. 47–52. PMID 9311925. doi:10.1126/science.278.5335.47 
  33. DWORKIN, Ronald. Artificial Happiness. New York: Carroll & Graf, 2006. pp. 2–6. ISBN 0786719338
  34. MANNINEN B A (2006). «Medicating the mind: a Kantian analysis of overprescribing psychoactive drugs». Journal of medical ethics. 32 (2). pp. 100–5. PMID 16446415. doi:10.1136/jme.2005.013540 

Ligações externas

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