Menonitas
Tipo | Movimento cristão |
Fundação | Século XVI |
Filiação | Anabatista |
Fundadores | Menno Simons |
Os menonitas (ou mennonitas) são um movimento do cristianismo evangélico que descende diretamente do movimento anabatista que surgiu na Europa no século XVI, na mesma época da Reforma Protestante. Tem o seu nome derivado do teólogo frísio Menno Simons (1496-1561), que através dos seus escritos articulou e formalizou os ensinos dos anabatistas suíços.
História
[editar | editar código-fonte]Em 1523, Ulrich Zwingli, um ex-padre católico, começou a reformar a igreja na cidade suíça de Zurique. Um grupo de seus discípulos, liderados por Conrad Grebel, Felix Manz e Georg Blaurock logo rejeitou Zwingli que usava a Câmara Municipal para fazer a reforma. O grupo começou a estudar a Bíblia, e não encontrou qualquer justificação para a "igreja do estado", mas acreditavam que os cristãos eram uma comunidade de crentes que livremente escolheram seguir a Cristo, e seu testemunho público de sua fé seria através do batismo adulto. Isto significava declarar inválido o batismo das crianças. Em 21 de janeiro de 1525, em Zollikon, um subúrbio de Zurique, o grupo decidiu batizar um ao outro. Batismo de adultos como uma parte essencial da sua fé, quase que imediatamente começou a chamar os "anabatistas" (rebatizadores), mas o grupo preferiu o nome de irmãos suíços.[1][2]
O movimento se espalhou rapidamente por toda a Europa, especialmente nos territórios do Sacro Império Romano-Germânico. A situação piorou para os anabatistas, quando entre 1532 e 1555, um sistema desenvolveu-se que ordenava que cada subdivisão política do império deveria adotar a religião do governante. Se o líder fosse um católico, assim deviam ser seus súditos. Se o governante era luterano, seus súditos tinham que praticar a religião luterana, que conflitava diretamente com a concepção dos irmãos, que acreditavam em uma comunidade de crentes que escolhem livremente a sua fé sem a interferência da autoridade civil em matéria de fé. Em 1529, embora os principais defensores da Reforma divulgassem no seu famoso protesto (daí o nome "protestante") rejeitar qualquer coisa "contrária a Deus ou a Sua Santa Palavra", concordaram com os católicos em perseguir os anabatistas.
Assim, foi promulgada a lei imperial de 23 de abril de 1529 ordenando "tirar a vida de todo rebatizado ou rebatizador, homem ou mulher, maior ou menor, e executar de acordo com a natureza do caso e da pessoa, por fogo, por espada ou por outros meios sempre que um homem seja encontrado".[3] A repressão piorou após a rebelião dos anabatistas em Münster e extremistas, sob o pretexto de esmagar a revolta encenada por eles e suas ideias subversivas, multiplicando as execuções dos Irmãos, embora eles sempre foram pacifistas e rejeitassem as ideias e práticas münsteristas.[4]
O testemunho pessoal e a perseguição religiosa levaram os anabatistas e a nova doutrina a diferentes países da Europa, surgindo inúmeras igrejas inicialmente na Suíça, Prússia (atual Alemanha), Áustria e Países Baixos.[5][4]
O principal ponto de discórdia entre os menonitas e seus perseguidores era o batismo infantil. Os menonitas acreditam que a igreja deve ser formada a partir de membros batizados voluntariamente. Isso não era tolerado pela maioria dos Estados, nem pela igreja católica nem pela igreja protestante oficial da época.[1][3]
Os menonitas tiveram durante a sua história diversos pontos de discórdia entre si, o que sempre acabou levando a divisões e novas denominações entre eles, como por exemplo os Amish.[5]
Durante o século XVI, os menonitas e outros anabatistas foram duramente perseguidos, torturados e martirizados.[1] Por isso muitos deles emigraram para os Estados Unidos, onde ainda hoje vive a maior parte dos menonitas. Eles estão entre os primeiros alemães a imigrarem para os Estados Unidos. Esta migração começou em 1683 e continuou ao longo dos séculos XVIII e XIX.
Outros se isolaram em colônias e povoamentos fechados dentro de Estados onde eram tolerados.
Em 1788, a convite de Catarina, a Grande, imperatriz da Rússia, agricultores menonitas da Prússia (atualmente Alemanha e Polónia) emigraram para Chortitza (em 1789) e Molotschna (em 1804) no sul da Rússia (atualmente Ucrânia). Com o passar do tempo, por escassez de terra e outros motivos, surgiram muitas outras colonizações menonitas que lutaram pelo seu bem-estar espiritual, cultural e material em diversas regiões da Rússia Europeia e asiática.[5]
Através de intensa migração e também de evangelismo os menonitas se espalharam por todos os continentes do globo, sendo que a maior comunidade menonita se encontra atualmente na África (Etiópia e a República Democrática do Congo).[6]Há colônias menonitas significativas também no Paraguai e no México.[5]
A Conferência Mundial Menonita foi fundada na primeira conferência internacional em Basel, Suíça, em 1925 para comemorar 400 anos do anabatismo. [7]
Menonitas no Brasil
[editar | editar código-fonte]Em 1929 os menonitas conseguiram vistos para o Brasil que aceitou recebê-los. Em 1930, imigrantes alemães menonitas se estabeleceram no município de Witmarsum, em Santa Catarina. Em 1931, um pequeno grupo se estabeleceu em Curitiba.[8] Em 1951 os menonitas de Santa Catarina mudaram-se para o município de Palmeira, no Paraná, e fundaram a Colônia Witmarsum. Um grupo de menonitas dos Estados Unidos da América, também se estabeleceu no município de Rio Verde.
Estatísticas
[editar | editar código-fonte]De acordo com um censo de 2022 da Conferência Mundial Menonita, ela tem 109 denominações membros em 59 países e 1,47 milhão de membros batizados em 10.300 igrejas. [9]
Crenças
[editar | editar código-fonte]As crenças do movimento são as da Igreja de crentes. [10] A Confissão de Schleitheim, publicada em 1527 pelos irmãos suíços, um grupo de anabatistas, incluindo Michael Sattler, em Schleitheim é uma publicação que difundir esta doutrina. [11] [12] Nesta confissão, o batismo do crente depois de uma profissão de fé é colocado como um fundamento teológico essencial. [13]
A Confissão de Fé de Dordrecht foi adotada em 21 de abril de 1632 por menonitas holandeses, por menonitas alsacienses em 1660 e por menonitas norte-americanos em 1725. Não existe um credo oficial ou um catecismo cuja aceitação é requerida por congregações ou membros. Há porém estruturas e tradições ensinadas como Confissão de Fé de uma Perspectiva Menonita.[14]
Uma minoria fundamentalista também rejeita o progresso tecnológico e a modernidade. [15]
A maioria das denominações menonitas mantém uma posição conservadora sobre a homossexualidade. [16]
O Conselho Brethren Menonita para Interesses LGBT foi fundado em 1976 nos EUA e tem igrejas membros de diferentes denominações nos EUA e Canadá. [16]
A Igreja Menonita do Canadá deixa a escolha para cada igreja para casamento entre pessoas do mesmo sexo. [17]
A Igreja Menonita na Holanda e a Igreja Menonita dos EUA permitem o casamento entre pessoas do mesmo sexo. [18] [19]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c Estep, William R. (1963) Revolucionarios del siglo XVI. Historia de los Anabautistas. Casa Bautista de Publicaciones. 1975.
- ↑ Williams, George H. (1983) La reforma radical: 145-232. México: Fondo de Cultura Económica. ISBN 968-16-1332-5
- ↑ a b Van Braght, Thieleman 1660: Martyrs Mirror. Herald Press. Scottdale PA; Waterloo, Ontario. ISBN 0-8361-1390-X
- ↑ a b Bender, Harold S. y John Horsh. 1979: Menno Simons, su vida y sus escritos. Traducido al castellano por Carmen Palomeque. Herald Press. Scottdale, Pensylvania; Kitchener, Ontario. ISBN 0-8361-1218-0
- ↑ a b c d Suárez Vilela, Ernesto. 1967: Breve Historia de los Menonitas. Methopress, Buenos Aires.
- ↑ Donald B. Kraybill, Concise Encyclopedia of Amish, Brethren, Hutterites, and Mennonites, JHU Press, USA, 2010, p. 3
- ↑ J. Gordon Melton, Martin Baumann, Religions of the World: A Comprehensive Encyclopedia of Beliefs and Practices, ABC-CLIO, USA, 2010, p. 1859
- ↑ «Menonitas: há mais de 80 anos no Brasil». Igreja Evangélica Menonita Água Verde. Consultado em 26 de junho de 2014
- ↑ Mennonite World Conference, Sobre el CMM, mwc-cmm.org, Canada, acessado em 5 de novembro de 2022
- ↑ Donald B. Kraybill, Concise Encyclopedia of Amish, Brethren, Hutterites, and Mennonites, JHU Press, USA, 2010, p. 25
- ↑ J. Philip Wogaman, Douglas M. Strong, Readings in Christian Ethics: A Historical Sourcebook, Westminster John Knox Press, USA, 1996, p. 141
- ↑ Donald F. Durnbaugh, The Believers' Church: The History and Character of Radical Protestantism, Wipf and Stock Publishers, USA, 2003, p. 65, 73
- ↑ William H. Brackney, Historical Dictionary of the Baptists, Scarecrow Press, USA, 2009, p. 21
- ↑ «Confession of Faith in a Mennonite Perspective, 1995». 29 de maio de 2007. Consultado em 29 de julho de 2017
- ↑ George Thomas Kurian, Mark A. Lamport, Encyclopedia of Christianity in the United States, Volume 5, Rowman & Littlefield, USA, 2016, p. 1674-1675
- ↑ a b Donald B. Kraybill, Concise Encyclopedia of Amish, Brethren, Hutterites, and Mennonites, JHU Press, USA, 2010, p. 108
- ↑ Dan Dyck et Dick Benner, Delegates vote to allow space for differences, canadianmennonite.org, Canada, 20 de julho de 2016
- ↑ Susan M. Shaw, Women and Religion: Global Lives in Focus, ABC-CLIO, USA, 2021, p. 96
- ↑ Paul Schrag, Delegates repeal Membership Guidelines, pass LGBTQ-affirming resolution, anabaptistworld.org, USA, 29 de maio de 2022
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Martínez, Juan F. (1997) História e Teologia da Reforma Anabatista. Campinas: Cristã Unida.
- Siemens, Udo (org.) (2010) Quem somos? 1930-2010 : A Saga Menonita. Curitiba: Editora Esperança. ISBN 978-85-7839-053-2