Piedade (bairro do Rio de Janeiro)
Piedade | |
---|---|
Bairro do Rio de Janeiro | |
Área | 388,71 ha (em 2003) |
Fundação | 23 de julho de 1981[1] |
IDH | 0,850[2](em 2000) |
Habitantes | 43 378 (em 2010)[3] |
Domicílios | 16 274 (em 2010) |
Limites | Quintino Bocaiúva, Cavalcante, Pilares, Tomás Coelho, Abolição, Encantado, Água Santa e Freguesia[4] |
Distrito | Méier |
Subprefeitura | Zona Norte |
Região Administrativa | Méier |
ver |
Piedade é um bairro da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, pertencente à região do Grande Méier.
Seu IDH, no ano 2000, era de 0,850, o 54.º melhor do município do Rio de Janeiro.[2]
História
[editar | editar código-fonte]Nasceu no ponto onde hoje fica a Igreja de Nossa Senhora da Piedade. Do alto, é possível ter uma boa visão de como a região cresceu. Piedade começou a ser ocupada em meados do século XVIII. As terras que hoje formam o bairro situavam-se entre as freguesias de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá e São Tiago de Inhaúma, e consistiam em uma sesmaria doada a Apolinário Pereira Cabral, em 1779. Naquele tempo, a maioria das áreas onde atualmente se localizam os subúrbios do Rio era ocupada por fazendas e engenhos de açúcar e de aguardente, subordinados às velhas paróquias. Nelas havia um intenso comércio desses e de outros produtos, cujo escoamento se dava através dos rios Pavuna e Meriti. Era um lugar muito procurado pelas classes abastadas e viajantes europeus, atraídos pelo seu clima saudável.[1][5]
Nas primeiras décadas do século XVIII, a região da Freguesia de São Tiago de Inhaúma já apresentava aspectos de prosperidade, graças à administração dos padres jesuítas, seus proprietários. No entanto, na segunda metade do mesmo século, o marquês de Pombal, secretário de Estado português, empreendeu uma reforma administrativa e religiosa na colônia, na qual, entre outras medidas, determinava a expulsão dos jesuítas. O objetivo era acabar com conflitos entre colonos e jesuítas em torno da questão da exploração da mão de obra indígena. A falta de escravos negros fazia com que muitos colonos quisessem prender e escravizar populações indígenas. Os jesuítas, por sua vez, se opunham a tal prática, muitas vezes apoiando os índios contra os colonos. Vendo os prejuízos trazidos com essa situação, Pombal expulsou os jesuítas e instituiu o fim da escravidão indígena.[1]
Com isso, grandes latifúndios foram confiscados e, posteriormente, divididos para serem arrematados. O assentamento dos trilhos da Estrada de Ferro Dom Pedro II (depois Central do Brasil) também provocou a divisão das principais propriedades na região.[1]
A ocupação começou ao longo da Estrada Real de Santa Cruz, depois chamada Avenida Suburbana e, atualmente, Avenida Dom Hélder Câmara. Nessa área, desenvolveram-se grandes chácaras pertencentes às famílias Curvelo Cavalcanti e Antônio Botafogo. Mais tarde, essas chácaras foram subdivididas, dando origem às ruas do futuro bairro.[1]
No início do século XX, a região do bairro de Piedade tinha uma característica essencialmente rural, com pequenos sítios e lotes de terra, mas já apresentava um significativo progresso. Prédios foram construídos e a fisionomia urbana começou a substituir as características da antiga sociedade agrária escravista.[1]
Buscando interligar regiões fora do centro urbano da cidade, o então prefeito Pereira Passos criou estradas de ligação entre os bairros de Piedade e Quintino – conhecido como Cupertino –, assim como fez entre Engenho Novo e Méier e entre Méier e Engenho de Dentro. A presença da estação de trem em Piedade reforçou a movimentação de trabalhadores em direção ao subúrbio.[1]
A sociedade do bairro, formada originalmente por colonos portugueses, incorporou ao longo de sua história migrantes de várias regiões do país. Assim, o quadro de moradores abrangia desde grandes proprietários de terras, comerciantes, industriais, funcionários públicos e operários até grupos menos beneficiados economicamente, que viviam de pequenos serviços ou biscates. As residências alternavam-se entre antigos casarões, semelhantes às quintas lusitanas, as modestas casas da maioria da população e os casebres insalubres, erguidos nos morros que circundavam o bairro.[1]
Em 1932 foi criada a Circunscrição da Piedade e, na década de 1960, surgiram as Administrações Regionais. A denominação, a delimitação e a codificação do bairro foram estabelecidas pelo Decreto nº 3.158, de 23 de julho de 1981, com alterações do Decreto nº 5.280, de 23 de agosto de 1985.[1]
Localizado entre Madureira e Méier, o bairro faz divisa com os bairros de Quintino Bocaiúva, Cavalcante, Pilares, Tomás Coelho, Abolição, Encantado, Água Santa e Freguesia.[4]
Com a chegada do trem, vieram o progresso, mais moradores e um problema: o lugar ficou conhecido pelo nome da estação, Gambá. O nome foi dado por dom Pedro II, durante uma viagem. "No momento de expansão ferroviária do Império em direção à Zona Norte do município do Rio, o imperador resolveu fazer uma parada em uma região onde havia vários gambás. Por conta disso, o lugar ficou conhecido como Parada Gambá ou Estação Gambá", explica o historiador André Nunes.[1]
Como o nome Parada Gambá não agradava muita gente, uma moradora do bairro decidiu escrever uma carta para o diretor da Estrada de Ferro Central do Brasil, no fim do século XIX. O texto era o seguinte: "Por piedade, doutor, troque o nome da nossa estaçãozinha". O apelo acabou dando certo. "O diretor respondeu: ‘Minha senhora, será feito. E o nome do bairro será Piedade’. Ela gostou, e o bairro ficou assim", diz o historiador.[1]
Já com novo nome, o bairro ganhou ao longo dos anos quatro elementos marcantes:
- o River Futebol Clube, fundado em 1914, dirigido pelo Ministro Gama Filho e primeiro clube do jogador Zico;
- a igreja gótica do Divino Salvador (localizada na 'R. Divino Salvador', em Piedade) é de 1910 e tem no altar uma pintura em estilo modernista;
- uma importante refinaria de açúcar, de 1927, hoje não funciona mais.
- a primeira Universidade do subúrbio carioca, a Universidade Gama Filho, foi fundada em 1939 pelo Ministro Luiz Gama Filho. A UGF foi fechada em 2014.
- Uma das moradoras ilustres do bairro foi a cantora e compositora Dolores Duran, que viveu no local dos seis aos vinte anos.
Ao lado do Encantado, Piedade foi, em 1905, o primeiro bairro do subúrbio carioca a ter energia elétrica.[1]
Transporte
[editar | editar código-fonte]Trens
[editar | editar código-fonte]A região é cortada pelos ramais Japeri, Santa Cruz e Deodoro da SuperVia. Através da Estação Piedade, é possível pegar trens em Direção à Santa Cruz e Central do Brasil.
Ônibus
[editar | editar código-fonte]A região possuí linhas para diversos bairros da cidade e inclusive para outras cidades da Baixada Fluminense.
São linhas como as:
- 667 - Madureira x Méier
- 383 - Realengo x Praça da República
- 607 - Cascadura x Rio Comprido
- 249 - Piedade x Castelo (BRS 4)
- 238 - Piedade x Castelo (Grajaú/Lapa)
- 239 - Piedade x Castelo (Circular, Carioca/Estácio)
- 363 - Vila Valqueire x Candelária
- 685, SVB685, SVA685 - Irajá x Méier
- 265 - Marechal Hermes x Castelo
- 639 - Jardim América x Saens Peña
- 729L - São Vicente x Méier
- 254 - Madureira x Candelária
- 560L - Duque de Caxias x Méier
- 544L - Nova Iguaçu x Méier
- 669 - Pavuna x Méier
- 946 - Pavuna x Engenho da Rainha
- 624 - Mariópolis x Praça da Bandeira
- 917 - Realengo x Bonsucesso
- 371 - Circular (Centro x Mato Alto
- 638 - Marechal Hermes x Saens Peña
- 692 - Méier x Alvorada
- 277 - Candelária x Rocha Miranda
- 543L - Nova Iguaçu x Méier (Via Engenho de Dentro/Piedade/Norte Shopping)
Tragédia da Piedade
[editar | editar código-fonte]Em toda sua história, o acontecimento mais emblemático certamente foi Tragédia da Piedade, a 15 de agosto de 1909, crime passional que envolveu o escritor Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, assassinado pelo amante de sua esposa, o militar Dilermando de Assis, em sua residência na Estrada Real de Santa Cruz (atual Avenida Dom Hélder Câmara, mas ainda chamada de Suburbana).
Localização
[editar | editar código-fonte]O bairro de Piedade faz parte da região administrativa de Méier. Os bairros integrantes da região administrativa são: Abolição, Água Santa, Cachambi, Encantado, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Jacaré, Lins de Vasconcelos, Méier, Piedade, Pilares, Riachuelo, Rocha, Sampaio, São Francisco Xavier e Todos os Santos.
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l Fernanda Fernandes (17 de fevereiro de 2014). «De Estação Gambá a Piedade». MultiRio - Empresa Municipal de Multimeios da Prefeitura do Rio de Janeiro. Consultado em 21 de junho de 2024
- ↑ a b Tabela 1172 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH), por ordem de IDH, segundo os bairros ou grupo de bairros - 2000
- ↑ Dados
- ↑ a b Bairros do Rio
- ↑ Um Bairro Chamado Piedade, Memória de um Subúrbio Carioca. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. 1991. ISBN 9788585093310