Aspásia: diferenças entre revisões
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| imagem_legenda = [[Herma]] de mármore nos [[Museus Vaticanos]], inscrita com o nome de Aspásia na base. Descoberta em 1777, esta herma |
| imagem_legenda = [[Herma]] de mármore nos [[Museus Vaticanos]], inscrita com o nome de Aspásia na base. Descoberta em 1777, esta herma é uma cópia romana de uma original do século V a.C. Possivelmente copiada de seu túmulo, pode representar a [[estela]] [[Funeral|funerária]] de Aspásia.{{sfn|Henry|1995|p=17}} |
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|nascimento_data =c. {{dni|lang=br|||470 a.C.|si}} |
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'''Aspásia{{sfn|Gonçalves|1947|p=46}}''' ({{lang-grc|'''Ἀσπασία'''}} {{AFI|/as.pa.sí.aː/}}; {{Circa|470}}{{Spaced ndash}}depois de 428 a.C.){{Nota de rodapé|A data de nascimento e morte de Aspásia é incerta. Sua data de nascimento é inferida como c. 470 a.C. com base nas datas de nascimento de seus filhos;{{sfn|Bicknell|1982}} nada se sabe sobre sua vida após seu suposto relacionamento com Lísicles (429–428 a.C.),{{sfn|Henry|1995}} embora a estrutura do diálogo de [[Ésquines Socrático]] implique que ela morreu antes da execução de Sócrates em 399.{{sfn|Taylor|1955|p=41}}. Debra Nails considera um ''terminus'' de após 401/400.{{Sfn|Nails|2002|p=58}}}} foi uma mulher [[Metecos|meteca]] de [[Atenas Antiga]]. Nascida em [[Mileto]], mudou-se para [[Atenas Antiga|Atenas]] e começou um relacionamento com o estadista [[Péricles]], com quem teve um filho chamado [[Péricles (filho de Péricles)|Péricles, o Jovem]]. De acordo com uma narrativa histórica tradicional, ela teria trabalhado como cortesã ([[hetera]]) e foi julgada por ''asebeia'' (impiedade), mas acadêmicos modernos questionam a base factual de qualquer uma dessas alegações, ambas derivadas da comédia antiga. Historiadores recentes tentam desconstruir mal entendidos ou mitos de que ela fora uma prostituta.{{Sfn|Kennedy|2014|p=74}} Ela é a única mulher na Atenas Clássica cujo renome intelectual é conhecido, e mesmo assim era estrangeira.{{Sfn|Blundell|1995|p=133}} |
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'''Aspásia'''<ref>{{citar livro|ultimo=Gonçalves|primeiro=Rebelo|titulo=[[Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa]]|local=Coimbra|editora=Atlântida - Livraria Editora|ano=1947|página=46}}</ref> ou '''Aspasia''' ({{lang-grc|'''Ἀσπασία'''}} {{AFI|/as.pa.sí.aː/}}; [[Circa|ca.]] {{dni|lang=br|||470 a.C.|si}}<ref name="Nails58-59">D. Nails, ''The People of Plato'', 58–59</ref><ref>P. O'Grady, [http://home.vicnet.net.au/~hwaa/artemis4.html Aspasia of Miletus]</ref> – ca. {{morte|lang=br|||-400}}<ref name="Nails58-59" /><ref name="Taylor41">A.E. Taylor, ''Plato: The Man and his Work'', 41</ref>) foi uma [[Filosofia|pensadora]] [[Grécia Antiga|grega]] nascida na cidade de [[Mileto]], na [[Ásia Menor]].<ref>[http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Aspasia0.html Aspásia, a cortesã]</ref> Ela era uma [[Metecos|imigrante]] influente da [[Atenas Antiga|Atenas da Era Clássica,]] foi amante e parceira do estadista [[Péricles]]. O casal teve um filho, [[Péricles (filho de Péricles)|Péricles, o Jovem]], mas os detalhes completos do estado civil do casal são desconhecidos. Segundo [[Plutarco]], sua casa se tornou um centro intelectual em Atenas, atraindo os escritores e pensadores mais importantes, incluindo o filósofo [[Sócrates]]. Há também sugestões em fontes antigas de que os ensinamentos de Aspásia influenciaram Sócrates. Aspásia é mencionada nos escritos de [[Platão]], [[Aristófanes]], [[Xenofonte]], [[Antístenes]], [[Ésquines Socrático]] e outros. |
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Embora |
Embora Aspásia seja uma das mulheres mais atestadas do [[mundo greco-romano]] e a mulher mais importante da história da Atenas do século V, quase nada é certo sobre sua vida. Seu papel na história fornece ''insights'' cruciais para a compreensão das mulheres da Grécia antiga, das quais muito pouco se sabe em seu período. Madeleine M. Henry afirmou que "fazer perguntas sobre a vida de Aspásia é fazer perguntas sobre metade da humanidade".{{Sfn|Henry|1995|p=9}} |
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Aspásia é mencionada nos escritos de [[Platão]], [[Aristófanes]], [[Xenofonte]], [[Antístenes]], [[Ésquines Socrático]] e outros. Foi retratada na Comédia Antiga como prostituta e madame, e na filosofia antiga como professora e retórica. A partir de sua representação em obras por discípulos socráticos, e por ser referida no diálogo platônico ''[[Menexêno]]'' como tendo sido orientadora de [[Sócrates]], de Péricles e outros na arte da oratória, ela foi considerada na tradição clássica posterior como uma contraparte feminina de Sócrates. |
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==Biografia== |
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Aspásia continuou a ser assunto de artistas visuais e literários até o presente. Ela aparece em várias obras importantes da literatura moderna. Sua ligação romântica com Péricles inspirou alguns dos [[romancista]]s e [[Poesia|poetas]] mais famosos dos últimos séculos. Em particular, diversos escritores [[Romantismo|românticos]] do século XIX e romancistas históricos do século XX encontraram em sua história uma fonte inesgotável de inspiração. A partir do século XX, entre mulheres, teóricos de estudos de gênero e na literatura e artes, ela foi retratada como uma mulher sexualizada e sexualmente liberada, e como um modelo feminista lutando pelos direitos das mulheres na Atenas Antiga. |
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=== Visão geral === |
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Amante de [[Péricles]], com quem teve um filho. Pelas leis [[Atenas|atenienses]], Péricles não podia casar-se novamente após a separação de sua primeira esposa, com quem conviveu por dez anos. |
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== Evidências sobre Aspásia == |
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Aspásia é citada na ''[[Suda]]'', uma [[enciclopédia]] bizantina do século X, por dispor de "habilidades e inteligência em relação às palavras", uma [[sofista]], e de ter ensinado retórica.<ref>Suda, artigo sobre Aspasia</ref> Considera-se por isso que influenciou Péricles em suas retóricas públicas,<ref name="ReferenceA">C. Glenn, Remapping Rhetorical Territory, 180–199</ref> sendo a responsável pela famosa oração fúnebre registrada na ''História da Guerra do Peloponeso'' (431-404 a.C.), de Tucídides.<ref name=":0">{{Citar periódico |url=https://www.bbc.com/portuguese/geral-57255352 |titulo=O enigma de Aspásia, a mulher mais famosa da época de ouro da Grécia, e que conquistou Péricles e Sócrates |acessodata=2022-03-27 |jornal=BBC News Brasil |lingua=pt-BR}}</ref> Outros acadêmicos acreditam que Aspásia inaugurou uma escola para jovens mulheres de boas famílias e que teria sido responsável pela invenção do [[método socrático]].<ref name="ReferenceA" /><ref>Jarratt-Onq, Aspasia: Rhetoric, Gender, and Colonial Ideology, 9–24</ref> |
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{{Sócrates}} |
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Aspásia foi uma figura importante—e a mulher mais importante—na história da [[Atenas Antiga|Atenas]] do século V,{{Sfn|Henry|1995|p=3}} e é uma das mulheres do mundo greco-romano com as tradições biográficas mais substanciais.{{Sfn|Henry|1995|p=6}} As primeiras fontes literárias a mencionar Aspásia, escritas durante sua vida, são da comédia ateniense,{{Sfn|Henry|1995|p=6}} e no século IV a.C ela aparece em [[Diálogo socrático|diálogos socráticos]].{{Sfn|Henry|1995|p=29}} Após o século IV, ela aparece apenas em breves menções a textos completos, ou em fragmentos cujo contexto íntegro se perdeu,{{Sfn|Henry|1995|p=57}} até o século II d.C., quando [[Plutarco]] escreveu sua ''Vida de Péricles'', o mais longo e completo tratamento biográfico de Aspásia na Antiguidade.{{Sfn|Henry|1995|p=9}} As biografias modernas de Aspásia dependem de Plutarco,{{Sfn|Henry|1995|p=68}} apesar de ele ter escrito quase sete séculos após a morte dela.{{Sfn|Henry|1995|p=9}} |
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{{Quote|"Devemos nos contentar com as fontes que a mencionam, mesmo quando elas distorcem fundamentalmente a realidade."|fonte=—Nicole Loraux, ''Aspasia, Foreigner, Intellectual''.{{sfn|Loraux|2021|p=14}}}} |
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Ao lado de [[Diotima de Mantineia]], Aspásia é referida por [[Sócrates]] como uma das mais importantes personalidades a orientá-lo em seu desenvolvimento intelectual e filosófico, sobretudo na arte da [[retórica]].<ref>Plato, Menexenus, 236a</ref> |
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O problema principal permanece, como destaca [[Jona Lendering]], de que nada sabemos com certeza sobre Aspásia além de que era amante de Péricles, o resto se baseando em hipóteses.{{Sfn|Lendering|2005}} [[Tucídides]] não a menciona; nossas únicas fontes são as representações e especulações não confiáveis registradas pelos homens na literatura e na filosofia.{{Sfn|Wallace|1996}}{{Sfn|Rothwell|1990|p=22}} Portanto, na figura de Aspásia, temos uma série de retratos contraditórios; ela aparece considerada como desde uma boa esposa como [[Teano (filósofa)|Teano]], até a alguma combinação de cortesã e prostituta como Targélia.{{Sfn|Taylor|2003|p=187}} Esta é a razão pela qual os estudiosos modernos expressam seu ceticismo sobre a historicidade da vida de Aspásia.{{Sfn|Wallace|1996}} |
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Muito influente no círculo filosófico e político de Atenas, promovia reuniões literárias em sua casa e participava do debate político da época. Pela crença de que teve grande influência sobre o marido, foi acusada de ter sido responsável pela [[Revolta de Samos]] (440 a. C.) contra [[Atenas]] e pela [[Guerra do Peloponeso]] (431-404 a. C.).<ref>{{citar web | url=http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Aspasia0.html | título=Ufcg, Biografias, Aspasia }}</ref> |
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É difícil tirar conclusões firmes sobre a verdadeira Aspásia a partir de qualquer uma dessas fontes: como diz Robert Wallace, "para nós, a própria Aspásia possui e pode possuir quase nenhuma realidade histórica".{{Sfn|Wallace|1996}} Portanto, Madeleine M. Henry sustenta que "as anedotas biográficas que surgiram na antiguidade sobre Aspásia são extremamente coloridas, quase completamente inverificáveis e ainda estão vivas e bem no século XX". Ela finalmente conclui que "é possível mapear apenas as possibilidades mais simples da vida [de Aspásia]".{{Sfn|Henry|1995|p=121}} De acordo com Charles W. Fornara e Loren J. Samons II, "pode muito bem ser, pelo que sabemos, que a verdadeira Aspásia foi mais do que uma equivalente para sua contraparte fictícia".{{Sfn|Fornara|Samons II|5=1991|p=30}} |
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=== Origem e vida pregressa === |
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Aspásia nasceu na cidade grega [[Jônia|jônica]] de [[Mileto]] (na moderna província de [[Aidim|Aydin]], na Turquia). Pouco se sabe sobre sua família, exceto que o nome de seu pai era Axíoco, embora seja evidente que ela devia pertencer a uma família rica, pois apenas os bem afortunados podiam ter proporcionado a excelente educação que ela recebeu. Seu nome, que significa "a desejada", provavelmente não era o nome de nascimento.<ref>{{Citar livro|título=Encyclopedia of women in the ancient world|ultimo=Salisbury|primeiro=Joyce|data=2001|isbn=1576070921|oclc=758191338}}</ref> Algumas fontes antigas afirmam que ela era uma prisioneira de guerra [[cária]] que se tornou escrava; essas declarações são geralmente consideradas falsas.{{Nota de rodapé|De acordo com [[Debra Nails]], professora de filosofia da [[Universidade do Estado de Michigan]], se Aspásia não fosse uma mulher livre, o decreto de legitimação de seu filho com Péricles e o casamento posterior com Lísicles (Nails pressupõe que Aspásia e Lísicles eram casados) quase certamente seriam impossíveis.<ref name="Nails58-59" />}}<ref name="Lendering">J. Lendering, [http://www.livius.org/as-at/aspasia/aspasia.html Aspasia of Miletus] livius.org</ref> |
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Além de seu nome, nome do pai e local de nascimento, a biografia de Aspásia é quase inteiramente inverificável, e os escritos antigos sobre ela são frequentemente mais uma projeção de seus próprios preconceitos (em grande parte masculinos) do que fatos históricos.{{Sfn|Azoulay|2014|pp=104–105}} A biografia completa por Madeleine Henry cobre o que se sabe da vida de Aspásia em apenas nove páginas.{{Sfn|Pomeroy|1996|p=648}} |
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Não se sabe em que circunstâncias ela viajou pela primeira vez a Atenas. A descoberta de uma inscrição tumular do século IV, que menciona os nomes de Axíoco e Aspásios, levou o historiador Peter K. Bicknell a tentar uma reconstrução da história familiar de Aspásia e das conexões atenienses. Sua teoria a liga a Alcibíades II de Escambonide (avô do famoso [[Alcibíades]]), que foi [[Ostracismo|ostracizado]] de Atenas em 460 a. C. e pode ter passado seu exílio em Mileto.<ref name="Nails58-59" /> Bicknell conjetura que, após seu exílio, o velho Alcibíades foi para Mileto, onde se casou com a filha de um certo Axíoco. Alcibíades aparentemente voltou a Atenas com sua nova esposa e sua irmã mais nova, Aspásia. Bicknell argumenta que o primeiro filho deste casamento foi nomeado [[Axíoco (Aquemênida)|Axíoco]] (tio dos famosos Alcibíades) e o segundo Aspásios.<ref name="Bicknell">P.J. Bicknell, ''Axiochus Alkibiadou, Aspasia and Aspasios.''</ref> Ele também sustenta que Péricles conheceu Aspásia através de suas estreitas conexões com a casa de Alcibíades. Enquanto em Atenas, Aspásia também pode ter tido casos com o filósofo [[Anaxágoras]] e o general Jasão de Lira.<ref>Sue Blundell, ''Women in Ancient Greece'', 1995</ref> |
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== Biografia == |
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[[File:AspasiaAlcibiades.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:AspasiaAlcibiades.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Jean-Léon Gérôme]] (1824–1904): ''Socrates buscando Alcibíades na casa de Aspásia'', 1861.]] |
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De acordo com as declarações disputadas dos escritores antigos e de alguns estudiosos modernos, em Atenas, Aspásia tornou-se [[hetera]] e administrou um [[Prostíbulo|bordel]].{{Nota de rodapé|nota=Henry considera uma difamação os relatos de escritores antigos e poetas cômicos de que Aspásia era uma proxeneta e meretriz. Henry argumenta que esses ataques cômicos tentavam ridicularizar o principal cidadão de Atenas, Péricles, e baseavam-se no fato de que, segundo sua própria lei de cidadania, Péricles foi impedido de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado solteiro.<ref name="H138-139">M. Henry, ''Prisoner of History'', 138–139</ref> Por essas razões, a historiadora Nicole Loraux questiona até mesmo o testemunho de escritores antigos de que Aspásia era uma hetaira ou uma cortesã.<ref name="H138-139">M. Henry, ''Prisoner of History'', 138–139</ref> For these reasons historian Nicole Loraux questions even the testimony of ancient writers that Aspasia was a hetaera or a courtesan.<ref name="Loraux">N. Loraux, ''Aspasie, l'étrangère, l'intellectuelle'', 133–164</ref> Fornara and Samons also dismiss the 5th-century tradition that Aspasia was a harlot and managed houses of ill-repute.<ref name="Fornara" />}}<ref name="Ar5232">[[Aristófanes]], ''[[Acarnânios]]'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0240&layout=&loc=523 523–527]</ref><ref name="Just1442">R. Just, ''Women in Athenian Law and Life", 144''</ref> As hetairas eram artistas profissionais de alta classe, bem como [[cortesã]]s. Além de exibir beleza física, diferiam da maioria das mulheres atenienses por serem educadas (geralmente com um alto padrão, como evidentemente Aspásia era), por terem independência e por [[Economia da Grécia antiga|pagarem impostos]].<ref name="Br2">"Aspasia". ''Encyclopædia Britannica''. 2002.</ref><ref name="Southall2">A. Southall, ''The City in Time and Space'', 63</ref> Talvez fossem a coisa mais próxima das mulheres libertas; e Aspásia, que se tornou uma figura vívida na sociedade ateniense, foi provavelmente um exemplo óbvio.<ref name="Br2" /><ref name="Arkins2">B. Arkins, [http://ancienthistory.about.com/gi/dynamic/offsite.htm?zi=1/XJ&sdn=ancienthistory&zu=http%3A%2F%2Fwww.ucd.ie%2Fclassics%2Fclassicsinfo%2F94%2FArkins94.html Sexuality in Fifth-Century Athens]</ref> Segundo [[Plutarco]], Aspásia foi comparada à famosa [[Thargelia (pessoa)|Thargelia]], outra renomada hetera jônica dos tempos antigos.<ref name="Pl242">Plutarco, ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23169;layout=;loc=Per.%2023.1/ XXIV]</ref> |
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=== Primeiros anos === |
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Como uma mulher não ateniense, Aspásia estava menos ligada às restrições tradicionais que confinavam amplamente as esposas atenienses a suas casas e parece ter aproveitado a oportunidade para participar da vida pública da cidade. Ela se tornou a companheira do estadista Péricles por volta de 445 a. C. Depois que ele se divorciou de sua primeira esposa (talvez c. 450 a. C.), Aspásia começou a morar com ele, embora seu estado civil seja contestado.{{Nota de rodapé|nota=Fornara e Samons assumem a posição de que Péricles se casou com Aspásia, mas sua lei de cidadania a declarou uma companheira inválida.<ref name="Fornara" /> Wallace argumenta que, ao se casar com Aspásia, se ele teria se casado com ela, Péricles continuaria uma distinta tradição aristocrática ateniense de se casar com estrangeiros bem conectados.<ref name="Wallace" /> Henry acredita que Péricles foi impedido por sua própria lei de cidadania de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado não casado.<ref name="H138-139" /> Com base em uma passagem cômica, Henry sugere que o ''status'' de Aspásia era o de ''palake'', ou seja, uma [[concubina]] ou esposa solteira de fato.<ref name="H21">M. Henry, ''Prisoner of History'', 21</ref> William Smith sugere que a relação de Aspásia com Péricles era "análoga aos [[casamento morganático|casamentos de mão esquerda]] dos príncipes modernos".<ref>W. Smith, ''A History of Greece'', 261</ref> O historiador [[Arnold W. Gomme]] ressalta que "seus contemporâneos falaram de Péricles como casado com Aspásia".<ref name="Gomme">[[A. W. Gomme]], ''Essays in Greek History & Literature'', 104</ref>}}<ref name="Ostwald310">M. Ostwald, ''Athens as a Cultural Center'', 310</ref> O filho deles, [[Péricles (filho de Péricles)|Péricles]], [[Péricles (filho de Péricles)|o Jovem]], deve ter nascido em 440 a. C. Aspásia teria que ser bem jovem, se ela pudesse ter um filho com Lísicles c. 428 a. C.<ref name="Stadter239">P.A. Stadter, ''A Commentary on Plutarch's Pericles'', [https://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=96911382 239]</ref> |
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Aspásia nasceu, provavelmente não antes de 470 a.C,{{Nota de rodapé|nota=Esta data é derivada das datas de nascimento dos dois filhos de Aspásia: Péricles, o Jovem, entre 452 e 440, e Poristes, em 428 a.C.{{sfn|Bicknell|1982|pp=244–245}} No entanto, alguns acadêmicos duvidam da existência do segundo filho de Aspásia; nesse caso, Aspásia poderia ter nascido algum tempo antes de 470.{{sfn|Wallace|1996}}}}{{Sfn|Bicknell|1982|p=245}} na cidade grega [[Jônia|jônica]] de [[Mileto]]{{Nota de rodapé|nota=[[Ateneu]] cita [[Heráclides do Ponto]] dizendo que Aspásia veio de Mégara; isso aparentemente deriva de um mal-entendido de ''Os Acarnânios'' de [[Aristófanes]].{{sfn|Kennedy|2014|p=75}}}} (na moderna [[Aidim (província)|província de Aydın]], Turquia). Pouco se sabe sobre sua família, exceto que o nome de seu pai era Axíoco, de uma família rica.{{Sfn|Kennedy|2014|p=76}}{{Sfn|Azoulay|2014|p=104}} Seu nome, relacionado ao grego ''aspázomai'' (ἀσπάζομαι, "abraçar"),{{Sfn|Sansone|2020|p=27}} podia significar "a desejada",{{Sfn|Kennedy|2014|p=74}} "a mulher abraçada/abraçadora", "a deleitante",{{Sfn|Prince|2015|p=419}} "acolhida" ou "bajuladora",{{Sfn|Swearingen|1995|p=32}} o que levou a trocadilhos antigos{{Sfn|Prince|2015|p=419}} e desentendimento por alguns historiadores que, levados por tais significados, consideraram esse nome como possivelmente não sendo seu verdadeiro.{{Sfn|Kennedy|2014|p=74}} Era comum, porém, que alguns nomes femininos populares na Grécia possuíssem significados como "amada" e "doçura".{{Sfn|Kennedy|2014|p=74}} |
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Um [[escoliasta]] de [[Élio Aristides]] afirma erroneamente que Aspásia era uma prisioneira de guerra [[cária]] que se tornou uma escrava;{{Sfn|Nails|2000|p=59}} isso talvez se deva à confusão com a concubina de [[Ciro, o Jovem]], também chamada Aspásia.{{Sfn|Henry|1995|p=132|loc=n. 1}} Essas declarações são geralmente consideradas falsas.{{Nota de rodapé|De acordo com Debra Nails, se Aspásia não fosse uma mulher livre, o decreto de legitimação de seu filho com Péricles e o casamento posterior com Lísicles (Nails pressupõe que Aspásia e Lísicles eram casados) quase certamente seriam impossíveis.{{Sfn|Nails|2000|pp=58-59}}}}{{Sfn|Lendering|2005}} |
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Nos círculos sociais, Aspásia era conhecida por sua habilidade como conversadora e conselheira, e não apenas como um objeto de beleza física.<ref name="Just1442" /> Plutarco escreve que, apesar de sua vida imoral, amigos de Sócrates trouxeram suas esposas para ouvi-la conversar.{{Nota de rodapé|nota=De acordo com Kahn, histórias como as visitas de Sócrates a Aspásia, juntamente com as esposas de seus amigos e a conexão de Lísicles com Aspásia, provavelmente não são históricas. Ele acredita que Ésquines era indiferente à historicidade de suas histórias atenienses e que essas histórias deveriam ter sido inventadas em um momento em que a data da morte de Lísicles havia sido esquecida, mas sua ocupação ainda era lembrada.<ref name="Vander96-982" />}}<ref name="Pl242" /><ref name="Adams75-76">H. G. Adams, ''A Cyclopaedia of Female Biography'', 75–76</ref> |
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=== A vida em Atenas === |
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[[File:AspasiaAlcibiades.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:AspasiaAlcibiades.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Jean-Léon Gérôme]] (1824–1904): ''Socrates buscando Alcibíades na casa de Aspásia'', 1861.|240x240px]] |
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Embora fossem influentes, Péricles, Aspásia e seus amigos não estavam imunes a ataque, pois a preeminência na [[Democracia ateniense|Atenas democrática]] não era equivalente ao domínio absoluto.<ref name="For22">Fornara-Samons, ''Athens from Cleisthenes to Pericles'', [http://publishing.cdlib.org/ucpressebooks/view?docId=ft2p30058m&chunk.id=d0e2016&toc.depth=1&toc.id=d0e2016&brand=eschol/ 30]</ref> Seu relacionamento com Péricles e sua subsequente influência política despertaram muitas reações. [[Donald Kagan]], historiador de [[Universidade Yale|Yale]], acredita que Aspásia era particularmente impopular nos anos imediatamente após a [[Guerra Sâmia]].<ref name="Kagan197">D. Kagan, ''The Outbreak of the Peloponnesian War'', 197</ref> Em 440 a. C., [[Samos]] estava em guerra com Mileto por [[Priene]], uma antiga cidade de [[Jônia,]] no sopé de [[Mícale]]. Piores na guerra, os milesianos vieram a Atenas para defender seu caso contra os sâmios.<ref name="Th115">Thucydides, I, [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0200&layout=&loc=1.115.1 115]</ref> Quando os atenienses ordenaram que os dois lados parassem de lutar e submetessem o caso à arbitragem em Atenas, os sâmios recusaram. Em resposta, Péricles aprovou um decreto despachando uma expedição a Samos.<ref name="Pl25">Plutarch, ''Pericles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23170;layout=;loc=Per.%2024.1/ XXV]</ref> A campanha provou ser difícil e os atenienses tiveram que suportar pesadas baixas antes de Samos ser derrotada. Segundo Plutarco, pensava-se que Aspásia, que veio de Mileto, era responsável pela Guerra Sâmia e que Péricles havia decidido contra e atacado Samos para gratificá-la.<ref name="Pl242" />{{Caixa de citação|align=right|width=40%|border=1px|quote="Até agora, o mal não era grave e nós éramos os únicos sofredores. Mas agora alguns jovens bêbados vão a Mégara e levam a cortesã Simaetha; os megarianos, feridos rapidamente, fogem por sua vez com duas prostitutas da casa de Aspásia; e assim por três prostitutas a Grécia é incendiada. Então Péricles, incendiado de ira em sua altura olímpica, soltou o raio, provocou o trovão, perturbou a Grécia e aprovou um decreto, que corria como a canção: Que os megarianos sejam banidos de nossa terra e de nossos mercados e de o mar e do continente."|source=[[comédia grega|Peça cômica]] de [[Aristófanes]], ''[[Os Acarnânios]]'' linhas [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0019.tlg001.perseus-eng1:496-540 523–533]}}Segundo alguns relatos posteriores, antes da erupção da [[Guerra do Peloponeso]] (431 – 404 a. C.), Péricles, alguns de seus associados mais próximos (incluindo o filósofo [[Anaxágoras]] e o escultor [[Fídias]]) e Aspásia enfrentaram uma série de ataques pessoais e legais. Aspásia, em particular, foi acusada na comédia de corromper as mulheres de Atenas, a fim de satisfazer as perversões de Péricles.{{Nota de rodapé|nota=Kagan estima que, se o julgamento de Aspásia aconteceu, "temos melhores razões para acreditar que aconteceu em 438 do que em qualquer outro momento".<ref name="Kagan197" />}} De acordo com Plutarco, ela foi julgada por impiedade, com o poeta cômico [[Hermipo]] como promotor.{{Nota de rodapé|nota=De acordo com James F. McGlew, professor da [[Universidade Estadual de Iowa]], não é muito provável que a acusação contra Aspásia tenha sido feita por Hermipo. Ele acredita que "Plutarco ou suas fontes confundiram os tribunais e o teatro".<ref name="Glew53">J.F. McGlew, ''Citizens on Stage'', 53</ref>}}<ref name="Pl32">Plutarco, ''Péricles'', [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0007.tlg012.perseus-eng1:32 XXXII]</ref> A natureza histórica dos relatos sobre esses eventos é contestada; é improvável que uma mulher não ateniense possa estar sujeita a acusações legais desse tipo (embora seu protetor ou ''kurios'', neste caso Péricles, possam estar), e nenhum dano lhe ocorreu como resultado.<ref>{{Citar periódico|titulo=Athenian impiety trials: a reappraisal|url=http://riviste.unimi.it/index.php/Dike/article/view/4290|jornal=Dike|doi=10.13130/1128-8221/4290|pmid=}}</ref> |
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As circunstâncias da mudança de Aspásia para Atenas são desconhecidas.{{Sfn|Nails|2000|p=59}} Uma teoria, apresentada pela primeira vez por Peter Bicknell com base em uma inscrição no túmulo do século IV, sugere que Alcibíades de Escambônidas, o avô do famoso [[Alcibíades]], casou-se com a irmã de Aspásia enquanto ele estava exilado em Mileto após seu [[ostracismo]], e Aspásia foi com ele quando voltou para Atenas.{{Sfn|Nails|2000|p=59}} Bicknell especula que isso foi motivado pela morte do pai de Aspásia, Axíoco, na revolta em Mileto após sua secessão da [[Liga de Delos]] em 455–454 a.C.{{Sfn|Bicknell|1982|p=247}} |
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Em ''[[Os Acarnânios]]'', [[Aristófanes]] responsabiliza Aspásia pela Guerra de Peloponeso. Ele alega que o [[decreto megariano]] de Péricles, que excluía [[Mégara]] do comércio com Atenas ou seus aliados, era uma retaliação por prostitutas sequestradas da casa de Aspásia por megarianos.<ref name="Ar5232" /> O retrato de Aristófanes de Aspásia como responsável, por motivos pessoais, pelo início da guerra com [[Esparta]] pode refletir a memória do episódio anterior envolvendo Mileto e Samos.<ref name="Powel261">A. Powell, ''The Greek World'', 259–261</ref> Plutarco relata também os comentários provocadores de outros poetas cômicos, como [[Eupólide]] e [[Crátinos de Atenas|Crátinos]].<ref name="Pl242" /> Segundo Podlecki, [[Douris (tirano)|Douris]] parece ter proposto a visão de que Aspásia instigou ambas as Guerras Sâmia e Peloponesa.<ref name="Podlecki126">A.J. Podlecki, ''Pericles and his Circle'', 126</ref> |
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De acordo com um entendimento convencional inicial da vida de Aspásia, baseado em declarações disputadas dos escritores antigos e de alguns estudiosos modernos, ela teria se tornado [[hetera]] e depois dirigiu um [[Prostíbulo|bordel]].{{Nota de rodapé|nota=Henry considera uma difamação os relatos de escritores antigos e poetas cômicos de que Aspásia era uma proxeneta e meretriz. Henry argumenta que esses ataques cômicos tentavam ridicularizar o principal cidadão de Atenas, Péricles, e baseavam-se no fato de que, segundo sua própria lei de cidadania, Péricles foi impedido de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado solteiro.{{sfn|Henry|1995|pp=138-139}} Por essas razões, a historiadora Nicole Loraux questiona até mesmo o testemunho de escritores antigos de que Aspásia era uma hetaira ou uma cortesã.{{sfn|Loraux|2001|pp=17-42}} Fornara e Samons também descartam a tradição do século V de que Aspásia era uma prostituta e administrava casas de má reputação.{{sfn|Fornara|Samons II|1991|p=164}}}}<ref name="Ar5232">[[Aristófanes]], ''[[Acarnânios]]'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0240&layout=&loc=523 523–527]</ref>{{Sfn|Just|1989|p=144}} As hetairas eram artistas profissionais de alta classe, bem como [[cortesã]]s. Além de exibir beleza física, diferiam da maioria das mulheres atenienses por serem educadas (geralmente com um alto padrão, como evidentemente Aspásia era), por terem independência e por pagarem impostos.{{Sfn|Encyclopædia Britannica|2002}}{{Sfn|Southall|1998|p=63}} Segundo [[Plutarco]], Aspásia era comparada à famosa Targélia, outra renomada hetera jônica dos tempos antigos.<ref name="Pl242">[[Plutarco]], ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23169;layout=;loc=Per.%2023.1/ XXIV]</ref>[[Ficheiro:Pericles Pio-Clementino Inv269 n2.jpg|miniaturadaimagem|Busto de Péricles, [[Museu Antigo]], [[Berlim]]|364x364px]] |
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Aspásia foi rotulada como "Nova [[Ônfale]]", "[[Dejanira]]",{{Nota de rodapé|nota=Ônfale e Dejanira foram, respectivamente, a rainha de Lídia que possuiu Héracles como escravo por um ano e sua esposa sofredora. [[Teatro na Grécia Antiga|Dramaturgos atenienses]] interessaram-se por Ônfale a partir de meados do século V. Os comediantes parodiaram Péricles por se parecer com um Héracles sob o controle de uma Aspásia semelhante a Ônfale.<ref name="Stadter240">P.A. Stadter, '' A Commentary on Plutarch's Pericles'', [https://www.questia.com/PM.qst?a=o&d=96911382 240]</ref> Aspasia was called "Omphale" in the ''Kheirones'' of Cratinus or the ''Philoi'' of Eupolis.<ref name="Powel261" />}} "[[Hera]]"{{Nota de rodapé|nota=Como esposa do Péricles "Olímpio".<ref name="Stadter240" /> Escritores gregos antigos chamam Péricles de "Olímpico", porque ele estava "trovejando e relampeando e emocionando a Grécia" e carregando as armas de Zeus quando dando orações.<ref name="ArDi">Aristófanes, ''Acharnians'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0240;query=card%3D%2326;layout=;loc=541/ 528–531] e Diodoro, XII, [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0060.tlg001.perseus-eng1:12.40.6 40]</ref>}} e "[[Helena (mitologia)|Helena]]".{{Nota de rodapé|nota=Crátinos (em '' Dionysalexandros ''<nowiki>) assimila Péricles e Aspásia às figuras "fora da lei" de Páris e Helena; Assim como Páris causou uma guerra com o espartano [Menelau]] por seu desejo por Helena, Péricles, influenciado pela estrangeira Aspásia, envolveu Atenas em uma guerra com Esparta.</nowiki><ref name="Padilla">M. Padilla, [http://facstaff.unca.edu/drohner/awomlinks/artherktrach1.htm#_ednref17 "Labor's Love Lost: Ponos and Eros in the Trachiniae"] paper presented at the 95th Annual Meeting of the Classical Association of the Middle West and South, Cleveland, Ohio, April 14–17, 1999 {{webarchive |url=https://web.archive.org/web/20120310105601/http://facstaff.unca.edu/drohner/awomlinks/artherktrach1.htm#_ednref17 |date=March 10, 2012 }}</ref> Eupólide também chamou Aspásia de Helena no ''Prospaltoi''.<ref name="Stadter240" />}}<ref name="Fornara">Fornara-Samons, ''Athens from Cleisthenes to Pericles'', [http://content.cdlib.org/xtf/view?docId=ft2p30058m&chunk.id=d0e9775&toc.depth=1&toc.id=&brand=eschol/ 162–166]</ref> Mais ataques à relação de Péricles com Aspásia são relatados por [[Ateneu]].<ref name="Deipn533">Athenaeus, ''Deipnosophistae'', 533c–d</ref> Até o próprio filho de Péricles, Xantipo, que tinha ambições políticas, criticou prontamente o pai sobre seus assuntos domésticos.<ref name="Pl26">Plutarco, ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182&layout=&loc=Per.+31.1 XXXVI]</ref> |
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Alguns acadêmicos questionaram essa visão. Peter Bicknell observou que os "epítetos pejorativos aplicados a ela por dramaturgos cômicos" não são confiáveis.{{Sfn|Bicknell|1982|p=245}} Madeleine Henry, por sua vez, argumentou em sua biografia de Aspásia que "não somos obrigados a acreditar que Aspásia era uma prostituta porque um poeta cômico diz que ela era", e que o retrato de Aspásia como envolvido no comércio sexual deveria "ser considerado com grande suspeita".{{Sfn|Henry|1995|pp=138–139|loc=n. 9}} Cheryl Glenn afirmou que Aspásia, na verdade, abriu uma academia para mulheres que se tornou "um salão popular para os homens mais influentes da época", incluindo [[Sócrates]], [[Platão]] e [[Péricles]],{{Sfn|Glenn|1994|p=184}} e Rebecca Futo Kennedy sugeriu que as acusações em comédia de que ela era uma dona de bordel derivavam disso.{{Sfn|Kennedy|2014|p=77}} Apesar desses desafios à narrativa tradicional, muitos acadêmicos continuaram acreditando que Aspásia trabalhou como uma cortesã ou madame.{{Sfn|Kennedy|2014|pp=75; 87|loc=n. 1}} Konstantinos Kapparis alegou que os tipos de ataques cômicos feitos a Aspásia não seriam aceitáveis para uma mulher respeitável e que, portanto, é provável que Aspásia tivesse uma história como trabalhadora do sexo antes de começar seu relacionamento com Péricles.{{Sfn|Kapparis|2018|p=104}} Se Aspásia trabalhou ou não como cortesã, sua vida posterior, na qual ela aparentemente alcançou algum grau de poder, reputação e independência, tem semelhanças com as vidas de outras ''[[Hetera|hetairas]]'' proeminentes, como [[Friné]].{{Sfn|Kapparis|2018|p=393}} |
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Como uma mulher não ateniense, Aspásia estava menos ligada às restrições tradicionais que confinavam amplamente as esposas atenienses a suas casas e parece ter aproveitado a oportunidade para participar da vida pública da pólis. Lá, Aspásia conheceu e começou um relacionamento com o estadista [[Péricles]], e se tornou a companheira dele por volta de 445 a.C. Depois que ele se divorciou de sua primeira esposa (talvez c. 450 a.C.), Aspásia começou a morar com ele, embora seu estado civil seja contestado.{{Nota de rodapé|nota=Fornara e Samons assumem a posição de que Péricles se casou com Aspásia, mas sua lei de cidadania a declarava uma companheira inválida.{{sfn|Fornara|Samons II|1991|p=163}} Wallace argumenta que, ao se casar com Aspásia, se ele teria se casado com ela, Péricles continuaria uma distinta tradição aristocrática ateniense de se casar com estrangeiros bem conectados.{{sfn|Wallace|1996}} Henry acredita que Péricles foi impedido por sua própria lei de cidadania de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado não casado.{{sfn|Henry|1995|pp=138-139}} Com base em uma passagem cômica, Henry sugere que o ''status'' de Aspásia era o de ''pallake'', ou seja, uma [[concubina]] ou esposa solteira de fato.{{sfn|Henry|1995|p=21}} O historiador Arnold W. Gomme ressalta que "seus contemporâneos falavam de Péricles como casado com Aspásia".{{sfn|Gomme|1937|p=104}}}} É também incerto como eles se conheceram;{{Sfn|Henry|1995|p=13}} se a tese de Bicknell estiver correta, ela pode tê-lo conhecido através de sua conexão com a casa de Alcibíades.{{Sfn|Bicknell|1982|p=247}} Kennedy especula que quando Clínias, filho do mais velho Alcibíades, morreu na [[Batalha de Coroneia (447 a.C.)|Batalha de Coroneia]], Péricles pode ter se tornado o ''[[Kyrios|kurios]]'' (guardião) de Aspásia.{{Sfn|Kennedy|2014|p=77}} O relacionamento de Aspásia com Péricles começou em algum momento entre 452 e 441.{{Nota de rodapé|nota=O relacionamento de Péricles e Aspásia começou após o primeiro casamento de Péricles, que não pode ter terminado antes de 452–451, a data de nascimento mais antiga possível para o segundo filho legítimo de Péricles, Páralo. Deve ter começado em 441–440, a data mais recente possível para a concepção de Péricles, o Jovem, que tinha pelo menos 30 em 410–409 quando era helenotamia.{{sfn|Bicknell|1982|pp=243–244}}}}{{Sfn|Bicknell|1982|pp=243–244}} A natureza exata do relacionamento de Péricles e Aspásia é contestada. Autores antigos a retratavam como uma prostituta, sua concubina ou sua esposa.{{Sfn|Azoulay|2014|p=105}} Os acadêmicos modernos também estão divididos. Rebecca Futo Kennedy argumenta que eles eram casados;{{Sfn|Kennedy|2014|pp=17; 77}} Debra Nails descreve Aspásia como "a esposa ''de fato'' de Péricles";{{Sfn|Nails|2000|p=59}} Madeleine Henry acredita que a lei de cidadania de Péricles de 451–450 tornou ilegal o casamento entre um ateniense e alguém [[meteco]], e sugere uma ''pallakia'' ("concubinato") quase conjugal imposta por contrato;{{Sfn|Henry|1995|pp=13–14}} e Sue Blundell descreve Aspásia como uma ''hetaira'' e amante de Péricles.{{Sfn|Blundell|1995|p=148}} |
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A partir das descrições, considera-se que, nos círculos sociais, Aspásia era conhecida por sua habilidade como conversadora e conselheira, e não apenas como um objeto de beleza física.{{Sfn|Just|1989|p=144}} Plutarco escreve que amigos de Sócrates traziam suas esposas para ouvi-la conversar.{{Nota de rodapé|nota=De acordo com Kahn, histórias como as visitas de Sócrates a Aspásia, juntamente com as esposas de seus amigos e a conexão de Lísicles com Aspásia, provavelmente não são históricas. Ele acredita que Ésquines era indiferente à historicidade de suas histórias atenienses e que essas histórias deveriam ter sido inventadas em um momento em que a data da morte de Lísicles havia sido esquecida, mas sua ocupação ainda era lembrada.{{Sfn|Kahn|1994|pp=96-99}}<ref name="Pl242" />}} |
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Aspásia e Péricles tiveram um filho, [[Péricles (filho de Péricles)|Péricles, o Jovem]], nascido o mais tardar em 440–439 a.C.{{Nota de rodapé|nota=[[Péricles, o Jovem]], tinha pelo menos 30 anos em 410–409, quando era helenotamia e, portanto, nasceu o mais tardar em 440–439 a.C.{{sfn|Bicknell|1982|p=243}} Aspásia teria que ser bem jovem, se ela pudesse ter um filho com Lísicles depois, c. 428 a.C.{{sfn|Stadter|1989|239}}}}{{Sfn|Henry|1995|p=13}} Na época do nascimento de Péricles, o Jovem, ele tinha dois filhos legítimos, [[Páralo e Xantipo]]. Em 430–429, após a morte de seus dois filhos mais velhos, Péricles propôs uma emenda à sua lei de cidadania de 451–450 que tornaria Péricles, o Jovem, capaz de se tornar cidadão e receber herança. Embora muitos estudiosos acreditem que isso foi especificamente para Péricles, alguns sugeriram que uma exceção mais geral foi introduzida, em resposta ao efeito da [[Peste de Atenas]] e da [[Guerra do Peloponeso]] nas famílias dos cidadãos.{{Sfn|Kennedy|2014|p=17}} |
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=== Anos tardios e morte === |
=== Anos tardios e morte === |
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Em 429 a.C., durante a [[Peste de Atenas|Praga de Atenas]], Péricles testemunhou a morte de sua irmã e de seus dois filhos legítimos, [[Páralo e Xantipo]], de sua primeira esposa. Com o moral debilitado, ele começou a chorar, e nem a companhia de Aspásia o consolou. Ele morreu neste mesmo ano. Pouco antes de sua morte, os atenienses permitiram uma mudança na lei de cidadania de 451 a.C., que fez seu filho meio ateniense com Aspásia, Péricles, o Jovem, cidadão e herdeiro legítimo.<ref name="Pl373">Plutarco, ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23182;layout=;loc=Per.%2036.1/ XXXVII]</ref> |
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[[File:Pericles_bust.jpg|ligação=https://en.wikipedia.org/wiki/File:Pericles_bust.jpg|miniaturadaimagem|Busto de Péricles, [[Altes Museum]], [[Berlim]].]] |
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Em 429 a. C., durante a [[Peste de Atenas|Praga de Atenas]], Péricles testemunhou a morte de sua irmã e de seus dois filhos legítimos, [[Páralo e Xantipo]], de sua primeira esposa. Com o moral debilitado, ele começou a chorar, e nem a companhia de Aspásia o consolou. Pouco antes de sua morte, os atenienses permitiram uma mudança na lei de cidadania de 451 a. C., que fez seu filho meio ateniense com Aspásia, Péricles, o Jovem, cidadão e herdeiro legítimo,<ref name="Pl373">Plutarco, ''Péricles'', ''Plutarch's Lives'' with an English Translation by. Bernadotte Perrin. Cambridge, MA. Harvard University Press. London. William Heinemann Ltd. 1914. 2 [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23182;layout=;loc=Per.%2036.1/ XXXVII]</ref> uma decisão ainda mais marcante ao considerar que Péricles ele próprio propôs a lei que restringia a cidadania àquelas de origem ateniense de ambos os lados.<ref name="Smith3">W. Smith, ''A History of Greece'', 271</ref> Péricles morreu da peste no outono de 429 a. C. |
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De acordo com fontes antigas, Aspásia casou-se com outro político, Lísicles, um [[estratego]] ateniense (general) e líder democrático; e que ela teria feito dele o homem de cargo mais alto em Atenas. Com ele, Aspásia teria dado à luz outro filho, Poristes.{{Nota de rodapé|De acordo com Debra Nails, se Aspásia não fosse uma mulher livre, o decreto de legitimação de seu filho com Péricles e o casamento posterior com Lísicles (Nails pressupõe que Aspásia e Lísicles eram casados) quase certamente seriam impossíveis.{{Sfn|Nails|2000|pp=58-59}}}}{{Sfn|Henry|1995|pp=9–10; 43}}<ref name="Pl242" /> Como "Poristes" não é conhecido como um nome – significa "fornecedor" ou "provedor",{{Sfn|Henry|1995|p=43}} e era um eufemismo para "ladrão"{{Sfn|Kennedy|2014|p=92|loc=n.52}} – alguns acadêmicos argumentaram que o nome vem de um incompreensão de uma piada em uma comédia.{{Sfn|Henry|1995|p=43}}{{Sfn|Nails|2000|p=61}}{{Sfn|Kennedy|2014|p=77}} Henry duvida se Aspásia teve um filho com Lísicles,{{Sfn|Henry|1995|p=43}} e Kennedy questiona se ela se casou com ele.{{Sfn|Kennedy|2014|p=77}} Pomeroy, no entanto, sugere que o nome incomum de Poristes pode ter sido escolhido por Lísicles por razões políticas, para chamar a atenção para o seu fornecimento para o povo de Atenas.{{Sfn|Pomeroy|1996|p=649}} Nails, contra Kahn, considera plausível o casamento, dado que era necessário que Aspásia tivesse um guardião legal (''kyrios'') em Atenas.{{Sfn|Nails|2000|p=59}} |
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Lísicles foi morto em ação em uma expedição para cobrar subsídios de aliados<ref name="Th3.19">Tucídides, [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0003.tlg001.perseus-eng3:3.19.2 III, capítulo 19, seção 2]</ref> em 428 a.C.,{{Sfn|Hammond|Scullard|5=1970|p=131}} um ano depois de Péricles. Nada é registrado sobre a vida de Aspásia após este ponto.{{Sfn|Nails|2000|p=59}} Não há informações sobre se ela estava viva quando seu filho, Péricles, foi eleito general ou quando ele foi executado após a Batalha das Arginusas. Não se sabe onde ou quando ela morreu.{{Sfn|Henry|1995|p=17}} O tempo de sua morte que a maioria dos historiadores dá (c. 401–400 a.C.) baseia-se na avaliação de que Aspásia morreu antes da execução de Sócrates em 399 a.C., uma cronologia implícita na estrutura do ''Aspásia'' de [[Ésquines de Esfeto]].{{Sfn|Nails|2000|pp=58-59}}{{Sfn|Taylor|1955|p=41}} |
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== Referências em obras filosóficas == |
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=== Ataques pessoais e judiciais === |
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Embora fossem influentes, Péricles, Aspásia e seus amigos não estavam imunes a ataque, pois a preeminência na [[Democracia ateniense|Atenas democrática]] não era equivalente ao domínio absoluto.{{Sfn|Fornara|Samons II|5=1991|p=30}} Seu relacionamento com Péricles e sua subsequente influência política despertaram muitas reações. [[Donald Kagan]] acredita que Aspásia era particularmente impopular nos anos imediatamente após a [[Guerra Sâmia]].{{Sfn|Kagan|1969|p=197}} Em 440 a.C., [[Samos]] estava em guerra com Mileto por [[Priene]], uma antiga cidade de Jônia, no sopé de [[Mícale]]. Piores na guerra, os milesianos vieram a Atenas para defender seu caso contra os sâmios.<ref name="Th115">[[Tucídides]], I, [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0200&layout=&loc=1.115.1 115]</ref> Quando os atenienses ordenaram que os dois lados parassem de lutar e submetessem o caso à arbitragem em Atenas, os sâmios recusaram. Em resposta, Péricles aprovou um decreto despachando uma expedição a Samos.<ref name="Pl25">Plutarco, ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182;query=chapter%3D%23170;layout=;loc=Per.%2024.1/ XXV]</ref> A campanha provou ser difícil e os atenienses tiveram que suportar pesadas baixas antes de Samos ser derrotada. Segundo Plutarco, pensava-se que Aspásia, que veio de Mileto, era responsável pela Guerra Sâmia e que Péricles havia decidido contra e atacado Samos para gratificá-la.<ref name="Pl242" />{{Caixa de citação |
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| quote = "Até agora, o mal não era grave e nós éramos os únicos sofredores. Mas agora alguns jovens bêbados vão a Mégara e levam a cortesã Simaeta; os megarianos, feridos rapidamente, fogem por sua vez com duas prostitutas da casa de Aspásia; e assim por três prostitutas a Grécia é incendiada. Então Péricles, incendiado de ira em sua altura olímpica, soltou o raio, provocou o trovão, perturbou a Grécia e aprovou um decreto, que corria como a canção: Que os megarianos sejam banidos de nossa terra e de nossos mercados e de o mar e do continente." |
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| source = [[comédia grega|Peça cômica]] de [[Aristófanes]], ''[[Os Acarnânios]]'' linhas [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0019.tlg001.perseus-eng1:496-540 523–533] |
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}}Segundo alguns relatos posteriores, antes da erupção da [[Guerra do Peloponeso]] (431–404 a. C.), Péricles, alguns de seus associados mais próximos (incluindo o filósofo [[Anaxágoras]] e o escultor [[Fídias]]) e Aspásia enfrentaram uma série de ataques pessoais e legais. Aspásia, em particular, foi acusada na comédia de corromper as mulheres de Atenas, a fim de satisfazer as perversões de Péricles.{{Nota de rodapé|nota=Kagan estima que, se o julgamento de Aspásia aconteceu, "temos melhores razões para acreditar que aconteceu em 438 do que em qualquer outro momento".{{sfn|Kagan|1969|p=197}}}} De acordo com Plutarco, ela foi julgada por impiedade (''asebeia''), com o poeta cômico [[Hermipo]] como promotor.{{Nota de rodapé|nota=De acordo com James F. McGlew, não é muito provável que a acusação contra Aspásia tenha sido feita por Hermipo. Ele acredita que "Plutarco ou suas fontes confundiram os tribunais e o teatro".{{sfn|McGlew|2002|p=53}}}}{{Sfn|Henry|1995|p=15}}<ref name="Pl32">Plutarco, ''Péricles'', [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0007.tlg012.perseus-eng1:32 XXXII]</ref> Ela teria sido supostamente defendida por Péricles e absolvida.{{Sfn|Nails|2000|p=61}} Muitos acadêmicos questionaram se esse julgamento aconteceu, sugerindo que a tradição deriva de um julgamento fictício de Aspásia em uma peça de Hermipo.{{Sfn|Wallace|1996}} A substância histórica dos relatos sobre esses eventos é contestada; é improvável que uma mulher não ateniense pudesse estar sujeita a processos desse tipo (a responsabilidade legal recairia sobre seu protetor ou ''kyrios'', neste caso Péricles, que poderia ser implicado), e nenhum dano lhe ocorreu como resultado.{{Sfn|Filonik|2013|pp=28-34; 69}} Vincent Azoulay compara o julgamento de Aspásia aos de [[Fídias]] e [[Anaxágoras]], ambos também ligados a Péricles, e conclui que "nenhum dos julgamentos por impiedade envolvendo pessoas próximas a Péricles é atestado com certeza".{{Sfn|Azoulay|2014|pp=124–126}} |
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Em ''[[Os Acarnânios]]'', [[Aristófanes]] responsabiliza Aspásia pela Guerra de Peloponeso. Ele alega que o decreto megariano de Péricles, que excluía [[Mégara]] do comércio com Atenas ou seus aliados, era uma retaliação por prostitutas sequestradas da casa de Aspásia por megarianos.<ref name="Ar5232" /> O retrato de Aristófanes de Aspásia como responsável, por motivos pessoais, pelo início da guerra com [[Esparta]] pode refletir a memória do episódio anterior envolvendo Mileto e Samos.{{Sfn|Powell|1995|pp=259-261}} Plutarco relata também os comentários provocadores de outros poetas cômicos, como [[Eupólide]] e [[Crátinos de Atenas|Crátinos]].<ref name="Pl242" /> Segundo Podlecki, Douris parece ter proposto a visão de que Aspásia instigou ambas as Guerras Sâmia e Peloponesa.{{Sfn|Podlecki|1998|p=126}} |
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Aspásia foi rotulada como "Nova [[Ônfale]]", "[[Dejanira]]",{{Nota de rodapé|nota=Ônfale e Dejanira foram, respectivamente, a rainha de Lídia que possuiu Héracles como escravo por um ano e sua esposa sofredora. [[Teatro na Grécia Antiga|Dramaturgos atenienses]] interessaram-se por Ônfale a partir de meados do século V. Os comediantes parodiaram Péricles por se parecer com um Héracles sob o controle de uma Aspásia semelhante a Ônfale.{{sfn|Stadter|1989|p=240}}. Aspásia foi chamada "Ônfale" no ''Kheirones'' de Cratino ou em ''Philoi'' de Eupólide.{{Sfn|Powell|1995|pp=259-261}}}} "[[Hera]]"{{Nota de rodapé|nota=Como esposa do Péricles "Olímpio".{{sfn|Stadter|1989|p=240}} Escritores gregos antigos chamam Péricles de "Olímpico", porque ele estava "trovejando e relampeando e emocionando a Grécia" e portando as armas de Zeus quando dando orações.<ref name="ArDi">Aristófanes, ''Acarnânios'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0240;query=card%3D%2326;layout=;loc=541/ 528–531] e Diodoro, XII, [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0060.tlg001.perseus-eng1:12.40.6 40]</ref>}} e "[[Helena (mitologia)|Helena]]".{{Nota de rodapé|nota=Cratino (em ''Dionysalexandros'') assimila Péricles e Aspásia às figuras "fora da lei" de Páris e Helena; assim como Páris causou uma guerra com o espartano [[Menelau]] por seu desejo por Helena, Péricles, influenciado pela estrangeira Aspásia, envolveu Atenas em uma guerra com Esparta.{{sfn|Padilla|1999}} Eupólide também chamou Aspásia de Helena em ''Prospaltoi''.{{sfn|Stadter|1989|p=240}}}}{{Sfn|Fornara|Samons II|5=1991|pp=162-166}} Mais ataques à relação de Péricles com Aspásia são relatados por [[Ateneu]].<ref name="Deipn533">[[Ateneu]], ''Deipnosofistas'', 533c–d</ref> Até o próprio filho de Péricles, Xantipo, que tinha ambições políticas, criticou prontamente o pai sobre seus assuntos domésticos.<ref name="Pl26">Plutarco, ''Péricles'', [http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0182&layout=&loc=Per.+31.1 XXXVI]</ref> |
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== Legado == |
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=== Obras filosóficas antigas === |
=== Obras filosóficas antigas === |
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No período clássico, duas escolas de pensamento se desenvolveram em torno de Aspásia. Uma tradição, derivada da Comédia Antiga, enfatiza sua influência sobre Péricles e seu envolvimento no comércio sexual; a outra, que remonta à filosofia do século IV, concentra-se em seu intelecto e habilidade retórica.{{Sfn|Fornara|Samons|1991|pp=163–164}} Sua reputação como professora e retórica deriva-se de Diodoro Periegeta e dos discípulos socráticos (com exceção de [[Antístenes]]).{{Sfn|Nails|2002|p=59}} As referências de testemunhos de autores que podem tê-la conhecido ou que ouviram de contemporâneos que a conheceram não a caracterizam nem como ''hetaira'', nem como prostituta (''pornê'').{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|p=34}} |
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Aspásia aparece nos escritos filosóficos de [[Platão]], [[Xenofonte]], [[Ésquines Socrático]] e [[Antístenes]]. Alguns estudiosos argumentam que Platão ficou impressionado com sua inteligência e esperteza e baseou nela seu personagem [[Diotima de Mantineia|Diotima]] no ''[[O Banquete|Banquete]]'', enquanto outros sugerem que Diotima era de fato uma figura histórica.<ref name="Wider1986">K. Wider, "Women philosophers in the Ancient Greek World", 21–62</ref><ref name="Sykoutris">I. Sykoutris, ''Symposium (Introduction and Comments)'', 152–153</ref> De acordo com [[Charles Kahn]], professor de filosofia da [[Universidade da Pensilvânia]], Diotima é, em muitos aspectos, a resposta de Platão à Aspásia de Ésquines.<ref name="Kahn26">C.H. Kahn, ''Plato and the Socratic Dialogue'', 26–27</ref> [[Armand D'Angour]] propõe que Aspásia influenciou profundamente Sócrates e que teria sido retratada em Diotima por Platão.<ref name=":0" /><ref>{{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IPZcDwAAQBAJ|título=Socrates in Love: The Making of a Philosopher|ultimo=D’Angour|primeiro=Armand|data=2019-03-07|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en}}</ref>{{quote box|align=left|width=40%|border=1px|quote="Agora, já que se pensa que ele agiu assim contra os sâmios para gratificar Aspásia, este pode ser um local adequado para levantar a questão sobre a grande arte ou poder que essa mulher tinha, que ela manejou ao agradar aos homens mais importantes do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos."|source=Plutarco, ''Péricles'', [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0007.tlg012.perseus-eng1:24.1 XXIV]}}Em ''[[Menexêno]]'', Platão satiriza o relacionamento de Aspásia com Péricles,<ref name="Allen29-30">P. Allen, ''The Concept of Woman'', 29–30</ref> e cita Sócrates afirmando ironicamente que ela era treinadora de muitos oradores, e já que Péricles foi educado por Aspásia, ele seria superior em [[retórica]] a alguém educado por [[Antifonte]].<ref name="Menexenus236">Plato, ''Menexenus'', [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=urn:cts:greekLit:tlg0059.tlg028.perseus-eng1:236a 236a]</ref> Ele também atribui a Aspásia a autoria da Oração Fúnebre e ataca a veneração de Péricles por seus contemporâneos.<ref name="Mon182-186">S. Monoson, ''Plato's Democratic Entanglements'', 182–186</ref> Kahn sustenta que Platão tirou de Ésquines o motivo de Aspásia como professor de retórica de Péricles e Sócrates.<ref name="Kahn26" /> A Aspásia de Platão e a [[Lisístrata]] de Aristófanes são duas exceções aparentes à regra da incapacidade das mulheres como oradoras, embora essas personagens fictícias não nos digam nada sobre o status real das mulheres em Atenas.<ref name="Rothwell22">K. Rothwell, ''Politics & Persuasion in Aristophanes' Ecclesiazusae'', 22</ref> Como explica Martha L. Rose, professora de História da [[Universidade Estadual de Truman]], "apenas na comédia os cães litigam, os pássaros governam ou as mulheres declamam".<ref>M.L. Rose, ''The Staff of Oedipus'', 62</ref> |
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==== Tradição cômica ==== |
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Xenofonte menciona Aspásia duas vezes em seus escritos socráticos: em ''[[Memorabilia (Xenofonte)|Memorabilia]]'' e em ''[[Oeconomicus]]''. Nos dois casos, seu conselho é recomendado a Critóbulo por Sócrates. Em ''Memorabilia,'' Sócrates cita Aspásia dizendo que a casamenteira deveria relatar com sinceridade as boas características do homem.<ref name="X36">Xenophon, ''Memorabilia'', 2, 6.[http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0208&layout=&loc=2.6.1 36]</ref> Em ''Oeconomicus,'' Sócrates defere a Aspásia como mais conhecedora da administração familiar e da parceria econômica entre marido e mulher.<ref name="X14">Xenophon, ''Oeconomicus'', 3.14</ref> |
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As únicas fontes antigas sobreviventes para discutir Aspásia que foram escritas durante sua vida são da comédia. A tradição cômica sobrevivente sobre Aspásia—ao contrário de seus contemporâneos do sexo masculino—concentra-se em sua sexualidade.{{Sfn|Henry|1995|p=19}} [[Aristófanes]], o único escritor de Comédia Antiga de quem sobreviveram obras completas, refere-se a Aspásia apenas uma vez em seu corpus sobrevivente, em ''[[Os Acarnânios]]''.{{Sfn|Henry|1995|p=25}} Em uma passagem que parodia o início das ''Histórias'' de [[Heródoto]],{{Sfn|Henry|1995|pp=25–26}} Aristófanes brinca que o decreto megárico foi uma retaliação pelo sequestro de duas ''[[Prostituição na Grécia Antiga|pornai]]'' ("prostitutas") de Aspásia.{{Sfn|Kennedy|2014|p=77}} Uma acusação semelhante, atribuída por Plutarco a Duris de Samos, de que Aspásia teria sido responsável pelo envolvimento de Atenas na [[Guerra Sâmia]], pode ter derivado disso.{{Nota de rodapé|nota=Como alternativa, Loraux sugere que Aristófanes baseou sua piada em um autor cômico desconhecido, que já havia implicado Aspásia no início da Guerra Sâmia.{{sfn|Loraux|2021|p=26}}}}{{Sfn|Wallace|1996}} A menção das ''pornai'' de Aspásia em ''Os Acarnânios'' também é o exemplo mais antigo conhecido da tradição de que ela trabalhava como bordel.{{Sfn|Podlecki|1998|p=116}} |
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[[Ficheiro:Illus0362.jpg|miniaturadaimagem|Pintura de [[Hector Leroux]] (1682-1740), que retrata Péricles e Aspásia admirando a gigantesca estátua de Atena no estúdio de [[Fídias]]]] |
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Ésquines Socrático e Antístenes nomearam cada um por Aspásia um [[diálogo socrático]] (embora nenhum sobreviva, exceto em fragmentos). Nossas principais fontes para o ''Aspásia'' de Ésquines Socrático são Ateneu, Plutarco e [[Cícero]]. No diálogo, Sócrates recomenda que Cálias envie seu filho Hipônico a Aspásia para obter instruções. Quando Cálias recua diante da noção de uma professora mulher, Sócrates observa que Aspásia havia influenciado favoravelmente Péricles e, depois de sua morte, Lísicles. Em uma seção do diálogo, preservada em [[latim]] por Cícero, Aspásia afigura-se como uma "Sócrates feminina", aconselhando primeiro a esposa de Xenofonte e depois o próprio Xenophon (o Xenofonte em questão não é o famoso historiador) sobre a aquisição de virtude através do autoconhecimento.<ref name="Kahn26" /><ref name="Cic51-532">Cicero, ''De Inventione'', I, 51–53</ref> Ésquines apresenta Aspásia como professora e inspiradora de excelência, conectando essas virtudes com seu status de hetaira.<ref name="Vander96-982">C.H. Kahn, ''Aeschines on Socratic Eros'', 96–99</ref> Segundo Kahn, todos os episódios da Aspásia de Aeschines seriam não apenas fictícios, mas incríveis.<ref name="Kahn342">C.H. Kahn, ''Plato and the Socratic Dialogue'', 34</ref> |
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Fora de Aristófanes, as menções de Aspásia são conhecidas dos fragmentos sobreviventes de [[Crátinos de Atenas|Cratino]] e [[Eupólide]].{{Sfn|Henry|1995|pp=20–24}} Em um fragmento de ''Quíron'' de Cratino, Aspásia é descrita como "Hera-Aspásia, uma concubina com olhos de cachorro".<ref>Cratino, fr. 259 K-A</ref> Eupólide menciona Aspásia pelo nome em três fragmentos sobreviventes. Em ''Proslapatianos'', ela é comparada a [[Helena de Troia]]—como Aspásia, culpada por iniciar uma guerra—e em ''Philoi'' a [[Ônfale]], que possuía [[Héracles|Hércules]] como escrava.{{Sfn|Henry|1995|pp=22–23}} Eupólide também aludiu a Aspásia em ''Demes'', onde Péricles, tendo ressuscitado dos mortos, pergunta por seu filho; ele é informado de que está vivo, mas tem vergonha de ter uma ''porne'' como mãe.{{Sfn|Henry|1995|p=24}} Aspásia também é conhecida por ter sido mencionada por Cálias, embora o escólio do ''[[Menexêno]]'' de Platão que relata isso seja distorcido e é incerto o que Cálias disse sobre ela.{{Sfn|Podlecki|1998|p=112}} Ela também pode ter aparecido em uma peça de Hermipo—esta é possivelmente a fonte da anedota contada por Plutarco de que Aspásia foi processada por ele por ''asebeia'' e por fornecer mulheres nascidas livres para Péricles fazer sexo.{{Sfn|Azoulay|2014|p=102}} Autores posteriores seguiram a tradição cômica ao focar na sexualidade de Aspásia e na influência imprópria sobre Péricles, por exemplo na ''Erotika'', de [[Clearco de Soles]].{{Sfn|Henry|1995|p=66}} |
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No ''Aspásia'' de Antístenes, apenas duas ou três citações existem.<ref name="Nails58-59" /> Esse diálogo contém muitas calúnias, mas também histórias relacionadas à biografia de Péricles.<ref name="B104">Bolansée-Schepens-Theys-Engels, ''Biographie'', 104</ref> Antístenes parece ter atacado não apenas Aspásia, mas toda a família de Péricles, incluindo seus filhos. O filósofo acredita que o grande estadista escolheu a vida do prazer em vez da virtude.<ref name="Kahn9">C.H. Kahn, ''Plato and the Socratic Dialogue'', 9</ref> Assim, Aspásia é apresentada como a personificação da vida de indulgência sexual.<ref name="Vander96-982" /> |
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==== Tradição filosófica ==== |
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[[Ficheiro:The Debate Of Socrates And Aspasia.jpg|miniaturadaimagem|Em uma tradição que pode ser rastreada até o [[século IV a.C.]], Aspásia era uma retórica habilidosa. Nesta pintura de Nicolas-André Monsiau, ela fala enquanto [[Sócrates]] e [[Péricles]] ouvem atentamente.|240x240px]] |
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[[Ficheiro:Aspasia_painting.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Autorretrato de [[Marie-Geneviève Bouliard|Marie Bouliard]], como Aspásia, 1794.]] |
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No século IV a.C., quatro filósofos são conhecidos por terem escrito diálogos socráticos que apresentam Aspásia. O de [[Antístenes]] a retrata de forma negativa, de certa forma parecida com sua representação na comédia; [[Ésquines Socrático]] e [[Xenofonte]] mostram-na de uma forma mais positiva.{{Sfn|Henry|1995|p=30}} Nos diálogos de Platão, Xenofonte e Ésquines, Aspásia é retratada como uma retórica educada e habilidosa e uma fonte de conselhos para questões conjugais.{{Sfn|Kennedy|2014|p=151}} Alguns consideram por isso que influenciou Péricles em suas retóricas públicas.{{Sfn|Glenn|1995}} Outros acadêmicos chegaram a acreditar que Aspásia inaugurou uma escola para jovens mulheres de boas famílias e que teria sido responsável pela invenção do [[método socrático]].{{Sfn|Glenn|1995}}{{Sfn|Jarratt|Ong|5=1995|pp=9-24}} |
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Aspásia aparece em várias obras importantes da literatura moderna. Sua ligação romântica com Péricles inspirou alguns dos [[romancista]]s e [[Poesia|poetas]] mais famosos dos últimos séculos. Em particular, os [[Romantismo|romancistas]] do século XIX e os [[Novela histórica|romancistas históricos]] do século XX encontraram em sua história uma fonte inesgotável de inspiração. Em 1835, [[Lydia Maria Child]], uma [[Abolicionismo nos Estados Unidos|abolicionista]], romancista e jornalista americana, publicou ''Philothea'', um romance clássico ambientado nos dias de Péricles e Aspásia. Este livro é considerado "a mais elaborada e bem-sucedida das produções da autora", na qual as personagens femininas, incluindo Aspásia, "são retratadas com grande beleza e delicadeza".<ref name="EA198">Duyckinck & Duyckinck, ''Cyclopaedia of American Literature'', [https://archive.org/stream/cyclopaediaofame02duyc#page/388 388]</ref> |
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Holger Thesleff sugere que Aspásia foi objeto de uma tradição de lendas socráticas, nas quais teria sido ela quem ensinara a "arte do amor" (''erotika'') a Sócrates, e é presumível que nisso o diálogo de Ésquines seja anterior ao ''[[O Banquete]]'' platônico.{{Sfn|Thesleff|2009|p=2068}} Há quem argumente que Platão recebeu impressão dos relatos sobre Aspásia e baseou nela sua personagem [[Diotima de Mantineia|Diotima]] em ''O Banquete'';{{Sfn|D'Angour|2019|p=43}} pelo menos ambas as representações dessas mulheres estão associadas por paralelos de uma teoria do [[Eros (conceito)|eros]] socrático.{{Sfn|Thesleff|2009|p=2068}}{{Sfn|Pentassuglio|2020|pp=1; 4; 18-20}} Já outros sugerem que Diotima era de fato uma figura histórica.{{Sfn|Wider|1986|pp=44-48}}{{Sfn|Waithe|1987|pp=83-114}}{{Sfn|Sykoutris|1934|pp=152-153}} Thesleff também afirma que [[Diotima]] foi uma reformulação platônica de Aspásia.{{Sfn|Thesleff|2009|p=2068}} De acordo com Charles Kahn, Diotima é, em muitos aspectos, a resposta de Platão à Aspásia de Ésquines.{{Sfn|Kahn|1997|pp=26-27}} [[Armand D'Angour]] propõe que Aspásia influenciou profundamente Sócrates e que teria sido retratada, de forma codificada, em Diotima por Platão.{{Sfn|Ventura|2021}}{{Sfn|D'Angour|2019|p=43}}{{quote box |
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Em 1836, [[Walter Savage Landor]], escritor e poeta inglês, publicou ''Pericles and Aspasia'', um de seus livros mais famosos. ''Péricles e Aspásia'' é uma representação da Atenas clássica através de uma série de cartas imaginárias, que contêm numerosos poemas. As cartas são frequentemente infiéis à história real, mas tentam capturar o espírito da [[Século de Péricles|Era de Péricles]].<ref name="Mac1954">R. MacDonald Alden, ''Readings in English Prose'', 195</ref> [[Robert Hamerling]] é outro romancista e poeta que foi inspirado pela personalidade de Aspásia. Em 1876, ele publicou seu romance ''Aspasia'', um livro sobre os costumes e a moral da Era de Péricles e uma obra de interesse cultural e histórico. [[Giacomo Leopardi]], um poeta italiano influenciado pelo movimento do romantismo, publicou um grupo de cinco poemas conhecidos como o ''círculo de Aspásia''. Esses poemas de Leopardi foram inspirados por sua dolorosa experiência de amor desesperado e não correspondido por uma mulher chamada Fanny Targioni Tozzetti. Leopardi chamou essa pessoa de Aspásia, segundo a companheira de Péricles.<ref name="Mac195">M. Brose, ''A Companion to European Romanticism'', 271</ref> |
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| quote = "Agora, já que se pensa que ele agiu assim contra os sâmios para gratificar Aspásia, este pode ser um local adequado para levantar a questão sobre a grande arte ou poder que essa mulher tinha, que ela manejou ao agradar aos homens mais importantes do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos." |
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| source = Plutarco, ''Péricles'', [http://data.perseus.org/citations/urn:cts:greekLit:tlg0007.tlg012.perseus-eng1:24.1 XXIV] |
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}}Nos períodos helenístico e romano, alguns autores seguiram o retrato mais positivo de Aspásia na literatura socrática, distanciando-a da prostituição e situando-a numa tradição de mulheres sábias. Vários autores antigos, a partir de fontes secundárias, figuraram um Sócrates que admirava e respeitava profundamente Aspásia.{{Sfn|Glenn|2013|p=38}} |
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[[Dídimo Calcêntero]] escreveu sobre mulheres excepcionais na história em sua ''Symposiaka'', minimizando sua sexualidade, mas notando sua influência na filosofia de Sócrates e na retórica de Péricles.{{Sfn|Henry|1995|p=66}} |
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Em 1918, o romancista e dramaturgo [[George Cram Cook]] produziu sua primeira peça de teatro, ''The Athenian Women'' (uma adaptação de ''[[Lisístrata]]''<ref>{{Citation|url=https://books.google.com/?id=ooexAo1dwFIC&pg=PA321&dq=George+Cram+Cook+athenian+women#v=onepage&q=George%20Cram%20Cook%20athenian%20women&f=false|title=Women Writers of the Provincetown Players: A Collection of Short Works|last=Judith E. Barlow|page=321|isbn=9781438427904|date=2009-10-21}}</ref>), que retrata Aspásia liderando uma greve pela paz.<ref name="Greasley120">D.D. Anderson, ''The Literature of the Midwest'', 120</ref> Cook combinou um tema antiguerra com um cenário grego.<ref>M Noe, [http://www.lib.uiowa.edu/spec-coll/Bai/noe.htm "Susan Glaspell's Analysis of the Midwestern Character"] Books at Iowa 27 November 1977</ref> A escritora americana [[Gertrude Atherton]] em ''The Immortal Marriage'' (1927) trata da história de Péricles e Aspásia e ilustra o período da Guerra Sâmia, da Guerra do Peloponeso e da Praga de Atenas. ''Glory and the Lightning'' (1974) de [[Taylor Caldwell]] é outro romance que retrata a relação histórica de Aspásia e Péricles.<ref>L.A. Tritle, The Peloponnesian War, 199</ref> |
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Em [[Roma]], [[Cícero]] e [[Quintiliano]] usaram a conversa entre Aspásia e Xenofonte no diálogo de Ésquines como um bom exemplo de ''inductio''.{{Sfn|Henry|1995|p=67}} |
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== Fama e avaliações == |
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O nome de Aspásia está intimamente ligado à glória e fama de Péricles.<ref>K. Paparrigopoulos, Ab, 220</ref> Plutarco a aceita como uma figura significativa, tanto política como intelectualmente, e expressa sua admiração por uma mulher que "gerenciou conforme agradava aos principais homens do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos".<ref name="Pl242" /> O biógrafo diz que Aspásia ficou tão conhecida que até [[Ciro, o Jovem]], que entrou em guerra com o rei [[Artaxerxes II|Artaxerxes II da Pérsia]], deu seu nome a uma de suas concubinas, que antes se chamava Milto. Depois que Ciro caiu em batalha, essa mulher foi levada cativa ao rei e adquiriu uma grande influência com ele.<ref name="Pl242" /> [[Luciano de Samósata|Luciano]] chama Aspásia de "modelo de sabedoria", "admirada pelo admirável Olímpico" e elogia "seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e perspicácia".<ref name="Lucian">Lucian, ''A Portrait Study'', XVII</ref> Um texto [[Língua siríaca|siríaco]], segundo o qual Aspásia compôs um discurso e instruiu um homem a lê-lo nos tribunais, confirma a fama retórica de Aspásia.<ref name="McClure20">L. McClure, ''Spoken like a Woman'', 20</ref> Aspásia é dita pelo ''[[Suda]]'', uma enciclopédia [[Império Bizantino|bizantina]] do século X como tendo sido "inteligente em relação às palavras", uma [[Escola sofística|sofista]] e que ensinou [[retórica]].<ref name="Suda">Suda, article [http://www.stoa.org/sol-bin/search.pl?login=guest&enlogin=guest&db=REAL&field=adlerhw_gr&searchstr=alpha,4202 Aspasia] {{Webarchive|url=https://web.archive.org/web/20150924122324/http://www.stoa.org/sol-bin/search.pl?login=guest&enlogin=guest&db=REAL&field=adlerhw_gr&searchstr=alpha,4202|date=2015-09-24}}</ref> {{Caixa de citação|align=left|width=40%|quote="Em seguida, tenho que descrever a Sabedoria; e aqui terei ocasião para muitos modelos, muitos deles antigos; um vem, como a própria dama, da Jônia. Os artistas serão Ésquines e Sócrates, seu mestre, o mais realista dos pintores, pois seu coração estava em suas obras. Não poderíamos escolher melhor modelo de sabedoria do que a milesiana Aspásia, admirada pelo admirável "Olímpico"; seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e penetração serão todos transferidos para nossa tela em sua perfeita medida. Aspásia, no entanto, só nos é preservada em miniatura: nossas proporções devem ser as de um colosso."|source=[[Luciano de Samósata|Luciano]], ''Um Estudo Retrato'', [http://www.sacred-texts.com/cla/luc/wl3/wl303.htm XVII]}}Com base nessas avaliações, pesquisadores como Cheryl Glenn, professora da [[Universidade Estadual da Pensilvânia]], argumentam que Aspásia parece ter sido a única mulher na Grécia clássica a se distinguir na esfera pública e deve ter influenciado Péricles na composição de seus discursos.<ref name="GlennRemapping">C. Glenn, ''Locating Aspasia on the Rhetorical Map'', 23</ref> Alguns estudiosos acreditam que Aspásia abriu uma academia para jovens mulheres de boas famílias ou que até inventou o [[método socrático]].<ref name="GlennRemapping"/><ref name="Jarratt">Jarratt-Onq, ''Aspasia: Rhetoric, Gender, and Colonial Ideology'', 9–24</ref> No entanto, Robert W. Wallace, professor de clássicos da [[Universidade do Noroeste]], ressalta que "não podemos aceitar como histórica a piada de que Aspásia ensinou a Péricles como falar e que, portanto, era uma mestre em retórica ou filósofa". Segundo Wallace, o papel intelectual de Aspásia, dado por Platão, pode ter derivado da [[comédia grega|comédia]].<ref name="Wallace">R.W. Wallace, [http://ccat.sas.upenn.edu/bmcr/1996/96.04.07.html Review of Henry's book]</ref> Kagan descreve Aspásia como "uma jovem bonita, independente e brilhantemente espirituosa, capaz de se manter em conversa com as melhores mentes da Grécia e de discutir e esclarecer qualquer tipo de pergunta com o marido".<ref name="Kagan182">D.Kagan, ''Pericles of Athens and the Birth of Democracy'', 182</ref> Roger Just, um [[Estudos clássicos|classicista]] e professor de [[Antropologia Social|antropologia social]] da [[Universidade de Kent]], acredita que Aspásia era uma figura excepcional, mas apenas seu exemplo é suficiente para enfatizar o fato de que qualquer mulher que se tornasse uma igual intelectual e social a um homem teria que ser uma hetaira.<ref name="Just1442" /> Segundo a Irmã [[Prudence Allen]], filósofa e professora de seminário, Aspásia elevou o potencial das mulheres para se tornarem filósofas um passo adiante das inspirações poéticas de [[Safo]].<ref name="Allen29-30" /> |
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===== Xenofonte, Ésquines e Antístenes ===== |
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== Na arte == |
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Ela é mostrada como habilidosa em conselhos casamenteiros, nas obras ''Memoráveis'' e ''Econômico'' de Xenofonte e nos fragmentos que restam do diálogo ''Aspásia'' por Ésquines Socrático.{{Sfn|Nails|2000|p=60}} A representação nesse diálogo por Ésquines levou acadêmicos modernos a consideraram Aspásia uma "''alter'' Sócrates", alcunha criada por Rudolf Hirzel em 1895 e reutilizada por outros estudiosos; diversas fontes antigas indicam uma tradição que também a associava ao método [[Paideia|paidêutico]] de [[Scala amoris|eros socrático]].{{Sfn|Pentassuglio|2020|pp=1; 4; 18-20}} |
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A obra de arte de instalação de 1979 ''[[O jantar|The Dinner Party]]'' da feminista [[Judy Chicago]] apresenta um cenário para Aspásia como modelo de feminista entre as 39 mulheres que receberam lugar em sua obra.<ref>{{Citar web|url=https://www.brooklynmuseum.org/eascfa/dinner_party/place_settings|titulo=Brooklyn Museum: Place Settings|acessodata=2022-08-31|website=www.brooklynmuseum.org}}</ref><ref name="Henry3" /> |
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Xenofonte menciona Aspásia duas vezes em seus escritos socráticos. Nos dois casos, seu conselho é recomendado a Critóbulo por Sócrates. Em ''Memoráveis,'' Sócrates cita Aspásia dizendo que a casamenteira deveria relatar com sinceridade as boas características do homem.<ref name="X36">[[Xenofonte]], ''Memoráveis'', 2, 6.[http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0208&layout=&loc=2.6.1 36]</ref> Em ''Econômico,'' Sócrates defere a Aspásia como mais conhecedora da administração familiar e da parceria econômica entre marido e mulher.<ref name="X14">Xenofonte, ''Econômico'', 3.14</ref> |
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Aspásia é um personagem de [[Assassin's Creed Odyssey]], que é retratada como a amante e parceira do estadista ateniense Péricles. |
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Ésquines Socrático e Antístenes nomearam cada um por "''Aspásia''" um [[diálogo socrático]] (embora nenhum sobreviva, exceto em fragmentos). Nossas principais fontes para o ''Aspásia'' de Ésquines Socrático são Ateneu, Plutarco e [[Cícero]]. No diálogo, Sócrates recomenda que Cálias envie seu filho Hipônico a Aspásia para obter instruções. Quando Cálias recua diante da noção de uma professora mulher, Sócrates observa que Aspásia havia influenciado favoravelmente Péricles e, depois de sua morte, Lísicles. Em uma seção do diálogo, preservada em [[latim]] por Cícero, Aspásia afigura-se como uma "Sócrates feminina", aconselhando primeiro a esposa de Xenofonte e depois o próprio Xenofonte (o Xenofonte em questão não é o famoso historiador) sobre a aquisição de virtude através do autoconhecimento.{{Sfn|Kahn|1997|pp=26-27}}<ref name="Cic51-532">[[Cícero]], ''De Inventione'', I, 51–53</ref> Ésquines apresenta Aspásia como professora e inspiradora de excelência, conectando essas virtudes com seu status de hetaira.{{Sfn|Kahn|1994|pp=96-99}} Na opinião de Kahn, todos os episódios da Aspásia de Ésquines seriam não apenas fictícios, mas incríveis.{{Sfn|Kahn|1997|p=34}} |
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== Precisão de fontes históricas == |
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O problema principal permanece, como destaca [[Jona Lendering]],<ref>[http://www.livius.org/as-at/aspasia/aspasia.html Aspasia of Miletus] at livius.org</ref> de que a maioria das coisas que sabemos sobre Aspásia se baseia em meras hipóteses. [[Tucídides]] não a menciona; nossas únicas fontes são as representações e especulações não confiáveis registradas pelos homens na literatura e na filosofia, que não se importaram com a Aspásia como personagem histórico.<ref name="Wallace" /><ref name="Rothwell22" /> Portanto, na figura de Aspásia, temos uma série de retratos contraditórios; ela é uma boa esposa como [[Teano (filósofa)|Teano]] ou alguma combinação de cortesã e prostituta como [[Thargelia (pessoa)|Thargelia]].<ref name="Taylor187">J.E. Taylor, ''Jewish Women Philosophers of First-Century Alexandria'', 187</ref> Esta é a razão pela qual os estudiosos modernos expressam seu ceticismo sobre a historicidade da vida de Aspásia.<ref name="Wallace" /> |
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No ''Aspásia'' de Antístenes, apenas duas ou três citações existem.{{Sfn|Nails|2000|pp=58-59}} Esse diálogo contém muitas calúnias, mas também histórias relacionadas à biografia de Péricles.<ref>{{harvnb|Jacoby|Bollansée|Schepens|Theys|1998|p=104}}</ref> Antístenes parece ter atacado não apenas Aspásia, mas toda a família de Péricles, incluindo seus filhos. O filósofo acredita que o grande estadista escolheu a vida do prazer em vez da virtude.{{Sfn|Kahn|1997|p=9}} Assim, Aspásia é apresentada como a personificação da vida de indulgência sexual.{{Sfn|Kahn|1994|pp=96-99}} |
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Segundo Wallace, "para nós, a própria Aspásia possui e pode possuir quase nenhuma realidade histórica".<ref name="Wallace" /> Portanto, Madeleine M. Henry, professora de clássicos da [[Universidade Estadual de Iowa]], sustenta que "as anedotas biográficas que surgiram na antiguidade sobre Aspásia são extremamente coloridas, quase completamente inverificáveis e ainda estão vivas e bem no século XX". Ela finalmente conclui que "é possível mapear apenas as possibilidades mais simples da vida [de Aspásia]".<ref name="Henry3">M. Henry, ''Prisoner of History'', 3, 10, p.121</ref> De acordo com Charles W. Fornara e Loren J. Samons II, Professores de Clássicos e História, "pode muito bem ser, pelo que sabemos, que a verdadeira Aspásia foi mais do que uma equivalente para sua contraparte fictícia".<ref name="For22" /> |
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===== Platão ===== |
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O diálogo platônico ''[[Menexêno]]'' foi o mais influente na formação da imagem de Aspásia como instrutora de oratória a figurões, que detinha excelência tanto na emissão quanto na composição.{{Sfn|Nails|2000|p=59-60}} Cita-se Sócrates afirmando que ela era sua mestre (διδάσκαλος) e treinadora de muitos oradores, e que, já que ele e Péricles foram educados por Aspásia, seriam superiores em [[retórica]] a alguém educado por [[Antifonte]]:<ref name="Menexenus236">Platão, ''Menexêno'', [http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0180%3Atext%3DMenex.%3Asection%3D235e 235e] ([https://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0179%3Atext%3DMenex.%3Asection%3D235e em grego])-[http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=urn:cts:greekLit:tlg0059.tlg028.perseus-eng1:236a 236a]</ref> |
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{{Quote|texto="Que eu fosse capaz de fazer o discurso não seria nada maravilhoso, Menexeno; pois ela que é minha instrutora não é de forma alguma fraca na arte da retórica; pelo contrário, ela produziu muitos bons oradores, e entre eles um que superou todos os outros gregos, Péricles, filho de Xantipo."|fonte=—Platão, ''Menexêno'', 235e}} |
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* [[Filosofia antiga]] |
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* [[Lista de oradores nos diálogos de Platão]] |
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* [[Prostituição na Grécia Antiga]] |
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* [[Cronologia da Grécia Antiga|Linha do tempo da Grécia antiga]] |
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{{Notas}}{{Referências}}{{wikisource|A Velhice de Aspásia|Poema: A Velhice de Aspásia}} |
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Sócrates também atribui que ela compôs a Oração Fúnebre de Péricles,{{Sfn|Nails|2000|p=59-60}} e ataca a veneração de Péricles por seus contemporâneos.{{Sfn|Monoson|2013|pp=182-186}} Kahn sustenta que Platão tirou de Ésquines o motivo de Aspásia como professora de retórica de Péricles e Sócrates.{{Sfn|Kahn|1997|pp=26-27}} A Aspásia de Platão e a [[Lisístrata]] de Aristófanes são duas exceções aparentes à regra da incapacidade das mulheres como oradoras, embora essas personagens fictícias não nos digam nada sobre o status real das mulheres em Atenas.{{Sfn|Rothwell|1990|p=22}} Como explica Martha L. Rose, "apenas na comédia os cães litigam, os pássaros governam ou as mulheres declamam".{{Sfn|Rose|2013|p=62}} |
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==Ligações externas== |
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Nos estudos acadêmicos é problemática a abordagem sobre como se interpretar a figura de Aspásia no diálogo ''Menexêno'', pois pode ser encarada de uma ou outra maneira, conforme as perspectivas das outras poucas fontes antigas restantes sobre ela: há intérpretes, por exemplo, que, tendo em vista a tradição cômica, apontam o diálogo como a apresentando negativamente, enquanto outros consideram-na uma figura positiva, tal qual a tradição clássica, que aceitara como genuína a exposição platônica de sua expertise em retórica.{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|p=31}}[[Ficheiro:Illus0362.jpg|miniaturadaimagem|Pintura de [[Hector Leroux]] (1682-1740), que retrata Péricles e Aspásia admirando a gigantesca estátua de Atena no estúdio de [[Fídias]]|240x240px]]Há muitos autores que interpretaram essa apresentação como sendo [[Ironia|irônica]] ou uma [[paródia]], especulando-se diversos motivos, segundo o que Aspásia poderia representar no contexto grego da época: alguns supõem [[Zombaria|escárnio]] e [[sarcasmo]] em lhe atribuir o ensino da arte retórica, por ser associada a papéis de cortesã, mulher ou [[Estrangeiro|estrangeira]], bem como por aparecer como uma mestre que, por sua influência feminina, ensinara diversos homens a oratória (um dos tópicos da comédia era de que políticos tendiam a falar com as "bocas de prostitutas"); ou então por se lhe atribuir a autoria de uma famosa oração de Péricles.{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|pp=10 (nota 14); 76; 80, e outros aprofundamentos no capítulo 4}}{{Sfn|Henry|1995|p=35}}{{Sfn|Trivigno|2009|p=33}}{{Sfn|Songe-Møller|2020|p=68-69}}{{Sfn|Johnson|1990|p=90}}{{Sfn|Blundell|1995|p=148}} Outros também afirmam que há elementos de [[sátira]].{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|pp=10 (nota 14); 76; 80, e outros aprofundamentos no capítulo 4}}{{Sfn|LeMoine|2019|p=135-141}}{{Sfn|Allen|1997|pp=29-30}} Interpretações mais recentes consideram, porém, que Aspásia possui um papel mais sério.{{Sfn|LeMoine|2019|p=135-141}}{{Sfn|Deretić|2021|p=41}}{{Sfn|Adamson|2020}} Há quem identifica nessa construção um uso por Platão de uma figura famosa do gênero feminino para indicar uma subversão de várias atitudes atenienses tradicionais, como quanto a autoctonia, [[Eros (conceito)|eros]], maternidade e outras questões;{{Sfn|Monoson|2013|p=194|loc=e nota 25}} Uma das linhas de visão afirma que Platão concedeu reconhecimento autêntico à reputação de filósofa ou retórica dessa personagem histórica.{{Sfn|Waithe|1987|p=76}} |
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*[http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Aspasia0.html Aspásia, a cortesã] |
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*[[Eugênia]] |
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Como Xenofonte apresentou em seus ''Memoráveis'' que Sócrates conhecia Aspásia, a passagem em que Aspásia é afirmada como professora de retórica a Sócrates não é um indicativo automático de paródia.{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|p=54|loc=nota 46}} Ao invés de depreciá-la, Platão pode estar libertando-a do foco que recaía sobre sua corte e casamento, assim como na proposta que ele fizera em ''[[A República]]'' de se haver mulheres talentosas na cidade ideal, Calípole, em que poderiam apresentar sua inteligência fora do ambiente doméstico.{{Sfn|Pappas|Zelcer|5=2015|p=36}} |
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{{Commonscat|Aspasia}}{{Grécia Antiga}}{{Controle de autoridade}} |
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Mark Zelcer considera que não há ironia ou comédia pelo contexto, em que Aspásia tem importância como autora de duas orações, e devido à audiência contemporânea ateniense a que Platão intencionava se dirigir: Aspásia seria reconhecida como a figura pública que encarnava o pensamento de Péricles após sua morte e podia ser vista como a melhor representante à escolha feita por Platão de colocá-la como arrependida de sua ideologia política, após a morte de seu filho na guerra pelos ideais pericleanos, apresentando-se então no diálogo como simpática a Sócrates. Zelcer argumenta que seria cruel figurá-la em meio a uma piada, já que ela encarnava no imaginário público os ideais de Péricles e possivelmente era vista pelos atenienses como uma viúva e mãe em luto, após seu filho ter sido executado pela democracia ateniense (isso ocorreria cerca de 20 anos após a peça cômica ''Os Acarnânios''). Insinuações de zombaria exigiriam um ganho literário muito alto para compensar.{{Sfn|Zelcer|2018|p=41-42}} |
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=== Obras modernas sobre Aspásia === |
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O retrato pós-clássico mais antigo de Aspásia está nas cartas de [[Heloísa de Argenteuil]] a [[Pedro Abelardo]].{{Sfn|Henry|1995|p=83}} Heloísa cita a conversa de Aspásia com Xenofonte e sua esposa no diálogo de [[Ésquines]], que ela provavelmente conhecia pela referência de Cícero a ele, e propõe Aspásia como um exemplo de como ela deveria viver sua própria vida.{{Sfn|Henry|1995|pp=83–84}} |
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No final do período medieval e início da era moderna, Aspásia apareceu em vários catálogos, um gênero de moda na época. Ela foi incluída em três "livros medalhão", com um retrato imaginado e uma breve biografia. O primeiro deles foi ''Promptuarium Iconum'', de Guillaume Rouille, que deriva sua representação de Aspásia de Plutarco e se concentra em seu relacionamento com Péricles;{{Sfn|Henry|1995|pp=87–88}} Na ''Iconografia'' de Giovanni Angelo Canini, Aspásia é retratada usando capacete e escudo.{{Sfn|Henry|1995|p=89}} Ela também apareceu em dois catálogos de mulheres neste período como professora e filósofa; em ''Tirannia Paterna'', de Arcangela Tarabotti, que a retrata como professora de retórica, e ''Historia Mulierum Philosopharum'', de Gilles Ménage, na qual é descrita como ensinando retórica a Péricles e Sócrates, e filosofia a Sócrates.{{Sfn|Henry|1995|p=88–89}} |
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[[Ficheiro:Aspasia painting.jpg|miniaturadaimagem|Pintura de Marie Bouliard, como Aspásia, em 1794|304x304px]] |
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No [[século XVIII]], Aspásia era amplamente conhecida para ser incluída em dicionários e enciclopédias, onde as representações dela foram amplamente baseadas em [[Plutarco]].{{Sfn|Henry|1995|p=89}} Em 1736, Jean Leconte de Bièvre publicou uma ''Histoire de deux Aspasies'', também baseada na representação de Plutarco, que retratava Aspásia como uma mulher educada e professora de Péricles, bem como sua esposa.{{Sfn|Henry|1995|pp=89–90}} O século XVIII também viu a primeira imagem conhecida de Aspásia a ser criada por uma mulher, na figura de Marie Bouliard.{{Sfn|Henry|1995|pp=91–92}} A pintura retrata Aspásia com um seio descoberto, olhando para um espelho de mão e com um pergaminho na outra mão. Embora o peito nu faça referência às tradições erotizadas em torno de Aspásia, Madeleine Henry argumenta que o retrato difere de representações mais pornográficas de mulheres, com Aspásia olhando para o espelho em vez de olhar para o espectador, e segurando um pergaminho em vez de um objeto cosmético, como um pente.{{Sfn|Henry|1995|p=93}} |
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No século XIX, a narrativa de Plutarco dominou a interpretação de Aspásia, ou seja, tanto em romances, quanto em pinturas.{{Sfn|Henry|1995|p=96}} Nas [[artes visuais]], o lado sexualizado de Aspásia foi representado pela pintura de [[Jean-Léon Gérôme]], ''Sócrates buscando Alcibíades na Casa de Aspásia'', mas essa representação pornografizada era relativamente incomum.{{Sfn|Geraths|Kennerly|2016|p=198}} A litografia de Sócrates de [[Honoré Daumier]], intitulado ''Sócrates na Casa de Aspásia'', descreve Aspásia como uma "lorette", uma posição social ambígua que se referia a "mulheres soltas, vulgares ou 'liberadas'".<ref>{{Harvnb|Jordan|2012|p=72}}, citado em {{Harvnb|Geraths|Kennerly|2016|p=205}}</ref> Outros artistas do período retrataram uma Aspásia ativa na vida pública e interagindo com os homens mais renomados do período. Na pintura ''Aspásia no Pnyx'', de Henry Holiday, ela é mostrada com outra mulher no local da [[Eclésia|assembleia ateniense]], o centro do espaço público masculino da cidade,{{Sfn|Geraths|Kennerly|2016|p=206}} enquanto em duas pinturas de Nicolas-André Monsiau ela é mostrada no centro de discussões com intelectuais e políticos atenienses célebres.{{Sfn|Geraths|Kennerly|2016|pp=200–202}} Em ''Sócrates e Aspásia'', ela conversa com Sócrates e Péricles; em ''Aspásia em Conversa com os Mais Ilustres Homens de Atenas'', [[Eurípides]], [[Sófocles]], [[Platão]] e [[Xenofonte]] também estão entre os presentes.{{Sfn|Geraths|Kennerly|2016|p=202}} Em ambas as pinturas, Aspásia está falando e comandando a atenção desses homens.{{Sfn|Geraths|Kennerly|2016|pp=201–202}} Melissa Ianetta argumenta que o romance de [[Germaine de Staël]], intitulado ''Corinne'', modela sua heroína após Aspásia, colocando-a na mesma tradição de habilidade retórica feminina.{{Sfn|Ianetta|2008}} |
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Uma representação alternativa de Aspásia no século XIX a posicionou como uma esposa respeitável. Os autores [[Walter Savage Landor]] e Elizabeth Lynn Linton retrataram Aspásia como uma boa esposa vitoriana para Péricles em seus romances ''Pericles and Aspasia'' e ''Amymone: A Romance of the Days of Pericles''.{{Sfn|Henry|1995|pp=99–102}} Pericles and Aspasia é um dos livros mais famosos de Landor, sendo uma representação da Atenas clássica através de uma série de cartas imaginárias, que contêm numerosos poemas. As cartas são frequentemente infiéis à história real, mas tentam capturar o espírito da [[Século de Péricles|Era de Péricles]].{{Sfn|Alden|1911|p=195}} |
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Em 1835, [[Lydia Maria Child]], uma [[Abolicionismo nos Estados Unidos|abolicionista]], romancista e jornalista americana, publicou ''Philothea'', um romance clássico ambientado nos dias de Péricles e Aspásia. Este livro é considerado "a mais elaborada e bem-sucedida das produções da autora", na qual as personagens femininas, incluindo Aspásia, "são retratadas com grande beleza e delicadeza".{{Sfn|Duyckinck|Duyckinck|p=388}} |
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A pintura de [[Lawrence Alma-Tadema]], intitulada ''Phidias and the Frieze of the Parthenon'', também mostra Aspásia como uma respeitável companheira dos homens.{{Sfn|Henry|1995|p=103}} Em contrapartida, o romance ''Aspasia'' (1876), de Robert Hamerling, mostrou-a como uma protofeminista com muito mais agência do que esses relatos romantizados.{{Sfn|Henry|1995|p=106}} |
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[[Giacomo Leopardi]], um poeta italiano influenciado pelo movimento do romantismo, publicou um grupo de cinco poemas conhecidos como o ''círculo de Aspásia''. Esses poemas de Leopardi foram inspirados por sua dolorosa experiência de amor desesperado e não correspondido por uma mulher chamada Fanny Targioni Tozzetti. Leopardi chamou essa pessoa de Aspásia, segundo a companheira de Péricles.{{Sfn|Brose|2008|p=271}} |
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Em 1918, o romancista e dramaturgo George Cram Cook produziu sua primeira peça de teatro, ''The Athenian Women'' (uma adaptação de ''[[Lisístrata]]''{{Sfn|Barlow|2009|p=321}}), que retrata Aspásia liderando uma greve pela paz.{{Sfn|Noe|2001|p=120}} Cook combinou um tema antiguerra com um cenário grego.{{Sfn|Noe|1977}} A escritora americana Gertrude Atherton em ''The Immortal Marriage'' (1927) trata da história de Péricles e Aspásia e ilustra o período da Guerra Sâmia, da Guerra do Peloponeso e da Praga de Atenas.{{Sfn|Tritle|2004|p=199}} |
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No século XX foi visto, por um lado, um interesse crescente por Aspásia separadamente de seus relacionamentos com os homens e, por outro, uma preocupação mais lasciva com sua sexualidade.{{Sfn|Henry|1995|pp=113–114}} A primeira vertente da recepção de Aspásia viu a escritora, feminista e política letã Elza Rozenberga, que adotou o pseudônimo de Aspazija, modelar sua campanha pelos [[direitos das mulheres]] no que ela via como o exemplo de Aspásia.{{Sfn|Henry|1995|p=114}} Aspásia também foi adotada como modelo feminista por [[Judy Chicago]], que a incluiu como uma das trinta e nove mulheres que receberam um lugar em sua obra de arte de instalação de 1979, ''The Dinner Party''.{{Sfn|Henry|1995|p=121}} Romances recentes tenderam para o retrato mais explicitamente sexualizado de Aspásia, entre elas ''Achilles His Armor'', pelo classicista Peter Green;{{Sfn|Henry|1995|p=117}} ''Darling Pericles'', de Madelon Dimont;{{Sfn|Henry|1995|p=117}} e ''Glory and Lightning'' (1974), de [[Taylor Caldwell]], no qual Aspásia é criada como cortesã,{{Sfn|Henry|1995|p=119}} relatando-se a relação histórica sua com Péricles.{{Sfn|Tritle|2004|p=199}} |
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Aspásia é uma personagem principal de [[Assassin's Creed Odyssey|''Assassin's Creed Odyssey'']], retratada como uma poderosa amante do estadista ateniense Péricles e revelada como a espiã chefe da organização secreta inimiga no roteiro do jogo.{{Sfn|Tuplin|2022|p=216-219}} |
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=== Fama e avaliações === |
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O nome de Aspásia está intimamente ligado à glória e fama de Péricles.{{Sfn|Paparrigopoulos|1925|p=220}} Plutarco a aceita como uma figura significativa, tanto política como intelectualmente, e expressa sua admiração por uma mulher que "gerenciou conforme agradava aos principais homens do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos".<ref name="Pl242" /> O biógrafo diz que Aspásia ficou tão conhecida que até [[Ciro, o Jovem]], que entrou em guerra com o rei [[Artaxerxes II|Artaxerxes II da Pérsia]], deu seu nome a uma de suas concubinas, que antes se chamava Milto. Depois que Ciro caiu em batalha, essa mulher foi levada cativa ao rei e adquiriu uma grande influência com ele.<ref name="Pl242" /> [[Luciano de Samósata|Luciano]] chama Aspásia de "modelo de sabedoria", "admirada pelo admirável Olímpico" e elogia "seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e perspicácia".<ref name="Lucian">[[Luciano de Samósata|Luciano]], ''Imagines'', [http://www.sacred-texts.com/cla/luc/wl3/wl303.htm XVII]</ref> Um texto [[Língua siríaca|siríaco]], segundo o qual Aspásia compôs um discurso e instruiu um homem a lê-lo nos tribunais, confirma a fama retórica de Aspásia.{{Sfn|McClure|2021|p=20}} Aspásia é dita pela ''[[Suda]]'', uma enciclopédia [[Império Bizantino|bizantina]] do século X como tendo disposto de "habilidades e inteligência em relação às palavras", e como tendo sido uma [[Escola sofística|sofista]] que ensinou retórica.<ref name="Suda">[https://web.archive.org/web/20150924122324/http://www.stoa.org/sol-bin/search.pl?login=guest&enlogin=guest&db=REAL&field=adlerhw_gr&searchstr=alpha,4202 Aspásia]. ''Suda''</ref> {{Caixa de citação |
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| quote = "Em seguida, tenho que descrever a Sabedoria; e aqui terei ocasião para muitos modelos, muitos deles antigos; um vem, como a própria dama, da Jônia. Os artistas serão Ésquines e Sócrates, seu mestre, o mais realista dos pintores, pois seu coração estava em suas obras. Não poderíamos escolher melhor modelo de sabedoria do que a milesiana Aspásia, admirada pelo admirável "Olímpico"; seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e penetração serão todos transferidos para nossa tela em sua perfeita medida. Aspásia, no entanto, só nos é preservada em miniatura: nossas proporções devem ser as de um colosso." |
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| source = [[Luciano de Samósata|Luciano]], ''Imagines'', [http://www.sacred-texts.com/cla/luc/wl3/wl303.htm XVII] |
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}}Com base nessas avaliações, pesquisadores como Cheryl Glenn argumentam que Aspásia parece ter sido a única mulher na Grécia clássica a se distinguir na esfera pública e deve ter influenciado Péricles na composição de seus discursos.{{Sfn|Glenn|1997|p=23}} Alguns estudiosos acreditam que Aspásia abriu uma academia para jovens mulheres de boas famílias ou que até inventou o [[método socrático]].{{Sfn|Glenn|1997|p=23}}{{Sfn|Jarratt|Ong|5=1995|pp=9-24}} No entanto, Robert W. Wallace ressalta que "não podemos aceitar como histórica a piada de que Aspásia ensinou a Péricles como falar e que, portanto, era uma mestre em retórica ou filósofa". Segundo Wallace, o papel intelectual de Aspásia, dado por Platão, pode ter derivado da [[comédia grega|comédia]].{{Sfn|Wallace|1996}} [[Donald Kagan]] descreve Aspásia como "uma jovem bonita, independente e brilhantemente espirituosa, capaz de se manter em conversa com as melhores mentes da Grécia e de discutir e esclarecer qualquer tipo de pergunta com o marido".{{Sfn|Kagan|1991|p=182}} Roger Just acredita que Aspásia era uma figura excepcional, mas apenas seu exemplo é suficiente para enfatizar o fato de que qualquer mulher que se tornasse uma igual intelectual e social a um homem teria que ser uma hetaira.{{Sfn|Just|1989|p=144}} Segundo Prudence Allen, Aspásia elevou o potencial das mulheres para se tornarem filósofas um passo adiante das inspirações poéticas de [[Safo]].{{Sfn|Allen|1997|pp=29-30}}{{Notas}} |
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{{Referências}} |
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== Bibliografia == |
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* {{Citar livro|ultimo=Adamson|primeiro=Peter|data=27 de maio de 2020|capítulourl=https://www.academia.edu/35587971/Why_is_Aspasia_a_Woman_Reflections_on_Platos_Menexenus|capitulo=Why is Aspasia a Woman? Reflections on Plato's Menexenus|editor-sobrenome=Höfele, Andreas; Kellner, Beate|titulo=Natur - Geschlecht - Politik|local=Leiden|editora=Brill {{!}} Fink|doi=10.30965/9783846765333_005|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=egObngEACAAJ&newbks=0&hl=pt-BR|título=Readings in English Prose of the Nineteenth Century|ultimo=Alden|primeiro=Raymond Macdonald|data=1911|editora=Houghton Mifflin|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ZH-iOIWEVVEC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA29&hl=pt-BR|título=The Concept of Woman: The Aristotelian Revolution, 750 B.C. - A. D. 1250|ultimo=Allen|primeiro=Prudence|data=1997-05-22|editora=William B. Eerdmans Publishing|local=Grand Rapids; Cambridge|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|título=Pericles of Athens|ultimo=Azoulay|primeiro=Vincent|editora=Princeton University Press|ano=2014|isbn=978-0-691-15459-6|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=ooexAo1dwFIC&pg=PA321&dq=George+Cram+Cook+athenian+women&hl=pt-PT|título=Women Writers of the Provincetown Players: A Collection of Short Works|ultimo=Barlow|primeiro=Judith E.|data=2009-10-21|editora=SUNY Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://www.persee.fr/doc/antiq_0770-2817_1982_num_51_1_2070 |titulo=Axiochos Alkibiadou, Aspasia and Aspasios |data=1982 |jornal=L'Antiquité Classique |número=1 |ultimo=Bicknell |primeiro=Peter J. |paginas=240–250 |doi=10.3406/antiq.1982.2070 |volume=51 |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://archive.org/details/womeninancientgr00blun/mode/2up|título=Women in Ancient Greece|ultimo=Blundell|primeiro=Sue|data=1995|editora=Harvard University Press|local=Cambridge|isbn=978-0-674-95473-1|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=_NVaM92tKfcC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA271&hl=pt-BR|título=A Companion to European Romanticism|ultimo=Brose|primeiro=Margaret|data=2008-04-15|editora=John Wiley & Sons|editor-sobrenome=Ferber, Michael|lingua=en|capitulo=Ugo Foscolo and Giacomo Leopardi: Italy's Classical Romantics|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=IPZcDwAAQBAJ|título=Socrates in Love: The Making of a Philosopher|ultimo=D’Angour|primeiro=Armand|data=2019-03-07|editora=Bloomsbury Publishing|lingua=en|isbn=978-14-08-88391-4|ref=harv|autorlink=Armand_D'Angour}} |
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* {{Citar livro|ultimo=Deretić|primeiro=Irina|data=2021|capítulourl=https://philpapers.org/archive/DERAWI.pdf|capitulo=Aspasia: Woman in Crises|editor-sobrenome=Deretić, Irina|titulo=Women in Times of Crisis|local=Belgrado|editora=Faculty of Philosophy, University of Belgrade|ref=harv}} |
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* {{citar livro|url=https://archive.org/stream/cyclopaediaofame02duyc#page/388|título=Cyclopaedia of American Literature|ultimo=Duyckinck|primeiro=Evert A.|ultimo2=Duyckinck|primeiro2=George L.|editora=Charles Scribner|volume=II|local=Nova Iorque|ref=harv}} |
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* {{citar web|url=|titulo=Aspasia|data=2002|website=Encyclopaedia Britannica|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://riviste.unimi.it/index.php/Dike/article/view/4290 |titulo=Athenian Impiety Trials: A Reappraisal |data=2013 |jornal=Dike - Rivista di Storia del Diritto Greco ed Ellenistico |ultimo=Filonik |primeiro=Jakub |paginas=11–96 |doi=10.13130/1128-8221/4290 |issn=1128-8221 |volume=16 |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=http://publishing.cdlib.org/ucpressebooks/view?docId=ft2p30058m&chunk.id=d0e2016&toc.depth=1&toc.id=d0e2016&brand=eschol/|título=Athens from Cleisthenes to Pericles|ultimo=Fornara|primeiro=Charles W.|ultimo2=Samons II|primeiro2=Loren J.|local=Berkeley; Los Angeles; Oxford|editora=University of California Press|ano=1991|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |titulo=Painted Lady: Aspasia in Nineteenth-Century European Art |número=3 |ultimo=Geraths |primeiro=Cory |ultimo2=Kennerly |primeiro2=Michele |ano=2016 |paginas=197–211 |doi=10.1080/07350198.2016.1178688 |ref=harv |volume=35 |journal=Rhetoric Review}} |
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* {{Citar periódico |titulo=Sex, Lies, and Manuscript: Refiguring Aspasia in the History of Rhetoric |número=2 |ultimo=Glenn |primeiro=Cheryl |ano=1994 |paginas=180–199 |doi=10.2307/359005 |jstor=359005 |ref=harv |volume=45 |journal=College Composition and Communication}} |
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* {{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/465834 |titulo=Remapping Rhetorical Territory |data=1995 |jornal=Rhetoric Review |número=2 |ultimo=Glenn |primeiro=Cheryl |paginas=287–303 |issn=0735-0198 |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=BQ5RM1OUMPIC&newbks=0&hl=pt-BR|título=Listening to Their Voices: The Rhetorical Activities of Historical Women|ultimo=Glenn|primeiro=Cheryl|data=1997|editora=University of South Carolina Press|editor-sobrenome=Wertheimer, Molly Meijer|páginas=19-41|lingua=en|capitulo=Locating Aspasia on the Rhetorical Map|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=hWoAAgAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA38&hl=pt-BR|título=Rhetoric, Cultural Studies, and Literacy: Selected Papers From the 1994 Conference of the Rhetoric Society of America|ultimo=Glenn|primeiro=Cheryl|data=2013-11-05|editora=Routledge|editor-sobrenome=Reynolds|editor-nome=John Frederick|local=Nova Iorque; Londres|capitulo=Rereading Aspasia: The Palimpsest of Her Thoughts|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/Essays_in_Greek_History_and_Literature.html?id=jFUbAAAAYAAJ|título=Essays in Greek History and Literature|ultimo=Gomme|primeiro=Arnold Wycombe|data=1937|editora=Blackwell|local=1937|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{citar livro|ultimo=Gonçalves|primeiro=Rebelo|titulo=[[Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa]]|local=Coimbra|editora=Atlântida - Livraria Editora|ano=1947|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=aE4WzQEACAAJ&newbks=0&hl=pt-BR|título=The Oxford Classical Dictionary|data=1970|editora=Clarendon Press|editor-sobrenome=Hammond, N. G. L.; Scullard, H. H.|edicao=2ª|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/Prisoner_of_History/S6VS0TwiH74C?gbpv=1|título=Prisoner of History. Aspasia of Miletus and her Biographical Tradition|ultimo=Henry|primeiro=Madeleine M.|editora=Oxford University Press|ano=1995|isbn=978-0-19-508712-3|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |titulo='She Must Be a Rare One': Aspasia, 'Corinne', and the Improvisatrice Tradition |número=1 |ultimo=Ianetta |primeiro=Melissa |ano=2008 |ref=harv |volume=123 |journal=PMLA}} |
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* {{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/Die_Fragmente_Der_Griechischen_Historike/Unc46ijmwu8C?hl=pt-BR&gbpv=1&pg=PA104|título=Die Fragmente Der Griechischen Historiker ''continued'': Biography and Antiquarian Literature. IV A: Biography. Fascicle 1: The Pre-Hellenistic Period|ultimo=Jacoby|primeiro=Felix|ultimo2=Bollansée|primeiro2=J.|ultimo3=Engels|primeiro3=J.|ultimo4=Schepens|primeiro4=G.|ultimo5=Theys|primeiro5=E.|data=1998-09-01|editora=BRILL|editor-sobrenome=G. Schepens|local=Leiden; Boston; Köln|lingua=en|capitulo=1004. Antisthenes of Athens|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=9hgOM28mmRYC|título=Reclaiming Rhetorica: Women in the Rhetorical Tradition|ultimo=Jarratt|primeiro=Susan|ultimo2=Ong|primeiro2=Rory|data=1995-04-15|editora=University of Pittsburgh Pre|editor-sobrenome=Lunsford, Andrea A.|local=Pittsburgh|capitulo=Aspasia: Rhetoric, Gender, and Colonial Ideology|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=mi-n5ghCKN4C&pg=PA90|título=Sexuality in Greek and Roman Literature and Society: A Sourcebook|ultimo=Johnson|primeiro=Marguerite|data=2004-08-02|editora=Routledge|ref=harv}} |
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* {{Citar tese|sobrenome=Jordan|nome=Nicole|titulo="A Very Amusing Bit of Blasphemy": Honoré Daumier's Histoire Ancienne|ano=2012|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|título=Prostitution in the Ancient Greek World|ultimo=Kapparis|primeiro=Konstantinos|editora=De Gruyter|ano=2018|localização=Berlin|isbn=978-3-11-055795-4|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=4TinzQEACAAJ&newbks=0&hl=pt-BR|título=Women in Athenian Law and Life|ultimo=Just|primeiro=Roger|data=1989|editora=Routledge|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=fCEmz4mcZFsC|título=The Outbreak of the Peloponnesian War|ultimo=Kagan|primeiro=Donald|data=1969|editora=Cornell University Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=viBOKgmt8LkC&newbks=0&printsec=frontcover&dq=Pericles+of+Athens+and+the+Birth+of+Democracy&hl=pt-BR|título=Pericles Of Athens And The Birth Of Democracy|ultimo=Kagan|primeiro=Donald|data=1991|editora=Simon and Schuster|local=Nova Iorque|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Etrz2pkeZvwC&pg=PA87|título=The Socratic Movement|ultimo=Kahn|primeiro=Charles H.|editora=Cornell University Press|ano=1994|editor-sobrenome=Waerdt, Paul A. Vander|local=Ithaca; Londres|capitulo=Aeschines on Socratic Eros|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=UCkF60ScADAC&newbks=0&printsec=frontcover&dq=Plato+and+the+Socratic+Dialogue&hl=pt-BR|título=Plato and the Socratic Dialogue: The Philosophical Use of a Literary Form|ultimo=Kahn|primeiro=Charles H.|data=1997-01-09|editora=Cambridge University Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=WRNgAwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA74&hl=pt-BR|título=Immigrant Women in Athens: Gender, Ethnicity, and Citizenship in the Classical City|ultimo=Kennedy|primeiro=Rebecca Futo|data=2014-04-16|editora=Routledge|local=Nova Iorque; Abingdon|capitulo=Aspasia, Athenian Citizen Elites, and the Myth of the Courtesan|isbn=978-0-415-73786-9|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=BZjFDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA135&hl=pt-BR|título=Plato's Caves: The Liberating Sting of Cultural Diversity|ultimo=LeMoine|primeiro=Rebecca|data=2019-12-26|editora=Oxford University Press|local=Nova Iorque|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://journals.openedition.org/clio/132 |titulo=Aspasie, l’étrangère, l’intellectuelle |data=2001-04-01 |jornal=Clio. Femmes, Genre, Histoire |número=13 |ultimo=Loraux |primeiro=Nicole |paginas=17–42 |lingua=fr |doi=10.4000/clio.132 |issn=1252-7017 |ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |titulo=Aspasia, Foreigner, Intellectual |número=1 |ultimo=Loraux |primeiro=Nicole |autorlink=Nicole Loraux |ano=2021 |paginas=9–32 |doi=10.5840/jcp2021102823 |ref=harv |volume=2 |journal=Journal of Continental Philosophy}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=lMkkEAAAQBAJ&pg=PA20|título=Spoken Like a Woman: Speech and Gender in Athenian Drama|ultimo=McClure|primeiro=Laura|data=2021-06-08|editora=Princeton University Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=aAGSb9FzGoMC|título=Citizens on Stage: Comedy and Political Culture in the Athenian Democracy|ultimo=McGlew|primeiro=James F.|data=2002|editora=University of Michigan Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=VGmYDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA194&dq=%22aspasia%22&hl=pt-BR|título=Plato's Democratic Entanglements: Athenian Politics and the Practice of Philosophy|ultimo=Monoson|primeiro=S. Sara|data=2013-08-18|editora=Princeton University Press|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://www.google.com.br/books/edition/The_People_of_Plato/cspgDwAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=1&pg=PA58|título=The People of Plato: A Prosopography of Plato and Other Socratics|ultimo=Nails|primeiro=Debra|editora=Princeton University Press|ano=2000|isbn=978-0-87220-564-2|ref=harv}} |
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* {{citar periódico |url=https://www.lib.uiowa.edu/scua/bai/noe.htm |titulo=Susan Glaspell's Analysis of the Midwestern Character |data=1977 |jornal=Books at Iowa |número=27 |ultimo=Noe |primeiro=Marcia |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?redir_esc=y&hl=pt-BR&id=ZnuYKJSoHCMC&pg=PA120|título=Dictionary of Midwestern Literature, Volume 1: ''The Authors''|ultimo=Noe|primeiro=Marcia|data=2001-05-30|editora=Indiana University Press|editor-sobrenome=Greasley, Philip A.|lingua=en|capitulo=George Cram Cook|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico|ultimo=Padilla|primeiro=Mark|data=1999|url=https://web.archive.org/web/20120310105601/http://facstaff.unca.edu/drohner/awomlinks/artherktrach1.htm#_ednref17|titulo=Labor's Love Lost: Ponos and Eros in the Trachiniae|jornal=95th Annual Meeting of the Classical Association of the Middle West and South|local=Cleveland: Ohio|ref=harv}} |
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* {{citar livro|título=History of the Hellenic Nation (Volume Ab)|ultimo=Paparrigopoulos|primeiro=Konstantinos|editora=Eleftheroudakis|ano=1925|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=Yr_lCAAAQBAJ|título=Politics and Philosophy in Plato's ''Menexenus''|ultimo=Pappas|primeiro=Nickolas|ultimo2=Zelcer|primeiro2=Mark|data=2015-05-01|editora=Routledge|local=Londres; Nova Iorque|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://www.scielo.br/j/archai/a/RDdv4k79WWtSpQRmJhTqW7z/?format=pdf&lang=en |titulo=''Paideutikos eros'': Aspasia as an ‘''alter'' Socrates’ |data=2020-05-20 |jornal=Revista Archai |número=30 |ultimo=Pentassuglio |primeiro=Francesca |doi=10.14195/1984-249X_30_15 |issn=2179-4960 |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=8lRIngEACAAJ&newbks=0&hl=pt-BR|título=Perikles and His Circle|ultimo=Podlecki|primeiro=Anthony J.|data=1998-01-25|editora=Routledge|isbn=978-0-415-06794-2|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |titulo=Review: Madeleine M. Henry, ''Prisoner of History'' |número=4 |ultimo=Pomeroy |primeiro=Sarah B. |ano=1996 |jstor=1561953 |ref=harv |volume=117 |journal=The American Journal of Philology}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/The_Greek_World.html?id=JeXteXhnJWkC&pg=PA259|título=The Greek World|ultimo=Powell|primeiro=Anton|data=1995|editora=Psychology Press|lingua=en|capitulo=Athens' pretty face|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=i8IhCwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA419&hl=pt-BR|título=Antisthenes of Athens: Texts, Translations, and Commentary|ultimo=Prince|primeiro=Susan|data=2015-12-03|editora=University of Michigan Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=EEc_DwAAQBAJ&pg=PA62|título=The Staff of Oedipus: Transforming Disability in Ancient Greece|ultimo=Rose|primeiro=Martha L.|data=2013-10-04|editora=University of Michigan Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=0qpkA-7bf18C&newbks=0&printsec=frontcover&dq=Politics+and+Persuasion+in+Aristophanes'+Ecclesiazusae&hl=pt-BR|título=Politics and Persuasion in Aristophanes' Ecclesiazusae|ultimo=Rothwell|primeiro=Kenneth Sprague|data=1990|editora=BRILL|local=Leiden|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=w7H2DwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA27&hl=pt-BR|título=Plato: Menexenus|ultimo=Sansone|primeiro=David|data=2020-08-13|editora=Cambridge University Press|editor-sobrenome=Sansone|editor-nome=David|lingua=en|capitulo=Introduction. (iii) Aspasia|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=l4TwDwAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA68&hl=pt-BR|título=Methodological Reflections on Women’s Contribution and Influence in the History of Philosophy|ultimo=Songe-Møller|primeiro=Vigdis|data=2020-07-11|editora=Springer Nature|editor-sobrenome=Thorgeirsdottir, Sigridur; Hagengruber, Ruth Edith|capitulo=The Goddess and Diotima: Their Role in Parmenides' Poem and Plato's Symposium|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=gapUlA6smS0C|título=The City in Time and Space|ultimo=Southall|primeiro=Aidan|data=1998|editora=Cambridge University Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books/about/A_Commentary_on_Plutarch_s_Pericles.html?id=-MdiAAAAMAAJ|título=A Commentary on Plutarch's Pericles|ultimo=Stadter|primeiro=Philip A.|data=1989|editora=University of North Carolina Press|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=9hgOM28mmRYC&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA32&hl=pt-BR|título=Reclaiming Rhetorica: Women in the Rhetorical Tradition|ultimo=Swearingen|primeiro=C. Jan|data=1995-04-15|editora=University of Pittsburgh Pre|editor-sobrenome=Lunsford, Andrea A.|lingua=en|capitulo=A Lover's Discourse: Diotima, Logos and Desire|ref=harv}} |
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* {{citar livro|título=Symposium (Introduction and Comments) -in Greek|ultimo=Sykoutris|primeiro=Ioannis|editora=Estia|ano=1934|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://archive.org/details/platothemanandhi032950mbp/page/n7/mode/2up|título=Plato: The Man and His Work|ultimo=Taylor|primeiro=A.E.|editora=Methuen|ano=1955|isbn=978-0-486-41605-2|ref=harv|edição=6ª}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=m2nIIkh7KbIC&newbks=0|título=Jewish Women Philosophers of First-Century Alexandria: Philo's 'Therapeutae' Reconsidered|ultimo=Taylor|primeiro=Joan E.|data=2003-11-20|editora=OUP Oxford|local=Nova Iorque|lingua=en|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=qW1hDwAAQBAJ&pg=PA2068|título=Platonic Patterns|ultimo=Thesleff|primeiro=Holger|data=2009-04-07|editora=Parmenides Publishing|local=Las Vegas; Zurique; Atenas|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://repository.brynmawr.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1015&context=polisci_pubs |titulo=The Rhetoric of Parody in Plato's Menexenus |data=2009 |jornal=Philosophy & Rhetoric |número=1 |ultimo=Trivigno |primeiro=Franco V. |paginas=29–58 |issn=0031-8213 |volume=42 |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com/books?id=36ZxEAAAQBAJ&newbks=0&printsec=frontcover&pg=PA208&hl=pt-BR|título=Women in Classical Video Games|ultimo=Tuplin|primeiro=Roz|data=2022-08-11|editora=Bloomsbury Publishing|editor-sobrenome=Draycott, Jane; Cook, Kate|local=Londres; Nova Iorque; Dublin|lingua=en|capitulo='We do What we Must to Survive': Female Sex Workers in ''Assassin's Creed: Odyssey''|ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=x7ngECDpxmMC&pg=PA76|título=Ancient Women Philosophers: 600 B.C.-500 A. D.|ultimo=Waithe|primeiro=Mary Ellen|data=1987-04-30|editora=Springer Science & Business Media|editor-sobrenome=Waithe, Mary Ellen|local=Dordrecht; Boston; Lancaster|capitulo=Aspasia of Miletus|ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://www.bbc.com/portuguese/geral-57255352 |titulo=O enigma de Aspásia, a mulher mais famosa da época de ouro da Grécia, e que conquistou Péricles e Sócrates |data=17 de julho de 2021 |jornal=BBC News Brasil |ultimo=Ventura |primeiro=Dalia |lingua=pt-BR |ref=harv}} |
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* {{Citar livro|url=https://books.google.com.br/books?id=x7ngECDpxmMC&pg=PA83|título=Ancient Women Philosophers: 600 B.C.-500 A. D.|ultimo=Waithe|primeiro=Mary Ellen|data=1987-04-30|editora=Springer Science & Business Media|editor-sobrenome=Waithe, Mary Ellen|páginas=83-114|lingua=en|capitulo=Diotima of Mantinea|ref=harv}} |
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* {{citar periódico |url=http://ccat.sas.upenn.edu/bmcr/1996/96.04.07.html |titulo=Madeleine M. Henry, ''Prisoner of History. Aspasia of Miletus and her Biographical Tradition'' |data=1997 |jornal=Bryn Mawr Classical Review |ultimo=Wallace |primeiro=Robert W. |volume=4 |ref=harv}} |
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* {{Citar periódico |url=https://www.jstor.org/stable/3810062 |titulo=Women Philosophers in the Ancient Greek World: Donning the Mantle |data=1986 |jornal=Hypatia |número=1 |ultimo=Wider |primeiro=Kathleen |paginas=21–62 |issn=0887-5367 |volume=1 |ref=harv}} |
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Revisão das 02h19min de 10 de outubro de 2022
Aspásia Ἀσπασία | |
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Herma de mármore nos Museus Vaticanos, inscrita com o nome de Aspásia na base. Descoberta em 1777, esta herma é uma cópia romana de uma original do século V a.C. Possivelmente copiada de seu túmulo, pode representar a estela funerária de Aspásia.[1] | |
Nascimento | c. 470 a.C. Mileto |
Morte | antes de 399 a.C. |
Aspásia[2] (em grego clássico: Ἀσπασία /as.pa.sí.aː/; c. 470 – depois de 428 a.C.)[nota 1] foi uma mulher meteca de Atenas Antiga. Nascida em Mileto, mudou-se para Atenas e começou um relacionamento com o estadista Péricles, com quem teve um filho chamado Péricles, o Jovem. De acordo com uma narrativa histórica tradicional, ela teria trabalhado como cortesã (hetera) e foi julgada por asebeia (impiedade), mas acadêmicos modernos questionam a base factual de qualquer uma dessas alegações, ambas derivadas da comédia antiga. Historiadores recentes tentam desconstruir mal entendidos ou mitos de que ela fora uma prostituta.[7] Ela é a única mulher na Atenas Clássica cujo renome intelectual é conhecido, e mesmo assim era estrangeira.[8]
Embora Aspásia seja uma das mulheres mais atestadas do mundo greco-romano e a mulher mais importante da história da Atenas do século V, quase nada é certo sobre sua vida. Seu papel na história fornece insights cruciais para a compreensão das mulheres da Grécia antiga, das quais muito pouco se sabe em seu período. Madeleine M. Henry afirmou que "fazer perguntas sobre a vida de Aspásia é fazer perguntas sobre metade da humanidade".[9]
Aspásia é mencionada nos escritos de Platão, Aristófanes, Xenofonte, Antístenes, Ésquines Socrático e outros. Foi retratada na Comédia Antiga como prostituta e madame, e na filosofia antiga como professora e retórica. A partir de sua representação em obras por discípulos socráticos, e por ser referida no diálogo platônico Menexêno como tendo sido orientadora de Sócrates, de Péricles e outros na arte da oratória, ela foi considerada na tradição clássica posterior como uma contraparte feminina de Sócrates.
Aspásia continuou a ser assunto de artistas visuais e literários até o presente. Ela aparece em várias obras importantes da literatura moderna. Sua ligação romântica com Péricles inspirou alguns dos romancistas e poetas mais famosos dos últimos séculos. Em particular, diversos escritores românticos do século XIX e romancistas históricos do século XX encontraram em sua história uma fonte inesgotável de inspiração. A partir do século XX, entre mulheres, teóricos de estudos de gênero e na literatura e artes, ela foi retratada como uma mulher sexualizada e sexualmente liberada, e como um modelo feminista lutando pelos direitos das mulheres na Atenas Antiga.
Evidências sobre Aspásia
Série de artigos sobre |
Sócrates |
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"Só sei que nada sei" "A vida não examinada não vale a pena ser vivida" · Julgamento de Sócrates |
Conceitos epônimos |
Diálogo socrático · Intelectualismo socrático Ironia socrática · Método socrático Paradoxo socrático · Questionamento socrático Problema socrático · Socratici viri · Maiêutica |
Discípulos |
Platão · Xenofonte Antístenes · Aristipo · Ésquines Associados: Alcibíades · Simão, o Sapateiro |
Influências atribuídas |
Diotima de Mantineia · Aspásia · Anaxágoras |
Tópicos relacionados |
Megáricos · Cinismo · Cirenaicos Platonismo Aristotelismo Estoicismo Ética das Virtudes · As Nuvens |
Categoria |
Aspásia foi uma figura importante—e a mulher mais importante—na história da Atenas do século V,[10] e é uma das mulheres do mundo greco-romano com as tradições biográficas mais substanciais.[11] As primeiras fontes literárias a mencionar Aspásia, escritas durante sua vida, são da comédia ateniense,[11] e no século IV a.C ela aparece em diálogos socráticos.[12] Após o século IV, ela aparece apenas em breves menções a textos completos, ou em fragmentos cujo contexto íntegro se perdeu,[13] até o século II d.C., quando Plutarco escreveu sua Vida de Péricles, o mais longo e completo tratamento biográfico de Aspásia na Antiguidade.[9] As biografias modernas de Aspásia dependem de Plutarco,[14] apesar de ele ter escrito quase sete séculos após a morte dela.[9]
"Devemos nos contentar com as fontes que a mencionam, mesmo quando elas distorcem fundamentalmente a realidade."—Nicole Loraux, Aspasia, Foreigner, Intellectual.[15]
O problema principal permanece, como destaca Jona Lendering, de que nada sabemos com certeza sobre Aspásia além de que era amante de Péricles, o resto se baseando em hipóteses.[16] Tucídides não a menciona; nossas únicas fontes são as representações e especulações não confiáveis registradas pelos homens na literatura e na filosofia.[17][18] Portanto, na figura de Aspásia, temos uma série de retratos contraditórios; ela aparece considerada como desde uma boa esposa como Teano, até a alguma combinação de cortesã e prostituta como Targélia.[19] Esta é a razão pela qual os estudiosos modernos expressam seu ceticismo sobre a historicidade da vida de Aspásia.[17]
É difícil tirar conclusões firmes sobre a verdadeira Aspásia a partir de qualquer uma dessas fontes: como diz Robert Wallace, "para nós, a própria Aspásia possui e pode possuir quase nenhuma realidade histórica".[17] Portanto, Madeleine M. Henry sustenta que "as anedotas biográficas que surgiram na antiguidade sobre Aspásia são extremamente coloridas, quase completamente inverificáveis e ainda estão vivas e bem no século XX". Ela finalmente conclui que "é possível mapear apenas as possibilidades mais simples da vida [de Aspásia]".[20] De acordo com Charles W. Fornara e Loren J. Samons II, "pode muito bem ser, pelo que sabemos, que a verdadeira Aspásia foi mais do que uma equivalente para sua contraparte fictícia".[21]
Além de seu nome, nome do pai e local de nascimento, a biografia de Aspásia é quase inteiramente inverificável, e os escritos antigos sobre ela são frequentemente mais uma projeção de seus próprios preconceitos (em grande parte masculinos) do que fatos históricos.[22] A biografia completa por Madeleine Henry cobre o que se sabe da vida de Aspásia em apenas nove páginas.[23]
Biografia
Primeiros anos
Aspásia nasceu, provavelmente não antes de 470 a.C,[nota 2][25] na cidade grega jônica de Mileto[nota 3] (na moderna província de Aydın, Turquia). Pouco se sabe sobre sua família, exceto que o nome de seu pai era Axíoco, de uma família rica.[27][28] Seu nome, relacionado ao grego aspázomai (ἀσπάζομαι, "abraçar"),[29] podia significar "a desejada",[7] "a mulher abraçada/abraçadora", "a deleitante",[30] "acolhida" ou "bajuladora",[31] o que levou a trocadilhos antigos[30] e desentendimento por alguns historiadores que, levados por tais significados, consideraram esse nome como possivelmente não sendo seu verdadeiro.[7] Era comum, porém, que alguns nomes femininos populares na Grécia possuíssem significados como "amada" e "doçura".[7]
Um escoliasta de Élio Aristides afirma erroneamente que Aspásia era uma prisioneira de guerra cária que se tornou uma escrava;[32] isso talvez se deva à confusão com a concubina de Ciro, o Jovem, também chamada Aspásia.[33] Essas declarações são geralmente consideradas falsas.[nota 4][16]
A vida em Atenas
As circunstâncias da mudança de Aspásia para Atenas são desconhecidas.[32] Uma teoria, apresentada pela primeira vez por Peter Bicknell com base em uma inscrição no túmulo do século IV, sugere que Alcibíades de Escambônidas, o avô do famoso Alcibíades, casou-se com a irmã de Aspásia enquanto ele estava exilado em Mileto após seu ostracismo, e Aspásia foi com ele quando voltou para Atenas.[32] Bicknell especula que isso foi motivado pela morte do pai de Aspásia, Axíoco, na revolta em Mileto após sua secessão da Liga de Delos em 455–454 a.C.[35]
De acordo com um entendimento convencional inicial da vida de Aspásia, baseado em declarações disputadas dos escritores antigos e de alguns estudiosos modernos, ela teria se tornado hetera e depois dirigiu um bordel.[nota 5][39][40] As hetairas eram artistas profissionais de alta classe, bem como cortesãs. Além de exibir beleza física, diferiam da maioria das mulheres atenienses por serem educadas (geralmente com um alto padrão, como evidentemente Aspásia era), por terem independência e por pagarem impostos.[41][42] Segundo Plutarco, Aspásia era comparada à famosa Targélia, outra renomada hetera jônica dos tempos antigos.[43]
Alguns acadêmicos questionaram essa visão. Peter Bicknell observou que os "epítetos pejorativos aplicados a ela por dramaturgos cômicos" não são confiáveis.[25] Madeleine Henry, por sua vez, argumentou em sua biografia de Aspásia que "não somos obrigados a acreditar que Aspásia era uma prostituta porque um poeta cômico diz que ela era", e que o retrato de Aspásia como envolvido no comércio sexual deveria "ser considerado com grande suspeita".[44] Cheryl Glenn afirmou que Aspásia, na verdade, abriu uma academia para mulheres que se tornou "um salão popular para os homens mais influentes da época", incluindo Sócrates, Platão e Péricles,[45] e Rebecca Futo Kennedy sugeriu que as acusações em comédia de que ela era uma dona de bordel derivavam disso.[46] Apesar desses desafios à narrativa tradicional, muitos acadêmicos continuaram acreditando que Aspásia trabalhou como uma cortesã ou madame.[47] Konstantinos Kapparis alegou que os tipos de ataques cômicos feitos a Aspásia não seriam aceitáveis para uma mulher respeitável e que, portanto, é provável que Aspásia tivesse uma história como trabalhadora do sexo antes de começar seu relacionamento com Péricles.[48] Se Aspásia trabalhou ou não como cortesã, sua vida posterior, na qual ela aparentemente alcançou algum grau de poder, reputação e independência, tem semelhanças com as vidas de outras hetairas proeminentes, como Friné.[49]
Como uma mulher não ateniense, Aspásia estava menos ligada às restrições tradicionais que confinavam amplamente as esposas atenienses a suas casas e parece ter aproveitado a oportunidade para participar da vida pública da pólis. Lá, Aspásia conheceu e começou um relacionamento com o estadista Péricles, e se tornou a companheira dele por volta de 445 a.C. Depois que ele se divorciou de sua primeira esposa (talvez c. 450 a.C.), Aspásia começou a morar com ele, embora seu estado civil seja contestado.[nota 6] É também incerto como eles se conheceram;[53] se a tese de Bicknell estiver correta, ela pode tê-lo conhecido através de sua conexão com a casa de Alcibíades.[35] Kennedy especula que quando Clínias, filho do mais velho Alcibíades, morreu na Batalha de Coroneia, Péricles pode ter se tornado o kurios (guardião) de Aspásia.[46] O relacionamento de Aspásia com Péricles começou em algum momento entre 452 e 441.[nota 7][54] A natureza exata do relacionamento de Péricles e Aspásia é contestada. Autores antigos a retratavam como uma prostituta, sua concubina ou sua esposa.[55] Os acadêmicos modernos também estão divididos. Rebecca Futo Kennedy argumenta que eles eram casados;[56] Debra Nails descreve Aspásia como "a esposa de fato de Péricles";[32] Madeleine Henry acredita que a lei de cidadania de Péricles de 451–450 tornou ilegal o casamento entre um ateniense e alguém meteco, e sugere uma pallakia ("concubinato") quase conjugal imposta por contrato;[57] e Sue Blundell descreve Aspásia como uma hetaira e amante de Péricles.[58]
A partir das descrições, considera-se que, nos círculos sociais, Aspásia era conhecida por sua habilidade como conversadora e conselheira, e não apenas como um objeto de beleza física.[40] Plutarco escreve que amigos de Sócrates traziam suas esposas para ouvi-la conversar.[nota 8]
Aspásia e Péricles tiveram um filho, Péricles, o Jovem, nascido o mais tardar em 440–439 a.C.[nota 9][53] Na época do nascimento de Péricles, o Jovem, ele tinha dois filhos legítimos, Páralo e Xantipo. Em 430–429, após a morte de seus dois filhos mais velhos, Péricles propôs uma emenda à sua lei de cidadania de 451–450 que tornaria Péricles, o Jovem, capaz de se tornar cidadão e receber herança. Embora muitos estudiosos acreditem que isso foi especificamente para Péricles, alguns sugeriram que uma exceção mais geral foi introduzida, em resposta ao efeito da Peste de Atenas e da Guerra do Peloponeso nas famílias dos cidadãos.[62]
Anos tardios e morte
Em 429 a.C., durante a Praga de Atenas, Péricles testemunhou a morte de sua irmã e de seus dois filhos legítimos, Páralo e Xantipo, de sua primeira esposa. Com o moral debilitado, ele começou a chorar, e nem a companhia de Aspásia o consolou. Ele morreu neste mesmo ano. Pouco antes de sua morte, os atenienses permitiram uma mudança na lei de cidadania de 451 a.C., que fez seu filho meio ateniense com Aspásia, Péricles, o Jovem, cidadão e herdeiro legítimo.[63]
De acordo com fontes antigas, Aspásia casou-se com outro político, Lísicles, um estratego ateniense (general) e líder democrático; e que ela teria feito dele o homem de cargo mais alto em Atenas. Com ele, Aspásia teria dado à luz outro filho, Poristes.[nota 10][64][43] Como "Poristes" não é conhecido como um nome – significa "fornecedor" ou "provedor",[65] e era um eufemismo para "ladrão"[66] – alguns acadêmicos argumentaram que o nome vem de um incompreensão de uma piada em uma comédia.[65][67][46] Henry duvida se Aspásia teve um filho com Lísicles,[65] e Kennedy questiona se ela se casou com ele.[46] Pomeroy, no entanto, sugere que o nome incomum de Poristes pode ter sido escolhido por Lísicles por razões políticas, para chamar a atenção para o seu fornecimento para o povo de Atenas.[68] Nails, contra Kahn, considera plausível o casamento, dado que era necessário que Aspásia tivesse um guardião legal (kyrios) em Atenas.[32]
Lísicles foi morto em ação em uma expedição para cobrar subsídios de aliados[69] em 428 a.C.,[70] um ano depois de Péricles. Nada é registrado sobre a vida de Aspásia após este ponto.[32] Não há informações sobre se ela estava viva quando seu filho, Péricles, foi eleito general ou quando ele foi executado após a Batalha das Arginusas. Não se sabe onde ou quando ela morreu.[1] O tempo de sua morte que a maioria dos historiadores dá (c. 401–400 a.C.) baseia-se na avaliação de que Aspásia morreu antes da execução de Sócrates em 399 a.C., uma cronologia implícita na estrutura do Aspásia de Ésquines de Esfeto.[34][5]
Ataques pessoais e judiciais
Embora fossem influentes, Péricles, Aspásia e seus amigos não estavam imunes a ataque, pois a preeminência na Atenas democrática não era equivalente ao domínio absoluto.[21] Seu relacionamento com Péricles e sua subsequente influência política despertaram muitas reações. Donald Kagan acredita que Aspásia era particularmente impopular nos anos imediatamente após a Guerra Sâmia.[71] Em 440 a.C., Samos estava em guerra com Mileto por Priene, uma antiga cidade de Jônia, no sopé de Mícale. Piores na guerra, os milesianos vieram a Atenas para defender seu caso contra os sâmios.[72] Quando os atenienses ordenaram que os dois lados parassem de lutar e submetessem o caso à arbitragem em Atenas, os sâmios recusaram. Em resposta, Péricles aprovou um decreto despachando uma expedição a Samos.[73] A campanha provou ser difícil e os atenienses tiveram que suportar pesadas baixas antes de Samos ser derrotada. Segundo Plutarco, pensava-se que Aspásia, que veio de Mileto, era responsável pela Guerra Sâmia e que Péricles havia decidido contra e atacado Samos para gratificá-la.[43]
"Até agora, o mal não era grave e nós éramos os únicos sofredores. Mas agora alguns jovens bêbados vão a Mégara e levam a cortesã Simaeta; os megarianos, feridos rapidamente, fogem por sua vez com duas prostitutas da casa de Aspásia; e assim por três prostitutas a Grécia é incendiada. Então Péricles, incendiado de ira em sua altura olímpica, soltou o raio, provocou o trovão, perturbou a Grécia e aprovou um decreto, que corria como a canção: Que os megarianos sejam banidos de nossa terra e de nossos mercados e de o mar e do continente."
Peça cômica de Aristófanes, Os Acarnânios linhas 523–533
Segundo alguns relatos posteriores, antes da erupção da Guerra do Peloponeso (431–404 a. C.), Péricles, alguns de seus associados mais próximos (incluindo o filósofo Anaxágoras e o escultor Fídias) e Aspásia enfrentaram uma série de ataques pessoais e legais. Aspásia, em particular, foi acusada na comédia de corromper as mulheres de Atenas, a fim de satisfazer as perversões de Péricles.[nota 11] De acordo com Plutarco, ela foi julgada por impiedade (asebeia), com o poeta cômico Hermipo como promotor.[nota 12][75][76] Ela teria sido supostamente defendida por Péricles e absolvida.[67] Muitos acadêmicos questionaram se esse julgamento aconteceu, sugerindo que a tradição deriva de um julgamento fictício de Aspásia em uma peça de Hermipo.[17] A substância histórica dos relatos sobre esses eventos é contestada; é improvável que uma mulher não ateniense pudesse estar sujeita a processos desse tipo (a responsabilidade legal recairia sobre seu protetor ou kyrios, neste caso Péricles, que poderia ser implicado), e nenhum dano lhe ocorreu como resultado.[77] Vincent Azoulay compara o julgamento de Aspásia aos de Fídias e Anaxágoras, ambos também ligados a Péricles, e conclui que "nenhum dos julgamentos por impiedade envolvendo pessoas próximas a Péricles é atestado com certeza".[78]
Em Os Acarnânios, Aristófanes responsabiliza Aspásia pela Guerra de Peloponeso. Ele alega que o decreto megariano de Péricles, que excluía Mégara do comércio com Atenas ou seus aliados, era uma retaliação por prostitutas sequestradas da casa de Aspásia por megarianos.[39] O retrato de Aristófanes de Aspásia como responsável, por motivos pessoais, pelo início da guerra com Esparta pode refletir a memória do episódio anterior envolvendo Mileto e Samos.[79] Plutarco relata também os comentários provocadores de outros poetas cômicos, como Eupólide e Crátinos.[43] Segundo Podlecki, Douris parece ter proposto a visão de que Aspásia instigou ambas as Guerras Sâmia e Peloponesa.[80]
Aspásia foi rotulada como "Nova Ônfale", "Dejanira",[nota 13] "Hera"[nota 14] e "Helena".[nota 15][84] Mais ataques à relação de Péricles com Aspásia são relatados por Ateneu.[85] Até o próprio filho de Péricles, Xantipo, que tinha ambições políticas, criticou prontamente o pai sobre seus assuntos domésticos.[86]
Legado
Obras filosóficas antigas
No período clássico, duas escolas de pensamento se desenvolveram em torno de Aspásia. Uma tradição, derivada da Comédia Antiga, enfatiza sua influência sobre Péricles e seu envolvimento no comércio sexual; a outra, que remonta à filosofia do século IV, concentra-se em seu intelecto e habilidade retórica.[87] Sua reputação como professora e retórica deriva-se de Diodoro Periegeta e dos discípulos socráticos (com exceção de Antístenes).[88] As referências de testemunhos de autores que podem tê-la conhecido ou que ouviram de contemporâneos que a conheceram não a caracterizam nem como hetaira, nem como prostituta (pornê).[89]
Tradição cômica
As únicas fontes antigas sobreviventes para discutir Aspásia que foram escritas durante sua vida são da comédia. A tradição cômica sobrevivente sobre Aspásia—ao contrário de seus contemporâneos do sexo masculino—concentra-se em sua sexualidade.[90] Aristófanes, o único escritor de Comédia Antiga de quem sobreviveram obras completas, refere-se a Aspásia apenas uma vez em seu corpus sobrevivente, em Os Acarnânios.[91] Em uma passagem que parodia o início das Histórias de Heródoto,[92] Aristófanes brinca que o decreto megárico foi uma retaliação pelo sequestro de duas pornai ("prostitutas") de Aspásia.[46] Uma acusação semelhante, atribuída por Plutarco a Duris de Samos, de que Aspásia teria sido responsável pelo envolvimento de Atenas na Guerra Sâmia, pode ter derivado disso.[nota 16][17] A menção das pornai de Aspásia em Os Acarnânios também é o exemplo mais antigo conhecido da tradição de que ela trabalhava como bordel.[94]
Fora de Aristófanes, as menções de Aspásia são conhecidas dos fragmentos sobreviventes de Cratino e Eupólide.[95] Em um fragmento de Quíron de Cratino, Aspásia é descrita como "Hera-Aspásia, uma concubina com olhos de cachorro".[96] Eupólide menciona Aspásia pelo nome em três fragmentos sobreviventes. Em Proslapatianos, ela é comparada a Helena de Troia—como Aspásia, culpada por iniciar uma guerra—e em Philoi a Ônfale, que possuía Hércules como escrava.[97] Eupólide também aludiu a Aspásia em Demes, onde Péricles, tendo ressuscitado dos mortos, pergunta por seu filho; ele é informado de que está vivo, mas tem vergonha de ter uma porne como mãe.[98] Aspásia também é conhecida por ter sido mencionada por Cálias, embora o escólio do Menexêno de Platão que relata isso seja distorcido e é incerto o que Cálias disse sobre ela.[99] Ela também pode ter aparecido em uma peça de Hermipo—esta é possivelmente a fonte da anedota contada por Plutarco de que Aspásia foi processada por ele por asebeia e por fornecer mulheres nascidas livres para Péricles fazer sexo.[100] Autores posteriores seguiram a tradição cômica ao focar na sexualidade de Aspásia e na influência imprópria sobre Péricles, por exemplo na Erotika, de Clearco de Soles.[101]
Tradição filosófica
No século IV a.C., quatro filósofos são conhecidos por terem escrito diálogos socráticos que apresentam Aspásia. O de Antístenes a retrata de forma negativa, de certa forma parecida com sua representação na comédia; Ésquines Socrático e Xenofonte mostram-na de uma forma mais positiva.[102] Nos diálogos de Platão, Xenofonte e Ésquines, Aspásia é retratada como uma retórica educada e habilidosa e uma fonte de conselhos para questões conjugais.[103] Alguns consideram por isso que influenciou Péricles em suas retóricas públicas.[104] Outros acadêmicos chegaram a acreditar que Aspásia inaugurou uma escola para jovens mulheres de boas famílias e que teria sido responsável pela invenção do método socrático.[104][105]
Holger Thesleff sugere que Aspásia foi objeto de uma tradição de lendas socráticas, nas quais teria sido ela quem ensinara a "arte do amor" (erotika) a Sócrates, e é presumível que nisso o diálogo de Ésquines seja anterior ao O Banquete platônico.[106] Há quem argumente que Platão recebeu impressão dos relatos sobre Aspásia e baseou nela sua personagem Diotima em O Banquete;[107] pelo menos ambas as representações dessas mulheres estão associadas por paralelos de uma teoria do eros socrático.[106][108] Já outros sugerem que Diotima era de fato uma figura histórica.[109][110][111] Thesleff também afirma que Diotima foi uma reformulação platônica de Aspásia.[106] De acordo com Charles Kahn, Diotima é, em muitos aspectos, a resposta de Platão à Aspásia de Ésquines.[112] Armand D'Angour propõe que Aspásia influenciou profundamente Sócrates e que teria sido retratada, de forma codificada, em Diotima por Platão.[113][107]
"Agora, já que se pensa que ele agiu assim contra os sâmios para gratificar Aspásia, este pode ser um local adequado para levantar a questão sobre a grande arte ou poder que essa mulher tinha, que ela manejou ao agradar aos homens mais importantes do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos."
Plutarco, Péricles, XXIV
Nos períodos helenístico e romano, alguns autores seguiram o retrato mais positivo de Aspásia na literatura socrática, distanciando-a da prostituição e situando-a numa tradição de mulheres sábias. Vários autores antigos, a partir de fontes secundárias, figuraram um Sócrates que admirava e respeitava profundamente Aspásia.[114]
Dídimo Calcêntero escreveu sobre mulheres excepcionais na história em sua Symposiaka, minimizando sua sexualidade, mas notando sua influência na filosofia de Sócrates e na retórica de Péricles.[101]
Em Roma, Cícero e Quintiliano usaram a conversa entre Aspásia e Xenofonte no diálogo de Ésquines como um bom exemplo de inductio.[115]
Xenofonte, Ésquines e Antístenes
Ela é mostrada como habilidosa em conselhos casamenteiros, nas obras Memoráveis e Econômico de Xenofonte e nos fragmentos que restam do diálogo Aspásia por Ésquines Socrático.[116] A representação nesse diálogo por Ésquines levou acadêmicos modernos a consideraram Aspásia uma "alter Sócrates", alcunha criada por Rudolf Hirzel em 1895 e reutilizada por outros estudiosos; diversas fontes antigas indicam uma tradição que também a associava ao método paidêutico de eros socrático.[108]
Xenofonte menciona Aspásia duas vezes em seus escritos socráticos. Nos dois casos, seu conselho é recomendado a Critóbulo por Sócrates. Em Memoráveis, Sócrates cita Aspásia dizendo que a casamenteira deveria relatar com sinceridade as boas características do homem.[117] Em Econômico, Sócrates defere a Aspásia como mais conhecedora da administração familiar e da parceria econômica entre marido e mulher.[118]
Ésquines Socrático e Antístenes nomearam cada um por "Aspásia" um diálogo socrático (embora nenhum sobreviva, exceto em fragmentos). Nossas principais fontes para o Aspásia de Ésquines Socrático são Ateneu, Plutarco e Cícero. No diálogo, Sócrates recomenda que Cálias envie seu filho Hipônico a Aspásia para obter instruções. Quando Cálias recua diante da noção de uma professora mulher, Sócrates observa que Aspásia havia influenciado favoravelmente Péricles e, depois de sua morte, Lísicles. Em uma seção do diálogo, preservada em latim por Cícero, Aspásia afigura-se como uma "Sócrates feminina", aconselhando primeiro a esposa de Xenofonte e depois o próprio Xenofonte (o Xenofonte em questão não é o famoso historiador) sobre a aquisição de virtude através do autoconhecimento.[112][119] Ésquines apresenta Aspásia como professora e inspiradora de excelência, conectando essas virtudes com seu status de hetaira.[59] Na opinião de Kahn, todos os episódios da Aspásia de Ésquines seriam não apenas fictícios, mas incríveis.[120]
No Aspásia de Antístenes, apenas duas ou três citações existem.[34] Esse diálogo contém muitas calúnias, mas também histórias relacionadas à biografia de Péricles.[121] Antístenes parece ter atacado não apenas Aspásia, mas toda a família de Péricles, incluindo seus filhos. O filósofo acredita que o grande estadista escolheu a vida do prazer em vez da virtude.[122] Assim, Aspásia é apresentada como a personificação da vida de indulgência sexual.[59]
Platão
O diálogo platônico Menexêno foi o mais influente na formação da imagem de Aspásia como instrutora de oratória a figurões, que detinha excelência tanto na emissão quanto na composição.[123] Cita-se Sócrates afirmando que ela era sua mestre (διδάσκαλος) e treinadora de muitos oradores, e que, já que ele e Péricles foram educados por Aspásia, seriam superiores em retórica a alguém educado por Antifonte:[124]
"Que eu fosse capaz de fazer o discurso não seria nada maravilhoso, Menexeno; pois ela que é minha instrutora não é de forma alguma fraca na arte da retórica; pelo contrário, ela produziu muitos bons oradores, e entre eles um que superou todos os outros gregos, Péricles, filho de Xantipo."—Platão, Menexêno, 235e
Sócrates também atribui que ela compôs a Oração Fúnebre de Péricles,[123] e ataca a veneração de Péricles por seus contemporâneos.[125] Kahn sustenta que Platão tirou de Ésquines o motivo de Aspásia como professora de retórica de Péricles e Sócrates.[112] A Aspásia de Platão e a Lisístrata de Aristófanes são duas exceções aparentes à regra da incapacidade das mulheres como oradoras, embora essas personagens fictícias não nos digam nada sobre o status real das mulheres em Atenas.[18] Como explica Martha L. Rose, "apenas na comédia os cães litigam, os pássaros governam ou as mulheres declamam".[126]
Nos estudos acadêmicos é problemática a abordagem sobre como se interpretar a figura de Aspásia no diálogo Menexêno, pois pode ser encarada de uma ou outra maneira, conforme as perspectivas das outras poucas fontes antigas restantes sobre ela: há intérpretes, por exemplo, que, tendo em vista a tradição cômica, apontam o diálogo como a apresentando negativamente, enquanto outros consideram-na uma figura positiva, tal qual a tradição clássica, que aceitara como genuína a exposição platônica de sua expertise em retórica.[127]
Há muitos autores que interpretaram essa apresentação como sendo irônica ou uma paródia, especulando-se diversos motivos, segundo o que Aspásia poderia representar no contexto grego da época: alguns supõem escárnio e sarcasmo em lhe atribuir o ensino da arte retórica, por ser associada a papéis de cortesã, mulher ou estrangeira, bem como por aparecer como uma mestre que, por sua influência feminina, ensinara diversos homens a oratória (um dos tópicos da comédia era de que políticos tendiam a falar com as "bocas de prostitutas"); ou então por se lhe atribuir a autoria de uma famosa oração de Péricles.[128][129][130][131][132][58] Outros também afirmam que há elementos de sátira.[128][133][134] Interpretações mais recentes consideram, porém, que Aspásia possui um papel mais sério.[133][135][136] Há quem identifica nessa construção um uso por Platão de uma figura famosa do gênero feminino para indicar uma subversão de várias atitudes atenienses tradicionais, como quanto a autoctonia, eros, maternidade e outras questões;[137] Uma das linhas de visão afirma que Platão concedeu reconhecimento autêntico à reputação de filósofa ou retórica dessa personagem histórica.[138]
Como Xenofonte apresentou em seus Memoráveis que Sócrates conhecia Aspásia, a passagem em que Aspásia é afirmada como professora de retórica a Sócrates não é um indicativo automático de paródia.[139] Ao invés de depreciá-la, Platão pode estar libertando-a do foco que recaía sobre sua corte e casamento, assim como na proposta que ele fizera em A República de se haver mulheres talentosas na cidade ideal, Calípole, em que poderiam apresentar sua inteligência fora do ambiente doméstico.[140]
Mark Zelcer considera que não há ironia ou comédia pelo contexto, em que Aspásia tem importância como autora de duas orações, e devido à audiência contemporânea ateniense a que Platão intencionava se dirigir: Aspásia seria reconhecida como a figura pública que encarnava o pensamento de Péricles após sua morte e podia ser vista como a melhor representante à escolha feita por Platão de colocá-la como arrependida de sua ideologia política, após a morte de seu filho na guerra pelos ideais pericleanos, apresentando-se então no diálogo como simpática a Sócrates. Zelcer argumenta que seria cruel figurá-la em meio a uma piada, já que ela encarnava no imaginário público os ideais de Péricles e possivelmente era vista pelos atenienses como uma viúva e mãe em luto, após seu filho ter sido executado pela democracia ateniense (isso ocorreria cerca de 20 anos após a peça cômica Os Acarnânios). Insinuações de zombaria exigiriam um ganho literário muito alto para compensar.[141]
Obras modernas sobre Aspásia
O retrato pós-clássico mais antigo de Aspásia está nas cartas de Heloísa de Argenteuil a Pedro Abelardo.[142] Heloísa cita a conversa de Aspásia com Xenofonte e sua esposa no diálogo de Ésquines, que ela provavelmente conhecia pela referência de Cícero a ele, e propõe Aspásia como um exemplo de como ela deveria viver sua própria vida.[143]
No final do período medieval e início da era moderna, Aspásia apareceu em vários catálogos, um gênero de moda na época. Ela foi incluída em três "livros medalhão", com um retrato imaginado e uma breve biografia. O primeiro deles foi Promptuarium Iconum, de Guillaume Rouille, que deriva sua representação de Aspásia de Plutarco e se concentra em seu relacionamento com Péricles;[144] Na Iconografia de Giovanni Angelo Canini, Aspásia é retratada usando capacete e escudo.[145] Ela também apareceu em dois catálogos de mulheres neste período como professora e filósofa; em Tirannia Paterna, de Arcangela Tarabotti, que a retrata como professora de retórica, e Historia Mulierum Philosopharum, de Gilles Ménage, na qual é descrita como ensinando retórica a Péricles e Sócrates, e filosofia a Sócrates.[146]
No século XVIII, Aspásia era amplamente conhecida para ser incluída em dicionários e enciclopédias, onde as representações dela foram amplamente baseadas em Plutarco.[145] Em 1736, Jean Leconte de Bièvre publicou uma Histoire de deux Aspasies, também baseada na representação de Plutarco, que retratava Aspásia como uma mulher educada e professora de Péricles, bem como sua esposa.[147] O século XVIII também viu a primeira imagem conhecida de Aspásia a ser criada por uma mulher, na figura de Marie Bouliard.[148] A pintura retrata Aspásia com um seio descoberto, olhando para um espelho de mão e com um pergaminho na outra mão. Embora o peito nu faça referência às tradições erotizadas em torno de Aspásia, Madeleine Henry argumenta que o retrato difere de representações mais pornográficas de mulheres, com Aspásia olhando para o espelho em vez de olhar para o espectador, e segurando um pergaminho em vez de um objeto cosmético, como um pente.[149]
No século XIX, a narrativa de Plutarco dominou a interpretação de Aspásia, ou seja, tanto em romances, quanto em pinturas.[150] Nas artes visuais, o lado sexualizado de Aspásia foi representado pela pintura de Jean-Léon Gérôme, Sócrates buscando Alcibíades na Casa de Aspásia, mas essa representação pornografizada era relativamente incomum.[151] A litografia de Sócrates de Honoré Daumier, intitulado Sócrates na Casa de Aspásia, descreve Aspásia como uma "lorette", uma posição social ambígua que se referia a "mulheres soltas, vulgares ou 'liberadas'".[152] Outros artistas do período retrataram uma Aspásia ativa na vida pública e interagindo com os homens mais renomados do período. Na pintura Aspásia no Pnyx, de Henry Holiday, ela é mostrada com outra mulher no local da assembleia ateniense, o centro do espaço público masculino da cidade,[153] enquanto em duas pinturas de Nicolas-André Monsiau ela é mostrada no centro de discussões com intelectuais e políticos atenienses célebres.[154] Em Sócrates e Aspásia, ela conversa com Sócrates e Péricles; em Aspásia em Conversa com os Mais Ilustres Homens de Atenas, Eurípides, Sófocles, Platão e Xenofonte também estão entre os presentes.[155] Em ambas as pinturas, Aspásia está falando e comandando a atenção desses homens.[156] Melissa Ianetta argumenta que o romance de Germaine de Staël, intitulado Corinne, modela sua heroína após Aspásia, colocando-a na mesma tradição de habilidade retórica feminina.[157]
Uma representação alternativa de Aspásia no século XIX a posicionou como uma esposa respeitável. Os autores Walter Savage Landor e Elizabeth Lynn Linton retrataram Aspásia como uma boa esposa vitoriana para Péricles em seus romances Pericles and Aspasia e Amymone: A Romance of the Days of Pericles.[158] Pericles and Aspasia é um dos livros mais famosos de Landor, sendo uma representação da Atenas clássica através de uma série de cartas imaginárias, que contêm numerosos poemas. As cartas são frequentemente infiéis à história real, mas tentam capturar o espírito da Era de Péricles.[159]
Em 1835, Lydia Maria Child, uma abolicionista, romancista e jornalista americana, publicou Philothea, um romance clássico ambientado nos dias de Péricles e Aspásia. Este livro é considerado "a mais elaborada e bem-sucedida das produções da autora", na qual as personagens femininas, incluindo Aspásia, "são retratadas com grande beleza e delicadeza".[160]
A pintura de Lawrence Alma-Tadema, intitulada Phidias and the Frieze of the Parthenon, também mostra Aspásia como uma respeitável companheira dos homens.[161] Em contrapartida, o romance Aspasia (1876), de Robert Hamerling, mostrou-a como uma protofeminista com muito mais agência do que esses relatos romantizados.[162]
Giacomo Leopardi, um poeta italiano influenciado pelo movimento do romantismo, publicou um grupo de cinco poemas conhecidos como o círculo de Aspásia. Esses poemas de Leopardi foram inspirados por sua dolorosa experiência de amor desesperado e não correspondido por uma mulher chamada Fanny Targioni Tozzetti. Leopardi chamou essa pessoa de Aspásia, segundo a companheira de Péricles.[163]
Em 1918, o romancista e dramaturgo George Cram Cook produziu sua primeira peça de teatro, The Athenian Women (uma adaptação de Lisístrata[164]), que retrata Aspásia liderando uma greve pela paz.[165] Cook combinou um tema antiguerra com um cenário grego.[166] A escritora americana Gertrude Atherton em The Immortal Marriage (1927) trata da história de Péricles e Aspásia e ilustra o período da Guerra Sâmia, da Guerra do Peloponeso e da Praga de Atenas.[167]
No século XX foi visto, por um lado, um interesse crescente por Aspásia separadamente de seus relacionamentos com os homens e, por outro, uma preocupação mais lasciva com sua sexualidade.[168] A primeira vertente da recepção de Aspásia viu a escritora, feminista e política letã Elza Rozenberga, que adotou o pseudônimo de Aspazija, modelar sua campanha pelos direitos das mulheres no que ela via como o exemplo de Aspásia.[169] Aspásia também foi adotada como modelo feminista por Judy Chicago, que a incluiu como uma das trinta e nove mulheres que receberam um lugar em sua obra de arte de instalação de 1979, The Dinner Party.[20] Romances recentes tenderam para o retrato mais explicitamente sexualizado de Aspásia, entre elas Achilles His Armor, pelo classicista Peter Green;[170] Darling Pericles, de Madelon Dimont;[170] e Glory and Lightning (1974), de Taylor Caldwell, no qual Aspásia é criada como cortesã,[171] relatando-se a relação histórica sua com Péricles.[167]
Aspásia é uma personagem principal de Assassin's Creed Odyssey, retratada como uma poderosa amante do estadista ateniense Péricles e revelada como a espiã chefe da organização secreta inimiga no roteiro do jogo.[172]
Fama e avaliações
O nome de Aspásia está intimamente ligado à glória e fama de Péricles.[173] Plutarco a aceita como uma figura significativa, tanto política como intelectualmente, e expressa sua admiração por uma mulher que "gerenciou conforme agradava aos principais homens do estado, e proporcionou aos filósofos a oportunidade de discuti-la em termos exaltados e extensos".[43] O biógrafo diz que Aspásia ficou tão conhecida que até Ciro, o Jovem, que entrou em guerra com o rei Artaxerxes II da Pérsia, deu seu nome a uma de suas concubinas, que antes se chamava Milto. Depois que Ciro caiu em batalha, essa mulher foi levada cativa ao rei e adquiriu uma grande influência com ele.[43] Luciano chama Aspásia de "modelo de sabedoria", "admirada pelo admirável Olímpico" e elogia "seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e perspicácia".[174] Um texto siríaco, segundo o qual Aspásia compôs um discurso e instruiu um homem a lê-lo nos tribunais, confirma a fama retórica de Aspásia.[175] Aspásia é dita pela Suda, uma enciclopédia bizantina do século X como tendo disposto de "habilidades e inteligência em relação às palavras", e como tendo sido uma sofista que ensinou retórica.[176]
"Em seguida, tenho que descrever a Sabedoria; e aqui terei ocasião para muitos modelos, muitos deles antigos; um vem, como a própria dama, da Jônia. Os artistas serão Ésquines e Sócrates, seu mestre, o mais realista dos pintores, pois seu coração estava em suas obras. Não poderíamos escolher melhor modelo de sabedoria do que a milesiana Aspásia, admirada pelo admirável "Olímpico"; seu conhecimento e discernimento político, sua astúcia e penetração serão todos transferidos para nossa tela em sua perfeita medida. Aspásia, no entanto, só nos é preservada em miniatura: nossas proporções devem ser as de um colosso."
Com base nessas avaliações, pesquisadores como Cheryl Glenn argumentam que Aspásia parece ter sido a única mulher na Grécia clássica a se distinguir na esfera pública e deve ter influenciado Péricles na composição de seus discursos.[177] Alguns estudiosos acreditam que Aspásia abriu uma academia para jovens mulheres de boas famílias ou que até inventou o método socrático.[177][105] No entanto, Robert W. Wallace ressalta que "não podemos aceitar como histórica a piada de que Aspásia ensinou a Péricles como falar e que, portanto, era uma mestre em retórica ou filósofa". Segundo Wallace, o papel intelectual de Aspásia, dado por Platão, pode ter derivado da comédia.[17] Donald Kagan descreve Aspásia como "uma jovem bonita, independente e brilhantemente espirituosa, capaz de se manter em conversa com as melhores mentes da Grécia e de discutir e esclarecer qualquer tipo de pergunta com o marido".[178] Roger Just acredita que Aspásia era uma figura excepcional, mas apenas seu exemplo é suficiente para enfatizar o fato de que qualquer mulher que se tornasse uma igual intelectual e social a um homem teria que ser uma hetaira.[40] Segundo Prudence Allen, Aspásia elevou o potencial das mulheres para se tornarem filósofas um passo adiante das inspirações poéticas de Safo.[134]
Notas
- ↑ A data de nascimento e morte de Aspásia é incerta. Sua data de nascimento é inferida como c. 470 a.C. com base nas datas de nascimento de seus filhos;[3] nada se sabe sobre sua vida após seu suposto relacionamento com Lísicles (429–428 a.C.),[4] embora a estrutura do diálogo de Ésquines Socrático implique que ela morreu antes da execução de Sócrates em 399.[5]. Debra Nails considera um terminus de após 401/400.[6]
- ↑ Esta data é derivada das datas de nascimento dos dois filhos de Aspásia: Péricles, o Jovem, entre 452 e 440, e Poristes, em 428 a.C.[24] No entanto, alguns acadêmicos duvidam da existência do segundo filho de Aspásia; nesse caso, Aspásia poderia ter nascido algum tempo antes de 470.[17]
- ↑ Ateneu cita Heráclides do Ponto dizendo que Aspásia veio de Mégara; isso aparentemente deriva de um mal-entendido de Os Acarnânios de Aristófanes.[26]
- ↑ De acordo com Debra Nails, se Aspásia não fosse uma mulher livre, o decreto de legitimação de seu filho com Péricles e o casamento posterior com Lísicles (Nails pressupõe que Aspásia e Lísicles eram casados) quase certamente seriam impossíveis.[34]
- ↑ Henry considera uma difamação os relatos de escritores antigos e poetas cômicos de que Aspásia era uma proxeneta e meretriz. Henry argumenta que esses ataques cômicos tentavam ridicularizar o principal cidadão de Atenas, Péricles, e baseavam-se no fato de que, segundo sua própria lei de cidadania, Péricles foi impedido de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado solteiro.[36] Por essas razões, a historiadora Nicole Loraux questiona até mesmo o testemunho de escritores antigos de que Aspásia era uma hetaira ou uma cortesã.[37] Fornara e Samons também descartam a tradição do século V de que Aspásia era uma prostituta e administrava casas de má reputação.[38]
- ↑ Fornara e Samons assumem a posição de que Péricles se casou com Aspásia, mas sua lei de cidadania a declarava uma companheira inválida.[50] Wallace argumenta que, ao se casar com Aspásia, se ele teria se casado com ela, Péricles continuaria uma distinta tradição aristocrática ateniense de se casar com estrangeiros bem conectados.[17] Henry acredita que Péricles foi impedido por sua própria lei de cidadania de se casar com Aspásia e, portanto, teve que viver com ela em um estado não casado.[36] Com base em uma passagem cômica, Henry sugere que o status de Aspásia era o de pallake, ou seja, uma concubina ou esposa solteira de fato.[51] O historiador Arnold W. Gomme ressalta que "seus contemporâneos falavam de Péricles como casado com Aspásia".[52]
- ↑ O relacionamento de Péricles e Aspásia começou após o primeiro casamento de Péricles, que não pode ter terminado antes de 452–451, a data de nascimento mais antiga possível para o segundo filho legítimo de Péricles, Páralo. Deve ter começado em 441–440, a data mais recente possível para a concepção de Péricles, o Jovem, que tinha pelo menos 30 em 410–409 quando era helenotamia.[54]
- ↑ De acordo com Kahn, histórias como as visitas de Sócrates a Aspásia, juntamente com as esposas de seus amigos e a conexão de Lísicles com Aspásia, provavelmente não são históricas. Ele acredita que Ésquines era indiferente à historicidade de suas histórias atenienses e que essas histórias deveriam ter sido inventadas em um momento em que a data da morte de Lísicles havia sido esquecida, mas sua ocupação ainda era lembrada.[59][43]
- ↑ Péricles, o Jovem, tinha pelo menos 30 anos em 410–409, quando era helenotamia e, portanto, nasceu o mais tardar em 440–439 a.C.[60] Aspásia teria que ser bem jovem, se ela pudesse ter um filho com Lísicles depois, c. 428 a.C.[61]
- ↑ De acordo com Debra Nails, se Aspásia não fosse uma mulher livre, o decreto de legitimação de seu filho com Péricles e o casamento posterior com Lísicles (Nails pressupõe que Aspásia e Lísicles eram casados) quase certamente seriam impossíveis.[34]
- ↑ Kagan estima que, se o julgamento de Aspásia aconteceu, "temos melhores razões para acreditar que aconteceu em 438 do que em qualquer outro momento".[71]
- ↑ De acordo com James F. McGlew, não é muito provável que a acusação contra Aspásia tenha sido feita por Hermipo. Ele acredita que "Plutarco ou suas fontes confundiram os tribunais e o teatro".[74]
- ↑ Ônfale e Dejanira foram, respectivamente, a rainha de Lídia que possuiu Héracles como escravo por um ano e sua esposa sofredora. Dramaturgos atenienses interessaram-se por Ônfale a partir de meados do século V. Os comediantes parodiaram Péricles por se parecer com um Héracles sob o controle de uma Aspásia semelhante a Ônfale.[81]. Aspásia foi chamada "Ônfale" no Kheirones de Cratino ou em Philoi de Eupólide.[79]
- ↑ Como esposa do Péricles "Olímpio".[81] Escritores gregos antigos chamam Péricles de "Olímpico", porque ele estava "trovejando e relampeando e emocionando a Grécia" e portando as armas de Zeus quando dando orações.[82]
- ↑ Cratino (em Dionysalexandros) assimila Péricles e Aspásia às figuras "fora da lei" de Páris e Helena; assim como Páris causou uma guerra com o espartano Menelau por seu desejo por Helena, Péricles, influenciado pela estrangeira Aspásia, envolveu Atenas em uma guerra com Esparta.[83] Eupólide também chamou Aspásia de Helena em Prospaltoi.[81]
- ↑ Como alternativa, Loraux sugere que Aristófanes baseou sua piada em um autor cômico desconhecido, que já havia implicado Aspásia no início da Guerra Sâmia.[93]
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