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Candomblé: diferenças entre revisões

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{{Info/Religião
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| adeptos = {{c.}} 170 mil<ref name="schmidt">{{cite book |last1=Schmidt |first1=Bettina E. |title=Contemporary Religions in Brazil |volume=1 |publisher=Oxford University Press |date=2016 |page=7 |doi=10.1093/oxfordhb/9780199935420.013.50 }}</ref>
| adeptos = {{c.}} 50 mil<ref>{{citar web |url=https://g1.globo.com/bahia/noticia/2012/06/menos-da-metade-dos-seguidores-do-candomble-na-ba-sao-da-raca-preta.html|titulo=Menos da metade dos seguidores do candomblé na BA são da raça 'preta'|editor=[[G1]]|data=29 de junho de 2012|acessodata=13 de abril de 2023}}</ref>
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{{Candomblé}}
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'''Candomblé''' é uma [[Religiões afro-americanas|religião afro-americana]] que se desenvolveu no [[Brasil]] durante o século XIX. Surgiu através de um processo de [[sincretismo]] entre várias das religiões tradicionais da [[África Ocidental]], especialmente as de [[Religião iorubá|iorubá]], [[Mitologia banta|banta]] e [[Línguas bês|bês]]. Há também alguma influência da forma [[Igreja Católica|católica romana]] de [[cristianismo]]. Não existe uma autoridade central no controle do candomblé, que se organiza em torno de ''terreiros'' autônomos.
'''Candomblé''' é uma [[religião afro-brasileira]] derivada de [[Religiões tradicionais africanas|cultos tradicionais africanos]], na qual há crença em um Ser Supremo ([[Olodumarê|Olorum]], [[Mawu]], ou [[Zambi]], dependendo da nação) e culto dirigido a forças da natureza personificadas na forma de ancestrais divinizados: [[orixá]]s, [[vodum|voduns]] ou [[inquice]]s, dependendo da [[nação (candomblé)|nação]].<ref name=":0">{{citar livro|título=O Candomblé Bem Explicado: Nações Bantu, Iorubá e Fon|ultimo=KILEUY, DE OXAGUIÃ|primeiro=Odé; Vera|editora=Pallas|ano=2009|local=Rio de Janeiro}}</ref><ref name=":1">{{citar livro|título=Orixás|ultimo=VERGER|primeiro=Pierre Fatumbi|editora=Corrupio|ano=2002|local=São Paulo}}</ref><ref name=":02">{{citar livro|título=O Livro das Religiões|ultimo=HELLERN, NOTAKER, GAADER|primeiro=Victor, Henry, Jostein|editora=Cia das Letras|ano=2000|local=São Paulo|páginas= 317 e 320}}</ref> É fortemente combatida e sofre preconceito por denominações protestantes, mas é "tolerada" pela Igreja Católica em razão do respeito que ela tem com a ancestralidade,<ref>{{Citar web |url=https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_intolerancia_religioes_africanas_jp_rm |titulo=Por que as religiões de matriz africana são o principal alvo de intolerância no Brasil? |data=2016-01-21 |acessodata=2020-09-16 |website=BBC News Brasil |lingua=pt-BR}}</ref> bem como séculos de sincretismo religioso.<ref name="Não-nomeado-xXEp-1">{{Citar periódico |url=https://www.revistas.uneb.br/index.php/abatira/article/view/13036 |titulo=O Candomblé e a desconstrução da noção de sincretismo religioso: |data=2021-12-15 |acessodata=2021-12-16 |jornal=Abatirá - Revista de Ciências Humanas e Linguagens |número=4 |ultimo=Araújo |primeiro=Alex Pereira de |paginas=357–388 |lingua=pt |issn=2675-6781}}</ref><ref>{{Citar web |url=https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-a-ligacao-entre-os-santos-catolicos-e-os-orixas/ |titulo=Qual a ligação entre os santos católicos e os orixás? |acessodata=2020-09-16 |website=Super |lingua=pt-BR}}</ref>


O candomblé envolve a veneração de espíritos conhecidos como ''[[orixás]]''. Derivando seus nomes e atributos de divindades tradicionais da África Ocidental, eles são equiparados aos [[Lista de santos|santos católicos romanos]]. Vários mitos são contados sobre esses orixás, considerados subservientes a uma divindade criadora transcendente, [[Olodumarê]]. Acredita-se que cada indivíduo tenha um orixá tutelar que está ligado a ele desde antes do nascimento e que informa sua personalidade. Tradição iniciática, os membros do candomblé costumam se reunir em templos conhecidos como ''terreiros'' administrados por sacerdotes chamados ''[[Babalorixá|babalorixás]]'' e sacerdotisas chamadas ''[[Ialorixá|ialorixás]]'' . Um ritual central envolve praticantes tocando tambores, cantando e dançando para encorajar um orixá a possuir um de seus membros. Eles acreditam que, por meio desse indivíduo possuído, podem se comunicar diretamente com uma divindade. As oferendas aos orixás incluem frutas e [[Sacrifício animal|animais sacrificados]]. Oferendas também são dadas a uma variedade de outros espíritos, incluindo ''boiadero, [[preto velho]],'' ''caboclos'' e os espíritos dos mortos, o ''[[egun]]''. Diversas formas de [[adivinhação]] são utilizadas para decifrar as mensagens dos orixás. Rituais de cura e preparação de amuletos e remédios e banhos de ervas também desempenham um papel de destaque.
De origem [[Totem|totêmica]] e familiar, é a religião declarada de 0,3% da população brasileira, segundo dados do [[Censo demográfico de 2010 (Brasil)|Censo 2010]] do IBGE.<ref>{{citar web|url=https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/94/cd_2010_religiao_deficiencia.pdf|titulo=Censo Demográfico 2010 - Características Gerais da População, Religião e Deficiência|data=2012|acessodata=08/02/2019|publicado=IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística|ultimo=IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística|primeiro=IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística}}</ref> Também é possível encontrar praticantes em outros países como [[Uruguai]], [[Argentina]], [[Áustria]], [[Suíça]], [[Itália]], [[Alemanha]], [[Portugal]] e [[Espanha]].<ref>[http://www.istoe.com.br/reportagens/1874_UMBANDA+E+CANDOMBLE+NA+EUROPA Umbanda e candomblé na Europa]</ref><ref>{{Citar web|titulo=Poucas e Boas {{!}} Isabela Boscov|url=https://veja.abril.com.br/blog/isabela-boscov/poucas-e-boas/|obra=VEJA|acessodata=2020-02-05|lingua=pt-BR}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=Cadastro de terreiros, ilês, tendas, casas de culto de Umbanda, Candomblé e outros Cultos Afro. situados em Portugal e na Europa - * TERREIROS NA EUROPA *|url=https://sites.google.com/site/terreirosnaeuropa/Home1|obra=sites.google.com|acessodata=2020-02-05}}</ref><ref>{{Citar web|titulo=Saúde de Ferro {{!}} Como ter uma vida mais saudável e plena com hábitos mais saudáveis.|url=https://unegro.org.br/|obra=unegro.org.br|acessodata=2020-02-05}}</ref>


O candomblé se desenvolveu entre as comunidades [[Afro-brasileiros|afro-brasileiras]] em meio ao [[Comércio de escravos no Atlântico|comércio atlântico de escravos]] dos séculos XVI a XIX. Surgiu através da mistura das religiões tradicionais trazidas para o Brasil pelos escravizados africanos ocidentais e centrais, a maioria deles [[iorubás]], [[fons]] e [[bantus]], e os ensinamentos católicos romanos dos [[Império Português|colonizadores portugueses]] que então controlavam a área. Ele se formou principalmente na região da [[Bahia]] durante o século XIX. Em alguns lugares, fundiu-se com outra religião afro-brasileira, a [[umbanda]]. Após a [[independência do Brasil]] de Portugal, a [[História da Constituição do Brasil|constituição de 1891]] consagrou [[Liberdade religiosa|a liberdade de religião]] no país, embora o candomblé permanecesse marginalizado pelo domínio católico romano, que normalmente o associava à criminalidade. No século XX, a crescente emigração baiana difundiu o candomblé no Brasil e no exterior. No final do século XX, surgiram crescentes ligações entre o candomblé e tradições relacionadas na África Ocidental e nas Américas, como a [[santería]] cubana e o [[vodu haitiano]]. Desde então, alguns praticantes enfatizaram um processo de re-africanização para remover as influências católicas romanas e criar formas de candomblé mais próximas da religião tradicional da África Ocidental.
Inicialmente reprimido pela [[Escravidão no Brasil|sociedade escravocrata]], pela [[Igreja Católica]], pelo [[Brasil|Estado]] e rejeitado pela sociedade; o candomblé (como outros cultos de matriz africana), ''"formavam, até meados do {{séc|XX}}, uma espécie de instituição de resistência cultural, primeiramente dos africanos, e depois dos afro-descendentes [...] muita coisa mudou, fazendo dessas religiões organizações de culto desprendidas das amarras étnicas, raciais, geográficas e de classes sociais"''. Dessa forma, os elementos culturais que compõem o candomblé são, na atualidade, uma parte integrante da cultura do [[folclore]] brasileiros.<ref>{{citar periódico|ultimo=PRANDI|primeiro=Reginaldo|data=2004|titulo=O Brasil com axé: candomblé e umbanda no mercado religioso|url=http://www.scielo.br/pdf/ea/v18n52/a15v1852.pdf|jornal="Estudos Avançados: Religions in Brazil Dossier"|acessodata=08/02/2019}}</ref>


Cada terreiro é autônomo, embora possa ser dividido em denominações distintas, conhecidas como nações, a partir das quais o sistema de crenças tradicionais da África Ocidental tem sido sua principal influência. As nações mais proeminentes são os [[Candomblé Queto|queto]], [[Candomblé Jeje|jeje]] e [[Candomblé Banto|banto]]. Existem cerca de 170 mil praticantes no Brasil, embora existam comunidades menores em outros lugares, especialmente em outras partes da América do Sul. Tanto no Brasil quanto no exterior o candomblé se expandiu para além de suas origens afro-brasileiras e é praticado por indivíduos de várias etnias.
O candomblé não deve ser confundido com a [[umbanda]] ou com outras [[religiões afro-brasileiras]] e [[Religiões afro-americanas|afro-americanas]] com similar origem ([[Tambor de Mina]], [[omolocô]], [[Xangô do Nordeste|Xangô pernambucano]] ou [[Batuque (religião)|batuque]] brasileiros; [[vodu haitiano]], a [[santeria]] [[cuba]]na, o ''[[obeah]]'' e o [[kumina]] jamaicanos, o [[winti]] surinamês, dentre outras), as quais foram desenvolvidas independentemente do candomblé e são virtualmente desconhecidas no Brasil.


== Definição e terminologia ==
== Etimologia ==
[[Ficheiro:Obaluaye,_Sapata_no_Olubaje.jpg|direita|miniaturadaimagem| Um ritual de candomblé em 2008]]
O termo "candomblé" é uma junção do termo [[quimbundo]] “''[[candombe]]”'' (dança com [[atabaque]]s) com o termo [[Língua iorubá|iorubá]] “''ilé”'' ou “''ilê”'' (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques".<ref>CUNHA, A. G. ''Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1982. p. 146.</ref>
O candomblé é uma religião.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=51|2a1=Johnson|2y=2002|2p=9|3a1=DeLoach|3a2=Petersen|3y=2010|3p=42|4a1=Hartikainen|4y=2017|4p=364}} Mais especificamente, tem sido descrita como uma "[[Religiões afro-americanas|religião afro-americana]]",{{Sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=150}} uma [[religião afro-brasileira]],{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=4|2a1=Voeks|2y=1997|2p=xiv|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=151, 202|4a1=Sansi-Roca|4y=2005|4p=140|5a1=Bahia|5y=2014|5p=340}} uma religião "neo-africana",{{Sfn|Voeks|1997|p=2}} "uma religião africana de possessão do espírito diaspórico", {{Sfn|Hartikainen|2017|p=357}} e "uma das principais expressões religiosas da [[diáspora africana]]".{{Sfn|Marouan|2007|p=121}} O antropólogo Paul Christopher Johnson afirmou que, "em seu nível mais básico", o candomblé pode ser definido como "a prática de troca com os orixás";{{Sfn|Johnson|2002|p=14}} a estudiosa Joana Bahia a chamou de "a religião dos orixás".{{Sfn|Bahia|2016|p=16}} Johnson também o definiu como "uma redação brasileira das religiões da África Ocidental recriada no contexto radicalmente novo de uma colônia de escravos católicos do século XIX".{{Sfn|Johnson|2002|p=41}} O termo ''candomblé'' provavelmente derivou de um ''kandombele'', um termo derivado do [[Línguas bantas|bantu]] para "danças", que também se desenvolveu no termo ''[[candombe]]'', usado para descrever um estilo de dança entre comunidades afrodescendentes na Argentina e no Uruguai.{{Sfn|Johnson|2002|p=202}}


Várias religiões nas Américas surgiram através da mistura das tradições da África Ocidental com o catolicismo romano; devido às suas origens compartilhadas, a [[Santeria|santería]] cubana e o [[vodu haitiano]] foram descritos como "religiões irmãs" do candomblé.[11] No Brasil, foi a [[Religião iorubá|religião tradicional iorubá]] que eventualmente se tornou dominante sobre a religião afro-brasileira.{{Sfn|Voeks|1997|p=52}} O candomblé não é a única religião afro-brasileira, estando intimamente relacionada com outra que também surgiu no século XIX e envolve o culto aos orixás, a [[umbanda]],{{Sfn|Johnson|2002|p=52}} que geralmente é mais aberta e pública do que o candomblé;{{Sfn|Johnson|2002|p=53}} enquanto este última emprega canções em línguas africanas, as canções religiosas da umbanda são cantadas em português.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=5|2a1=Johnson|2y=2002|2p=53}} Como resultado, o candomblé é muitas vezes considerado "mais africano" do que a umbanda.{{Sfn|Wafer|1991|p=5}} O termo "umbandomblé" às vezes é aplicado a grupos que mesclam elementos de ambas as tradições, embora seja raramente adotado pelos próprios praticantes.{{sfnm|1a1=Johnson|1y=2002|1p=52|2a1=Capone|2y=2010|2p=9}} Outra religião afro-brasileira é a [[quimbanda]], que está associada principalmente ao [[Rio de Janeiro]],{{Sfn|Wafer|1991|p=58}} enquanto o termo [[macumba]] tem sido usado principalmente para descrever as tradições afro-brasileiras que lidam com espíritos inferiores, os ''[[Exu (orixá)|exus]]''.{{Sfn|Wafer|1991|p=13}} O candomblé também foi influenciado pelo [[espiritismo]], embora muitos espíritas façam questão de distinguir sua tradição das religiões afro-brasileiras.{{Sfn|Wafer|1991|p=5}} Os estudiosos geralmente consideram essas diferentes tradições afro-brasileiras como existentes em um [[Continuum|''continuum'']], em vez de serem firmemente distintas umas das outras.{{Sfn|Capone|2010|pp=8-9}}
''Fernando D'Oxaguiã'' publicou outra versão etimológica da palavra: “Ka Nzo Ndombe” significa em quimbundo “Pequena Casa de Negros” ou “Pequena Casa de Nativos”. O “Ka” é utilizado como diminutivo. “Nzo” significa “Casa” (vide o nome de diversos Terreiros de origem Angola, que carregam em seus nomes a palavra “Nzo”) e por fim, “Ndombe” (Negro/Nativo). Assim, acreditamos que o “Ka Nzo Ndombe” tornou-se “Ka Ndombe”, até popularizar-se como conhecemos e falamos hoje “Candomblé”.<Ref>{{citar web |url=https://ocandomble.com/2015/01/13/candomble-a-origem-do-nome/ |titulo=Candomblé – A origem do nome |ultimo1=D'Osogiyan |primeiro1=Fernando |data=13-01-2015|publicado=ocandomble.com |acessodata=28-06-2019}}</ref>
[[Ficheiro:Orixa_Yemanja_Orossi.JPG|esquerda|miniaturadaimagem| Um ritual de candomblé em 2008]]


O candomblé se divide em diferentes tradições conhecidas como ''nacões''.{{Sfn|Voeks|1997|p=53}} Os três mais proeminentes são [[Candomblé Queto|ketu (queto) ou nagô]], [[Candomblé Jeje|jeje (gege) ou mina-jeje]], e [[Candomblé Banto|banto]];{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=5|2a1=Álvarez López|2a2=Edfeldt|2y=2007|2p=157}} outros incluem o [[ijexá]] e o caboclo.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}} Cada um deriva influência particular de um determinado grupo linguístico africano; o queto usa o [[Língua iorubá|iorubá]], o jeje usa a [[língua jeje]] e o bantu se baseia no grupo de [[línguas bantas]].{{Sfn|Wafer|1991|p=5}} Cada nação tem seu próprio léxico, cantos, divindades, objetos sagrados e conhecimento tradicional, informados por suas origens etnolinguísticas.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}} Apesar de originar-se entre diferenças étnicas, isso tem se desgastado ao longo do tempo, com membros atraídos para diferentes nações por razões diferentes da herança étnica.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}} Em 2012, a nação queto era descrita como a maior.{{Sfn|Allen|2012|p=19}} A nação bantu é por vezes caracterizada como sendo a mais sincrética.{{Sfn|Wafer|1991|p=166}}
== História ==
Dentre as nações africanas praticantes do animismo, cada uma tinha, como base, o culto a um único orixá. A junção dos cultos é um fenômeno brasileiro em decorrência da [[importação de escravos]]<ref>{{citar web|ultimo=Sant'anna|primeiro=Marcia|url=http://portal.iphan.gov.br/uploads/temp/Escravidao_no_Brasil.pdf|titulo=Escravidao no Brasil - os terreiros de Candomblé e a resistência cutural dos povos negros|acessodata=16-03-2023|website=Portal do IPHAN}}</ref> onde, agrupados nas [[senzala]]s, nomeavam um [[pai de santo]], também conhecido como [[babalorixá]] no caso dos homens e [[ialorixá]] no caso das mulheres.


O candomblé não é institucionalizado,{{Sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|pp=150-151}} não havendo uma autoridade central na religião para determinar a doutrina e a ortodoxia.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=57|2a1=Johnson|2y=2002|2p=50}} É heterogêneo{{Sfn|Bahia|2016|p=16}} e não tem nenhum texto ou [[dogma]] sagrado central,{{Sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=151}} com variação regional nas crenças e práticas.{{Sfn|Walker|1990|p=103}} Cada linhagem ou comunidade de praticantes é autônoma,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=4|2a1=Álvarez López|2a2=Edfeldt|2y=2007|2p=150}} abordando a religião de maneiras informadas por sua tradição e pelas escolhas de seu líder.{{Sfn|Capone|2010|p=8}} Alguns praticantes também se referem a ele como uma forma de [[ciência]].{{Sfn|Walker|1990|pp=125-126}}
Diz [[Clarival do Prado Valladares]] em seu artigo "A Iconologia Africana no Brasil", na Revista Brasileira de Cultura (MEC e Conselho Federal de Cultura), ano I, Julho-Setembro 1999, p.&nbsp;37, que o "surgimento dos candomblés com posse de terra na periferia das cidades e com agremiação de crentes e prática de calendário verifica-se incidentalmente em documentos e crônicas a partir do {{séc|XVIII}}". O autor considera difícil para "qualquer historiador descobrir documentos do período anterior diretamente relacionados à prática permitida, ou sub-reptícia, de rituais africanos". O documento mais remoto, segundo ele, seria de autoria de dom [[Antônio de Guadalupe|Frei Antônio de Guadalupe]], bispo visitador de [[Minas Gerais]] em 1726, divulgado nos "Mandamentos ou Capítulos da visita".


=== Praticantes ===
Surgido na [[Bahia]] em meados do {{séc|XIX}}, é religião de matriz africana das mais difundidas no Brasil. A religião tem por base o culto às&nbsp;forças da natureza, sendo chamada de [[Animismo|animista]].
Os seguidores do candomblé às vezes são chamados ''de povo de santo'',{{sfnm|1a1=Selka|1y=2010|1p=292|2a1=Selka|2y=2013|2p=405}} ou ''candomblecistas''.{{Sfn|Selka|2010|p=291}} Um indivíduo que deu passos em direção à iniciação, mas ainda não passou por esse processo, é chamado de ''[[abiã]]''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=195|2a1=Johnson|2y=2002|2p=201}} Um iniciado mais novo é conhecido como ''[[iaô]]''{{sfnm|1a1=Johnson|1y=2002|1p=31|2a1=Álvarez López|2a2=Edfeldt|2y=2007|2p=165}} e um iniciado mais antigo é conhecido como ''[[ebomi]]''.{{Sfn|Johnson|2002|pp=23, 202}} No candomblé, um sacerdote homem é conhecido como ''[[babalorixá]]'',{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=63|2a1=Johnson|2y=2002|2p=201|3a1=Álvarez López|3a2=Edfeldt|3y=2007|3pp=163-164}} uma sacerdotisa como ''[[iyalorixá]]'',{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=63|2a1=Johnson|2y=2002|2p=203|3a1=Álvarez López|3a2=Edfeldt|3y=2007|3pp=163-164}} ou alternativamente como ''makota'' ou ''nêngua''.{{Sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|pp=163-164}} A escolha do termo usado pode indicar a qual nação uma pessoa pertence.{{Sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=164}}


A maioria dos adeptos do candomblé também pratica o catolicismo romano{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=15|2a1=Voeks|2y=1997|2p=61|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=122-123}} e alguns sacerdotes e sacerdotisas não iniciam ninguém no candomblé que não seja um católico romano [[Batismo|batizado]].{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=112|2a1=Voeks|2y=1997|2p=61}} Alguns frequentam tanto os rituais do candomblé quanto os cultos [[Evangelicalismo|protestantes evangélicos]].{{Sfn|Selka|2010|p=291}} O sincretismo pode ser observado de outras maneiras. O antropólogo Jim Wafer observou um praticante brasileiro que incluiu uma estátua da divindade budista [[maaiana]] [[Budai]] em seu altar,{{Sfn|Wafer|1991|p=10}} enquanto Arnaud Halloy encontrou um terreiro belga que estava incorporando personagens das mitologias galesa e eslava em sua prática,{{Sfn|Bahia|2014|p=363}} e a estudiosa Joana Bahia encontrou praticantes na Alemanha que também praticavam o [[budismo]] e várias práticas da [[New age|Nova Era]].{{Sfn|Bahia|2016|p=22}}
Como os africanos escravizados eram provenientes de diversos povos e regiões, suas religiosidades evoluíram na forma de diversas tradições: são as chamadas "nações do candomblé", que se distinguem entre si principalmente pelas divindades veneradas, os&nbsp;[[atabaque]]s, os cânticos e a [[língua litúrgica]] usada nos rituais.


== Nações ==
== Crenças ==
O conhecimento sobre as crenças e práticas do candomblé é chamado de ''fundamentos''{{sfnm|1a1=Johnson|1y=2002|1pp=31, 202|2a1=Hartikainen|2y=2017|2p=369}} e é guardado pelos praticantes.{{Sfn|Hartikainen|2017|p=369}} A terminologia iorubá predomina amplamente, mesmo em terreiros de outras nações {{Sfn|Wafer|1991|p=125}}
[[imagem:Port_de_Non_Retour_-_Ouidah_2015.jpg|miniaturadaimagem|[[A Porta do Não Retorno|Porta do Não Retorno]] em [[Uidá]], [[Benim]] (2015), o principal porto negreiro da antiga [[Costa dos Escravos]]. Dessa região partiram mais da metade dos africanos enviados como escravos para a [[Bahia]]]]


=== Olorun e os orixás ===
Os africanos traficados como [[Escravidão no Brasil|escravos]] para o [[Brasil]] pertenciam a povos diferentes que habitavam diferentes regiões da costa atlântica da [[África]], desde o [[Senegal]] até [[Angola]], [[Moçambique]] e [[Madagáscar|Madagascar]]. Como resultado, havia uma multidão de cativos com [[Línguas africanas|línguas]], [[Cultura africana|hábitos]] e [[Religião em África|crenças]] distintas. Em comum, não tinham senão a infelicidade de estar, todos eles, reduzidos à escravidão, longe das suas terras de origem.<ref name=":1" />
No Candomblé, a divindade suprema chama-se [[Olorun]] ou [[Olodumare]].{{Sfn|Johnson|2002|pp=125, 136}} Esta entidade é considerada o criador de tudo, mas distante e inacessível.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}} Olorun não é, portanto, especificamente cultuado no candomblé.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}}


==== Orixás ====
Desse modo, os cativos eram agrupados pelos senhores em delimitações mais ou menos arbitrárias, tendo como base o povo a qual pertenciam, a região de origem ou mesmo o [[Porto (transporte)|porto]] onde eram embarcados. Eram as chamadas “nações africanas”, como ''mina'', ''angola'', ''jeje'' e ''nagô''. Com o tempo, essas categorias criadas pelos traficantes de escravos foram assumidas pelos próprios [[África subsariana|africanos]] e por seus [[Afro-brasileiros|descendentes]] como símbolo de origem e pertença [[Grupo étnico|étnica]]. É este recorte, baseado na procedência étnica dos fundadores dos primeiros candomblés (e, portanto, na origem étnico cultural de suas cosmologias e crenças religiosas), que dará origem às “nações do candomblé”.<ref name=":22">{{citar web|url=https://www.youtube.com/watch?v=Y6TXCfUH4V0|titulo=Gayaku Luíza - A Força e Magia dos Voduns|data=2004|acessodata=09/02/2019|publicado=TVE Bahia|ultimo=MESQUITA|primeiro=Soraya Públio de Castro}}</ref>
[[Ficheiro:AXÉ_ILÊ_OBÁ_11.jpg|upright|miniaturadaimagem|Uma estátua representando o orixá Xangô dentro de um terreiro de candomblé em São Paulo; distingue-se por possuir um machado de duas pontas, o ''[[oxê]]''{{Sfn|Wafer|1991|p=167}}]]
O candomblé concentra-se na adoração de espíritos denominados [[orixás]]{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=108|2a1=Voeks|2y=1997|2p=54|3a1=Johnson|3y=2002|3p=14|4a1=Brazeal|4y=2013|4p=105}} ou ''santos''.{{sfnm|1a1=Johnson|1y=2002|1p=205|2a1=Sansi-Roca|2y=2005|2p=141}} Os masculinos são denominados ''[[Aboró|aborôs]]'', {{Sfn|Wafer|1991|p=195}} os femininos ''[[Iabá|iabás]]''.{{Sfn|Wafer|1991|pp=123, 199}} Estes foram concebidos de forma variada como figuras ancestrais{{Sfn|Johnson|2002|p=36}} ou incorporações de forças da natureza.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=56|2a1=Johnson|2y=2002|2p=14}} Cerca de 12 orixás são figuras bem desenvolvidas no panteão do candomblé e reconhecidas pela maioria dos praticantes.{{Sfn|Voeks|1997|p=54}} Embora geralmente recebam nomes iorubá, na nação jeje eles recebem nomes fon.{{Sfn|Voeks|1997|p=55}}


Acredita-se que os orixás façam a mediação entre a humanidade e [[Olorun]].{{Sfn|Johnson|2002|p=14}} Os orixás são entendidos como moralmente ambíguos, cada um com suas virtudes e defeitos;{{Sfn|Bahia|2014|p=355}} eles às vezes estão em conflito com outros orixás.{{Sfn|Wafer|1991|p=128}} No candomblé, a relação entre os orixás e a humanidade é vista como de interdependência,{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=121|2a1=Johnson|2y=2002|2p=136}} com os praticantes buscando construir relações harmoniosas com essas divindades,{{Sfn|Walker|1990|p=125}} garantindo assim sua proteção.{{Sfn|Brazeal|2013|p=106}} Cada orixá está associado a cores, alimentos, animais e minerais específicos,{{Sfn|Walker|1990|p=119}} favorecendo certas oferendas.{{Sfn|Voeks|1997|p=57}} Cada orixá está associado a um determinado dia da semana;{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=105|2a1=Voeks|2y=1997|2p=77}} o sacerdócio também afirma que cada ano é regido por um orixá específico que influenciará os eventos que ocorrem dentro dele.{{Sfn|Walker|1990|p=105}} Suas personalidades são informadas por uma oposição conceitual chave no candomblé, a do frio versus o quente.{{Sfn|Voeks|1997|p=56}}
De [[Angola]], [[República Democrática do Congo|Congo]] e do [[Golfo do Biafra|Golfo de Biafra]] vieram 39% dos africanos destinados a [[Bahia]]: eram os negros das nações “congo”, “angola, “macua”, “benguela”, dentre outros; que compunham o grupo linguístico [[Línguas bantas|bantu]].<ref name=":32">MACHADO, Veridiana Silva. '''O cajado de Lemba''': o tempo no candomblé de nação Angola. 2015. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015. doi:10.11606/D.59.2016.tde-11052016-110936. Acesso em: 2019-02-09.</ref><ref name=":42">{{citar web|url=http://www.slavevoyages.org/voyages/HFvj5eu9|titulo=The Trans Atlantic Slave Trade Database|data=2013|acessodata=09/02/2019|publicado=The Trans Atlantic Slave Trade Database|ultimo=VOYAGES|primeiro=Slave}}</ref>


[[Obatalá|Oxalá]] é o orixá chefe,{{Sfn|Brazeal|2013|p=114}} retratado como um velho frágil que anda com um cetro ''de pachorô'' como bengala.{{Sfn|Wafer|1991|p=124}} Os praticantes geralmente acreditam que [[Olorun]] o encarregou de criar a humanidade.{{Sfn|Johnson|2002|p=125}} Em alguns relatos, todos os orixás são filhos de Oxalá e uma de suas duas esposas, [[Nanã]] e [[Iemanjá]].{{Sfn|Wafer|1991|p=84}} Este trio está associado à água; Oxalá com a água doce, Nanã com a chuva e Iemanjá com o mar.{{Sfn|Wafer|1991|p=123}} Outros relatos apresentam essa [[cosmogonia]] de maneira diferente, por exemplo, afirmando que Oxalá foi o pai de todos os outros orixás sozinho, tendo criado o mundo a partir de um pudim de mingau.{{Sfn|Wafer|1991|p=126}} Uma alegação alternativa entre os praticantes é que Nanã é a avó de Oxalá e mãe de Iemanjá, esta última tornando-se mãe e esposa de Oxalá.{{Sfn|Wafer|1991|p=126}}
Porém, 53% dos escravos desembarcados no litoral baiano eram provenientes do [[Golfo do Benim]] (igualmente chamado [[Costa da Mina]] ou [[Costa dos Escravos]]),<ref name=":42" /><ref>{{citar web|url=https://www.youtube.com/watch?v=TBVGcZ60cT4|titulo=O Poder do Machado de Xangô|data=1975|acessodata=09/02/2019|publicado=Rede Globo|ultimo=NOGUEIRA|primeiro=Armando}}</ref> razão pela qual eram chamados genericamente de “negros minas", divididos em [[Iorubás|nagôs]] (termo que designava todos os [[iorubás]] da [[Costa dos Escravos]])<ref name=":5">{{citar livro|título=O Candomblé da Bahia - Rito Nagô|ultimo=BASTIDE|primeiro=Roger|editora=S.A.|ano=1961|local=São Paulo}}</ref> e [[jejes]] (que incluem povos como os [[fântis]]-[[axantes]], [[gurunsis]] e, principalmente, [[fons]] do antigo [[Reino do Daomé]]).<ref name=":02" />
[[Ficheiro:Escultura_Yemanjá_Rio_Vermelho_Salvador_2018-0713.jpg|esquerda|miniaturadaimagem| Uma estátua de [[Iemanjá]] em Salvador]]
[[imagem:Terreiro_do_Bate_Folha.jpg|miniaturadaimagem|Interior do barracão principal do [[Terreiro do Bate Folha|Mansu Banduquenqué (Terreiro do Bate Folha)]], importante terreiro de nação congo (origem [[Candomblé bantu|bantu]]) de [[Salvador]]/[[Bahia|BA]]]]
A predominância de escravos de origem jeje-nagô e [[Bantus|bantu]] na [[Bahia]] revela a configuração das principais nações do candomblé, quais sejam:<ref name=":1" /><ref name=":22" /><ref name=":32" />


[[Xangô]] é o orixá associado ao [[trovão]] e ao [[relâmpago]];{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=203|2a1=Voeks|2y=1997|2p=125|3a1=Johnson|3y=2002|3p=205}} uma de suas esposas é [[Obá (orixá)|Obá]], uma guerreira que tem apenas uma orelha.{{Sfn|Johnson|2002|p=204}} [[Ogum]] é o orixá da batalha e do ferro, muitas vezes representado com um facão;{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=24|2a1=Johnson|2y=2002|2p=204}} seu companheiro é [[Oxóssi]], o orixá masculino da caça e da floresta.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1pp=56, 126|2a1=Johnson|2y=2002|2p=205}} [[Obaluaiê]] ou Omolu é o orixá associado à doença infecciosa e à sua cura,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=113|2a1=Voeks|2y=1997|2pp=79, 124|3a1=Capone|3y=2010|3pp=82-83}} enquanto [[Ossanhe]] está associado às folhas, ervas e conhecimentos fitoterápicos.{{Sfn|Johnson|2002|p=204}} [[Oiá]] é o orixá do vento e das tempestades.{{Sfn|Johnson|2002|p=205}} [[Oxumarê|Oxumaré]] é considerado como masculino e feminino e é retratado como uma serpente ou um [[arco-íris]].{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=126|2a1=Voeks|2y=1997|2p=59|3a1=Johnson|3y=2002|3p=205}} [[Oxum]] é a orixá do amor, beleza, riqueza e luxo, associada a água doce, peixes, sereias e borboletas.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=9|2a1=Johnson|2y=2002|2p=205}} Ela é casada com [[Ifá]], considerado o orixá da adivinhação {{Sfn|Johnson|2002|p=125}} [[Quitembo]] é o orixá do tempo;{{Sfn|Wafer|1991|p=174}} originário da nação bantu, está associado às árvores.{{Sfn|Wafer|1991|p=166}} Devido à ligação com as árvores, às vezes é equiparado ao orixá queto [[Loco (vodum)|Loco]].{{Sfn|Wafer|1991|p=166}} O orixá [[Exu (orixá)|Exu]] é considerado um malandro caprichoso;{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=126|2a1=Johnson|2y=2002|2p=39|3a1=Capone|3y=2010|3p=35}} como o guardião das entradas,{{Sfn|Johnson|2002|p=49}} ele facilita o contato entre a humanidade e outro orixá,{{Sfn|Voeks|1997|p=75}} sendo assim geralmente honrado e alimentado primeiro em qualquer ritual.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=4|2a1=Voeks|2y=1997|2p=76|3a1=Johnson|3y=2002|3p=39|4a1=Brazeal|4y=2013|4p=112}} Sua parafernália ritual é muitas vezes mantida separada da de outros orixás,{{Sfn|Wafer|1991|p=9}} enquanto as entradas da maioria dos terreiros têm uma cabeça de barro, decorada com búzios ou pregos, que representa Exu e recebe oferendas.{{Sfn|Capone|2010|p=46}}
* De origem nagô ([[Iorubás|povo iorubá]] da [[Nigéria]], [[Benim]] e [[Togo]]), cujo idioma é o [[Língua iorubá|iorubá]]:
[[Ficheiro:Orixá_Oba.jpg|upright|miniaturadaimagem|Um praticante vestido de orixá [[Obá (orixá)|Obá]] em um terreiro no Brasil; a [[Possessão espiritual|possessão]] dos adeptos pelo [[orixá]] é central para o candomblé]]
**[[Candomblé Queto]]
**[[Ijexá|Nação ijexá]];
**[[Efã|Nação efom]].


Cada orixá equivale a um [[Santo|santo católico romano]].{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1pp=111–112|2a1=Wafer|2y=1991|2p=56|3a1=Voeks|3y=1997|3p=59|4a1=Paula Adinolfi|4a2=Van de Port|4y=2013|4p=290}} Isso pode ter começado como um subterfúgio para manter a adoração de divindades africanas sob domínio europeu,{{Sfn|Voeks|1997|p=60}} embora tais sincretismos já pudessem ter ocorrido na África antes do [[comércio atlântico de escravos]].{{Sfn|Voeks|1997|p=59}} A partir do final do século XX, alguns praticantes tentaram distanciar os orixás dos santos como forma de enfatizar novamente as origens da religião na África Ocidental.{{Sfn|Walker|1990|p=113}} Robert A. Voeks observou que era o sacerdócio e os praticantes mais formalmente educados que preferiam distinguir os orixás dos santos, enquanto os adeptos menos formalmente educados tendiam a não fazê-lo.{{Sfn|Voeks|1997|p=61}} Nos altares do candomblé, os orixás são frequentemente representados com imagens e estátuas de santos católicos romanos.{{Sfn|Walker|1990|p=112}} Por exemplo, Oxalá foi confundido com [[Igreja Nosso Senhor do Bonfim|Nosso Senhor do Bonfim]],{{Sfn|Wafer|1991|p=126}} Oxum com [[Imaculada Conceição|Nossa Senhora da Imaculada Conceição]]{{Sfn|Paula Adinolfi|Van de Port|2013|p=291}} e Ogum com [[Santo António de Lisboa|Santo Antônio de Pádua]].{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=24|2a1=Voeks|2y=1997|2pp=60-61}} Devido à sua associação com o tempo, Quitembo às vezes é equiparado à ideia cristã do [[Espírito Santo]].{{Sfn|Wafer|1991|p=173}}
* De origem jeje (povos [[jeje]]-[[fons]] do [[Benim]] e [[Togo]]), cujo idioma é o [[Língua fom|fom]]:
** [[Candomblé jeje|Nação jeje-maí]]
**[[Jeje Savalu|Nação jeje-savalu]]
**Nação jeje-nagô ou nagô-vodum (culto aos orixás nagôs em rito jeje);


Os orixás são considerados como tendo diferentes aspectos, conhecidos como ''marcas'' ("tipos" ou "qualidades"),{{Sfn|Wafer|1991|pp=9, 122}} cada um dos quais pode ter um nome individual.{{Sfn|Wafer|1991|p=122}} As formas infantis dos orixás são denominadas ''[[Erê|erês]]''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=124|2a1=Voeks|2y=1997|2p=88}} Eles são considerados os espíritos mais incontroláveis de todos, associados a obscenidades e brincadeiras.{{Sfn|Wafer|1991|p=63}} As formas infantis dos orixás têm nomes específicos; o erê de Oxalá é, por exemplo, chamado de Ebozingo ("Pequeno Ebô") e Pombinho.{{Sfn|Wafer|1991|p=124}} A imagem material de um orixá é chamada de ''[[igbá]]''.{{Sfn|Johnson|2002|p=116}}
* De origem [[Línguas bantas|bantu]] (povos [[congos]] e [[ambundos]] de [[Angola]], [[República do Congo]] e [[República Democrática do Congo]]), cujos idiomas são o [[Língua congo|quicongo]] e o [[quimbundo]] (por vezes, o [[Português brasileiro|português]]):
** Nação congo-angola ou, simplesmente, [[Candomblé angola|nação angola]];
** [[Candomblé de caboclo]] (sincretismo de elementos bantu e [[Povos ameríndios|ameríndios]]).


==== Relações com o orixá ====
É possível distinguir estas nações umas das outras pela maneira de tocar os [[Atabaque (candomblé)|atabaques]], pela música, pelo idioma dos cânticos, pelas vestes litúrgicas, algumas vezes pelos nomes das divindades, e enfim por certos traços do ritual. Todavia, os candomblés de origem iorubá são os mais influentes.<ref name=":5" />
[[Ficheiro:Oferenda_para_Yemanja.JPG|esquerda|miniaturadaimagem|Uma estátua do orixá [[Iemanjá]] no Brasil, com oferendas colocadas ao seu redor]]


O candomblé ensina que todos estão ligados a um determinado orixá, {{Sfn|Walker|1990|p=117}} cuja identidade pode ser determinada por adivinhação.{{Sfn|Walker|1990|p=117}} Este orixá é descrito como sendo ''dono da cabeça'':{{Sfn|Johnson|2002|p=202}} o "mestre ou senhora da cabeça da pessoa", {{Sfn|Walker|1990|p=117}} ou o "dono da cabeça".{{Sfn|Wafer|1991|p=16}} Acredita-se que eles tenham influência na personalidade e nas interações sociais da pessoa.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=117|2a1=Paula Adinolfi|2a2=Van de Port|2y=2013|2p=290}} O gênero deste orixá tutelar não é necessariamente o mesmo de seu humano; {{Sfn|Voeks|1997|p=74}} a não-heterossexualidade às vezes é vista, de uma forma não negativa, como sendo causada por uma incompatibilidade entre o gênero de um indivíduo e o gênero de seu orixá.<ref>{{Citar periódico |url=http://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/444 |título=Sexo, gênero e homossexualidade: o que diz o povo-de-santo paulista? |data=2008-06-03 |periódico=HORIZONTE - Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião |ultimo=Santos |primeiro=Milton Silva dos |paginas=145–156 |lingua=pt |issn=2175-5841}}</ref> Deixar de identificar o próprio orixá às vezes é interpretado como a causa de vários tipos de doenças mentais pelos praticantes.{{Sfn|Walker|1990|p=118}} Dependendo do orixá em questão, um iniciado pode optar por evitar ou se envolver em certas atividades, como não comer alimentos específicos ou usar cores específicas.{{Sfn|Walker|1990|p=119}} Alguns praticantes também acreditam que existem outros orixás que podem estar ligados a um indivíduo; um segundo é conhecido como ''juntó'',{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=116|2a1=Johnson|2y=2002|2p=203}} enquanto um terceiro é chamado de ''adjuntó'', ''tojuntó'' ou ''dijuntó''. {{Sfn|Wafer|1991|p=116}} Alguns acreditam que um indivíduo também pode ter um quarto orixá, herdado de um parente falecido.{{Sfn|Wafer|1991|p=16}}
Desde o início do {{séc|XX}}, pesquisadores brasileiros e estrangeiros (como [[Nina Rodrigues]], [[Arthur Ramos]], [[Edison Carneiro|Édison Carneiro]], [[Melville Jean Herskovits|Melville Herkovits]], [[Ruth Landes]], [[Roger Bastide]] e [[Pierre Verger]]) deram ênfase à pesquisa científica sobre os [[Templos afro-brasileiros|terreiros]] que afirmavam ser de [[Candomblé Queto|nação Queto]], especialmente os três terreiros mais antigos e prestigiosos ([[Casa Branca do Engenho Velho|Ilê Axé Iá Nassô Ocá — Casa Branca do Engenho Velho]], [[Terreiro do Gantois|Ilê Omim Axé Iamassê - Terreiro do Gantois]]; e Ilê Axé Opó Afonjá|Ilê Axé Opô Afonjá). Cada um destacou a sua maneira a suposta "superioridade" ou "autenticidade" dos cultos de origem Iorubás|iorubá, detentores de uma tradição africana venerável. Os Candomblé bantu|candomblés de angola]] ou de [[Candomblé de caboclo|caboclo]], no entanto, foram largamente ignorados pela pesquisa acadêmica e até mesmo considerados "deformados" ou "corrompidos" em alguns momentos.<ref>{{citar livro|título=Pierre Fatumbi Veger: do olhar livre ao conhecimento iniciático|ultimo=SOUTY|primeiro=Jérôme|editora=Terceiro Nome|ano=2011|local=São Paulo|páginas= 201-202}}</ref>


=== Exus, caboclos e erês ===
== Crenças ==
[[Ficheiro:AXÉ_ILÊ_OBÁ_12.jpg|upright|miniaturadaimagem| Uma estátua dentro de um terreiro de candomblé em São Paulo; retrata um espírito nativo americano, um caboclo]]
O candomblé é uma religião [[monoteísta]],<ref>[http://centroculturalafricano.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=23&Itemid=46 Festivais da Mitologia e Religião iorubá]</ref><ref>[http://www.orixas.ifatola.com/index.php?option=com_content&view=article&id=35&Itemid=64 Religiões africanas são monoteísta]</ref> embora alguns defendam a ideia de que são cultuados vários deuses, o deus único para a Nação [[Candomblé Queto|Queto]]<ref>[http://caioba.pucrs.br/veritas/ojs/index.php/teo/article/viewFile/2702/2053 Negritude e Experiência de Deus por Josuel dos Santos Boaventura *Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 156, p. 203-222, jun. 2007]</ref> é [[Olorum]], para a Nação [[Bantu]]<ref>[http://www.asselrj.cefetcampos.br/essentiaeditora/vertices/numeros-publicados/2005/v-7-n1-3/artigos-1/06-Cultura%20afro-brasileira%20um%20novo%20olhar.pdf Bantus no Brasil]</ref> é [[Zambi]] e para a Nação [[Jeje]] é [[Mawu]], são nações independentes na prática diária e em virtude do sincretismo existente no Brasil a maioria dos participantes consideram como sendo o mesmo deus da [[Igreja Católica]].
O candomblé ensina a existência de outros espíritos além dos orixás. Um desses grupos espirituais são os ''[[Exu (orixá)|exus]]'',{{Sfn|Wafer|1991|p=9}} às vezes chamados de ''exuas'' quando mulheres,{{Sfn|Wafer|1991|p=198}} ou ''exu-mirins'' quando crianças.{{Sfn|Wafer|1991|pp=124,198}} Eles são considerados mais próximos da humanidade do que os orixás e, portanto, mais acessíveis.{{Sfn|Wafer|1991|p=14}} Em contextos rituais, os exus são muitas vezes considerados como os "escravos" dos orixás.{{Sfn|Wafer|1991|pp=14, 198}} Na linguagem comum, eles são frequentemente descritos como "demônios",{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=14, 198|2a1=Brazeal|2y=2013|2p=106}} mas no candomblé não são considerados uma força para o mal absoluto, mas sim considerados capazes de atos bons e maus.{{Sfn|Wafer|1991|p=14}} Os praticantes acreditam que os exus podem "abrir" ou "fechar" as "estradas" do destino na vida de alguém,{{Sfn|Wafer|1991|p=15}} trazendo tanto ajuda quanto dano.{{Sfn|Brazeal|2013|p=108}} O candomblé ensina que os exus podem ser induzidos a cumprir as ordens de um praticante,{{Sfn|Wafer|1991|p=15}} embora precisem ser cuidadosamente controlados.{{Sfn|Brazeal|2013|p=108}}

Também presentes no candomblé estão os ''[[Caboclo de umbanda|caboclos]]'',{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=26|2a1=Capone|2y=2010|2p=12|3a1=Brazeal|3y=2013|3p=106}} cujo nome provavelmente deriva do termo [[Língua tupi|tupi]] ''kari'boka'' ("derivado do branco").{{Sfn|Wafer|1991|p=55}} Esses espíritos vêm em duas formas principais: ''boiadeiros'' ("vaqueiros" ou "sertanejos") e [[povos indígenas das Américas]].{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=55|2a1=Brazeal|2y=2013|2p=106}} Em casos mais raros, os caboclos estão ligados a outros contextos, retratados como sendo do mar ou de países estrangeiros como a [[Itália]] ou o [[Japão]].{{Sfn|Wafer|1991|p=55}} Quase exclusivamente retratados como homens,{{Sfn|Wafer|1991|p=106}} acredita-se que os caboclos vivam em uma floresta chamada [[Aruanda]],{{Sfn|Wafer|1991|pp=63, 83}} que também é habitada por répteis voadores semelhantes a cobras chamados ''cainanas''.{{Sfn|Wafer|1991|p=197}} Os caboclos preferem a cerveja, enquanto os exus preferem o [[vinho]] e as bebidas destiladas, especialmente a [[cachaça]];{{Sfn|Wafer|1991|p=27}} os caboclos também são caracterizados como fumantes de charutos.{{Sfn|Wafer|1991|p=83}} Aqueles praticantes que tentaram "re-africanizar" o candomblé desde o final do século XX tendem a rejeitar os caboclos como sendo de origem não africana.{{Sfn|Wafer|1991|p=58}}

=== Nascimento e morte ===
[[Imagem:Barracao do Opo Afonja.jpeg|esquerda|miniatura|Filhas de santo do terreiro [[Ilê Axé Opô Afonjá]] em [[Salvador]], [[Bahia]]]]

O candomblé defende uma cosmologia em grande parte emprestada da [[Religião iorubá|religião tradicional iorubá]].{{Sfn|Voeks|1997|pp=61, 63}} O reino dos espíritos é denominado ''[[orun]]'';{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=63|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=38, 112, 204}} o mundo material da humanidade é chamado de ''[[aiê]]'' (ou ''aiye'').{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=63|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=112, 201}} Acredita-se que Orun se divide em nove níveis.{{Sfn|Voeks|1997|p=63}} A morte é personificada na figura de [[Icu]].{{Sfn|Johnson|2002|p=203}} A cabeça interior de uma pessoa, na qual acredita-se que resida seu orixá tutelar, é chamada de ''[[Ori (iorubá)|ori]]''.{{Sfn|Johnson|2002|p=204}}

Os espíritos dos mortos são chamados de ''[[Egum|eguns]].''{{Sfn|Wafer|1991|p=43}}{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=63|2a1=Johnson|2y=2002|2p=202|3a1=Capone|3y=2010|3p=80|4a1=Bahia|4y=2014|4p=335}} Aqueles que faleceram recentemente são chamados de ''aparacá'',{{Sfn|Wafer|1991|p=195}} enquanto depois de terem sido "educados" recebendo sacrifícios, eles se tornam ''babá''.{{Sfn|Wafer|1991|p=196}} Precauções devem ser tomadas em relação a essas entidades, pois elas têm o poder de prejudicar os vivos.{{Sfn|Brazeal|2013|p=117}} Às vezes, eles procuram ajudar um indivíduo vivo, mas inadvertidamente os prejudicam.{{Sfn|Wafer|1991|p=114}} O ''contra-egum'' é uma braçadeira feita de [[ráfia]] trançada que às vezes é usada para afastar esses espíritos mortos.{{Sfn|Wafer|1991|p=197}} Tipicamente desencorajado no candomblé,{{Sfn|Capone|2010|p=91}} a possessão por ''egum'' é considerada rara, mas acontece.{{Sfn|Wafer|1991|p=183}} Muitos grupos de canbomblé têm proibições quanto a possessão pelos mortos, por a considerarem uma forma de poluição espiritual, ponto de vista que distingue o candomblé da [[umbanda]].{{Sfn|Capone|2010|p=12}} Após a morte, o egun pode entrar no Orun, embora o nível que eles alcancem dependa do crescimento espiritual que eles alcançaram em vida.{{Sfn|Voeks|1997|p=63}}

=== Axé ===
O candomblé ensina a existência de uma força chamada ''ashe'' ou ''[[Axé (candomblé)|axé]]'',{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=123|2a1=Johnson|2y=2002|2p=14}} um conceito central nas tradições derivadas do iorubá.{{Sfn|Voeks|1997|p=73}} Walker descreveu o axé como "a força espiritual do universo",{{Sfn|Walker|1990|p=123}} Bahia o chamou de "força sagrada",{{Sfn|Bahia|2016|p=23}} Wafer o chamou de "força vital",{{Sfn|Wafer|1991|p=19}} enquanto Voeks preferiu o termo "energia vital".{{Sfn|Voeks|1997|p=56}} Johnson o caracterizou como "uma força espiritual criativa com efeitos materiais reais".{{Sfn|Johnson|2002|p=14}}

Os praticantes acreditam que o axé pode se mover,{{Sfn|Wafer|1991|p=19}} mas também pode ser concentrado em objetos específicos, como folhas e raízes, ou em partes específicas do corpo, especialmente sangue,{{Sfn|Voeks|1997|p=73}} que é considerado conter o axé em sua forma mais concentrada.{{Sfn|Johnson|2002|p=136}} Os humanos podem acumular axé, mas também podem perdê-lo ou transferi-lo.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=123|2a1=Voeks|2y=1997|2p=73}} Acredita-se que rituais e obrigações específicas mantenham e melhorem o axé de uma pessoa,{{Sfn|Voeks|1997|p=74}} enquanto outros atos rituais são projetados para atrair ou compartilhar essa força.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=124|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=105-106}}

=== Moralidade, ética e papéis de gênero ===

[[Ficheiro:MinC_entrega_primeiro_Mapeamento_de_Terreiros_do_DF_(41930524282).jpg|thumb|Praticantes do candomblé em [[Brasília]] em 2018]]

O candomblé geralmente não tem preceitos éticos fixos que espera que os praticantes sigam,{{sfn|Selka|2010|p=296}} embora seus ensinamentos influenciem a vida de seus adeptos.{{sfn|Walker|1990|p=124}} Em vez de enfatizar uma [[dicotomia]] entre o bem e o mal, a ênfase é colocada em alcançar o equilíbrio entre forças concorrentes.{{sfn|Selka|2010|p=296}} Os problemas que surgem na vida de uma pessoa são muitas vezes interpretados como resultantes de uma desarmonia no relacionamento de um indivíduo com seu orixá; os relacionamentos estão enraizados em obrigações recíprocas.{{sfn|Selka|2010|p=296}}

A polaridade masculino/feminino é um tema recorrente em todo o candomblé.{{sfn|Johnson|2002|p=43}} Muitos papéis dentro do candomblé estão ligados a membros de um gênero específico. Por exemplo, tanto o [[Sacrifício animal|sacrifício de animais]] quanto a raspagem da cabeça de um iniciado são geralmente reservados para os praticantes do sexo masculino, enquanto as praticantes do sexo feminino são normalmente responsáveis pelos deveres domésticos na manutenção do espaço ritual.{{sfn|Allen|2012|p=22}} Tais divisões refletem normas de gênero mais amplas na sociedade brasileira.{{sfn|Allen|2012|p=22}} Tabus também são colocados em mulheres durante a [[menstruação]].{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=159}} No entanto, as mulheres ainda podem exercer um poder significativo como chefes dos terreiros,{{sfn|Johnson|2002|p=48}} com a maioria dos terreiros na Bahia sendo liderados por mulheres;{{sfn|Voeks|1997|p=51}} alguns o chamam de religião dominada por mulheres.{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=151}} O lugar de destaque das sacerdotisas dentro do candomblé levou observadores como a antropóloga [[Ruth Landes]] a descrevê-lo como uma [[religião matriarcal]], embora tal caracterização tenha sido contestada.{{sfnm|1a1=Allen|1y=2012|1p=20|2a1=Hartikainen|2y=2017|2p=366}}

Há evidências de que o candomblé aceita mais a [[inconformidade de gênero]] do que a sociedade brasileira dominante.{{sfnm|1a1=Álvarez López|1a2=Edfeldt|1y=2007|1p=160|2a1=Allen|2y=2012|2p=20}} Embora muitos sacerdotes masculinos na religião tenham sido majoritariamente [[Heterossexualidade|heterossexuais]], existe um estereótipo generalizado de que os praticantes masculinos do candomblé são [[Homossexualidade|homossexuais]].{{sfnm|1a1=Selka|1y=2010|1p=297|2a1=Allen|2y=2012|2p=21}} Os [[gay]]s descreveram a religião como um ambiente mais acolhedor do que as formas de [[Cristianismo no Brasil|cristianismo praticadas no Brasil]].{{sfnm|1a1=Selka|1y=2010|1p=297|2a1=Allen|2y=2012|2p=20}} Eles, por exemplo, citaram histórias de relacionamentos entre orixás masculinos, como [[Oxóssi]] e [[Ossaim]], como afirmando a atração masculina pelo mesmo sexo.{{sfn|Allen|2012|p=20}} Alguns praticantes se envolveram em causas políticas, incluindo [[ambientalismo]], [[direitos indígenas]] e o movimento [[Black Power]].{{sfn|DeLoach|Petersen|2010|p=45}}

== Práticas ==

Johnson observou que o candomblé era uma religião "centrada em rituais",{{sfn|Johnson|2002|p=105}} cujos praticantes frequentemente a consideram uma religião "de prática correta em vez de doutrina correta",{{sfn|Johnson|2002|p=12}} em que realizar seus rituais corretamente é considerado mais importante do que acreditar nos orixás.{{sfn|Johnson|2002|p=13}} Johnson notou que o candomblé dedicava "pouca atenção" à "teologização abstrata".{{sfn|Johnson|2002|p=49}} Os rituais geralmente são focados em necessidades pragmáticas em relação a questões como prosperidade, saúde, amor e fecundidade;{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=69|2a1=Johnson|2y=2002|2p=36}} eles geralmente começam muito depois do horário de início anunciado.{{sfn|Johnson|2002|p=165}} Aqueles que se engajam no candomblé incluem iniciados de vários graus e não iniciados que podem comparecer a eventos e abordar os já iniciados em busca de ajuda com vários problemas.{{sfn|Walker|1990|p=116}} Johnson caracterizou o candomblé como uma [[sociedade secreta]],{{sfn|Johnson|2002|p=27}} pois faz uso do sigilo.{{sfn|Johnson|2002|p=146}} É também organizado hierarquicamente.{{sfn|Selka|2010|p=294}}


=== Terreiros ===
A religião tem, por base, a ''anima'' (alma) da [[Natureza]], sendo, portanto, chamada de [[animismo|anímica]]. Os sacerdotes africanos que vieram para o Brasil como escravos, juntamente com seus [[orixá]]s/[[inquice]]s/[[vodum|voduns]], sua [[cultura]], e seus [[idioma]]s, entre 1549 e 1888, é que tentaram de uma forma ou de outra continuar praticando suas religiões em terras brasileiras. Foram os africanos que implantaram suas religiões no Brasil, juntando várias casas em uma casa só para a sobrevivência das mesmas. Portanto, não é invenção de brasileiros.<ref>[http://www.usp.br/revistausp/46/04-reginaldo.pdf Revista da USP-De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião-por Reginaldo Prandi]</ref>


[[Imagem:AXÉ ILÊ OBÁ 09.jpg|thumb|O interior do [[terreiro]] [[Axé Ilê Obá]] em [[São Paulo]], [[Brasil]]]]
Os orixás/inquices/voduns recebem homenagens regulares, com [[oferendas nas religiões afro-brasileiras|oferendas de animais]], [[comida ritual|vegetais]] e minerais, [[Cantiga de candomblé|cânticos]], danças e [[roupa de baiana|roupas especiais]]. Mesmo quando há na mitologia referência a uma divindade criadora, essa divindade tem muita importância no dia a dia dos membros do terreiro, mas não são cultuados em templo exclusivo, é louvado em todos os preceitos e muitas vezes é confundido com o [[Deus]] cristão.


O candomblé é praticado em locais chamados ''[[terreiro]]s'',{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=104|2a1=Wafer|2y=1991|2p=4|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=13, 205|4a1=Bahia|4y=2016|4p=18}} ''[[ilê]]s'',{{sfn|Bahia|2014|p=334}} ou ''ilê orixás''.{{sfn|Johnson|2002|p=203}} Variando em tamanho, de pequenas casas a grandes complexos,{{sfn|Walker|1990|p=116}} alguns são bem conhecidos e ricos, mas a maioria são exemplos menores do que [[Roger Bastide]] chamou de "candomblés proletários",{{sfn|Voeks|1997|p=133}} que podem ser escondidos, para não atrair a atenção dos adversários.{{sfn|Hartikainen|2017|p=369}} Cada terreiro é independente e opera de forma autônoma,{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=129|2a1=Johnson|2y=2002|2p=35|3a1=Capone|3y=2010|3p=31}} muitas vezes se dissolvendo quando seu sumo sacerdote ou sacerdotisa morre.{{sfn|Johnson|2002|p=159}} A importância de um terreiro é geralmente considerada proporcional ao número de iniciados que ele possui.{{sfn|Capone|2010|p=10}}
* os orixás da mitologia ioruba<ref>{{Citar web|titulo=Ifatola General Services - See the Difference|url=http://www.ifatola.com/|obra=Ifatola General Services|acessodata=2020-02-05|lingua=en-US}}</ref> foram criados por um deus supremo, [[Olorum]] dos [[iorubás]];
* os voduns da [[Mitologia fom]]<ref>[http://www.bj.refer.org/benin_ct/tur/vodoun/vodoun.htm Vodoun]</ref> foram criados por [[Mawu]], o deus supremo dos [[fons]];
* os inquices da [[Mitologia bantu|mitologia banta]],<ref>{{Citar web|titulo=mitologia bantu que influenciou os cultos afro brasileiros {{!}} Espírito {{!}} África|url=https://pt.scribd.com/document/9625364/mitologia-bantu-que-influenciou-os-cultos-afro-brasileiros|obra=Scribd|acessodata=2020-02-05|lingua=pt}}</ref> foram criados por [[Zambi]], [[Zambiapongo]], deus supremo e criador.
*os orixás são: [[Exu (orixá)|Exu]], [[Ogum]], [[Odé]] (Oxóssi), [[Oçânhim]], [[Oxumarê]], [[Omolu]] (ou Obaluaiê), [[Nanã]], [[Iemanjá]], [[Oxum]], [[Xangô]], [[Oiá]] (Iansã), [[Obá (orixá)|Obá]], [[Ieuá]], [[Oxalá]], [[Logunedé]] e outros.


Os terreiros consistem em uma série de salas, algumas delas fechadas para não iniciados.{{sfn|Johnson|2002|p=49}} Eles contêm um altar para as divindades, um espaço para realizar cerimônias e acomodação para os sacerdotes ou sacerdotisas.{{sfn|Walker|1990|p=116}} O chão é considerado sagrado, consagrado ao orixá tutelar da casa.{{sfn|Brazeal|2013|p=115}} O ''bakisse'' é o "quarto dos santos", um depósito que contém tanto a parafernália ritual quanto os ''assentamentos'' dos orixás,{{sfn|Wafer|1991|pp=112, 122}} enquanto o ''roncó'' ("quarto de retiro") ou ''camarinha'' é usado durante as iniciações.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=112|2a1=Voeks|2y=1997|2p=67|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=124, 205}}
O candomblé cultua, entre todas as nações, umas cinquenta das centenas deidades ainda cultuadas na [[África]]. Mas, na maioria dos terreiros das grandes cidades, são doze as mais cultuadas. O que acontece é que algumas divindades têm "qualidades" que podem ser cultuadas como um diferente orixá/inquice/vodum em um ou outro terreiro. Então, a lista de divindades das diferentes nações é grande, e muitos orixás do queto podem ser "identificados" com os voduns do jeje e inquices dos bantos em suas características, mas na realidade não são os mesmos; seus cultos, rituais e toques são totalmente diferentes.
[[Imagem:AdeptosCandombleElzaFiuzaAgenciaBrasil.jpg|direita|thumb|Adeptos do candomblé]]
Orixás têm personalidades individuais, habilidades e preferências rituais, e são conectados ao fenômeno natural específico (um conceito não muito diferente do ''[[Kami]]'' no [[xintoísmo]] japonês, ou do ''[[Yazata]]'' no [[zoroastrismo]] persa). Toda pessoa é escolhida no nascimento por um ou vários "patronos" orixás, que um babalorixá identificará. Alguns orixás são "incorporados" por pessoas iniciadas durante o ritual do candomblé, outros Orixás não, apenas são cultuados em árvores pela coletividade. Alguns Orixás chamados funfuns (branco), que fizeram parte da criação do mundo, também são incorporados.


Uma sala, o ''barracão'', é onde acontecem os rituais públicos, incluindo atos de adivinhação;{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=26, 196|2a1=Voeks|2y=1997|2p=67|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=49, 202|4a1=Capone|4y=2010|4p=57}} os terreiros que não têm "barracão" podem usar um terreiro para rituais públicos.{{sfn|Wafer|1991|p=26}} Os ''[[peji]]'', ou santuários das divindades, costumam estar localizados ao redor do perímetro do barracão.{{sfn|Voeks|1997|p=67}} O terreiro muitas vezes terá uma ''cumeeira'', pólo central na estrutura que se acredita ligar o nosso mundo com o outro mundo do orixá.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=142|2a1=Johnson|2y=2002|2p=112}} Este fica acima do ''entoto'' ("fundação") do terreiro,{{sfn|Wafer|1991|p=142}} espaço que é periodicamente "alimentado" com [[Bori (candomblé)|oferendas]].{{sfn|Wafer|1991|p=132}} O recinto do terreiro pode ter uma árvore dedicada a [[Quitembo]], na qual foram afixadas faixas de pano branco,{{sfn|Wafer|1991|pp=174-175}} bem como um local reservado para as almas dos mortos, denominado ''balé'', que geralmente fica no fundo do terreiro{{sfn|Wafer|1991|pp=183, 196}} A maioria venera entre doze e vinte orixás.{{sfn|Johnson|2002|p=37}}
Acreditam na vida após a morte, e que os espíritos dos [[babalorixá]]s falecidos possam materializar-se em roupas específicas, são chamados de [[babá]] [[Egum]] ou [[Egungum]] e são cultuados em roças dirigidas só por homens no [[Culto aos egunguns]], os espíritos das [[ialorixá]]s falecidas são cultuados coletivamente [[Iami-Ajé]] nas sociedades secretas [[Guelede]], ambos cultos são feitos em casas independentes das de candomblé que também se cultuam os eguns em casas separadas dos Orixás.


=== Sacerdócio e congregação ===
Acreditam que algumas crianças nascem com a predestinação de morrer cedo são os chamados [[abicu]]s (nascidos para morrer) que podem ser de dois tipos, os que morrem logo ao nascer ou ainda criança e os que morrem antes dos pais em datas comemorativas, como aniversário, casamento, e outras.
Uma sacerdotisa que dirige um terreiro é uma ''[[mãe de santo]]'',{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=6|2a1=Voeks|2y=1997|2p=xvi|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=112, 203|4a1=Bahia|4y=2014|4p=334}} enquanto um sacerdote é um ''[[pai de santo]]''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=6|2a1=Voeks|2y=1997|2p=xvi|3a1=Johnson|3y=2002|3p=205|4a1=Bahia|4y=2014|4p=334|5a1=Bahia|5y=2016|5p=17}} Eles são responsáveis por todas as funções importantes, incluindo educar noviços, julgar disputas e fornecer serviços de cura e adivinhação;{{sfn|Voeks|1997|p=65}} são esses últimos serviços que muitos contam como sua renda principal.{{sfn|Voeks|1997|p=98}} Não limitados por autoridades religiosas externas,{{sfn|Johnson|2002|p=50}} esses "pais de santos" muitas vezes exercem controle considerável sobre seus iniciados,{{sfn|Wafer|1991|p=38}} que se espera que se submetam à sua autoridade;{{sfnm|1a1=Sansi-Roca|1y=2005|1p=142|2a1=Brazeal|2y=2013|2p=106}} conflitos entre esses "pais" e seus iniciados são, no entanto, comuns.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=142}} O sacerdote e sacerdotisa-chefe é auxiliado por outros, incluindo a "mãezinha", a ''iaquequerê''{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=131|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=50, 203}} ou ''[[mãe-pequena]]''',{{sfn|Voeks|1997|p=65}} e o "paizinho".{{sfn|Wafer|1991|p=131}} Outras funções no terreiro incluem o ''[[iabassê]]'', que prepara a comida para os orixás,{{sfn|Johnson|2002|p=203}} e o ''[[alabê]]'' (diretor musical).{{sfn|Johnson|2002|p=50}} Os iniciados, chamados ''filhos'' e ''filhas de santo'', ajudam como cozinheiros, faxineiros e jardineiros.{{sfn|Voeks|1997|p=65}} Os ''[[ogã]]'' são membros masculinos, muitas vezes não iniciados, cujo papel é em grande parte honorífico, consistindo em grande parte em contribuir financeiramente.{{sfn|Voeks|1997|p=65}}


[[Imagem:Mameto_Mukalê_e_um_dos_caboclos_do_Terreiro_Matamba_Tombenci_Neto_Marinho_e_Goldman_2020.jpg|thumb|esquerda|upright|Praticantes dentro do terreiro Matamba Tombenci Neto em [[Ilhéus]], [[Bahia]], Brasil.]]
No candomblé, como nas religiões tradicionais africanas, acredita-se em um deus supremo que criou o mundo, chamado [[Olorum]] (tradição nagô), [[Mawu]] (tradição jeje) ou [[Zambi]] (tradição angola). Em seguida, essa divindade suprema se afastou, deixando sua criação funcionando por meio das forças da natureza por Ele criadas, as quais são chamadas [[orixá]]s na tradição nagô, [[Vodum|voduns]] na tradição jeje e [[inquice]]s na tradição angola. O que se busca é a interferência concreta de deus "neste mundo" mediante a invocação das forças sagradas da natureza.


Os membros do terreiro são considerados como uma "família"{{sfn|Wafer|1991|p=146}} e seus iniciados se consideram 'irmãos' e 'irmãs' no orixá (''irmãos de santo'').{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=147|2a1=Johnson|2y=2002|2p=109}} Relações sexuais ou românticas entre os membros do terreiro são geralmente proibidas,{{sfn|Wafer|1991|p=84}} embora aconteçam.{{sfn|Wafer|1991|p=141}} Ser iniciado liga o indivíduo à linhagem histórica do terreiro;{{sfn|Brazeal|2013|p=111}} esta linhagem está ligada ao [[Axé (candomblé)|axé]] do terreiro, axé que pode ser transferido de um terreiro-mãe para um novo que está sendo estabelecido.{{sfn|Johnson|2002|p=48}} Os fundadores de um terreiro são chamados de ''essas''.{{sfn|Capone|2010|p=59}}
A cada orixá, vodum ou inquice cabe reger e controlar as forças da natureza assim como certos aspectos da vida humana e social.<ref>{{citar web|url=https://www.bol.uol.com.br/listas/conheca-caracteristicas-dos-orixas-do-candomble.htm|titulo=Conheça características dos orixás do candomblé|data=01/08/2017|acessodata=|website=UOL}}</ref> Cada um, além de ter funções distintas e poderes específicos condizentes com seus traços de personalidade, conta também com símbolos particulares, como as roupas, as cores das roupas e das contas, determinados objetos, adereços, batidas de atabaque e canções características, bebidas e alimentos, sem falar dos animais sacrificiais próprios de cada divindade. E cada orixá, vodum ou inquice tem ainda uma saudação dirigido somente a ele.


A comunidade de um terreiro é chamada de ''egbé''.{{sfn|Johnson|2002|p=202}} Pode haver inimizade entre terreiros,{{sfn|Wafer|1991|p=124}} pois competem entre si por membros,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=24|2a1=Voeks|2y=1997|2p=129|3a1=Johnson|3y=2002|3p=50}} sendo comum a deserção de indivíduos de um para outro.{{sfn|Wafer|1991|p=149}} As cerimônias públicas acontecem nos terreiros onde tanto iniciados quanto não iniciados podem comparecer para celebrar os orixás{{sfn|Walker|1990|p=121}} Nelas, a comida é oferecida a orixás específicos e o restante é repartido entre os participantes, com os quais ganham um pouco do axé dos orixás.{{sfn|Walker|1990|p=121}} Esses ritos públicos são precedidos e sucedidos por uma série de atos rituais privados.{{sfn|Walker|1990|p=121}} A maioria dos rituais que acontecem nos terreiros são privados e abertos apenas para iniciados.{{sfn|Walker|1990|p=121}} Walker acreditava que eram eles que representavam "o verdadeiro núcleo da vida religiosa da comunidade do candomblé".{{sfn|Walker|1990|p=121}}
A relação entre cada indivíduo e seu "santo" particular que se estabelece o que é certo ou errado. Para um adepto do candomblé, a definição do que é bom e do que é mau nunca é abstrata, mas sempre relativa a uma pessoa concreta com seu orixá (igualmente voduns ou inquices), pois cada um está relacionado a uma série de tabus específicos, os chamados [[euó (tabu)|euós]]. O que o devoto não pode fazer é quebrar os tabus de seu orixá, mas aquilo que é proibido para um orixá não é necessariamente proibido para outro.<ref>{{Citar web|titulo=Tabu – (Kisilas – Eewò) – O instigador.|url=https://ocandomble.com/2011/09/26/eewo-o-instigador/|obra=Candomblé|data=2011-09-26|acessodata=2020-02-05|lingua=pt-PT}}</ref>


Termos derivados da África são usados em contextos rituais, embora não excedam mil palavras.{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|pp=156-157}} Em geral, as palavras de origem [[Língua iorubá|iorubá]] predominam nas nações queto, as da [[língua fom]] são mais comuns nas nações jeje e as palavras das [[línguas bantu]] dominam a nação bantu.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=5|2a1=Álvarez López|2a2=Edfeldt|2y=2007|2p=161}} O iorubá é usado como uma linguagem ritual,{{sfn|Walker|1990|p=107}} embora poucos praticantes entendam o significado dessas palavras iorubás.{{sfn|Johnson|2002|p=42}} Não há textos sagrados específicos.{{sfn|Walker|1990|p=124}} Objetos rituais são considerados como locais e acumuladores de axé, embora esse suprimento precise ser reabastecido em vários intervalos.{{sfn|Walker|1990|p=123}} Cada terreiro também é considerado como tendo seu próprio axé, que é fortalecido pelo número de iniciados que possui e pelo número de rituais que realiza.{{sfn|Walker|1990|p=123}}
== Sincretismo ==
No tempo das [[senzala]]s, os negros, para poderem cultuar seus orixás, enquices e voduns, usavam como camuflagem um altar com imagens de santos católicos e, por baixo, os [[ibá orixá|assentamentos]] escondidos.<ref name="Não-nomeado-xXEp-1"/> Segundo alguns pesquisadores, esse [[sincretismo]] já havia começado na África, induzido pelos próprios [[missionários]] cristãos para facilitar a [[Conversão (religião)|conversão]].


Sacerdotes e sacerdotisas são considerados intermediários entre os orixás e a humanidade.{{sfn|Walker|1990|p=116}} Tornar-se iniciado implica uma relação de responsabilidade mútua entre o novo iniciado e os orixás.{{sfn|Walker|1990|p=116}} Algumas evidências sugerem que a proporção de sacerdotisas aumentou ao longo do século XX.{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=156}}
Depois da libertação dos escravos, começaram a surgir as primeiras casas de candomblé, e é fato que o candomblé de séculos incorporou muitos elementos do [[cristianismo]]. Imagens e [[crucifixo]]s eram exibidos nos templos, orixás eram frequentemente identificados com [[santos]] [[Catolicismo|católicos]], algumas casas de candomblé também incorporam entidades de [[caboclo]]s, que eram consideradas pagãs como os orixás.


Os orixás estão "sentados" dentro de objetos no terreiro.{{sfn|Wafer|1991|p=16}} Estes são então armazenados, todos juntos em uma sala ou, se o espaço permitir, em salas separadas.{{sfn|Wafer|1991|p=16}} As mulheres iniciadas que não entram em transe, mas auxiliam as que o fazem, são chamadas de ''[[equede]]''; suas contrapartes masculinas são denominadas ''[[ogã]]''.{{sfn|Johnson|2002|p=202}} Uma prostração diante do sacerdote ou sacerdotisa, ou diante de alguém possuído por um orixá, é chamada de ''[[dobalé]]'';{{sfn|Johnson|2002|p=202}} prostrar-se diante da mãe ou do pai de santo é chamada de ''[[icá]]''.{{sfn|Johnson|2002|p=203}}
Mesmo usando imagens e crucifixos, inspiravam perseguições por autoridades, que viam o candomblé como [[paganismo]] e [[bruxaria]].


=== Santuários e ''otás'' ===
Nos últimos anos, tem aumentado um movimento em algumas casas de candomblé que rejeitam o sincretismo aos elementos cristãos e procuram recriar um candomblé "mais puro" baseado exclusivamente nos elementos africanos.<ref>{{Citar web|titulo=Mãe Stella: "Candomblé não é brincadeira" - Terra - Cultura|url=http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2215213-EI6581,00-Mae+Stella+Candomble+nao+e+brincadeira.html|obra=terramagazine.terra.com.br|acessodata=2020-02-05|lingua=pt-br}}</ref>
[[Imagem:Objeto_de_Orumila_Ifá_Benin._Orossi.JPG|thumb|Os ''[[otá]]s'', pedras sagradas que são centrais nos altares do candomblé]]


Um altar aos orixás é chamado de ''[[peji]]''.{{sfn|Johnson|2002|p=205}} Ele contém um conjunto de objetos denominado ''assentamento'' ou ''assento'' do orixá,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=28|2a1=Johnson|2y=2002|2p=201|3a1=Sansi-Roca|3y=2005|3p=142}} considerado como sua casa.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=143}} Isso geralmente consiste em vários itens colocados dentro de um recipiente esmaltado, de barro ou de madeira,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=130|2a1=Sansi-Roca|2y=2005|2p=142}} muitas vezes envolto em um pano.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=143}} A parte principal do assentamento é uma pedra sagrada conhecida como ''[[otá]]'',{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=19, 130|2a1=Voeks|2y=1997|2p=77|3a1=Sansi-Roca|3y=2005|3p=139}} que possui axé{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=19|2a1=Johnson|2y=2002|2p=123}} e assim requer alimentação.{{sfn|Johnson|2002|pp=116-117}} Diferentes orixas estão associados a diferentes tipos de pedra; as do oceano ou dos rios estão, por exemplo, ligadas a [[Oxum]] e [[Iemanjá]], enquanto as que se acredita terem caído do céu estão ligadas a [[Xangô]].{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=142}} Espera-se que os praticantes as encontrem, em vez de comprá-las.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=142}} Elas serão então consagradas ritualmente, sendo lavadas, recebendo oferendas e "sentadas" em um vaso.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=143}}
== Templos ==
[[Imagem:Ile opo afonja.jpg|thumb|[[Ilê Axé Opô Afonjá]]]]


Ao lado dos otás, os vasos geralmente contêm ''ferramentos'' ou objetos de metal associados a orixás específicos,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=130|2a1=Johnson|2y=2002|2p=117}} conchas de [[búzios]],{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=152}} pulseiras chamadas ''idés'',{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=153}} partes de corpos de animais,{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=153}} estátuas dos santos católicos romanos associados{{sfn|Wafer|1991|p=130}} e uma mistura de água, mel e preparações à base de ervas.{{sfn|Johnson|2002|p=117}} Eles também podem incluir cabelos do iniciado a quem pertencem.{{sfn|Wafer|1991|p=132}} O assentamento pode ser guardado em casa,{{sfn|Wafer|1991|p=132}} ou dentro da sala de ''bakisse'' do terreiro,{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=122|2a1=Johnson|2y=2002|2p=116}} que só é aberta pela sacerdotisa ou sacerdote responsável.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=143}} Lá, os assentamentos dos iniciados podem ser organizados em um altar de vários níveis, decorado com fitas, luzes coloridas e flores.{{sfn|Wafer|1991|p=130}}
=== Denominação ===
Em língua portuguesa, os [[templo]]s de candomblé são normalmente chamados de ''casas'', ''roças, [[Terreiro de candomblé|terreiros]], barracão'' ou ''axé''. Adotam ainda denominações oriundas de línguas africanas, de acordo com a nação ao qual pertencem: ''ilê axé'' (nações Queto, Efom e Ijexá), ''kwe'', ''abaçá'' ou ''humpame'' (nações jeje), ''nzo'', ''mbazi'', ''canzuá'' (nações bantu). Por exemplo, o [[Roça do Ventura|Zoogodô Bogun Malê Sejahundê]] (nação jeje mahi), é mais conhecido como Kwe Sejahundê ou simplesmente Roça do Ventura.<ref>{{Citar web|titulo=G1 lista terreiros de candomblé na BA e dá dicas para frequentar templos|url=http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/11/g1-lista-terreiros-de-candomble-na-ba-e-da-dicas-para-frequentar-templos.html|obra=Bahia|data=2016-11-30|acessodata=2020-02-05|lingua=pt-br|primeiro=Danutta RodriguesDo G1|ultimo=BA}}</ref>


Objetos rituais são santificados com uma infusão de ervas chamada ''amaci''.{{sfn|Wafer|1991|p=195}} Os praticantes acreditam que doar sangue para sua parafernália ritual renova o axé desses objetos.{{sfn|Wafer|1991|p=19}} No Brasil, várias lojas são especializadas em apetrechos exigidos no camdomblé.{{sfn|Johnson|2002|p=162}}
=== Arquitetura ===
Geralmente, os terreiros ficam localizados em lugares distantes, como sítios; alguns em locais mais centrais. Podem ser grandes ou pequenos, porém precisam ser bem planejados para comportar todos os segmentos necessários para o bom andamento das liturgias.


=== Oferendas e sacrifício de animais ===
=== Tombamento ===
Há mais de 30 anos, o [[Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional|IPHAN]] (Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional) reconhece os espaços sagrados dos terreiros como patrimônio cultural brasileiro. Assim, o órgão do Governo Federal tombou os seguintes terreiros em Salvador, Itaparica e Cachoeira, todos no estado da Bahia:<ref>{{citar web|url=http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1312/|titulo=Terreiros Tombados|acessodata=08/02/2019|publicado=Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional|ultimo=IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional|primeiro=IPHAN}}</ref>


[[Imagem:Ilê_Axé_Ibalecy_Salvador_Bahia_2018-1452.jpg|thumb|esquerda|upright|Um altar de candomblé no terreiro Ilê Axé Ibalecy em [[Salvador]], Bahia]]
* Ilê Axé Iá Nassô Ocá (Casa Branca do Engenho Velho, Salvador/BA)
* Ilê Axé Opô Afonjá (Salvador/BA)
* Ilê Iá Omim Axé Iamassé (Terreiro do Gantois, Salvador/BA)
* Ilê Mariô Láji (Terreiro do Alaqueto, Salvador/BA)
* Mansu Banduquenquê (Terreiro do Bate-Folha, Salvador/BA)
* Ilê Oxumarê Axé Ogodô (Casa de Oxumarê, Salvador/BA)
* Ilê Aboulá ([[Itaparica]]/BA)
* Zoogodô Bogum Malê Sejaundê (Roça do Ventura, [[Cachoeira (Bahia)|Cachoeira]]/BA)


As oferendas são conhecidas como ''[[ebó]]s''{{sfnm|1a1=Johnson|1y=2002|1pp=136, 202|2a1=Selka|2y=2010|2p=294|3a1=Brazeal|3y=2013|3p=104|4a1=Bahia|4y=2016|4p=28}} e acredita-se que geram [[Axé (candomblé)|axé]] que então dá ao orixá o poder de ajudar seus adoradores.{{sfn|Johnson|2002|p=136}} O material oferecido aos orixás ou espíritos menores nesses ''ebós'' inclui comida, bebida, aves e dinheiro;{{sfn|Brazeal|2013|p=109}} quando o sacrifício de animais não está envolvido, uma oferta de alimentos é chamada de ''comida seca''.{{sfn|Johnson|2002|p=202}} Quando uma cerimônia começa, os praticantes costumam oferecer um ''[[Ipadê de Exu|padé]]'', ou oferenda propiciatória, ao orixá [[Exu (orixá)|Exu]].{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=76|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=134, 205|3a1=Brazeal|3y=2013|3p=112}} A comida é oferecida ao orixá, muitas vezes é colocada em local apropriado na paisagem; oferendas para Oxum são, por exemplo, frequentemente colocadas perto de um córrego de [[água doce]].{{sfn|Johnson|2002|p=36}} Alimentos específicos são associados a cada orixá;{{sfn|Johnson|2002|p=133}} uma mistura de quiabo com arroz ou farinha de mandioca, conhecida como ''[[amalá]]'', é considerada a preferida de [[Xangô]], [[Obá (orixá)|Obá]] e [[Iansã]].{{sfn|Johnson|2002|p=201}} Quando colocados no terreiro, os alimentos normalmente são deixados no local por um a três dias, tempo suficiente para o orixá consumir a essência dos alimentos.{{sfn|Johnson|2002|p=36}} O ritual de pagamento em dinheiro, muitas vezes acompanhando os sacrifícios, é denominado ''dinheiro do chão''. Como parte disso, o dinheiro é colocado no chão e muitas vezes salpicado de sangue, antes de ser dividido entre os participantes do rito.{{sfn|Brazeal|2013|p=114}}
== Hierarquia ==
{{VT|Hierarquia do candomblé}}
No Brasil, existe uma divisão nos cultos: [[Ifá]], [[Egungum]], [[Orixá]], [[vodum]] e [[inquice]] são separados por tipo de [[iniciação]] ao [[sacerdócio]].


O candomblé consiste no sacrifício de animais a orixás, exus, caboclos e eguns,{{sfn|Brazeal|2013|p=116}} o que se chama ''matanças''.{{sfn|Voeks|1997|p=65}} O indivíduo que conduz o sacrifício é conhecido como ''[[axogum]]''{{sfn|Wafer|1991|p=130}} ou às vezes como ''faca''.{{sfn|Voeks|1997|p=65}} As espécies normalmente usadas são [[galinha]], [[galinha-d'angola]], [[pomba]] branca e [[cabra]].{{sfn|Voeks|1997|p=81}} O animal geralmente tem o pescoço cortado com uma faca,{{sfn|Wafer|1991|p=42}} ou, no caso das aves, a cabeça decepada.{{sfn|Johnson|2002|p=121}} Depois que o animal é morto, seu sangue é derramado no altar; seus órgãos são frequentemente removidos e colocados ao redor do "assento" do orixá{{sfn|Brazeal|2013|p=116}} Após o sacrifício, é comum que a adivinhação seja realizada para determinar se o sacrifício foi aceito pelos espíritos.{{sfn|Wafer|1991|p=42}} Outras partes do corpo serão então consumidas pelos participantes do rito; a exceção é se o sacrifício for para ''eguns'', quando então são deixados para apodrecer ou colocados em um rio.{{sfn|Brazeal|2013|p=116}} Parte da comida pode então ser retirada, deixada na floresta, jogada em um corpo d'água ou colocada em uma [[Encruzilhada (umbanda)|encruzilhada]];{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=42, 128|2a1=Johnson|2y=2002|2p=130}} isso é referido como "suspender um sacrifício".{{sfn|Wafer|1991|p=203}}
* No [[Culto de Ifá|culto de ifá]], participam tanto homens quanto mulheres, sendo um culto patriarcal conduzido pelos [[babalaô]]s.
* No culto aos egunguns, participam tanto homens quanto mulheres, sendo um culto patriarcal que lida diretamente com a ancestralidade, conduzidos pelos [[Ojé]].
* No [[candomblé Queto]], participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens babalorixás) quanto por mulheres ialorixás), entram em transe com orixá.
* No [[[[Candomblé Jeje|jeje]]]] participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens (babalorixás) quanto por mulheres (ialorixás), entram em transe com orixá.
* No [[candomblé Jeje]], participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens quanto por mulheres [[Vodunce]]s, entram em transe com [[Vodum|voduns]].
* No [[Candomblé Banto|candomblé banto]], participam tanto homens quanto mulheres, sendo conduzido tanto por homens quanto por mulheres iniciadas [[muzenza]]s: entram em transe com enquice.


Sacrifícios de pássaros às vezes são realizados não como uma oferenda, mas como parte de um ritual de limpeza; ele então terá suas pernas, asas e, finalmente, seu pescoço quebrado.{{sfn|Wafer|1991|p=7}} Nesses casos, a ave não é comida.{{sfn|Brazeal|2013|p=116}} Fora do Brasil, os praticantes têm enfrentado desafios na realização de sacrifícios de animais; na [[Alemanha]], por exemplo, é proibido por lei.{{sfnm|1a1=Bahia|1y=2014|1p=362|2a1=Bahia|2y=2016|2pp=22-23}}
== Sacerdócio ==
Nas [[religiões afro-brasileiras]], o sacerdócio é dividido em:


=== Iniciação ===
* [[Babalaô]] - Sacerdote de [[Orumilá]] do [[Culto de Ifá]]
A prática do candomblé requer uma iniciação{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|p=157}} e a religião é estruturada em torno de um sistema hierárquico de iniciações.{{sfn|Johnson|2002|p=9}} Ser iniciado é referido como ''feito'',{{sfn|Johnson|2002|p=202}} enquanto o processo de iniciação é denominado ''fazer a cabeça''{{sfn|Johnson|2002|p=202}} ou ''fazer o santo''.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=141}} Os iniciados no candomblé são conhecidos como ''filhos de santo''.{{sfn|Johnson|2002|pp=13, 202}} Em sua iniciação, eles recebem um novo nome, o ''nome de santo'', que geralmente indica a identidade de seu orixá tutelar.{{sfn|Álvarez López|Edfeldt|2007|pp=161-162}} Muitas pessoas chegam ao candomblé por problemas em suas vidas, como doenças. Um sacerdote ou sacerdotisa usará a adivinhação para determinar a causa do problema e seu remédio, às vezes revelando que a iniciação na religião resolverá o problema.{{sfn|Brazeal|2013|p=105}} Muitos sentem que um orixá exigiu sua iniciação, sendo esta sua ''obrigação''.{{sfn|Sansi-Roca|2005|p=141}} Se um grupo de indivíduos está sendo iniciado junto, eles são chamados de ''barco''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=196|2a1=Johnson|2y=2002|2p=202}}
* [[Bokonon]] - Sacerdote do vodum [[Fa]]
[[Imagem:Iniciação_é_um_rito_de_passagem.JPG|thumb|Uma iniciação realizada na Bahia em 2008; as roupas brancas e manchas brancas são usadas nesta cerimônia{{sfn|Wafer|1991|p=137}}]]
* [[Babalorixá]] ou [[Ialorixá]] - Sacerdotes de [[Orixá]]s
* [[Doté]] ou [[Doné]] - Sacerdotes de [[vodum|voduns]]
* [[Tata-de-inquice|Tateto]] e [[mameto-de-inquice|Mameto]] - Sacerdotes de [[Inquice]]s
* [[Ojé]] - Sacerdote do [[Culto aos egunguns]]
* [[babalossaim]] - Sacerdote de [[Oçânhim]]


A duração do processo iniciático varia entre as casas de candomblé, mas geralmente dura de algumas semanas a alguns meses.{{sfn|Walker|1990|p=120}} O iniciado é primeiro levado ao terreiro, onde é deixado para um período de relaxamento, o descanso, para que se torne 'frio', em vez de 'quente'.{{sfn|Johnson|2002|pp=110-112, 202}} Eles estarão vestidos com roupas brancas;{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=122|2a1=Johnson|2y=2002|2p=118}} um pequeno sino pode ser anexado a eles para alertar os outros se eles saírem do terreiro.{{sfn|Wafer|1991|pp=121-122}} Um dos primeiros atos durante o processo iniciático é dar ao iniciado um colar de contas associado ao seu orixá.{{sfn|Walker|1990|p=119}} O colar é colorido de acordo com o orixá tutelar do iniciado; branco para Oxalá, azul escuro para Ogum, ou vermelho e branco para Xangô, por exemplo.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=112|2a1=Voeks|2y=1997|2p=77|3a1=Johnson|3y=2002|3pp=108-109}} Essas contas serão lavadas e aspergidas com o sangue de um animal sacrificado.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=119|2a1=Wafer|2y=1991|2p=112}} Essas contas às vezes são vistas como protegendo o usuário de danos.{{sfn|Walker|1990|p=104}}
== Adeptos ==
Povo do Santo<ref>[[Raul Lody]] - O Povo do Santo – Religião, História e Cultura dos Orixás, São Paulo, WMF/Martins Fontes, 2006. ISBN 85-60156-09-7]</ref> ou povo de santo, ou simplesmente "do santo" é como se definem as pessoas devotadas ao culto dos [[orixá]]s, [[vodum|voduns]] e [[inquice]]s, as entidades [[áfrica|africanas]], no [[Brasil]].


O iniciado é então recluso em uma sala do terreiro chamada ''roncô'',{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=12|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=117-118}} durante a qual ele é chamado de ''[[iaô]]''.{{sfn|Wafer|1991|p=136}} No roncô, eles dormem em uma esteira de palha,{{sfn|Johnson|2002|p=115}} comendo apenas comida leve;{{sfn|Johnson|2002|p=118}} muitas vezes não será permitido falar.{{sfn|Johnson|2002|p=118}} Durante este período, eles aprendem os vários detalhes de seu orixá associado, como seus gostos e desgostos e os ritmos de tambor apropriados e danças que invocam essa divindade.{{sfn|Walker|1990|p=120}} O tempo gasto em isolamento varia, embora três semanas seja o típico.{{sfn|Johnson|2002|p=119}} Eles serão banhados em água misturada com ervas,{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=120|2a1=Johnson|2y=2002|2p=117}} especialmente a cabeça,{{sfn|Wafer|1991|pp=149-150}} que será então raspada.{{sfn|Walker|1990|p=120}}
A famosa música "O Que é que a Baiana Tem", composta por [[Dorival Caymmi]] e imortalizada por [[Carmen Miranda]], apresenta o [[estereótipo]] da [[baiana]] de santo, e por extensão o estereótipo de todo um grupo social, com seus [[traje]]s, [[comida]]s, [[penteado]]s e [[dança típica|danças típicas]]. Porém, muito além do [[clichê]], encontra-se uma cultura bastante complexa e interessante. [[Jorge Amado]] e [[Carybé]] foram outros artistas que retrataram muito bem os modos do povo do santo em suas obras.


O iniciado é então levado para uma sala vizinha, onde os altares foram montados. Um baterista toca enquanto os iniciados pré-existentes cantam canções de louvor.{{sfn|Johnson|2002|p=119}} Animais são sacrificados, inclusive de um animal de quatro patas e parte do sangue pode ser tocado em partes do corpo do iniciado.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=150|2a1=Johnson|2y=2002|2p=119}} A cabeça do iniciado é então raspada e dois cortes são feitos no ápice dela com uma navalha; uma mistura de sangue animal e ervas pode ser adicionada às incisões. Isso é feito para permitir a entrada do orixá na cabeça.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=111|2a1=Johnson|2y=2002|2p=119}} Um cone de cera, o ''[[adoxu]]'', é então colocado na ferida para estancar o sangramento;{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=137|2a1=Johnson|2y=2002|2p=119}} a cabeça será então enrolada em um pano.{{sfn|Wafer|1991|p=121}} Dependendo do terreiro, também podem ser feitos cortes na ponta da língua do iniciado, nas costas, braços, coxas, nádegas e solas dos pés.{{sfn|Wafer|1991|pp=145-146}} Feitas as incisões, o orixá é "assentado" dentro da cabeça do indivíduo durante o ritual de ''assentar o santo''.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=119|2a1=Johnson|2y=2002|2p=108}}
O Candomblé empresta a seus devotos maneiras de pensar e modos de vida cotidianos: o vestir, o comer, o falar, tudo é influenciado pela [[religião]]. Há algumas iniciativas contemporâneas de preservação, afirmação e revitalização dessas culturas, seja a obra de estudiosos como [[Pierre Verger]], [[Edison Carneiro]], [[Roger Bastide]], [[Nina Rodrigues]], [[Deoscóredes Maximiliano dos Santos]], o Mestre Didi, [[Juana Elbein dos Santos]], [[Mãe Stella de Oxóssi]], [[José Flávio Pessoa de Barros]], [[Reginaldo Prandi]], [[Raul Lody]].


Após a iniciação, o novo iniciado pode ser apresentado ao resto da comunidade por meio de uma cerimônia pública de "apresentação", a ''saída''.{{sfnm|1a1=Walker|1y=1990|1p=122|2a1=Wafer|2y=1991|2p=202}} Junto com suas roupas brancas, seu corpo estará coberto de manchas brancas.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=137, 142|2a1=Johnson|2y=2002|2p=126}} Durante isso, pode-se esperar que dêem o nome da marca de seu orixá tutelar, que supostamente descobriram por meio de um sonho.{{sfn|Wafer|1991|p=123}} No ''[[panã]]'', o iniciado é reensinado simbolicamente em tarefas mundanas,{{sfn|Johnson|2002|p=121}} um ritual às vezes seguido por um leilão no qual o iniciado é simbolicamente vendido para seu cônjuge ou um membro de sua família, uma referência à era da escravidão.{{sfn|Johnson|2002|p=121}} Na sexta-feira seguinte, eles devem assistir à missa em uma igreja católica romana, conhecida como ''romaria''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=162|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=121-122}} Finalmente, um membro sênior do terreiro conduzirá o iniciado, ainda vestido de branco, de volta à sua casa.{{sfn|Johnson|2002|p=121}} Ao longo do ano seguinte, o iniciado pode realizar novas "obrigações" para construir seu relacionamento com o orixá.{{sfn|Walker|1990|p=122}}
Ser "do santo" é considerado uma atitude de afirmação individual, dentro do culto, mas também dentro da sociedade brasileira. Poucas figuras de destaque tomaram tal posição publicamente, como foi o caso de [[Agenor Miranda]], [[Gilberto Gil]],[[Antonio Olinto]], [[Edvaldo Pereira de Brito|Edvaldo Brito]] figuras públicas que têm cargos no santo. Por outro lado, grandes pais do santo, os chamados pais de santo e mães de santo, tornaram-se célebres por seu trabalho sério dentro da [[religião]] do Candomblé, como foi o caso de [[Eugênia Ana dos Santos|Mãe Aninha]], [[Mãe Senhora]], [[Menininha do Gantois]], [[Mãe Stella de Oxóssi|Mãe Stella]], [[Edelzuita de Oxaguiã]], [[Edvaldo Brito]],<Ref>{{citar web |url=http://www.fernandomachado.blog.br/novo/?p=27799 |titulo=Notícias da Bahia - [[Edvaldo Brito]] - Babá ebê no [[Terreiro do Gantois]] |ultimo1=Machado |primeiro1=Fernando|data=02-08-2010|publicado=Fernando Machado |acessodata=28-06-2019 |citacao=O vice-prefeito Edvaldo Brito no terreiro de São Gonçalo cerimônias comemorativas dos 100 anos do terreiro [[Ilê Axé Opô Afonjá]].}}</ref> dentre outros.


O candomblé inclui várias iniciações graduais adicionais, que se espera que ocorram um ano, três anos e depois sete anos após a cerimônia de iniciação original.{{sfn|Johnson|2002|p=16}} Ao longo disso, espera-se que aprendam a receber todos os seus orixás tutelares.{{sfn|Wafer|1991|p=17}} Aqueles que realizaram sete anos de rituais iniciáticos são chamados de ''[[ebomi]]''{{sfn|Johnson|2002|pp=109-110}} ou ''ebame''.{{sfn|Wafer|1991|p=198}} Ao final dos sete anos, eles "recebem o ''[[decá]]''" de seu iniciador, recebendo uma bandeja com objetos rituais; isso lhes permite ir e formar seu próprio templo.{{sfn|Wafer|1991|pp=16-17}} Na prática, muitos adeptos não podem pagar por essas cerimônias no horário especificado e, em vez disso, ocorrem muitos anos depois.{{sfn|Johnson|2002|p=16}}
== Temas polêmicos ==
=== Preconceito ===
{{AP|Preconceito contra religiões afro-brasileiras}}
[[Manuel Raimundo Querino]] foi um [[abolicionista]] ferrenho, lutou contra as perseguições existentes aos praticantes das religiões [[afro-brasileira]]s que eram rotuladas de religiões bárbaras e [[pagã]]s.


=== Possessão ===
[[Procópio Xavier de Sousa|Procópio de Ogum]] teve o seu reconhecimento por ter participado da legitimação da religião do candomblé, durante a perseguição às [[religiões afro-brasileiras]] promovida pelas autoridades do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]]. Nesse período, o [[Ilê Ogunjá]] foi invadido pela polícia baiana, sob a supervisão do famoso delegado [[Pedrito Gordo]]. Procópio foi preso e espancado. O jornalista Antônio Monteiro foi uma das pessoas que ajudou na libertação de Procópio. Tal acontecimento - caso Pedrito - registrou o nome de Procópio na história popular baiana, chegando mesmo a fazer parte de uma letra de [[Samba de Roda|samba-de-roda]]:
[[Imagem:Candomblé_Itaparica.jpg|thumb|esquerda|Cerimônia de candomblé na ilha de [[Itaparica]] na Bahia]]


A música e a dança são elementos fundamentais do candomblé.{{sfn|Bahia|2016|p=25}} A percussão geralmente ocorre a noite toda.{{sfn|Bahia|2016|p=24}} Espera-se que os participantes usem branco, com as mulheres usando saias.{{sfn|Bahia|2016|p=24}} São empregados três tipos principais de [[tambor]]es, sendo o maior o ''rum'', o médio o ''rumpi'' e o menor o ''lé''.{{sfn|Johnson|2002|pp=112, 203,205}} Esses tambores são entendidos como vivos e precisam ser alimentados.{{sfn|Johnson|2002|p=112}} O baterista principal é conhecido como ''[[alabê]]''.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1pp=130-131, 195|2a1=Johnson|2y=2002|2p=201}} Muitos terreiros afirmam que as mulheres não devem se envolver nesse ritual de percussão, embora outros rejeitem essa tradição.{{sfn|Wafer|1991|p=136}} Em alguns rituais, os praticantes bebem uma mistura contendo [[Mimosa tenuiflora|jurema-preta]], uma planta levemente [[alucinógena]], que às vezes é misturada com o sangue de animais sacrificados.{{sfn|Wafer|1991|p=79}}
{{quote2|"Não gosto de candomblé que é festa de feiticeiro quando a cabeça me dói serei um dos primeiros Procópio ''tava'' na sala esperando santo chegá quando chegou seu Pedrito Procópio passa pra cá Galinha tem força n’aza o galo no esporão Procópio no candomblé Pedrito é no facão. Acabe com este santo Pedrito vem aí lá vem cantando ca ô cabieci"| (Alvarenga, 1946, p. 200)}}


O estado de vertigem que sinaliza o início do transe é conhecido como ''barravento''.{{sfn|Wafer|1991|p=196}} Quando o transe começa, os praticantes geralmente experimentam um espasmo corporal denominado ''arrepio''.{{sfn|Wafer|1991|p=195}} Os praticantes acreditam que quando um indivíduo é possuído por um espírito, eles não têm controle sobre as ações deste último.{{sfn|Wafer|1991|p=102}} Dentro do candomblé, é considerado um privilégio ser possuído por um orixá.{{sfn|Walker|1990|p=120}} Uma forma baiana comum de se referir à posse é ''receber''.{{sfn|Wafer|1991|p=101}} Por implicar ser "montado", ser possuído é considerado um papel simbolicamente feminino.{{sfn|Johnson|2002|p=44}} Por esta razão, muitos homens heterossexuais recusam a iniciação no candomblé; alguns acreditam que o envolvimento nesses ritos pode tornar um homem homossexual.{{sfn|Johnson|2002|p=45}} Entre os praticantes, às vezes é afirmado que no passado os homens não participavam das danças que conduziam à possessão.{{sfn|Johnson|2002|p=44}} Frequentemente, aqueles que se acredita possuídos por um orixá não comem, bebem ou fumam, enfatizando sua disposição aristocrática{{sfn|Wafer|1991|p=62}} e também raramente ou nunca falam.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=62|2a1=Johnson|2y=2002|2p=175}} Quando dançam, muitas vezes são estilizados e controlados.{{sfn|Wafer|1991|p=63}} Muitos terreiros proíbem a fotografia de pessoas em transe de possessão.{{sfn|Johnson|2002|p=176}}
{{quote2|O Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa [[Casa Branca do Engenho Velho|Ilê Iá Nassô]]: "Foram presos e colocados à disposição da [[polícia]] Cristóvão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, [[Negros|crioulos]] livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, [[mulato]]; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana... que estavam no local chamado [[Engenho Velho da Federação (Salvador)|Engenho Velho]], numa reunião que chamavam de "candomblé"".|Pierre Verger.}}


Depois que um indivíduo fica possuído, ele pode ser conduzido a uma antessala para ser vestido com roupas associadas ao orixá possuidor; isso geralmente inclui vestidos de cores vivas, independentemente do sexo dos envolvidos.{{sfn|Voeks|1997|p=86}} Os possuídos por [[Ogun]], por exemplo, frequentemente receberão um capacete de metal e um machado, enquanto os possuídos por [[Oxum]] usam uma multidão e carregam uma espada e o leque de ''[[abebé]]''.{{sfn|Voeks|1997|p=86}} Os praticantes podem se prostrar completamente diante do possuído.{{sfn|Wafer|1991|p=175}} Aqueles possuídos por um orixá podem entregar previsões e profecias.{{sfn|Wafer|1991|p=165}} O estilo de fala adotado pelo possuído será influenciado pelo tipo de espírito que se acredita possuí-lo.{{sfn|Wafer|1991|p=44}} Aqueles considerados possuídos por caboclos costumam fumar [[charuto]]s{{sfn|Wafer|1991|p=64}} e às vezes colocam [[pólvora]] na palma da mão, que então acendem com o charuto para causar uma explosão.{{sfn|Wafer|1991|p=99}} Um falso transe é conhecido como ''equê''.{{sfn|Wafer|1991|p=34}} Aqueles que não entram em transe são conhecidos como ''[[ogã]]s'' se forem homens e ''[[equede]]s'' se forem mulheres.{{sfn|Wafer|1991|p=16}}
[[Imagem:Ministra Matilde Ribeiro.jpg|thumb|Brasília - Ministra [[Matilde Ribeiro]], da Secretaria Especial para Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com a Baiana Mãe de Santo Raida, na [[Conferência Regional das Américas]]]]


=== Festivais públicos ===
[[Abdias do Nascimento]] conta, em uma entrevista concedida ao Portal Afro:<ref>[http://www.dgabc.com.br/News/5927241/preconceito-ainda-marca-religioes-afro.aspx Preconceito ainda marca religiões afro]</ref>{{quote2|Os cultos [[afro-brasileiro]]s eram uma questão de polícia. Dava cadeia. Até hoje, nos museus da polícia do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]] ou da [[Bahia]], podemos encontrar artefatos cultuais retidos. São peças que provavam a suposta delinquência ou anormalidade mental da comunidade negra. Na Bahia, o [[Instituto Médico Legal Nina Rodrigues|Instituto Nina Rodrigues]] mostra exatamente isso: que o negro era um camarada doente da cabeça por ter sua própria crença, seus próprios valores, sua liturgia e seu culto. Eles não podiam aceitar isso.}}
[[Imagem:Offerings_for_Lemanjá.jpg|thumb|upright|No dia de sua festa em fevereiro, oferendas a [[Iemanjá]] são colocadas em barcos e levadas para serem lançadas na água.{{sfn|Johnson|2002|p=137}}]]


Embora os detalhes do calendário litúrgico variem entre os terreiros, o candomblé apresenta um ciclo anual de festivais ou festas para os orixás.{{sfn|Johnson|2002|p=137}} Às vezes são privados e às vezes abertos ao público.{{sfn|Bahia|2014|p=343}} Estes são tipicamente realizados no dia do santo católico romano associado a um determinado orixá.{{sfn|Wafer|1991|p=58}} A principal temporada festiva começa em setembro, com a Festa de Oxalá, e segue até fevereiro, quando ocorre a [[Festa de Iemanjá]].{{sfn|Johnson|2002|p=137}}
=== Homossexualidade ===
A homossexualidade está presente na maioria das religiões, porém oculta, indiscutivelmente abafada por princípios e muitas vezes negada pelos [[Ex-ex-gay|ex]]-homossexuais.


Em alguns casos, as festas de candomblé tornaram-se amplamente populares entre o público, especialmente as de Oxalá e Iemanjá.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=81|2a1=Johnson|2y=2002|2p=158}} Centenas de milhares de pessoas se reúnem na praia no dia de Iemanjá (2 de fevereiro),{{sfn|Voeks|1997|p=81}} onde muitas vezes carregam oferendas para ela em barcos, que então as levam para a água e as jogam ao mar.{{sfn|Johnson|2002|p=145}} As festas dos caboclos costumam acontecer no dia 2 de julho, dia que marca a [[Independência da Bahia|independência da Bahia de Portugal]].{{sfn|Wafer|1991|p=53}}
No candomblé, a homossexualidade é amplamente aceita e discutida nos dias atuais, mas já teve um período que homens heterossexuais e homossexuais não podiam ser iniciados como rodantes (termo usado para pessoas que entram em [[transe]]), não era permitido em festas que um homem dançasse na roda de candomblé mesmo que estivesse em transe.


Alguns terreiros realizam festas públicas tanto para os orixás quanto para os caboclos, embora alguns as realizem apenas para uma dessas duas categorias de espíritos.{{sfn|Wafer|1991|p=45}} As festas públicas para exus são mais raras.{{sfn|Wafer|1991|p=44}} O tom do evento difere dependendo de qual categoria de espírito está sendo homenageada; as dos orixás têm estrutura mais fixa e maior formalidade, enquanto as dos caboclos são mais espontâneas e de maior interação entre os espíritos e os participantes humanos.{{sfn|Wafer|1991|p=45}} Na nação jeje, o ritual das [[Águas de Oxalá]] é realizado no início do ano litúrgico; trata-se de trazer água fresca, às vezes de um poço, para o terreiro para purificar e reabastecer os assamentos.{{sfn|Johnson|2002|p=137}}
O mais famoso e revolucionário homossexual do candomblé foi sem dúvida [[Joãozinho da Gomeia]], que afrontou as matriarcas e ocupou seu espaço tornando-se conhecido internacionalmente. Tiveram muitos outros, mas nenhum conseguiu suplantá-lo em ousadia e popularidade.


=== Aborto ===
=== Adivinhação ===
Sacerdotes e sacerdotisas se dedicam à [[adivinhação]], o que muitas vezes se mostra uma importante fonte de renda para eles.{{sfn|Voeks|1997|pp=89-90}} A forma mais comum de adivinhação no Brasil é o ''[[Fio de contas|dilogun]]'' ou [[jogo de búzios]], praticado tanto por homens quanto por mulheres.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=89|2a1=Johnson|2y=2002|2pp=12, 203|3a1=Capone|3y=2010|3p=43}} Implica jogar [[búzio]]s no chão e, em seguida, interpretar as respostas dos lados em que caíram.{{sfn|Wafer|1991|pp=113-114}} É comum que 16 projéteis sejam lançados e depois mais quatro para confirmar a resposta fornecida pelo primeiro lançamento.{{sfnm|1a1=Wafer|1y=1991|1p=114|2a1=Voeks|2y=1997|2p=90}} Cada configuração de conchas está associada a certos ''[[odu]]'', ou histórias mitológicas.{{sfn|Voeks|1997|p=90}} O odu específico é então interpretado como tendo pertinência para a situação do cliente.{{sfn|Voeks|1997|p=91}}
As [[religiões afro-brasileiras]], que, na maioria, são religiões derivadas das [[religiões tradicionais africanas|religiões tribais africanas]], são contra o aborto: o africano vê o filho como a continuação da própria vida, filho é o bem mais precioso que o homem africano pode ter. Em consequência disso, foram trazidos para o Brasil alguns conceitos.


Outra prática divinatória comum envolve cortar uma cebola em duas e jogar os pedaços no chão tirando conclusões a partir da face em que eles caem;{{sfn|Wafer|1991|pp=42, 46}} alternativamente, uma [[noz-de-cola]] pode ser cortada em quartos e lida da mesma maneira. [[Ifá]] é outro sistema divinatório praticado pelo [[povo iorubá]], especificamente por iniciados masculinos chamados ''[[babalaô]]s''; no entanto, no início do século XXI foi caracterizada como extinta,{{sfn|Capone|2010|p=43}} ou muito rara no Brasil.{{sfn|Johnson|2002|pp=125, 203}}
* No conceito [[social]]: amparam e orientam adolescentes e mulheres grávidas.
* No conceito [[religioso]]: [[Oxum]] é quem rege o processo de fecundidade, cuida do [[embrião]], evita o aborto espontâneo, não aprova o aborto provocado, mantém a [[criança]] viva e sadia na barriga da mãe até o nascimento. Uma mulher quando não consegue [[gravidez|engravidar]], recorre a Oxum.
* No conceito [[direito|jurídico]]: só aprova a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei.


=== Sacrifício ===
=== Cura ===
Rituais de cura formam uma parte importante do candomblé.{{sfn|DeLoach|Petersen|2010|p=44}} Quando atuam em uma capacidade de cura, os praticantes são frequentemente chamados de ''[[curandeiro]]s''.{{sfn|Voeks|1997|p=97}} Sacerdotes e sacerdotisas podem oferecer cura para uma ampla gama de condições, desde [[obesidade]] e [[queda de cabelo]] até [[pneumonia]] e [[câncer]].{{sfn|Voeks|1997|p=102}}
No candomblé, esta parte do ritual denominada de '''sacrifício''' não é propriamente secreta; porém não se realiza senão diante de um reduzido número de pessoas, todos fiéis da religião.
[[Imagem:Terreiro_de_Candomblé_Jiribatuba_Vera_Cruz_Bahia_Brazil_2018-0486.jpg|thumb|esquerda|upright|Altar do terreiro de candomblé de [[Jiribatuba]], [[Vera Cruz (Bahia)|Vera Cruz]], Bahia]]


O candomblé ensina que muitos problemas pessoais são causados por um desequilíbrio com o mundo espiritual.{{sfn|Voeks|1997|p=70}} Assim, a manutenção da saúde pode ser assegurada através do equilíbrio com os orixás, evitando os excessos e seguindo os ensinamentos das histórias mitológicas da religião.{{sfn|Voeks|1997|p=70}} Uma pessoa doente é considerada como tendo um corpo "aberto" que é vulnerável a influências nocivas e carece de axé.{{sfn|Johnson|2002|p=126}} A religião ensina que as doenças podem ser um castigo dos orixás,{{sfn|Voeks|1997|p=89}} ou que um espírito do morto pode se apegar a um indivíduo ou até mesmo possuí-lo, causando danos.{{sfn|Voeks|1997|pp=113-114}} Acredita-se também que os humanos podem causar danos aos outros por meios sobrenaturais,{{sfn|Johnson|2002|p=126}} seja inadvertidamente, através do ''[[mau-olhado]]'',{{sfn|Voeks|1997|pp=97, 105}} ou através de bruxaria e maldição, que os praticantes procuram combater.{{sfn|Voeks|1997|p=70}}
Uma pessoa especializada no sacrifício, [[Axogum]], que tem tal função na hierarquia sacerdotal, é quem o realiza ou, na sua falta, o [[babalorixá]]. O Axogum não pode deixar o animal sentir dor ou sofrer porque a oferenda não seria aceite pelo Orixá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o [[Orixá]] ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas, galinha, pombo, bode, carneiro. Na realidade não se trata de um único sacrifício: sempre que se fizer um sacrifício a qualquer Orixá, deve ser antes feito um para [[Exu (orixá)|Exu]], o primeiro a ser servido.<ref>[https://www.youtube.com/watch?v=_g6Q3-IWIPc Julgamento RE 494601 sobre abate de animais nas religiões afro-brasileiras]</ref><ref>[http://www.correiodoestado.com.br/noticias/projeto-de-lei-acende-debate-sobre-direito-animal_131298/ Projeto de lei acende debate sobre direito animal]</ref><ref>[https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/03/29/interna-brasil,746078/stf-decide-sacrificio-de-animais-em-cultos-religiosos-constitucional.shtml?utm_source=onesignal&utm_medium=push STF decide que sacrifício de animais em cultos religiosos é constitucional]</ref>


As pessoas frequentemente abordam um sacerdote ou sacerdotisa em busca de um remédio para um problema em sua vida, como uma doença. O sacerdote ou sacerdotisa usará a adivinhação para determinar a causa e o remédio.{{sfn|Brazeal|2013|p=105}} O primeiro passo no processo de cura é a ''limpeza''.{{sfn|Voeks|1997|p=91}} Muitas vezes, isso implica oferecer uma oferenda a um orixá específico ou espírito inferior; um ''sacudimento'' (batida de folhas), em que certas folhas são esfregadas no corpo do paciente; ou um ''[[abô]]'' (banho de folhas), durante o qual são lavadas em água infundida com várias ervas e outros ingredientes.{{sfnm|1a1=Voeks|1y=1997|1p=91|2a1=Brazeal|2y=2013|p=105}} A cura do paciente também pode exigir sua iniciação na religião.{{sfn|Brazeal|2013|p=105}} Outro tipo de cerimônia é conhecida como ''[[Bori (candomblé)|bori]]''. Isso envolve colocar comida na cabeça do indivíduo para alimentar o orixá que se acredita residir parcialmente dentro do crânio.{{sfn|Walker|1990|p=122}} Isso pode ser feito para fortalecer a saúde e o bem-estar do indivíduo ou para dar-lhe força adicional antes de um empreendimento importante.{{sfn|Walker|1990|p=122}} Outro é o rito de "limpeza do corpo", destinado a remover um ''[[egum]]'' que está incomodando um indivíduo.{{sfn|Wafer|1991|p=143}} No rito da troca da cobeça, a doença é transferida para outro, especialmente um animal que é morto.{{sfn|Voeks|1997|p=114}} O curador também pode recomendar que a pessoa doente procure ajuda de um profissional médico como um médico.{{sfn|Voeks|1997|pp=95-97}}
=== Mudança de hábitos e costumes ===
As casas de candomblé são frequentadas e habitadas por um número variável de pessoas, pode variar de 20 a 300 pessoas dependendo do tamanho da casa e da ocasião ou do evento. Fora do período de festas na casa só ficam as pessoas residentes, mas nas obrigações e festas além dos residentes virão os outros [[filho de santo|filhos de santo]] da casa, os visitantes e convidados. Quanto maior o número de pessoas, maior será a preocupação com a [[higiene]] e [[alimentação]]. Os [[animais]] são abatidos pelo [[Axogum]] e limpos, as [[comida]]s são preparadas sempre sob a vigilância da encarregada da [[cozinha]] e responsável pela qualidade dos [[alimento]]s tanto para os orixás como para as pessoas.


Os curandeiros do candomblé geralmente são bem versados em [[fitoterapia]].{{sfn|Voeks|1997|p=97}} Considera-se que as ervas contêm axé que precisa ser adequadamente despertado,{{sfn|Voeks|1997|p=94}} mas se colhidas incorretamente podem perder a potência.{{sfn|Voeks|1997|p=93}} As folhas usadas devem ser frescas, não secas,{{sfn|Voeks|1997|p=94}} e frequentemente colhidas tarde da noite ou no início da manhã para garantir sua potência máxima.{{sfn|Voeks|1997|p=94}} Eles são frequentemente compradas em uma das ''casas de folhas'' nos mercados,{{sfn|Voeks|1997|p=134}} mas se retirados da floresta, deve-se pedir permissão ao orixá supervisor e deixar oferendas, como moedas, mel ou tabaco.{{sfn|Voeks|1997|p=94}} Estes podem então ser esfregados diretamente na pessoa doente, ou preparados em um chá ou outra mistura medicinal;{{sfn|Voeks|1997|p=99}} os praticantes também podem produzir ''pó'', que pode ter uma variedade de usos, desde curar até ferir ou atrair a atenção romântica de alguém.{{sfn|Voeks|1997|pp=112-113}} Historicamente, os terreiros poderiam reter as tradições médicas africanas, onde teriam se hibridizado com as tradições nativas americanas e européias.{{sfn|Voeks|1997|p=52}} Um indivíduo conhecedor de folhas é chamado de ''mâo de ofá''.{{sfn|Voeks|1997|p=65}}
A maior preocupação nas casas de candomblé e das outras [[religiões afro-brasileiras]] sempre foi com as [[doenças infecciosas]], principalmente a [[tuberculose]] e [[hepatite]], por serem transmissíveis através de [[copo]]s e [[talheres]]. Por esse motivo, cada filho da casa deve ter seu [[prato]] e [[caneca]] identificados, [[iaô]]s durante o período de recolhimento não usam talheres, só passam a usá-los depois da caída de quelê. A higiene com pratos, talheres e copos sempre foi constante. Nos tempos modernos, quando já existem os materiais descartáveis, ficou um pouco mais fácil de lidar com o problema.


Como muitos outros brasileiros, o candomblé costuma usar [[amuleto]]s,{{sfn|Voeks|1997|p=107}} às vezes escondidos sob a roupa para evitar atenção indesejada.{{sfn|Hartikainen|2017|pp=369-370}} Exemplos comuns são os chifres ou a ''[[figa]]'', um punho com o polegar inserido entre o indicador e o dedo médio.{{sfn|Voeks|1997|p=107}} Um ''[[patuá]]'' consiste em uma pequena bolsa de pano contendo vários objetos, partes de plantas e textos.{{sfn|Voeks|1997|p=107}} Ramos de [[arruda]] ou [[laranja-da-terra]] também podem ser carregados no corpo para proteger contra o mau-olhado.{{sfn|Voeks|1997|p=106}} Plantas específicas, associadas a um determinado orixá, muitas vezes são mantidas nas portas para impedir a entrada de forças negativas.{{sfn|Voeks|1997|p=106}}
Com o surgimento de novas doenças como a [[aids]],<ref>[http://www.koinonia.org.br/comunicacao-videos.asp AIDS: O que é e como evitá-la]</ref> muitos hábitos e costumes do candomblé tiveram que ser mudados.<ref>[http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u61967.shtml Pais-de-santo querem evitar Aids em candomblé da Bahia]</ref> Na [[Iniciação Queto|iniciação]], os iaôs tinham suas cabeças raspadas e [[cura (candomblé)|cura]]s feitas por uma única [[navalha]] que a [[ialorixá]] recebia de sua [[mãe-de-santo|mãe de santo]] quando da posse do cargo; isso passou a ser feito com mais cuidado, adotando-se navalhas individuais ou descartáveis.


=== Funerais e os mortos ===
Um dos maiores problemas enfrentados nas casas de candomblé tem sido com a [[dengue]], principalmente nas regiões onde os focos do [[mosquito]] estão sendo combatidos. Os potes de [[abô]] (infusão de [[folhas sagradas]]) foram esvaziados para evitar possível proliferação do mosquito, os banhos são preparados com [[água]] e [[Folha (botânica)|folhas]] frescas e usados imediatamente.
Após a morte de um praticante sênior, seus companheiros de terreiro realizarão o ''[[axexê]]'', uma série de rituais que transformam o falecido em um espírito ancestral do próprio panteão do terreiro.{{sfn|Brazeal|2013|pp=104-105}} Isso garante que eles não se tornem um espírito errante potencialmente perigoso.{{sfn|Brazeal|2013|p=105}} Uma grande variedade de oferendas, incluindo animais sacrificados, são dadas tanto ao morto quanto aos orixás acompanhantes e outros espíritos durante o axexé.{{sfn|Brazeal|2013|p=110}} Uma [[missa]] católica romana também é realizada.{{sfn|Brazeal|2013|p=118}}


{{referências}}
A presença de crianças durante as festas de candomblé tem sido foco de discussões nos terreiros da Bahia, após a proibição feita pela Federação Baiana do Culto Afro-Brasileiro.<ref>[http://reynivaldobrito.blogspot.com.br/2012/04/criancas-no-candomble.html Crianças no candomblé]</ref>


===Bibliografia===
{{Referências|Referência tópico 36 Ativista contra intolerância religiosa=Twitter :@brunomacielof}}
{{Refbegin|30em|indent=yes}}
* {{cite journal |last=Allen |first=Andrea Stevenson |title="Brides" without Husbands: Lesbians in the Afro-Brazilian Religion Candomblé |year=2012 |journal=Transforming Anthropology |volume=20 |issue=1 |pages=17–31 |doi=10.1111/j.1548-7466.2011.01141.x |ref=harv}}
* {{cite book |last1=Álvarez López |first1=Laura |last2=Edfeldt |first2=Chatarina |chapter=The Role of Language in the Construction of Gender and Ethnic-Religious Identities in Brazilian-Candomblé Communities |title=Language and Religious Identity: Women in Discourse |editor=Allyson Jule |year=2007 |pages=149–171 |location=Oxford |publisher=Palgrave Macmillan |isbn= 978-0230517295 |ref=harv}}
* {{cite journal |first=Joana |last=Bahia |title=Under the Berlin Sky: Candomblé on German Shores |year=2014 |translator=Christiano S. do V. Silva |journal=Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology |volume=11 |issue=2 |pages=327–370 |doi=10.1590/S1809-43412014000200012 |doi-access=free |ref=harv}}
* {{cite journal |first=Joana |last=Bahia |title=Dancing with the Orixás: Music, Body and the Circulation of African Candomblé Symbols in Germany |journal=African Diaspora |volume=9 |pages=15–38 |year=2016 |doi=10.1163/18725465-00901005|s2cid=152159342 |ref=harv}}
* {{cite book |last=Brazeal |first=Brian |year=2013 |chapter=Coins for the Dead, Money on the Floor: Mortuary Ritual in Bahian Candomblé |title=Economies of Relation: Money and Personhood in the Lusophone World |editor=Roger Sansi-Roca |series=Portuguese Literary and Cultural Studies |publisher=Tagus Press at the University of Massachusetts |pages=103–124 |isbn=978-1933227146|ref=harv}}
* {{cite book |last=Capone |first=Stefania |year=2010 |title=Searching for Africa in Brazil: Power and Tradition in Candomblé |translator=Lucy Lyall Grant |location=Durham and London |publisher=Duke University Press |isbn=978-0-8223-4636-4 |ref=harv}}
* {{cite journal |last1=Castillo |first1=Lisa Earl |last2=Parés |first2=Luis Nicolau |title=Marcelina da Silva: A Nineteenth-Century Candomblé Priestess in Bahia |journal=Slavery & Abolition |year=2010 |volume=31 |issue=1 |pages=1–27 |doi=10.1080/01440390903481639 |s2cid=143675040 |ref=harv}}
* {{cite journal |last1=DeLoach |first1=Chanté D. |first2=Marissa N. |last2=Petersen |title=African Spiritual Methods of Healing: The Use of Candomblé in Traumatic Response |journal=The Journal of Pan African Studies |volume=3 |number=8 |year=2010 |pages=40–65 |ref=harv}}
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=== Leitura adicional ===
== Bibliografia ==
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== Ligações externas ==
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}}
}}
* [http://www.museuafrobrasil.org.br/pesquisa/indice-biografico/manifestacoes-culturais/candomble Índice do Museu Afro-Brasileiro]
* [http://revistaojuoba.wixsite.com/revistaojuoba/homenagem-aos-icones-do-candom Homenagem aos ícones do candomblé.]
* [http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_canal=71&cod_noticia=17004 – 2 de fevereiro: Dia de festa no mar]


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{{Religiões afro-brasileiras}}

Revisão das 04h00min de 17 de abril de 2023

 Nota: Não confundir com Candombe.
Candomblé
Candomblé
Ofá, símbolo de Oxóssi
Candomblé
Terreiro Axé Ilê Obá em São Paulo, Brasil
Divindade Olodumarê
Origem Século XIX, Brasil Colônia
Ramificações queto, jeje, bantu
Tipo Novo movimento religioso, animismo
Religiões relacionadas Religiões afro-americanas, religião iorubá, religiões tradicionais africanas
Número de adeptos c. 170 mil[1]
Membros Candomblecistas
Língua litúrgica Iorubá
Templos Terreiro

Candomblé é uma religião afro-americana que se desenvolveu no Brasil durante o século XIX. Surgiu através de um processo de sincretismo entre várias das religiões tradicionais da África Ocidental, especialmente as de iorubá, banta e bês. Há também alguma influência da forma católica romana de cristianismo. Não existe uma autoridade central no controle do candomblé, que se organiza em torno de terreiros autônomos.

O candomblé envolve a veneração de espíritos conhecidos como orixás. Derivando seus nomes e atributos de divindades tradicionais da África Ocidental, eles são equiparados aos santos católicos romanos. Vários mitos são contados sobre esses orixás, considerados subservientes a uma divindade criadora transcendente, Olodumarê. Acredita-se que cada indivíduo tenha um orixá tutelar que está ligado a ele desde antes do nascimento e que informa sua personalidade. Tradição iniciática, os membros do candomblé costumam se reunir em templos conhecidos como terreiros administrados por sacerdotes chamados babalorixás e sacerdotisas chamadas ialorixás . Um ritual central envolve praticantes tocando tambores, cantando e dançando para encorajar um orixá a possuir um de seus membros. Eles acreditam que, por meio desse indivíduo possuído, podem se comunicar diretamente com uma divindade. As oferendas aos orixás incluem frutas e animais sacrificados. Oferendas também são dadas a uma variedade de outros espíritos, incluindo boiadero, preto velho, caboclos e os espíritos dos mortos, o egun. Diversas formas de adivinhação são utilizadas para decifrar as mensagens dos orixás. Rituais de cura e preparação de amuletos e remédios e banhos de ervas também desempenham um papel de destaque.

O candomblé se desenvolveu entre as comunidades afro-brasileiras em meio ao comércio atlântico de escravos dos séculos XVI a XIX. Surgiu através da mistura das religiões tradicionais trazidas para o Brasil pelos escravizados africanos ocidentais e centrais, a maioria deles iorubás, fons e bantus, e os ensinamentos católicos romanos dos colonizadores portugueses que então controlavam a área. Ele se formou principalmente na região da Bahia durante o século XIX. Em alguns lugares, fundiu-se com outra religião afro-brasileira, a umbanda. Após a independência do Brasil de Portugal, a constituição de 1891 consagrou a liberdade de religião no país, embora o candomblé permanecesse marginalizado pelo domínio católico romano, que normalmente o associava à criminalidade. No século XX, a crescente emigração baiana difundiu o candomblé no Brasil e no exterior. No final do século XX, surgiram crescentes ligações entre o candomblé e tradições relacionadas na África Ocidental e nas Américas, como a santería cubana e o vodu haitiano. Desde então, alguns praticantes enfatizaram um processo de re-africanização para remover as influências católicas romanas e criar formas de candomblé mais próximas da religião tradicional da África Ocidental.

Cada terreiro é autônomo, embora possa ser dividido em denominações distintas, conhecidas como nações, a partir das quais o sistema de crenças tradicionais da África Ocidental tem sido sua principal influência. As nações mais proeminentes são os queto, jeje e banto. Existem cerca de 170 mil praticantes no Brasil, embora existam comunidades menores em outros lugares, especialmente em outras partes da América do Sul. Tanto no Brasil quanto no exterior o candomblé se expandiu para além de suas origens afro-brasileiras e é praticado por indivíduos de várias etnias.

Definição e terminologia

Um ritual de candomblé em 2008

O candomblé é uma religião.[2] Mais especificamente, tem sido descrita como uma "religião afro-americana",[3] uma religião afro-brasileira,[4] uma religião "neo-africana",[5] "uma religião africana de possessão do espírito diaspórico", [6] e "uma das principais expressões religiosas da diáspora africana".[7] O antropólogo Paul Christopher Johnson afirmou que, "em seu nível mais básico", o candomblé pode ser definido como "a prática de troca com os orixás";[8] a estudiosa Joana Bahia a chamou de "a religião dos orixás".[9] Johnson também o definiu como "uma redação brasileira das religiões da África Ocidental recriada no contexto radicalmente novo de uma colônia de escravos católicos do século XIX".[10] O termo candomblé provavelmente derivou de um kandombele, um termo derivado do bantu para "danças", que também se desenvolveu no termo candombe, usado para descrever um estilo de dança entre comunidades afrodescendentes na Argentina e no Uruguai.[11]

Várias religiões nas Américas surgiram através da mistura das tradições da África Ocidental com o catolicismo romano; devido às suas origens compartilhadas, a santería cubana e o vodu haitiano foram descritos como "religiões irmãs" do candomblé.[11] No Brasil, foi a religião tradicional iorubá que eventualmente se tornou dominante sobre a religião afro-brasileira.[12] O candomblé não é a única religião afro-brasileira, estando intimamente relacionada com outra que também surgiu no século XIX e envolve o culto aos orixás, a umbanda,[13] que geralmente é mais aberta e pública do que o candomblé;[14] enquanto este última emprega canções em línguas africanas, as canções religiosas da umbanda são cantadas em português.[15] Como resultado, o candomblé é muitas vezes considerado "mais africano" do que a umbanda.[16] O termo "umbandomblé" às vezes é aplicado a grupos que mesclam elementos de ambas as tradições, embora seja raramente adotado pelos próprios praticantes.[17] Outra religião afro-brasileira é a quimbanda, que está associada principalmente ao Rio de Janeiro,[18] enquanto o termo macumba tem sido usado principalmente para descrever as tradições afro-brasileiras que lidam com espíritos inferiores, os exus.[19] O candomblé também foi influenciado pelo espiritismo, embora muitos espíritas façam questão de distinguir sua tradição das religiões afro-brasileiras.[16] Os estudiosos geralmente consideram essas diferentes tradições afro-brasileiras como existentes em um continuum, em vez de serem firmemente distintas umas das outras.[20]

Um ritual de candomblé em 2008

O candomblé se divide em diferentes tradições conhecidas como nacões.[21] Os três mais proeminentes são ketu (queto) ou nagô, jeje (gege) ou mina-jeje, e banto;[22] outros incluem o ijexá e o caboclo.[23] Cada um deriva influência particular de um determinado grupo linguístico africano; o queto usa o iorubá, o jeje usa a língua jeje e o bantu se baseia no grupo de línguas bantas.[16] Cada nação tem seu próprio léxico, cantos, divindades, objetos sagrados e conhecimento tradicional, informados por suas origens etnolinguísticas.[23] Apesar de originar-se entre diferenças étnicas, isso tem se desgastado ao longo do tempo, com membros atraídos para diferentes nações por razões diferentes da herança étnica.[23] Em 2012, a nação queto era descrita como a maior.[24] A nação bantu é por vezes caracterizada como sendo a mais sincrética.[25]

O candomblé não é institucionalizado,[26] não havendo uma autoridade central na religião para determinar a doutrina e a ortodoxia.[27] É heterogêneo[9] e não tem nenhum texto ou dogma sagrado central,[28] com variação regional nas crenças e práticas.[29] Cada linhagem ou comunidade de praticantes é autônoma,[30] abordando a religião de maneiras informadas por sua tradição e pelas escolhas de seu líder.[31] Alguns praticantes também se referem a ele como uma forma de ciência.[32]

Praticantes

Os seguidores do candomblé às vezes são chamados de povo de santo,[33] ou candomblecistas.[34] Um indivíduo que deu passos em direção à iniciação, mas ainda não passou por esse processo, é chamado de abiã.[35] Um iniciado mais novo é conhecido como iaô[36] e um iniciado mais antigo é conhecido como ebomi.[37] No candomblé, um sacerdote homem é conhecido como babalorixá,[38] uma sacerdotisa como iyalorixá,[39] ou alternativamente como makota ou nêngua.[40] A escolha do termo usado pode indicar a qual nação uma pessoa pertence.[41]

A maioria dos adeptos do candomblé também pratica o catolicismo romano[42] e alguns sacerdotes e sacerdotisas não iniciam ninguém no candomblé que não seja um católico romano batizado.[43] Alguns frequentam tanto os rituais do candomblé quanto os cultos protestantes evangélicos.[34] O sincretismo pode ser observado de outras maneiras. O antropólogo Jim Wafer observou um praticante brasileiro que incluiu uma estátua da divindade budista maaiana Budai em seu altar,[44] enquanto Arnaud Halloy encontrou um terreiro belga que estava incorporando personagens das mitologias galesa e eslava em sua prática,[45] e a estudiosa Joana Bahia encontrou praticantes na Alemanha que também praticavam o budismo e várias práticas da Nova Era.[46]

Crenças

O conhecimento sobre as crenças e práticas do candomblé é chamado de fundamentos[47] e é guardado pelos praticantes.[48] A terminologia iorubá predomina amplamente, mesmo em terreiros de outras nações [49]

Olorun e os orixás

No Candomblé, a divindade suprema chama-se Olorun ou Olodumare.[50] Esta entidade é considerada o criador de tudo, mas distante e inacessível.[23] Olorun não é, portanto, especificamente cultuado no candomblé.[23]

Orixás

Uma estátua representando o orixá Xangô dentro de um terreiro de candomblé em São Paulo; distingue-se por possuir um machado de duas pontas, o oxê[51]

O candomblé concentra-se na adoração de espíritos denominados orixás[52] ou santos.[53] Os masculinos são denominados aborôs, [54] os femininos iabás.[55] Estes foram concebidos de forma variada como figuras ancestrais[56] ou incorporações de forças da natureza.[57] Cerca de 12 orixás são figuras bem desenvolvidas no panteão do candomblé e reconhecidas pela maioria dos praticantes.[23] Embora geralmente recebam nomes iorubá, na nação jeje eles recebem nomes fon.[58]

Acredita-se que os orixás façam a mediação entre a humanidade e Olorun.[8] Os orixás são entendidos como moralmente ambíguos, cada um com suas virtudes e defeitos;[59] eles às vezes estão em conflito com outros orixás.[60] No candomblé, a relação entre os orixás e a humanidade é vista como de interdependência,[61] com os praticantes buscando construir relações harmoniosas com essas divindades,[62] garantindo assim sua proteção.[63] Cada orixá está associado a cores, alimentos, animais e minerais específicos,[64] favorecendo certas oferendas.[65] Cada orixá está associado a um determinado dia da semana;[66] o sacerdócio também afirma que cada ano é regido por um orixá específico que influenciará os eventos que ocorrem dentro dele.[67] Suas personalidades são informadas por uma oposição conceitual chave no candomblé, a do frio versus o quente.[68]

Oxalá é o orixá chefe,[69] retratado como um velho frágil que anda com um cetro de pachorô como bengala.[70] Os praticantes geralmente acreditam que Olorun o encarregou de criar a humanidade.[71] Em alguns relatos, todos os orixás são filhos de Oxalá e uma de suas duas esposas, Nanã e Iemanjá.[72] Este trio está associado à água; Oxalá com a água doce, Nanã com a chuva e Iemanjá com o mar.[73] Outros relatos apresentam essa cosmogonia de maneira diferente, por exemplo, afirmando que Oxalá foi o pai de todos os outros orixás sozinho, tendo criado o mundo a partir de um pudim de mingau.[74] Uma alegação alternativa entre os praticantes é que Nanã é a avó de Oxalá e mãe de Iemanjá, esta última tornando-se mãe e esposa de Oxalá.[74]

Uma estátua de Iemanjá em Salvador

Xangô é o orixá associado ao trovão e ao relâmpago;[75] uma de suas esposas é Obá, uma guerreira que tem apenas uma orelha.[76] Ogum é o orixá da batalha e do ferro, muitas vezes representado com um facão;[77] seu companheiro é Oxóssi, o orixá masculino da caça e da floresta.[78] Obaluaiê ou Omolu é o orixá associado à doença infecciosa e à sua cura,[79] enquanto Ossanhe está associado às folhas, ervas e conhecimentos fitoterápicos.[76] Oiá é o orixá do vento e das tempestades.[80] Oxumaré é considerado como masculino e feminino e é retratado como uma serpente ou um arco-íris.[81] Oxum é a orixá do amor, beleza, riqueza e luxo, associada a água doce, peixes, sereias e borboletas.[82] Ela é casada com Ifá, considerado o orixá da adivinhação [71] Quitembo é o orixá do tempo;[83] originário da nação bantu, está associado às árvores.[25] Devido à ligação com as árvores, às vezes é equiparado ao orixá queto Loco.[25] O orixá Exu é considerado um malandro caprichoso;[84] como o guardião das entradas,[85] ele facilita o contato entre a humanidade e outro orixá,[86] sendo assim geralmente honrado e alimentado primeiro em qualquer ritual.[87] Sua parafernália ritual é muitas vezes mantida separada da de outros orixás,[88] enquanto as entradas da maioria dos terreiros têm uma cabeça de barro, decorada com búzios ou pregos, que representa Exu e recebe oferendas.[89]

Um praticante vestido de orixá Obá em um terreiro no Brasil; a possessão dos adeptos pelo orixá é central para o candomblé

Cada orixá equivale a um santo católico romano.[90] Isso pode ter começado como um subterfúgio para manter a adoração de divindades africanas sob domínio europeu,[91] embora tais sincretismos já pudessem ter ocorrido na África antes do comércio atlântico de escravos.[92] A partir do final do século XX, alguns praticantes tentaram distanciar os orixás dos santos como forma de enfatizar novamente as origens da religião na África Ocidental.[93] Robert A. Voeks observou que era o sacerdócio e os praticantes mais formalmente educados que preferiam distinguir os orixás dos santos, enquanto os adeptos menos formalmente educados tendiam a não fazê-lo.[94] Nos altares do candomblé, os orixás são frequentemente representados com imagens e estátuas de santos católicos romanos.[95] Por exemplo, Oxalá foi confundido com Nosso Senhor do Bonfim,[74] Oxum com Nossa Senhora da Imaculada Conceição[96] e Ogum com Santo Antônio de Pádua.[97] Devido à sua associação com o tempo, Quitembo às vezes é equiparado à ideia cristã do Espírito Santo.[98]

Os orixás são considerados como tendo diferentes aspectos, conhecidos como marcas ("tipos" ou "qualidades"),[99] cada um dos quais pode ter um nome individual.[100] As formas infantis dos orixás são denominadas erês.[101] Eles são considerados os espíritos mais incontroláveis de todos, associados a obscenidades e brincadeiras.[102] As formas infantis dos orixás têm nomes específicos; o erê de Oxalá é, por exemplo, chamado de Ebozingo ("Pequeno Ebô") e Pombinho.[70] A imagem material de um orixá é chamada de igbá.[103]

Relações com o orixá

Uma estátua do orixá Iemanjá no Brasil, com oferendas colocadas ao seu redor

O candomblé ensina que todos estão ligados a um determinado orixá, [104] cuja identidade pode ser determinada por adivinhação.[104] Este orixá é descrito como sendo dono da cabeça:[11] o "mestre ou senhora da cabeça da pessoa", [104] ou o "dono da cabeça".[105] Acredita-se que eles tenham influência na personalidade e nas interações sociais da pessoa.[106] O gênero deste orixá tutelar não é necessariamente o mesmo de seu humano; [107] a não-heterossexualidade às vezes é vista, de uma forma não negativa, como sendo causada por uma incompatibilidade entre o gênero de um indivíduo e o gênero de seu orixá.[108] Deixar de identificar o próprio orixá às vezes é interpretado como a causa de vários tipos de doenças mentais pelos praticantes.[109] Dependendo do orixá em questão, um iniciado pode optar por evitar ou se envolver em certas atividades, como não comer alimentos específicos ou usar cores específicas.[64] Alguns praticantes também acreditam que existem outros orixás que podem estar ligados a um indivíduo; um segundo é conhecido como juntó,[110] enquanto um terceiro é chamado de adjuntó, tojuntó ou dijuntó. [111] Alguns acreditam que um indivíduo também pode ter um quarto orixá, herdado de um parente falecido.[105]

Exus, caboclos e erês

Uma estátua dentro de um terreiro de candomblé em São Paulo; retrata um espírito nativo americano, um caboclo

O candomblé ensina a existência de outros espíritos além dos orixás. Um desses grupos espirituais são os exus,[88] às vezes chamados de exuas quando mulheres,[112] ou exu-mirins quando crianças.[113] Eles são considerados mais próximos da humanidade do que os orixás e, portanto, mais acessíveis.[114] Em contextos rituais, os exus são muitas vezes considerados como os "escravos" dos orixás.[115] Na linguagem comum, eles são frequentemente descritos como "demônios",[116] mas no candomblé não são considerados uma força para o mal absoluto, mas sim considerados capazes de atos bons e maus.[114] Os praticantes acreditam que os exus podem "abrir" ou "fechar" as "estradas" do destino na vida de alguém,[117] trazendo tanto ajuda quanto dano.[118] O candomblé ensina que os exus podem ser induzidos a cumprir as ordens de um praticante,[117] embora precisem ser cuidadosamente controlados.[118]

Também presentes no candomblé estão os caboclos,[119] cujo nome provavelmente deriva do termo tupi kari'boka ("derivado do branco").[120] Esses espíritos vêm em duas formas principais: boiadeiros ("vaqueiros" ou "sertanejos") e povos indígenas das Américas.[121] Em casos mais raros, os caboclos estão ligados a outros contextos, retratados como sendo do mar ou de países estrangeiros como a Itália ou o Japão.[120] Quase exclusivamente retratados como homens,[122] acredita-se que os caboclos vivam em uma floresta chamada Aruanda,[123] que também é habitada por répteis voadores semelhantes a cobras chamados cainanas.[124] Os caboclos preferem a cerveja, enquanto os exus preferem o vinho e as bebidas destiladas, especialmente a cachaça;[125] os caboclos também são caracterizados como fumantes de charutos.[126] Aqueles praticantes que tentaram "re-africanizar" o candomblé desde o final do século XX tendem a rejeitar os caboclos como sendo de origem não africana.[18]

Nascimento e morte

Filhas de santo do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá em Salvador, Bahia

O candomblé defende uma cosmologia em grande parte emprestada da religião tradicional iorubá.[127] O reino dos espíritos é denominado orun;[128] o mundo material da humanidade é chamado de aiê (ou aiye).[129] Acredita-se que Orun se divide em nove níveis.[130] A morte é personificada na figura de Icu.[131] A cabeça interior de uma pessoa, na qual acredita-se que resida seu orixá tutelar, é chamada de ori.[76]

Os espíritos dos mortos são chamados de eguns.[132][133] Aqueles que faleceram recentemente são chamados de aparacá,[54] enquanto depois de terem sido "educados" recebendo sacrifícios, eles se tornam babá.[134] Precauções devem ser tomadas em relação a essas entidades, pois elas têm o poder de prejudicar os vivos.[135] Às vezes, eles procuram ajudar um indivíduo vivo, mas inadvertidamente os prejudicam.[136] O contra-egum é uma braçadeira feita de ráfia trançada que às vezes é usada para afastar esses espíritos mortos.[124] Tipicamente desencorajado no candomblé,[137] a possessão por egum é considerada rara, mas acontece.[138] Muitos grupos de canbomblé têm proibições quanto a possessão pelos mortos, por a considerarem uma forma de poluição espiritual, ponto de vista que distingue o candomblé da umbanda.[139] Após a morte, o egun pode entrar no Orun, embora o nível que eles alcancem dependa do crescimento espiritual que eles alcançaram em vida.[130]

Axé

O candomblé ensina a existência de uma força chamada ashe ou axé,[140] um conceito central nas tradições derivadas do iorubá.[141] Walker descreveu o axé como "a força espiritual do universo",[142] Bahia o chamou de "força sagrada",[143] Wafer o chamou de "força vital",[144] enquanto Voeks preferiu o termo "energia vital".[68] Johnson o caracterizou como "uma força espiritual criativa com efeitos materiais reais".[8]

Os praticantes acreditam que o axé pode se mover,[144] mas também pode ser concentrado em objetos específicos, como folhas e raízes, ou em partes específicas do corpo, especialmente sangue,[141] que é considerado conter o axé em sua forma mais concentrada.[145] Os humanos podem acumular axé, mas também podem perdê-lo ou transferi-lo.[146] Acredita-se que rituais e obrigações específicas mantenham e melhorem o axé de uma pessoa,[107] enquanto outros atos rituais são projetados para atrair ou compartilhar essa força.[147]

Moralidade, ética e papéis de gênero

Praticantes do candomblé em Brasília em 2018

O candomblé geralmente não tem preceitos éticos fixos que espera que os praticantes sigam,[148] embora seus ensinamentos influenciem a vida de seus adeptos.[149] Em vez de enfatizar uma dicotomia entre o bem e o mal, a ênfase é colocada em alcançar o equilíbrio entre forças concorrentes.[148] Os problemas que surgem na vida de uma pessoa são muitas vezes interpretados como resultantes de uma desarmonia no relacionamento de um indivíduo com seu orixá; os relacionamentos estão enraizados em obrigações recíprocas.[148]

A polaridade masculino/feminino é um tema recorrente em todo o candomblé.[150] Muitos papéis dentro do candomblé estão ligados a membros de um gênero específico. Por exemplo, tanto o sacrifício de animais quanto a raspagem da cabeça de um iniciado são geralmente reservados para os praticantes do sexo masculino, enquanto as praticantes do sexo feminino são normalmente responsáveis pelos deveres domésticos na manutenção do espaço ritual.[151] Tais divisões refletem normas de gênero mais amplas na sociedade brasileira.[151] Tabus também são colocados em mulheres durante a menstruação.[152] No entanto, as mulheres ainda podem exercer um poder significativo como chefes dos terreiros,[153] com a maioria dos terreiros na Bahia sendo liderados por mulheres;[154] alguns o chamam de religião dominada por mulheres.[28] O lugar de destaque das sacerdotisas dentro do candomblé levou observadores como a antropóloga Ruth Landes a descrevê-lo como uma religião matriarcal, embora tal caracterização tenha sido contestada.[155]

Há evidências de que o candomblé aceita mais a inconformidade de gênero do que a sociedade brasileira dominante.[156] Embora muitos sacerdotes masculinos na religião tenham sido majoritariamente heterossexuais, existe um estereótipo generalizado de que os praticantes masculinos do candomblé são homossexuais.[157] Os gays descreveram a religião como um ambiente mais acolhedor do que as formas de cristianismo praticadas no Brasil.[158] Eles, por exemplo, citaram histórias de relacionamentos entre orixás masculinos, como Oxóssi e Ossaim, como afirmando a atração masculina pelo mesmo sexo.[159] Alguns praticantes se envolveram em causas políticas, incluindo ambientalismo, direitos indígenas e o movimento Black Power.[160]

Práticas

Johnson observou que o candomblé era uma religião "centrada em rituais",[161] cujos praticantes frequentemente a consideram uma religião "de prática correta em vez de doutrina correta",[162] em que realizar seus rituais corretamente é considerado mais importante do que acreditar nos orixás.[163] Johnson notou que o candomblé dedicava "pouca atenção" à "teologização abstrata".[85] Os rituais geralmente são focados em necessidades pragmáticas em relação a questões como prosperidade, saúde, amor e fecundidade;[164] eles geralmente começam muito depois do horário de início anunciado.[165] Aqueles que se engajam no candomblé incluem iniciados de vários graus e não iniciados que podem comparecer a eventos e abordar os já iniciados em busca de ajuda com vários problemas.[166] Johnson caracterizou o candomblé como uma sociedade secreta,[167] pois faz uso do sigilo.[168] É também organizado hierarquicamente.[169]

Terreiros

O interior do terreiro Axé Ilê Obá em São Paulo, Brasil

O candomblé é praticado em locais chamados terreiros,[170] ilês,[171] ou ilê orixás.[131] Variando em tamanho, de pequenas casas a grandes complexos,[166] alguns são bem conhecidos e ricos, mas a maioria são exemplos menores do que Roger Bastide chamou de "candomblés proletários",[172] que podem ser escondidos, para não atrair a atenção dos adversários.[48] Cada terreiro é independente e opera de forma autônoma,[173] muitas vezes se dissolvendo quando seu sumo sacerdote ou sacerdotisa morre.[174] A importância de um terreiro é geralmente considerada proporcional ao número de iniciados que ele possui.[175]

Os terreiros consistem em uma série de salas, algumas delas fechadas para não iniciados.[85] Eles contêm um altar para as divindades, um espaço para realizar cerimônias e acomodação para os sacerdotes ou sacerdotisas.[166] O chão é considerado sagrado, consagrado ao orixá tutelar da casa.[176] O bakisse é o "quarto dos santos", um depósito que contém tanto a parafernália ritual quanto os assentamentos dos orixás,[177] enquanto o roncó ("quarto de retiro") ou camarinha é usado durante as iniciações.[178]

Uma sala, o barracão, é onde acontecem os rituais públicos, incluindo atos de adivinhação;[179] os terreiros que não têm "barracão" podem usar um terreiro para rituais públicos.[180] Os peji, ou santuários das divindades, costumam estar localizados ao redor do perímetro do barracão.[181] O terreiro muitas vezes terá uma cumeeira, pólo central na estrutura que se acredita ligar o nosso mundo com o outro mundo do orixá.[182] Este fica acima do entoto ("fundação") do terreiro,[183] espaço que é periodicamente "alimentado" com oferendas.[184] O recinto do terreiro pode ter uma árvore dedicada a Quitembo, na qual foram afixadas faixas de pano branco,[185] bem como um local reservado para as almas dos mortos, denominado balé, que geralmente fica no fundo do terreiro[186] A maioria venera entre doze e vinte orixás.[187]

Sacerdócio e congregação

Uma sacerdotisa que dirige um terreiro é uma mãe de santo,[188] enquanto um sacerdote é um pai de santo.[189] Eles são responsáveis por todas as funções importantes, incluindo educar noviços, julgar disputas e fornecer serviços de cura e adivinhação;[190] são esses últimos serviços que muitos contam como sua renda principal.[191] Não limitados por autoridades religiosas externas,[192] esses "pais de santos" muitas vezes exercem controle considerável sobre seus iniciados,[193] que se espera que se submetam à sua autoridade;[194] conflitos entre esses "pais" e seus iniciados são, no entanto, comuns.[195] O sacerdote e sacerdotisa-chefe é auxiliado por outros, incluindo a "mãezinha", a iaquequerê[196] ou mãe-pequena',[190] e o "paizinho".[197] Outras funções no terreiro incluem o iabassê, que prepara a comida para os orixás,[131] e o alabê (diretor musical).[192] Os iniciados, chamados filhos e filhas de santo, ajudam como cozinheiros, faxineiros e jardineiros.[190] Os ogã são membros masculinos, muitas vezes não iniciados, cujo papel é em grande parte honorífico, consistindo em grande parte em contribuir financeiramente.[190]

Praticantes dentro do terreiro Matamba Tombenci Neto em Ilhéus, Bahia, Brasil.

Os membros do terreiro são considerados como uma "família"[198] e seus iniciados se consideram 'irmãos' e 'irmãs' no orixá (irmãos de santo).[199] Relações sexuais ou românticas entre os membros do terreiro são geralmente proibidas,[72] embora aconteçam.[200] Ser iniciado liga o indivíduo à linhagem histórica do terreiro;[201] esta linhagem está ligada ao axé do terreiro, axé que pode ser transferido de um terreiro-mãe para um novo que está sendo estabelecido.[153] Os fundadores de um terreiro são chamados de essas.[202]

A comunidade de um terreiro é chamada de egbé.[11] Pode haver inimizade entre terreiros,[70] pois competem entre si por membros,[203] sendo comum a deserção de indivíduos de um para outro.[204] As cerimônias públicas acontecem nos terreiros onde tanto iniciados quanto não iniciados podem comparecer para celebrar os orixás[205] Nelas, a comida é oferecida a orixás específicos e o restante é repartido entre os participantes, com os quais ganham um pouco do axé dos orixás.[205] Esses ritos públicos são precedidos e sucedidos por uma série de atos rituais privados.[205] A maioria dos rituais que acontecem nos terreiros são privados e abertos apenas para iniciados.[205] Walker acreditava que eram eles que representavam "o verdadeiro núcleo da vida religiosa da comunidade do candomblé".[205]

Termos derivados da África são usados em contextos rituais, embora não excedam mil palavras.[206] Em geral, as palavras de origem iorubá predominam nas nações queto, as da língua fom são mais comuns nas nações jeje e as palavras das línguas bantu dominam a nação bantu.[207] O iorubá é usado como uma linguagem ritual,[208] embora poucos praticantes entendam o significado dessas palavras iorubás.[209] Não há textos sagrados específicos.[149] Objetos rituais são considerados como locais e acumuladores de axé, embora esse suprimento precise ser reabastecido em vários intervalos.[142] Cada terreiro também é considerado como tendo seu próprio axé, que é fortalecido pelo número de iniciados que possui e pelo número de rituais que realiza.[142]

Sacerdotes e sacerdotisas são considerados intermediários entre os orixás e a humanidade.[166] Tornar-se iniciado implica uma relação de responsabilidade mútua entre o novo iniciado e os orixás.[166] Algumas evidências sugerem que a proporção de sacerdotisas aumentou ao longo do século XX.[210]

Os orixás estão "sentados" dentro de objetos no terreiro.[105] Estes são então armazenados, todos juntos em uma sala ou, se o espaço permitir, em salas separadas.[105] As mulheres iniciadas que não entram em transe, mas auxiliam as que o fazem, são chamadas de equede; suas contrapartes masculinas são denominadas ogã.[11] Uma prostração diante do sacerdote ou sacerdotisa, ou diante de alguém possuído por um orixá, é chamada de dobalé;[11] prostrar-se diante da mãe ou do pai de santo é chamada de icá.[131]

Santuários e otás

Os otás, pedras sagradas que são centrais nos altares do candomblé

Um altar aos orixás é chamado de peji.[80] Ele contém um conjunto de objetos denominado assentamento ou assento do orixá,[211] considerado como sua casa.[212] Isso geralmente consiste em vários itens colocados dentro de um recipiente esmaltado, de barro ou de madeira,[213] muitas vezes envolto em um pano.[212] A parte principal do assentamento é uma pedra sagrada conhecida como otá,[214] que possui axé[215] e assim requer alimentação.[216] Diferentes orixas estão associados a diferentes tipos de pedra; as do oceano ou dos rios estão, por exemplo, ligadas a Oxum e Iemanjá, enquanto as que se acredita terem caído do céu estão ligadas a Xangô.[195] Espera-se que os praticantes as encontrem, em vez de comprá-las.[195] Elas serão então consagradas ritualmente, sendo lavadas, recebendo oferendas e "sentadas" em um vaso.[212]

Ao lado dos otás, os vasos geralmente contêm ferramentos ou objetos de metal associados a orixás específicos,[217] conchas de búzios,[218] pulseiras chamadas idés,[219] partes de corpos de animais,[219] estátuas dos santos católicos romanos associados[220] e uma mistura de água, mel e preparações à base de ervas.[221] Eles também podem incluir cabelos do iniciado a quem pertencem.[184] O assentamento pode ser guardado em casa,[184] ou dentro da sala de bakisse do terreiro,[222] que só é aberta pela sacerdotisa ou sacerdote responsável.[212] Lá, os assentamentos dos iniciados podem ser organizados em um altar de vários níveis, decorado com fitas, luzes coloridas e flores.[220]

Objetos rituais são santificados com uma infusão de ervas chamada amaci.[54] Os praticantes acreditam que doar sangue para sua parafernália ritual renova o axé desses objetos.[144] No Brasil, várias lojas são especializadas em apetrechos exigidos no camdomblé.[223]

Oferendas e sacrifício de animais

Um altar de candomblé no terreiro Ilê Axé Ibalecy em Salvador, Bahia

As oferendas são conhecidas como ebós[224] e acredita-se que geram axé que então dá ao orixá o poder de ajudar seus adoradores.[145] O material oferecido aos orixás ou espíritos menores nesses ebós inclui comida, bebida, aves e dinheiro;[225] quando o sacrifício de animais não está envolvido, uma oferta de alimentos é chamada de comida seca.[11] Quando uma cerimônia começa, os praticantes costumam oferecer um padé, ou oferenda propiciatória, ao orixá Exu.[226] A comida é oferecida ao orixá, muitas vezes é colocada em local apropriado na paisagem; oferendas para Oxum são, por exemplo, frequentemente colocadas perto de um córrego de água doce.[56] Alimentos específicos são associados a cada orixá;[227] uma mistura de quiabo com arroz ou farinha de mandioca, conhecida como amalá, é considerada a preferida de Xangô, Obá e Iansã.[228] Quando colocados no terreiro, os alimentos normalmente são deixados no local por um a três dias, tempo suficiente para o orixá consumir a essência dos alimentos.[56] O ritual de pagamento em dinheiro, muitas vezes acompanhando os sacrifícios, é denominado dinheiro do chão. Como parte disso, o dinheiro é colocado no chão e muitas vezes salpicado de sangue, antes de ser dividido entre os participantes do rito.[69]

O candomblé consiste no sacrifício de animais a orixás, exus, caboclos e eguns,[229] o que se chama matanças.[190] O indivíduo que conduz o sacrifício é conhecido como axogum[220] ou às vezes como faca.[190] As espécies normalmente usadas são galinha, galinha-d'angola, pomba branca e cabra.[230] O animal geralmente tem o pescoço cortado com uma faca,[231] ou, no caso das aves, a cabeça decepada.[232] Depois que o animal é morto, seu sangue é derramado no altar; seus órgãos são frequentemente removidos e colocados ao redor do "assento" do orixá[229] Após o sacrifício, é comum que a adivinhação seja realizada para determinar se o sacrifício foi aceito pelos espíritos.[231] Outras partes do corpo serão então consumidas pelos participantes do rito; a exceção é se o sacrifício for para eguns, quando então são deixados para apodrecer ou colocados em um rio.[229] Parte da comida pode então ser retirada, deixada na floresta, jogada em um corpo d'água ou colocada em uma encruzilhada;[233] isso é referido como "suspender um sacrifício".[234]

Sacrifícios de pássaros às vezes são realizados não como uma oferenda, mas como parte de um ritual de limpeza; ele então terá suas pernas, asas e, finalmente, seu pescoço quebrado.[235] Nesses casos, a ave não é comida.[229] Fora do Brasil, os praticantes têm enfrentado desafios na realização de sacrifícios de animais; na Alemanha, por exemplo, é proibido por lei.[236]

Iniciação

A prática do candomblé requer uma iniciação[237] e a religião é estruturada em torno de um sistema hierárquico de iniciações.[238] Ser iniciado é referido como feito,[11] enquanto o processo de iniciação é denominado fazer a cabeça[11] ou fazer o santo.[239] Os iniciados no candomblé são conhecidos como filhos de santo.[240] Em sua iniciação, eles recebem um novo nome, o nome de santo, que geralmente indica a identidade de seu orixá tutelar.[241] Muitas pessoas chegam ao candomblé por problemas em suas vidas, como doenças. Um sacerdote ou sacerdotisa usará a adivinhação para determinar a causa do problema e seu remédio, às vezes revelando que a iniciação na religião resolverá o problema.[242] Muitos sentem que um orixá exigiu sua iniciação, sendo esta sua obrigação.[239] Se um grupo de indivíduos está sendo iniciado junto, eles são chamados de barco.[243]

Uma iniciação realizada na Bahia em 2008; as roupas brancas e manchas brancas são usadas nesta cerimônia[244]

A duração do processo iniciático varia entre as casas de candomblé, mas geralmente dura de algumas semanas a alguns meses.[245] O iniciado é primeiro levado ao terreiro, onde é deixado para um período de relaxamento, o descanso, para que se torne 'frio', em vez de 'quente'.[246] Eles estarão vestidos com roupas brancas;[247] um pequeno sino pode ser anexado a eles para alertar os outros se eles saírem do terreiro.[248] Um dos primeiros atos durante o processo iniciático é dar ao iniciado um colar de contas associado ao seu orixá.[64] O colar é colorido de acordo com o orixá tutelar do iniciado; branco para Oxalá, azul escuro para Ogum, ou vermelho e branco para Xangô, por exemplo.[249] Essas contas serão lavadas e aspergidas com o sangue de um animal sacrificado.[250] Essas contas às vezes são vistas como protegendo o usuário de danos.[251]

O iniciado é então recluso em uma sala do terreiro chamada roncô,[252] durante a qual ele é chamado de iaô.[253] No roncô, eles dormem em uma esteira de palha,[254] comendo apenas comida leve;[255] muitas vezes não será permitido falar.[255] Durante este período, eles aprendem os vários detalhes de seu orixá associado, como seus gostos e desgostos e os ritmos de tambor apropriados e danças que invocam essa divindade.[245] O tempo gasto em isolamento varia, embora três semanas seja o típico.[256] Eles serão banhados em água misturada com ervas,[257] especialmente a cabeça,[258] que será então raspada.[245]

O iniciado é então levado para uma sala vizinha, onde os altares foram montados. Um baterista toca enquanto os iniciados pré-existentes cantam canções de louvor.[256] Animais são sacrificados, inclusive de um animal de quatro patas e parte do sangue pode ser tocado em partes do corpo do iniciado.[259] A cabeça do iniciado é então raspada e dois cortes são feitos no ápice dela com uma navalha; uma mistura de sangue animal e ervas pode ser adicionada às incisões. Isso é feito para permitir a entrada do orixá na cabeça.[260] Um cone de cera, o adoxu, é então colocado na ferida para estancar o sangramento;[261] a cabeça será então enrolada em um pano.[262] Dependendo do terreiro, também podem ser feitos cortes na ponta da língua do iniciado, nas costas, braços, coxas, nádegas e solas dos pés.[263] Feitas as incisões, o orixá é "assentado" dentro da cabeça do indivíduo durante o ritual de assentar o santo.[264]

Após a iniciação, o novo iniciado pode ser apresentado ao resto da comunidade por meio de uma cerimônia pública de "apresentação", a saída.[265] Junto com suas roupas brancas, seu corpo estará coberto de manchas brancas.[266] Durante isso, pode-se esperar que dêem o nome da marca de seu orixá tutelar, que supostamente descobriram por meio de um sonho.[73] No panã, o iniciado é reensinado simbolicamente em tarefas mundanas,[232] um ritual às vezes seguido por um leilão no qual o iniciado é simbolicamente vendido para seu cônjuge ou um membro de sua família, uma referência à era da escravidão.[232] Na sexta-feira seguinte, eles devem assistir à missa em uma igreja católica romana, conhecida como romaria.[267] Finalmente, um membro sênior do terreiro conduzirá o iniciado, ainda vestido de branco, de volta à sua casa.[232] Ao longo do ano seguinte, o iniciado pode realizar novas "obrigações" para construir seu relacionamento com o orixá.[268]

O candomblé inclui várias iniciações graduais adicionais, que se espera que ocorram um ano, três anos e depois sete anos após a cerimônia de iniciação original.[269] Ao longo disso, espera-se que aprendam a receber todos os seus orixás tutelares.[270] Aqueles que realizaram sete anos de rituais iniciáticos são chamados de ebomi[271] ou ebame.[112] Ao final dos sete anos, eles "recebem o decá" de seu iniciador, recebendo uma bandeja com objetos rituais; isso lhes permite ir e formar seu próprio templo.[272] Na prática, muitos adeptos não podem pagar por essas cerimônias no horário especificado e, em vez disso, ocorrem muitos anos depois.[269]

Possessão

Cerimônia de candomblé na ilha de Itaparica na Bahia

A música e a dança são elementos fundamentais do candomblé.[273] A percussão geralmente ocorre a noite toda.[274] Espera-se que os participantes usem branco, com as mulheres usando saias.[274] São empregados três tipos principais de tambores, sendo o maior o rum, o médio o rumpi e o menor o .[275] Esses tambores são entendidos como vivos e precisam ser alimentados.[276] O baterista principal é conhecido como alabê.[277] Muitos terreiros afirmam que as mulheres não devem se envolver nesse ritual de percussão, embora outros rejeitem essa tradição.[253] Em alguns rituais, os praticantes bebem uma mistura contendo jurema-preta, uma planta levemente alucinógena, que às vezes é misturada com o sangue de animais sacrificados.[278]

O estado de vertigem que sinaliza o início do transe é conhecido como barravento.[134] Quando o transe começa, os praticantes geralmente experimentam um espasmo corporal denominado arrepio.[54] Os praticantes acreditam que quando um indivíduo é possuído por um espírito, eles não têm controle sobre as ações deste último.[279] Dentro do candomblé, é considerado um privilégio ser possuído por um orixá.[245] Uma forma baiana comum de se referir à posse é receber.[280] Por implicar ser "montado", ser possuído é considerado um papel simbolicamente feminino.[281] Por esta razão, muitos homens heterossexuais recusam a iniciação no candomblé; alguns acreditam que o envolvimento nesses ritos pode tornar um homem homossexual.[282] Entre os praticantes, às vezes é afirmado que no passado os homens não participavam das danças que conduziam à possessão.[281] Frequentemente, aqueles que se acredita possuídos por um orixá não comem, bebem ou fumam, enfatizando sua disposição aristocrática[283] e também raramente ou nunca falam.[284] Quando dançam, muitas vezes são estilizados e controlados.[102] Muitos terreiros proíbem a fotografia de pessoas em transe de possessão.[285]

Depois que um indivíduo fica possuído, ele pode ser conduzido a uma antessala para ser vestido com roupas associadas ao orixá possuidor; isso geralmente inclui vestidos de cores vivas, independentemente do sexo dos envolvidos.[286] Os possuídos por Ogun, por exemplo, frequentemente receberão um capacete de metal e um machado, enquanto os possuídos por Oxum usam uma multidão e carregam uma espada e o leque de abebé.[286] Os praticantes podem se prostrar completamente diante do possuído.[287] Aqueles possuídos por um orixá podem entregar previsões e profecias.[288] O estilo de fala adotado pelo possuído será influenciado pelo tipo de espírito que se acredita possuí-lo.[289] Aqueles considerados possuídos por caboclos costumam fumar charutos[290] e às vezes colocam pólvora na palma da mão, que então acendem com o charuto para causar uma explosão.[291] Um falso transe é conhecido como equê.[292] Aqueles que não entram em transe são conhecidos como ogãs se forem homens e equedes se forem mulheres.[105]

Festivais públicos

No dia de sua festa em fevereiro, oferendas a Iemanjá são colocadas em barcos e levadas para serem lançadas na água.[293]

Embora os detalhes do calendário litúrgico variem entre os terreiros, o candomblé apresenta um ciclo anual de festivais ou festas para os orixás.[293] Às vezes são privados e às vezes abertos ao público.[294] Estes são tipicamente realizados no dia do santo católico romano associado a um determinado orixá.[18] A principal temporada festiva começa em setembro, com a Festa de Oxalá, e segue até fevereiro, quando ocorre a Festa de Iemanjá.[293]

Em alguns casos, as festas de candomblé tornaram-se amplamente populares entre o público, especialmente as de Oxalá e Iemanjá.[295] Centenas de milhares de pessoas se reúnem na praia no dia de Iemanjá (2 de fevereiro),[230] onde muitas vezes carregam oferendas para ela em barcos, que então as levam para a água e as jogam ao mar.[296] As festas dos caboclos costumam acontecer no dia 2 de julho, dia que marca a independência da Bahia de Portugal.[297]

Alguns terreiros realizam festas públicas tanto para os orixás quanto para os caboclos, embora alguns as realizem apenas para uma dessas duas categorias de espíritos.[298] As festas públicas para exus são mais raras.[289] O tom do evento difere dependendo de qual categoria de espírito está sendo homenageada; as dos orixás têm estrutura mais fixa e maior formalidade, enquanto as dos caboclos são mais espontâneas e de maior interação entre os espíritos e os participantes humanos.[298] Na nação jeje, o ritual das Águas de Oxalá é realizado no início do ano litúrgico; trata-se de trazer água fresca, às vezes de um poço, para o terreiro para purificar e reabastecer os assamentos.[293]

Adivinhação

Sacerdotes e sacerdotisas se dedicam à adivinhação, o que muitas vezes se mostra uma importante fonte de renda para eles.[299] A forma mais comum de adivinhação no Brasil é o dilogun ou jogo de búzios, praticado tanto por homens quanto por mulheres.[300] Implica jogar búzios no chão e, em seguida, interpretar as respostas dos lados em que caíram.[301] É comum que 16 projéteis sejam lançados e depois mais quatro para confirmar a resposta fornecida pelo primeiro lançamento.[302] Cada configuração de conchas está associada a certos odu, ou histórias mitológicas.[303] O odu específico é então interpretado como tendo pertinência para a situação do cliente.[304]

Outra prática divinatória comum envolve cortar uma cebola em duas e jogar os pedaços no chão tirando conclusões a partir da face em que eles caem;[305] alternativamente, uma noz-de-cola pode ser cortada em quartos e lida da mesma maneira. Ifá é outro sistema divinatório praticado pelo povo iorubá, especificamente por iniciados masculinos chamados babalaôs; no entanto, no início do século XXI foi caracterizada como extinta,[306] ou muito rara no Brasil.[307]

Cura

Rituais de cura formam uma parte importante do candomblé.[308] Quando atuam em uma capacidade de cura, os praticantes são frequentemente chamados de curandeiros.[309] Sacerdotes e sacerdotisas podem oferecer cura para uma ampla gama de condições, desde obesidade e queda de cabelo até pneumonia e câncer.[310]

Altar do terreiro de candomblé de Jiribatuba, Vera Cruz, Bahia

O candomblé ensina que muitos problemas pessoais são causados por um desequilíbrio com o mundo espiritual.[311] Assim, a manutenção da saúde pode ser assegurada através do equilíbrio com os orixás, evitando os excessos e seguindo os ensinamentos das histórias mitológicas da religião.[311] Uma pessoa doente é considerada como tendo um corpo "aberto" que é vulnerável a influências nocivas e carece de axé.[312] A religião ensina que as doenças podem ser um castigo dos orixás,[313] ou que um espírito do morto pode se apegar a um indivíduo ou até mesmo possuí-lo, causando danos.[314] Acredita-se também que os humanos podem causar danos aos outros por meios sobrenaturais,[312] seja inadvertidamente, através do mau-olhado,[315] ou através de bruxaria e maldição, que os praticantes procuram combater.[311]

As pessoas frequentemente abordam um sacerdote ou sacerdotisa em busca de um remédio para um problema em sua vida, como uma doença. O sacerdote ou sacerdotisa usará a adivinhação para determinar a causa e o remédio.[242] O primeiro passo no processo de cura é a limpeza.[304] Muitas vezes, isso implica oferecer uma oferenda a um orixá específico ou espírito inferior; um sacudimento (batida de folhas), em que certas folhas são esfregadas no corpo do paciente; ou um abô (banho de folhas), durante o qual são lavadas em água infundida com várias ervas e outros ingredientes.[316] A cura do paciente também pode exigir sua iniciação na religião.[242] Outro tipo de cerimônia é conhecida como bori. Isso envolve colocar comida na cabeça do indivíduo para alimentar o orixá que se acredita residir parcialmente dentro do crânio.[268] Isso pode ser feito para fortalecer a saúde e o bem-estar do indivíduo ou para dar-lhe força adicional antes de um empreendimento importante.[268] Outro é o rito de "limpeza do corpo", destinado a remover um egum que está incomodando um indivíduo.[317] No rito da troca da cobeça, a doença é transferida para outro, especialmente um animal que é morto.[318] O curador também pode recomendar que a pessoa doente procure ajuda de um profissional médico como um médico.[319]

Os curandeiros do candomblé geralmente são bem versados em fitoterapia.[309] Considera-se que as ervas contêm axé que precisa ser adequadamente despertado,[320] mas se colhidas incorretamente podem perder a potência.[321] As folhas usadas devem ser frescas, não secas,[320] e frequentemente colhidas tarde da noite ou no início da manhã para garantir sua potência máxima.[320] Eles são frequentemente compradas em uma das casas de folhas nos mercados,[322] mas se retirados da floresta, deve-se pedir permissão ao orixá supervisor e deixar oferendas, como moedas, mel ou tabaco.[320] Estes podem então ser esfregados diretamente na pessoa doente, ou preparados em um chá ou outra mistura medicinal;[323] os praticantes também podem produzir , que pode ter uma variedade de usos, desde curar até ferir ou atrair a atenção romântica de alguém.[324] Historicamente, os terreiros poderiam reter as tradições médicas africanas, onde teriam se hibridizado com as tradições nativas americanas e européias.[12] Um indivíduo conhecedor de folhas é chamado de mâo de ofá.[190]

Como muitos outros brasileiros, o candomblé costuma usar amuletos,[325] às vezes escondidos sob a roupa para evitar atenção indesejada.[326] Exemplos comuns são os chifres ou a figa, um punho com o polegar inserido entre o indicador e o dedo médio.[325] Um patuá consiste em uma pequena bolsa de pano contendo vários objetos, partes de plantas e textos.[325] Ramos de arruda ou laranja-da-terra também podem ser carregados no corpo para proteger contra o mau-olhado.[327] Plantas específicas, associadas a um determinado orixá, muitas vezes são mantidas nas portas para impedir a entrada de forças negativas.[327]

Funerais e os mortos

Após a morte de um praticante sênior, seus companheiros de terreiro realizarão o axexê, uma série de rituais que transformam o falecido em um espírito ancestral do próprio panteão do terreiro.[328] Isso garante que eles não se tornem um espírito errante potencialmente perigoso.[242] Uma grande variedade de oferendas, incluindo animais sacrificados, são dadas tanto ao morto quanto aos orixás acompanhantes e outros espíritos durante o axexé.[329] Uma missa católica romana também é realizada.[330]

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