Índice Global da Fome

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Índice global da fome por país, publicado em 2020

O Índice Global da Fome (GHI, pela sua sigla em inglês de Global Hunger Index) é uma ferramenta estatística multidimensional usada para descrever o estado da fome nos países. O GHI mede o progresso e retrocessos na luta global contra a fome.[1] É atualizado uma vez por ano.

O índice foi adaptado e desenvolvido pelo International Food Policy Research Institute (IFPRI). Foi publicado pela primeira vez em 2006 em conjunto com Welthungerhilfe, uma Organização Não Governamental (ONG). Desde 2007, a ONG irlandesa Concern Worldwide juntou-se ao grupo de editores.[2][3][4][5][6]

O GHI de 2010 calcula-se para 122 países em via de desenvolvimento e economias em transição, dos quais 84 foram classificados. Todos os anos, o reporte sobre o GHI centra-se num tema: em 2010, o índice ressalta a desnutrição infantil entre as crianças menores de dois anos de idade. Estudos recentes mostram que a prevenção da má alimentação durante este período pode melhorar significativamente a saúde, a produtividade e o desempenho econômico ao longo da vida destas crianças.[7]

Além da edição anual do GHI, em 2008 foram publicados o Índice da Fome para os Estados da Índia[8] e o Índice Subnacional da Fome para a Etiópia.[9]

Cálculo e definição do GHI[editar | editar código-fonte]

A fome tem muitas faces: aumento da propensão às doenças, deficiências no estado nutricional, perda de energia, incapacidade, morte por inanição ou por doenças infecciosas mortais, cujo curso é o resultado de uma saúde geral débil.

O GHI é concebido para captar diversos aspetos da fome num só índice, apresentando assim uma rápida visão geral de um problema complexo. O índice leva em conta a situação de nutrição não somente populacional em geral, mas também de um grupo fisiologicamente vulnerável — as crianças — para o qual a falta de nutrientes cria um alto risco de crescimento físico ou cognitivo deficiente, e até de mortalidade. Adicionalmente, ao combinar indicadores medidos em forma independente, o índice reduz os efeitos dos erros aleatórios de medição.

Indicadores[editar | editar código-fonte]

O GHI combina três indicadores de igual ponderação:

  1. A proporção de subnutridos como percentagem populacional (o que reflete a porção populacional com insuficiente ingestão de energia na dieta),
  2. A frequência da insuficiência de peso nas crianças menores de cinco anos (o que indica a proporção de crianças que sofrem de perda de peso) e,
  3. A taxa de mortalidade das crianças menores de cinco anos (o que reflete em parte a fatal sinergia entre ingestão insuficiente de alimentos e ambientes insalubres).

Cálculo do GHI[editar | editar código-fonte]

O índice global da fome é calculado assim:

onde

proporção populacional que está subnutrida (em percentagem)

frequência de insuficiência de peso em crianças menores de cinco anos (em percentagem)

proporção de crianças que falecem antes dos cinco anos (em percentagem)

O índice classifica os países numa escala de 100 pontos, sendo 0 a melhor pontuação (não há fome) e 100 a pior, embora na prática não ocorra nenhuma destas situações extremas. Quanto mais alto o índice, pior é a situação alimentar de um país. Os valores por baixo de 4,9 refletem pouca fome, os valores entre 5 e 9,9 refletem uma fome moderada, os valores entre 10 e 19,9 indicam um sério problema, os valores entre 20 e 29,9 são alarmantes e os de 30 ou mais são extremamente alarmantes.

Fontes dos dados[editar | editar código-fonte]

Os dados para o GHI de 2010 cobrem o período de 2003 a 2008 – os dados globais mais recentes disponíveis para os três componentes do GHI. Especificamente, os dados sobre a proporção de subnutridos são da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e cobrem 2004 a 2006.[10] Os dados sobre desnutrição infantil são para o último ano do período 2003–2008 para o qual se conta com informação e se baseiam nos dados coletados pela Organização Mundial da Saúde (WHO),[11] UNICEF[12] and MEASURE DHS[13] Os dados sobre mortalidade infantil são da UNICEF para 2008. O GHI de 2010 e o valor da base recalculada do GHI de 1990 não são diretamente comparáveis aos cálculos anteriores de valores do GHI.

Resultados para o GHI de 2010[editar | editar código-fonte]

Classificação[editar | editar código-fonte]

O GHI de 2009 calcula-se para 122 países em via de desenvolvimento e economias em transição, dos quais 84 foram classificados e a sua segurança alimentar foi comparada com os níveis de 1990. Os outros 38 países tiveram um GHI inferior a 5 em 1990 e 2010, e por esta razão não foram incluídos na classificação.

Países com uma situação alimentar extremamente alarmante (WHI ≥ 30) ou alarmante (WHI entre 20,0 e 29,9)
Classificação País Índice Global da Fome
2010[14] 2009[15] 1990
1 RD Congo 41,0 39,1 24,7
2 Burundi 38,3 38,7 31,8
3 Eritreia 35,7 36,5
4 Chade 30,9 31,3 37,6
5 Etiópia 29,8 30,8 43,7
6 Serra Leoa 28,9 33,8 32,7
7 Haiti 28,0 28,2 33,5
8 Comores 27,9 26,9 23,0
9 Madagascar 27,5 28,3 28,1
10 República Centro-africana 27,4 28,1 30,0
11 Iêmen 27,3 27,0 30,1
12 Angola 27,2 25,3 40,6
13 Níger 25,9 28,8 36,5
14 Timor-Leste 25,6 25,4
15 Zâmbia 24,9 25,7 25,6
16 Libéria 24,3 24,6 22,9
17 Bangladexe 24,2 24,7 35,8
18 Índia 24,1 23,9 31,7
19 Moçambique 23,7 25,3 37,4
20 Djibuti 23,5 22,9 30,8
21 Ruanda 23,1 25,4 28,9
22 Guiné-Bissau 22,6 23,1 20,9
23 Togo 22,4 23,1 27,8
24 Burquina Fasso 21,1 20,4 22,7
25 Camboja 20,9 21,2 31,5
Zimbabué 21,0 18,6
Sudão 19,6 26,4
28 Tanzânia 20,7 21,1 22,90
29 Nepal 20,0 19,8 27,5
O GHI combina três indicadores de igual ponderação: A proporção de subnutridos como percentagem populacional, a frequência da insuficiência de peso nas crianças menores de cinco anos e a taxa de mortalidade das crianças menores de cinco anos.

Tendências globais e regionais[editar | editar código-fonte]

O reporte GHI para 2010 descreve o desenvolvimento do estado da fome desde 1990 em níveis globais, regionais e nacionais. O GHI global de 2010 mostra uma diminuição de quase uma quarta parte, ou seja, de 19,8 a 15,1. Contudo, o GHI mostra que o progresso mundial na redução da fome ficou estancado e continua sendo lento 29 países têm níveis de fome alarmantes (20-29.9) ou extremamente alarmantes (≥ 30). O média global esconde diferenças dramáticas entre as regiões e os países. O GHI de 2010 baixou em cerca de 14% na África Subsaariana comparado com o GHI de 1990, cerca de 25% na Ásia Meridional e em mais de cerca de 33% no Próximo Oriente e em África do Norte. O progresso foi particularmente grande no Sudeste Asiático e na América Latina, na qual o GHI caiu em mais de 40%.

Os maiores valores regionais do GHI correspondem à África Subsaariana e à Ásia Meridional com 22,9 e 22,7 respetivamente, mas as causas da inseguridade alimentar em ambas as regiões são diferentes. Na Ásia Meridional, o principal problema é a elevada frequência de insuficiência de peso nas crianças menores de cinco anos, a qual, pela sua vez, é resultado duma menor nutrição e dum baixo nível educacional das mulheres. Em contraste, na África Subsaariana o GHI é alto devido a uma elevada mortalidade infantil e uma alta proporção de pessoas que não podem satisfazer as suas necessidades de calorias. Isto ocorre devido à má governação, conflitos, instabilidade política e alta taxas de AIDS.

Ganhadores e perdedores[editar | editar código-fonte]

Entre 1990 e 2010 um grupo pequeno de países conseguiu reduzir os seus valores do GHI à metade ou mais. Ao redor da terceira parte dos países conseguiu um modesto progresso, reduzindo os seus valores do GHI entre 25% e 50%. Outro terço foi capaz de melhorar o seu GHI de 0 a 24,9 %. Em 29 países a situação da fome continua sendo grave ou alarmante.

  • O Gana foi o único país da África Subsaariana que reduziu o seu GHI em mais de 50%.
  • No Oriente Próximo, o progresso aparentemente notável do Kuwait na redução da fome é devido primariamente ao seu nível raramente alto em 1990, quando o Iraque o invadiu.
  • A Malásia - o segundo melhor país - melhorou a sua situação da fome através de uma enorme diminuição da proporção de crianças com insuficiência de peso.
  • O caso da República Democrática do Congo é um caso especial entre os 9 países que mais aumentaram o seu GHI. Ali, o GHI piorou em mais de 65 % devido ao conflito de longa duração e a instabilidade política.

Desnutrição infantil[editar | editar código-fonte]

A desnutrição entre as crianças alcançou níveis terríveis. No mundo em desenvolvimento, perto de 195 milhões de crianças menores de cinco anos - aproximadamente uma de cada três crianças - são pequenas demais e subdesenvolvidas. Quase uma de cada quatro crianças menores de cinco anos - 129 milhões - tem peso insuficiente, e uma de cada 10 têm peso extremamente insuficiente. O problema da desnutrição infantil fica concentrado em poucos países e regiões com mais de 90% das crianças raquíticas que moram na África e na Ásia. 42% das crianças subnutridas do mundo moram na Índia.

Os dados apresentados no relatório[16] [17] mostram que a janela de oportunidade para melhorar o lapso nutricional se estende pelos 1000 dias entre a concepção e o segundo aniversário da criança (que é o período de -9 a +24 meses). As crianças que não recebem uma nutrição adequada durante este período aumentaram os riscos de experimentar danos permanentes, incluindo o desenvolvimento físico e cognitivo débil, má saúde, e até morte prematura. Em contraste, as consequências da desnutrição que ocorrem após 24 meses de vida de uma criança são em larga medida reversíveis.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Wiesmann, Doris (2004): An international nutrition index: concept and analyses of foode insecurity and undernutrition at country levels. Development Economics and Policy Series 39. Peter Lang Verlag.

Referências

  1. Índice global da fome 2009 – O desafio da fome: Ênfase na crise financeira e a desigualdade de gênero, ReliefWeb, Outubro 2009
  2. IFPRI/Concern/Welthungerhilfe: O Desafio da Fome – Índice Global da Fome: Fatos, determinantes e tendências. Casos de estudos sobre os países em pós-conflito, Afeganistão e Serra Leoa (Em inglês), Bonn, Out. 2006.
  3. IFPRI/Concern/Welthungerhilfe: O Desafio da Fome 2007 – Índice Global da Fome: Feitos, determinantes e tendências. Medidas em curso para reduzir a desnutrição aguda e a fome crônica (em inglês), Bona, Outubro 2007.
  4. IFPRI/Concern/Welthungerhilfe: Índice Global da Fome – O Desafio da Fome 2008 (Em inglês), Bonn, Washington D.C., Dublim. Outubro 2008.
  5. IFPRI/Concern/Welthungerhilfe: Índice Global da Fome – O Desafio da Fome: Ênfase na crise financeira e a desigualdade de gênero, Bonn, Washington D. C., Dublim. outubro 2009.
  6. IFPRI/Concern/Welthungerhilfe: Índice Global da Fome – O desafio da fome: A crise da desnutrição infantil (em inglês), Bonn, Washington D. C., Dublim. outubro 2010.
  7. IFPRI. 2010. Melhorar a nutrição infantil para reduzir a fome, segundo o novo Índice Global da Fome. Washington, DC
  8. Menom, Purnima / Deolalikar, Anil / Bhaskar, Anjor: Índice da Fome dos Estados da Índia (2009): Comparação da fome entre os Estados (Em inglês, IFPRI: Washington, DC.
  9. Schmidt, Emily / Dorosh, Paul (outubro de 2009): Índice Sub-nacional da Etiopia: avaliando o progresso nos resultados regionais (Em inglês), International Food Policy Research Institute (IFPRI) and Ethiopian Development Research Institute (EDRI): ESSP-II Discussion Paper 5
  10. Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação.2009. O estado da inseguridade alimentaria no mundo 2009. Rome
  11. WHO (World Health Organization). 2010. Base de dados global sobre crescimento infantil e malnutrição. Ginebra.
  12. UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Childinfo statistics on child nutrition data for 2003–08; Mali 2010. Nova Iorque.
  13. MEASURE DHS. 2010. Demographic health surveys. Calverton, USA.
  14. 2010 Índice Global da Fome: Ênfase na Crise da Subnutrição Infantil, pagina 17
  15. Índice Global da Fome de 2009: Ênfase na Crise Financeira e a Desigualdade de Gênero, página 13
  16. Vitora, C. G., L. Adair, C. Fall, P. C. Hallal, R. Martorell, L. Richter und H. Singh Sachdev für die Maternal and Child Undernutrition Study Group. 2008. Maternal and child undernutrition: Consequences for adult health and human capital. The Lancet 371 (9609): 340–57
  17. Vitora, C. G., M. de Onis, P. C. Hallal, M. Blössner und R. Shrimpton. 2010. Worldwide timing of growth faltering: Revisiting implications for interventions. Pediatrics 125 (3): 473.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]