Filosofia indiana

A expressão filosofia indiana se refere ao conjunto de escolas filosóficas que se desenvolveram no subcontinente indiano ao longo da história. A filosofia indiana principiou com a literatura oral que deu origem aos Vedas antes de 1500 a.C. e se desenvolveu ao longo do tempo, sob a forma de comentários, em três grandes linhasː hinduísmo, jainismo e budismo.[1]
A filosofia indiana promoveu extensas discussões sobre ontologia (metafísica, Brahman-Atman, Sunyata-Anatta), meios confiáveis de conhecimento (epistemologia, Pramanas), sistema de valores (axiologia) e outros tópicos.[2][3][4] A Índia ao contrário da China segundo Hegel não desenvolveu uma filosofia voltada para o Estado devido a sua fragmentação territorial.[5]
Fundamentos da filosofia indiana[editar | editar código-fonte]
A palavra sânscrita darshana designa cada concepção distinta da filosofia indiana e significa literalmente “ponto de vista”, pois sua raiz drish tem como sentido principal o de “ver”; ela não pode significar propriamente um “sistema”.
Na Índia antiga, cada divisão do conhecimento estava diretamente relacionada a uma arte e a um modo de vida. O conhecimento não era apenas aprendido por meio de livros, palestras, seminários e debates, mas conquistado por meio do aprendizado ao lado de um mestre competente. Era necessário que o discípulo, se entregasse aos ensinamentos do professor, sendo pré-requisitos básicos a obediência (susrusa) e a fé absoluta (sraddha).[6]
Sendo assim, a filosofia oriental é, sobretudo, acompanhada e amparada pela prática de um estilo de vida: a reclusão monástica, o ascetismo, a meditação, a oração, os exercícios de Yoga são complementares às horas diárias dedicadas aos estudos filosóficos. Esse conhecimento se manifesta sob formas simbólicas, sejam elas divindades ou signos. Neste sentido, a filosofia da Índia está correlacionada à religião e a cultura de forma análoga com que a filosofia ocidental está para as ciências naturais e seus métodos de investigação.[6]
História[editar | editar código-fonte]
Hinduísmo[editar | editar código-fonte]
O hinduísmo, que surgiu por volta de 1500 a.C., é um grupo de tradições religiosas e filosóficas que têm, como ponto em comum, o respeito à autoridade dos Vedas e dos Upanixades (comentários dos Vedas). Algumas dessas tradições são as escolas Mimamsa, Samkhya, Yoga, Nyaya, Vaisesika e Vedanta, além dos ensinamentos dos gurus.[7]
Carvaka[editar | editar código-fonte]

Uma importante escola filosófica materialista e ateia da Índia Antiga foi a escola Carvaka, que desapareceu antes do ano 1000. Ela negava tradicionais elementos do pensamento indiano, como os Vedas, o carma e a reencarnação.[1]
Jainismo[editar | editar código-fonte]

O jainismo baseia-se nos ensinamentos de Mahavira (599-671 a.C.) e outros Tirthankaras. Prega a não violência (Ahimsa) e diz que o universo é eterno, não existindo, portanto, a figura de um Deus criador. Outros importantes pensadores jainistas foram Umaswati (circa século II a.C.), Kundakunda (circa século I a.C.) e Yasovijaya Gani (1624-1688). [8]
Budismo[editar | editar código-fonte]

O budismo nasceu no nordeste indiano com Sidarta Gautama (circa 563-483 a.C.). Ele pregava que a extinção das paixões poderia conduzir o ser humano à salvação. Após a morte de Sidarta, destacaram-se dois outros filósofos indianos que deram prosseguimento a seu pensamentoː Nagarjuna (circa 150-250), que fundou a escola maaiana; e Sāntaraksita (725-788).[9]
Artaxastra[editar | editar código-fonte]

Por volta do século IV a.C., foi escrito o Artaxastra, um tratado sobre filosofia política que é, frequentemente, comparado com O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.[1]
Idade Contemporânea[editar | editar código-fonte]
Com o domínio britânico (1750-1947), vários pensadores e movimentos indianos procuraram adaptar o pensamento tradicional indiano à época contemporâneaː
- Lahiri Mahasaya (1828-1895);
- Ramakrishna (1836-1886);
- Sri Yukteswar Giri (1855-1936);
- Swami Vivekananda (1863-1902), que fez renascer o hinduísmo na Índia;
- Rabindranath Tagore (1861-1941), ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1913;
- Mahatma Gandhi (1869-1948), que popularizou os conceitos indianos de ainsa (não violência) e satyagraha (força da verdade) e que teve um papel notável no processo de independência da Índia (1947);
- Sri Aurobindo (1872-1950), criador do método da ioga integral;
- Ananda Coomaraswamy (1877-1947), notável intérprete da cultura indiana para o ocidente e um dos fundadores da escola perenialista, que afirma a unidade transcendente das religiões.
- Ramana Maharshi (1878-1950);
- Sarvepalli Radhakrishnan (1888-1975);
- Jiddu Krishnamurti (1895-1986);
- Maharishi Mahesh Yogi (1918-2008), o fundador do método da meditação transcendental;
- Rajneesh (1931-1990);
- Shri Mataji Nirmala Devi (1923-2011), a fundadora do método da sahaja yoga;
- Sathya Sai Baba (1926-2011);
- Brahma Kumaris (1937), uma organização não governamental;
- Deepak Chopra (1946), dedicado à medicina alternativa e à meditação;
- Vandana Shiva (1952);
- Mata Amritanandamayi (1953);
- Sri sri Ravishankar (1956).[10]
Influência no ocidente[editar | editar código-fonte]
No final do século XVIII, começaram a ser realizadas as primeiras traduções dos livros clássicos indianos para as línguas ocidentais. No início do século XIX, os Upanixades e o budismo muito influenciaram as ideias do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Em meados desse século, o hinduísmo influenciou na formulação da doutrina espírita. No final desse século, o hinduísmo influiu poderosamente na criação da Sociedade Teosófica. Na década de 1950, o budismo influenciou a obra do escritor estadunidense Jack Kerouac. Nas décadas de 1960 e 1970, a filosofia indiana inspirou a contracultura no ocidente. Dessa época em diante, muitos famosos músicos ocidentais foram influenciados por ela, como os Beatles (em especial, o guitarrista George Harrison), John McLaughlin, Carlos Santana, Raul Seixas, Paulo Coelho, Tomaz Lima e Madonna.[carece de fontes]
Referências
- ↑ a b c MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 286.
- ↑ Roy W. Perrett (2001). Indian Philosophy: Metaphysics. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-0-8153-3608-2
- ↑ Stephen H Phillips (2013). Epistemology in Classical India: The Knowledge Sources of the Nyaya School. [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1-136-51898-0
- ↑ Arvind Sharma (1982). The Puruṣārthas: a study in Hindu axiology. [S.l.]: Asian Studies Center, Michigan State University;
Purusottama Bilimoria; Joseph Prabhu; Renuka M. Sharma (2007). Indian Ethics: Classical traditions and contemporary challenges. [S.l.]: Ashgate. ISBN 978-0-7546-3301-3 - ↑ Georg Wilhelm Friedrich Hegel, The Philosophy of History (Dover, 1956), p. 161
- ↑ a b Zimmer, Heinrich. Filosofias da Índia. [S.l.]: Palas Athena. p. 50,51. ISBN 9788572420020
- ↑ MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 287.
- ↑ MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 287-288.
- ↑ MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 275,286.
- ↑ MATTAR, J. Introdução à Filosofia. São Paulo. Pearson Prentice Hall. 2010. p. 288, 289.