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A Fazenda Santa Genebra foi uma antiga fazenda de café localizada na cidade de Campinas, em São Paulo, no Brasil, durante o fim do século XIX e o início do século XX. Deu origem ao atual distrito de Barão Geraldo, juntamente com a Fazenda Rio das Pedras.[1]
A sesmaria é originalmente denominada Nossa Senhora do Carmo do Morro Alto e após ser doada em 1799 pelo Conselho Ultramarino para a família do Brigadeiro Luiz Antônio de Souza Queiroz, tornou-se propriedade de Geraldo Maria Ribeiro de Sousa Rezende, o Barão Geraldo de Rezende, o qual a administrou de 1876 a 1907.[2]
A Fazenda Santa Genebra foi reconhecida como modelo na plantação de café pela utilização de tecnologias avançadas e no início do século XX já era a maior produtora do grão no estado de São Paulo.[3] SItuava-se no contato entre duas importantes formações geomorfológicas do estado: a Depressão periférica paulista e o Planalto Atlântico paulista.[4]
A Mata da Fazenda Santa Genebra foi tombada pelo CONDEPHAAT como Reserva Florestal da Fundação José Pedro de Oliveira.[5]
Origem
[editar | editar código-fonte]A região da fazenda, no norte de Campinas, sempre possuiu terras férteis, conhecidas como "terra roxa". Com isso, a atividade agrícola no distrito se desenvolveu num momento inicial com a cana de açúcar, depois com o café. Após a crise na década de 1930, outra atividade que se destacou foi o plantio de algodão. A agricultura tinha como referências as duas principais fazendas monocultoras da região, a Rio das Pedras, pertencente ao Sr. Albino José Barbosa de Oliveira e a Santa Genebra, do Barão Geraldo de Rezende.[6]
O início: Brigadeiro Luis Antonio de Souza Queiroz
[editar | editar código-fonte]Porém, antes do Barão Geraldo de Rezende, é necessário introduzir outro importante nome: o do militar luso-brasileiro Luis Antonio de Souza Queiroz. Grande negociador, o Brigadeiro era dono do primeiro navio que saiu do Porto de Santos com mercadorias destinadas a Lisboa e foi o pioneiro no fomento à economia paulista. Introduziu as primeiras noções de um sistema de crédito bancário, rendendo-lhe, em pouco tempo uma grande fortuna.[7]
O Brigadeiro Luiz Antonio de Souza Queiroz ainda foi sócio do Senador Vergueiro, numa empresa agrária bem-sucedida, denominada Vergueiro & Souza. Bastante influente, com a fundação de Campinas em 1799, o Brigadeiro recebeu diversos engenhos de terras, incluindo a sesmaria Nossa Senhora do Carmo do Morro Alto, que passou a se chamar Fazenda Santa Genebra. O local foi doado pelo Conselho Ultramarino e após a morte do Brigadeiro, em 1819, foi herdado pelo seu filho Francisco Antonio de Souza Queiroz, que se tornou o Barão de Souza Queiroz e morreu em 1891.[8]
O meio: Geraldo Ribeiro de Souza Rezende, o Barão Geraldo
[editar | editar código-fonte]Após a morte do Barão de Souza Queiroz, a Fazenda Santa Genebra foi herdada pelas suas duas filhas: Genebra e Isabel Augusta. Genebra, casada com Luiz Ribeiro de Souza Rezende, tornou-se a principal herdeira, mas com a morte de Genebra, o imóvel foi adquirido em 1850 pelo seu sogro, o Marquês de Valença. 26 anos depois, em 1876, o local foi herdado pelo filho mais novo, Geraldo Ribeiro de Souza Rezende.[9] Formado em agronomia na França, retornou ao Brasil e passou a administrar suas fazendas. Logo quando chegou a Campinas, procurou a elite de fazendeiros locais para criarem o Club da Lavoura de Campinas. Monarquista, foi vereador de Campinas entre 1883 e 1886, mas depois focou somente na Fazenda Santa Genebra, que era considerada modelo de inovação, com maquinaria avançada e modernas técnicas agrícolas.[10]
Assim que recebeu as terras, Geraldo Ribeiro de Souza Rezende alforriou seus escravos e empregou trabalhadores assalariados, em sua maioria imigrantes, testando todas as inovações tecnológicas então existentes para agilizar o processo do plantio do café à moagem. A Fazenda Santa Genebra era modelo para o mundo, tanto que recebeu ilustres visitas como a do Conde D'Eu; o contra-almirante G. Fournier, comandante da Divisão Naval francesa no Atlântico; o conde Lalaing, ministro da Bélgica; W. Pocom, cônsul dos Estados Unidos da América; conde Antonelli, ministro da Itália; conde Michel de Giers, ministro da Rússia e Manuel Ferraz de Campos Sales, então presidente da província de São Paulo.[11]
Em 19 de junho de 1889, às vésperas da proclamação da República, Geraldo tornou-se Barão Geraldo de Rezende. Originalmente, havia sido feito "Barão de Iporanga", mas a pedido, o próprio Imperador mudou o nome.[12] Além do sucesso da Fazenda Santa Genebra, o Barão recebeu como herança dos avós maternos a Fazenda Rio das Pedras [13], assim como também possuía como propriedade as Fazendas Monjolinho, Santa Elisa e Funil.[14] Por esse extenso conjunto de bens, foi o construtor da Companhia Carril Funilense, estrada de ferro que escoava a produção cafeeira da região e a interligava com Campinas.[15]
Porém, mesmo com a fortuna, o Barão levava uma vida muito dispendiosa e, como sua extensa família não trabalhava, foi à falência, sendo obrigado a se desfazer da fazenda.[16] Na verdade, o governo penhorou o local e leiloou posteriormente.[17] Pouco tempo depois, o Barão também vendeu suas outras propriedades, assim como a falida Companhia Funilense, em 1907. Logo em seguida, no dia 1º de outubro do mesmo ano, suicidou-se.[18]
O fim: José Pedro de Oliveira
[editar | editar código-fonte]A família Oliveira comprou a Fazenda Santa Genebra, manteve preservada a área florestal, que foi denominada Mata de Santa Genebra. O proprietário, Sr. José Pedro de Oliveira, tinha uma forte tuberculose e considerava que dentro da mata conseguia melhorar sua respiração.[19]
Após a sua morte, em 1981, sua esposa Jandyra Pamplona de Oliveira doou o remanescente florestal ao município, mantendo o nome Mata Santa Genebra. Em acordo judicial, ficou definido que se a cobertura vegetal fosse destruída, a propriedade retornaria aos herdeiros da família Oliveira.[20] No mesmo dia 14 de julho de 1981, foi criada a Fundação José Pedro de Oliveira, para administrar e conservar a Mata de Santa Genebra.[21]
Características
[editar | editar código-fonte]A Fazenda Santa Genebra, quando comandada pelo Barão Geraldo de Rezende tinha uma área de 1.250 alqueires. Para se ter uma ideia da magnitude do local, englobava, na região sul, o que hoje são os bairros Santa Genebra, Costa e Silva e parte da Vila Nova; a oeste, o que atualmente é a região dos Amarais e CEASA (Centrais de Abastecimento Sociedade Anônima); e na parte leste até a Rodovia Governador Doutor Adhemar Pereira de Barros.[22]
Espalhado pelo considerável terreno, ficava o maquinário elogiado mundialmente. A diferenciação das demais fazendas ficava na aparelhagem e nas técnicas chamadas “mais civilizadas” no processo do plantio do café à moagem. Eram várias as técnicas de beneficiamento do café: lavagem, secagem, despolpamento, ventilação, escolha, cotação e classificação. Em Campinas, pode-se notar um padrão na distribuição e na disposição das fazendas. Um primeiro espaço é dominado pelos terreiros de café, que distribuem e organizam as edificações, reservando à residência do Barão uma posição de destaque.[23]
Tanto que a arquitetura e a estética da casa onde morava a família do Barão Geraldo de Rezende chamava atenção pela suntuosidade, requinte e opulência, típicos de uma propriedade rica na exploração do café no fim do século XIX.[24] Há também a presença dos muros de taipa de pilão cercando os limites da sede cafeeira, visando estabelecer o controle e a vigilância sobre os escravos e a produção de café.[25]
A mão de obra da Fazenda Santa Genebra era formada a princípio pelos escravos e depois da abolição da escravatura em 1888, pelos ex-escravos e imigrantes italianos, espanhóis e portugueses.[26]
As fazendas de Campinas também padronizaram o local onde ficavam os escravos. As senzalas eram cobertas por um telhado corrido e organizadas em quadra. A concentração dos escravos no curro, uma área quadrada diminuta e fechada, permitia maior vigilância e controle. Uma das filhas do Barão Geraldo de Rezende descreveu a senzala da Fazenda Santa Genebra:[27]
"Lá por cima ficava o 'quadrado', com as senzalas, a dormida dos escravos, pequenos quartos em volta de um grande pateo, fechado por um portão, que se trancava, à noite, com enorme e impressionante chave, a fim de evitar facilidades aos fujões [...] aos 'caiamboras'".[28]
Mata Santa Genebra
[editar | editar código-fonte]A Mata da Fazenda Santa Genebra localizava-se numa região predominantemente agrícola, quando ainda pertencia ao Barão Geraldo de Rezende. Só que numa escala reduzida de tempo teve uma área significante de seu entorno totalmente ocupada por bairros residenciais e áreas de plantio de monoculturas de cana-de-açúcar e milho.[29]
Mesmo com as consideráveis mudanças no entorno e na área das construções da Fazenda, a mata foi preservada e é o local onde se localiza o maior patrimônio natural tombado de Campinas, a Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Mata de Santa Genebra, pertencente a reserva florestal da Fundação José Pedro de Oliveira, que possui 251 hectares, quase 2,5 milhões de m².[30]
No local, existe um borboletário, instalado em uma área de 3 mil m². O local permite a criação e o monitoramento das mais de 600 espécies de borboletas existentes, o que prova a biodiversidade existente na Mata. Além do borboletário, um viveiro conta com mais de 3 mil mudas de espécies nativas.[31] São mais de 170 espécies de árvores e arbustos. Na fauna, existem aproximadamente 300 espécies de vertebrados e 500 de insetos. A segunda maior floresta urbana do Brasil é alvo de estudos de pesquisadores de universidades e institutos que buscam um maior equilíbrio ecológico na Mata Atlântica.[32]
A Mata foi doada pela família Oliveira somente para fins científicos e culturais com o propósito de se estudar seu ecossistema. Seu tombamento ocorreu em 1983 pelo CONDEPHATT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico)[33] e em 1985 foi tornada ARIE (Área de Relevante Interesse Ecológico) pelo Governo Federal.[34] Sete anos depois, em 1992, foi tombada como patrimônio natural do município de Campinas pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas).[35]
Escola Salesiana São José
[editar | editar código-fonte]Ainda dentro da grande porção de terra que era a Fazenda Santa Genebra, pode ser encontrada a Escola Salesiana São José, ou como era conhecida antigamente Escola Agrícola de Artes e Ofícios.[36]
O projeto de fundação foi iniciado em 1905, quando o Barão Geraldo de Rezende doou 4 mil m² de terras ao Liceu Salesiano. A Fazenda Santa Genebra não trazia mais lucros com a produção de café e por intermédio do Senador General Francisco Glicério, o local foi transformada em uma Escola Agrícola, inaugurada em 1953.[37]
Análise
[editar | editar código-fonte]A Fazenda Santa Genebra era tão importante que teve uma estação na Estrada de Ferro Funilense, planejada pelo Barão Geraldo de Rezende, com estação inicial em Campinas e que interligava a região à outras fazendas de destaque.[38]
A "Estação Santa Genebra" foi a primeira localizada em terras “do sertão adentro”, aberta primeiramente para atender a Fazenda Santa Genebra, considerada referência nacional em modelo de administração. Alguns anos depois, a estação interna esta foi transformada e ampliada, tendo seu nome alterado para “Estação Barão Geraldo de Rezende” como forma de homenagear o Barão. A estrutura era tão grande que hoje, na mesma localização da antiga estação, encontra-se o Terminal Urbano do Distrito de Barão Geraldo.[39]
Mais uma prova de que a Fazenda era importante veio do historiador Warney Smith, analisando a formação do bairro rural de Barão Geraldo e sua evolução a distrito através da estação de trem pensada para o escoamento da produção de café:
"Nos primeiros 20 anos do Século XX, diversos imigrantes italianos, portugueses e libaneses compraram pequenos sítios perto de Campinas (SP) ao redor da "Estação Barão Geraldo" da extinta Estrada de Ferro Funilense, e ali construíram um bairro rural fundado na policultura e na auto-subsistência, cuja produção começou a ser vendida em Campinas ou São Paulo alguns anos depois. Localizado entre duas antigas fazendas de café e cana (Rio das Pedras e Santa Genebra) o bairro rural que ficou conhecido como Barão Geraldo centralizou-se em torno de uma capela, de um campo de futebol e de diversas vendas - todos vizinhos à Estação - onde seus moradores em convivência, iniciaram a construção de uma identidade local. Com a instalação da fazenda de cana e destilaria da Rhodia em seus arredores, a partir da década de 40, os "baronenses" começaram a lutar pelo "progresso" e pela polêmica elevação do bairro rural a Distrito".[40]
De acordo com a autora Rita RIbeiro, a Fazenda Santa Genebra tornou-se capaz de fundar um futuro distrito por ser modelo no Brasil e no exterior pelas inovações tecnológicas e maquinário avançado, além de possuir uma excelente administração diferenciando-a das outras fazendas. A propriedade não foi importante apenas por causa de sua estação, como pela sua principal característica:
“Destacou-se não apenas por ser, então, uma das maiores da região, mas também por seu pioneirismo marcado por constantes inovações no campo da agricultura”.[41]
A atual Mata de Santa Genebra é elogiada pela preservação dos 251 hectares restantes de Mata Atlântica e pelas pesquisas que visam um maior equilíbrio ecológico, além do fato de que a floresta se tornou refúgio de plantas e animais. “Porém em um modelo norte-americano de preservação da natureza, sem incluir o ser humano no exercício da conservação e manejo. A cerca e o vigia materializam esta condição”.[42]
A proposta de Laís Mourão Sá, doutora em Antropologia pela UnB (Universidade Nacional de Brasília), seria reincluir as populações tradicionais, vizinhas dos parques e regiões florestais, ao invés de expulsá-las de suas terras ou impedi-las de manter contato com as espécies preservadas. Isso poderia contribuir para um cultivo da floresta em harmonia com o ser humano. Seria imprescindível que as pessoas se sentissem pertencentes à história e ao lugar em questão. A Fazenda Santa Genebra também é importante atualmente para a preservação do meio ambiente, assim como para a simbiose entre os humanos e a natureza.[43]
Impacto cultural
[editar | editar código-fonte]Uma das histórias mais conhecidas do distrito de Barão Geraldo e uma das mais faladas de Campinas é a Lenda do Boi Falô, que teria acontecido justamente na Fazenda Santa Genebra. Na Sexta-Feira Santa de 1888, um escravo teve que atrelar um boi para este fazer o transporte de cereais, porém, o rapaz era religioso, e em dia santo, segundo as tradições católicas, não se trabalha. Por sua vez, o capataz passou a usar violentamente sua chibata, punindo as costas do escravo para fazê-lo trabalhar. Ao ver a cena, o boi teria mugido de maneira ensurdecedora e dito: "Hoje não é dia de trabalhar, é dia do Senhor!". Logo em seguida, o capataz teria saído gritando: “O boi falô! O boi falô!”.[44]
Pelo milagre do boi, a lenda virou festa, inicialmente ocorrida na Escola Estadual Barão Geraldo de Rezende, entre as décadas de 70 e o início da década de 80, sempre no dia 22 de agosto, em comemoração ao dia do Folclore. Os alunos da região encenavam a lenda e confraternizavam na escola. A partir de 1988, a festa passou a acontecer na Sexta-Feira Santa, em via pública e aberta a toda a população. Assim começou a tradição de servir uma macarronada com molho de sardinha aos participantes, costume trazido pelos imigrantes italianos e relembrado na festa por não ser permitido comer carne na Sexta-Feira Santa, feriado religioso.[45]
Em 2017, a Festa do Boi Falô foi realizada na Escola Barão Geraldo de Rezende e reuniu mais de 1,5 mil pessoas. Para a tradicional macarronada, foram preparados 500 quilos de espaguete com 400 quilos de molho de tomate.[46]
Referências
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- ↑ «Correio Popular I Barão mantêm viva lenda tradicional do Boi Falô»
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Distrito de Barão Geraldo
- Mata de Santa Genebra
- Brigadeiro Luis Antonio de Souza Queiroz
- Geraldo Ribeiro de Souza Rezende
- Festa do Boi Falô
- Produção de café no Brasil
Ligações Externas
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