Gilles Deleuze: diferenças entre revisões

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'''Gilles Deleuze''' ([[Paris]], {{dni|18|1|1925|si}} — Paris, {{morte|4|11|1995}}) foi um [[filósofo]] [[França|francês]].

== Biografia ==
Entre [[1944]] e [[1948]], Gilles Deleuze cursou filosofia na [[Universidade de Paris]] ([[Sorbonne]]), onde encontrou [[Michel Butor]], [[François Châtelet]], [[Claude Lanzmann]], [[Olivier Revault d’Allonnes]] e [[Michel Tournier]]. Seus professores foram [[Ferdinand Alquié]], [[Georges Canguilhem]], [[Maurice de Gandillac]], [[Jean Hyppolite]].

Concluído o curso em 1948, ele dedica-se à [[história da filosofia]], tornando-se professor da matéria na Sorbonne de 1957 a 1960. Em 1962, conhece [[Michel Foucault]], de quem se torna amigo até sua morte em 1984. Apesar da amizade, não trabalharam juntos, mas foram apontados como responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra de [[Nietzsche]].<ref name="Livro do Ano 1996">Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, pgs. 380-381. "Livro do Ano 1996 - Eventos de 1995". São Paulo (1996).</ref>

Entre 1964 e 1969, foi professor de História da Filosofia na ainda unificada [[Universidade de Lyon]]. Em [[1968]], Deleuze apresenta como tese de doutoramento ''Diferença e Repetição'' (''Différence et répétition''), orientado por Gandillac, na qual critica o conhecimento via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa; e como tese secundária, ''Espinoza e o problema da expressão'' (''Spinoza et le problème de l’expression'') orientado por Alquié.

No mesmo ano, ele conhece [[Félix Guattari]], e este encontro resulta em uma longa e rica, e considerada por muitos controversa, colaboração. Segundo Deleuze: "meu encontro com Félix Guattari mudou muitas coisas. Félix já tinha um longo passado político e de trabalho psiquiátrico".

Na Universidade de Vincennes, onde ensinou até [[1987]], Gilles Deleuze promoveu um número significativo de cursos. Graças a sua esposa, [[Fanny Deleuze]], uma parte importante destas aulas foi transcrita e disponibilizada no sítio de Richard Pinhas.<ref>[http://www.webdeleuze.com/ Webdeleuze]</ref>

Para Deleuze, "a filosofia é criação de conceitos" (''O que é a filosofia?''), coisa da qual nunca se privou ("[[máquinas desejantes]]", "[[corpo sem órgãos]]", "[[desterritorialização]]", "[[Rizoma (filosofia)|rizoma]]", "ritornelo" etc.), mas também nunca se prendeu a transformá-los em "verdades" a serem reproduzidas. A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao [[complexo de Édipo]], à falta de algo. A sua filosofia é considerada como uma filosofia do desejo. Com a crítica radical do complexo de Édipo, Deleuze consagrará uma parte de sua reflexão à [[esquizofrenia]]. Segundo ele, o processo esquizofrênico faz experimentar de modo direto as "máquinas-desejantes" e é capaz de criar (e preencher) o "corpo sem órgãos". Seu intuito sempre foi o de explorar as suas potencialidades, ao máximo. Em ''[[Mil Platôs]]'', Deleuze e Guattari enfatizam a necessidade de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prendam a qualquer preceito moral. Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um "trapo" através de experimentações, que inicialmente poderiam ser positivas, mas que depois são regulamentadas por uma moral subjetiva: "a queda de um processo molecular em um buraco negro".{{Sfn|Deleuze|Parnet|1998|p=167}}

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um [[câncer de pulmão|câncer]], funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 4 de novembro de 1995. Seus seguidores consideraram seu [[suicídio]] coerente com sua vida e obra: "Para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida".<ref name="Livro do Ano 1996" />

== Filosofia ==
O trabalho de Deleuze pode ser dividido em dois grupos:
* monografias interpretando filósofos modernos ([[Spinoza]], [[Leibniz]], [[David Hume|Hume]], [[Kant]], [[Nietzsche]], [[Bergson]], [[Michel Foucault|Foucault]]) e obras de artistas ([[Marcel Proust|Proust]], [[Kafka]] e o pintor moderno [[Francis Bacon (artista)|Francis Bacon]]);
*exploração de temas filosóficos ecléticos, centrados na produção de conceitos como diferença, sentido, evento, rizoma, etc.
Suas principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza. Para o filósofo do ''corpo-sem-órgãos'' (figura [[estética]] de [[Antonin Artaud]], retomada como conceito filosófico por Deleuze em parceria com [[Félix Guattari]]), o ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de [[Zaratustra]], Deleuze afirma em ''L'abécédaire'', entrevista dada a [[Claire Parnet]], ter criado, com Félix Guattari, o conceito de ''[[ritornelo]]'' - refrão, forma de reterritorialização (povoamento) e desterritorializaçao. A filosofia de Deleuze é uma filosofia da [[imanência]] absoluta. Nela não há nada de [[Transcendência (filosofia)|transcendente]], negação ou falta, mas uma "conspiração de afetos", uma "cultura da alegria", uma "denúncia radical do poder".<ref>É nesses termos que Deleuze, em junho de 1991, numa [https://hervetheroven.wordpress.com/2013/09/25/deleuze-sur-ferre-chapeau-les-artistes/ conversa com Dominique Lacout], evoca seu amor por [[Léo Ferré]]. ''In'' Lacout, Dominique; ''Léo Ferré'', Éditions Sévigny, 1991, {{p.|321-322}})</ref> Uma filosofia da vida e da pura afirmação - da imanência, portanto, como saída das fronteiras do [[Sujeito (filosofia)|sujeito]].

Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do [[cinema]] para expor sua forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.

=== Metafísica ===
Deleuze foi um dos filósofos que teorizaram as instâncias do atual e do [[virtual]], já elaboradas por outros pensadores, construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades. As instâncias do real e do virtual também criticam a ética de Foucault, na qual Deleuze diz haver: "Um pouco de possível, senão sufoco!".{{Sfn|Deleuze|Parnet|1992|p=131}} Assim como [[Kant]], Deleuze considera as noções tradicionais de espaço e tempo como formas unificadoras impostas pelo [[Sujeito (filosofia)|sujeito]]. Desse modo, a diferença pura deleuziana não é espaço-temporal; mas sim uma ideia, o que Deleuze chama de "o virtual", no sentido que remete à definição de [[Marcel Proust|Proust]] do que é constante tanto no passado quanto no presente: o real sem ser atual, o ideal sem ser abstrato.<ref name="virtual">{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-46982017000100149&lng=en&nrm=iso&tlng=pt |titulo=Em torno da Diferença: uma confrontação entre Adorno e Deleuze |data=2017-11-13 |acessodata=2021-03-09 |jornal=Educação em Revista |ultimo=Bueno |primeiro=Sinésio Ferraz |ultimo2=Bueno |primeiro2=Sinésio Ferraz |doi=10.1590/0102-4698164549 |issn=0102-4698 |volume=33}}</ref>

{{Citar |1= A filosofia é a teoria das multiplicidades. Toda multiplicidade implica elementos atuais e elementos virtuais. Não há objeto puramente atual. Todo atual rodeia-se de uma névoa de imagens virtuais. Essa névoa eleva-se de circuitos coexistentes mais ou menos extensos, sobre os quais se distribuem e correm as imagens virtuais. É assim que uma partícula atual emite e absorve virtuais mais ou menos próximos, de diferentes ordens. Eles são ditos virtuais à medida que sua emissão e absorção, sua criação e destruição acontecem num tempo menor do que o mínimo de tempo contínuo pensável, e à medida que essa brevidade os mantém, conseqüentemente, sob um princípio de incerteza ou de indeterminação. Todo atual rodeia-se de círculos sempre renovados de virtualidades, cada um deles emitindo um outro, e todos rodeando e reagindo sobre o atual.
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Embora alguns aspectos das ideias de Deleuze sobre o virtual se assemelhem à [[teoria das formas]] de Platão e às idéias da razão pura de [[Kant]], elas não são modelos ideais nem transcendem a experiência do que é possível no atual/real; em vez disso as ideias do virtual constituem as próprias condições da experiência real, pois elas são a diferença interna em si mesma. "O conceito que elas [as ideias do virtual] formam é idêntico ao seu objeto", e tanto o sujeito como o objeto se dissolvem no [[Imanência|plano de imanência]].<ref>{{Citar livro |url=https://www.worldcat.org/oclc/53068443 |título=Desert islands and other texts, 1953-1974 |ultimo=Deleuze |primeiro=Gilles |data=2004 |editora=Semiotext(e) |ano=2004 |local=Los Angeles |página=36 |oclc=53068443}}</ref> Portanto, o conceito deleuziano de diferença não é uma abstração de uma experimentação prática, mas um ''continuum'' de um sistema real formado por relações diferenciais que criam entre si espaços, tempos e sensações também reais – é a dialética da diferença que rejeita a negação, tal como seu conceito de [[Minoria (filosofia)|minoria]].<ref name="virtual" />

== Obras ==
Deleuze publicou estudos sobre pensadores como Nietzsche, Kant e Spinoza. Entre suas obras principais estão ''Nietzsche et la philosophie (1962); ''Proust et les signes'' (1964); ''Logique du sens'' (1969) ''Spinoza'' (1970); ''Foucault'' (1986); e ''Critique et clinique'' (1993).<ref name="Livro do Ano 1996" />''

Ano da edição original em francês:
* Hume, sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie (avec André Cresson) ([[1953]])
* Instincts et Institutions ([[1955]])
* Nietzsche e a Filosofia ([[1962]])
* A Filosofia Crítica de Kant ([[1963]])
* Proust e os Signos ([[1964]])
* Nietzsche ([[1965]])
* O Bergsonismo ([[1966]])
* Apresentação de Sacher-Masoch ([[1967]])
* Spinoza e o problema da Expressão ([[1968]])
* Diferença e Repetição ([[1968]])
* Lógica do Sentido ([[1969]])
* Spinoza: Filosofia Prática ([[1970]]) (reedição aumentada, ([[1981]]))
* Francis Bacon: Lógica da Sensação ([[1981]])
* Cinema-1: A Imagem-movimento ([[1983]])
* Cinema-2: A Imagem-tempo ([[1985]])
*A Dobra - Leibniz e o Barroco ([[1988]])
* Pericles e Verdi ([[1988]])
* Conversações ([[1990]])
* L'Epuisé (Posfácio a Samuel Becket) ([[1992]])
* Crítica e Clínica ([[1993]])

Com Félix Guattari:
* ''[[L'anti-Œdipe]]'' ([[1972]])
* Kafka. Por uma literatura menor ([[1975]])
* [[Mil Platôs]]'' ([[1980]])
* O que é a filosofia? ([[1991]])

Com Claire Parnet:
* Deleuze, G. e Parnet, C. (1977/2002), Dialogues, 276 pp. Londres: Athlone Press.

==Ver também==
* [[Corpo sem órgãos]]
* [[Kant]]
* [[Félix Guattari]]
* ''[[L'anti-Œdipe]]''

{{Referências}}

== Bibliografia ==
* {{Citar livro |isbn=978-85-85490-04-1 |título=Conversações: 1972-1990 |ultimo=Deleuze |primeiro=Gilles |ultimo2=Parnet |primeiro2=Claire |ano=1992 |editora=Editora 34 |local=Rio de Janeiro |oclc=817646626}}
* {{Citar livro |isbn=978-8571371279 |título=Diálogos |ultimo=Deleuze |primeiro=Gilles |ultimo2=Parnet |primeiro2=Claire |ano=1998 |editora=Escuta |ano=1998 |editora=Editora Escuta |local=São Paulo |oclc=58559219}}

== Ligações externas ==
{{Wikiquote|Gilles Deleuze}}
{{commons category}}
* MISOCZKY, M. C.. Leituras enamoradas de Marx, Bourdieu e Deleuze: indicações para o primado das relações nos estudos organizacionais. In: Marcelo Milano Falcão Vieira; Deborah Moraes Zouain. (Org.). Pesquisa Qualitativa em Administração. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2004, v., p. 71-96.
* {{Link|pt|2=http://intermidias.blogspot.com/2008/01/o-abecedrio-de-gilles-deleuze.html |3=O Abecedário de Gilles Deleuze com Claire Parnet}}
* {{Link|fr|2=http://www.leseditionsdeminuit.eu/f/flip.php?editor=3&livre_id=2023 |3=''Pourparlers 1972 - 1990'' |4=. Éditions de Minuit (visualização parcial)}}
* ''[[Stanford Encyclopedia of Philosophy]]'': "[http://plato.stanford.edu/entries/deleuze/ Gilles Deleuze]", por Daniel Smith & John Protevi.
* ''Internet Encyclopedia of Philosophy'': [http://www.iep.utm.edu/d/deleuze.htm Gilles Deleuze]", por Jon Roffe.
* {{en}} [http://capitalismandschizophrenia.org CapitalismAndSchizophrenia.org, uma wiki sobre os trabalhos de Deleuze e Guattari]
* [https://web.archive.org/web/20060111103417/http://www.webdeleuze.com/php/sommaire.html Webdeleuze] - Cursos & audio {{fr icon}}, {{en icon}}, {{it icon}}, {{es icon}}, {{pt icon}} etc.
* [http://www.hssr.mmu.ac.uk/deleuze-studies/ A/V the International E-Journal for Deleuze Studies], com uma rede/comunidade, videos de conferências links para artigos online.
* [[Alain Badiou]], "[http://www.lacan.com/baddel.htm The Event in Deleuze.]"
* {{en}} [http://www.protevi.com/john/DG/index.html Links para conferências e notas sobre Deleuze and Guattari.]
* {{en}} [http://www.rhizomes.net Rhizomes.] Jornal online inspirado pelo pensamento deleuziano.
* [http://web.ics.purdue.edu/~smith132/French_Philosophy/French_Philosophy.html The Journal of French Philosophy ]
* [http://www.langlab.wayne.edu/CStivale/D-G/index.html Web resources]. [[Wayne State University]].
* "[http://www.deleuzeguattari.com A hypertext glossary of Deleuzean/Guattarian terms]", por Rob Shields and Mickey Vallee.
* {{fr}} [http://multitudes.samizdat.net/La-metaphysique-de-Deleuze.html La métaphysique de Deleuze], por Arnaud Villani

{{Deleuze-Guattari}}
{{Filosofia continental}}
{{Portal3|Literatura|Biografias|França|Filosofia}}
{{Controle de autoridade}}

{{DEFAULTSORT:Deleuze, Gilles}}
[[Categoria:Gilles Deleuze| ]]
[[Categoria:Filósofos da França]]
[[Categoria:Filósofos do século XX]]
[[Categoria:Filósofos spinozanos]]
[[Categoria:Anarquistas da França]]
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Revisão das 15h57min de 9 de março de 2021

Gilles Deleuze
Gilles Deleuze
Nascimento 18 de janeiro de 1925
Paris, França
Morte 4 de novembro de 1995 (70 anos)
Paris, França
Sepultamento cimetière de Saint-Léonard-de-Noblat
Nacionalidade Francês
Cidadania França
Cônjuge Denise Paul Granjouan
Filho(a)(s) Émilie Deleuze
Alma mater
Ocupação Filósofo
Empregador(a) Lycée Louis-le-Grand, Centre National de la Recherche Scientifique, Universidade de Lyon, Universidade de Paris-VIII, Universidade de Paris
Obras destacadas Difference and Repetition, The Logic of Sense, L'anti-Œdipe, Mille Plateaux, Cinéma, Qu'est-ce que la philosophie?
Movimento estético Materialismo, pós-estruturalismo, metafísica, filosofia ocidental, filosofia continental
Instrumento singing musical saw David Penalosa
Religião ateísmo
Causa da morte suicídio por precipitação
Assinatura

Gilles Deleuze (Paris, 18 de janeiro de 1925 — Paris, 4 de novembro de 1995) foi um filósofo francês.

Biografia

Entre 1944 e 1948, Gilles Deleuze cursou filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne), onde encontrou Michel Butor, François Châtelet, Claude Lanzmann, Olivier Revault d’Allonnes e Michel Tournier. Seus professores foram Ferdinand Alquié, Georges Canguilhem, Maurice de Gandillac, Jean Hyppolite.

Concluído o curso em 1948, ele dedica-se à história da filosofia, tornando-se professor da matéria na Sorbonne de 1957 a 1960. Em 1962, conhece Michel Foucault, de quem se torna amigo até sua morte em 1984. Apesar da amizade, não trabalharam juntos, mas foram apontados como responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra de Nietzsche.[1]

Entre 1964 e 1969, foi professor de História da Filosofia na ainda unificada Universidade de Lyon. Em 1968, Deleuze apresenta como tese de doutoramento Diferença e Repetição (Différence et répétition), orientado por Gandillac, na qual critica o conhecimento via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa; e como tese secundária, Espinoza e o problema da expressão (Spinoza et le problème de l’expression) orientado por Alquié.

No mesmo ano, ele conhece Félix Guattari, e este encontro resulta em uma longa e rica, e considerada por muitos controversa, colaboração. Segundo Deleuze: "meu encontro com Félix Guattari mudou muitas coisas. Félix já tinha um longo passado político e de trabalho psiquiátrico".

Na Universidade de Vincennes, onde ensinou até 1987, Gilles Deleuze promoveu um número significativo de cursos. Graças a sua esposa, Fanny Deleuze, uma parte importante destas aulas foi transcrita e disponibilizada no sítio de Richard Pinhas.[2]

Para Deleuze, "a filosofia é criação de conceitos" (O que é a filosofia?), coisa da qual nunca se privou ("máquinas desejantes", "corpo sem órgãos", "desterritorialização", "rizoma", "ritornelo" etc.), mas também nunca se prendeu a transformá-los em "verdades" a serem reproduzidas. A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao complexo de Édipo, à falta de algo. A sua filosofia é considerada como uma filosofia do desejo. Com a crítica radical do complexo de Édipo, Deleuze consagrará uma parte de sua reflexão à esquizofrenia. Segundo ele, o processo esquizofrênico faz experimentar de modo direto as "máquinas-desejantes" e é capaz de criar (e preencher) o "corpo sem órgãos". Seu intuito sempre foi o de explorar as suas potencialidades, ao máximo. Em Mil Platôs, Deleuze e Guattari enfatizam a necessidade de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prendam a qualquer preceito moral. Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um "trapo" através de experimentações, que inicialmente poderiam ser positivas, mas que depois são regulamentadas por uma moral subjetiva: "a queda de um processo molecular em um buraco negro".[3]

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 4 de novembro de 1995. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "Para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida".[1]

Filosofia

O trabalho de Deleuze pode ser dividido em dois grupos:

Suas principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza. Para o filósofo do corpo-sem-órgãos (figura estética de Antonin Artaud, retomada como conceito filosófico por Deleuze em parceria com Félix Guattari), o ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado, com Félix Guattari, o conceito de ritornelo - refrão, forma de reterritorialização (povoamento) e desterritorializaçao. A filosofia de Deleuze é uma filosofia da imanência absoluta. Nela não há nada de transcendente, negação ou falta, mas uma "conspiração de afetos", uma "cultura da alegria", uma "denúncia radical do poder".[4] Uma filosofia da vida e da pura afirmação - da imanência, portanto, como saída das fronteiras do sujeito.

Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do cinema para expor sua forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.

Metafísica

Deleuze foi um dos filósofos que teorizaram as instâncias do atual e do virtual, já elaboradas por outros pensadores, construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades. As instâncias do real e do virtual também criticam a ética de Foucault, na qual Deleuze diz haver: "Um pouco de possível, senão sufoco!".[5] Assim como Kant, Deleuze considera as noções tradicionais de espaço e tempo como formas unificadoras impostas pelo sujeito. Desse modo, a diferença pura deleuziana não é espaço-temporal; mas sim uma ideia, o que Deleuze chama de "o virtual", no sentido que remete à definição de Proust do que é constante tanto no passado quanto no presente: o real sem ser atual, o ideal sem ser abstrato.[6]

A filosofia é a teoria das multiplicidades. Toda multiplicidade implica elementos atuais e elementos virtuais. Não há objeto puramente atual. Todo atual rodeia-se de uma névoa de imagens virtuais. Essa névoa eleva-se de circuitos coexistentes mais ou menos extensos, sobre os quais se distribuem e correm as imagens virtuais. É assim que uma partícula atual emite e absorve virtuais mais ou menos próximos, de diferentes ordens. Eles são ditos virtuais à medida que sua emissão e absorção, sua criação e destruição acontecem num tempo menor do que o mínimo de tempo contínuo pensável, e à medida que essa brevidade os mantém, conseqüentemente, sob um princípio de incerteza ou de indeterminação. Todo atual rodeia-se de círculos sempre renovados de virtualidades, cada um deles emitindo um outro, e todos rodeando e reagindo sobre o atual.
O atual e o virtual[7]

Embora alguns aspectos das ideias de Deleuze sobre o virtual se assemelhem à teoria das formas de Platão e às idéias da razão pura de Kant, elas não são modelos ideais nem transcendem a experiência do que é possível no atual/real; em vez disso as ideias do virtual constituem as próprias condições da experiência real, pois elas são a diferença interna em si mesma. "O conceito que elas [as ideias do virtual] formam é idêntico ao seu objeto", e tanto o sujeito como o objeto se dissolvem no plano de imanência.[8] Portanto, o conceito deleuziano de diferença não é uma abstração de uma experimentação prática, mas um continuum de um sistema real formado por relações diferenciais que criam entre si espaços, tempos e sensações também reais – é a dialética da diferença que rejeita a negação, tal como seu conceito de minoria.[6]

Obras

Deleuze publicou estudos sobre pensadores como Nietzsche, Kant e Spinoza. Entre suas obras principais estão Nietzsche et la philosophie (1962); Proust et les signes (1964); Logique du sens (1969) Spinoza (1970); Foucault (1986); e Critique et clinique (1993).[1]

Ano da edição original em francês:

  • Hume, sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie (avec André Cresson) (1953)
  • Instincts et Institutions (1955)
  • Nietzsche e a Filosofia (1962)
  • A Filosofia Crítica de Kant (1963)
  • Proust e os Signos (1964)
  • Nietzsche (1965)
  • O Bergsonismo (1966)
  • Apresentação de Sacher-Masoch (1967)
  • Spinoza e o problema da Expressão (1968)
  • Diferença e Repetição (1968)
  • Lógica do Sentido (1969)
  • Spinoza: Filosofia Prática (1970) (reedição aumentada, (1981))
  • Francis Bacon: Lógica da Sensação (1981)
  • Cinema-1: A Imagem-movimento (1983)
  • Cinema-2: A Imagem-tempo (1985)
  • A Dobra - Leibniz e o Barroco (1988)
  • Pericles e Verdi (1988)
  • Conversações (1990)
  • L'Epuisé (Posfácio a Samuel Becket) (1992)
  • Crítica e Clínica (1993)

Com Félix Guattari:

Com Claire Parnet:

  • Deleuze, G. e Parnet, C. (1977/2002), Dialogues, 276 pp. Londres: Athlone Press.

Ver também

Referências

  1. a b c Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, pgs. 380-381. "Livro do Ano 1996 - Eventos de 1995". São Paulo (1996).
  2. Webdeleuze
  3. Deleuze & Parnet 1998, p. 167.
  4. É nesses termos que Deleuze, em junho de 1991, numa conversa com Dominique Lacout, evoca seu amor por Léo Ferré. In Lacout, Dominique; Léo Ferré, Éditions Sévigny, 1991, p. 321-322)
  5. Deleuze & Parnet 1992, p. 131.
  6. a b Bueno, Sinésio Ferraz; Bueno, Sinésio Ferraz (13 de novembro de 2017). «Em torno da Diferença: uma confrontação entre Adorno e Deleuze». Educação em Revista. 33. ISSN 0102-4698. doi:10.1590/0102-4698164549. Consultado em 9 de março de 2021 
  7. Deleuze & Parnet 1998, p. 121.
  8. Deleuze, Gilles (2004). Desert islands and other texts, 1953-1974. Los Angeles: Semiotext(e). p. 36. OCLC 53068443 

Bibliografia

Ligações externas

Wikiquote
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Gilles Deleuze
Gilles Deleuze
Nascimento 18 de Janeiro de 1925
Paris, França
Morte 4 de novembro de 1995 (70 anos)
Paris, França
Sepultamento cimetière de Saint-Léonard-de-Noblat
Nacionalidade Francês
Cidadania França
Cônjuge Denise Paul Granjouan
Filho(a)(s) Émilie Deleuze
Alma mater
Ocupação Filósofo
Empregador(a) Lycée Louis-le-Grand, Centre National de la Recherche Scientifique, Universidade de Lyon, Universidade de Paris-VIII, Universidade de Paris
Obras destacadas Difference and Repetition, The Logic of Sense, L'anti-Œdipe, Mille Plateaux, Cinéma, Qu'est-ce que la philosophie?
Movimento estético Materialismo, pós-estruturalismo, metafísica, filosofia ocidental, filosofia continental
Instrumento singing musical saw David Penalosa
Religião ateísmo
Causa da morte suicídio por precipitação
Assinatura

Gilles Deleuze (Paris, 18 de janeiro de 1925 — Paris, 4 de novembro de 1995) foi um filósofo francês.

Biografia

Entre 1944 e 1948, Gilles Deleuze cursou filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne), onde encontrou Michel Butor, François Châtelet, Claude Lanzmann, Olivier Revault d’Allonnes e Michel Tournier. Seus professores foram Ferdinand Alquié, Georges Canguilhem, Maurice de Gandillac, Jean Hyppolite.

Concluído o curso em 1948, ele dedica-se à história da filosofia, tornando-se professor da matéria na Sorbonne de 1957 a 1960. Em 1962, conhece Michel Foucault, de quem se torna amigo até sua morte em 1984. Apesar da amizade, não trabalharam juntos, mas foram apontados como responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra de Nietzsche.[1]

Entre 1964 e 1969, foi professor de História da Filosofia na ainda unificada Universidade de Lyon. Em 1968, Deleuze apresenta como tese de doutoramento Diferença e Repetição (Différence et répétition), orientado por Gandillac, na qual critica o conhecimento via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa; e como tese secundária, Espinoza e o problema da expressão (Spinoza et le problème de l’expression) orientado por Alquié.

No mesmo ano, ele conhece Félix Guattari, e este encontro resulta em uma longa e rica, e considerada por muitos controversa, colaboração. Segundo Deleuze: "meu encontro com Félix Guattari mudou muitas coisas. Félix já tinha um longo passado político e de trabalho psiquiátrico.""

Na Universidade de Vincennes, onde ensinou até 1987, Gilles Deleuze promoveu um número significativo de cursos. Graças a sua esposa, Fanny Deleuze, uma parte importante destas aulas foi transcrita e disponibilizada no sítio de Richard Pinhas.[2]

Para Deleuze, "a filosofia é criação de conceitos" (O que é a filosofia?), coisa da qual nunca se privou ("máquinas desejantes", "corpo sem órgãos", "desterritorialização", "rizoma", "ritornelo" etc.), mas também nunca se prendeu a transformá-los em "verdades" a serem reproduzidas. A sua filosofia vai de encontro à psicanálise, nomeadamente a freudiana, que aos seus olhos reduz o desejo ao complexo de Édipo, à falta de algo. A sua filosofia é considerada como uma filosofia do desejo. Com a crítica radical do complexo de Édipo, Deleuze consagrará uma parte de sua reflexão à esquizofrenia. Segundo ele, o processo esquizofrênico faz experimentar de modo direto as "máquinas-desejantes" e é capaz de criar (e preencher) o "corpo sem órgãos". Seu intuito sempre foi o de explorar as suas potencialidades, ao máximo. Em Mil Platôs, Deleuze e Guattari enfatizam a necessidade de extrema prudência nos processos de experimentação, para que não se prendam a qualquer preceito moral. Deleuze sempre advertiu quanto ao perigo de se tornar um "trapo" através de experimentações, que inicialmente poderiam ser positivas, mas que depois são regulamentadas por uma moral subjetiva: "a queda de um processo molecular em um buraco negro".[3]

Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela do seu apartamento em Paris, em 4 de novembro de 1995. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com sua vida e obra: "Para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida".[1]

Filosofia

O trabalho de Deleuze pode ser dividido em dois grupos:

Suas principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza. Para o filósofo do corpo-sem-órgãos (figura estética de Antonin Artaud, retomada como conceito filosófico por Deleuze em parceria com Félix Guattari), o ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado, com Félix Guattari, o conceito de ritornelo - refrão, forma de reterritorialização (povoamento) e desterritorializaçao. A filosofia de Deleuze é uma filosofia da imanência absoluta. Nela não há nada de transcendente, negação ou falta, mas uma "conspiração de afetos", uma "cultura da alegria", uma "denúncia radical do poder".[4] Uma filosofia da vida e da pura afirmação - da imanência, portanto, como saída das fronteiras do sujeito.

Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do cinema para expor sua forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.

Deleuze foi um dos filósofos que teorizaram as instâncias do atual e do virtual (já elaboradas por outros pensadores), construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades: "Um pouco de possível, senão sufoco" (Foucault).

Obras

Deleuze publicou estudos sobre pensadores como Nietzsche, Kant e Spinoza. Entre suas obras principais estão Nietzsche et la philosophie (1962); Proust et les signes (1964); Logique du sens (1969) Spinoza (1970); Foucault (1986); e Critique et clinique (1993).[1]

Ano da edição original em francês:

  • Hume, sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie (avec André Cresson) (1953)
  • Instincts et Institutions (1955)
  • Nietzsche e a Filosofia (1962)
  • A Filosofia Crítica de Kant (1963)
  • Proust e os Signos (1964)
  • Nietzsche (1965)
  • O Bergsonismo (1966)
  • Apresentação de Sacher-Masoch (1967)
  • Spinoza e o problema da Expressão (1968)
  • Diferença e Repetição (1968)
  • Lógica do Sentido (1969)
  • Spinoza: Filosofia Prática (1970) (reedição aumentada, (1981))
  • Francis Bacon: Lógica da Sensação (1981)
  • Cinema-1: A Imagem-movimento (1983)
  • Cinema-2: A Imagem-tempo (1985)
  • A Dobra - Leibniz e o Barroco (1988)
  • Pericles e Verdi (1988)
  • Conversações (1990)
  • L'Epuisé (Posfácio a Samuel Becket) (1992)
  • Crítica e Clínica (1993)

Com Félix Guattari:

Com Claire Parnet:

  • Deleuze, G. e Parnet, C. (1977/2002), Dialogues, 276 pp. Londres: Athlone Press.

Ver também

Referências

  1. a b c Enciclopédia Britânica do Brasil Publicações Ltda, pgs. 380-381. "Livro do Ano 1996 - Eventos de 1995". São Paulo (1996).
  2. Webdeleuze
  3. Diálogos, p. 167
  4. É nesses termos que Deleuze, em junho de 1991, numa conversa com Dominique Lacout, evoca seu amor por Léo Ferré. In Lacout, Dominique; Léo Ferré, Éditions Sévigny, 1991, p. 321-322)

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