Star Trek: The Motion Picture

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Star Trek: The Motion Picture
O Caminho das Estrelas: O Filme (PRT)
Jornada nas Estrelas: O Filme (BRA)
Star Trek: The Motion Picture
Pôster de divulgação
 Estados Unidos
1979 •  cor •  132 min 
Género ficção científica
Direção Robert Wise
Produção Gene Roddenberry
Roteiro Harold Livingston
Baseado em Alan Dean Foster
Elenco William Shatner
Leonard Nimoy
DeForest Kelley
James Doohan
George Takei
Walter Koenig
Nichelle Nichols
Majel Barrett
Persis Khambatta
Stephen Collins
Música Jerry Goldsmith
Diretor de fotografia Richard H. Kline
Direção de arte Harold Michelson
Figurino Robert Fletcher
Edição Todd C. Ramsey
Companhia(s) produtora(s) Paramount Pictures
Distribuição Paramount Pictures
Lançamento 7 de dezembro de 1979
Idioma inglês
Orçamento US$ 46.000.000[1]
Receita US$ 139.000.000[2]
Cronologia
Star Trek II:
The Wrath of Khan

Star Trek: The Motion Picture (no Brasil, Jornada nas Estrelas: O Filme; em Portugal, O Caminho das Estrelas: O Filme) é um filme americano de ficção científica de 1979, dirigido por Robert Wise e o primeiro longa-metragem baseado na série de televisão Star Trek. Quando uma misteriosa e incrivelmente poderosa nuvem chamada de V'Ger se aproxima da Terra, destruindo tudo em seu caminho, o Almirante James T. Kirk assume o comando de sua antiga nave estelar, a USS Enterprise, para liderar uma missão para salvar o planeta e determinar as origens de V'Ger.

Quando a série original foi cancelada em 1969, seu criador, Gene Roddenberry, tentou convencer a Paramount Pictures a continuar a franquia através de um filme. O sucesso da série nas reprises convenceu o estúdio a começar os trabalhos para um filme em 1975. Um time de roteiristas foi chamado para criar um épico roteiro, porém suas tentativas frustraram a Paramount, que cancelou o projeto em 1977. Em vez de um filme, a Paramount planejou o retorno da franquia a suas origens com a série de televisão Star Trek: Phase II. Com o sucesso de Close Encounters of the Third Kind, os executivos da Paramount se convenceram que um filme de ficção científica, diferente de Star Wars, poderia se sair bem na bilheteria. Assim, o estúdio cancelou Star Trek: Phase II e recomeçou os trabalhos no filme de Star Trek. Em 1978 a Paramount reuniu a maior coletiva de imprensa da história do estúdio desde a década de 1950 para anunciar que o Diretor Robert Wise, duas vezes vencedor do Oscar, iria dirigir um filme baseado na série.

Com o cancelamento da nova série, os roteiristas correram para adaptar o planejado episódio piloto de Phase II, "In Thy Image", em um filme. A Enterprise foi modificada dentro e fora, o figurinista Robert Fletcher criou novos uniformes e o diretor de arte Harold Michelson construiu novos cenários. Jerry Goldsmith compôs a trilha sonora do filme, iniciando sua associação com Star Trek que iria durar até 2002. Quando a companhia originalmente contratada para produzir os efeitos especiais do filme falhou em cumprir seus trabalhos a tempo, o supervisor de efeitos especiais Douglas Trumbull recebeu carta branca para criar os efeitos até o lançamento em dezembro de 1979. O filme foi editado a apenas alguns dias de sua estreia.

Lançado em 7 de dezembro de 1979, Star Trek: The Motion Picture recebeu muitas críticas quanto ao seu ritmo lento, falta de cenas de ação e por se basear muito em cenas de efeitos visuais. Com um custo de aproximadamente US$ 46 milhões, o filme arrecadou US$ 139 milhões, um pouco abaixo das expectativas do estúdio, porém arrecadando o suficiente para a Paramount encomendar uma sequência com orçamento mais baixo. Roddenberry foi obrigado a sair do controle criativo de Star Trek II: The Wrath of Khan. Em 2001, Wise criou uma edição especial para DVD do filme; uma equipe remasterizou o áudio, completou e adicionou cenas e usou novos efeitos especiais gerados por computador para, segundo ele, completar sua visão original.[3]

Enredo

Predefinição:Revelações sobre o enredo Uma estação de monitoramento da Frota Estelar detecta uma força alienígena escondida dentro de uma enorme nuvem de energia que se move pelo espaço indo em direção a Terra. A nuvem destrói três cruzadores Klingon e a estação de monitoramento em seu caminho. Na Terra, a nave estelar USS Enterprise passa por uma grande reforma. Seu antigo capitão, o agora Almirante James T. Kirk, trabalha em São Francisco como Chefe de Operações da Frota Estelar. A Frota envia a Enterprise para investigar a nuvem, já que esta é a única nave em distância de interceptação, fazendo com que seus sistemas sejam testados durante a viagem.

Kirk consegue reconquistar o comando da nave devido a sua experiência no espaço, enfurecendo o Capitão Willard Decker, que supervisionou toda a reforma da nave como Oficial Comandante. Os testes dos novos equipamentos da Enterprise vão muito mal, dois oficiais, incluindo o Oficial de Ciências, são mortos em um problema do transporte e a nave é quase destruída em um problema dos motores de dobra. A tensão entre Kirk e Decker aumenta quando o primeiro mostra nenhuma familiaridade com as novas instalações da nave. Spock chega como Oficial de Ciências substituto, explicando que quando ele estava em Vulcano, passando por um ritual para expulsar todas as emoções, ele sentiu uma presença que ele acredita vir da nuvem.

A Enterprise intercepta a nuvem de energia e é atacada. Spock consegue identificar uma mensagem vinda da nuvem e envia uma resposta, permitindo que a Enterprise entre na nuvem. Uma sonda aparece na ponte da nave, ataca Spock e sequestra a navegadora Ilia. Ela é substituída por uma androide, na verdade uma sonda enviada por "V'Ger" para investigar a tripulação. Decker fica perturbado por perder Ilia, com quem teve uma relação romântica. Ele fica aflito enquanto tenta extrair informações da sonda, que possui os sentimentos e as memórias de Ilia enterradas em algum lugar. Spock faz uma caminhada espacial por dentro da nave alienígena e tenta fazer um elo mental com ela. Ele descobre que V'Ger é, na verdade, uma máquina viva.

No coração da gigante nave, V'Ger é revelado como sendo Voyager 6, uma sonda do século XX da Terra, que se acreditava estar perdida. A sonda danificada foi encontrada por uma espécie alienígena de máquinas vivas, que interpretaram sua programação original como instruções para aprender tudo que há para ser aprendido e retornar essas informações devolta para o Criador. As máquinas constroem a enorme nave para que Voyager cumpra seu objetivo. Em sua jornada, ela adquire tanto conhecimento que acaba por desenvolver uma consciência própria. Spock percebe que V'Ger não possui a habilidade de definir um objetivo por si próprio além de sua programação original, ela acha sua existência vazia e sem propósito. Antes de transmitir suas informações, V'Ger insiste que o Criador venha em pessoa para finalizar a sequência. Percebendo que a máquina quer se juntar ao seu Criador, Decker se oferece para V'Ger. Ele se junta a sonda Ilia e V'Ger, criando uma nova forma de vida que desaparece em outra dimensão. Com a Terra salva, Kirk direciona a Enterprise para uma nova missão.[4] Predefinição:Spoiler-fim

Elenco

O elenco principal de The Motion Picture. Da esquerda para a direita: diretor Robert Wise, Stephen Collins, Persis Khambatta, Majel Barrett, Leonard Nimoy, James Doohan, William Shatner, DeForest Kelley, George Takei, Grace Lee Whitney, Nichelle Nichols, Walter Koenig e o produtor Gene Roddenberry.
  • William Shatner como James T. Kirk, o antigo capitão da Enterprise e agora Almirante na sede da Frota Estelar. Quando perguntado em uma coletiva em março de 1978 sobre como seria reprisar o papel, Shatner disse, "Um ator leva a um papel não apenas o conceito de um personagem mas sua própria personalidade básica, coisas que ele é, e tanto [Leonard Nimoy] e eu mudamos com o passar dos anos, a um certo grau pelo menos, e iremos levar esse grau de mudança inadvertidamente para o papel que recriamos".[5]
  • Leonard Nimoy como Spock, o Oficial de Ciências meio humano e meio vulcano da Enterprise. Nimoy não estava satisfeito com os royalties não pagos de Star Trek e não tinha a intenção de retornar ao personagem, dessa forma, Spock iria ficar de fora do roteiro. O diretor Robert Wise foi informado por seu genro que o "filme não seria Star Trek" sem Nimoy, assim ele mandou para Nova York Jeffrey Katzenberg para se encontrar com Nimoy. Katzenberg deu a Nimoy um cheque por seus royalties não pagos e assim o ator foi a coletiva de imprensa em março de 1978 junto com o resto do elenco. Nimoy não ficou satisfeito com o roteiro e seu encontro com Katzenberg levou a um acordo que o roteiro deveria passar por sua aprovação.[6] Apesar dos problemas financeiros, Nimoy disse que estava confortável em ser associado com Spock, já que o personagem havia causado um impacto positivo em sua fama.[5]
  • DeForest Kelley como Leonard McCoy, o Oficial Médico Chefe da Enterprise. Kelley tinha dúvidas quanto ao roteiro, achando que as relações dos personagens da série não estavam sendo exploradas. Junto com Shatner e Nimoy, Kelley pediu uma maior caracterização, porém suas opiniões foram ignoradas.[7]
  • James Doohan como Montgomery Scott, o Engenheiro Chefe da Enterprise. Doohan criou o vocabulário falado pelos klingons no filme.[8] O linguista Marc Okrand mais tarde desenvolveu uma língua completa para os klingons a partir das palavras criadas por Doohan.[9]
  • Walter Koenig como Pavel Chekov, o Oficial de Armas da Enterprise. Koenig notou que o esperado senso da camaradagem e euforia do elenco ser reunido para os testes no início não existia. "Isso pode ser Star Trek, mas não é o velho Star Trek"; escreveu. O ator tinha esperanças para com o filme, porém ficou desapontado com a pequena participação de seu personagem.[10]
  • George Takei como Hikaru Sulu, o piloto da Enterprise. Em sua autobiografia, Takei descreveu as filmagens como "incrivelmente luxuosas", porém notou que as frequentes mudanças no roteiro "geralmente favoreciam Bill" [Shatner].[11]
  • Nichelle Nichols como Uhura, a Oficial de Comunicações da Enterprise. Nichols escreveu em sua autobiografia que ela foi uma das pessoas que reclamaram dos novos uniformes, devido ao visual unisex "não ser o de Uhura".[12]
  • Persis Khambatta como Ilia, a navegadora delta da Enterprise. Khambatta foi originalmente escalada quando The Motion Picture era o episódio piloto de Phase II.[5] Ela aceitou o papel mesmo após Roddenberry avisá-la que ela deveria raspar seu cabelo totalmente para as filmagens.[13]
  • Stephen Collins como Willard Decker, o novo capitão da Enterprise, que é temporariamente rebaixado a Comandante enquanto Kirk assume o comando da nave. Collins não conhecia nada da franquia, nunca tendo assistido um episódio da série. O camarim de DeForest Kelley era ao lado do de Collins, sendo o primeiro o mentor do segundo durante a produção.[14]
  • Majel Barrett como Christine Chapel, uma doutora abordo da Enterprise.
  • Grace Lee Whitney como Janice Rand, Chefe de Transporte da Enterprise. Essa foi a primeira aparição de Whitney em Star Trek desde a primeira temporada da série original.
  • Mark Lenard como Comandante Klingon. Lenard também interpretou o pai de Spock, Sarek, na série original e nos filmes seguintes.[15]
  • David Gautreaux como Branch, comandante da estação de monitoramento Epsilon 9. Gautreaux originalmente havia sido contratado para interpretar o vulcano Xon, substituto de Spock, na abortada Phase II, porém com a volta de Nimoy ao papel, ele recebeu apenas uma rápida aparição no filme.[5]

Produção

Propostas iniciais

A série original de Star Trek durou três temporadas, de 1966 até 1969, na NBC. O programa nunca foi o sucesso que os executivos esperavam, e a baixa audiência reforçava suas preocupações. Quando foi cancelado, a Paramount Studios tinha a esperança de recuperar seus prejuízos vendendo os direitos do programa para a sindicação. A série começou suas reprises em 1972, e ao final da década de 1970 ela já havia sido vendida para mais de 150 mercados domésticos e 60 internacionais. O programa desenvolveu um "status cult" entre os fãs, e não muito depois os rumores que a franquia seria reiniciada começaram.[16]

Roddenberry já havia feito uma proposta para um filme de Star Trek na World Science Fiction Convention de 1968. O filme iria se passar antes da série de televisão, mostrando como a tripulação se conhecera.[17] A popularidade de Star Trek na sindicação fez a Paramount Pictures e Roddenberry começarem a desenvolver um filme por volta de maio de 1975. Roddenberry recebeu de US$ 3 a US$ 5 milhões para desenvolver um roteiro. Em 30 de junho ele havia produzido um roteiro que acreditava ser adequado, porém os executivos da Paramount não concordaram.[18] O primeiro rascunho, The God Thing,[19] trazia um Amirante Kirk reunindo a antiga tripulação em uma reformada Enterprise para combater uma criatura com poderes de Deus, indo em direção a Terra. O objeto se revela como um super computador, vindo de uma raça de seres tirados de sua própria dimensão. Kirk é bem sucedido na missão, a entidade retorna para sua dimensão, e a tripulação da Enterprise retorna as suas viagens. A premissa básica e algumas cenas como o problema no transporte e o ritual vulcano de Spock foram descartados do roteiro, porém voltaram na versão final.[6][20] O filme foi adiado até a primavera de 1975 enquanto a Paramount pedia roteiros para Star Trek II a escritores de ficção científica, como Ray Bradbury, Theodore Sturgeon e Harlan Ellison, porém nenhum dos roteiros foram aceitos. Em outubro de 1975, Robert Silverberg foi contratado para trabalhar no roteiro junto com John D. F. Black, cujo tratamento tinha um buraco negro que ameaçava destruir tudo que existe.[18] Roddenberry se juntou a Jon Povill para criar uma nova história que tinha a tripulação da Enterprise ajustando um universo alterado via viagem no tempo, porém os executivos da Paramount novamente recusaram, alegando que não era épico o bastante.[6][21]

O elenco original de Star Trek, que havia concordado em aparecer em um filme com contratos ainda para serem assinados, ficou ansioso com os constantes atrasos, e pragmaticamente aceitaram outros trabalhos enquanto Roddenberry trabalhava com a Paramount.[18] O estúdio decidiu entregar o projeto para a divisão de televisão, já que a série tinha lá suas raízes, os roteiristas seriam capazes de desenvolver a história certa. Vários roteiristas ofereceram ideias que foram sumariamente rejeitadas. Enquanto o interesse dos executivos da Paramount começou a ir embora, Roddenberry, junto com fãs, aplicaram pressão no estúdio.[21] Em junho de 1976, a Paramount escolheu o jovem produtor Jerry Isenberg para ser o produtor executivo do projeto. Povill foi incumbido da tarefa de achar roteiristas para o projeto. Sua lista incluia nomes como Francis Ford Coppola e George Lucas. De uma lista de 34 nomes, nenhum foi escolhido para fazer o roteiro.[22]

Roddenberry e o elenco de Star Trek no lançamento do ônibus espacial Enterprise, no dia 17 de setembro de 1976.

Em outubro de 1976, os roteiristas britânicos Chris Bryant e Allan Scott criaram um tratamento de 20 páginas chamado de Planet of the Titans, o qual os executivos Barry Diller e Michael Eisner gostaram. Bryant acreditava que ele havia conseguido a tarefa porque sua visão de Kirk era semelhante a aquela que Roddenberry havia moldado o personagem. No tratamento, Kirk e a tripulação encontram seres que eles acreditam ser os míticos Titãs, que voltaram no tempo e acidentalmente ensinaram os homens como fazer fogo. Planet of the Titans também explorava o conceito do terceiro olho.[6] Povill criou uma lista de possíveis diretores, incluindo Coppola, Lucas, Steven Spielberg e Robert Wise, porém todos estavam ou ocupados ou não dispostos a trabalhar em um roteiro com pequeno orçamento.[23] Philip Kaufman, tendo créditos de ficção científica impressionantes, foi contratado para dirigir o filme. Roddenberry apresentou dez episódios da série para Kaufman, incluindo os mais representativos e populares. O trabalho inicial era promissor e estava tomando forma. Fãs organizaram uma campanha para inundar a Casa Branca com cartas pedindo para o Presidente Gerald Ford rebatizar o Ônibus Espacial Constitution para Enterprise.[24] A proposta de Bryant e Scott foi aprovada pelo estúdio em outubro de 1976; Roddenberry imediatamente parou de trabalhar em outros projetos para se concentrar novamente em Star Trek, com Isenberg e os roteiristas recebendo inúmeras cartas de fãs agradecidos. A alegria de se ter um roteiro durou pouco, o primeiro rascunho do roteriro completo só foi terminado em 1 de março de 1977, e as pressões para a Paramount começar o projeto, cortar custos ou cancelar tudo, cresceram. Isenberg começou a procurar locações e contratar desenhistas e ilustradores para complementar o roteiro.[25] Insatisfeitos com muitas mãos reescrevendo o roteiro, Bryant e Scott deixaram o projeto em abril de 1977.[26] Kaufman mudou a história para ter Spock comandando sua própria nave, lutando contra um nêmesis klingon, porém Katzenberg informou o diretor em maio que o projeto havia sido cancelado.[6][27]

Phase II e recomeço

Barry Diller ficou preocupado com os rumos que Star Trek estava tomando com Planet of the Titans, e sugeriu a Roddenberry que era hora da série voltar as suas origens, a televisão. Diller planejou que uma nova série de Star Trek iria ser o carro chefe de um novo canal de televisão criado pela Paramount. Embora o estúdio estivesse relutante em abandonar os trabalhos no filme, Roddenberry queria chamar muitos membros da equipe de produção da série original para trabalhar na nova, intitulada Star Trek: Phase II.[28]

O produtor Harold Livingston recebeu a tarefa de achar escritores para novos episódios, enquanto Roddenberry preparava um guia para os novos roteiristas. Para substituir Spock, Roddenberry criou um vulcano prodígio chamado Xon. Já que Xon era muito jovem para ser Primeiro Oficial, Roddenberry desenvolveu o Comandante Willard Decker, e mais tarde adicionou Ilia.[29] O piloto da nova série, "In Thy Image", sobre uma sonda da NASA que retorna a Terra com consciência própria, era baseado em um esboço de duas páginas escrito por Roddenberry. Alan Dean Foster escreveu um tratamento para o piloto, que Livingston adaptou para um roteiro. Quando o roteiro foi apresentado a Michael Eisner, ele disse que a história era digna para ser transformada em um filme. Ao mesmo tempo, o sucesso de Close Encounters of the Third Kind mostrou a Paramount que o sucesso de Star Wars, no gênero da ficção científica, poderia se repetir.[17] Em 11 de novembro, apenas duas semanas e meia antes da produção de Phase II começar, o estúdio anunciou que a série fora cancelada em favor de um filme. A produção foi adiada para abril de 1978, para que cenários, roteiros e figurinos fossem melhorados.[30]

No dia 28 de março de 1978, a Paramount reuniu a maior coletiva de imprensa do estúdio desde que Cecil B. DeMille anunciou que iria fazer The Ten Commandments. Eisner anunciou que o diretor vencedor do Oscar Robert Wise iria dirigir um filme adaptação da série chamado Star Trek: The Motion Picture.[31] O orçamento era de US$ 15 milhões. Dennis Clark foi convidado a reescrever o roteiro e incluir Spock, porém ele não gostava de Roddenberry, que exigia ser o único creditado pelo roteiro. Livingston retornou como roteirista, e também achou Roddenberry sem razão. Wise e Katzenberg o convenceram a continuar o trabalho durante a produção.[6]

Os roteiristas começaram a adaptar "In Thy Image" em um roteiro de filme, porém ele não ficou pronto até quatro meses após o início da produção.[32] Wise achou que a história era boa, porém a ação e os visuais poderiam ser mais emocionantes. Como a data do começo das filmagens se aproximava, era óbvio que um novo prazo deveria ser estabelecido. Tempo era essencial, a Paramount estava preocupada que seu filme de ficção científica iria aparecer no fim do ciclo, agora que todos os grandes estúdios estavam com um filme desse gênero em produção.[33] Livingston descreveu o trabalho dos roteiristas como "impossível":

O roteiro sofreu várias mudanças vindas dos produtores, Shatner e Nimoy. As discussões levaram a inúmeras revisões, até o dia que as páginas seriam filmadas. Em certo momento, as cenas estavam sendo re-escritas tão rapidamente que era necessário anotar a hora da revisão nas páginas. Apesar das mudanças serem constantes, a grande alteração fora feita no final do filme. Muito das revisões tinham a ver com as relações entre Kirk e Spock, Decker e Ilia, e a Enterprise e V'Ger.[34] A versão final do terceiro ato foi aprovada em setembro de 1978.

Cenários

Custos de construção dos cenários[35]
Nome Estúdio Custo
Ponte 9 $205.000
Corredores, Transporte, Enfermaria,
Aposentos de Kirk
9 $258.000
Complexo Orbital 9 $100.000
Deque de Carga 18 $52.000
Área da Entrada de Spock 17 $6.000
Deque de Recreação 8 $252.000
Trava Espacial 6 $25.000
Aposentos de Ilia 9 $3.000
Planeta Vulcano Tanque-B $42.000
Salão dos Oficiais 6 $19.000
Fosso† 17 $130.000
Wingwalk 8 $23.000
V'Ger 15 $105.000‡
Estação de San Francisco 12, 15 $240.000
Parede da Memória† 6 $250.000
Ponte Klingon 12, 14 $175.000
Epsilon-9 12, 14 $40.000
Custo total: $1.925.000
Notas: Todos os valores arredondados e em dólares (US$)

imagens descartadas

valor não inclui US$ 85.000 adicionais para iluminação especial

Os primeiros cenários (para Phase II) começaram a ser construídos em 25 de julho de 1977. A fabricação foi supervisionada por Joseph Jennings, um diretor de arte envolvido na série clássica, o especialista em efeitos especiais Jim Rugg e o antigo diretor de arte de Star Trek Matt Jefferies, emprestado de Little House on the Prairie.[36] Quando a série de televisão foi cancelada e os planos para o filme apareceram, novos cenários foram necessários para o formato de 70 mm.[37]

Wise pediu a Harold Michelson para ser o diretor de arte do filme, começando por completar os cenários de Phase II. O diretor de arte começou com a ponte, que estava quase pronta. Michelson primeiro removeu a nova estação de armas de Chekov, uma bolha de plástico semicircular grudada na parede da ponte. A ideia de Phase II era de que Chekov iria olhar para o espaço e a mira da bolha iria procurar por alvos. Wise queria que a estação de Chekov fosse virada para a tela principal da Enterprise, um pedido difícil já que o cenário era primariamente circular. O ilustrador de produção Michael Minor criou um novo visual para a estação usando uma parte do canto do cenário.[37]

O teto da ponte foi redesenhado, com Michelson se inspirando estruturalmente em uma aeronave.[37] Minor construiu uma bolha central para o teto, algo que dava um toque mais humano. Ostensivamente, a bolha funcionava como uma peça de um equipamento sofisticado criado para informar ao capitão a condição da nave. A maioria dos consoles da ponte, criados por Lee Cole, eram os mesmos da série cancelada. Cole continuou na produção do filme como responsável pelos muitos trabalhos visuais a serem criados. Para informar os atores e os roteiristas da série, Lee preparou um "Manual de Voo da Enterprise". Era necessário que todos os membros do elenco estivessem familiarizados com as sequências de controle de suas estações, já que cada painel era ativado pelo toque.[38] A voltagem das lâmpadas em baixo dos consoles de plástico foram reduzidas de 26 Watts para 6 Watts, devido ao calor que estava derretendo os controles.[39] Para a estação de ciências, dois consoles eram manipulados hidraulicamente para afastá-los até as paredes quando não estavam em uso, porém o sistema foi desconectado quando a equipe descobriu que era mais fácil empurrá-los.[39]

Além das interfaces de controle, a ponte era povoada por monitores mostrando animações em repetição. Cada monitor oval tinha um projetor com um filme de 8 mm ou 16 mm em repetição para cada efeito.[38] Mais de 200 peças de filmagens de monitor foram feitas, catalogadas e usadas nas filmagens.[40]

O cenário da estrutura da Enterprise foi projetado para que o interior correspondesse à área visível do exterior da nave.[40] Michelson queria que a estrutura parecesse "vasta", um efeito difícil de alcançar em um estúdio pequeno. Para criar a ilusão de profundidade, a equipe do departamento de arte trabalhou em projetos que se utilizassem de perspectiva forçada;[41] o desenhista Lewis Splittgerber considerou a estrutura como o cenário mais difícil de realizar. No filme, a nave parece ter milhares de metros de comprimento, quando na verdade tinha apenas 12 m. Para se alcançar o visual desejado, o chão foi colocado em declive, com atores baixos usados como figurantes, de forma que pareciam estar longe da câmera. Para tomadas de cima do complexo da nave, pinturas foram feitas no chão para dar a impressão que o núcleo de dobra tinha vários andares. Pinturas similares foram usadas para estender o tamanho dos corredores e da sala de recreação.[42]

Redesenhar os corredores da Enterprise também foi responsabilidade de Michelson. Originalmente os corredores seriam feitos de compensado, remanescente da série original. Para sair da "aparência de hotel", Michelson criou corredores dobrados e angulares. Roddenberry e Wise concordaram com Michelson que, em 300 anos, a iluminação não precisaria vir do alto; assim, as luzes saiam do chão. Diferentes esquemas de iluminação foram feitos para simular deques diferentes, usando apenas um corredor. Painéis de alumínio nas paredes do lado de fora dos aposentos de Kirk e Ilia foram pintados de laranja, para representar a parte de alojamentos da nave.[42]

O transporte foi originalmente concebido como uma maneira de se economizar dinheiro ao não filmar a Enterprise pousando em um novo planeta em cada episódio. Para o filme, Michelson achou que a sala do transporte deveria parecer poderosa.[43] Ele adicionou uma sala de controle que iria proteger o chefe do transporte das poderosas forças em atuação. O espaço entre a plataforma e os operadores foi enchido com máquinas complexas. O diretor de fotografia Richard H. Kline adicionou uma iluminação misteriosa para criar a atmosfera.[44]

Após o trabalho de redesenhar a estrutura da Enterprise, Michelson se concentrou na criação dos cenários originais feitos especificamente para o filme. O deque de recreação ocupou o estúdio inteiro, foi o maior interior do filme. O cenário tinha 7,3 m de altura e 107 peças de mobília feitas exclusivamente para o filme; 300 pessoas podiam ser colocadas lá para filmagens. Embaixo de um grande telão havia uma série de painéis contendo ilustrações de naves anteriores com o nome de Enterprise. Uma das naves era o ônibus espacial Enterprise da NASA, adicionado a pedido de Roddenberry:

Outro grande trabalho de construção foi o cenário de V'Ger, chamado pelos membros da produção de "o Coliseu" ou "a frigideira de microondas". O cenário foi desenhado e fabricado em pouco mais de um mês e podia ser filmado de qualquer ângulo; partes do cenário foram criadas para poderem ser retiradas para um melhor posicionamento de câmera. Durante sua produção, Star Trek: The Motion Picture usou 11 dos 32 estúdios de gravação da Paramount, mais que qualquer outro filme da época.[45] Para economizar dinheiro, o coordenador de construção Gene Kelly armazenou partes do cenário com sua própria equipe imediatamente após as filmagens, para que a Paramount não cobrasse a produção pelos cenários desmontados. O custo final da produção dos cenários foi de quase US$ 2 milhões, sem contar os custos adicionais dos cenários para Phase II.[35]

Objetos e modelos

Ralph McQuarrie e Ken Adam trabalharam nos desenhos de naves para Planet of the Titans. McQuarrie teve de redesenhar os cenários e os modelos feitos para a série de televisão; a Enterprise, a doca espacial e o complexo orbital foram refeitos com mais detalhes para parecerem mais impressionantes nas grandes telas de cinema.[17][46] McQuarrie também redesenhou a Enterprise com um casco liso e, apesar de seus modelos nunca terem aparecido no filme, eles foram mais tarde usados no episódio "The Best of Both Worlds, Part II", de Star Trek: The Next Generation.[47]

Richard Taylor queria redesenhar completamente a nave, abandonando o desenho original de Matt Jefferies para a série de televisão, porém Roddenberry insistiu no mesmo formato. Como alternativa, Taylor se focou nos detalhes, dando a nave uma estilização que ele considerou "quase art déco". O artista de conceitos Andrew Probert ajudou com o redesenho.[48] Probert fez o casco secundário da Enterprise maior, suportes angulares para as naceles e um elaborado sistema de iluminação para o modelo.[17] Na série de televisão, não ficava claro de onde os torpedos fotônicos eram lançados, então Probert retificou isso desenhando lançadores na base do casco secundário. Probert também adicionou elementos como a separação do disco e trens de pouso que nunca entraram em The Motion Picture ou qualquer outro modelo do filme. Enquanto a superfície do casco foi deixada lisa, ela foi tratada com uma pintura especial para deixar a superfície iridescente. Mais janelas foram adicionadas do que nos desenhos anteriores, e imagens transparentes dos cenários foram colocadas atrás das janelas, para que quando a câmera se aproximasse do modelo, o público poderia ver algo dentro. Como uma brincadeira, essas imagens continham fotos de Probert, outros membros da produção e de Mickey Mouse.[48]

A maioria dos modelos de Star Trek: The Motion Picture foram criados pela Magicam, uma subsidiária da Paramount. O modelo principal da Enterprise tinha 2,43 m de comprimento, em uma escala de 1/120. Levou-se 14 meses e US$ 150.000 para construir. Ao invés de fibra de vidro, a nova Enterprise foi construída com plásticos leves, pesando 39 kg. A grande preocupação do desenho era ter certeza que o pescoço dorsal, que conectava os dois cascos, e os dois suportes das naceles fossem fortes o bastante para que o modelo não cedesse, entortasse ou quebrasse quando era movido. O modelo completo poderia ser suportado em cinco pontos diferentes, dependendo do ângulo de câmera necessário. Um segundo modelo de 50,8 cm foi usado para tomadas longas.[49] A Magicam também construiu a doca espacial onde a Enterprise aguarda sua partida. Medindo 1,22 m por 3,05 m por 1, 83 m; tinha 56 painéis de neon que necessitavam de 168.000 V para serem operados, com uma mesa separada para suportar os transformadores; o preço final da doca foi US$ 200.000.[50]

A criação de V'Ger causou problemas para toda a produção. A equipe não ficou satisfeita com o modelo original de 1,20 m feito de argila, que mais parecia uma versão modernizada do submarino Nautilus, comandado pelo Capitão Nemo.[51] O desenhista industrial Syd Mead foi contratado para visualizar a nova versão da enorme embarcação. Mead criou uma máquina que continha elementos orgânicos baseados em opiniões de Wise, Roddenberry e a equipe de efeitos. O modelo final tinha 21 m de comprimento, construído de tal forma que a equipe poderia filmar cenas em seções da nave, enquanto outras ainda estavam sendo fabricadas. O modelo foi construído usando uma grande variedade de materiais: madeira, espuma, macramê, isopor, neon e luzes estroboscópicas.[51]

Dick Rubin cuidou dos objetos de cena do filme. A filosofia de Rubin era de que quase todos os atores e figurantes deveriam ter algo nas mãos. Desse modo, Rubin fabricou aproximadamente 350 objetos de cena para o filme, com 55 sendo usados apenas na cena da estação de San Francisco.[52] Muitos dos objetos eram desenhos melhorados dos itens vistos na série de televisão, como fasers e comunicadores. O único objeto da série que permaneceu intocado foi o fone de ouvido de Uhura, que Nichols especificamente pediu no primeiro dia de filmagens (e que toda a equipe de produção, com exceção daqueles que haviam trabalhado na série, havia esquecido). O novo faser tinha sua própria bateria, seu próprio circuito e quatro luzes piscantes. O objeto vinha com um preço de US$ 4.000; para economizar dinheiro, as luzes foram retiradas, reduzindo-se o tamanho do faser em um terço. Um total de 15 foram feitos para o filme. Os comunicadores foram radicalmente alterados, já que a microminiaturização na década de 1970 convenceu Roddenberry que os dispositivos de mão vistos na série não convenciam mais. Um comunicador de pulso foi criado, tendo-se a certeza que ele seria bem diferente do relógio que Dick Tracy estava usando há anos. 200 comunicadores foram fabricados, porém poucos eram as versões de US$ 3.500, usados para os closes do dispositivo em ação.[53] A maioria dos objetos foram feitos de plástico, já que Rubin acreditava que tudo no futuro seria feito desse material.[54]

Figurinos e maquiagem

Roddenberry acreditava que roupas descartáveis seria o futuro da indústria, e essa ideia foi incorporada nos figurinos de Star Trek: The Motion Picture. William Ware Theiss, o figurinista da série de televisão original, estava muito ocupado para trabalhar no filme. No lugar dele, Robert Fletcher, um dos mais bem sucedidos figurinistas de teatro americano, foi selecionado para criar os novos uniformes e roupas. Fletcher preferiu usar materiais naturais em detrimento dos sintéticos, achando que esses tecidos duravam mais e eram melhores para se costurar.[55] Como os tempos haviam mudado, os uniformes da Frota Estelar, com seus fortes vermelhos, azuis, amarelos e verdes, tinham de ser revistos; as minissaias usadas pelas mulheres na série pareciam exitantes na década de 1960 porém agora seriam consideradas sexistas. Wise considerava os uniformes originais multicoloridos muito espalhafatosos, e Fletcher acreditava que as cores das versões antigas trabalhariam contra a credibilidade do filme na tela grande—a primeira tarefa do figurinista era criar novos, e menos conspícuos, uniformes.[56]

Na série original, as divisões de designação da nave eram denotadas pela cor do uniforme; para o filme, essas cores foram movidas para a pequena insígnia do uniforme. O símbolo delta da Frota Estelar, que anteriormente indicava as divisões de serviço—comando, ciência e operações—foi substituído pelo símbolo de comando para todas as divisões, sobreposto a um círculo que colorido que indicava a área de serviço. A cor azul dos antigos uniformes foi descartada, por medo que ela interferisse nas telas azuis usadas para os efeitos ópticos.[56] Três tipos de uniforme foram fabricados: uniformes de gala para ocasiões especiais, uniformes Classe A para serviço normal e uniformes Classe B como alternativos. Os uniformes Classe A foram duplamente costurados em gabardine e tinham listras douradas para designar a patente. Foi achado que as tradicionais quatro listras de ouro para a patente de capitão eram ostensivamente militaristas. Povill teve de mandar um memorando para Fletcher com a modificação do desenho da patente, já que o figurinista estava confundindo as patentes dos séculos XX e XXIII.[57] Fletcher desenhou os uniformes Classe B como camisetas evoluídas, com as patentes sendo indicadas nos ombros. Cada figurino tinha os sapatos ligados a calça para aumentar o visual futurista. Um fabricante de sepatos italiano recebeu a tarefa de criar os sapatos futuristas. Combinar os sapatos e as calças foi um trabalho difícil, demorado e caro, já que cada sapato era feito a partir de um molde do pé do ator e tinha de ser costurado a mão. Houve dificuldades na comunicação, já que o fabricante falava um inglês limitado. Macacões, servindo uma função mais utilitária, eram os únicos figurinos que possuiam bolsos, sendo feitos de elastano que necessitavam uma agulha especial para perfurar o grosso material. Uma variedade de jaquetas de serviço, roupas de lazer e roupas espaciais foram criadas; já que esses itens tinham de ser desenhados e completados antes dos atores serem escalados; muitos papéis foram designados dependendo de quão bem o ator servia na roupa.[58]

Para os civis de San Francisco, Fletcher decidiu ter uma liberdade maior com as roupas. Muitos dos materiais para essas roupas casuais foram encontrados nos depósitos da Paramount, que continham uma grande quantidade de tecidos esquecidos e não usados. Os brocados pretos, vermelhos e amarelos foram tecidos com ouro e prata verdadeiros; o figurino resultante foi usado para um embaixador de Betelgeuse e, com o preço de US$ 10 mil, foi o figurino mais caro usado por um figurante de Hollywood.[55][59] Fletcher também reciclou camurças de The Ten Commandments para os figurinos Zaranites.[59] Com a aprovação de Roddenberry, Fletcher criou histórias completas para as espécies alienígenas vistas na Terra e na Sala de Recreação, descrevendo suas aparências e a composição de seus figurinos.[60]

Fred Phillips, criador das orelhas vulcanas originais de Spock, foi o maquiador de The Motion Picture. Ele e sua equipe foram responsáveis por 50 máscaras e maquiagem para os alienígenas vistos no filme. As maquiagens eram desenvolvidas pelo próprio Phillips ou a partir de um dos desenhos de Fletcher. Em sua longa associação com Star Trek, Phillips produziu sua orelha de Spock número 2.000 durante a produção de The Motion Picture. Cada orelha era feita de latex e outros ingredientes misturados em uma batedeira comum, então assados por seis horas. Apesar de Phillips ter guardado os moldes originais da série de televisão para fazer as aplicações, as orelhas de Nimoy tinham crescido na última década e novos moldes eram necessários. Enquanto na televisão as orelhas poderiam ser reusadas até quatro vezes, Phillips teve de criar três pares para Nimoy usar por dia.[59][61] As sobrancelhas vulcanas tinham de ser aplicadas um fio de cada vez para ter grande detalhe, e levava duas horas para Nimoy se preparar para as gravações — o dobro do tempo necessário na série de televisão.[62]

Além de desenvolver as maquiagens vulcanas e alienígenas, Phillips e seu assistente Charles Schram aplicaram maquiagem de rotina nos atores principais. A cabeça de Khambatta tinha de ser raspada todos os dias, para então receber uma aplicação de maquiagem para reduzir o brilho das luzes do cenário. Khambatta não tinha receios sobre ter seu cabelo raspado, porém começou a ficar preocupada se ele iria crescer de forma correta. Roddenberry propôs fazer um seguro para o cabelo dela depois que Khambatta expressou suas preocupações, acreditando que o preço do seguro seria insignificante e que isso iria acalmar a atriz. A ideia foi descartada quando percebeu-se que o seguro seria muito caro; a companhia de seguros achou que seria difícil provar que o cabelo dela tinha crescido exatamente igual ao que era antes. Em vez disso, Khambatta visitou o Georgette Klinger Skin Care Salon, em Beverly Hills, onde especialistas recomendaram que ela recebesse um tratamento especial durante a produção. O estúdio concordou que essas medidas eram necessárias, pagando as despesas enquanto ela seguia as tediosas instruções. No final, seu cabelo cresceu sem nenhum problema.[63]

Consultoria técnica

Na década que separou o fim da série de televisão Star Trek e o filme, muitos dos equipamentos futuristas que apareceram no programa - como portas automáticas, injeções hipodérmicas, computadores que falam, armas de tonteio, comunicadores pessoais - se tornaram realidade. Roddenberry insistiu que a tecnologia a bordo da Enterprise fosse baseada na ciência e em teorias científicas. The Motion Picture recebeu consultoria da NASA, da Jet Propulsion Laboratory na Califórnia, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e de indivíduos como o renomado escritor de ficção científica Isaac Asimov.[64]

A grande parte da consultoria técnica para a produção veio da NASA, que mandou o fã de Star Trek Jesco von Puttkamer para ser consultor do filme. Roddenberry conhecia Puttkamer desde 1975, quando os dois foram apresentados por um amigo em comum.[65] Desde 1976 até o fim do filme, Puttkamer deu aos roteiristas, produtores e ao diretor memorandos sobre todos os detalhes técnicos do roteiro;[66] o cientista revisou todas as falas do roteiro e não foi pago por sua assistencia. "Filmes de ficção científica, incluindo aqueles de um passado recente, lamentavelmente não tiveram uma boa consultoria científica", disse ele. "Star Wars não é realmente ficção científica. Eu adoro, porém é um conto de fadas de príncipes e cavaleiros em outra galáxia. A tecnologia era improvável, a ciência impossível".[67]

Durante as revisões das cenas finais, os executivos do estúdio confrontaram Roddenberry sobre o final do roteiro, achando que o conceito de máquinas com vida própria era muito forçado. Os executivos consultaram Asimov; se o escritor achasse que o final era plausível, ele poderia ficar. Asimov adorou o final, porém fez uma pequena sugestão: ele achou que o termo "buraco de minhoca" estava incorreto, e que a anomalia que a Enterprise encontra seria melhor chamada de um "túnel temporal".[68]

Filmagens

Robert Wise dirigindo Nimoy, Kelley e Shatner; junto com o produtor Gene Roddenberry.

As filmagens de Star Trek: The Motion Picture começaram em 7 de agosto de 1978. Algumas cerimônias ocorreram antes das câmeras serem ligadas; Roddenberry deu seu boné de baseball, presente do capitão do porta-aviões Enterprise, a Wise. O diretor e o produtor quebraram uma garrafa de champagne no cenário da ponte, não havia líquido na garrafa já que isso iria danificar o cenário. A primeira cena filmada foi a caótica bagunça na ponte da Enterprise enquanto a tripulação se aprontava para a viagem espacial; Wise dirigiu 15 tomadas até ficar satisfeito.[69]

Alex Wledon foi contratado como supervisor de efeitos especiais. Weldon estava planejando se aposentar após 42 anos, porém sua esposa o convenceu a assumir o filme, porque ela achava que ele não teria muita coisa para fazer.[70] Quando Weldon foi contratado, muitos efeitos já haviam sido iniciados ou completados por Jim Rugg; era a tarefa de Weldon completar as cenas mais complexas e caras. O primeiro passo envolvia analisar o roteiro em termos de número, duração, tamanho e tipo de efeitos visuais. Antes dos custos serem determinados e Weldon pudesse procurar os itens necessários, ele e outros membros da equipe de efeitos especiais trabalharam em todas as possibilidades para fazer os efeitos de maneira convincente.[39]

Richard H. Kline foi o diretor de fotografia. Trabalhando com os conceitos do desenhista Maurice Zuberano, Wise julgaria se eles estavam no caminho certo. Kline e Harold Michelson, diretor de arte, então, discutiriam o visual desejado, junto com Weldon se efeitos especiais fossem necessários. Cada cena recebeu um storyboard dado a Kline para executar. O cinematografista disse que sua função era "interpretar o pré-plano e torná-lo indelével no filme. Seria um modo de todos estarem no mesmo comprimento de onda". Kline falou que não houve uma única tomada "fácil" de ser produzida, já que cada uma requeria atenção especial. A ponte, por exemplo, foi iluminada com uma luz de baixa intensidade para fazer os monitores aparecerem melhor. Foi difícil enquadrar as tomadas para que os reflexos da equipe nos monitores não aparecesse no filme final.[71]

Enquanto Kline estava preocupado com a iluminação, qualidade da gravação e cor; Bonnie Prendergast, a supervisora de roteiro, fazia anotações acerca do continuísmo do figurino, posição do ator e dos objetos de cena. Quaisquer mudanças nos diálogos ou improvisações, também eram anotadas. O assistente do diretor Danny McCauley era responsável por colaborar com gerente de produção Phil Rawlings para finalizar as ordens de filmagem e auxiliar os figurantes. Rawlings, McCauley, diretora de produção Lindsley Parson, Jr. e Katzenberg foram todos encarregados de manter tudo fluindo o mais rápido possível, mantendo os custos baixos. Cada hora no cenário custava US$ 4.000.[72]

A produção foi feita em sua grande maioria em cenários fechados, com grandes medidas feitas para manter o segredo do enredo. Roteiros eram numerados e listas eram feitas para saber quem recebeu uma cópia. A imprensa não recebeu nenhuma informação sobre a história, com apenas algumas fotos promocionais sendo divulgadas. Durante a construção, um jovem visitante no estúdio roubou uma cópia das plantas da ponte, vendendo duplicatas para qualquer fã que pagasse US$ 75. A Paramount reportou o acontecido para o FBI, que entregou o caso para o Departamento de Polícia de Los Angeles. A polícia prendeu o jovem, o condenando a pagar US$ 750 de multa; foi mais tarde descoberto que as plantas roubadas não eram as cópias finais e definitivas. Crachás de visitantes foram criados para manter um controle sobre os visitantes; entre os visitantes incluiam-se amigos de membros do elenco e equipe, a imprensa, alguns fãs, e atores como Clint Eastwood, Tony Curtis, Robin Williams e Mel Brooks.[73] Seguranças eram mantidos ao redor do estúdio para impedir que pessoas não autorizadas entrassem.

Em 9 de agosto, a produção estava um dia atrasada. Apesar dos atrasos, Wise se recusava a filmar mais de 12 horas no cenário, achando que ele perderia o controle depois disso.[74] O diretor era muito paciente; apostas eram feitas tentando adivinhar quando ele perderia a cabeça, porém Wise recebeu todo o dinheiro quando ele se manteve calmo por toda a produção.[5] Embora as cenas na ponte foram feitas no início da produção, os problemas com a cena do transporte adiaram outros trabalhos. A equipe que estava trabalhando na plataforma do transporte descobriu que seus sapatos estavam derretendo na grade de luz durante os testes.[75] Problemas com a cena do buraco de minhoca provocaram mais atrasos. A cena foi filmada de dois modos diferente; primeiro no tradicional 24 quadros por segundo; em seguida em 48 quadros por segundo; as imagens normais serviriam de reserva se o efeito de câmera lenta produzido pelos quadros mais rápidos não funcionassem.[76] Porém a cena se arrastou por tanto tempo que até virou piada entre os atores. A sequência foi completada em 24 de agosto, enquanto as cenas do transporte foram filmadas ao mesmo tempo, no mesmo estúdio.[77]

Minerva Terrace, em Yellowstone, serviu como locação para o planeta Vulcano.

O planeta Vulcano foi feito a partir de uma mistura de filmagens feitas em locação em Minerva Hot Springs, no Parque Nacional de Yellowstone, cenários no estúdio e pinturas.[78] Yellowstone foi selecionado após as filmagens em ruínas na Turquia se tornaram muito caras. Conseguir permissão para as filmagens no meio da época de turismo foi difícil, porém o Departamento de Parques permitiu desde que a equipe permanecesse em plataformas de madeira para não danificar as formações geológicas. Zuberano, que havia ajudado a selecionar o local, viajou até Yellowstone e retornou com várias fotos. Minor também foi até lá, retornando para criar uma grande pintura de como a cena seria. Em conversas com Michelson, a equipe decidiu usar miniaturas no fundo para criar templos vulcanos. O centro do quadro continha as tomadas de Nimoy e o parque, enquanto o restante era preenchido por uma pintura. Em 8 de agosto, um dia após o início das filmagens, uma segunda unidade de 11 pessoas foi para Yellowstone. A sequência no planeta demorou três dias para ser filmada.[79]

Ao retornar aos estúdios da Paramount, o departamento de arte recriou partes de Yellowstone no enorme "Tanque B", medindo 34 m por 36 m. O tanque foi desenhado para ser inundado, com o objetivo de simular massas de água. Alguns ajustes ao fundo do tanque foram feitos para garantir que as sombras de Nimoy em Yellowstone fossem recriadas. Uma base de madeira foi construída em plataformas de metal para criar as silhuetas das grandes estátuas. A parte de baixo da estátua foi representada por um pé de 5 m de altura. Weldon igualou os efeitos filmados em Yellowstone com gelo seco e máquinas de fumaça. Devido ao fato que o Sol deveria estar em uma posição específica para as filmagens, já que o local era brilhante o bastante, a produção se atrasou mais quando o céu ficou nublado por três dias consecutivos. Como qualquer outra cena para recriar Vulcano seria impossível, o cenário foi desmontado imediatamente para servir como estacionamento para o restante do verão.[80]

A explosão do console do computador que causou o problema no trasporte foi feita usando-se esponjas de aço. Weldon escondeu as esponjas dentro do console e colocou um arco de solda que era operado por controle remoto. A solda foi criada para produzir apenas uma faísca ao invés de começar a, verdadeiramente, soldar, fazendo a esponja pegar fogo e produzir faíscas. Tão poderosa era a armação que os membros do elenco eram constantemente surpreendidos pelas chamas, resultando em tomadas adicionais.[81] Vários objetos parecem estar suspensos por antigravidade. Esses efeitos foram executados pelos assistentes de Weldon. A equipe construiu trilhos circulares que tinham a mesma forma dos corredores, suspendendo o objeto em quatro, pequenos, cabos de aço conectados ao trilho. Os cabos foram tratados com um ácido especial que oxidava o metal; a reação deixa os cabos com uma coloração cinza que não apareceria na iluminação azul do corredor.[78]

Ao final de agosto, a produção continuava a se atrasar. Koenig descobriu que em vez de ser liberado 14 dias após ter completado suas cenas; seu último dia seria 26 de outubro, oito semanas a mais.[82] As próximas cenas na ponte seriam filmadas após as cenas do buraco de minhoca; a Enterprise encontrando V'Ger e sendo atacada por ele; porém foram adiadas por duas semanas para que os efeitos visuais fossem implementados e as cenas na engenharia fossem filmadas.[83] As queimaduras de Chekov, obtidas no ataque de V'Ger, foram difíceis de filmar. Mesmo com o incidente durando apenas alguns minutos em tela, Weldon passou horas preparando o efeito. Uma folha de alumínio foi colocada ao redor do braço de Koenig, coberta por um protetor e escondida pela manga do uniforme. Weldon preparou uma solução de amônia e ácido acético para causar fumaça. Por causa das dificuldades, a cena foi filmada dez vezes; foi especialmente desconfortável para o ator, com ele queimando parte de seu braço quando a solução vazou.[84]

Khambatta também teve dificuldades durante as filmagens. A atriz, sendo uma indiana conservadora, se recusava a aparecer nua como o roteiro pedia que fosse a aparência da sonda Ilia. Os produtores convenceram a atriz a usar uma meia da cor do corpo, porém ela pegou um resfriado durante as filmagens. Ela foi obrigada a sair do cenário várias vezes para evitar hipercapnia.[84] Uma cena requeria que a sonda Ilia quebrasse uma porta de aço da enfermaria. As portas foram feitas de papel; papelão ondulado coberto com papel-alumínio e cortiça foram testados antes do efeito certo ser alcançado. O pequeno aparelho iluminado no pescoço da sonda era uma lâmpada de 12 volts que Khambatta poderia desligar através de fios invisíveis. O calor da lâmpada, eventualmente, causou uma pequena queimadura na atriz.[85]

A última semana de produção foi carregada de problemas. As luzes vermelhas pareciam laranjas nas imagens reveladas, as lâmpadas falhavam e três pessoas quase foram eletrocutadas. No dia 26 de janeiro de 1979, as filmagens terminaram após 125 dias. Os três protagonistas (Shatner, Nimoy e Kelley) deram suas últimas falas as 4:50 da tarde. Antes da equipe ser liberada para ir para casa, uma última cena, a fusão de Decker com V'Ger, deveria ser filmada. As primeiras tentativas foram um pesadelo para a equipe. A incrível iluminação fez com que partículas de poeira fossem iluminadas, criando a aparência de que os atores estavam dentro de uma neblina. Durante as regravações, que duraram toda a semana, a equipe varreu e limpou o cenário constantemente; e depois usaram especialistas para retirar a poeira nos negativos do filme.[86]

Pós-produção

Enquanto o elenco ia buscar outros projetos após as filmagens, a equipe de pós-produção recebeu a tarefa de terminar os efeitos visuais do filme a tempo para a estréia em dezembro.[87] O trabalho iria ser duas vezes mais demorado que as filmagens. O editor Todd Ramsey e seus assistentes passaram o tempo das filmagens sincronizando filme e áudio. Esses cortes iniciais foram suados para formular planos para os efeitos sonoros, música e efeitos visuais, que seriam adicionados mais tarde.

Enquanto Wise queria que suas escolhas fossem refletidas no filme, Roddenberry também deu suas opiniões. No dia 19 de abril ele mandou um memorando de 11 páginas para Ramsey onde propunha várias ideias de edição, incluindo dublar a cerimônia em Vulcano para a língua vulcana, achando que os fãs não iriam gostar que os klingons falassem em sua própria língua e os vulcanos não. Ramsey tentou cortar o máximo de cenas desnecessariamente longas, tentando não afetar a história e os personagens.[88] Já que as cenas em Vulcano foram gravadas em inglês, a língua vulcana deveria ser sincronizada com os lábios dos atores.[3]

Douglas Trumbull foi encarregado de terminar os efeitos especiais do filme a tempo.

Depois dos revolucionários efeitos de Star Wars, os produtores de The Motion Picture sabiam que necessitavam de efeitos do mesmo nível.[89] A primeira escolha para diretor de efeitos ópticos era Douglas Trumbull, que havia trabalhado em 2001: A Space Odyssey. Trumbull recusou o trabalho, já que ele ainda estava ocupado trabalhando nos efeitos de Close Encounters of the Third Kind. A próxima escolha era John Dykstra, quet ambém estava ocupado e recusou.[51] O supervisor de pós-produção Paul Rabwin sugeriu a Robert Apel and Associates, achando que eles estariam a altura do trabalho. O tamanho e a extensão dos efeitos cresceu após o piloto se transformou em The Motion Picture. Abel and Associates pediu US$ 4 milhões para o trabalho e a Paramount aceitou. Em maio de 1978 Abel pediu mais US$ 750.000, já que novos efeitos iriam ser adicionados. Roddenberry começou a sugerir que os custos de efeitos e prazos fossem re-examinados.[89]

Rumores sobre dificuldades relacionadas aos efeitos apareceram. Em um ano de produção, milhões de dólares foram gastos e quase nenhuma cena usável fora criada.[51] A Abel and Associates não tinha experiência o bastante em filmes e a curva de aprendizagem preocupou os produtores. Por obrigações contratuais, Trumbull seviu como consultor para a Abel and Associates, enquanto o artista de efeitos especiais Richard Yuricich serviu de ligação entre a Paramount e a Abel. Para acelerar o trabalho, a Abel passou o trabalho de miniaturas e pinturas para Yuricich. Embora tenham sido liberados de quase metade do trabalho, no começo de 1979 ficou claro que a Abel and Associates não tinha a competência para completar os efeitos do filme.[51] As diferenças criativas entre a Abel e a equipe de produção Paramount cresceram, e em fevereiro de 1979 a Paramount dispensou a Abel de seus trabalhos.[90]

Trumbull, enquanto isso, havia terminado Close Encounters. Agora disponível, ele assumiu a responsabilidade pelos efeitos ópticos de The Motion Picture.[90] O estúdio gastou US$ 5 milhões e um ano de trabalho com a mudança.[6] Em março, o estúdio ofereceu carta branca a Trumbull se ele conseguisse completar os efeitos até dezembro, a data de lançamento que a Paramount estava financeiramente presa (já tendo recebido adiantamentos de exibidores planejando uma entrega na época do Natal). Trumbull estava confiante que ele conseguiria terminar o trabalho sem perda de qualidade,[90] e junto com Yuricich, o time de efeitos correu para finalizar tudo.[6] O orçamento dos efeitos cresceu para US$ 10 milhões.[90]

Yuricich e Trumbull formularam um plano que envolvia chamar a equipe de Close Encounters, modificar equipamentos já existentes e adicionar mais pessoal, câmeras e espaço de estúdio. Tempo, e não dinheiro, era o problema; Trumbull tinha que entregar em nove meses o dobro de efeitos especiais encontrados em Star Wars e Close Encounters, que levaram anos para serem concluídos.[91] Dykstra e sua Apogee Company foram subcontratados por Trumbull. Além de detalhar e transportar os modelos para ele, a Apogee era responsável por vários outros efeitos isolados.[92]

Trumbull e Dykstra acharam os modelos problemáticos. A iluminação dos cruzadores Klingons era tão escura que não havia modo de fazê-los mais brilhantes para as filmagens. Trumbull também achou que as luzes da Enterprise não eram adequadas e mandou que toda a iluminação do modelo fosse refeita. Ele questionou dizendo que a Enterprise poderia estar viajando há anos-luz de distância de uma fonte de luz, e mesmo assim ainda estar bem iluminada. Ao invés de ter a nave toda escura com a exceção de alguns pontos, ele criou um sistema de auto-iluminação onde o modelo, sozinho, poderia se iluminar, sem a necessidade de luzes adicionais; ele imaginou a nave como um transatrântico, "uma grande dama dos mares à noite".[50] Um método semelhante foi usado nos cruzadores Klingon, porém em menor escala para que as naves parecessem mais sujas que as naves da Federação—o cruzador foi feito para "invocar um submarino inimigo na II Guerra Mundial que está no mar por um longo tempo".[46][50] Os modelos foram filmados em múltiplas passadas e juntadas na pós-produção. A sequência de abertura com os cruzadores Klingon foi desenvolvida deliberadamente para não ser comparada com a abertura de Star Wars. Uma única miniatura foi usada para os três cruzadores.[51]

Enquanto a equipe de Dykstra cuidava das naves, Trumbull criou a nuvem de V'Ger.[51] Trumbull queria que a nuvem tivesse forma definida e não fosse apenas um borrão, "deveria ter alguma forma para ter ângulos de câmera", disse ele. Um suporte especial de trilhos para a câmera foi construido, que poderia se mover e focar em uma peça de arte de 12 por 24 m, com luzes estroboscópicas para dar profundidade. Enquanto a equipe queria fazer uma composição de múltiplas passagens para criar um movimento físico nas tomadas da nuvem, Trumbull achava que isso iria diminuir a escala e o tamanho, então pequenas e sutis animações foram feitas e adicionadas no produto final.[51] Os torpedos foram criados usando um laser que atirava em um cristal montado em uma haste rotatória, após experimentos com bobinas de Tesla não funcionaram. O mesmo efeito recebeu várias cores para ser usado com os klingons, V'Ger e a Enterprise. A destruição dos cruzadores foi feita usando várias passadas de lasers no modelo, que foram juntadas em uma só tomada na edição.[51]

As cenas onde Kirk e Scotty se aproximam da Enterprise na doca tinha duas páginas no roteiro, porém teve 45 tomadas diferentes, com uma média de uma tomada por dia. Para tomadas próximas da nave auxiliar, close-ups de Shatner e Doohan foram usados na miniautra, enquanto as tomadas longas foram feitas com bonecos.[46]

Ficheiro:V'GerSpock.jpg
Desenho conceitual feito por Robert T. McCall ilustrando a viagem de Spock através do interior de V'Ger.

Dykstra e a Apogee criaram três modelos para a estação Epsilon 9. Um modelo de 1,8 m por 1,1 m foi usado para tomadas distantes, enquanto um painel isolado de 1,5 m por 1,8 m foi usado para tomadas de perto. A torre de controle da estação foi criada usando telas projetoras para se ter pessoas andando dentro. Um boneco de 60 cm, de um homem em roupa espacial, foi criado para a sequência da doca e para a caminhada espacial de Spock. A destruição da estação foi filmada usando uma técnica semelhante a aquela usada nos cruzadores Klingon, já que efeitos de destruição únicos para a estação foram descartados devido a restrições de tempo.[51] V'Ger foi filmado em uma sala escura e cheia de fumaça, em parte para esconder o comprimento da nave e porque seções da miniatura ainda estavam sendo construídas. As múltiplas passadas foram feitas a base de suposições, e cada câmera disponível foi usada na sequência e os efeitos tiveram de ser gerados sem a ajuda de uma tela azul.[51]

Embora tenha sido contratado após o final da fotografia principal, Trumbull teve enorme espaço criativo no filme. A caminhada espacial de Spock, por exemplo, foi radicalmente mudada da versão original da Abel. O plano original era ter Kirk seguindo Spock dentro de V'Ger e sendo atacado. Spock salvaria o amigo e ambos iriam proseguir pela nave. Wise, Kline e a Abel não chegaram a um acordo de como a sequência seria filmada. O resultado foi um conjunto de cenas terrivelmente mal executadas que custaria milhões para se consertar. Trumbull sugeriu descartar tudo e criar algo totalmente diferente, concebido por ele mesmo, que seria muito mais fácil e barato de se filmar.[51] Robert McCall, famoso por criar os pôsteres originais de 2001, forneceu desenhos conceituais que ajudaram Trumbull a visualizar a sequência.[92] O resultado foi a sequência em que Spock viaja pela base de dados de V'Ger.

Áudio

Música

Star Trek:
The Motion Picture
StarTrekTrilha.jpg
Capa do álbum de 1979
Trilha sonora de Jerry Goldsmith
Lançamento 1979
26 de janeiro de 1999 (edição especial)
Gênero(s) Trilha Sonora
Duração 37:38
64:43 (edição especial)
Gravadora(s) Columbia Records
Sony Legacy (edição especial)

A trilha sonora de Star Trek: The Motion Picture foi composta por Jerry Goldsmith, que mais tarde compôs as trilhas dos filmes: Star Trek V: The Final Frontier, Star Trek: First Contact, Star Trek: Insurrection e Star Trek Nemesis; além dos temas de Star Trek: The Next Generation e Star Trek: Voyager.[93][94] Gene Roddenberry originalmente queria que Goldsmith fizesse a trilha do episódio piloto de Star Trek, "The Cage", porém o compositor não estava disponível.[95] Quando Wise foi contratado para dirigir, a Paramount perguntou se ele tinha alguma objeção quanto ao uso de Goldsmith. Wise, que já havia trabalho com o compositor em The Sand Pebbles, respondeu: "Claro que não! Ele é ótimo!". Mais tarde Wise consideraria seu trabalho com Goldsmith uma das melhores relações que ele teve com o compositor.[96]

Goldsmith foi influenciado pelo tipo de música romântica e marcante de Star Wars. "Quando você pára para pensar, o espaço é algo muito romântico. É, para mim, como o Velho Oeste, estamos no mesmo universo. É sobre a descoberta de uma nova vida [...] essa é a premissa básica de Star Trek", disse Goldsmith. Seu bombástico tema inicial fez Wise lembrar de navios navegando. Não conseguindo articular o que achava que estava errado com a peça, Wise recomendou que Goldsmith escrevesse algo totalmente diferente. Embora um pouco desapontado com a rejeição, Goldsmith re-escreveu o tema e suas ideias iniciais.[95] A re-escritura do tema provocou mudanças em várias cenas que ele havia feito sem um tema principal. A aproximação de Kirk e Scotty da Enterprise em doca, via nave auxiliar, durou incríveis cinco minutos, fazendo com que Goldsmith mantivesse o interesse na sequência com uma música revisada e desenvolvida.[97] Star Trek: The Motion Picture é o único filme da franquia a possuir uma overture, usando "Ilia's Theme" (posteriormente regravada - como versão com letra - um ano depois por Shaun Cassidy sob o título "A Star Beyond Time" com letra de Larry Kusik) nesse papel, de modo mais perceptível no DVD da "Edição do Diretor". The Motion Picture e The Black Hole foram os últimos filmes a usar uma overture até 2000, com o filme Dancer in the Dark.[3]

Muito dos equipamentos de gravação usados para criar os intrincados efeitos sonoros do filme eram, na época, de última geração. Entre esses equipamentos estava o SDA (Sintetizador Digital Avançado) 11, fabricado pela Con Brio, Inc. em Pasadena, Califórnia. O filme possibilitou grandes propagandas e foi usado para promover o sintetizador. A trilha do filme também fez a estréia do "Blaster Beam", um instrumento eletrônico com até 4,6 m de comprimento.[98] Foi criado pelo músico Craig Huxley, que interpretou um pequeno papel em um episódio da série original.[99] O Blaster Beam tinha fios de ferro conectados a amplificadores montados em uma peça principal de alumínio; o dispositivo era tocado usando projéteis de artilharia. Assim que Goldsmith o ouviu, ele decidiu usá-lo para representar V'Ger.[95] Um enorme órgão é tocado quando a Enterprise atravessa a nuvem de V'Ger, uma indicação literal do poder da máquina.[99]

Goldsmith compôs a trilha de The Motion Picture durante um período de três a quatro meses, um calendário relativamente grande comparado aos usuais, porém as pressões do tempo fizeram Goldsmith chamar alguns de seus colegas para ajudá-lo. Alexander Courage, compositor do tema original de Star Trek, fez arranjos de seu tema para as sequências onde Kirk grava seus diários, enquanto Fred Steiner escreveu as músicas de quando a Enterprise entra em dobra e encontra V'Ger pela primeira vez.[100] A trilha foi terminada as pressas,[99] a última seção de gravação terminou as 2:00 da manhã do dia 1 de dezembro,[95] apenas cinco dias antes da estréia.[101]

O LP original da trilha foi lançado em 1979 junto com o filme, se tornando uma das trilhas mais vendidas de Goldsmith.[100] Em 1999 foi lançado uma edição especial em CD duplo contendo a trilha sonora completa do filme. O CD contém 21 minutos adicionais de músicas nunca antes lançadas e foi colocada em ordem cronológica para refletir a história do filme. O primeiro disco contém a trilha completa do filme, enquanto o segundo contém o documentário em aúdio "Inside Star Trek", gravado no início da década de 1970.[102]

Star Trek: The Motion Picture rendeu a Goldmith indicações ao Oscar, Golden Globe e Saturn Awards.[103] É considerada por muitos como a melhor e mais impressionante trilha do compositor.[104][105]

Efeitos sonoros

O sonoplasta Frank Serafine, fã de Star Trek, foi convidado para criar os efeitos sonoros do filme. Tendo acesso a equipamentos de última geração, Serafine viu a chance de modernizar as antigas técnicas de sonorização com a tecnologia digital. Devido aos barulhos do cenário e da câmera, muitos dos sons ambientes ou diálogos capturados nas filmagens não podiam ser usados; era o trabalho de Serafine criar ou recriar os sons e mixá-los de volta nas cenas.[106]

Todos os elementos de som, como diálogos dublados e sons de fundo, foram juntados e classificados em três tipos: "efeitos A", "efeitos B" e "efeitos C". Efeitos A eram sons sintetizados ou acústicos que eram importantes para o filme—por exemplo, o barulho das armas de V'Ger, o elo mental de Spock, explosões, transporte e o som da Enterprise entrando em dobra. Efeitos B consistiam em pequenos sons como cliques e bipes. Efeitos C eram sons subliminais — como multidões e sons ambientes. Todos os elementos foram mixados como "prédublagens" para acelerar a integração na mixagem final.[106]

Quando The Motion Picture foi anunciado, muitos artistas de sintetizadores mandaram fitas para a Paramount. Ramsey e Wise foram consultados e ficou decidido que o filme teria um estilo de som único; eles estavam particularmente preocupados em evitar sons que haviam se tornado universais e clichês para não repetir seu uso em outros filmes de ficção científica. Eventos como a tela principal da ponte da Enterprise sendo ativada foram mantidos em silêncio para fornecer uma atmosfera mais confortável. Em contraste, quase todas as atividades na ponte klingon faziam barulho para refletir a natureza áspera dos alienígenas. Apesar de muito dos efeitos terem sido gravados usando sintetizadores digitais, gravações acústicas também foram usadas. O barulho do buraco de minhoca, por exemplo, foi feito a partir de uma fita de um tiroteio rebobinada e com a velocidade modificada. A equipe encontrou dificuldades ao transferir as fitas de 64 cm usadas na criação dos sons para os filmes de 35 mm usados nas cópias finais; apesar do filme ter sido lançado com som Dolby, Serafine achou mais fácil mixar os sons sem se importar com o formato, adicionando o formato específico mais tarde, durante a transferência para 35 mm.[106]

Temas

De acordo com o autor Duncan Barrett, Roddenberry tinha uma visão decididamente negativa da religião, algo que foi refletido nos episódios da série Star Trek. No episódio "Who Mourns for Adonais?", por exemplo, o deus Apolo é revelado como uma fraude, um alienígena ao invés de uma divinidade do passado da Terra.[107] Em comparação, Ross Kraemer diz que a religião não estava ausente na série de televisão, porém estava muito privada. Barrett sugere que com os filmes de Star Trek, sua atitude de não falar de religião mudou.[108]

Na série de televisão, pouco tempo era passado ponderando-se sobre os mortos. Em Star Trek: The Motion Picture, entretanto, Decker é aparentemente morto ao se fundir com V'Ger, porém Kirk pergunta se eles acabaram de presenciar o nascimento de uma nova forma de vida. Decker e Ilia são listados como "desaparecidos" ao invés de mortos, e os efeitos e as luzes criadas como resultado da fusão foram descritas como "quase místicas" e "pseudo religiosas".[108] A discussão sobre a nova vida é mostrada de um modo reverencial.[108] Enquanto V'Ger é uma máquina de quase onipotência, de acordo com Robert Asa, o filme, junto com um de seus sucessores (Star Trek V: The Final Frontier), "implicitamente protesta(m) contra o teísmo clássico".

Recepção

Lançamento

Para coincidir com o lançamento do filme, a Pocket Books publicou uma romantização do filme escrita por Gene Roddenberry. O único livro de Star Trek que Roddenberry escreveu, adiciona histórias e elementos que não aparecem no filme; por exemplo, a romantização menciona que Willard Decker é filho do Comodoro Decker, que apareceu no episódio da série original "The Doomsday Machine", um elemento original de Phase II.[109] Além do livro, outras mídias impressas criadas para Star Trek incluíam um livro para colorir, revista em quadrinhos (publicada pela Marvel) e plantas das naves. Brinquedos incluíam bonecos, miniaturas das naves e uma grande variedade de relógios, faser e comunicadores. O McDonald's vendeu uma versão Star Trek do McLanche Feliz.[110] A campanha de divulgação foi parte de uma abordagem da Paramount e da Gulf+Western para criar uma linha de produtos de Star Trek. O livro de The Motion Picture foi o livro inicial da franquia de livros de Star Trek lançados pela Pocket Books, que publicaram 18 bestsellers em uma década.[111]

Devido a pressa para completar o filme, Star Trek: The Motion Picture nunca foi exibido para públicos testes, algo que Wise mais tarde iria se arrepender. O diretor carregou o rolo de filme para a estréia mundial,[101] realizada no K-B MacArthur Theather em Washington, D.C.. Roddenberry, Wise e o elenco principal estavam presentes. Apesar de centenas de fãs terem sido esperados,[112] a chuva os reduziu a 300.[113] A estréia foi seguida por uma recepção de gala no Museu do Ar e Espaço. Mais de 500 pessoas; consistindo em membros do elenco e da equipe, trabalhadores da comunidade espacial e alguns fãs que conseguiam pagar os US$ 100 cobrados pelo museu.[114] O filme foi a primeira grande adaptação de Hollywood de uma série de televisão, que estava fora do ar por uma década, a manter seu elenco original.[115]

Star Trek: The Motion Picture abriu nos Estados Unidos em 7 de dezembro de 1979, em 859 cinemas, estabelecendo o recorde de maior arrecadação em um fim de semana, com US$ 11.815.203 na sua primeira semana. O filme quebrou o recorde estabelecido por Superman no ano anterior.[116] The Motion Picture arrecadou US$ 17 milhões em uma semana.[17] O filme arrecadou US$ 82.258.456 nos EUA,[117] arrecadando US$ 139 milhões mundialmente.[2] The Motion Picture foi indicado a três Oscars: Melhor Trilha Sonora (Jerry Goldsmith), Melhor Direção de Arte (Harold Michelson, Joseph R. Jennings, Leon Harris, John Vallone e Linda DeScenna) e Melhores Efeitos Visuais (Douglas Trumbull, John Dykstra e Richard Yuricich).[118]

Nos Estados Unidos, The Motion Picture vendeu mais ingressos do que qualquer outro filme da franquia até Star Trek, de 2009, porém a Paramount considerou a bilheteria desapontadora comparada as expectativas. O orçamento do filme foi de US$ 46 milhões, incluindo os custos da produção de Phase II. O estúdio culpou as revisões de roteiro de Roddenberry e a direção criativa pelo ritmo devagar e pela arrecadação desapontadora. Enquanto a performance de The Motion Picture convenceu a Paramount a encomendar uma sequência mais barata, Roddenberry foi forçado a sair do controle criativo. Harve Bennett produziu, e Nicholas Meyer dirigiu Star Trek II: The Wrath of Khan, que recebeu críticas muito mais positivas, continuando a franquia.[119] Com o renascimento bem sucedido da marca Star Trek no cinema como exemplo, Hollywood cada vez mais se voltou para a televisão da década de 1960 para material.[115]

Crítica

Star Trek: The Motion Picture foi recebido com desapontamento pela crítica especializada;[120] uma retrospectiva feita em 2001 para a BBC descreveu o filme como um fracasso comercial.[121] Gary Arnold e Judith Martin, do The Washington Post, acharam que a trama do filme era muito fraca para sustentar sua duração, apesar de Martin ter achado que comparado a filmes similares como 2001: A Space Odyssey, Star Wars e Alien, o pretensão de The Motion Picture era "um pouco mais inteligente".[122][123] Harold Livingston, roteirista do filme escrevendo para a revista TIME, disse que o filme consistia em naves estelares que "levam um tempo considerável para chegarem a algum lugar, e nada de dramático ou de interesse humano acontece no caminho". Livingston também lamentou a falta de antagonistas "audaciosamente caracterizados" e cenas de batalha que fizeram de Star Wars um filme divertido; em vez disso, os espectadores foram apresentados a muitas conversas, "muitas delas em jargões impenetráveis".[124] David Denby disse que o lento movimento das naves estelares pelo espaço "não era mais surpreendente e elegante" depois de filmes como 2001: A Space Odyssey, e que muito da ação consistia da reação da tripulação para as coisas ocorrendo na tela principal da nave, que ele considerou que era "como assistir alguém assistindo televisão".[125] A Variety discordou, chamando o filme de "um excelente suspense que inclui todos os ingredientes que os fãs do programa de TV gostam: o dilema filosófico envolto em um cenário de controle da mente, problemas com a nave estelar, a confiança e a compreensão de Kirk, o sempre lógico Spock e uma reviravolta no final".[126]

Os personagens e as atuações receberam uma recepção mista. Stephen Godfrey do The Globe and Mail classificação as interpretações altamente: "o tempo cimentou o visual de inescrutabilidade de Leonard Nimoy como Sr. Spock [...] DeForest Kelley como Dr. McCoy estão tão mal-humorado como nunca, e James Doohan como Scotty ainda reclama dos problemas de sua engenharia. Em um nível básico, suas trocas são de uma variedade ímpar de homens rabugentos de meia-idade discutindo sobre a política do escritório. Eles são um alívio vindo das estrelas, e um deleite". A única preocupação de Godfrey era de que a reunião dos antigos membros do elenco ameaçava fazer espectadores casuais, que nunca haviam assistido a Star Trek, se sentirem como convidados indesejados.[127] Martin considerou os personagens mais simpáticos do que aqueles em filmes de ficção científica comparáveis.[122] Reciprocamente, Arnold achou que a atuação do elenco principal (William Shatner em particular) foi muito pobre; "Shatner interpreta Kirk como um velho arrogante idiota que alguém poderia desejar que ele tivesse sido deixado atrás de uma mesa", ele escreveu. "Shatner talvez seja a compleição física menos impressiva do cinema desde Rod Steiger, e seu estilo de atuação começa a lembrar o pior de Richard Burton".[123] Vincent Canby, do The New York Times, escreveu que os atores não tiverem muito a ver com o filme guiado pelos efeitos, e estavam "limitados a troca de olhares significativos ou a olhar fixamente para monitores de televisão, geralmente em descrença".[128] Stephen Collins e Persis Khambatta foram recebidos de forma mais favorável. Gene Siskel achou que o filme "oscila[va] em direção ao tédio total" quando Khambatta não estava em cena,[17] e Jack Knoll da Newsweek achou que ela teve o papel mais memorável do filme.[129] "[Khambatta] é simpática o suficiente para alguém querer que ela tenha a chance de mostrar menos carne e mais cabelo em filmes futuros", escreveu Godfrey.[127]

Muitos críticos acharam que os efeitos especiais ofuscaram outros elementos do filme. Canby afirmou que o filme "deve mais a [Trumbull, Dykstra e Michelson] do que a seu diretor, os roteirista ou até o produtor".[128] Livingston achou que o trabalho de Trumbull e Dykstra em The Motion Picture não foi tão impressionante como aqueles em Star Wars e Close Encounters of the Third Kind devido ao tempo limitado de produção.[124] Godfrey chamou os efeitos de "deslumbrantes", mas admitiu que eles ameaçaram subjugar a história depois de dois terços do filme terem transcorrido.[127] Martin, Arnold e Knoll concordaram que os efeitos não conseguiam carregar o filme sozinho ou brilhar mais que suas deficiências; "Não tenho certeza se Trumbull & cia. conseguiram puxar as castanhas filosóficas de Roddenberry e de seus co-roteiristas para longe do fogo", escreveu Arnold.[122][123][129]

Avaliações posteriores do filme ecoaram tais críticas. No site Rotten Tomatoes, apenas 47% de 32 críticos avaliaram o filme de forma positiva.[130] James Berardinelli, avaliando o filme em 1996, achou que o ritmo arrastou o enredo a um ponto onde ele se assemelhava com o episódio da série original "The Changeling", porém considerou o início e o final de The Motion Picture como fortes.[131] Terry Lee Rioux, biógrafo de DeForest Kelley, disse que o filme provou "que era o enredo centrado nos personagens que fazia toda a diferença em Star Trek".[132]

Edição do Diretor

Dois membros da companhia de produção de Wise, David C. Fein e Michael Matessino, persuadiram Wise e a Paramount a lançar uma versão revisada do filme em home video. Wise, que sempre considerou a versão teatral como um "corte bruto", recebeu a oportunidade de re-editar o filme para ser mais consistente com sua visão orignal. A equipe de produção usou o roteiro original, storyboard de sequências que sobreviveram ao tempo, memorandos e as lembranças do diretor. Além do corte de algumas sequências, 90 cenas novas e redesenhadas por computação gráfica foram criadas.[133] Cuidados especiais foram tomados para que os novos efeitos fossem incorporados de forma homogênea com as cenas antigas.[101] A edição possui 136 minutos de duração, por volta de quatro minutos a mais que a versão original.[134]

Além dos efeitos, a trilha sonora foi remixada. Sons ambientes como o zumbido dos controles da ponte foram adicionados para realçar certas cenas.[133] Goldsmith sempre suspeitou que algumas de suas músicas excecivamente longas seriam encurtadas, então eles as fez repetitivas. Apesar de nenhuma cena nova ter sido adicionada, a MPAA classificou a nova versão como "PG", apenas crianças acompanhadas pelos pais podem assistir, em contraste com o "G", livre para todos os públicos, do lançamento original. Fein atribuiu a mudança na classificação indicativa para a mixagem de som mais "intensa", que fez com que algumas cenas mostrassem V'Ger como um ser "mais ameaçador".[135]

A Edição do Diretor foi lançada em VHS e DVD em 6 de novembro de 2001. Ela foi melhor recebida pela crítica do que o lançamento original. Mark Bourne, do DVD Journal, disse que a nova edição mostra "uma mais vigorosa e mais atrativa versão do filme" e era "tão bom quanto poderia ter sido em 1979. Talvez até melhor".[136] Jeremy Conrad, da IGN, disse que apesar das mudanças e melhorias, o ritmo ainda pode ser um pouco lento para alguns espectadores.[137]

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Ligações externas