Lélia Abramo
Lélia Abramo | |
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Nome completo | Lélia Abramo Scarmagnan |
Outros nomes | Lélia Abramo |
Nascimento | 8 de fevereiro de 1911 São Paulo, SP |
Nacionalidade | brasileira |
Morte | 9 de abril de 2004 (93 anos) São Paulo, SP |
Ocupação | |
Atividade | 1958–1990 |
Progenitores | Mãe: Iole Scarmagnan Pai: Vincenzo Abramo |
Parentesco | Irmãos: Lívio Abramo Beatriz Abramo Athos Abramo Fúlvio Abramo Cláudio Abramo Mário Abramo Sobrinhos: Claudio Weber Abramo Barbara Abramo Berenice Abramo Perseu Abramo |
Lélia Abramo Scarmangan (São Paulo, 8 de fevereiro de 1911 — São Paulo, 9 de abril de 2004) foi uma atriz, produtora teatral e ativista política brasileira. Fez parte dos grupos políticos Frente Única Antifascista e Oposição de Esquerda, além de ser uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT) e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos, sendo um dos grandes nomes na luta contra a ditadura militar brasileira.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filha dos imigrantes italianos, Afra Iole Scarmagnan, natural de Monselice (província de Pádua) e de Vincenzo Abramo, nascido em Torraca (província de Salerno), Lelia viveu na Itália entre os anos de 1938 e 1950, tendo sofrido as privações da Segunda Guerra Mundial. Junto aos seus irmãos, o artista plástico Lívio Abramo, Beatriz Abramo, os jornalistas Athos Abramo, Fúlvio Abramo e Cláudio Abramo, faz parte de uma família que teve grande presença na história brasileira, tanto na militância política como na arte. Sua mãe, Afra Iole, era filha de Bortolo ("Bartolomeu") Scarmagnan, militante anarcossindicalista e organizador da greve geral de 1917 em São Paulo.[1]
Participou dos primeiros momentos de fundação da Oposição de Esquerda no Brasil, sempre se assumindo como uma simpatizante do trotskismo junto com Mário Pedrosa. Eduardo Maffei, militante comunista, registra participação de Lélia na Frente Única Antifascista trocando tiros com os integralistas na Praça da Sé, em 1934, durante o episódio conhecido como a Revoada dos galinhas-verdes. Em suas memórias, Lélia afirma ter apenas portado "pedaços de pau".[1][2]
Lélia Abramo foi também militante e fundadora do Partido dos Trabalhadores, tendo assinado a ata de fundação com Mário Pedrosa, Manuel da Conceição, Sérgio Buarque de Holanda, Moacir Gadotti e Apolônio de Carvalho. Foi uma personalidade presente em diversos momentos da vida política brasileira, como a campanha das Diretas Já!.[2]
A atriz iniciou a carreira aos 47 anos. Participou de 27 telenovelas, catorze filmes e 23 peças de teatro, tendo convivido com grandes nomes do teatro paulista, como Gianni Ratto e Gianfrancesco Guarnieri, com quem estreou nos palcos em 1958 em Eles não Usam Black-Tie. Na TV é lembrada pela matriarca Januária Brandão em Pai Herói (1979), Mama Vitória em Pão Pão, Beijo Beijo (1983) e Bibiana na minissérie O Tempo e o Vento (1985).[3]
Sua militância política custou-lhe, porém, alguns anos de ostracismo na televisão, e ela passou a ser ignorada pela Rede Globo a partir de 1978, quando assumiu a presidência do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo, integrando a primeira chapa de oposição a ser vitoriosa desde o início da ditadura. Lélia tinha, então, como companheiros de diretoria Renato Consorte, Dulce Muniz, Cláudio Mamberti e Robson Camargo, entre outros. Essa eleição ganhou as principais páginas dos jornais paulistas da época, apesar da intensa censura.[2]
Antonio Cândido descreve Lélia Abramo:
“ | como uma atriz que nunca vergou a espinha, nunca sacrificou a consciência à conveniência e desde muito jovem se opôs à injustiça da sociedade. Que sempre rejeitou as vias sinuosas e preferiu perder empregos, arriscar a segurança, sofrer discriminações para poder dizer a verdade e agir com seus pontos de vista…[2] | ” |
Morte
[editar | editar código-fonte]Lélia morreu na cidade de São Paulo, em 9 de abril de 2004, aos 93 anos, vítima de uma embolia pulmonar.[4]
Carreira
[editar | editar código-fonte]No teatro
[editar | editar código-fonte]- 1958 - Teatro de Arena - SP - Romana em Eles Não Usam Black-Tie de Gianfrancesco Guarnieri, direção de José Renato
- 1958 - São Paulo SP - A Mulher do Outro, de Sidney Howard, direção de Augusto Boal
- 1959 - São Paulo SP - Gente como a Gente, de Roberto Freire, direção de Augusto Boal
- 1960 - São Paulo SP - Mãe Coragem e Seus Filhos, de Bertolt Brecht, direção de Alberto D'Aversa
- 1961 - São Paulo SP - Raízes, de Arnold Wesker, direção de Antônio Abujamra
- 1961 - São Paulo SP - Pintado de Alegre, de Flávio Migliaccio, direção de Augusto Boal
- 1961 - São Paulo SP - Oscar, de Claude Magnier, direção de Cacilda Becker
- 1961 - São Paulo SP - O Rinoceronte de Eugène Ionesco, direção de Walmor Chagas
- 1962 - São Paulo SP - Yerma, de Federico Garcia Lorca, direção de Antunes Filho
- 1962 - São Paulo SP - As Visões de Simone Machard, de Bertolt Brecht, direção de José Filipe
- 1963 - São Paulo SP - Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade, direção de Maurice Vaneau
- 1964 - São Paulo SP - Vereda da Salvação, de Jorge Andrade, direção de Antunes Filho
- 1965 - São Paulo SP - Os Espectros, de Henrik Ibsen, direção de Alberto D'Aversa[5].
- 1968 - São Paulo SP - Lisístrata,de Aristófanes, direção de Maurice Vaneau
- 1968 - São Paulo SP - Agamenon, de Ésquilo, direção de Maria José de Carvalho
- 1969 - São Paulo SP - Romeu e Julieta, de William Shakespeare, direção de Jô Soares
- 1970 - São Paulo SP - Olhos Vazados, de Jean Cau, direção de Emílio Di Biasi- Prêmio Moliére de Melhor Atriz
- 1975 - São Paulo SP - Ricardo III, de William Shakespeare, direção de Antunes Filho
- 1977 - São Paulo SP - Pozzo em Esperando Godot de Samuel Beckett, direção de Antunes Filho
- 1978 - São Paulo SP - Hospí(cio)tal de Miguel M. Abrahão, direção de Fabio Sabag
- 1985 - Rio de Janeiro RJ - A Mãe de Bertolt Brecht direção de João das Neves
- 1985 - São Paulo SP - Os Espectros, de Henrik Ibsen, direção de Emílio Di Biasi[6].
Na televisão
[editar | editar código-fonte]Ano | Título | Personagem |
---|---|---|
1961 | A Muralha | |
1963 | Gente como a Gente | |
1964 | João Pão | |
Prisioneiro de um Sonho | ||
1965 | Os Quatro Filhos | |
Um Rosto Perdido | Irmã Rosa | |
1966 | Calúnia | Sarah |
Redenção | Carmela | |
1967 | Paixão Proibida | |
1968 | O Terceiro Pecado | |
1969 | Dez Vidas | Tia de Marília |
1970 | As Bruxas | Chiquinha |
O Meu Pé de Laranja Lima | Estefânia | |
1971 | Nossa Filha Gabriela | Donana |
1972 | Na Idade do Lobo | Inês |
Uma Rosa com Amor | Amália | |
1973 | Os Ossos do Barão | Bianca Ghirotto |
1975 | Um Dia, o Amor | Lucinha |
1976 | O Julgamento | Felícia |
1979 | Pai Herói | Januária Brandão[7] |
1982 | Avenida Paulista | Bebel |
1983 | Pão Pão, Beijo Beijo | Mama Vitória |
1985 | O Tempo e o Vento | Bibiana Terra Cambará (idosa) |
[1986 | Mania de Querer | Margô |
1990 | A História de Ana Raio e Zé Trovão | Lúcia |
Fronteiras do Desconhecido | Berenice |
No cinema
[editar | editar código-fonte]Ano | Título | Personagem |
---|---|---|
1960 | Cidade Ameaçada[8] | — |
1964 | Vereda de Salvação | Dolor |
1967 | O Anjo Assassino | — |
O Caso dos Irmãos Naves | Donana | |
1968 | O Quarto | Arente |
1970 | Beto Rockfeller | Dona Gorda |
Cleo e Daniel | Mãe de Daniel | |
1973 | Joanna Francesa | Dona Olímpia[9] |
1974 | O Comprador de Fazendas | Isaura |
1979 | Maldita Coincidência | Senhora |
1980 | O Sonho não Acabou: teatro Libertário | A velha dama[10] |
1981 | Eles Não Usam Black-Tie | Malvina |
1983 | Janete | Carmen |
1992 | Manôushe | Viúva |
1996 | Mil e Uma | Mãe de Alice |
Prêmios
[editar | editar código-fonte]- 1958 - Prêmio Saci - Personagem: Romana em Black-tie - Teatro
- 1958 - APCA - Personagem:Romana em Black-tie - Teatro'
- 1958 - Governador do Estado - Personagem Romana em Black-tie - Teatro'
- 1958 - Círculo Independente de Críticos Teatrais do Rio de Janeiro - Personagem Romana em Black-tie - Teatro'
- 1958 - Associação Brasileira de Críticos Teatrais - Personagem Romana em Black-tie - Teatro '
- 1963 - Prêmio Saci - Melhor Atriz Coadjuvante em Os Ossos do Barão - Teatro
- 1964 - Prêmio Roquete Pinto - SP. Pelo conjunto de seu trabalho
- 1967 - Festival de Brasília - Melhor Atriz Coadjuvante - O Caso dos Irmãos Naves - Cinema
- 1970 - Prêmio Molière - Melhor Atriz - Os Olhos Vazados - Teatro
- 1971 - Prêmio APCA - Melhor Atriz - Uma Rosa com Amor - TV
- 1975 - Associação Paulista de Críticos de Arte. Pelo conjunto de seu trabalho
- 1976 - Prêmio Governador do Estado de Melhor Atriz. Personagem: Pozzo em Esperando Godot
Autobiografia
[editar | editar código-fonte]A editora da Fundação Perseu Abramo publicou sua autobiografia em 1997, intitulada Vida e Arte - Memórias de Lelia Abramo.
Referências
- ↑ a b Banco Itaú (ed.). «Lélia Abramo». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 11 de setembro de 2019
- ↑ a b c d Abramo, Lélia (1997). Vida e Arte - Memórias de Lélia Abramo. São Paulo: Fundação Perseu Abramo. ISBN 9788526804197
- ↑ «Dez anos sem Lélia Abramo». Bis!. Consultado em 11 de setembro de 2019
- ↑ «Lélia Abramo (1910 - 2004)». Universidade Federal de Campo Grande. Consultado em 11 de setembro de 2019
- ↑ SILVA, Jane Pessoa da. Ibsen no Brasil. Historiografia, Seleção de textos Críticos e Catálogo Bibliográfico. São Paulo: USP, 2007. Tese. p. 568
- ↑ SILVA, Jane Pessoa da. Ibsen no Brasil. Historiografia, Seleção de textos Críticos e Catálogo Bibliográfico. São Paulo: USP, 2007. Tese. p. 570
- ↑ «Pai Herói - Ficha Técnica». Memória Globo. Consultado em 19 de abril de 2018
- ↑ «Cidade Ameaçada». Cinemateca Brasileira. Consultado em 18 de dezembro de 2016
- ↑ Cinemateca Brasileira, Joanna Francesa [em linha]
- ↑ «O Sonho não Acabou: teatro Libertário». Cinemateca Brasileira. Consultado em 28 de junho de 2022
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «Participação na Frente Única Antifascista (1934), artigo de Augusto C. Buonicore 27/10/2007»
- Eduardo Maffei. A Batalha da Praça da Sé. RJ: Editora Philobiblion, 1984.
- ABRAMO, Fúlvio. "Frente Única Antifascista, 1934-1984". SP: Cadernos do Centro de Documentação Mário Pedrosa, 1984. Ano I, número um.
- «ABRAMO, Fúlvio. Entrevista. Revista Teoria e Debate. Ano I, número 1.»
- «ABRAMO, Lélia. Entrevista. Revista Teoria e Debate. Ano II, número 5.»
- «Mário Pedrosa, Lélia e o Partido dos Trabalhadores»
- «Atuação no cinema»
- «Entrevista Revista Isto É»
- «Enciclopédia Itaú Cultural»
- «Oficina Cultural Lélia Abramo - Araraquara - SP»
- «Enciclopédia do Teatro»
- Lélia Abramo. no IMDb.
Precedida por - |
Troféu Candango de Melhor Atriz Coadjuvante em O Caso dos Irmãos Naves 1967 |
Sucedida por Joana Fomm |
Precedida por Dina Sfat em Selva de Pedra |
Troféu APCA de Melhor Atriz de Televisão em Uma Rosa com Amor com Eva Wilma em Mulheres de Areia 1974 |
Sucedida por Eva Wilma e Irene Ravache em A Viagem; e Susana Vieira em Escalada |
- Nascidos em 1911
- Mortos em 2004
- Agraciados com a Ordem do Mérito Cultural
- Atrizes do estado de São Paulo
- Atrizes de televisão do Brasil
- Brasileiros de ascendência italiana
- Mulheres ganhadoras do Prêmio APCA de Televisão
- Naturais da cidade de São Paulo
- Opositores da ditadura militar no Brasil (1964–1985)
- Trotskistas do Brasil
- Membros do Partido dos Trabalhadores
- Família Abramo