Usuário:DAR7/Testes/História do Brasil/Descobrimento do Brasil

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Este artigo é sobre o facto histórico ocorrido em 1500. Para outros significados, veja Descobrimento do Brasil (desambiguação).

Descoberta ou descobrimento do Brasil refere-se à chegada oficial, em 22 de abril de 1500, da frota comandada por Pedro Álvares Cabral ao território denominado Ilha de Vera Cruz (terras que hoje compõem o do Brasil). Tal descoberta faz parte dos descobrimentos portugueses. A nomenclatura deste evento histórico desconsidera a existência prévia de povos indígenas neste território, simbolizando a oficialização do início da colonização portuguesa em territórios que posteriormente formaram o Brasil.

Embora quase exclusivamente utilizado em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o termo “descoberta do Brasil” pode também referir-se à chegada de outros navegantes europeus ao mar territorial brasileiro e em terra firme antes dele. É o caso, por exemplo, da expedição do navegador português Duarte Pacheco Pereira em 1498, que visou possivelmente a identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de 1494 — Pacheco Pereira participou das negociações do mesmo. O termo aplica-se ainda à expedição do espanhol Vicente Yáñez Pinzón, que chegou ao Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500.[1][2][3][4]

Quando vieram os portugueses, terrenos aplainados do sul da Bahia cercavam “uma enorme montanha” e muitas árvores cobriam essas terras planas. Nas águas salgadas do litoral da região, cresciam longas ervas denominadas de “rabo-de-asno” pelos marinheiros.[5] Sinais de terra foram avistados pela armada cabralina, após 44 dias viajando no oceano, no dia 22 de abril de 1500, sob o silêncio rompido pelos fura-buchos.[5] Nas praias abundantes do sul da Bahia, a nova terra e seus indivíduos continuariam sendo reconhecidos pelos treze navios, nove dias depois. Essas embarcações eram da maior armada já mandada para a Índia, pelo caminho que Vasco da Gama descobriu.[5] Os lusos contataram-se amigavelmente pela primeira vez com os nativos da terra. Isso foi num dia depois, na quinta-feira, dia 23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano da Índia e amigo de Vasco da Gama, dirigiu-se à terra, a bordo de um batel. Ali encontrou inesperadamente 18 homens “pardos, nus, com arcos e setas nas mãos”. Um gorro avermelhado, uma carapuça feita de linho e um sombreiro preto foram dadas por Coelho aos nativos. Em permuta, ele ganhou um cocar feito de plumas e um colar fabricado com contas brancas. O Brasil, na época, era denominado Ilha de Vera Cruz. A então terra recém-descoberta mesclava seu passado à trajetória da história da expansão europeia.[5]

O registro da vinda dos lusitanos está escrito de modo perfeito e detalhado. Não é muito grande a quantidade de países que têm uma “certidão de nascimento”. Esses documentos têm tanta precisão e muita fluência no que diz respeito à carta mandada por Pero Vaz de Caminha ao monarca lusitano D. Manuel III. Tal registro conta o chamado “achamento da nova terra”. Apesar disso, uma curiosidade persiste a respeito do grande caminho alternativo o qual conduziu a frota cabralina bem longe para oeste do que o navegador precisava para que fosse para a Índia. Será que Cabral descobriu o Brasil por puro engano?[5] É possível que o problema não chegue a se esclarecer totalmente. Entretanto, foi promulgado o Tratado de Tordesilhas pelo qual, seis anos anteriores, foi concedido a Portugal o monopólio das terras situadas a 370 léguas (por volta de 2 000 km) a oeste de Cabo Verde. O avistamento da nova terra era natural, era específico o saber das correntes marítimas e dos estados favoráveis de clima no momento da viagem e era altamente provável o avistamento prévio dessas terras. Tudo isso aparenta assegurar a chegada puramente formal naquele período das 6 horas até o meio-dia de abril de 1500: Cabral possivelmente estaria somente assumindo uma terra que os lusos já conheciam, apesar de ser superficial. Uma terra, pela qual, de qualquer jeito, até aquele momento se esperaria mais de cem anos para terem verdadeiros interesses.[5]

Tupiniquins, império ultramarino português, infante D. Henrique e Luís Vaz de Camões[editar | editar código-fonte]

Ver artigos principais: Conquista de Ceuta, Especiaria e Vasco da Gama

No decorrer dos dez dias em que ficou no Brasil, a esquadra cabralina contatou com mais de 500 nativos. Eram, se teria sabido em seguida, os tupiniquins — uma das aldeias do grupo tupi-guarani, pelo qual, nos primeiros anos do século XVI, era ocupada quase a costa brasileira inteira. Os tupis-guaranis chegaram à região em muitas migrações de viés espiritual (à procura da “Terra sem Males”), no início da Era Cristã. Os tupiniquins moravam no sul da Bahia e na periferia de Santos e Bertioga, em São Paulo. Foram mais de 85 mil. Em torno de 1530, se juntaram aos lusitanos quando guerrearam contra os tupinambás e tamoios, que se aliaram aos franceses. A duração da aliança foi inferior a meio século: em 1570, os tupiniquins já tiveram estado quase exterminados, mortos por Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil.[6]

O Império Português em sua máxima extensão (1415-1999).

O enorme estímulo o qual levou a armada de Pedro Álvares Cabral entre Lisboa e Calicute na Índia foi só uma reduzida, mesmo que brilhante, deslocação na imensa harmonia a qual caracteriza o processo evolutivo da expansão marítima de Portugal em volta da Terra.[6] Sem dúvida, a Idade Moderna começa a partir da Era dos Descobrimentos, na opinião de diversos historiógrafos.[6] Ao se lançarem “por mares nunca dantes navegados”, os portugueses venceram as mentiras da geografia arcaica e comprovaram, com incrível ousadia, a abertura do ciclo do conhecimento. Sua peripécia pelos mares foi o mais antigo processo do homem do tamanho de um planeta.[6]

Empobrecidos pescadores antes de fins do século XIII, os portugueses passaram a formar sua marinha no começo do XIV, possuindo como professores os genoveses.[6] Em 1415, chefiada por João I de Portugal, a esquadra portuguesa venceu em seu mais antigo ataque de guerra e tomou Ceuta. Começaria uma peripécia de expansão a qual, por dois séculos depois, expandiu o domínio de Portugal pelos sete mares e por cinco continentes. O trabalho de João I de Portugal era continuado por seu descendente, o infante D. Henrique, que previu nos oceanos o destino português.[6]

Em 1420, a ilha da Madeira foi (re)descoberta por navegadores diplomados na escola de D. Henrique. O cabo Bojador, ao sul de Marrocos, foi vencido por Gil Eanes em 1434. Em 1455, descobriu-se Cabo Verde e, em 1487, o limite da África foi atingido por Bartolomeu Dias, que dobrou o das Tormentas, renomeado da Boa Esperança.[6]

Em 1498, o caminho da Índia foi finalmente descoberto por Vasco da Gama. Depois os lusos teriam chegado na China e no Japão. Lisboa se transformava naquela época, numa cidade global, cujos estaleiros trabalhavam bastante e astrônomos do judaísmo, banqueiros de Gênova, cartógrafos da Catalunha, marinheiros de Itália e comerciantes da Holanda percorriam as ruas. A capital portuguesa se transformava igualmente na capital mundial.[6]

Os questionamentos dos historiógrafos eram cada vez maiores a respeito do que realmente existia a Escola de Sagres — a qual teria sido criada pelo infante D. Henrique (1394–1460) no promontório mais a oeste da Europa. Não obstante, não se pode negar que o príncipe foi o encarregado por avançar os portugueses para o oceano Atlântico, o mar Tenebroso cujo horizonte macabro o trabalho de seus navegadores se arriscou a descobriu.[7]

O Homero na imagem de um marujo sem um olho e apaixonado denominado Luís Vaz de Camões — o mais importante escritor de poesias da língua portuguesa de toda a história da humanidade foi encontrado pela odisseia dos marinheiros lusitanos. Em 1569, após uma viagem pela Índia e pela China, Camões veio a Lisboa conduzindo a versão original de Os Lusíadas, a famosa poesia épica pela qual foi dada para as descobertas lusitanas a imortalidade que só as obras-primas referendaram.[7]

Viagem de Cabral e diário de bordo[editar | editar código-fonte]

Em um domingo, Lisboa, a capital além-mar europeia, estava comemorando seu dia de alegria. As treze embarcações da esquadra mais forte, que Portugal já armou, agitavam nas águas brilhantes do rio Tejo. O cronista João de Barros, que testemunhou o dia inesquecível, fez o seguinte registro:[8]

Muitos batéis rodeavam as naus e ferviam todos com seus librés de cores diversas, que não parecia mar, mas um campo de flores e o que mais eleva o espírito era as trombetas, atabaques, tambores e gaitas.

Oito meses anteriores, a pequena esquadra de Vasco da Gama foi até aquele próprio porto. Havia trazido a novidade a qual ao longo de mais de um século dirigiu-se para a preocupação de Portugal: descobriu, finalmente, o caminho oceânico o qual levava para a Índia. Naquele momento, D. Manuel I de Portugal obrigou todos, principalmente os espiões espanhóis, italianos e franceses, a vislumbrar que sua nova missão partisse brilhantemente (mercante e militar) para o reino das especiarias.[8]

A missa era celebrada. No altar encontrava-se D. Diogo Ortiz, um dos três homens o qual, uma década anterior, proibiu que Portugal financiasse o projeto de Cristóvão Colombo de ir para a Índia pelo caminho ocidental. Ao lado dele, Pedro Álvares Cabral, cujos antepassados eram conquistadores, mais soldado que exatamente marinheiro, orava em silêncio. Aos 32 janeiros, estava preparado para sua mais antiga missão ultramarina.[8]

Caminho de ida acompanhado por Cabral em 1500 (em vermelho) e o de volta (em azul).

As embarcações saíram na segunda-feira, 9 de março de 1500. Cabral conversou muito com Gama. Dois anos anteriores, ao realizar uma enorme volta no caminho do Oeste, para tirar bom proveito das correntes do Atlântico, Gama passou muito próximo do Brasil que quem sabe tenha mesmo previsto que existisse terra. Cabral se lançou ainda mais para oeste (tanto que, de acordo com suas contas, acreditava que estava no lugar em que atualmente fica Brasília). Veio à Terra dos Papagaios — a escala perfeita para as Índias.[8]

Dez dias seguintes, partindo do Porto Seguro, Cabral aparenta aí ter abandonado, ademais de dois degredados e cinco grumetes fugitivos de obrigações militares, a parte a qual lhe sobrava de sorte. Na terceira semana de maio, perto do cabo das Tormentas, após o brilho de um cometa no firmamento por dez períodos noturnos, um enorme temporal caiu sobre a esquadra. O mar engoliu quatro naus, das quais a de Bartolomeu Dias. Ninguém sobreviveu. Diminuída a sete navios (um afundou um pouco depois de partir e a embarcação de alimentos voltou a Portugal com a novidade do descobrimento), a esquadra foi para a Índia nos últimos dias de agosto.[8]

Uma autorização para criar uma feitoria foi recebida por Cabral, no entanto, em 15 de dezembro, o estabelecimento havia sido atacado. O comandante se revoltou e lançou bombas em Calicute por dois dias, destruindo muitas coisas e matando muitas pessoas. Com seis embarcações cheias de especiarias, começou a viagem de retorno. O monarca recebeu-o muito bem. Mais tarde, no entanto, depois de se desentender com o rei, perdeu a confiança na Corte e jamais retornou a viajar de navio. Mudou-se para Santarém. Aí morreu em 1520, quase no esquecimento — possivelmente sem entender sua revelação para a Europa de um território do tamanho de um continente.[8]

Diário de bordo da viagem de Cabral
Quando saiu?[9] De onde?[9] Quantos navios tinha?[9] Quantos tripulantes havia?[9] Quais eram as tripulações mais famosas?[9] Por onde passaram na ida?[9] Por onde passaram na volta?[9] Quando voltaram?[9] Quanto durou a viagem?[9] Quantas embarcações restaram?[9] Quantos sobreviveram?[9]
9 de março de 1500. A partir do porto no rio Tejo, no balneário do Restelo, em Lisboa. Tinha 10 dez naus (mais de 180 t cada) e 3 caravelas. Mais de 1500 homens, dos quais 1200 armados, pilotos lusitanos, muçulmanos e hindus, tradutores, degredados, marinheiros, grumetes, ademais de 8 frades e 8 padres da Ordem dos Frades Menores. Bartolomeu Dias (o primeiro navegante que dobrou o cabo das Tormentas), seu irmão Diogo (escrivão da frota de Vasco da Gama), Nicolau Coelho (um piloto do descobridor do caminho para a Índia e protagonista de Os Lusíadas). Lisboa — ilhas Canárias (14 de março de 1500) — Cabo Verde (22) — Porto Seguro (22 de abril) — das Tormentas (24 de maio) — Sofala, em Moçambique (16 de junho) — Melinde, no Quênia (6 de julho) — Goa, Índia (22 de agosto) — (13 de setembro). Cananor, Índia (16 de janeiro de 1501) — Moçambique (12 de fevereiro) — cabo das Tormentas (19 de abril) — Verde (15 de julho). 23 de julho de 1501. Quinhentos dias. 6. Por volta de 500 homens.

Semana de Vera Cruz[editar | editar código-fonte]

Desembarque de Cabral em Porto Seguro (estudo), pintura a óleo, de autoria de Oscar Pereira da Silva, pintado em 1904. Pertence ao acervo do Museu Histórico Nacional, localizado no Rio de Janeiro.

Em 1500, o principal motivo, apontado por alguns historiadores, do descobrimento do Brasil era mais por motivos religiosos do que financeiros, uma vez que os portugueses construíram uma grande cruz de madeira na praia de Coroa Vermelha momentos anteriores à primeira missa no país, objetivando aculturar e evangelizar os tupiniquins. Esses índios adotaram a religião e a língua trazida pelos exploradores.[10] Outra razão, talvez menos ou nada esclarecedora, é o lucro financeiro com a venda de pau-brasil.[11]

As determinações eram claras: a extraordinária esquadra cabralina estava em missão a caminho da Índia. Teria que continuar pelo caminho, que Vasco da Gama descobriu, iniciar relações comerciais e internacionais entre o Portugal e o samorin de Calicute e, imediatamente, criar uma feitoria no centro do domínio das especiarias. Por esse motivo, embora a paisagem fosse exuberante, os índios fossem descritos como gentis e o clima fosse favorável, os lusos ficaram só dez dias nos lugares calmos da Ilha de Vera Cruz.[12]

Em 2 de maio de 1500, onze embarcações foram a caminho da pimenta, da canela e do gengibre. A décima-segunda embarcação, liderada pelo Gaspar de Lemos, partiu no sentido contrário, conduzindo para o reino as cartas que informavam que a nova terra foi descoberta. O número das mensagens levadas pelo navio dos alimentos em seu centro é um problema nunca esclarecido. Com certeza é que narrativas foram mandadas para o monarca tanto por Cabral como pelos outros capitães. Mesmo assim, só três cartas restaram. De longe, a mais favorável e mais precisa é a redação feita pelo escrivão Pero Vaz de Caminha. Por mérito dela, pode ser então reconstruída, depois de cinco centenários, a época denominada por determinados historiógrafos de “Semana de Vera Cruz”. Assim foram os primeiros dias do Brasil:[12]

Data[13] Acontecimentos[13]
Quarta-feira, 22 de abril de 1500 Ao crepúsculo, o monte Pascoal foi descoberto pela esquadra cabralina. Ao entardecer, distando 24 km do balneário natural de Coroa Vermelha e a 34 m de profundidade, âncoras foram lançadas pelos navios.
Quinta-feira, 23 de abril Às 10:00 da manhã, as embarcações aportaram na frente da desembocadura dum rio (verdadeiramente o Caí de hoje). Nicolau Coelho, veterano das Índias, dirigiu-se para o balneário, em um bote, e, nesse lugar conviveu pela primeira vez com dezoito indígenas.
Sexta-feira, 24 de abril Aconselhada pelos pilotos, a armada ancorou e saiu à procura de mais bem-sucedido porto. Acharam-no, seguro, 70 km mais ao norte. Aí ambos os navios seguiram para o norte a bordo. Conversaram menos e depois descansaram à noite no tombadilho do navio de Cabral.
Sábado, 25 de abril Bartolomeu Dias, Nicolau Coelho e Pero Vaz de Caminha foram ao balneário e acharam mais de 200 nativos. Foram trocados presentes de pouca qualidade.
Domingo, 26 de abril A primeira missa no Brasil na Coroa Vermelha foi rezada pelo religioso Frei Henrique, membro da Ordem dos Frades Menores, quem mais tarde seria da Inquisição. Pessoas de outros países e indígenas confraternizaram bastante no decorrer do domingo inteiro.
Segunda-feira, 27 de abril A tribo dos tupiniquins, construída a uns 10 km do balneário, foi visitada por Diogo Dias e dois degredados. Eles não podiam descansar ali à noite.
Terça-feira, 28 de abril Madeira foi recolhida, roupa foi lavada e uma enorme cruz foi preparada pelos portugueses.
Quarta-feira, 29 de abril No decorrer do dia inteiro, a embarcação dos alimentos e das bebidas, o qual voltaria para Portugal, foi esvaziada de seu carregamento.
Quinta-feira, 30 de abril Cabral e os capitães chegaram. No balneário, existiam uns 400 indígenas com os quais eles dançaram e cantaram o dia inteiro.
Sexta-feira, 1º de maio Os navios foram deixados pela tripulação, que seguiu em procissão para o levantamento da cruz.
Sábado, 2 de abril A frota foi para Calicute, a embarcação dos alimentos partiu para Portugal. Ambos os grumetes deixaram a nau capitânia. No balneário, aos choros, foram abandonados ambos os degredados.

Carta de batismo[editar | editar código-fonte]

Por cerca de três séculos, o mais importante e mais magnífico documento relacionado ao descobrimento do Brasil continuou desconhecido — “praticamente sequestrado”, de acordo com o historiógrafo de Portugal Jaime Cortesão — no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. O guarda-mor do arquivo, o padre José de Seabra da Silva, redescobriu esse documento em 1773. Mesmo assim, mais de meio século se passaria até a primeira edição da carta de Pero Vaz de Caminha por Manuel Aires do Casal, em sua Corografia Brasílica, publicada em 1817. No entanto, diversas partes foram retiradas pelo clérigo, que classificou esses trechos como “indecorosos”.[14]

Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I, que contou a respeito da descoberta da Ilha de Vera Cruz (Brasil).

Mesmo assim, só em 1900 — quando foram comemorados os 400 anos do descobrimento do Brasil — a carta ganharia novamente a atenção dos estudiosos. Oito anos depois, o grandioso trabalho de Capistrano de Abreu denominado Vaz de Caminha e sua carta foi lançado. Somente naquela época se mostrou plenamente o entendimento das ideias, o cheiro das imagens, a força da descrição, os detalhes da etnia e a relevância historiográfica dessa a qual pode ser descrita como a verdadeira certidão de nascimento do Brasil.[14]

No momento em que a carta de Caminha foi escrita no Porto Seguro, fazia mais de meio século que a arte de fazer o registro dos acontecimentos mais relevantes que ocorreram nas viagens por mar dos escrivães de Portugal era exercitada e afinada por eles mesmos. Entretanto, na prática, os escrivães de ofício não escreveram nenhuma dessas narrativas. Caminha estava acompanhado na esquadra cabralina com a missão de transformar-se no escrivão da futura feitoria de Calicute. Era, porém, mais que esse escrivão: era descrito como um bom escritor, homem letrado, aprimorado e inteligente, dominando plenamente sua arte. Seus conhecimentos teóricos de português eram esses: voz passiva e ativa, nominalização, alçamento de alguns verbos, mudança de verbo por advérbio, etc.[14]

O texto herdado ao futuro por Caminha não só registra minuciosa e fluentemente, o nascimento de um país, como se representa em sua mais antiga obra-prima.[14]

Mesmo assim, a Carta do Mestre Joãofísico-mor da frota cabralina — e a denominada Relação do Piloto Anônimo (editada já em 1507) permaneceram, no começo, bem mais conhecidas do que a narrativa de Caminha. Quaisquer dos documentos relacionados à mais antiga viagem ao Brasil haviam submergido, no entanto, no próprio esquecimento para o qual Cabral foi relegado, depois de sua recusa à tomada de posse da subchefia de uma nova armada a qual teria sido mandada para a Índia. Após se desempenhar na viagem de 1500, ele se achava em condições de comandar todas as missões.[14]

O terremoto, pelo qual, em 1755, foi quase completamente destruída a cidade de Lisboa, igualmente contribuiu para que a documentação desaparecesse. Por meios ainda desconhecidos, a carta de Pero Vaz iria para o Arquivo da Real Marinha do Rio de Janeiro, sem dúvida quando a família de D. João VI veio ao Brasil, em 1808. Nove anos depois, o padre Aires do Casal finalmente publicaria a carta.[14]

Pero Vaz de Caminha era portuense de nascimento desde a década de 1440. Descendente da nobreza, foi cavalheiro das casas de D. Afonso V, de D. João II e de D. Manuel. Possuía mais de 50 anos no momento de sua junção à armada cabralina. A carta a qual o eternizou chegaria a ser um de seus mais recentes atos: quando do ataque à feitoria lusitana em Calicute, a 15 de dezembro de 1500, dos mortos em conflito encontrava-se o profeta e primeiro historiador do descobrimento do Brasil.[14]

Reino do Pau Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Paubrasilia echinata
Pormenor do mapa “Terra Brasilis”, contido no Atlas Miller, publicado em 1519). Hoje pertence ao acervo bibliográfico da Biblioteca Nacional de França.

Em plena tontura indiana, com a pimenta queimando as ideias, receber-se-ia, em Lisboa, com algum tédio, a novidade de que Cabral descobriu o Brasil.[11] A nova terra não tinha especiarias e metais preciosos.[11] O desgosto e a decepção, no entanto, não teriam estado próximo da época em que chegou a nave de Gaspar de Lemos.[11] No entanto, a expedição seguinte, realizada em 1501 para que o país fosse reconhecido, teria traçado o futuro da nova terra, restringindo-a, por mais de meio século, à categoria de simples coadjuvante no enorme cenário dos descobrimentos de Portugal.[11]

Segue abaixo um trecho da carta escrita por Vespúcio, a setembro de 1504, para o magistrado florentino, Piero Soderini, voltando a dizer o que já falara para o monarca português, D. Manuel:[11]

“(…) nessa costa não vimos coisa de proveito, exceto uma infinidade de árvores de pau-brasil (…) e já tendo na viagem bem dez meses, e visto que nessa terra não encontrávamos (…) minério algum, acordamos nos despedirmos dela”

A região tornou-se uma grande propriedade de pau-brasil. Depois foi arrendada a particulares. Assim, a árvore a qual contribuiu para nomear o país passaria a se transformar igualmente no melhor símbolo botânico do Brasil — melhor que a borracha, o açúcar e o café.[11]

Linhos, sedas e algodões eram tingidos pelo pau-brasil (Caesalpinia echinata), que lhes concedia “um luxuoso matiz carmesin ou purpúreo”, a cor-símbolo dos monarcas e da nobreza. Os europeus já sabiam de uma espécie parecida, a Caesalpinia sappan, endêmica da Sumatra, a partir dos primeiros tempos da Idade Média. Entretanto, na prática, desde o século XVII, o “pau-de-tinta” do Brasil começaria a colorir qualquer pano fabricado nos Flandres e Inglaterra.[11]

Nesse tempo, a indústria de tecidos já passara a se transformar no motor que impulsionou e desenvolveu a economia da Europa.[11] Após anos de arrependimento por pecados e roupas velhas e esfarrapadas, as finuras da moda foram finalmente descobertas pelas mulheres do continente.[11] Grande comércio era aberto para as roupas que o mesocarpo da árvore realçava. Mais de cem contrabandistas de Espanha, de Inglaterra e, principalmente de França, faziam essa operação. Os traficantes espanhóis, ingleses e franceses eram os mais antigos “brasileiros” — e só eles são que realmente mereciam essa denominação.[11]

“Quanto ao meio do carregar essa mercadoria (o pau-brasil), direi que tanto por causa da dureza, e consequente dificuldade em derrubá-la, como por não existirem (...) animais para transportá-la, e ela arrastada por meio de muitos homens; e se os estrangeiros que por aí viajam não fossem ajudados pelos selvagens não poderiam sequer em um ano carregar um navio de tamanho médio. Os selvagens em troca de algumas roupas, chapéus, facas, machados (...) cortam, serram, racham, atoram e desbastam o pau-brasil, transportando-o nos ombros nus ás vezes até três léguas (de 13 a 20 quilômetros) por sítios escabrosos, até a costa junto aos navios ancorados, onde os marinheiros o recebem.”

 Viagem à Terra do Brasil, 1557

Radiografia do pau-brasil[15]
Nome científico[15] Nomes indígenas[15] Distribuição[15] Altura média de cada árvore[15] Tamanho e peso das toras[15] Para derrubar e partir cada árvore[15] Distância de onde foram trazidas[15] Árvores derrubadas[15] Quanto valia o pau-brasil[15]
Caesalpinia echinata (família Leguminosae). ibirapitanga (ou "pau vermelho" em tupi) ou arabutã. Entre o Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro. De 10 até 15 metros. Largura de 1,5 m e 30 kg. Todo o navio transportava em média 5 mil toras em direção à Europa. Por volta de 4 horas com machado feito de pedra e mais de 15 minutos com machado feito de ferro. Em 1558, foram levadas há 18 km do litoral. Em 1890, há cerca de 150 km. 7 milhões de pés. Eram cerca de 3 mil t anuais em três séculos. Um navio cheio de madeira custava sete vezes menores que um navio carregado de especiarias. Mesmo assim, seu resultado lucrava 300%.

O dono da colônia, paus e juros[editar | editar código-fonte]

Em 10 anos o Brasil possuía um proprietário. Em 1502, a Colônia foi arrendada pelo cristão-novo Fernão de Noronha, quando este fechou um contrato exclusivo para o aproveitamento de pau-brasil, diante dum consórcio de judeus convertidos. O acordo seria revalidado em três tempos. O cartel tinha como obrigações: aproveitar o pau-brasil, proteger o território contra a inveja de franceses e espanhóis, fundar uma feitoria, desbravar 900 léguas (5,9 mil km) de litoral e quitar um quinto dos ganhos para a Coroa.[11]

Em 1503, Noronha equipou sua primeira expedição, avistou a ilha a qual atualmente possui sua denominação e começou a exploração do pau-de-tinta. Noronha, ou Loronha, que era agente dos judeus germânicos Fugger, foi um armador milionário asturiano e espanhol de nascimento, que mandou armadas para a Índia e tinha uma rede de negócios, sediada em Londres.[11]

O pau-brasil foi o mais antigo monopólio estatal do país: podia ser explorado somente pela metrópole colonial portuguesa. Teria sido o mais durável dos cartéis: apenas tornou-se acessível a exploração para particulares em 1872, durante a escassez brutal das reservas. Desbravamento não constitui a palavra: o que ocorreu constitui uma derrubada, com a devastação de 7 milhões de árvores. Como se comprovando o espírito emblemático da nação, o pau-brasil seria utilizado, em setembro de 1826, para a quitação dos juros do mais antigo empréstimo para fora do Império. Cinquenta quintais (3 t) foram enviados para a Inglaterra por D. Pedro I, que se deparou com o Tesouro Nacional sem dinheiro. O imperador esperava pagar a dívida com o “pau-de-tinta”, e isso impediu uma modernização tecnológica: o preço da árvore-símbolo do Brasil foi bastante reduzido pelo surgimento da fábrica de anilinas. Pagaram-se atrasadamente os juros em notas bancárias, não em madeiras.[11]

Terra da Bem-Aventurança[editar | editar código-fonte]

Brasil exibida num mapa da Irlanda feito por Abraham Ortelius em 1572.
Ver artigos principais: Etimologia de Brasil e Ilha Brasil

O Brasil não só é chamado dessa forma devido ao pau-de-pernambuco. Embora uma relação da denominação do país com a da árvore, que existia em grande número nas terras que Cabral descobriu, fosse estabelecida pelos livros escolares e pelo conhecimento vulgar, a etimologia do topônimo é duvidosa e cheia de repetições.[16] Existem cerca de 20 explicações a respeito disso.[16] Por esse motivo, os debates aparentemente demoram para terminarem.[16] A verdade é que a antiguidade do termo é bem maior que o hábito de uso do “pau de tinta” para pintar os panos. Mais verdadeiro mesmo é que a mitologia e os mapas de antigamente, mostravam, no meio das nuvens do mar Tenebroso, que existia uma ilha fantasma nominada Hy Brazil.[16]

De um ponto de vista, “brasil” é originário da palavra francesabrésil” a qual, por seu turno, vem do termo toscano verzino, como era chamada, pelos italianos, a madeira utilizada para pintar. Em contrapartida, igualmente, é certo dizer que “brasil” tem origem no celtabress”, palavra que originou o verbo inglês to bless (abençoar), expressão que denominou a Ilha da Bem-Aventurança.[16]

Foi a inacreditável semelhança da palavra “bresail” (terra abençoada) com o vocábulo “brasil”, o qual fez surgir a confusão que foi o resultado da verdadeira origem madeireira da denominação nacional. De acordo com O Brasil na lenda e na cartografia antiga, pesquisa de Gustavo Barroso, publicada em 1941, os homens argutos do século XVI não tinham dúvida de que a origem da denominação Brasil era a ilha fantasma. “Prevaleceu, porém, a opinião do vulgo, já que eram simples marinheiros aqueles que traficavam a madeira rubra.”[16]

A denominação do pau-brasil não pode ter sido dada ao país sul-americano. Foi sem dúvida, no entanto, que a sua população foi batizada por esse nome: eram denominados de “brasileiros” os quais contrabandeavam o “pau de tinta”. Caso tivessem prevalecido as normas da gramática, os naturais do Brasil tinham que se denominar brasilienses.[16]

A ilha prometida e os nomes do Brasil[editar | editar código-fonte]

O imaginário e os mapas feitos na Europa eram povoados pela ilha do Brasil ou de São Brandão, então Brasil de São Brandão a partir do começo do século IX. De acordo com a lenda, Hy Brazil foi uma das ilhas “que se moviam”, que “ressoava os sinos em cima do mar”, que desaparecia com malícia no horizonte nebuloso assim que os marinheiros ficavam cada vez mais perto dela. Foi cenário da lenda celta Peregrinatio Sancti Brandani, que havia sido escrito em latim no século IX. Brandão, irlandês de nascimento em 460, saíra em direção ao oceano, acompanhado de 14 monges, em 565 (na idade de 105 anos, por isso) para conduzir a evangelização para terras e populações desconhecidas. Após se aventurar muito, chegaria a Hy Brazil, em que morreu com uma idade de 181 anos. A partir de 1351 até no mínimo 1721, podia-se ver a denominação Hy Brazil em globos e mapas. Antes de 1624, enviaram-se então expedições para procurá-la.[16]

O Brasil, desde o início de sua exploração, possuía nove nomes:[16]

  • Pindorama (designação dada pelos índios)
  • Ilha de Vera Cruz (1500)
  • Terra Nova (1501)
  • Terra dos Papagaios (1501)
  • Terra de Vera Cruz (1503)
  • Terra de Santa Cruz do Brasil (1505)
  • Terra do Brasil (1505)
  • Brasil (desde 1527).

Historiografia[editar | editar código-fonte]

Em termos historiográficos, a data da descoberta do Brasil variou ao longo dos séculosː[17]

  • Até 1817 - 3 de maio (cf. Gaspar Correia);
  • 1817 - 22 de abril (cf. publicação da Carta de Pero Vaz de Caminha pelo padre Manuel Aires de Casal, que a descobriu entre os documentos trazidos para o Brasil pela Família Real em 1808);
  • 1823 - José Bonifácio propôs a data de abertura da Assembleia Constituinte - 3 de maio - para coincidir com a data do Descobrimento (supostamente desconhecia a publicação de 1817);
  • Da segunda metade do século XIX até 1889, o cidadão brasileiro culto sabia que a data do descobrimento era 22 de abril, embora ela não fizesse parte dos feriados do Império;
  • 1890 - Um Decreto republicano instituía a data de 3 de maio como feriado alusivo ao descobrimento. A imprensa à época, entretanto, já considerava 22 de abril como a data correta;
  • 1930 - Um Decreto de Getúlio Vargas extinguiu o feriado de 3 de maio. Afirmou-se, a partir de então o 22 de abril.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

Referências

  1. MOTA, Avelino Teixeira da. Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina. Mare Liberum, I(1990), pp.1-27.
  2. «O caso Pacheco Pereira». PÚBLICO. Consultado em 5 de abril de 2017 
  3. «Pinzón ou Cabral: quem chegou primeiro ao Brasil?». G1. Consultado em 5 de abril de 2017 
  4. «O vulcão extinto que pode ter sido o ponto de descoberta do Brasil». EXAME. Consultado em 22 de maio de 2018 
  5. a b c d e f Bueno 2003, pp. 26–27.
  6. a b c d e f g h Bueno 2003, pp. 28–29
  7. a b Bueno 2003, p. 29.
  8. a b c d e f Bueno 2003, pp. 29–30
  9. a b c d e f g h i j k Bueno 2003, p. 30.
  10. Matos, Henrique Cristiano José (2001). Nossa História: 500 anos de presença da Igreja Católica no Brasil. São Paulo: Paulinas 
  11. a b c d e f g h i j k l m n Bueno 2003, pp. 34–35
  12. a b Bueno 2003, pp. 30–32
  13. a b Bueno 2003, p. 32
  14. a b c d e f g Bueno 2003, p. 33
  15. a b c d e f g h i j Bueno 2003, p. 35
  16. a b c d e f g h i Bueno 2003, p. 36
  17. MENDONÇA, Alexandre Ribeiro de. 22 de Abril de 1500ː Descobrimento do Brasil". inː Jornal do Exército, n.º 662, Out. 2016, pp. 38-43.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bueno, Eduardo (1997). História do Brasil: os 500 anos do país em uma obra completa, ilustrada e atualizada. São Paulo: Folha de São Paulo 
  • Bueno, Eduardo (2003). Brasil, uma história: a incrível saga de um país. 2ª ed. São Paulo: Ática 
  • Bueno, Eduardo (2012). Brasil, uma história: cinco séculos de um país em construção. Rio de Janeiro: Leya 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]