Socialismo: diferenças entre revisões

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'''Socialismo''' refere-se a qualquer uma das várias [[teoria]]s de organização econômica que advogam a administração e [[espaço público|propriedade pública]] ou [[propriedade comum|coletiva]] dos meios de produção e distribuição de [[Bem (direito)|bens]], propondo-se a construir uma [[sociedade]] caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método [[isonomia|isonômico]] de compensação.<ref name="SocialismAVeryShortIntroduction">''Newman, Michael''. (2005) ''Socialism: A Very Short Introduction'', Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6</ref> Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da [[esquerda política]], relacionadas com as atuações do [[Estado de bem-estar social]].
'''Socialismo''' refere-se a qualquer uma das várias [[teoria]]s de organização econômica que advogam a administração e [[espaço público|propriedade pública]] ou [[propriedade comum|coletiva]] dos meios de produção e distribuição de [[Bem (direito)|bens]], propondo-se a construir uma [[sociedade]] caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método [[isonomia|isonômico]] de compensação.<ref name="SocialismAVeryShortIntroduction">''Newman, Michael''. (2005) ''Socialism: A Very Short Introduction'', Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6</ref> Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da [[esquerda política]], relacionadas com as atuações do [[Estado de bem-estar social]].


O socialismo moderno surgiu no final do [[século XVIII]], tendo origem na classe [[intelectual]] e nos movimentos políticos da classe trabalhadora, que criticavam os efeitos da [[industrialização]] e da propriedade privada sobre a sociedade. [[Karl Marx]] afirmava que a [[luta de classes]] era responsável pela nossa realidade social, e que este conflito inevitavelmente resultaria no socialismo através de uma [[revolução socialista|revolução do proletariado]], tornando-se uma fase de transição do [[capitalismo]] para um novo modelo de sociedade que não seria dividido em classes sociais [[Hierarquia|hierárquicas]], num modelo essencialmente [[comunista]].<ref name="ManifestoComunista">Marx, Karl, ''Communist Manifesto, Penguin (2002)''</ref><ref>Marx, Karl, ''Critique of the Gotha Program''</ref>
O socialismo moderno surgiu no final do [[século XVIII]], tendo origem na classe [[intelectual]] e nos movimentos políticos da classe trabalhadora, que criticavam os efeitos da [[industrialização]] e da [[propriedade privada]] sobre a sociedade. [[Karl Marx]] afirmava que a [[luta de classes]] era responsável pela nossa realidade social, e que este conflito inevitavelmente resultaria no socialismo através de uma [[revolução socialista|revolução do proletariado]], tornando-se uma fase de transição do [[capitalismo]] para um novo modelo de sociedade que não seria dividido em classes sociais [[Hierarquia|hierárquicas]], num modelo essencialmente [[comunista]].<ref name="ManifestoComunista">Marx, Karl, ''Communist Manifesto, Penguin (2002)''</ref><ref>Marx, Karl, ''Critique of the Gotha Program''</ref>


A maioria dos socialistas possui a opinião de que o [[capitalismo]] concentra injustamente a riqueza e o [[poder]] nas mãos de um pequeno segmento da [[sociedade]] - denominado por Marx de [[Burguesia]] - que controla o [[Capital (economia)|capital]] e deriva a sua riqueza da exploração de outras classes sociais, criando uma sociedade desigual, que não oferece oportunidades iguais de maximização de suas potencialidades a todos.<ref>Socialism, (2009), in Encyclopædia Britannica. Retrieved October 14, 2009, from Encyclopædia Britannica Online: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551569/socialism, "Main" summary: "Socialists complain that capitalism necessarily leads to unfair and exploitative concentrations of wealth and power in the hands of the relative few who emerge victorious from free-market competition—people who then use their wealth and power to reinforce their dominance in society."</ref>
A maioria dos socialistas possui a opinião de que o [[capitalismo]] [[Concentração de renda|concentra injustamente a riqueza]] e o [[poder]] nas mãos de um pequeno segmento da [[sociedade]] - denominado por Marx de [[Burguesia]] - que controla o [[Capital (economia)|capital]] e deriva a sua riqueza da [[Exploração (socioeconomia)|exploração de outras classes sociais]], criando uma [[Desigualdade social|sociedade desigual]], que não oferece oportunidades iguais de maximização de suas potencialidades a todos.<ref>Socialism, (2009), in Encyclopædia Britannica. Retrieved October 14, 2009, from Encyclopædia Britannica Online: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551569/socialism, "Main" summary: "Socialists complain that capitalism necessarily leads to unfair and exploitative concentrations of wealth and power in the hands of the relative few who emerge victorious from free-market competition—people who then use their wealth and power to reinforce their dominance in society."</ref>


[[Friedrich Engels]], um dos fundadores da teoria socialista moderna, e o [[socialismo utópico|socialista utópico]] [[Conde de Saint-Simon|Henri de Saint Simon]] defendem a criação de uma sociedade que permita a aplicação generalizada das [[tecnologia]]s modernas de racionalização da atividade econômica, eliminando o caos na produção do capitalismo.<ref>[http://www.marxists.org/archive/marx/works/1880/soc-utop/ch03.htm Socialism: Utopian and Scientific] at Marxists.org</ref><ref>{{citar livro| url= http://books.google.com/books?id=6avaAAAAMAAJ&pg=PA47&dq=Socialism:+Utopian+and+Scientific#v=onepage&q=anarchy&f=false |autor = [[Frederick Engels]] |título= Socialism: Utopian and Scientific |página= 92-11}}Chapter III: Historical Materialism</ref> Isto permitiria que a riqueza e o poder fossem distribuídos com base na quantidade de trabalho despendido na produção, embora não haja concordância entre os socialistas sobre como e em que medida isso poderia ser alcançado.
[[Friedrich Engels]], um dos fundadores da teoria socialista moderna, e o [[socialismo utópico|socialista utópico]] [[Conde de Saint-Simon|Henri de Saint Simon]] defendem a criação de uma sociedade que permita a aplicação generalizada das [[tecnologia]]s modernas de racionalização da atividade econômica, eliminando o caos na produção do capitalismo.<ref>[http://www.marxists.org/archive/marx/works/1880/soc-utop/ch03.htm Socialism: Utopian and Scientific] at Marxists.org</ref><ref>{{citar livro| url= http://books.google.com/books?id=6avaAAAAMAAJ&pg=PA47&dq=Socialism:+Utopian+and+Scientific#v=onepage&q=anarchy&f=false |autor = [[Frederick Engels]] |título= Socialism: Utopian and Scientific |página= 92-11}}Chapter III: Historical Materialism</ref> Isto permitiria que a riqueza e o poder fossem distribuídos com base na quantidade de [[trabalho (economia)|trabalho]] despendido na produção, embora não haja concordância entre os socialistas sobre como e em que medida isso poderia ser alcançado.


O socialismo não é uma filosofia de doutrina e programa fixos; seus ramos defendem um certo grau de [[Intervencionismo (economia)|intervencionismo social]] e racionalização econômica (geralmente sob a forma de [[Economia planificada|planejamento econômico]]), às vezes opostas entre si, como o [[Socialismo estatal|socialismo de estado]] e o [[socialismo libertário]]. Uma característica da divisão do movimento socialista é entre os [[Reformismo|reformistas]], chamados de [[Socialismo democrático|socialistas democráticos]], e [[Socialismo revolucionário|revolucionários]] sobre como uma economia socialista deveria ser estabelecida. Alguns socialistas defendem a [[nacionalização]] completa dos [[meios de produção]], distribuição e troca, outros defendem o controle estatal do capital no âmbito de uma [[economia de mercado]].
O socialismo não é uma filosofia de doutrina e programa fixos; seus ramos defendem um certo grau de [[Intervencionismo (economia)|intervencionismo social]] e racionalização econômica (geralmente sob a forma de [[Economia planificada|planejamento econômico]]), às vezes opostas entre si, como o [[Socialismo estatal|socialismo de estado]] e o [[socialismo libertário]]. Uma característica da divisão do movimento socialista é entre os [[Reformismo|reformistas]], chamados de [[Socialismo democrático|socialistas democráticos]], e [[Socialismo revolucionário|revolucionários]] sobre como uma economia socialista deveria ser estabelecida. Alguns socialistas defendem a [[nacionalização]] completa dos [[meios de produção]], distribuição e [[troca]], outros defendem o controle estatal do capital no âmbito de uma [[economia de mercado]].
== História ==
== História ==
Os [[Socialismo utópico|socialistas utópicos]], incluindo [[Robert Owen]] ([[1771]]-[[1858]]), tentaram encontrar formas de criar comunas autossustentáveis por secessão de uma sociedade capitalista. [[Conde de Saint-Simon|Henri de Saint Simon]] ([[1760]]-[[1825]]), o primeiro a utilizar o termo ''socialismo'', foi o pensador original que defendeu a [[tecnocracia]] e o planejamento industrial. Os primeiros socialistas previram um mundo melhor, através da mobilização de tecnologia e combinando-a com uma melhor organização social. Os primeiros pensadores socialistas tenderam a favorecer uma autêntica [[meritocracia]] combinada com planejamento social racional, enquanto muitos socialistas modernos têm uma abordagem mais [[igualitarismo|igualitária]].
Os [[Socialismo utópico|socialistas utópicos]], incluindo [[Robert Owen]] ([[1771]]-[[1858]]), tentaram encontrar formas de criar comunas autossustentáveis por secessão de uma sociedade capitalista. [[Conde de Saint-Simon|Henri de Saint Simon]] ([[1760]]-[[1825]]), o primeiro a utilizar o termo ''socialismo'', foi o pensador original que defendeu a [[tecnocracia]] e o planejamento industrial. Os primeiros socialistas previram um mundo melhor, através da mobilização de [[tecnologia]] e combinando-a com uma melhor organização social. Os primeiros pensadores socialistas tenderam a favorecer uma autêntica [[meritocracia]] combinada com planejamento social racional, enquanto muitos socialistas modernos têm uma abordagem mais [[igualitarismo|igualitária]].


[[Lenin|Vladimir Lenin]], com base em ideias de [[Karl Marx]] de "baixa" e "alta" fases do socialismo,<ref>Lenin refers specifically to Marx's ''Critique of the Gotha Program'' in his 1917 book ''State and Revolution''</ref> definiu o "socialismo" como uma fase de transição entre o [[capitalismo]] e o [[comunismo]].<ref>"In striving for socialism, however, we are convinced that it will develop into communism", Lenin, ''State and Revolution'', Selected Works, Progress publishers, Moscow, 1968, p. 320. (End of chapter four)</ref>
[[Lenin|Vladimir Lenin]], com base em ideias de [[Karl Marx]] de "baixa" e "alta" fases do socialismo,<ref>Lenin refers specifically to Marx's ''Critique of the Gotha Program'' in his 1917 book ''State and Revolution''</ref> definiu o "socialismo" como uma fase de transição entre o [[capitalismo]] e o [[comunismo]].<ref>"In striving for socialism, however, we are convinced that it will develop into communism", Lenin, ''State and Revolution'', Selected Works, Progress publishers, Moscow, 1968, p. 320. (End of chapter four)</ref>


Socialistas inspirados no modelo [[União Soviética|soviético]] de [[desenvolvimento econômico]] têm defendido a criação de economias de planejamento central dirigido por um [[Estado]] que controla todos os meios de produção. [[Social-democracia|Sociais-democratas]] propõem a nacionalização seletiva das principais indústrias nacionais nas [[Economia mista|economias mistas]], mantendo a [[propriedade privada]] do capital da empresa e de [[empresa privada|empresas privadas]]. Sociais-democratas também promovem programas sociais financiados pelos [[imposto]]s, bem como regulação dos mercados. Muitos democratas sociais, especialmente nos [[Estado de bem-estar social|estados de bem-estar]] [[Europa|europeus]], referem-se a si mesmos como socialistas. O [[socialismo libertário]] (incluindo o [[anarquismo social]] e o [[marxismo libertário]]) rejeita o controle estatal e de propriedade da economia e defende a propriedade coletiva direta dos meios de produção através de conselhos cooperativos de trabalhadores e da [[democracia]] no local de trabalho. O [[socialismo de mercado]] também busca uma economia com a ascensão da propriedade social dos meios de produção ([[Cooperativismo|cooperativas]]) mas, quando não [[mutualismo (movimento)|mutualista]], favorece a existência de um Estado administrador, mas não proprietário da atividade econômica, com exceção de setores estratégicos.{{carece de fontes|data=junho de 2017}}
Socialistas inspirados no modelo [[União Soviética|soviético]] de [[desenvolvimento econômico]] têm defendido a criação de economias de planejamento central dirigido por um [[Estado]] que controla todos os meios de produção. [[Social-democracia|Sociais-democratas]] propõem a nacionalização seletiva das principais indústrias nacionais nas [[Economia mista|economias mistas]], mantendo a [[propriedade privada]] do [[capital (economia)|capital]] da empresa e de [[empresa privada|empresas privadas]]. Sociais-democratas também promovem programas sociais financiados pelos [[imposto]]s, bem como [[Regulação econômica|regulação dos mercados]]. Muitos democratas sociais, especialmente nos [[Estado de bem-estar social|estados de bem-estar]] [[Europa|europeus]], referem-se a si mesmos como socialistas. O [[socialismo libertário]] (incluindo o [[anarquismo social]] e o [[marxismo libertário]]) rejeita o controle estatal e de propriedade da economia e defende a propriedade coletiva direta dos meios de produção através de conselhos cooperativos de trabalhadores e da [[democracia]] no local de trabalho. O [[socialismo de mercado]] também busca uma economia com a ascensão da propriedade social dos meios de produção ([[Cooperativismo|cooperativas]]) mas, quando não [[mutualismo (movimento)|mutualista]], favorece a existência de um Estado administrador, mas não proprietário da atividade econômica, com exceção de setores estratégicos.{{carece de fontes|data=junho de 2017}}
== Tipos de Socialismo ==
== Tipos de Socialismo ==
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{{Artigo principal|Socialismo utópico}}
{{Artigo principal|Socialismo utópico}}
[[Imagem:Robert Owen statue - Manchester - April 11 2005.jpg|esquerda|thumb|180px|Estátua de Robert Owen em [[Manchester]].]]
[[Imagem:Robert Owen statue - Manchester - April 11 2005.jpg|esquerda|thumb|180px|Estátua de Robert Owen em [[Manchester]].]]
A reação operária aos efeitos da [[Revolução Industrial]] fez surgir críticos ao progresso industrial que propunham reformulações sociais e a construção de uma sociedade mais justa.<ref name="Vic">Vincentino, Cláudio. ''História para o ensino médio''. pp. 342-346. [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]: Scipione, 2001. ISBN 85-262-3789-6.</ref> Os primeiros socialistas, ao formularem profundas críticas ao progresso industrial, ainda estavam impregnados de [[Valor (ética)|valores]] [[liberalismo|liberais]].<ref name="Vic" /> Atacavam os grandes proprietários, mas tinham, em geral, muita estima pelos pequenos, acreditando ser possível haver um acordo entre as classes sociais.<ref name="Vic" /> Elaboraram soluções que não chegaram, porém, a constituir uma [[doutrina]], e sim modelos [[idealismo|idealizados]], sendo por isso chamados de [[utopia|utópicos]].<ref name="Vic" />
A reação operária aos efeitos da [[Revolução Industrial]] fez surgir críticos ao progresso industrial que propunham reformulações sociais e a construção de uma sociedade mais justa.<ref name="Vic">Vincentino, Cláudio. ''História para o ensino médio''. pp. 342-346. [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]: Scipione, 2001. ISBN 85-262-3789-6.</ref> Os primeiros socialistas, ao formularem profundas críticas ao progresso industrial, ainda estavam impregnados de [[Valor (ética)|valores]] [[liberalismo|liberais]].<ref name="Vic" /> Atacavam os grandes proprietários, mas tinham, em geral, muita estima pelos pequenos, acreditando ser possível haver um acordo entre as [[Classe social|classes sociais]].<ref name="Vic" /> Elaboraram soluções que não chegaram, porém, a constituir uma [[doutrina]], e sim modelos [[idealismo|idealizados]], sendo por isso chamados de [[utopia|utópicos]].<ref name="Vic" />


Um dos principais teóricos dessa fase inicial do socialismo era o conde francês [[Conde de Saint-Simon|Claude de Saint-Simon]], que havia aderido à [[Revolução Francesa|revolução de 1789]].<ref name="Vic" /> Um [[racionalismo|racionalista]], como a maioria de seus contemporâneos, propôs, em ''Cartas de um habitante de Genebra'' (1802), a formação de uma sociedade em que não haveria [[ócio|ociosos]] (como ele considerava os [[militar]]es, os [[clero|religioso]]s, os [[nobreza|nobre]]s e os [[magistrado]]s) nem a exploração econômica de grupos de indivíduos por outros.<ref name="Vic" /> Propôs, ainda, a divisão da sociedade em três classes: os sábios, os proprietários e os que não tinham [[Posse (direito)|posses]].<ref name="Vic" /> O governo seria exercido por um conselho formado por sábios e artistas.<ref name="Vic" />
Um dos principais teóricos dessa fase inicial do socialismo era o conde francês [[Conde de Saint-Simon|Claude de Saint-Simon]], que havia aderido à [[Revolução Francesa|revolução de 1789]].<ref name="Vic" /> Um [[racionalismo|racionalista]], como a maioria de seus contemporâneos, propôs, em ''Cartas de um habitante de Genebra'' (1802), a formação de uma [[sociedade]] em que não haveria [[ócio|ociosos]] (como ele considerava os [[militar]]es, os [[clero|religioso]]s, os [[nobreza|nobre]]s e os [[magistrado]]s) nem a [[Exploração (socioeconomia)|exploração econômica]] de grupos de indivíduos por outros.<ref name="Vic" /> Propôs, ainda, a divisão da sociedade em três classes: os [[sábio]]s, os proprietários e os que não tinham [[Posse (direito)|posses]].<ref name="Vic" /> O governo seria exercido por um conselho formado por sábios e [[artista]]s.<ref name="Vic" />


Outro teórico da fase inicial do socialismo foi o francês [[Charles Fourier]], que, ao lado de [[Pierre Leroux]], teria sido um dos primeiros a utilizar a palavra "socialismo".<ref>Oxford English Dictionary, etymology of socialism</ref><ref name="Russell, Bertrand 1972 p. 781">Russell, Bertrand (1972). A History of Western Philosophy. Touchstone. p. 781</ref> Filho de comerciantes, era herdeiro da ideia de [[Jean-Jacques Rousseau]] de que [[Bom selvagem|o homem é naturalmente bom, mas a sociedade e as instituições o pervertem]].<ref name="Vic" /> Acreditava ser possível reorganizar a sociedade a partir da criação de [[falanstério]]s, fazendas coletivas agroindustriais. Nunca conseguiu o apoio de [[empresário]]s para levar o projeto adiante, apesar de alegar que os falanstérios superariam a desarmonia capitalista, surgida da [[divisão do trabalho]] e do papel anárquico exercido pelo [[comércio]] na sociedade.<ref name="Vic" /> Após sua morte, alguns falanstérios surgiram no continente americano, como os de [[La Réunion (falanstério)|Réunion]] e da [[Falange Norteamericana (falanstério)|Falange Norte-americana]] nos Estados Unidos e o do [[Falanstério do Saí|Saí]] no Brasil.
Outro teórico da fase inicial do socialismo foi o francês [[Charles Fourier]], que, ao lado de [[Pierre Leroux]], teria sido um dos primeiros a utilizar a palavra "socialismo".<ref>Oxford English Dictionary, etymology of socialism</ref><ref name="Russell, Bertrand 1972 p. 781">Russell, Bertrand (1972). A History of Western Philosophy. Touchstone. p. 781</ref> Filho de comerciantes, era herdeiro da ideia de [[Jean-Jacques Rousseau]] de que [[Bom selvagem|o homem é naturalmente bom, mas a sociedade e as instituições o pervertem]].<ref name="Vic" /> Acreditava ser possível reorganizar a sociedade a partir da criação de [[falanstério]]s, fazendas coletivas agroindustriais. Nunca conseguiu o apoio de [[empresário]]s para levar o projeto adiante, apesar de alegar que os falanstérios superariam a desarmonia capitalista, surgida da [[divisão do trabalho]] e do papel anárquico exercido pelo [[comércio]] na sociedade.<ref name="Vic" /> Após sua morte, alguns falanstérios surgiram no [[continente americano]], como os de [[La Réunion (falanstério)|Réunion]] e da [[Falange Norteamericana (falanstério)|Falange Norte-americana]] nos [[Estados Unidos]] e o do [[Falanstério do Saí|Saí]] no [[Brasil]].


A expressão "socialismo" foi consagrada por [[Robert Owen]] na [[Anglofonia|anglosfera]] a partir de 1834.<ref name="Russell, Bertrand 1972 p. 781"/> Jovem administrador de uma fábrica de algodão em [[Manchester]], observou de perto as condições desumanas de trabalho e se revoltou com as perspectivas do desenvolvimento industrial.<ref name="Vic" /> Defendendo a impossibilidade de se formar um ser humano superior no interior de um sistema [[egoísmo|egoísta]] e explorador como o capitalismo, buscou a criação de uma comunidade ideal, de [[igualdade]] absoluta.<ref name="Vic" /> Na [[Escócia]], onde assumiu o controle de algumas fábricas de algodão em [[New Lanark]] por 25 anos, Owen chegou a aplicar suas ideias, implantando uma comunidade de alto padrão, na qual as pessoas trabalhavam dez horas por dia e tinha acesso a instrução de alto nível.<ref name="Vic" /> O sucesso da cooperativa e suas críticas à propriedade privada e à religião, no entanto, levaram Owen a abandonar a Grã-Bretanha e se refugiar nos [[Estados Unidos]], onde fundou a comunidade de [[Nova Harmonia|New Harmony]] no estado da [[Indiana]].<ref name="Vic" /> Após presenciar, em seu retorno ao Reino Unido, a [[falência]] de suas cooperativas, dedicou-se, no fim da vida, à organização de [[sindicato]]s.<ref name="Vic" />
A expressão "socialismo" foi consagrada por [[Robert Owen]] na [[Anglofonia|anglosfera]] a partir de 1834.<ref name="Russell, Bertrand 1972 p. 781"/> Jovem administrador de uma fábrica de algodão em [[Manchester]], observou de perto as condições desumanas de trabalho e se revoltou com as perspectivas do desenvolvimento industrial.<ref name="Vic" /> Defendendo a impossibilidade de se formar um [[Novo Homem|ser humano superior]] no interior de um sistema [[egoísmo|egoísta]] e explorador como o capitalismo, buscou a criação de uma comunidade ideal, de [[igualdade]] absoluta.<ref name="Vic" /> Na [[Escócia]], onde assumiu o controle de algumas fábricas de algodão em [[New Lanark]] por 25 anos, Owen chegou a aplicar suas ideias, implantando uma comunidade de alto padrão, na qual as pessoas trabalhavam dez horas por dia e tinham acesso a instrução de alto nível.<ref name="Vic" /> O sucesso da [[cooperativa]] e suas críticas à propriedade privada e à [[religião]], no entanto, levaram Owen a abandonar a [[Grã-Bretanha]] e se refugiar nos Estados Unidos, onde fundou a comunidade de [[Nova Harmonia|New Harmony]] no estado da [[Indiana]].<ref name="Vic" /> Após presenciar, em seu retorno ao [[Reino Unido]], a [[falência]] de suas cooperativas, dedicou-se, no fim da vida, à organização de [[sindicato]]s.<ref name="Vic" />


=== Socialismo científico ===
=== Socialismo científico ===
{{Artigo principal|Socialismo científico}}
{{Artigo principal|Socialismo científico}}
Paralelamente às propostas do socialismo utópico, surgiu o socialismo científico, cujos teóricos propunham compreender a realidade e transformá-la mediante a análise dos mecanismos econômicos e sociais do capitalismo, constituindo, assim, uma proposta revolucionária do [[proletariado]].<ref name="Vic" /> Daí se origina o termo "científico", uma vez que seus teóricos se baseavam numa análise [[história|histórica]] e [[filosofia|filosófica]] da sociedade, e não apenas nos ideais de [[justiça social]].<ref name="Cot">[[Gilberto Cotrim|COTRIM, Gilberto]]. ''História Global''. 5ª edição. pp. 240–241. [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]: [[Livraria Saraiva|Editora Saraiva]], 1999. ISBN 85-02-02449-3.</ref>
Paralelamente às propostas do socialismo utópico, surgiu o socialismo científico, cujos teóricos propunham compreender a realidade e transformá-la mediante a análise dos mecanismos econômicos e sociais do [[capitalismo]], constituindo, assim, uma proposta revolucionária do [[proletariado]].<ref name="Vic" /> Daí se origina o termo "científico", uma vez que seus teóricos se baseavam numa [[análise macro-histórica]] e [[Filosofia analítica|filosófica]] da sociedade, e não apenas nos ideais de [[justiça social]].<ref name="Cot">[[Gilberto Cotrim|COTRIM, Gilberto]]. ''História Global''. 5ª edição. pp. 240–241. [[São Paulo (cidade)|São Paulo]]: [[Livraria Saraiva|Editora Saraiva]], 1999. ISBN 85-02-02449-3.</ref>


O maior teórico dessa corrente foi o filósofo e economista alemão [[Karl Marx]], que contou com a contribuição do compatriota [[Friedrich Engels]] em muitas de suas obras.<ref name="Vic" /> No [[Manifesto Comunista]] (1848), Marx e Engels esboçaram as proposições do socialismo científico, que seriam definidas de forma completa em ''[[O Capital]]'', obra mais conhecida de Marx, que causaria uma verdadeira revolução na economia e nas [[ciências sociais]].<ref name="Vic" /> Entre os princípios expostos na obra, destacam-se uma interpretação socioeconômica da história, conhecida como [[materialismo histórico]], os conceitos de [[luta de classes]], de [[mais-valia]] e de [[revolução socialista]].<ref name="Vic" />
O maior teórico dessa corrente foi o filósofo e economista alemão [[Karl Marx]], que contou com a contribuição do compatriota [[Friedrich Engels]] em muitas de suas obras.<ref name="Vic" /> No [[Manifesto Comunista]] (1848), Marx e Engels esboçaram as proposições do socialismo científico, que seriam definidas de forma completa em ''[[O Capital]]'', obra mais conhecida de Marx, que causaria uma verdadeira revolução na economia e nas [[ciências sociais]].<ref name="Vic" /> Entre os princípios expostos na obra, destacam-se uma interpretação socioeconômica da história, conhecida como [[materialismo histórico]], os conceitos de [[luta de classes]], de [[mais-valia]] e de [[revolução socialista]].<ref name="Vic" />


Segundo o materialismo histórico, toda sociedade é determinada, em última instância, por suas condições socioeconômicas, chamada de "[[Infraestrutura e superestrutura|infraestrutura]]".<ref name="Vic" /> Adaptadas a ela, as [[instituição|instituições]], a [[política]], a [[ideologia]] e a [[cultura]] como um todo compõem o que Marx chamou de "[[Infraestrutura e superestrutura|superestrutura]]".<ref name="Vic" /> Um exemplo claro da relação entre essas estruturas é a [[Revolução Francesa]]: naquele momento, era necessário transformar a ultrapassada ordem político-jurídica do [[Antigo Regime]] (a "superestrutura") para manter a "infraestrutura" vigente.<ref name="Vic" />
Segundo o materialismo histórico, toda sociedade é determinada, em última instância, por suas condições socioeconômicas, chamadas de "infra" e "superestrutura".<ref name="Vic" /> Adaptadas a ela, as [[instituição|instituições]], a [[política]], a [[ideologia]] e a [[cultura]] como um todo compõem o que Marx chamou de "[[infraestrutura e superestrutura]]".<ref name="Vic" /> Um exemplo claro da relação entre essas estruturas é a [[Revolução Francesa]]: naquele momento, era necessário transformar a ultrapassada ordem político-jurídica do [[Antigo Regime]] (a "superestrutura") para manter a "infraestrutura" vigente.<ref name="Vic" />


A [[luta de classes]], na análise marxista, é o agente capaz de transformar a sociedade.<ref name="Vic" /> O antagonismo entre dominadores e dominados induz às lutas e às transformações sociais.<ref name="Vic" /> Em termos sociais, se trata do motor da história humana, só terminando com o aparecimento da sociedade comunista perfeita, onde desapareceriam a exploração de classes e as injustiças sociais.<ref name="Cot" /> Já o conceito de [[mais-valia]] corresponde ao valor não remunerado do trabalho do operário, que é apropriado pelos capitalistas.<ref name="Vic" /><ref name="Cot" />
A [[luta de classes]], na análise marxista, é o agente capaz de transformar a sociedade.<ref name="Vic" /> Segundo [[Karl Kautsky]], "''se a natureza humana é contra o socialismo, então a natureza humana terá de ser mudada.''"<ref name="Marxismo e a Manipulação do Homem">[http://www.libertarianismo.org.br/marxismo-e-a-manipulacao-do-homem/ Libertarianismo] - ''Marxismo e a Manipulação do Homem.'' [[Ludwig von Mises]]. Acessado em 28/10/2017.</ref> <ref name="Foundation for Economic Education">[[Foundation for Economic Education]] - [https://admin.fee.org/files/doclib/20130703_marxismunmasked.pdf ''Marxism Unmasked: From Delusion to Destruction.''] págs. 55 e 61. (5TH LECTURE. "Marxism and the Manipulation of Man.") {{en}} Acessado em 28/10/2017.</ref> O antagonismo entre dominadores e dominados induz às lutas e às transformações sociais.<ref name="Vic" /> Em termos sociais, se trata do motor da [[história humana]], só terminando com o aparecimento da sociedade comunista perfeita, onde desapareceriam a [[exploração (socioeconomia)|exploração]] de classes e as injustiças sociais.<ref name="Cot" /> Já o conceito de [[mais-valia]] corresponde ao valor não remunerado do trabalho do operário, que é apropriado pelos capitalistas.<ref name="Vic" /><ref name="Cot" />


Contra a ordem estabelecida pela sociedade [[burguesia|burguesa]], Marx considerava inevitável a ação política do operariado organizado, a revolução socialista, que iria inaugurar a construção de uma nova [[sociedade]].<ref name="Vic" /> Num primeiro momento, o controle do Estado ficaria na mão da [[ditadura do proletariado]], quando ocorreria a socialização dos [[meios de produção]] através da eliminação da [[propriedade privada]].<ref name="Vic" /> Numa etapa posterior, a meta seria o comunismo perfeito, onde todas as desigualdades sociais e econômicas, além do próprio Estado, acabariam.<ref name="Vic" />
Contra a ordem estabelecida pela sociedade [[burguesia|burguesa]], Marx considerava inevitável a ação política do operariado organizado, a revolução socialista, que iria inaugurar a construção de uma nova [[sociedade]].<ref name="Vic" /> Num primeiro momento, o controle do Estado ficaria na mão da [[ditadura do proletariado]], quando ocorreria a socialização dos [[meios de produção]] através da eliminação da [[propriedade privada]].<ref name="Vic" /> Numa etapa posterior, a meta seria o comunismo perfeito, onde todas as [[Desigualdade social|desigualdades sociais]] [[Desigualdade econômica|e econômicas]], além do próprio Estado, acabariam.<ref name="Vic" />
=== Anarquismo ===
=== Anarquismo ===
{{Artigo principal|Anarquismo}}
{{Artigo principal|Anarquismo}}
[[Imagem:Portrait Pierre-Joseph Proudhon.jpg|thumb|180px|Pierre-Joseph Proudhon, primeiro anarquista autoproclamado do mundo.]]
[[Imagem:Portrait Pierre-Joseph Proudhon.jpg|thumb|180px|Pierre-Joseph Proudhon, primeiro anarquista autoproclamado do mundo.]]
Outra corrente socialista surgida no século XIX foi o [[anarquismo]].<ref name="Vic" /> Pregava a supressão de toda e qualquer forma de governo, defendendo a [[liberdade]] de forma geral.<ref name="Vic" /> O principal precursor desta doutrina é [[Pierre-Joseph Proudhon]], que se vale dos pressupostos do socialismo utópico (sendo considerado um socialista utópico por alguns historiadores<ref name="Cot" />) para criticar os abusos do capitalismo em sua obra ''[[O que é a propriedade?]]'' (1840). Respeita a pequena propriedade e propõe a criação de cooperativas e de bancos que concedessem [[empréstimo]]s a [[juro]]s zero aos empreendimentos produtivos, além de [[crédito]] gratuito aos trabalhadores.<ref name="Cot" /> Proudhon foi o primeiro anarquista autoproclamado, apesar de ser considerado um socialista utópico pelos marxistas, rótulo que jamais aceitou.
Outra corrente socialista surgida no [[século XIX]] foi o [[anarquismo]].<ref name="Vic" /> Pregava a supressão de toda e qualquer forma de governo, defendendo a [[liberdade]] de forma geral.<ref name="Vic" /> O principal precursor desta doutrina é [[Pierre-Joseph Proudhon]], que se vale dos pressupostos do socialismo utópico (sendo considerado um socialista utópico por alguns historiadores<ref name="Cot" />) para criticar os abusos do capitalismo em sua obra ''[[O que é a propriedade?]]'' (1840). Respeita a pequena propriedade e propõe a criação de cooperativas e de [[banco]]s que concedessem [[empréstimo]]s a [[juro]]s zero aos empreendimentos produtivos, além de [[crédito]] gratuito aos trabalhadores.<ref name="Cot" /> Proudhon foi o primeiro anarquista autoproclamado, apesar de ser considerado um socialista utópico pelos marxistas, rótulo que jamais aceitou.


Ao propor a criação de uma sociedade sem classes, sem exploração, sem Estado, formada por homens livres e iguais, Proudhon inaugurou o anarquismo.<ref name="Vic" /> Ele propunha a destruição dos Estados nacionais e sua substituição pelas "[[república]]s de pequenos proprietários".<ref name="Vic" /> Suas propostas inspiraram, principalmente, o teórico russo [[Mikhail Bakunin]], que se tornou líder do chamado "anarquismo [[terrorismo|terrorista]]".<ref name="Vic" /> Defendia que a violência era a única forma de se alcançar uma sociedade livre de Estados e de desigualdades, um mundo de felicidades e liberdades para os operários.<ref name="Vic" />
Ao propor a criação de uma [[sociedade sem classes]], sem [[exploração (socioeconomia)|exploração]], sem Estado, formada por homens livres e iguais, Proudhon inaugurou o anarquismo.<ref name="Vic" /> Ele propunha a destruição dos Estados nacionais e sua substituição pelas "[[república]]s de pequenos proprietários".<ref name="Vic" /> Suas propostas inspiraram, principalmente, o teórico russo [[Mikhail Bakunin]], que se tornou líder do chamado "anarquismo [[terrorismo|terrorista]]".<ref name="Vic" /> Defendia que a violência era a única forma de se alcançar uma sociedade livre de Estados e de desigualdades, um mundo de felicidades e liberdades para os operários.<ref name="Vic" />


O anarquismo, também conhecido como "comunismo libertário", e o socialismo científico de Marx coincidem quanto ao objetivo final: atingir o comunismo, estágio em que não existem mais divisões de classes, exploração, e nem mesmo o Estado.<ref name="Vic" /> Entretanto, para os marxistas, antes dessa meta, faz-se necessária uma fase intermediária, a ditadura do proletariado.<ref name="Vic" /> Já na concepção dos anarquistas, as classes, as instituições e as [[tradição|tradições]] devem ser erradicadas imediatamente, tendo, como finalidade, a aniquilação do Estado.<ref name="Vic" /> As críticas mútuas entre anarquistas e marxistas levaram a uma convivência de choques e divergências, comprovada pelas rivalidades que ocorreram posteriormente nos países onde ambas as facções coexistiram na luta contra a ordem estabelecida,<ref name="Vic" /> tais como na [[Império Russo|Rússia]] após a [[Revolução Russa de 1917|Revolução]] e na [[Segunda República Espanhola|Espanha]] durante a [[Guerra Civil Espanhola|Guerra Civil]].
O anarquismo, também conhecido como "[[comunismo libertário]]", e o socialismo científico de Marx coincidem quanto ao objetivo final: atingir o comunismo, estágio em que não existem mais divisões de classes, exploração, e nem mesmo o Estado.<ref name="Vic" /> Entretanto, para os marxistas, antes dessa meta, faz-se necessária uma fase intermediária, a ditadura do proletariado.<ref name="Vic" /> Já na concepção dos anarquistas, as classes, as instituições e as [[tradição|tradições]] devem ser erradicadas imediatamente, tendo, como finalidade, a aniquilação do Estado.<ref name="Vic" /> As críticas mútuas entre anarquistas e marxistas levaram a uma convivência de choques e divergências, comprovada pelas rivalidades que ocorreram posteriormente nos países onde ambas as facções coexistiram na luta contra a ordem estabelecida,<ref name="Vic" /> tais como na [[Império Russo|Rússia]] após a [[Revolução Russa de 1917|Revolução]] e na [[Segunda República Espanhola|Espanha]] durante a [[Guerra Civil Espanhola|Guerra Civil]].


=== Socialismo cristão ===
=== Socialismo cristão ===
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Durante a [[Revolução Industrial]], uma série de teóricos cristãos, como [[Félicité Robert de Lamennais|Robert Lamennais]], [[Adolph Wagner]] e [[J. D. Maurice]], entre outros, lançaram apelos às [[Classe dominante|classes dominantes]] para que aliviassem os sofrimentos das classes trabalhadoras.<ref name="Cot" /> Nasceu, dessa forma, o socialismo cristão, uma tentativa de aplicar os ensinamentos de [[Cristo]] sobre amor e de respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização.<ref name="Cot" /> A grande mobilização operária levou a cúpula da [[Igreja Católica]] a definir oficialmente seu papel nos novos problemas sociais.<ref name="Vic" />
Durante a [[Revolução Industrial]], uma série de teóricos cristãos, como [[Félicité Robert de Lamennais|Robert Lamennais]], [[Adolph Wagner]] e [[J. D. Maurice]], entre outros, lançaram apelos às [[Classe dominante|classes dominantes]] para que aliviassem os sofrimentos das classes trabalhadoras.<ref name="Cot" /> Nasceu, dessa forma, o socialismo cristão, uma tentativa de aplicar os ensinamentos de [[Cristo]] sobre amor e de respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização.<ref name="Cot" /> A grande mobilização operária levou a cúpula da [[Igreja Católica]] a definir oficialmente seu papel nos novos problemas sociais.<ref name="Vic" />


Em 1891, o [[papa Leão XIII]] lançou a encíclica ''[[Rerum Novarum]]'', em que expunha o [[Doutrina Social da Igreja|pensamento social]] do [[catolicismo]].<ref name="Cot" /> Nela, reavivava o papel da Igreja como instrumento de reforma e justiça social.<ref name="Vic" /> Reconhecia o direito à propriedade privada e rejeitava o fortemente [[ateísmo|ateu]] socialismo científico de Marx,<ref name="Vic" /> mas condenava a ganância capitalista e a exploração desumana da força de trabalho.<ref name="Cot" /> O papa propunha que os empregadores reconhecessem os direitos fundamentais dos proletários, como a limitação da [[jornada de trabalho]], o descanso aos [[Fim de semana|fins de semana]], o estabelecimento de [[salário]]s dignos, as [[férias]] remuneradas, entre outros.<ref name="Cot" /> A encíclica recomendava também a intervenção do Estado no mercado privado a fim de melhorar as condições de vida dos trabalhadores nos setores da habitação e da saúde.<ref name="Cot" />
Em 1891, o [[papa Leão XIII]] lançou a encíclica ''[[Rerum Novarum]]'', em que expunha o [[Doutrina Social da Igreja|pensamento social]] do [[catolicismo]].<ref name="Cot" /> Nela, reavivava o papel da Igreja como instrumento de reforma e justiça social.<ref name="Vic" /> Reconhecia o direito à propriedade privada e rejeitava o fortemente [[ateísmo|ateu]] socialismo científico de Marx,<ref name="Vic" /> mas condenava a ganância capitalista e a exploração desumana da força de trabalho.<ref name="Cot" /> O papa propunha que os empregadores reconhecessem os direitos fundamentais dos [[proletário]]s, como a limitação da [[jornada de trabalho]], o descanso aos [[Fim de semana|fins de semana]], o estabelecimento de [[salário]]s dignos, as [[férias]] remuneradas, entre outros.<ref name="Cot" /> A encíclica recomendava também a intervenção do Estado no mercado privado a fim de melhorar as condições de vida dos trabalhadores nos setores da habitação e da saúde.<ref name="Cot" />


Após a publicação dessa encíclica, a Igreja não mais se desligou da questão social e de suas concepções políticas, caráter reforçado sobretudo após o [[concílio Vaticano II]] (1962-1965).<ref name="Vic" />
Após a publicação dessa encíclica, a Igreja não mais se desligou da questão social e de suas concepções políticas, caráter reforçado sobretudo após o [[concílio Vaticano II]] (1962-1965).<ref name="Vic" />
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As diferentes [[teoria]]s socialistas surgiram como reação ao quadro de desigualdade, opressão e exploração que enxergavam na sociedade capitalista do [[século XIX]], e tinham a proposta de buscar uma nova [[harmonia]] social por meio de drásticas mudanças, como a transferência dos meios de produção das classes proprietárias para os trabalhadores. Uma consequência dessa transformação seria o fim do trabalho assalariado e a substituição do mercado por uma gestão socializada ou planejada, com o objetivo de distribuir a [[Economia|produção econômica]] e todo tipo de serviço segundo as necessidades da população. O comunismo seria a última fase, onde as pessoas já estivessem tão acostumadas a viver nesse tipo de sociedade que não exigiriam ter mais do que o vizinho. Tais mudanças exigiriam necessariamente uma transformação radical do sistema político. Alguns teóricos postularam a revolução social como único meio de alcançar a nova sociedade. Outros, como os [[Social-democracia|social-democratas]], consideravam que as transformações políticas deveriam se realizar de forma progressiva, sem ruptura, e dentro do sistema capitalista.
As diferentes [[teoria]]s socialistas surgiram como reação ao quadro de desigualdade, opressão e exploração que enxergavam na sociedade capitalista do [[século XIX]], e tinham a proposta de buscar uma nova [[harmonia]] social por meio de drásticas mudanças, como a transferência dos meios de produção das classes proprietárias para os trabalhadores. Uma consequência dessa transformação seria o fim do trabalho assalariado e a substituição do mercado por uma gestão socializada ou planejada, com o objetivo de distribuir a [[Economia|produção econômica]] e todo tipo de serviço segundo as necessidades da população. O comunismo seria a última fase, onde as pessoas já estivessem tão acostumadas a viver nesse tipo de sociedade que não exigiriam ter mais do que o vizinho. Tais mudanças exigiriam necessariamente uma transformação radical do sistema político. Alguns teóricos postularam a revolução social como único meio de alcançar a nova sociedade. Outros, como os [[Social-democracia|social-democratas]], consideravam que as transformações políticas deveriam se realizar de forma progressiva, sem ruptura, e dentro do sistema capitalista.


No aspecto político, o socialismo, ao contrário do que se costuma pensar, não tem um Estado. Isso quer dizer que, antes do socialismo, a sociedade passaria por uma fase chamada de [[ditadura do proletariado]] para garantir o domínio da [[proletariado|classe proletária]] sobre as demais (exemplo: o [[feudalismo]] tinha uma estrutura estatal que garantia o domínio dos [[Senhorialismo|senhores feudais]]; o [[capitalismo]] tem uma estrutura estatal que garante o domínio dos proprietários/capitalistas). No entanto, a ditadura do proletariado, ou seja, o [[Estados Operários|Estado Operário]], trabalharia no sentindo da sua autoabolição. Segundo [[Friedrich Engels|Engels]],<ref>{{citar livro|último =Williams|primeiro =Raymond|autorlink =Raymond Williams|título=[[Keywords: A Vocabulary of Culture and Society|Keywords: a vocabulary of culture and society]]|publicado=Fontana|ano=1976|isbn=0006334792}}</ref> o Estado seria abolido concomitantemente com a abolição das classes e, portanto, na primeira fase da sociedade comunista, chamada de socialismo, não existiria mais Estado. O [[Estados Operários|Estado Operário]] caracteriza-se pelo domínio dos trabalhadores sobre a burguesia, é o ato revolucionário de expropriação dos meios de produção e quebra da resistência burguesa ao passo que constrói o socialismo e cria as bases para uma sociedade sem classes. Mas, como todo Estado, ele tem formas diferentes de relações entre as diversas instituições.
No aspecto político, o socialismo, ao contrário do que se costuma pensar, não tem um Estado. Isso quer dizer que, antes do socialismo, a sociedade passaria por uma fase chamada de [[ditadura do proletariado]] para garantir o domínio da [[proletariado|classe proletária]] sobre as demais (exemplo: o [[feudalismo]] tinha uma estrutura estatal que garantia o domínio dos [[Senhorialismo|senhores feudais]]; o [[capitalismo]] tem uma estrutura estatal que garante o domínio dos proprietários/capitalistas). No entanto, a [[ditadura do proletariado]], ou seja, o [[Estados Operários|Estado Operário]], trabalharia no sentindo da sua autoabolição. Segundo [[Friedrich Engels|Engels]],<ref>{{citar livro|último =Williams|primeiro =Raymond|autorlink =Raymond Williams|título=[[Keywords: A Vocabulary of Culture and Society|Keywords: a vocabulary of culture and society]]|publicado=Fontana|ano=1976|isbn=0006334792}}</ref> o Estado seria abolido concomitantemente com a abolição das classes e, portanto, na primeira fase da sociedade comunista, chamada de socialismo, não existiria mais Estado. O [[Estados Operários|Estado Operário]] caracteriza-se pelo domínio dos trabalhadores sobre a burguesia, é o ato revolucionário de [[expropriação]] dos meios de produção e quebra da resistência burguesa ao passo que constrói o socialismo e cria as bases para uma sociedade sem classes. Mas, como todo Estado, ele tem formas diferentes de relações entre as diversas instituições.


Segundo [[Leon Trótski|Trotsky]], podemos definir basicamente duas formas de regime num Estado socialista: as [[democracia operária|democracias operárias]] e os Estados Operários Burocráticos. As democracias operárias caracterizar-se-iam pelo alto controle dos trabalhadores sobre a planificação econômica (controle operário); criação de mecanismos de controle pela base; fusão dos poderes [[poder executivo|executivo]] e [[poder legislativo|legislativo]]; revogabilidade permanente dos [[mandato]]s, indicados pelos organismos de base; [[eleição]] direta via organismos para todos os cargos (inclusive [[militar]]es), com cláusulas de impedimento de reeleição; separação do Estado e [[partido político|partido]]; ampla [[liberdade de expressão|liberdade entre os trabalhadores para expressarem suas posições]], à exceção dos casos de [[rebelião|sublevação]] armada.
Segundo [[Leon Trótski|Trotsky]], podemos definir basicamente duas formas de regime num Estado socialista: as [[democracia operária|democracias operárias]] e os Estados Operários Burocráticos. As democracias operárias caracterizar-se-iam pelo alto controle dos trabalhadores sobre a planificação econômica (controle operário); criação de mecanismos de controle pela base; fusão dos poderes [[poder executivo|executivo]] e [[poder legislativo|legislativo]]; revogabilidade permanente dos [[mandato]]s, indicados pelos organismos de base; [[eleição]] direta via organismos para todos os cargos (inclusive [[militar]]es), com cláusulas de impedimento de reeleição; separação do Estado e [[partido político|partido]]; ampla [[liberdade de expressão|liberdade entre os trabalhadores para expressarem suas posições]], à exceção dos casos de [[rebelião|sublevação]] armada.


Os regimes de Estado Operário Burocrático, por sua vez, seriam caracterizados pelo domínio de uma [[casta]] [[burocracia|burocrática]]; supressão, ou manutenção apenas na forma, dos organismos de base; planificação por essa [[burocracia]], sem controle operário; alta [[hierarquia|hierarquização]] no [[serviço público]]; fusão de Estado e [[partido político|partido]]; e supressão da [[liberdade de imprensa]].
Os regimes de Estado Operário Burocrático, por sua vez, seriam caracterizados pelo domínio de uma [[casta]] burocrática; supressão, ou manutenção apenas na forma, dos organismos de base; planificação por essa [[burocracia]], sem controle operário; alta [[hierarquia|hierarquização]] no [[serviço público]]; fusão de Estado e [[partido político|partido]]; e supressão da [[liberdade de imprensa]].


O primeiro pode ser encontrado como experiência histórica em caráter embrionário no processo conhecido como [[Comuna de Paris]], em [[1871]] e, na [[Revolução Espanhola]]. O segundo, no [[União das Repúblicas Socialistas Soviéticas|estado russo]] a partir da [[Nova Política Econômica]] (NEP), na [[República Popular da China]], na [[Coreia do Norte]], em [[Cuba]] e no [[Leste Europeu]]. É interessante observar que os dois regimes não são tão semelhantes como seria de se esperar (já que ambos recebem o rótulo de socialistas) e que o Estado Operário Burocrático foi duramente criticado e rechaçado por [[Trotsky]], um conhecido pensador socialista. Esse exemplo serve bem para ilustrar como o pensamento socialista pode tomar formas diferentes e frequentemente conflitantes.
O primeiro pode ser encontrado como experiência histórica em caráter embrionário no processo conhecido como [[Comuna de Paris]], em [[1871]] e, na [[Revolução Espanhola]]. O segundo, no Estado soviético a partir da [[Nova Política Econômica]] (NEP), na [[República Popular da China]], na [[Coreia do Norte]], em [[Cuba]] e no [[Leste Europeu]]. É interessante observar que os dois regimes não são tão semelhantes como seria de se esperar (já que ambos recebem o rótulo de socialistas) e que o Estado Operário Burocrático foi duramente criticado e rechaçado por [[Trotsky]], um conhecido pensador socialista. Esse exemplo serve bem para ilustrar como o pensamento socialista pode tomar formas diferentes e frequentemente conflitantes. [[Ludwig von Mises]] afirma: "(...) ''a pior coisa que pode acontecer a um socialista é ter o seu país governado por socialistas que não são seus amigos.''"<ref name="Marxismo e a Manipulação do Homem"/> <ref name="Foundation for Economic Education"/>


É importante salientar que esta designação não aparece em Marx e já aparecia em Lênin, que, antes de morrer, reconhecia a União Soviética como [[capitalismo de Estado]] e como uma [[burocracia]] forte e nascente.<ref>[[Victor Serge|Serge, Victor]], ''From Lenin to Stalin'', p. 55.</ref>
É importante salientar que esta designação não aparece em Marx e já aparecia em [[Lenin]], que, antes de morrer, reconhecia a [[União Soviética]] como [[capitalismo de Estado]] e como uma [[burocracia]] forte e nascente.<ref>[[Victor Serge|Serge, Victor]], ''From Lenin to Stalin'', p. 55.</ref>


== Críticas ao socialismo ==
== Críticas ao socialismo ==
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Os economistas neoclássicos criticam o [[estatismo]] e a centralização de capital, alegando que faltam incentivos às instituições estatais para agirem de forma eficiente como as empresas capitalistas. Como as [[Empresa estatal|estatais]] não trabalham com tantas restrições [[orçamento|orçamentárias]], elas podem acabar por prejudicar a economia geral e causar efeitos negativos no bem-estar da sociedade.<ref>{{citar web |último =Heilbroner |primeiro =Robert |url=http://www.econlib.org/library/Enc/Socialism.html |título=Socialism: The Concise Encyclopedia of Economics &#124; Library of Economics and Liberty |publicado=Econlib.org |data= |acessodata=30 de outubro de 2011}}</ref> A [[Escola Austríaca]] completa o argumento afirmando que apenas o [[livre mercado]] pode informar à sociedade sobre a alocação mais racional dos recursos e do uso mais produtivo dos [[Bens de produção|bens de capital]]. Para os austríacos, o planejamento econômico socialista é inviável pela impossibilidade de realizar um cálculo econômico devido à falta de parâmetro e de um livre sistema de preços.<ref>Ludwig Von Mises, Socialism, p. 119</ref>
Os economistas neoclássicos criticam o [[estatismo]] e a centralização de capital, alegando que faltam incentivos às instituições estatais para agirem de forma eficiente como as empresas capitalistas. Como as [[Empresa estatal|estatais]] não trabalham com tantas restrições [[orçamento|orçamentárias]], elas podem acabar por prejudicar a economia geral e causar efeitos negativos no bem-estar da sociedade.<ref>{{citar web |último =Heilbroner |primeiro =Robert |url=http://www.econlib.org/library/Enc/Socialism.html |título=Socialism: The Concise Encyclopedia of Economics &#124; Library of Economics and Liberty |publicado=Econlib.org |data= |acessodata=30 de outubro de 2011}}</ref> A [[Escola Austríaca]] completa o argumento afirmando que apenas o [[livre mercado]] pode informar à sociedade sobre a alocação mais racional dos recursos e do uso mais produtivo dos [[Bens de produção|bens de capital]]. Para os austríacos, o planejamento econômico socialista é inviável pela impossibilidade de realizar um cálculo econômico devido à falta de parâmetro e de um livre sistema de preços.<ref>Ludwig Von Mises, Socialism, p. 119</ref>


[[Karl Popper]] afirmava que o historicismo [[Marxismo|marxista]] não poderia ser considerado uma teoria científica, pois não é [[Falseabilidade|falseável]] pela experiência humana, considerando este historicismo como inimigo da sociedade aberta, por ser [[ontologia|ontologicamente]] impossível negá-lo.
[[Karl Popper]] afirmava que o historicismo [[Marxismo|marxista]] não poderia ser considerado uma teoria científica, pois não é [[Falseabilidade|falseável]] pela experiência humana, considerando este [[historicismo]] como inimigo da sociedade aberta, por ser [[ontologia|ontologicamente]] impossível negá-lo.


== Partidos socialistas lusófonos ==
== Partidos socialistas lusófonos ==
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== Ver também ==
== Ver também ==
* [[Comunismo]]
* [[Antiglobalização]]
* [[Anticomunismo]]
* [[Ecossocialismo]]
* [[Anticapitalismo]]
* [[Anticapitalismo]]
* [[Anticomunismo]]
* [[Antiglobalização]]
* [[Capitalismo]]
* [[Capitalismo]]
* [[Marxismo]]
* [[Comunismo]]
* [[Luta de classes]]
* [[Ecossocialismo]]
* [[Revolução Industrial]]
* [[Estado de bem-estar social]]
* [[Estado de bem-estar social]]
* [[Lista de países por carga tributária]]
* [[Lista de países por carga tributária]]
* [[Luta de classes]]
* [[Marxismo]]
* [[Revolução Industrial]]
* [[Socialismo do século XXI]]


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Revisão das 22h44min de 28 de outubro de 2017

Socialismo refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização econômica que advogam a administração e propriedade pública ou coletiva dos meios de produção e distribuição de bens, propondo-se a construir uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades e meios para todos os indivíduos, com um método isonômico de compensação.[1] Atualmente, teorias socialistas são partes de posições da esquerda política, relacionadas com as atuações do Estado de bem-estar social.

O socialismo moderno surgiu no final do século XVIII, tendo origem na classe intelectual e nos movimentos políticos da classe trabalhadora, que criticavam os efeitos da industrialização e da propriedade privada sobre a sociedade. Karl Marx afirmava que a luta de classes era responsável pela nossa realidade social, e que este conflito inevitavelmente resultaria no socialismo através de uma revolução do proletariado, tornando-se uma fase de transição do capitalismo para um novo modelo de sociedade que não seria dividido em classes sociais hierárquicas, num modelo essencialmente comunista.[2][3]

A maioria dos socialistas possui a opinião de que o capitalismo concentra injustamente a riqueza e o poder nas mãos de um pequeno segmento da sociedade - denominado por Marx de Burguesia - que controla o capital e deriva a sua riqueza da exploração de outras classes sociais, criando uma sociedade desigual, que não oferece oportunidades iguais de maximização de suas potencialidades a todos.[4]

Friedrich Engels, um dos fundadores da teoria socialista moderna, e o socialista utópico Henri de Saint Simon defendem a criação de uma sociedade que permita a aplicação generalizada das tecnologias modernas de racionalização da atividade econômica, eliminando o caos na produção do capitalismo.[5][6] Isto permitiria que a riqueza e o poder fossem distribuídos com base na quantidade de trabalho despendido na produção, embora não haja concordância entre os socialistas sobre como e em que medida isso poderia ser alcançado.

O socialismo não é uma filosofia de doutrina e programa fixos; seus ramos defendem um certo grau de intervencionismo social e racionalização econômica (geralmente sob a forma de planejamento econômico), às vezes opostas entre si, como o socialismo de estado e o socialismo libertário. Uma característica da divisão do movimento socialista é entre os reformistas, chamados de socialistas democráticos, e revolucionários sobre como uma economia socialista deveria ser estabelecida. Alguns socialistas defendem a nacionalização completa dos meios de produção, distribuição e troca, outros defendem o controle estatal do capital no âmbito de uma economia de mercado.

História

Os socialistas utópicos, incluindo Robert Owen (1771-1858), tentaram encontrar formas de criar comunas autossustentáveis por secessão de uma sociedade capitalista. Henri de Saint Simon (1760-1825), o primeiro a utilizar o termo socialismo, foi o pensador original que defendeu a tecnocracia e o planejamento industrial. Os primeiros socialistas previram um mundo melhor, através da mobilização de tecnologia e combinando-a com uma melhor organização social. Os primeiros pensadores socialistas tenderam a favorecer uma autêntica meritocracia combinada com planejamento social racional, enquanto muitos socialistas modernos têm uma abordagem mais igualitária.

Vladimir Lenin, com base em ideias de Karl Marx de "baixa" e "alta" fases do socialismo,[7] definiu o "socialismo" como uma fase de transição entre o capitalismo e o comunismo.[8]

Socialistas inspirados no modelo soviético de desenvolvimento econômico têm defendido a criação de economias de planejamento central dirigido por um Estado que controla todos os meios de produção. Sociais-democratas propõem a nacionalização seletiva das principais indústrias nacionais nas economias mistas, mantendo a propriedade privada do capital da empresa e de empresas privadas. Sociais-democratas também promovem programas sociais financiados pelos impostos, bem como regulação dos mercados. Muitos democratas sociais, especialmente nos estados de bem-estar europeus, referem-se a si mesmos como socialistas. O socialismo libertário (incluindo o anarquismo social e o marxismo libertário) rejeita o controle estatal e de propriedade da economia e defende a propriedade coletiva direta dos meios de produção através de conselhos cooperativos de trabalhadores e da democracia no local de trabalho. O socialismo de mercado também busca uma economia com a ascensão da propriedade social dos meios de produção (cooperativas) mas, quando não mutualista, favorece a existência de um Estado administrador, mas não proprietário da atividade econômica, com exceção de setores estratégicos.[carece de fontes?]

Tipos de Socialismo

Socialismo utópico

Ver artigo principal: Socialismo utópico
Estátua de Robert Owen em Manchester.

A reação operária aos efeitos da Revolução Industrial fez surgir críticos ao progresso industrial que propunham reformulações sociais e a construção de uma sociedade mais justa.[9] Os primeiros socialistas, ao formularem profundas críticas ao progresso industrial, ainda estavam impregnados de valores liberais.[9] Atacavam os grandes proprietários, mas tinham, em geral, muita estima pelos pequenos, acreditando ser possível haver um acordo entre as classes sociais.[9] Elaboraram soluções que não chegaram, porém, a constituir uma doutrina, e sim modelos idealizados, sendo por isso chamados de utópicos.[9]

Um dos principais teóricos dessa fase inicial do socialismo era o conde francês Claude de Saint-Simon, que havia aderido à revolução de 1789.[9] Um racionalista, como a maioria de seus contemporâneos, propôs, em Cartas de um habitante de Genebra (1802), a formação de uma sociedade em que não haveria ociosos (como ele considerava os militares, os religiosos, os nobres e os magistrados) nem a exploração econômica de grupos de indivíduos por outros.[9] Propôs, ainda, a divisão da sociedade em três classes: os sábios, os proprietários e os que não tinham posses.[9] O governo seria exercido por um conselho formado por sábios e artistas.[9]

Outro teórico da fase inicial do socialismo foi o francês Charles Fourier, que, ao lado de Pierre Leroux, teria sido um dos primeiros a utilizar a palavra "socialismo".[10][11] Filho de comerciantes, era herdeiro da ideia de Jean-Jacques Rousseau de que o homem é naturalmente bom, mas a sociedade e as instituições o pervertem.[9] Acreditava ser possível reorganizar a sociedade a partir da criação de falanstérios, fazendas coletivas agroindustriais. Nunca conseguiu o apoio de empresários para levar o projeto adiante, apesar de alegar que os falanstérios superariam a desarmonia capitalista, surgida da divisão do trabalho e do papel anárquico exercido pelo comércio na sociedade.[9] Após sua morte, alguns falanstérios surgiram no continente americano, como os de Réunion e da Falange Norte-americana nos Estados Unidos e o do Saí no Brasil.

A expressão "socialismo" foi consagrada por Robert Owen na anglosfera a partir de 1834.[11] Jovem administrador de uma fábrica de algodão em Manchester, observou de perto as condições desumanas de trabalho e se revoltou com as perspectivas do desenvolvimento industrial.[9] Defendendo a impossibilidade de se formar um ser humano superior no interior de um sistema egoísta e explorador como o capitalismo, buscou a criação de uma comunidade ideal, de igualdade absoluta.[9] Na Escócia, onde assumiu o controle de algumas fábricas de algodão em New Lanark por 25 anos, Owen chegou a aplicar suas ideias, implantando uma comunidade de alto padrão, na qual as pessoas trabalhavam dez horas por dia e tinham acesso a instrução de alto nível.[9] O sucesso da cooperativa e suas críticas à propriedade privada e à religião, no entanto, levaram Owen a abandonar a Grã-Bretanha e se refugiar nos Estados Unidos, onde fundou a comunidade de New Harmony no estado da Indiana.[9] Após presenciar, em seu retorno ao Reino Unido, a falência de suas cooperativas, dedicou-se, no fim da vida, à organização de sindicatos.[9]

Socialismo científico

Ver artigo principal: Socialismo científico

Paralelamente às propostas do socialismo utópico, surgiu o socialismo científico, cujos teóricos propunham compreender a realidade e transformá-la mediante a análise dos mecanismos econômicos e sociais do capitalismo, constituindo, assim, uma proposta revolucionária do proletariado.[9] Daí se origina o termo "científico", uma vez que seus teóricos se baseavam numa análise macro-histórica e filosófica da sociedade, e não apenas nos ideais de justiça social.[12]

O maior teórico dessa corrente foi o filósofo e economista alemão Karl Marx, que contou com a contribuição do compatriota Friedrich Engels em muitas de suas obras.[9] No Manifesto Comunista (1848), Marx e Engels esboçaram as proposições do socialismo científico, que seriam definidas de forma completa em O Capital, obra mais conhecida de Marx, que causaria uma verdadeira revolução na economia e nas ciências sociais.[9] Entre os princípios expostos na obra, destacam-se uma interpretação socioeconômica da história, conhecida como materialismo histórico, os conceitos de luta de classes, de mais-valia e de revolução socialista.[9]

Segundo o materialismo histórico, toda sociedade é determinada, em última instância, por suas condições socioeconômicas, chamadas de "infra" e "superestrutura".[9] Adaptadas a ela, as instituições, a política, a ideologia e a cultura como um todo compõem o que Marx chamou de "infraestrutura e superestrutura".[9] Um exemplo claro da relação entre essas estruturas é a Revolução Francesa: naquele momento, era necessário transformar a ultrapassada ordem político-jurídica do Antigo Regime (a "superestrutura") para manter a "infraestrutura" vigente.[9]

A luta de classes, na análise marxista, é o agente capaz de transformar a sociedade.[9] Segundo Karl Kautsky, "se a natureza humana é contra o socialismo, então a natureza humana terá de ser mudada."[13] [14] O antagonismo entre dominadores e dominados induz às lutas e às transformações sociais.[9] Em termos sociais, se trata do motor da história humana, só terminando com o aparecimento da sociedade comunista perfeita, onde desapareceriam a exploração de classes e as injustiças sociais.[12] Já o conceito de mais-valia corresponde ao valor não remunerado do trabalho do operário, que é apropriado pelos capitalistas.[9][12]

Contra a ordem estabelecida pela sociedade burguesa, Marx considerava inevitável a ação política do operariado organizado, a revolução socialista, que iria inaugurar a construção de uma nova sociedade.[9] Num primeiro momento, o controle do Estado ficaria na mão da ditadura do proletariado, quando ocorreria a socialização dos meios de produção através da eliminação da propriedade privada.[9] Numa etapa posterior, a meta seria o comunismo perfeito, onde todas as desigualdades sociais e econômicas, além do próprio Estado, acabariam.[9]

Anarquismo

Ver artigo principal: Anarquismo
Pierre-Joseph Proudhon, primeiro anarquista autoproclamado do mundo.

Outra corrente socialista surgida no século XIX foi o anarquismo.[9] Pregava a supressão de toda e qualquer forma de governo, defendendo a liberdade de forma geral.[9] O principal precursor desta doutrina é Pierre-Joseph Proudhon, que se vale dos pressupostos do socialismo utópico (sendo considerado um socialista utópico por alguns historiadores[12]) para criticar os abusos do capitalismo em sua obra O que é a propriedade? (1840). Respeita a pequena propriedade e propõe a criação de cooperativas e de bancos que concedessem empréstimos a juros zero aos empreendimentos produtivos, além de crédito gratuito aos trabalhadores.[12] Proudhon foi o primeiro anarquista autoproclamado, apesar de ser considerado um socialista utópico pelos marxistas, rótulo que jamais aceitou.

Ao propor a criação de uma sociedade sem classes, sem exploração, sem Estado, formada por homens livres e iguais, Proudhon inaugurou o anarquismo.[9] Ele propunha a destruição dos Estados nacionais e sua substituição pelas "repúblicas de pequenos proprietários".[9] Suas propostas inspiraram, principalmente, o teórico russo Mikhail Bakunin, que se tornou líder do chamado "anarquismo terrorista".[9] Defendia que a violência era a única forma de se alcançar uma sociedade livre de Estados e de desigualdades, um mundo de felicidades e liberdades para os operários.[9]

O anarquismo, também conhecido como "comunismo libertário", e o socialismo científico de Marx coincidem quanto ao objetivo final: atingir o comunismo, estágio em que não existem mais divisões de classes, exploração, e nem mesmo o Estado.[9] Entretanto, para os marxistas, antes dessa meta, faz-se necessária uma fase intermediária, a ditadura do proletariado.[9] Já na concepção dos anarquistas, as classes, as instituições e as tradições devem ser erradicadas imediatamente, tendo, como finalidade, a aniquilação do Estado.[9] As críticas mútuas entre anarquistas e marxistas levaram a uma convivência de choques e divergências, comprovada pelas rivalidades que ocorreram posteriormente nos países onde ambas as facções coexistiram na luta contra a ordem estabelecida,[9] tais como na Rússia após a Revolução e na Espanha durante a Guerra Civil.

Socialismo cristão

Ver artigo principal: Socialismo cristão

Durante a Revolução Industrial, uma série de teóricos cristãos, como Robert Lamennais, Adolph Wagner e J. D. Maurice, entre outros, lançaram apelos às classes dominantes para que aliviassem os sofrimentos das classes trabalhadoras.[12] Nasceu, dessa forma, o socialismo cristão, uma tentativa de aplicar os ensinamentos de Cristo sobre amor e de respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização.[12] A grande mobilização operária levou a cúpula da Igreja Católica a definir oficialmente seu papel nos novos problemas sociais.[9]

Em 1891, o papa Leão XIII lançou a encíclica Rerum Novarum, em que expunha o pensamento social do catolicismo.[12] Nela, reavivava o papel da Igreja como instrumento de reforma e justiça social.[9] Reconhecia o direito à propriedade privada e rejeitava o fortemente ateu socialismo científico de Marx,[9] mas condenava a ganância capitalista e a exploração desumana da força de trabalho.[12] O papa propunha que os empregadores reconhecessem os direitos fundamentais dos proletários, como a limitação da jornada de trabalho, o descanso aos fins de semana, o estabelecimento de salários dignos, as férias remuneradas, entre outros.[12] A encíclica recomendava também a intervenção do Estado no mercado privado a fim de melhorar as condições de vida dos trabalhadores nos setores da habitação e da saúde.[12]

Após a publicação dessa encíclica, a Igreja não mais se desligou da questão social e de suas concepções políticas, caráter reforçado sobretudo após o concílio Vaticano II (1962-1965).[9]

É comum confundirem a expressão "socialismo cristão", uma teoria política com cunho cristão, baseada na igualdade dos homens perante Deus, com a visão da Igreja Católica sobre o aspecto social e político dos povos (Doutrina Social da Igreja).

Divergências

As diferentes teorias socialistas surgiram como reação ao quadro de desigualdade, opressão e exploração que enxergavam na sociedade capitalista do século XIX, e tinham a proposta de buscar uma nova harmonia social por meio de drásticas mudanças, como a transferência dos meios de produção das classes proprietárias para os trabalhadores. Uma consequência dessa transformação seria o fim do trabalho assalariado e a substituição do mercado por uma gestão socializada ou planejada, com o objetivo de distribuir a produção econômica e todo tipo de serviço segundo as necessidades da população. O comunismo seria a última fase, onde as pessoas já estivessem tão acostumadas a viver nesse tipo de sociedade que não exigiriam ter mais do que o vizinho. Tais mudanças exigiriam necessariamente uma transformação radical do sistema político. Alguns teóricos postularam a revolução social como único meio de alcançar a nova sociedade. Outros, como os social-democratas, consideravam que as transformações políticas deveriam se realizar de forma progressiva, sem ruptura, e dentro do sistema capitalista.

No aspecto político, o socialismo, ao contrário do que se costuma pensar, não tem um Estado. Isso quer dizer que, antes do socialismo, a sociedade passaria por uma fase chamada de ditadura do proletariado para garantir o domínio da classe proletária sobre as demais (exemplo: o feudalismo tinha uma estrutura estatal que garantia o domínio dos senhores feudais; o capitalismo tem uma estrutura estatal que garante o domínio dos proprietários/capitalistas). No entanto, a ditadura do proletariado, ou seja, o Estado Operário, trabalharia no sentindo da sua autoabolição. Segundo Engels,[15] o Estado seria abolido concomitantemente com a abolição das classes e, portanto, na primeira fase da sociedade comunista, chamada de socialismo, não existiria mais Estado. O Estado Operário caracteriza-se pelo domínio dos trabalhadores sobre a burguesia, é o ato revolucionário de expropriação dos meios de produção e quebra da resistência burguesa ao passo que constrói o socialismo e cria as bases para uma sociedade sem classes. Mas, como todo Estado, ele tem formas diferentes de relações entre as diversas instituições.

Segundo Trotsky, podemos definir basicamente duas formas de regime num Estado socialista: as democracias operárias e os Estados Operários Burocráticos. As democracias operárias caracterizar-se-iam pelo alto controle dos trabalhadores sobre a planificação econômica (controle operário); criação de mecanismos de controle pela base; fusão dos poderes executivo e legislativo; revogabilidade permanente dos mandatos, indicados pelos organismos de base; eleição direta via organismos para todos os cargos (inclusive militares), com cláusulas de impedimento de reeleição; separação do Estado e partido; ampla liberdade entre os trabalhadores para expressarem suas posições, à exceção dos casos de sublevação armada.

Os regimes de Estado Operário Burocrático, por sua vez, seriam caracterizados pelo domínio de uma casta burocrática; supressão, ou manutenção apenas na forma, dos organismos de base; planificação por essa burocracia, sem controle operário; alta hierarquização no serviço público; fusão de Estado e partido; e supressão da liberdade de imprensa.

O primeiro pode ser encontrado como experiência histórica em caráter embrionário no processo conhecido como Comuna de Paris, em 1871 e, na Revolução Espanhola. O segundo, no Estado soviético a partir da Nova Política Econômica (NEP), na República Popular da China, na Coreia do Norte, em Cuba e no Leste Europeu. É interessante observar que os dois regimes não são tão semelhantes como seria de se esperar (já que ambos recebem o rótulo de socialistas) e que o Estado Operário Burocrático foi duramente criticado e rechaçado por Trotsky, um conhecido pensador socialista. Esse exemplo serve bem para ilustrar como o pensamento socialista pode tomar formas diferentes e frequentemente conflitantes. Ludwig von Mises afirma: "(...) a pior coisa que pode acontecer a um socialista é ter o seu país governado por socialistas que não são seus amigos."[13] [14]

É importante salientar que esta designação não aparece em Marx e já aparecia em Lenin, que, antes de morrer, reconhecia a União Soviética como capitalismo de Estado e como uma burocracia forte e nascente.[16]

Críticas ao socialismo

Entre os principais críticos do socialismo, encontram-se John Stuart Mill, Alexis de Tocqueville, Bernard-Henri Lévy, Karl Popper, Joseph Schumpeter, Carl Menger, Ludwig von Mises,[17] Max Weber, Michael Voslensky, Friedrich Hayek, Eugen von Böhm-Bawerk, Milovan Djilas, Milton Friedman, Eric Voegelin, Murray Rothbard, Václav Havel e Pitirim Sorokin.

Os economistas liberais e libertários pró-capitalismo veem a posse privada dos meios de produção e o mercado de câmbio como entidades naturais e direitos morais, fundamentais para independência e liberdade. As maiores críticas ao sistema socialista baseiam-se na distorção do sistema de preços,[18][19] o que impossibilitaria um planejamento econômico eficiente. Além disso, críticos alegam que, num sistema socialista, haveria redução de incentivos,[20][21][22] redução de prosperidade[23][24] baixa viabilidade[18][19][25] e efeitos sociais e políticos negativos.[26][27][28][29][30] Hayek escreveu, em "O Caminho da Servidão", que qualquer tentativa de controlar a economia implica numa concentração de poder estatal e na diminuição da liberdade política. O socialismo terminaria sendo um sistema econômico em que um indivíduo ou grupo de indivíduos controla os demais membros da sociedade mediante a coerção e a compulsão organizada. Exemplos de governos totalitários nesses moldes foram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), especialmente durante o regime de Josef Stalin, a China de Mao Tse-tung e outros experimentos na África e na Ásia. Em sua defesa, os socialistas argumentam que esses países, apesar de se considerarem socialistas, nunca teriam aderido ao socialismo pois, na prática, ele nunca teria existido. Também existem os socialistas-libertários, que são simultaneamente a favor da derrubada da propriedade privada, do capital e do Estado, vista como única forma de assegurar simultaneamente a ampla liberdade e igualdade. Ainda segundo Hayek, o planejamento econômico proposto pelos socialistas é menos eficiente no provimento do bem-estar social que o livre mercado.[carece de fontes?]

Os economistas neoclássicos criticam o estatismo e a centralização de capital, alegando que faltam incentivos às instituições estatais para agirem de forma eficiente como as empresas capitalistas. Como as estatais não trabalham com tantas restrições orçamentárias, elas podem acabar por prejudicar a economia geral e causar efeitos negativos no bem-estar da sociedade.[31] A Escola Austríaca completa o argumento afirmando que apenas o livre mercado pode informar à sociedade sobre a alocação mais racional dos recursos e do uso mais produtivo dos bens de capital. Para os austríacos, o planejamento econômico socialista é inviável pela impossibilidade de realizar um cálculo econômico devido à falta de parâmetro e de um livre sistema de preços.[32]

Karl Popper afirmava que o historicismo marxista não poderia ser considerado uma teoria científica, pois não é falseável pela experiência humana, considerando este historicismo como inimigo da sociedade aberta, por ser ontologicamente impossível negá-lo.

Partidos socialistas lusófonos

Angola
Brasil
Guiné-Bissau
Moçambique
Portugal
Timor-Leste

Ver também

Referências

  1. Newman, Michael. (2005) Socialism: A Very Short Introduction, Oxford University Press, ISBN 0-19-280431-6
  2. Marx, Karl, Communist Manifesto, Penguin (2002)
  3. Marx, Karl, Critique of the Gotha Program
  4. Socialism, (2009), in Encyclopædia Britannica. Retrieved October 14, 2009, from Encyclopædia Britannica Online: http://www.britannica.com/EBchecked/topic/551569/socialism, "Main" summary: "Socialists complain that capitalism necessarily leads to unfair and exploitative concentrations of wealth and power in the hands of the relative few who emerge victorious from free-market competition—people who then use their wealth and power to reinforce their dominance in society."
  5. Socialism: Utopian and Scientific at Marxists.org
  6. Frederick Engels. Socialism: Utopian and Scientific. [S.l.: s.n.] p. 92-11 Chapter III: Historical Materialism
  7. Lenin refers specifically to Marx's Critique of the Gotha Program in his 1917 book State and Revolution
  8. "In striving for socialism, however, we are convinced that it will develop into communism", Lenin, State and Revolution, Selected Works, Progress publishers, Moscow, 1968, p. 320. (End of chapter four)
  9. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ak al am an ao ap Vincentino, Cláudio. História para o ensino médio. pp. 342-346. São Paulo: Scipione, 2001. ISBN 85-262-3789-6.
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  12. a b c d e f g h i j k COTRIM, Gilberto. História Global. 5ª edição. pp. 240–241. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. ISBN 85-02-02449-3.
  13. a b Libertarianismo - Marxismo e a Manipulação do Homem. Ludwig von Mises. Acessado em 28/10/2017.
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  15. Williams, Raymond (1976). Keywords: a vocabulary of culture and society. [S.l.]: Fontana. ISBN 0006334792 
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  20. Zoltan J. Acs & Bernard Young. Small and Medium-Sized Enterprises in the Global Economy. University of Michigan Press, p. 47, 1999.
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  22. John Kenneth Galbraith, The Good Society: The Humane Agenda, (Boston, MA: Houghton Mifflin Co., 1996), 59–60."
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  26. F.A. Hayek. The Intellectuals and Socialism. (1949).
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  29. Bellamy, Richard (2003). The Cambridge History of Twentieth-Century Political Thought. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 60. ISBN 0-521-56354-2 
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  31. Heilbroner, Robert. «Socialism: The Concise Encyclopedia of Economics | Library of Economics and Liberty». Econlib.org. Consultado em 30 de outubro de 2011 
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  33. Partido Democrático Trabalhista. «Carta Mendes (documento de fundação do PDT)». 23 de janeiro de 1983. Consultado em 6 de dezembro de 2010. O PDT assume, com inabalável e definitiva convicção e firmeza, pelo seu programa, sua prática e objetivos, a causa do socialismo democrático no Brasil. O PDT é um Partido Socialista. O nosso Socialismo há de ser construído através do voto livre, numa sociedade pluralista e civil, sem discriminar ou excluir quem quer que seja. 
  34. "A única candidatura operária e socialista à presidência". Partido da Causa Operária. 28 de junho de 2010.
  35. "Programa Socialista para o Brasil". Partido Comunista do Brasil. 8 de novembro de 2009.
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Bibliografia

Ligações externas

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