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Gastroenterite: diferenças entre revisões

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A '''gastroenterite''' é uma condição médica caracterizada pela [[inflamação]] ("''-ite''") do [[Aparelho digestivo|trato gastrointestinal]] que afeta o [[estômago]] ("''gastro"''-) e o [[intestino delgado]] ("''entero''"-) e que se manifesta através de [[diarreia]], [[vômito]] e cólicas [[abdómen|abdominais]].<ref name=EBMED2010>{{cite journal|last=Singh|first=Amandeep|title=Pediatric Emergency Medicine Practice Acute Gastroenteritis — An Update|journal=Emergency Medicine Practice|year=2010|month=Julho|volume=7|issue=7|url=/topics.php?paction=showTopic&topic_id=229}}</ref> Embora não tenha qualquer relação com a [[gripe]], é também designada incorretamente por '''gripe intestinal''' ou '''gripe gástrica'''.
A '''gastroenterite''' é uma condição médica caracterizada pela [[inflamação]] ("''-ite''") do [[Aparelho digestivo|trato gastrointestinal]] que afecta o [[estômago]] ("''gastro"''-) e o [[intestino delgado]] ("''entero''"-) e que se manifesta através de [[diarreia]], [[vómito]] e cólicas [[abdómen|abdominais]].<ref name=EBMED2010>{{cite journal|last=Singh|first=Amandeep|title=Pediatric Emergency Medicine Practice Acute Gastroenteritis — An Update|journal=Emergency Medicine Practice|year=2010|month=Julho|volume=7|issue=7|url=http://www.ebmedicine.net/topics.php?paction=showTopic&topic_id=229}}</ref> Embora não tenha qualquer relação com a [[gripe]], é também designada incorrectamente por '''gripe intestinal''' ou '''gripe gástrica'''.


<!--Causas -->
<!--Causas -->
A maior parte dos casos em crianças são causados por [[rotavírus]].<ref name="pmid22030330">{{cite journal |author=Tate JE, Burton AH, Boschi-Pinto C, Steele AD, Duque J, Parashar UD |title=2008 estimate of worldwide rotavirus-associated mortality in children younger than 5 years before the introduction of universal rotavirus vaccination programmes: a systematic review and meta-analysis |journal=The Lancet Infectious Diseases |volume=12 |issue=2 |pages=136–41 |year=2012 |month=Fevereiro |pmid=22030330 |doi=10.1016/S1473-3099(11)70253-5 }}</ref> Nos adultos, a causa mais comum são os [[norovírus]]<ref name="pmid21695033">{{cite journal |author=Marshall JA, Bruggink LD |title=The dynamics of norovirus outbreak epidemics: recent insights |journal=International Journal of Environmental Research and Public Health |volume=8 |issue=4 |pages=1141–9 |year=2011 |month=Abril |pmid=21695033 |pmc=3118882 |doi=10.3390/ijerph8041141}}</ref> e as ''[[Campylobacter]]''.<ref name="pmid22025030">{{cite journal |author=Man SM |title=The clinical importance of emerging Campylobacter species |journal=Nature Reviews. Gastroenterology & Hepatology |volume=8 |issue=12 |pages=669–85 |year=2011 |month=Dezembro |pmid=22025030 |doi=10.1038/nrgastro.2011.191}}</ref> Entre as causas menos frequentes estão outras bactérias, ou as suas toxinas, e parasitas. O contágio pode ocorrer através do consumo de alimentos mal preparados, água contaminada ou contato com indivíduos infectados.
A maior parte dos casos em crianças são causados por [[rotavírus]].<ref name="pmid22030330">{{cite journal |author=Tate JE, Burton AH, Boschi-Pinto C, Steele AD, Duque J, Parashar UD |title=2008 estimate of worldwide rotavirus-associated mortality in children younger than 5 years before the introduction of universal rotavirus vaccination programmes: a systematic review and meta-analysis |journal=The Lancet Infectious Diseases |volume=12 |issue=2 |pages=136–41 |year=2012 |month=Fevereiro |pmid=22030330 |doi=10.1016/S1473-3099(11)70253-5 }}</ref> Nos adultos, a causa mais comum são os [[norovírus]]<ref name="pmid21695033">{{cite journal |author=Marshall JA, Bruggink LD |title=The dynamics of norovirus outbreak epidemics: recent insights |journal=International Journal of Environmental Research and Public Health |volume=8 |issue=4 |pages=1141–9 |year=2011 |month=Abril |pmid=21695033 |pmc=3118882 |doi=10.3390/ijerph8041141}}</ref> e as ''[[Campylobacter]]''.<ref name="pmid22025030">{{cite journal |author=Man SM |title=The clinical importance of emerging Campylobacter species |journal=Nature Reviews. Gastroenterology & Hepatology |volume=8 |issue=12 |pages=669–85 |year=2011 |month=Dezembro |pmid=22025030 |doi=10.1038/nrgastro.2011.191}}</ref> Entre as causas menos frequentes estão outras bactérias, ou as suas toxinas, e parasitas. O contágio pode ocorrer através do consumo de alimentos mal preparados, água contaminada ou contacto com indivíduos infectados.


<!--Tratamento e epidemiologia -->
<!--Tratamento e epidemiologia -->
O tratamento tem como base uma hidratação adequada. Para casos menos graves, isto é normalmente feito com recurso a [[terapia de reidratação oral]]. Nos casos mais graves pode ser necessária a administração de soro por via intravenosa. A gastroenterite afeta sobretudo as crianças e as regiões em vias de desenvolvimento.
O tratamento tem como base uma hidratação adequada. Para casos menos graves, isto é normalmente feito com recurso a [[terapia de reidratação oral]]. Nos casos mais graves pode ser necessária a administração de soro por via intravenosa. A gastroenterite afecta sobretudo as crianças e as regiões em vias de desenvolvimento.


== Sintomas e sinais ==
== Sintomas e sinais ==
A gastroenterite manifesta-se normalmente através de [[diarreia]] e [[vômito]]s,<ref name=Eck2011%25252F> e menos frequentemente através de apenas um dos sintomas.<ref name=EBMED2010%25252F> Podem também ocorrer cólicas abdominais.<ref name=EBMED2010%25252F> Os sintomas têm normalmente início entre 12 a {{nowrap|72 horas}} depois de se contrair o agente infeccioso.<ref name=Web09>{{cite book|last=Webber|first=Roger|title=Communicable disease epidemiology and control : a global perspective|year=2009|publisher=Cabi|location=Wallingford, Oxfordshire|isbn=978-1-84593-504-7|page=79|url=/books?id=pZ9fpHtvOGYC&pg=PA79|edition=3rd}}</ref> Quando tem origem viral, a doença desaparece normalmente ao fim de uma semana.<ref name=Eck2011%25252F> Alguns agentes virais podem estar na origem de sintomas associados como [[febre]], fadiga, [[cefaleia|dores de cabeça]] e [[Mialgia|dores musculares]].<ref name=Eck2011%25252F> No caso das fezes [[melena|conterem sangue]], é pouco provável que a causa seja viral<ref name=Eck2011%25252F> e muito provável que seja bacteriana.<ref name=Bact2007%25252F> Algumas infecções bacterianas podem estar associadas a cólicas abdominais muito intensas e podem persistir por várias semanas.<ref name=Bact2007%25252F>
A gastroenterite manifesta-se normalmente através de [[diarreia]] e [[vómito]]s,<ref name=Eck2011/> e menos frequentemente através de apenas um dos sintomas.<ref name=EBMED2010/> Podem também ocorrer cólicas abdominais.<ref name=EBMED2010/> Os sintomas têm normalmente início entre 12 a {{nowrap|72 horas}} depois de se contrair o agente infeccioso.<ref name=Web09>{{cite book|last=Webber|first=Roger|title=Communicable disease epidemiology and control : a global perspective|year=2009|publisher=Cabi|location=Wallingford, Oxfordshire|isbn=978-1-84593-504-7|page=79|url=http://books.google.ca/books?id=pZ9fpHtvOGYC&pg=PA79|edition=3rd}}</ref> Quando tem origem viral, a doença desaparece normalmente ao fim de uma semana.<ref name=Eck2011/> Alguns agentes virais podem estar na origem de sintomas associados como [[febre]], fadiga, [[cefaleia|dores de cabeça]] e [[Mialgia|dores musculares]].<ref name=Eck2011/> No caso das fezes [[melena|conterem sangue]], é pouco provável que a causa seja viral<ref name=Eck2011/> e muito provável que seja bacteriana.<ref name=Bact2007/> Algumas infecções bacterianas podem estar associadas a cólicas abdominais muito intensas e podem persistir por várias semanas.<ref name=Bact2007/>


As crianças infectadas por rotavírus recuperam normalmente após três a oito dias.<ref name=Rota2011>{{cite journal|last=Meloni|first=A|coauthors=Locci, D, Frau, G, Masia, G, Nurchi, AM, Coppola, RC|title=Epidemiology and prevention of rotavirus infection: an underestimated issue?|journal=The journal of maternal-fetal & neonatal medicine : the official journal of the European Association of Perinatal Medicine, the Federation of Asia and Oceania Perinatal Societies, the International Society of Perinatal Obstetricians|date=2011 Oct|volume=24 Suppl 2|pages=48–51|pmid=21749188|doi=10.3109/14767058.2011.601920}}</ref> No entanto, em regiões menos desenvolvidas onde o acesso a cuidados de saúde é difícil, é comum que a diarreia persista por um período de tempo maior.<ref>{{cite web|title=Toolkit|url=/understanding-crisis/advocacy-outreach/toolkits|work=DefeatDD|accessdate=3 Maio 2012}}</ref> A [[desidratação]] é uma complicação frequente da diarreia,<ref name=NICE2009>{{cite web|title=Management of acute diarrhoea and vomiting due to gastoenteritis in children under 5|url=/CG84|work=National Institute of Clinical Excellence|month=Abril|year=2009}}</ref> e crianças com um grau significativo de desidratação podem apresentar [[teste de re-enchimento capilar]] lento, [[turgor]] da pele reduzido e respiração anormal. No lactente a depressão da fontanela superior é um sinal precoce de desidratação.<ref name=Tint10>{{cite book |author=Tintinalli, Judith E. |title=Emergency Medicine: A Comprehensive Study Guide (Emergency Medicine (Tintinalli))|publisher=McGraw-Hill Companies |location=New York |year=2010 |pages=830–839 |isbn=0-07-148480-9 }}</ref> Em regiões sem condições sanitárias, é comum a ocorrência repetitiva de infecções, o que a longo prazo pode dar origem a [[desnutrição]],<ref name=Web09%25252F> crescimento deficiente e [[Deficiência mental|atraso cognitivo]].<ref name=M93%25252F>
As crianças infectadas por rotavírus recuperam normalmente após três a oito dias.<ref name=Rota2011>{{cite journal|last=Meloni|first=A|coauthors=Locci, D, Frau, G, Masia, G, Nurchi, AM, Coppola, RC|title=Epidemiology and prevention of rotavirus infection: an underestimated issue?|journal=The journal of maternal-fetal & neonatal medicine : the official journal of the European Association of Perinatal Medicine, the Federation of Asia and Oceania Perinatal Societies, the International Society of Perinatal Obstetricians|date=2011 Oct|volume=24 Suppl 2|pages=48–51|pmid=21749188|doi=10.3109/14767058.2011.601920}}</ref> No entanto, em regiões menos desenvolvidas onde o acesso a cuidados de saúde é difícil, é comum que a diarreia persista por um período de tempo maior.<ref>{{cite web|title=Toolkit|url=http://www.defeatdd.org/understanding-crisis/advocacy-outreach/toolkits|work=DefeatDD|accessdate=3 Maio 2012}}</ref> A [[desidratação]] é uma complicação frequente da diarreia,<ref name=NICE2009>{{cite web|title=Management of acute diarrhoea and vomiting due to gastoenteritis in children under 5|url=http://guidance.nice.org.uk/CG84|work=National Institute of Clinical Excellence|month=Abril|year=2009}}</ref> e crianças com um grau significativo de desidratação podem apresentar [[teste de re-enchimento capilar]] lento, [[turgor]] da pele reduzido e respiração anormal. No lactente a depressão da fontanela superior é um sinal precoce de desidratação.<ref name=Tint10>{{cite book |author=Tintinalli, Judith E. |title=Emergency Medicine: A Comprehensive Study Guide (Emergency Medicine (Tintinalli))|publisher=McGraw-Hill Companies |location=New York |year=2010 |pages=830–839 |isbn=0-07-148480-9 }}</ref> Em regiões sem condições sanitárias, é comum a ocorrência repetitiva de infecções, o que a longo prazo pode dar origem a [[desnutrição]],<ref name=Web09/> crescimento deficiente e [[Deficiência mental|atraso cognitivo]].<ref name=M93/>


Cerca de 1% dos infectados com espécies de ''Campylobacter'' desenvolvem [[artrite reativa]] e 0,1% desenvolvem a [[síndrome de Guillain-Barré]].<ref name=Bact2007%25252F> As infecções por ''[[Escherichia coli]]'' ou espécies de ''[[Shigella]]'', produtoras da [[Shiga (toxina)|toxina Shiga]] podem dar origem à [[síndrome hemolítico-urêmica|síndrome hemolítico-urémico]], que se manifesta pela [[Trombocitopenia|baixa contagem de plaquetas]], [[insuficiência renal]] e [[Anemia hemolítica|baixa contagem de glóbulos vermelhos]].<ref name=BMJ2007%25252F> As crianças são mais predispostas a contrair a [[síndrome]] do que os adultos.<ref name=M93%25252F> Algumas infecções virais podem dar origem a [[Epilepsia infantil benigna|convulsões epilépticas infantis benignas]].<ref name=EBMED2010%25252F>
Cerca de 1% dos infectados com espécies de ''Campylobacter'' desenvolvem [[artrite reativa]] e 0,1% desenvolvem a [[síndrome de Guillain-Barré]].<ref name=Bact2007/> As infecções por ''[[Escherichia coli]]'' ou espécies de ''[[Shigella]]'', produtoras da [[Shiga (toxina)|toxina Shiga]] podem dar origem à [[síndrome hemolítico-urêmica|síndrome hemolítico-urémico]], que se manifesta pela [[Trombocitopenia|baixa contagem de plaquetas]], [[insuficiência renal]] e [[Anemia hemolítica|baixa contagem de glóbulos vermelhos]].<ref name=BMJ2007/> As crianças são mais predispostas a contrair a [[síndrome]] do que os adultos.<ref name=M93/> Algumas infecções virais podem dar origem a [[Epilepsia infantil benigna|convulsões epilépticas infantis benignas]].<ref name=EBMED2010/>


==Causas==
==Causas==
As principais causas da gastroenterite são os [[vírus]], em particular o [[rotavírus]], e a espécie bacteriana ''[[E. coli]]'' e as espécies do [[Género (biologia)|género]] ''[[Campylobacter]]''.<ref name=Web09%25252F><ref name=Sz2010%25252F> Existem, no entanto, vários outros agentes infecciosos que podem causar a doença.<ref name=M93%25252F> São por vezes registadas causas não-infecciosas, mas são muito menos prováveis de ocorrer.<ref name=EBMED2010%25252F> O risco de infecção é maior em crianças devido à sua pouca [[imunidade|defesa imunitária]] e relativa falta de higiene.<ref name=EBMED2010%25252F>
As principais causas da gastroenterite são os [[vírus]], em particular o [[rotavírus]], e a espécie bacteriana ''[[E. coli]]'' e as espécies do [[Género (biologia)|género]] ''[[Campylobacter]]''.<ref name=Web09/><ref name=Sz2010/> Existem, no entanto, vários outros agentes infecciosos que podem causar a doença.<ref name=M93/> São por vezes registadas causas não-infecciosas, mas são muito menos prováveis de ocorrer.<ref name=EBMED2010/> O risco de infecção é maior em crianças devido à sua pouca [[imunidade|defesa imunitária]] e relativa falta de higiene.<ref name=EBMED2010/>


===Viral===
===Viral===
Entre os vírus que se sabe estarem na origem da gastroenterite contam-se os [[rotavírus]], os [[norovírus]], os [[adenovírus]] e os [[astrovírus]].<ref name=Eck2011>{{cite journal |author=Eckardt AJ, Baumgart DC |title=Viral gastroenteritis in adults |journal=Recent Patents on Anti-infective Drug Discovery |volume=6 |issue=1 |pages=54–63 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21210762}}</ref><ref name="pmid21173676">{{cite journal |author=Dennehy PH |title=Viral gastroenteritis in children |journal=The Pediatric Infectious Disease Journal |volume=30 |issue=1 |pages=63–4 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21173676 |doi=10.1097/INF.0b013e3182059102}}</ref> Os rotavírus são a causa mais comum da gastroenterite em crianças,<ref name=Sz2010%25252F> com taxas de incidência semelhantes nos [[País desenvolvido|países desenvolvidos]] e [[País em desenvolvimento|em desenvolvimento]].<ref name=Rota2011%25252F> Os vírus são responsáveis por cerca de 70% dos episódios de diarreia infecciosa em pediatria.<ref name=Webb2005>{{cite journal|last=Webb|first=A|coauthors=Starr, M|title=Acute gastroenteritis in children.|journal=Australian family physician|date=2005 Apr|volume=34|issue=4|pages=227–31|pmid=15861741}}</ref> O rotavírus é uma causa menos comum em adultos devido à imunidade adquirida ao longo da vida.<ref name=ID2011>{{cite journal |author=Desselberger U, Huppertz HI |title=Immune responses to rotavirus infection and vaccination and associated correlates of protection |journal=The Journal of Infectious Diseases |volume=203 |issue=2 |pages=188–95 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21288818 |pmc=3071058 |doi=10.1093/infdis/jiq031 |url=}}</ref>
Entre os vírus que se sabe estarem na origem da gastroenterite contam-se os [[rotavírus]], os [[norovírus]], os [[adenovírus]] e os [[astrovírus]].<ref name=Eck2011>{{cite journal |author=Eckardt AJ, Baumgart DC |title=Viral gastroenteritis in adults |journal=Recent Patents on Anti-infective Drug Discovery |volume=6 |issue=1 |pages=54–63 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21210762}}</ref><ref name="pmid21173676">{{cite journal |author=Dennehy PH |title=Viral gastroenteritis in children |journal=The Pediatric Infectious Disease Journal |volume=30 |issue=1 |pages=63–4 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21173676 |doi=10.1097/INF.0b013e3182059102}}</ref> Os rotavírus são a causa mais comum da gastroenterite em crianças,<ref name=Sz2010/> com taxas de incidência semelhantes nos [[País desenvolvido|países desenvolvidos]] e [[País em desenvolvimento|em desenvolvimento]].<ref name=Rota2011/> Os vírus são responsáveis por cerca de 70% dos episódios de diarreia infecciosa em pediatria.<ref name=Webb2005>{{cite journal|last=Webb|first=A|coauthors=Starr, M|title=Acute gastroenteritis in children.|journal=Australian family physician|date=2005 Apr|volume=34|issue=4|pages=227–31|pmid=15861741}}</ref> O rotavírus é uma causa menos comum em adultos devido à imunidade adquirida ao longo da vida.<ref name=ID2011>{{cite journal |author=Desselberger U, Huppertz HI |title=Immune responses to rotavirus infection and vaccination and associated correlates of protection |journal=The Journal of Infectious Diseases |volume=203 |issue=2 |pages=188–95 |year=2011 |month=Janeiro |pmid=21288818 |pmc=3071058 |doi=10.1093/infdis/jiq031 |url=}}</ref>


Os norovírus são a principal causa de gastroenterite entre adultos na América do Norte, sendo responsáveis por mais de 90% dos surtos.<ref name=Eck2011%25252F> Este tipo de [[epidemia]]s localizadas ocorre quando grupos de indivíduos passam tempo em relativa proximidade física, como em [[Cruzeiro (viagem)|cruzeiros]],<ref name=Eck2011%25252F> hospitais ou restaurantes.<ref name=EBMED2010%25252F> Os indivíduos podem permanecer infectados mesmo depois da diarreia ter cessado.<ref name=Eck2011%25252F> Os norovírus são também responsáveis por cerca de 10% das ocorrências infantis.<ref name=EBMED2010%25252F>
Os norovírus são a principal causa de gastroenterite entre adultos na América do Norte, sendo responsáveis por mais de 90% dos surtos.<ref name=Eck2011/> Este tipo de [[epidemia]]s localizadas ocorre quando grupos de indivíduos passam tempo em relativa proximidade física, como em [[Cruzeiro (viagem)|cruzeiros]],<ref name=Eck2011/> hospitais ou restaurantes.<ref name=EBMED2010/> Os indivíduos podem permanecer infectados mesmo depois da diarreia ter cessado.<ref name=Eck2011/> Os norovírus são também responsáveis por cerca de 10% das ocorrências infantis.<ref name=EBMED2010/>


===Bacteriana===
===Bacteriana===
[[File:Salmonella Typhimurium Gram.jpg|thumb|Imagem de microscópio do [[Serotipo]] Typhimurium (ATCC 14028) da ''[[Salmonella enterica]]'', ampliado 1000x e submetido a [[Técnica de Gram|coloração]].]]
[[File:Salmonella Typhimurium Gram.jpg|thumb|Imagem de microscópio do [[Serotipo]] Typhimurium (ATCC 14028) da ''[[Salmonella enterica]]'', ampliado 1000x e submetido a [[Técnica de Gram|coloração]].]]
Nos países desenvolvidos a principal causa de gastroenterite bacteriana é a ''[[Campylobacter jejuni]]''. Metade destes casos estão associados com a exposição a [[Ave de capoeira|aves de criação]].<ref name=Bact2007>{{cite journal|last=Galanis|first=E|title=Campylobacter and bacterial gastroenteritis.|journal=CMAJ : Canadian Medical Association |date=2007 Sep 11|volume=177|issue=6|pages=570–1|pmid=17846438|doi=10.1503/cmaj.070660|pmc=1963361}}</ref> Em crianças, as bactérias são responsáveis por cerca de 15% dos casos, sendo as espécies mais comuns a ''[[Escherichia coli]]'', ''[[Salmonella]]'', ''[[Shigella]]'' e a ''[[Campylobacter]]''.<ref name=Webb2005%25252F> Se determinado alimento for contaminado por bactérias e se se mantiver à temperatura ambiente durante várias horas, as bactérias multiplicam-se e potenciam o risco de infecção dos eventuais consumidores.<ref name=M93%25252F> Entre os alimentos normalmente associados com a contaminação estão a carne, marisco e ovos crus ou mal cozinhados; rebentos crus; leite não pasteurizado, queijos moles, fruta e sumos de vegetais.<ref>{{cite journal|last=Nyachuba|first=DG|title=Foodborne illness: is it on the rise?|journal=Nutrition Reviews|date=Maio de 2010|volume=68|issue=5|pages=257-69|pmid=20500787|doi=10.1111/j.1753-4887.2010.00286.x}}</ref> Nos países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia e na África sub-Sariana, a [[cólera]] é uma das principais causas de gastroenterite, sendo transmitida através da água ou alimentos contaminados.<ref name=Cholera11>{{cite journal|last=Charles|first=RC|coauthors=Ryan, ET|title=Cholera in the 21st century.|journal=Current opinion in infectious diseases|date=2011 Oct|volume=24|issue=5|pages=472-7|pmid=21799407|doi=10.1097/QCO.0b013e32834a88af}}</ref>
Nos países desenvolvidos a principal causa de gastroenterite bacteriana é a ''[[Campylobacter jejuni]]''. Metade destes casos estão associados com a exposição a [[Ave de capoeira|aves de criação]].<ref name=Bact2007>{{cite journal|last=Galanis|first=E|title=Campylobacter and bacterial gastroenteritis.|journal=CMAJ : Canadian Medical Association |date=2007 Sep 11|volume=177|issue=6|pages=570–1|pmid=17846438|doi=10.1503/cmaj.070660|pmc=1963361}}</ref> Em crianças, as bactérias são responsáveis por cerca de 15% dos casos, sendo as espécies mais comuns a ''[[Escherichia coli]]'', ''[[Salmonella]]'', ''[[Shigella]]'' e a ''[[Campylobacter]]''.<ref name=Webb2005/> Se determinado alimento for contaminado por bactérias e se se mantiver à temperatura ambiente durante várias horas, as bactérias multiplicam-se e potenciam o risco de infecção dos eventuais consumidores.<ref name=M93/> Entre os alimentos normalmente associados com a contaminação estão a carne, marisco e ovos crus ou mal cozinhados; rebentos crus; leite não pasteurizado, queijos moles, fruta e sumos de vegetais.<ref>{{cite journal|last=Nyachuba|first=DG|title=Foodborne illness: is it on the rise?|journal=Nutrition Reviews|date=Maio de 2010|volume=68|issue=5|pages=257-69|pmid=20500787|doi=10.1111/j.1753-4887.2010.00286.x}}</ref> Nos países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia e na África sub-Sariana, a [[cólera]] é uma das principais causas de gastroenterite, sendo transmitida através da água ou alimentos contaminados.<ref name=Cholera11>{{cite journal|last=Charles|first=RC|coauthors=Ryan, ET|title=Cholera in the 21st century.|journal=Current opinion in infectious diseases|date=2011 Oct|volume=24|issue=5|pages=472-7|pmid=21799407|doi=10.1097/QCO.0b013e32834a88af}}</ref>


O bacilo toxigénico ''[[Clostridium difficile]]'' é também uma das causas de diarreia, o que se verifica sobretudo em idosos.<ref name=M93%25252F> As crianças podem ser portadoras desta bactéria sem que manifestem sintomas.<ref name=M93%25252F> Causa também diarreia entre aqueles hospitalizados e é frequentemente associada ao uso de antibióticos.<ref>{{cite journal|last=Moudgal|first=V|coauthors=Sobel, JD|title=Clostridium difficile colitis: a review.|journal=Hospital practice (1995)|date=2012 Feb|volume=40|issue=1|pages=139-48|pmid=22406889|doi=10.3810/hp.2012.02.954}}</ref> A diarreia causada por ''[[Staphylococcus aureus]]'' pode também ocorrer em consumidores de antibióticos.<ref>{{cite journal|last=Lin|first=Z|coauthors=Kotler, DP; Schlievert, PM; Sordillo, EM|title=Staphylococcal enterocolitis: forgotten but not gone?|journal=Digestive diseases and sciences|date=Maio de 2010|volume=55|issue=5|pages=1200-7|pmid=19609675}}</ref> A [[diarreia do viajante]] é normalmente um tipo de gastroenterite bacteriana. Os medicamentos [[antiácido]]s aparentam aumentar o risco de infecção após exposição a uma série de organismos, entre os quais a ''Clostridium difficile'' e as espécies de ''Salmonella'' e ''Campylobacter''.<ref name=PPI2007>{{cite journal|last=Leonard|first=J|coauthors=Marshall, JK, Moayyedi, P|title=Systematic review of the risk of enteric infection in patients taking acid suppression.|journal=The American journal of gastroenterology|date=2007 Sep|volume=102|issue=9|pages=2047–56; quiz 2057|pmid=17509031|doi=10.1111/j.1572-0241.2007.01275.x}}</ref> O risco é maior naqueles que tomam [[Inibidor da bomba de protões|inibidores da bomba de protões]] do que nos que tomam [[Anti-histamínico H2|anti-histamínicos H2]].<ref name=PPI2007%25252F>
O bacilo toxigénico ''[[Clostridium difficile]]'' é também uma das causas de diarreia, o que se verifica sobretudo em idosos.<ref name=M93/> As crianças podem ser portadoras desta bactéria sem que manifestem sintomas.<ref name=M93/> Causa também diarreia entre aqueles hospitalizados e é frequentemente associada ao uso de antibióticos.<ref>{{cite journal|last=Moudgal|first=V|coauthors=Sobel, JD|title=Clostridium difficile colitis: a review.|journal=Hospital practice (1995)|date=2012 Feb|volume=40|issue=1|pages=139-48|pmid=22406889|doi=10.3810/hp.2012.02.954}}</ref> A diarreia causada por ''[[Staphylococcus aureus]]'' pode também ocorrer em consumidores de antibióticos.<ref>{{cite journal|last=Lin|first=Z|coauthors=Kotler, DP; Schlievert, PM; Sordillo, EM|title=Staphylococcal enterocolitis: forgotten but not gone?|journal=Digestive diseases and sciences|date=Maio de 2010|volume=55|issue=5|pages=1200-7|pmid=19609675}}</ref> A [[diarreia do viajante]] é normalmente um tipo de gastroenterite bacteriana. Os medicamentos [[antiácido]]s aparentam aumentar o risco de infecção após exposição a uma série de organismos, entre os quais a ''Clostridium difficile'' e as espécies de ''Salmonella'' e ''Campylobacter''.<ref name=PPI2007>{{cite journal|last=Leonard|first=J|coauthors=Marshall, JK, Moayyedi, P|title=Systematic review of the risk of enteric infection in patients taking acid suppression.|journal=The American journal of gastroenterology|date=2007 Sep|volume=102|issue=9|pages=2047–56; quiz 2057|pmid=17509031|doi=10.1111/j.1572-0241.2007.01275.x}}</ref> O risco é maior naqueles que tomam [[Inibidor da bomba de protões|inibidores da bomba de protões]] do que nos que tomam [[Anti-histamínico H2|anti-histamínicos H2]].<ref name=PPI2007/>


===Parasitas===
===Parasitas===
A gastroenterite pode ser provocada por uma série de [[protozoário]]s, sobretudo pela ''[[Giardia lamblia]]'', mas também por ''[[Entamoeba histolytica]]'' e pelas espécies de ''[[Cryptosporidium]]''.<ref name=Webb2005%25252F> No total, estes agentes são responsáveis por cerca de 10% dos casos em crianças.<ref name=BMJ2007%25252F> A ''Giardia'' é mais frequente nos países em desenvolvimento, mas este [[agente etiológico]] está na origem de infecções praticamente em qualquer região.<ref name=Giar2010>{{cite journal|last=Escobedo|first=AA|coauthors=Almirall, P, Robertson, LJ, Franco, RM, Hanevik, K, Mørch, K, Cimerman, S|title=Giardiasis: the ever-present threat of a neglected disease.|journal=Infectious disorders drug targets|date=2010 Oct|volume=10|issue=5|pages=329–48|pmid=20701575}}</ref> É, no entanto, mais comum em pessoas que tenham viajado para regiões com grande prevalência do parasita, em crianças que frequentam jardins de infância, relações homossexuais e na sequência de [[desastre]]s.<ref name=Giar2010%25252F>
A gastroenterite pode ser provocada por uma série de [[protozoário]]s, sobretudo pela ''[[Giardia lamblia]]'', mas também por ''[[Entamoeba histolytica]]'' e pelas espécies de ''[[Cryptosporidium]]''.<ref name=Webb2005/> No total, estes agentes são responsáveis por cerca de 10% dos casos em crianças.<ref name=BMJ2007/> A ''Giardia'' é mais frequente nos países em desenvolvimento, mas este [[agente etiológico]] está na origem de infecções praticamente em qualquer região.<ref name=Giar2010>{{cite journal|last=Escobedo|first=AA|coauthors=Almirall, P, Robertson, LJ, Franco, RM, Hanevik, K, Mørch, K, Cimerman, S|title=Giardiasis: the ever-present threat of a neglected disease.|journal=Infectious disorders drug targets|date=2010 Oct|volume=10|issue=5|pages=329–48|pmid=20701575}}</ref> É, no entanto, mais comum em pessoas que tenham viajado para regiões com grande prevalência do parasita, em crianças que frequentam jardins de infância, relações homossexuais e na sequência de [[desastre]]s.<ref name=Giar2010/>


===Transmissão===
===Transmissão===
A transmissão pode dar-se através do consumo de água contaminada ou da partilha de objectos pessoais.<ref name=Web09%25252F> Em regiões com [[Estação seca|estações secas]] e [[Estação das chuvas|chuvosas]], a qualidade da água deteriora-se frequentemente durante a estação húmida, o que tem relação directa com a ocorrência de surtos.<ref name=Web09%25252F> Em regiões de [[clima temperado|estações temperadas]], as infecções são mais frequentes durante o Inverno.<ref name=M93%25252F> O uso de [[biberão|biberões]] com recipientes mal esterilizados é uma das mais significativas causas de transmissão a nível global.<ref name=Web09%25252F> As taxas de transmissão estão igualmente relacionadas com maus hábitos de higiene, sobretudo entre crianças,<ref name=Eck2011%25252F> em habitações sobrelotadas,<ref>{{cite journal|last=Grimwood|first=K|coauthors=Forbes, DA|title=Acute and persistent diarrhea.|journal=Pediatric clinics of North America|date=2009 Dec|volume=56|issue=6|pages=1343–61|pmid=19962025|doi=10.1016/j.pcl.2009.09.004}}</ref> e em indivíduos que apresentem já sintomas de má nutrição.<ref name=M93%25252F> Depois de desenvolverem imunidade, os adultos podem ser portadores de determinados patogéneos sem demonstrar quaisquer sinais ou sintomas, agindo como reservatórios de contágio.<ref name=M93%25252F> Enquanto que alguns agentes, como a ''Shigella'', são exclusivos dos [[primata]]s, outros, como a ''Giardia'', podem contaminar uma série de animais.<ref name=M93%25252F>
A transmissão pode dar-se através do consumo de água contaminada ou da partilha de objectos pessoais.<ref name=Web09/> Em regiões com [[Estação seca|estações secas]] e [[Estação das chuvas|chuvosas]], a qualidade da água deteriora-se frequentemente durante a estação húmida, o que tem relação directa com a ocorrência de surtos.<ref name=Web09/> Em regiões de [[clima temperado|estações temperadas]], as infecções são mais frequentes durante o Inverno.<ref name=M93/> O uso de [[biberão|biberões]] com recipientes mal esterilizados é uma das mais significativas causas de transmissão a nível global.<ref name=Web09/> As taxas de transmissão estão igualmente relacionadas com maus hábitos de higiene, sobretudo entre crianças,<ref name=Eck2011/> em habitações sobrelotadas,<ref>{{cite journal|last=Grimwood|first=K|coauthors=Forbes, DA|title=Acute and persistent diarrhea.|journal=Pediatric clinics of North America|date=2009 Dec|volume=56|issue=6|pages=1343–61|pmid=19962025|doi=10.1016/j.pcl.2009.09.004}}</ref> e em indivíduos que apresentem já sintomas de má nutrição.<ref name=M93/> Depois de desenvolverem imunidade, os adultos podem ser portadores de determinados patogéneos sem demonstrar quaisquer sinais ou sintomas, agindo como reservatórios de contágio.<ref name=M93/> Enquanto que alguns agentes, como a ''Shigella'', são exclusivos dos [[primata]]s, outros, como a ''Giardia'', podem contaminar uma série de animais.<ref name=M93/>


===Não-infecciosa===
===Não-infecciosa===
Existem uma série de causas não-infecciosas capazes de provocar de inflamações do trato gastrointestinal.<ref name=EBMED2010%25252F> Entre as mais comuns estão medicamentos como os [[anti-inflamatórios não esteroides]], determinados alimentos como a [[lactose]] (naqueles que são intolerantes) ou o [[glúten]] (naqueles com [[doença celíaca]]). A [[doença de Crohn]] pode igualmente estar na origem de gastroenterites, por vezes bastante severas.<ref name=EBMED2010%25252F> Pode também verificar-se o aparecimento da doença como consequência de determinadas [[toxina]]s. Entre os sintomas relacionados com a ingestão de alimentos para além das náuseas, vómitos e diarreia estão: a intoxicação por [[ciguatera]], em consequência do consumo de peixe contaminado; a intoxicação por [[tetrodotoxina]] associada à ingestão de [[tetraodontídeos]]; e o [[botulismo]] associado à conservação imprópria da comida.<ref>{{cite journal|last=Lawrence|first=DT|coauthors=Dobmeier, SG; Bechtel, LK; Holstege, CP|title=Food poisoning.|journal=Emergency medicine clinics of North America|date=Maio de 2007|volume=25|issue=2|pages=357-73; abstract ix|pmid=17482025|doi=10.1016/j.emc.2007.02.014}}</ref>
Existem uma série de causas não-infecciosas capazes de provocar de inflamações do trato gastrointestinal.<ref name=EBMED2010/> Entre as mais comuns estão medicamentos como os [[anti-inflamatórios não esteroides]], determinados alimentos como a [[lactose]] (naqueles que são intolerantes) ou o [[glúten]] (naqueles com [[doença celíaca]]). A [[doença de Crohn]] pode igualmente estar na origem de gastroenterites, por vezes bastante severas.<ref name=EBMED2010/> Pode também verificar-se o aparecimento da doença como consequência de determinadas [[toxina]]s. Entre os sintomas relacionados com a ingestão de alimentos para além das náuseas, vómitos e diarreia estão: a intoxicação por [[ciguatera]], em consequência do consumo de peixe contaminado; a intoxicação por [[tetrodotoxina]] associada à ingestão de [[tetraodontídeos]]; e o [[botulismo]] associado à conservação imprópria da comida.<ref>{{cite journal|last=Lawrence|first=DT|coauthors=Dobmeier, SG; Bechtel, LK; Holstege, CP|title=Food poisoning.|journal=Emergency medicine clinics of North America|date=Maio de 2007|volume=25|issue=2|pages=357-73; abstract ix|pmid=17482025|doi=10.1016/j.emc.2007.02.014}}</ref>


==Fisiopatologia==
==Fisiopatologia==
A gastroenterite define-se pela manifestação de [[vómito]]s ou [[diarreia]] causados pela infecção do [[intestino delgado]] ou [[intestino grosso|grosso]].<ref name=M93>Mandell 2010 Chp. 93</ref> As alterações no intestino delgado normalmente não são inflamatórias, enquanto que as do intestino grosso o são.<ref name=M93%25252F> O número de patogénios necessários para iniciar uma infecção varia entre apenas um (no caso da ''Cryptosporidium'') e 10<sup>8</sup> (no caso da ''Vibrio cholera'').<ref name=M93%25252F>
A gastroenterite define-se pela manifestação de [[vómito]]s ou [[diarreia]] causados pela infecção do [[intestino delgado]] ou [[intestino grosso|grosso]].<ref name=M93>Mandell 2010 Chp. 93</ref> As alterações no intestino delgado normalmente não são inflamatórias, enquanto que as do intestino grosso o são.<ref name=M93/> O número de patogénios necessários para iniciar uma infecção varia entre apenas um (no caso da ''Cryptosporidium'') e 10<sup>8</sup> (no caso da ''Vibrio cholera'').<ref name=M93/>


==Diagnóstico==
==Diagnóstico==
A gastroenterite é diagnosticada clinicamente com base nos sinais e sintomas do paciente.<ref name=Eck2011%25252F> Normalmente, não é necessária a determinação exacta da causa, já que não influencia o tratamento ou a gestão da doença.<ref name=Web09%25252F> No entanto, devem ser feitos exames às fezes quando se verifique sangue nas mesmas, quando se suspeite de [[intoxicação alimentar]] e em indivíduos que tenham viajado recentemente para países em desenvolvimento.<ref name=Webb2005%25252F> Podem também ser feitos exames de diagnóstico durante a fase de monitorização da doença.<ref name=Eck2011%25252F> Uma vez que cerca de 10% das crianças sofre de [[hipoglicemia]], recomenda-se que para este grupo sejam verificados os níveis de [[glicose]] no soro.<ref name=Tint10%25252F> Caso haja suspeitas de desidratação severa, devem ser analisados os níveis de eletrólitos e de creatinina.<ref name=Webb2005%25252F>
A gastroenterite é diagnosticada clinicamente com base nos sinais e sintomas do paciente.<ref name=Eck2011/> Normalmente, não é necessária a determinação exacta da causa, já que não influencia o tratamento ou a gestão da doença.<ref name=Web09/> No entanto, devem ser feitos exames às fezes quando se verifique sangue nas mesmas, quando se suspeite de [[intoxicação alimentar]] e em indivíduos que tenham viajado recentemente para países em desenvolvimento.<ref name=Webb2005/> Podem também ser feitos exames de diagnóstico durante a fase de monitorização da doença.<ref name=Eck2011/> Uma vez que cerca de 10% das crianças sofre de [[hipoglicemia]], recomenda-se que para este grupo sejam verificados os níveis de [[glicose]] no soro.<ref name=Tint10/> Caso haja suspeitas de desidratação severa, devem ser analisados os níveis de eletrólitos e de creatinina.<ref name=Webb2005/>


===Desidratação===
===Desidratação===
Uma das parte importantes na avaliação é determinar se a pessoa sofre ou não de [[desidratação]], sendo esta normalmente dividida em três graus: leve (3-5%), moderada (6-9%) e grave (≥10%).<ref name=EBMED2010%25252F> No lactente o sinal mais precoce de desidratação é a depressão da fontanela superior e a reposição de líquidos é uma urgência pois a desidratação pode ser letal em 24 horas num lactente.<ref>{{cite web|url=/enfermagem/port/desidrat.htm|titulo=Desidratação no lactente|acessodata=30-12-2012}}</ref> Em crianças, os indicadores mais precisos de desidratação moderada ou grave são o [[teste de re-enchimento capilar|enchimento capilar lento]], turgor da pele reduzido e respiração acelerada.<ref name=Tint10%25252F><ref>{{cite journal|last=Steiner|first=MJ|coauthors=DeWalt, DA, Byerley, JS|title=Is this child dehydrated?|journal=JAMA : the Journal of the American Medical Association|date=2004 Jun 9|volume=291|issue=22|pages=2746–54|pmid=15187057|doi=10.1001/jama.291.22.2746}}</ref> Outros sintomas complementares, eventualmente úteis quando conjugados com os anteriores, incluem a [[enoftalmia]], pouca actividade, ausência de lágrimas e boca seca.<ref name=EBMED2010%25252F> Um fluxo urinário normal e a capacidade de ingestão de líquidos por via oral sem os vomitar de imediato são sinais tranquilizadores.<ref name=Tint10%25252F> Os exames laboratoriais são de pouca ou nenhuma utilidade para se determinar o grau de desidratação.<ref name=EBMED2010%25252F>
Uma das parte importantes na avaliação é determinar se a pessoa sofre ou não de [[desidratação]], sendo esta normalmente dividida em três graus: leve (3-5%), moderada (6-9%) e grave (≥10%).<ref name=EBMED2010/> No lactente o sinal mais precoce de desidratação é a depressão da fontanela superior e a reposição de líquidos é uma urgência pois a desidratação pode ser letal em 24 horas num lactente.<ref>{{cite web|url=http://www.hospvirt.org.br/enfermagem/port/desidrat.htm|titulo=Desidratação no lactente|acessodata=30-12-2012}}</ref> Em crianças, os indicadores mais precisos de desidratação moderada ou grave são o [[teste de re-enchimento capilar|enchimento capilar lento]], turgor da pele reduzido e respiração acelerada.<ref name=Tint10/><ref>{{cite journal|last=Steiner|first=MJ|coauthors=DeWalt, DA, Byerley, JS|title=Is this child dehydrated?|journal=JAMA : the Journal of the American Medical Association|date=2004 Jun 9|volume=291|issue=22|pages=2746–54|pmid=15187057|doi=10.1001/jama.291.22.2746}}</ref> Outros sintomas complementares, eventualmente úteis quando conjugados com os anteriores, incluem a [[enoftalmia]], pouca actividade, ausência de lágrimas e boca seca.<ref name=EBMED2010/> Um fluxo urinário normal e a capacidade de ingestão de líquidos por via oral sem os vomitar de imediato são sinais tranquilizadores.<ref name=Tint10/> Os exames laboratoriais são de pouca ou nenhuma utilidade para se determinar o grau de desidratação.<ref name=EBMED2010/>


===Diagnóstico diferencial===
===Diagnóstico diferencial===
É necessário excluir através do diagnóstico eventuais patologias que se manifestam através de sinais e sintomas semelhantes aos da gastroenterite, como a [[apendicite]], [[vólvulo]], [[doença inflamatória intestinal]], [[infecção do trato urinário]] ou a [[diabetes mellitus]].<ref name=Webb2005%25252F> Devem também ser tidas em consideradação a insuficiência pancreática, a [[síndrome do intestino curto]], a [[doença de Whipple]], a [[doença celíaca]] e o abuso de [[laxante]]s.<ref name="Oxford">{{cite book |editor=Warrell D.A., Cox T.M., Firth J.D., Benz E.J. |title=The Oxford Textbook of Medicine |publisher=Oxford University Press |year=2003 |isbn=0-19-262922-0 |edition=4th |url=/ }}</ref> O diagnóstico diferencial pode ser difícil se a pessoa apenas manifesta um dos sintomas de vómitos ou diarreia, em vez de ambos.<ref name=EBMED2010%25252F>
É necessário excluir através do diagnóstico eventuais patologias que se manifestam através de sinais e sintomas semelhantes aos da gastroenterite, como a [[apendicite]], [[vólvulo]], [[doença inflamatória intestinal]], [[infecção do trato urinário]] ou a [[diabetes mellitus]].<ref name=Webb2005/> Devem também ser tidas em consideradação a insuficiência pancreática, a [[síndrome do intestino curto]], a [[doença de Whipple]], a [[doença celíaca]] e o abuso de [[laxante]]s.<ref name="Oxford">{{cite book |editor=Warrell D.A., Cox T.M., Firth J.D., Benz E.J. |title=The Oxford Textbook of Medicine |publisher=Oxford University Press |year=2003 |isbn=0-19-262922-0 |edition=4th |url=http://otm.oxfordmedicine.com/ }}</ref> O diagnóstico diferencial pode ser difícil se a pessoa apenas manifesta um dos sintomas de vómitos ou diarreia, em vez de ambos.<ref name=EBMED2010/>


A apendicite pode manifestar-se através de vómitos, cólicas abdominais e pequena quantidade de diarreia em 33% dos casos,<ref name=EBMED2010%25252F> em contraste com a grande quantidade de diarreia que é comum nos casos de gastroenterite.<ref name=EBMED2010%25252F> As infecções pulmonares ou do trato urinário em crianças podem também estar na origem de vómitos e diarreia.<ref name=EBMED2010%25252F> A [[cetoacidose diabética]] manifesta-se através de cólicas abdominais, náuseas e vómitos, mas sem diarreia.<ref name=EBMED2010%25252F> Um estudo demonstrou que 17% dos casos de cetoacidose diabética em crianças foram inicialmente diagnosticadas como gastroenterite.<ref name=EBMED2010%25252F>
A apendicite pode manifestar-se através de vómitos, cólicas abdominais e pequena quantidade de diarreia em 33% dos casos,<ref name=EBMED2010/> em contraste com a grande quantidade de diarreia que é comum nos casos de gastroenterite.<ref name=EBMED2010/> As infecções pulmonares ou do trato urinário em crianças podem também estar na origem de vómitos e diarreia.<ref name=EBMED2010/> A [[cetoacidose diabética]] manifesta-se através de cólicas abdominais, náuseas e vómitos, mas sem diarreia.<ref name=EBMED2010/> Um estudo demonstrou que 17% dos casos de cetoacidose diabética em crianças foram inicialmente diagnosticadas como gastroenterite.<ref name=EBMED2010/>


==Prevenção==
==Prevenção==
Linha 70: Linha 70:


===Estilo de vida===
===Estilo de vida===
Para a redução das taxas de infecção e dos casos de gastroenterite clinicamente relevante, é fundamental a existência de fornecimento de água não contaminada e de boas práticas sanitárias.<ref name=M93%25252F> Tem-se verificado que as medidas de âmbito pessoal, como a correcta lavagem das mãos, estão na origem de uma redução até 30% na prevalência de gastroenterite, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento.<ref name=Tint10%25252F> Os géis à base de álcool podem ser igualmente eficazes.<ref name=Tint10%25252F> A [[amamentação]] é importante, sobretudo em regiões com más condições de higiene,<ref name=Web09%25252F> já que reduz quer a frequência, quer a duração das infecções.<ref name=EBMED2010%25252F> Evitar comida e água contaminada é igualmente eficaz.<ref>{{cite web|title=Viral Gastroenteritis|url=/ncidod/dvrd/revb/gastro/faq.htm|work=Center for Disease Control and Prevention|accessdate=16 de Abril de 2012|month=Fevereiro|year=2011}}</ref>
Para a redução das taxas de infecção e dos casos de gastroenterite clinicamente relevante, é fundamental a existência de fornecimento de água não contaminada e de boas práticas sanitárias.<ref name=M93/> Tem-se verificado que as medidas de âmbito pessoal, como a correcta lavagem das mãos, estão na origem de uma redução até 30% na prevalência de gastroenterite, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento.<ref name=Tint10/> Os géis à base de álcool podem ser igualmente eficazes.<ref name=Tint10/> A [[amamentação]] é importante, sobretudo em regiões com más condições de higiene,<ref name=Web09/> já que reduz quer a frequência, quer a duração das infecções.<ref name=EBMED2010/> Evitar comida e água contaminada é igualmente eficaz.<ref>{{cite web|title=Viral Gastroenteritis|url=http://www.cdc.gov/ncidod/dvrd/revb/gastro/faq.htm|work=Center for Disease Control and Prevention|accessdate=16 de Abril de 2012|month=Fevereiro|year=2011}}</ref>


===Vacinação===
===Vacinação===
Devido à eficácia e segurança demonstradas pela [[vacina contra rotavírus]], a Organização Mundial de Saúde recomendou em 2009 que fosse disponibilizada gratuitamente para todas as crianças à escala mundial.<ref name=Sz2010>{{cite journal|last=Szajewska|first=H|coauthors=Dziechciarz, P|title=Gastrointestinal infections in the pediatric population.|journal=Current opinion in gastroenterology|date=2010 Jan|volume=26|issue=1|pages=36–44|pmid=19887936|doi=10.1097/MOG.0b013e328333d799}}</ref><ref name=WHORota2009>{{cite journal|last=World Health Organization|title=Rotavirus vaccines: an update|journal=Weekly epidemiological record|year=2009|month=Dezembro|volume=51–52|issue=84|pages=533–540|url=/wer/2009/wer8451_52.pdf|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> Existem duas versões comerciais da vacina, ao mesmo tempo que existem várias outras em fase de desenvolvimento.<ref name=WHORota2009%25252F> Em África e na Ásia, estas vacinas foram capazes de reduzir a incidência de casos graves entre as crianças,<ref name=WHORota2009%25252F> e nos países que colocaram em marcha um programa nacional de vacinação verificou-se o declínio das taxas de incidência e gravidade da doença.<ref>{{cite journal|last=Giaquinto|first=C|coauthors=Dominiak-Felden G, Van Damme P, Myint TT, Maldonado YA, Spoulou V, Mast TC, Staat MA|title=Summary of effectiveness and impact of rotavirus vaccination with the oral pentavalent rotavirus vaccine: a systematic review of the experience in industrialized countries|journal=Human Vaccines|year=Julho|month=2011|volume=7|series=7|pages=734–748|url=/journals/vaccines/article/15511/?nocache=1111012137|accessdate=10 de Maio de 2012|doi=10.4161/hv.7.7.15511|pmid=21734466}}</ref><ref>{{cite journal|last=Jiang|first=V|coauthors=Jiang B, Tate J, Parashar UD, Patel MM|title=Performance of rotavirus vaccines in developed and developing countries|journal=Human Vaccines|year=2010|month=Julho|volume=6|issue=7|pages=532–542|url=/journals/vaccines/article/11278/?nocache=531156378|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> A vacina contra rotavírus reduz também a probabilidade de contágio ao reduzir o número de infecções em propagação.<ref>{{cite journal|last=Patel|first=MM|coauthors=Steele, D, Gentsch, JR, Wecker, J, Glass, RI, Parashar, UD|title=Real-world impact of rotavirus vaccination.|journal=The Pediatric Infectious Disease Journal|date=2011 Jan|volume=30|issue=1 Suppl|pages=S1-5|pmid=21183833|doi=10.1097/INF.0b013e3181fefa1f}}</ref> Nos Estados Unidos, a implementação de um programa de vacinação contra o rotavírus a partir do ano 2000 foi responsável pela diminuição de 80% do número de casos de diarreia.<ref name="CDC%252520Rota">{{cite journal|last=US Center for Disease Control and Prevention|title=Delayed onset and diminished magnitude of rotavirus activity—United States, November 2007 – May 2008|journal=Morbidity and Mortality Weekly Report|year=2008|volume=57|issue=25|pages=697–700|url=/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5725a6.htm|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref><ref>{{cite journal |title=Reduction in rotavirus after vaccine introduction—United States, 2000–2009 |journal=MMWR Morb. Mortal. Wkly. Rep. |volume=58 |issue=41 |pages=1146–9 |year=2009 |month=Outubro |pmid=19847149 |url=/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5841a2.htm}}</ref><ref>{{cite journal|last=Tate|first=JE|coauthors=Cortese, MM, Payne, DC, Curns, AT, Yen, C, Esposito, DH, Cortes, JE, Lopman, BA, Patel, MM, Gentsch, JR, Parashar, UD|title=Uptake, impact, and effectiveness of rotavirus vaccination in the United States: review of the first 3 years of postlicensure data.|journal=The Pediatric Infectious Disease Journal|date=2011 Jan|volume=30|issue=1 Suppl|pages=S56-60|pmid=21183842|doi=10.1097/INF.0b013e3181fefdc0}}</ref> A primeira dose da vacina deve ser administrada a crianças entre as 6 e 15 semanas de vida.<ref name=Sz2010%25252F> A vacina oral da cólera revelou ser 50 a 60% eficaz ao longo de dois anos.<ref>{{cite journal|last=Sinclair|first=D|coauthors=Abba, K, Zaman, K, Qadri, F, Graves, PM|title=Oral vaccines for preventing cholera.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Mar 16|issue=3|pages=CD008603|pmid=21412922|doi=10.1002/14651858.CD008603.pub2}}</ref>
Devido à eficácia e segurança demonstradas pela [[vacina contra rotavírus]], a Organização Mundial de Saúde recomendou em 2009 que fosse disponibilizada gratuitamente para todas as crianças à escala mundial.<ref name=Sz2010>{{cite journal|last=Szajewska|first=H|coauthors=Dziechciarz, P|title=Gastrointestinal infections in the pediatric population.|journal=Current opinion in gastroenterology|date=2010 Jan|volume=26|issue=1|pages=36–44|pmid=19887936|doi=10.1097/MOG.0b013e328333d799}}</ref><ref name=WHORota2009>{{cite journal|last=World Health Organization|title=Rotavirus vaccines: an update|journal=Weekly epidemiological record|year=2009|month=Dezembro|volume=51–52|issue=84|pages=533–540|url=http://www.who.int/wer/2009/wer8451_52.pdf|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> Existem duas versões comerciais da vacina, ao mesmo tempo que existem várias outras em fase de desenvolvimento.<ref name=WHORota2009/> Em África e na Ásia, estas vacinas foram capazes de reduzir a incidência de casos graves entre as crianças,<ref name=WHORota2009/> e nos países que colocaram em marcha um programa nacional de vacinação verificou-se o declínio das taxas de incidência e gravidade da doença.<ref>{{cite journal|last=Giaquinto|first=C|coauthors=Dominiak-Felden G, Van Damme P, Myint TT, Maldonado YA, Spoulou V, Mast TC, Staat MA|title=Summary of effectiveness and impact of rotavirus vaccination with the oral pentavalent rotavirus vaccine: a systematic review of the experience in industrialized countries|journal=Human Vaccines|year=Julho|month=2011|volume=7|series=7|pages=734–748|url=http://www.landesbioscience.com/journals/vaccines/article/15511/?nocache=1111012137|accessdate=10 de Maio de 2012|doi=10.4161/hv.7.7.15511|pmid=21734466}}</ref><ref>{{cite journal|last=Jiang|first=V|coauthors=Jiang B, Tate J, Parashar UD, Patel MM|title=Performance of rotavirus vaccines in developed and developing countries|journal=Human Vaccines|year=2010|month=Julho|volume=6|issue=7|pages=532–542|url=http://www.landesbioscience.com/journals/vaccines/article/11278/?nocache=531156378|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> A vacina contra rotavírus reduz também a probabilidade de contágio ao reduzir o número de infecções em propagação.<ref>{{cite journal|last=Patel|first=MM|coauthors=Steele, D, Gentsch, JR, Wecker, J, Glass, RI, Parashar, UD|title=Real-world impact of rotavirus vaccination.|journal=The Pediatric Infectious Disease Journal|date=2011 Jan|volume=30|issue=1 Suppl|pages=S1-5|pmid=21183833|doi=10.1097/INF.0b013e3181fefa1f}}</ref> Nos Estados Unidos, a implementação de um programa de vacinação contra o rotavírus a partir do ano 2000 foi responsável pela diminuição de 80% do número de casos de diarreia.<ref name="CDC Rota">{{cite journal|last=US Center for Disease Control and Prevention|title=Delayed onset and diminished magnitude of rotavirus activity—United States, November 2007 – May 2008|journal=Morbidity and Mortality Weekly Report|year=2008|volume=57|issue=25|pages=697–700|url=http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5725a6.htm|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref><ref>{{cite journal |title=Reduction in rotavirus after vaccine introduction—United States, 2000–2009 |journal=MMWR Morb. Mortal. Wkly. Rep. |volume=58 |issue=41 |pages=1146–9 |year=2009 |month=Outubro |pmid=19847149 |url=http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5841a2.htm}}</ref><ref>{{cite journal|last=Tate|first=JE|coauthors=Cortese, MM, Payne, DC, Curns, AT, Yen, C, Esposito, DH, Cortes, JE, Lopman, BA, Patel, MM, Gentsch, JR, Parashar, UD|title=Uptake, impact, and effectiveness of rotavirus vaccination in the United States: review of the first 3 years of postlicensure data.|journal=The Pediatric Infectious Disease Journal|date=2011 Jan|volume=30|issue=1 Suppl|pages=S56-60|pmid=21183842|doi=10.1097/INF.0b013e3181fefdc0}}</ref> A primeira dose da vacina deve ser administrada a crianças entre as 6 e 15 semanas de vida.<ref name=Sz2010/> A vacina oral da cólera revelou ser 50 a 60% eficaz ao longo de dois anos.<ref>{{cite journal|last=Sinclair|first=D|coauthors=Abba, K, Zaman, K, Qadri, F, Graves, PM|title=Oral vaccines for preventing cholera.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Mar 16|issue=3|pages=CD008603|pmid=21412922|doi=10.1002/14651858.CD008603.pub2}}</ref>


== Tratamento ==
== Tratamento ==
A gastroenterite é uma doença aguda e auto-limitante que normalmente não requer qualquer medicação.<ref name=NICE2009%25252F> O tratamento preferencial naqueles com [[desidratação]] leve a moderada é a [[terapia de reidratação oral]] (TRO).<ref name=BMJ2007>{{cite journal|last=Elliott|first=EJ|title=Acute gastroenteritis in children.|journal=BMJ (Clinical research ed.)|date=2007 Jan 6|volume=334|issue=7583|pages=35–40|pmid=17204802|doi=10.1136/bmj.39036.406169.80|pmc=1764079}}</ref> No entanto, a [[metoclopramida]] e/ou a [[ondansetrona]] podem ser úteis nalgumas crianças,<ref name="Alhashimi2009">{{cite journal |author=Alhashimi D, Al-Hashimi H, Fedorowicz Z |editor1-last=Alhashimi |editor1-first=Dunia |title=Antiemetics for reducing vomiting related to acute gastroenteritis in children and adolescents |journal=Cochrane Database Syst Rev |issue=2 |pages=CD005506 |year=2009 |pmid=19370620|doi=10.1002/14651858.CD005506.pub4 }}</ref> e a [[butilescopolamina]] pode ser usada no tratamento de [[Dor abdominal|dores abdominais]].<ref>{{cite journal |author=Tytgat GN |title=Hyoscine butylbromide: a review of its use in the treatment of abdominal cramping and pain |journal=Drugs |volume=67 |issue=9 |pages=1343–57 |year=2007 |pmid=17547475 }}</ref>
A gastroenterite é uma doença aguda e auto-limitante que normalmente não requer qualquer medicação.<ref name=NICE2009/> O tratamento preferencial naqueles com [[desidratação]] leve a moderada é a [[terapia de reidratação oral]] (TRO).<ref name=BMJ2007>{{cite journal|last=Elliott|first=EJ|title=Acute gastroenteritis in children.|journal=BMJ (Clinical research ed.)|date=2007 Jan 6|volume=334|issue=7583|pages=35–40|pmid=17204802|doi=10.1136/bmj.39036.406169.80|pmc=1764079}}</ref> No entanto, a [[metoclopramida]] e/ou a [[ondansetrona]] podem ser úteis nalgumas crianças,<ref name="Alhashimi2009">{{cite journal |author=Alhashimi D, Al-Hashimi H, Fedorowicz Z |editor1-last=Alhashimi |editor1-first=Dunia |title=Antiemetics for reducing vomiting related to acute gastroenteritis in children and adolescents |journal=Cochrane Database Syst Rev |issue=2 |pages=CD005506 |year=2009 |pmid=19370620|doi=10.1002/14651858.CD005506.pub4 }}</ref> e a [[butilescopolamina]] pode ser usada no tratamento de [[Dor abdominal|dores abdominais]].<ref>{{cite journal |author=Tytgat GN |title=Hyoscine butylbromide: a review of its use in the treatment of abdominal cramping and pain |journal=Drugs |volume=67 |issue=9 |pages=1343–57 |year=2007 |pmid=17547475 }}</ref>


=== Reidratação ===
=== Reidratação ===
A principal forma de tratamento da gastroenterite, quer em adultos quer em crianças, é através da reidratação. Normalmente recorre-se à terapia de reidratação oral, embora possa ser necessária a administração intravenosa nos casos mais graves ou quando haja perda ou alteração de consciência por parte do paciente.<ref>{{cite web |url=/bets/bet.php?id=1039 |title=BestBets: Fluid Treatment of Gastroenteritis in Adults }}</ref><ref>{{cite journal |author=Canavan A, Arant BS |title=Diagnosis and management of dehydration in children |journal=Am Fam Physician |volume=80 |issue=7 |pages=692–6 |year=2009 |month=Outubro |pmid=19817339 }}</ref> Os produtos de terapia oral à base de [[hidratos de carbono]] complexos (por exemplo, os que são feitos a partir de trigo ou arroz) podem ser mais eficazes do que aqueles à base de açúcares simples.<ref>{{cite journal |author=Gregorio GV, Gonzales ML, Dans LF, Martinez EG |editor1-last=Gregorio |editor1-first=Germana V |title=Polymer-based oral rehydration solution for treating acute watery diarrhoea |journal=Cochrane Database Syst Rev |issue=2 |pages=CD006519 |year=2009 |pmid=19370638 |doi=10.1002/14651858.CD006519.pub2 }}</ref> As bebidas com níveis particularmente altos de açúcar, como os [[refrigerante]]s ou os sumos de fruta, não são recomendadas para crianças com idade inferior a 5 anos, já que podem contribuir para o agravamento da diarreia.<ref name=NICE2009%25252F> Caso não seja possível preparar meios adequados de terapia de reidratação oral, pode ser usada apenas água.<ref name=NICE2009%25252F> Caso seja necessário, pode-se recorrer a uma [[sonda nasogástrica]] para administrar líquidos a crianças pequenas.<ref name=Webb2005%25252F>
A principal forma de tratamento da gastroenterite, quer em adultos quer em crianças, é através da reidratação. Normalmente recorre-se à terapia de reidratação oral, embora possa ser necessária a administração intravenosa nos casos mais graves ou quando haja perda ou alteração de consciência por parte do paciente.<ref>{{cite web |url=http://www.bestbets.org/bets/bet.php?id=1039 |title=BestBets: Fluid Treatment of Gastroenteritis in Adults }}</ref><ref>{{cite journal |author=Canavan A, Arant BS |title=Diagnosis and management of dehydration in children |journal=Am Fam Physician |volume=80 |issue=7 |pages=692–6 |year=2009 |month=Outubro |pmid=19817339 }}</ref> Os produtos de terapia oral à base de [[hidratos de carbono]] complexos (por exemplo, os que são feitos a partir de trigo ou arroz) podem ser mais eficazes do que aqueles à base de açúcares simples.<ref>{{cite journal |author=Gregorio GV, Gonzales ML, Dans LF, Martinez EG |editor1-last=Gregorio |editor1-first=Germana V |title=Polymer-based oral rehydration solution for treating acute watery diarrhoea |journal=Cochrane Database Syst Rev |issue=2 |pages=CD006519 |year=2009 |pmid=19370638 |doi=10.1002/14651858.CD006519.pub2 }}</ref> As bebidas com níveis particularmente altos de açúcar, como os [[refrigerante]]s ou os sumos de fruta, não são recomendadas para crianças com idade inferior a 5 anos, já que podem contribuir para o agravamento da diarreia.<ref name=NICE2009/> Caso não seja possível preparar meios adequados de terapia de reidratação oral, pode ser usada apenas água.<ref name=NICE2009/> Caso seja necessário, pode-se recorrer a uma [[sonda nasogástrica]] para administrar líquidos a crianças pequenas.<ref name=Webb2005/>


===Dieta===
===Dieta===
Recomenda-se que lactentes continuem a ser amamentados de forma regular, e que crianças alimentadas com [[fórmula infantil]] retomem a alimentação imediatamente depois da reidratação com TRO.<ref name=MMWR2003%25252F> Geralmente não são necessárias fórmulas isentas ou com baixo teor de lactose.<ref name=MMWR2003%25252F> Durante os episódios de diarreia, as crianças devem manter a sua dieta regular, devendo apenas evitar alimentos ricos em [[Monossacarídeo|açúcares simples]].<ref name=MMWR2003%25252F> A [[dieta BRAT]] (bananas, arroz, puré de maçã, tostas e chá) já não faz parte das recomendações, uma vez que não contém nutrientes suficientes e não apresenta benefícios em relação à dieta regular.<ref name=MMWR2003>{{cite journal |author=King CK, Glass R, Bresee JS, Duggan C |title=Managing acute gastroenteritis among children: oral rehydration, maintenance, and nutritional therapy |journal=MMWR Recomm Rep |volume=52 |issue=RR-16 |pages=1–16 |year=2003 |month=Novembro |pmid=14627948 |url=/mmwr/preview/mmwrhtml/rr5216a1.htm}}</ref> Tem-se verificado que alguns [[probiótico]]s podem ajudar a reduzir tanto a duração da doença como a frequência da defecação.<ref>{{cite journal |author=Allen SJ, Martinez EG, Gregorio GV, Dans LF |editor1-last=Allen |editor1-first=Stephen J |title=Probiotics for treating acute infectious diarrhoea |journal=Cochrane Database Syst Rev |volume=11 |issue= 11|pages=CD003048 |year=2010 |pmid=21069673 |doi=10.1002/14651858.CD003048.pub3 }}</ref> Os produtos lácteos fermentados, como o [[iogurte]], podem também apresentar alguns benefícios.<ref>{{cite web|last=Mackway-Jones|first=Kevin|title=Does yogurt decrease acute diarrhoeal symptoms in children with acute gastroenteritis?|url=/bets/bet.php?id=1000|work=BestBets|month=Junho|year=2007}}</ref> Os suplementos de [[zinco]] aparentam ser eficazes tanto no tratamento como na prevenção da diarreia entre crianças nos países desenvolvidos.<ref>{{cite journal|last=Telmesani|first=AM|title=Oral rehydration salts, zinc supplement and rota virus vaccine in the management of childhood acute diarrhea.|journal=Journal of family and community medicine|date=Maio de 2010|volume=17|issue=2|pages=79–82|pmid=21359029|doi=10.4103/1319-1683.71988|pmc=3045093}}</ref>
Recomenda-se que lactentes continuem a ser amamentados de forma regular, e que crianças alimentadas com [[fórmula infantil]] retomem a alimentação imediatamente depois da reidratação com TRO.<ref name=MMWR2003/> Geralmente não são necessárias fórmulas isentas ou com baixo teor de lactose.<ref name=MMWR2003/> Durante os episódios de diarreia, as crianças devem manter a sua dieta regular, devendo apenas evitar alimentos ricos em [[Monossacarídeo|açúcares simples]].<ref name=MMWR2003/> A [[dieta BRAT]] (bananas, arroz, puré de maçã, tostas e chá) já não faz parte das recomendações, uma vez que não contém nutrientes suficientes e não apresenta benefícios em relação à dieta regular.<ref name=MMWR2003>{{cite journal |author=King CK, Glass R, Bresee JS, Duggan C |title=Managing acute gastroenteritis among children: oral rehydration, maintenance, and nutritional therapy |journal=MMWR Recomm Rep |volume=52 |issue=RR-16 |pages=1–16 |year=2003 |month=Novembro |pmid=14627948 |url=http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr5216a1.htm}}</ref> Tem-se verificado que alguns [[probiótico]]s podem ajudar a reduzir tanto a duração da doença como a frequência da defecação.<ref>{{cite journal |author=Allen SJ, Martinez EG, Gregorio GV, Dans LF |editor1-last=Allen |editor1-first=Stephen J |title=Probiotics for treating acute infectious diarrhoea |journal=Cochrane Database Syst Rev |volume=11 |issue= 11|pages=CD003048 |year=2010 |pmid=21069673 |doi=10.1002/14651858.CD003048.pub3 }}</ref> Os produtos lácteos fermentados, como o [[iogurte]], podem também apresentar alguns benefícios.<ref>{{cite web|last=Mackway-Jones|first=Kevin|title=Does yogurt decrease acute diarrhoeal symptoms in children with acute gastroenteritis?|url=http://www.bestbets.org/bets/bet.php?id=1000|work=BestBets|month=Junho|year=2007}}</ref> Os suplementos de [[zinco]] aparentam ser eficazes tanto no tratamento como na prevenção da diarreia entre crianças nos países desenvolvidos.<ref>{{cite journal|last=Telmesani|first=AM|title=Oral rehydration salts, zinc supplement and rota virus vaccine in the management of childhood acute diarrhea.|journal=Journal of family and community medicine|date=Maio de 2010|volume=17|issue=2|pages=79–82|pmid=21359029|doi=10.4103/1319-1683.71988|pmc=3045093}}</ref>


===Antieméticos===
===Antieméticos===
Os [[antiemético]]s podem ajudar no tratamento de vómitos em crianças. A [[ondansetrona]] é relativamente eficaz, e a administração de uma única dose associa-se à menor necessidade de administração intravenosa de soro, a menos hospitalizações e à redução dos vómitos.<ref>{{cite journal |author=DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ |title=Use of antiemetic agents in acute gastroenteritis: a systematic review and meta-analysis |journal=Arch Pediatr Adolesc Med |volume=162 |issue=9 |pages=858–65 |year=2008 |month=Setembro |pmid=18762604|doi=10.1001/archpedi.162.9.858 }}</ref><ref name="pmid17279195">{{cite journal| author = Mehta S, Goldman RD| title = Ondansetron for acute gastroenteritis in children| journal = Can Fam Physician| volume = 52| issue = 11| pages = 1397–8| year = 2006| pmid = 17279195 | url =/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=17279195 | pmc = 1783696 }}</ref><ref name=Cochrane2011%25252F> [[Metoclopramida]] também pode ser útil.<ref name=Cochrane2011>{{cite journal|last=Fedorowicz|first=Z|coauthors=Jagannath, VA, Carter, B|title=Antiemetics for reducing vomiting related to acute gastroenteritis in children and adolescents.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Sep 7|volume=9|pages=CD005506|pmid=21901699|doi=10.1002/14651858.CD005506.pub5|issue=9}}</ref> No entanto, o uso de ondansetrona pode estar associado também a uma maior taxa de re-hospitalização em crianças.<ref>{{cite journal |author=Sturm JJ, Hirsh DA, Schweickert A, Massey R, Simon HK |title=Ondansetron use in the pediatric emergency department and effects on hospitalization and return rates: are we masking alternative diagnoses? |journal=Ann Emerg Med |volume=55 |issue=5 |pages=415–22 |year=2010 |month=Maio |pmid=20031265 |doi=10.1016/j.annemergmed.2009.11.011 }}</ref> Caso haja supervisão e aprovação médica, a administração do fármaco pode ser feita por via oral.<ref>{{cite web|title=Ondansetron|url=/professional/print/lexicomp/ondansetron.html|work=Lexi-Comp|month=Maio|year=2011}}</ref> O [[dimenidrinato]], embora reduza os vómitos, não aparenta ter benefícios clínicos significativos.<ref name=EBMED2010%25252F>
Os [[antiemético]]s podem ajudar no tratamento de vómitos em crianças. A [[ondansetrona]] é relativamente eficaz, e a administração de uma única dose associa-se à menor necessidade de administração intravenosa de soro, a menos hospitalizações e à redução dos vómitos.<ref>{{cite journal |author=DeCamp LR, Byerley JS, Doshi N, Steiner MJ |title=Use of antiemetic agents in acute gastroenteritis: a systematic review and meta-analysis |journal=Arch Pediatr Adolesc Med |volume=162 |issue=9 |pages=858–65 |year=2008 |month=Setembro |pmid=18762604|doi=10.1001/archpedi.162.9.858 }}</ref><ref name="pmid17279195">{{cite journal| author = Mehta S, Goldman RD| title = Ondansetron for acute gastroenteritis in children| journal = Can Fam Physician| volume = 52| issue = 11| pages = 1397–8| year = 2006| pmid = 17279195 | url =http://www.cfp.ca/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=17279195 | pmc = 1783696 }}</ref><ref name=Cochrane2011/> [[Metoclopramida]] também pode ser útil.<ref name=Cochrane2011>{{cite journal|last=Fedorowicz|first=Z|coauthors=Jagannath, VA, Carter, B|title=Antiemetics for reducing vomiting related to acute gastroenteritis in children and adolescents.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Sep 7|volume=9|pages=CD005506|pmid=21901699|doi=10.1002/14651858.CD005506.pub5|issue=9}}</ref> No entanto, o uso de ondansetrona pode estar associado também a uma maior taxa de re-hospitalização em crianças.<ref>{{cite journal |author=Sturm JJ, Hirsh DA, Schweickert A, Massey R, Simon HK |title=Ondansetron use in the pediatric emergency department and effects on hospitalization and return rates: are we masking alternative diagnoses? |journal=Ann Emerg Med |volume=55 |issue=5 |pages=415–22 |year=2010 |month=Maio |pmid=20031265 |doi=10.1016/j.annemergmed.2009.11.011 }}</ref> Caso haja supervisão e aprovação médica, a administração do fármaco pode ser feita por via oral.<ref>{{cite web|title=Ondansetron|url=http://www.merckmanuals.com/professional/print/lexicomp/ondansetron.html|work=Lexi-Comp|month=Maio|year=2011}}</ref> O [[dimenidrinato]], embora reduza os vómitos, não aparenta ter benefícios clínicos significativos.<ref name=EBMED2010/>


===Antibióticos===
===Antibióticos===
Geralmente, os [[antibiótico]]s não são usados no tratamento da gastroenterite, embora sejam por vezes recomendados no caso dos sintomas serem particularmente graves<ref>{{cite journal |author=Traa BS, Walker CL, Munos M, Black RE |title=Antibiotics for the treatment of dysentery in children |journal=Int J Epidemiol |volume=39 |issue=Suppl 1 |pages=i70–4 |year=2010 |month=Abril |pmid=20348130 |pmc=2845863 |doi=10.1093/ije/dyq024 }}</ref> ou caso se suspeite ou tenha isolado uma causa bacterial.<ref>{{cite journal |author=Grimwood K, Forbes DA |title=Acute and persistent diarrhea |journal=Pediatr. Clin. North Am. |volume=56 |issue=6 |pages=1343–61 |year=2009 |month=Dezembro |pmid=19962025 |doi=10.1016/j.pcl.2009.09.004 }}</ref> No caso de serem usados antibióticos, é preferível o uso de um [[macrólido]], como a [[azitromicina]], em relação a [[fluoroquinolona]]s devido à maior [[resistência antibiótica]] destas últimas.<ref name=Bact2007%25252F> A [[colite pseudomembranosa]], normalmente causada pelo uso de antibióticos, pode ser resolvida com a interrupção da administração do antibiótico em causa, substituindo-o por [[metronidazol]] ou [[vancomicina]].<ref name="Mandell"/> Entre as bactérias que reagem positivamente ao tratamento estão a ''[[Disenteria bacteriana|Shigella]]'',<ref>{{cite journal|last=Christopher|first=PR|coauthors=David, KV, John, SM, Sankarapandian, V|title=Antibiotic therapy for Shigella dysentery.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2010 Aug 4|issue=8|pages=CD006784|pmid=20687081|doi=10.1002/14651858.CD006784.pub4}}</ref> ''[[Salmonelose|Salmonella typhi]]'',<ref>{{cite journal|last=Effa|first=EE|coauthors=Lassi, ZS, Critchley, JA, Garner, P, Sinclair, D, Olliaro, PL, Bhutta, ZA|title=Fluoroquinolones for treating typhoid and paratyphoid fever (enteric fever).|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Oct 5|issue=10|pages=CD004530|pmid=21975746|doi=10.1002/14651858.CD004530.pub4}}</ref> e as espécies de ''Giardia''.<ref name=Giar2010%25252F> Nos casos de espécies de ''Giardia'' ou ''Entamoeba histolytica'', o tratamento com [[tinidazol]] é superior e recomendado em relação ao metronidazol.<ref name=Giar2010%25252F><ref>{{cite journal|last=Gonzales|first=ML|coauthors=Dans, LF, Martinez, EG|title=Antiamoebic drugs for treating amoebic colitis.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2009 Apr 15|issue=2|pages=CD006085|pmid=19370624|doi=10.1002/14651858.CD006085.pub2}}</ref> A [[Organização Mundial de Saúde]] recomenda o uso de antibióticos em crianças novas que apresentem diarreia com sangue e febre.<ref name=EBMED2010%25252F>
Geralmente, os [[antibiótico]]s não são usados no tratamento da gastroenterite, embora sejam por vezes recomendados no caso dos sintomas serem particularmente graves<ref>{{cite journal |author=Traa BS, Walker CL, Munos M, Black RE |title=Antibiotics for the treatment of dysentery in children |journal=Int J Epidemiol |volume=39 |issue=Suppl 1 |pages=i70–4 |year=2010 |month=Abril |pmid=20348130 |pmc=2845863 |doi=10.1093/ije/dyq024 }}</ref> ou caso se suspeite ou tenha isolado uma causa bacterial.<ref>{{cite journal |author=Grimwood K, Forbes DA |title=Acute and persistent diarrhea |journal=Pediatr. Clin. North Am. |volume=56 |issue=6 |pages=1343–61 |year=2009 |month=Dezembro |pmid=19962025 |doi=10.1016/j.pcl.2009.09.004 }}</ref> No caso de serem usados antibióticos, é preferível o uso de um [[macrólido]], como a [[azitromicina]], em relação a [[fluoroquinolona]]s devido à maior [[resistência antibiótica]] destas últimas.<ref name=Bact2007/> A [[colite pseudomembranosa]], normalmente causada pelo uso de antibióticos, pode ser resolvida com a interrupção da administração do antibiótico em causa, substituindo-o por [[metronidazol]] ou [[vancomicina]].<ref name="Mandell"/> Entre as bactérias que reagem positivamente ao tratamento estão a ''[[Disenteria bacteriana|Shigella]]'',<ref>{{cite journal|last=Christopher|first=PR|coauthors=David, KV, John, SM, Sankarapandian, V|title=Antibiotic therapy for Shigella dysentery.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2010 Aug 4|issue=8|pages=CD006784|pmid=20687081|doi=10.1002/14651858.CD006784.pub4}}</ref> ''[[Salmonelose|Salmonella typhi]]'',<ref>{{cite journal|last=Effa|first=EE|coauthors=Lassi, ZS, Critchley, JA, Garner, P, Sinclair, D, Olliaro, PL, Bhutta, ZA|title=Fluoroquinolones for treating typhoid and paratyphoid fever (enteric fever).|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2011 Oct 5|issue=10|pages=CD004530|pmid=21975746|doi=10.1002/14651858.CD004530.pub4}}</ref> e as espécies de ''Giardia''.<ref name=Giar2010/> Nos casos de espécies de ''Giardia'' ou ''Entamoeba histolytica'', o tratamento com [[tinidazol]] é superior e recomendado em relação ao metronidazol.<ref name=Giar2010/><ref>{{cite journal|last=Gonzales|first=ML|coauthors=Dans, LF, Martinez, EG|title=Antiamoebic drugs for treating amoebic colitis.|journal=Cochrane database of systematic reviews (Online)|date=2009 Apr 15|issue=2|pages=CD006085|pmid=19370624|doi=10.1002/14651858.CD006085.pub2}}</ref> A [[Organização Mundial de Saúde]] recomenda o uso de antibióticos em crianças novas que apresentem diarreia com sangue e febre.<ref name=EBMED2010/>


===Agentes antimotilidade===
===Agentes antimotilidade===
A medicação antidiarreica possui um risco teórico de causar complicações, e embora a experiência clínica tenha mostrado que isto seja improvável,<ref name="Oxford"/> o uso destes fármacos é desencorajado em pessoas com sangue na diarreia ou diarreia associada a febre.<ref name="Harrison">{{cite book |title=Harrison's Principles of Internal Medicine |publisher=McGraw-Hill |isbn=0-07-140235-7 |edition=16th |url=/medical/harrisons/}}</ref> A [[loperamida]], um análogo [[opiáceo]], é frequentemente usada no tratamento sintomático da diarreia.<ref name="SleisengerFordtran">{{cite book |first1=Mark |last1=Feldman |first2=Lawrence S. |last2=Friedman |first3=Marvin H. |last3=Sleisenger |title=Sleisenger & Fordtran's Gastrointestinal and Liver Disease |publisher=Saunders |year=2002 |isbn=0-7216-8973-6 |edition=7th |url=/catalogue/title.cfm?ISBN=0721689736}}</ref> No entanto, o seu uso não é recomendado em crianças, já que pode penetrar através da [[barreira hematoencefálica]] ainda não desenvolvida, e provocar uma intoxicação. O [[salicilato de bismuto]], um [[Complexo (química)|complexo]] insolúvel de [[bismuto]] trivalente e de salicilato, pode ser usado em casos leves a moderados,<ref name="Oxford"/> embora a intoxicação seja teoricamente possível.<ref name=EBMED2010%25252F>
A medicação antidiarreica possui um risco teórico de causar complicações, e embora a experiência clínica tenha mostrado que isto seja improvável,<ref name="Oxford"/> o uso destes fármacos é desencorajado em pessoas com sangue na diarreia ou diarreia associada a febre.<ref name="Harrison">{{cite book |title=Harrison's Principles of Internal Medicine |publisher=McGraw-Hill |isbn=0-07-140235-7 |edition=16th |url=http://books.mcgraw-hill.com/medical/harrisons/}}</ref> A [[loperamida]], um análogo [[opiáceo]], é frequentemente usada no tratamento sintomático da diarreia.<ref name="SleisengerFordtran">{{cite book |first1=Mark |last1=Feldman |first2=Lawrence S. |last2=Friedman |first3=Marvin H. |last3=Sleisenger |title=Sleisenger & Fordtran's Gastrointestinal and Liver Disease |publisher=Saunders |year=2002 |isbn=0-7216-8973-6 |edition=7th |url=http://www.elsevier-international.com/catalogue/title.cfm?ISBN=0721689736}}</ref> No entanto, o seu uso não é recomendado em crianças, já que pode penetrar através da [[barreira hematoencefálica]] ainda não desenvolvida, e provocar uma intoxicação. O [[salicilato de bismuto]], um [[Complexo (química)|complexo]] insolúvel de [[bismuto]] trivalente e de salicilato, pode ser usado em casos leves a moderados,<ref name="Oxford"/> embora a intoxicação seja teoricamente possível.<ref name=EBMED2010/>


==Epidemiologia==
==Epidemiologia==
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Estima-se que ocorram anualmente entre três a cinco mil milhões de casos de gastroenterite à escala mundial,<ref name="BMJ2007"/> afectando sobretudo crianças e habitantes de [[País em desenvolvimento|regiões em vias de desenvolvimento]].<ref name=Web09%25252F> Em 2008, a doença causou a morte de 1,3 milhões de crianças idade igual ou inferior a cinco anos,<ref>{{cite journal|last=Black|first=RE|coauthors=Cousens, S, Johnson, HL, Lawn, JE, Rudan, I, Bassani, DG, Jha, P, Campbell, H, Walker, CF, Cibulskis, R, Eisele, T, Liu, L, Mathers, C, Child Health Epidemiology Reference Group of WHO and, UNICEF|title=Global, regional, and national causes of child mortality in 2008: a systematic analysis.|journal=Lancet|date=2010 Jun 5|volume=375|issue=9730|pages=1969–87|pmid=20466419|doi=10.1016/S0140-6736(10)60549-1}}</ref> a maior parte registada nos países mais pobres do mundo.<ref name=M93%25252F> Mais de 450.000 das mortes nesta faixa etária são provocadas por rotavírus.<ref>{{cite journal|last=Tate|first=JE|coauthors=Burton, AH, Boschi-Pinto, C, Steele, AD, Duque, J, Parashar, UD, WHO-coordinated Global Rotavirus Surveillance, Network|title=2008 estimate of worldwide rotavirus-associated mortality in children younger than 5 years before the introduction of universal rotavirus vaccination programmes: a systematic review and meta-analysis.|journal=The Lancet infectious diseases|date=2012 Feb|volume=12|issue=2|pages=136–41|pmid=22030330|doi=10.1016/S1473-3099(11)70253-5}}</ref><ref>{{cite journal|last=World Health Organization|title=Global networks for surveillance of rotavirus gastroenteritis, 2001–2008|journal=Weekly Epidemiological Record|year=2008|month=Novembro|volume=47|issue=83|pages=421–428|url=/wer/2008/wer8347.pdf|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> A [[cólera]] está na origem de cerca de três a cinco milhões de casos e mata anualmente cerca de 100.000 pessoas.<ref name=Cholera11%25252F> Nos países em desenvolvimento, é frequente as crianças com idade inferior a dois anos contraírem anualmente seis ou mais infecções que resultem em casos clinicamente relevantes.<ref name=M93%25252F> A prevalência é menor em adultos, em parte devido ao desenvolvimento de defesas imunitárias.<ref name=Eck2011%25252F>
Estima-se que ocorram anualmente entre três a cinco mil milhões de casos de gastroenterite à escala mundial,<ref name="BMJ2007"/> afectando sobretudo crianças e habitantes de [[País em desenvolvimento|regiões em vias de desenvolvimento]].<ref name=Web09/> Em 2008, a doença causou a morte de 1,3 milhões de crianças idade igual ou inferior a cinco anos,<ref>{{cite journal|last=Black|first=RE|coauthors=Cousens, S, Johnson, HL, Lawn, JE, Rudan, I, Bassani, DG, Jha, P, Campbell, H, Walker, CF, Cibulskis, R, Eisele, T, Liu, L, Mathers, C, Child Health Epidemiology Reference Group of WHO and, UNICEF|title=Global, regional, and national causes of child mortality in 2008: a systematic analysis.|journal=Lancet|date=2010 Jun 5|volume=375|issue=9730|pages=1969–87|pmid=20466419|doi=10.1016/S0140-6736(10)60549-1}}</ref> a maior parte registada nos países mais pobres do mundo.<ref name=M93/> Mais de 450.000 das mortes nesta faixa etária são provocadas por rotavírus.<ref>{{cite journal|last=Tate|first=JE|coauthors=Burton, AH, Boschi-Pinto, C, Steele, AD, Duque, J, Parashar, UD, WHO-coordinated Global Rotavirus Surveillance, Network|title=2008 estimate of worldwide rotavirus-associated mortality in children younger than 5 years before the introduction of universal rotavirus vaccination programmes: a systematic review and meta-analysis.|journal=The Lancet infectious diseases|date=2012 Feb|volume=12|issue=2|pages=136–41|pmid=22030330|doi=10.1016/S1473-3099(11)70253-5}}</ref><ref>{{cite journal|last=World Health Organization|title=Global networks for surveillance of rotavirus gastroenteritis, 2001–2008|journal=Weekly Epidemiological Record|year=2008|month=Novembro|volume=47|issue=83|pages=421–428|url=http://www.who.int/wer/2008/wer8347.pdf|accessdate=10 de Maio de 2012}}</ref> A [[cólera]] está na origem de cerca de três a cinco milhões de casos e mata anualmente cerca de 100.000 pessoas.<ref name=Cholera11/> Nos países em desenvolvimento, é frequente as crianças com idade inferior a dois anos contraírem anualmente seis ou mais infecções que resultem em casos clinicamente relevantes.<ref name=M93/> A prevalência é menor em adultos, em parte devido ao desenvolvimento de defesas imunitárias.<ref name=Eck2011/>


Em 1980, a gastroenterite, independentemente da causa, foi a responsável por 4,6 milhões de mortes infantis, a maior parte das quais nos países em desenvolvimento.<ref name="Mandell">{{cite book |first1=Gerald L. |last1=Mandell |first2=John E. |last2=Bennett |first3=Raphael |last3=Dolin |title=Mandell's Principles and Practices of Infection Diseases |publisher=Churchill Livingstone |year=2004 |isbn=0-443-06643-4 |edition=6th |url=/}}</ref> O número total foi reduzido para 1,5 milhões de mortes anuais no ano 2000, devido em grande parte à introdução da [[terapia de reidratação oral]].<ref name="Victora2000">{{cite journal |author=Victora CG, Bryce J, Fontaine O, Monasch R |title=Reducing deaths from diarrhoea through oral rehydration therapy |journal=Bull. World Health Organ. |volume=78|issue=10 |pages=1246–55 |year=2000 |pmid=11100619 |pmc=2560623}}</ref> Nos Estados Unidos, as infecções que estão na origem da gastroenterite são a segunda infecção mais comum, atrás apenas da [[constipação]], e dão origem a cerca de 200 a 375 milhões de casos de diarreia aguda<ref name=Eck2011%25252F><ref name=M93%25252F> e a cerca de dez mil mortes anualmente,<ref name=M93%25252F> sendo 150 a 300 destas mortes em crianças com idade inferior a cinco anos.<ref name=EBMED2010%25252F>
Em 1980, a gastroenterite, independentemente da causa, foi a responsável por 4,6 milhões de mortes infantis, a maior parte das quais nos países em desenvolvimento.<ref name="Mandell">{{cite book |first1=Gerald L. |last1=Mandell |first2=John E. |last2=Bennett |first3=Raphael |last3=Dolin |title=Mandell's Principles and Practices of Infection Diseases |publisher=Churchill Livingstone |year=2004 |isbn=0-443-06643-4 |edition=6th |url=http://www.ppidonline.com/}}</ref> O número total foi reduzido para 1,5 milhões de mortes anuais no ano 2000, devido em grande parte à introdução da [[terapia de reidratação oral]].<ref name="Victora2000">{{cite journal |author=Victora CG, Bryce J, Fontaine O, Monasch R |title=Reducing deaths from diarrhoea through oral rehydration therapy |journal=Bull. World Health Organ. |volume=78|issue=10 |pages=1246–55 |year=2000 |pmid=11100619 |pmc=2560623}}</ref> Nos Estados Unidos, as infecções que estão na origem da gastroenterite são a segunda infecção mais comum, atrás apenas da [[constipação]], e dão origem a cerca de 200 a 375 milhões de casos de diarreia aguda<ref name=Eck2011/><ref name=M93/> e a cerca de dez mil mortes anualmente,<ref name=M93/> sendo 150 a 300 destas mortes em crianças com idade inferior a cinco anos.<ref name=EBMED2010/>


==História==
==História==
O primeiro uso da designação "gastroenterite" ocorreu em 1825.<ref>{{cite web |url=/ |title=Gastroenteritis |format= |work=[[Oxford English Dictionary]] 2011 |accessdate=15 de Janeiro de 2012}}</ref> Antes disso, era conhecida nos meios clínicos como [[febre tifóide]] ou "cholera morbus", entre outros, ou popularmente como "gripe intestinal" ou qualquer outra designação arcaica equivalente para diarreia aguda.<ref name="archaic">[http://www.antiquusmorbus.com/English/English.htm Rudy's List of Archaic Medical Terms]</ref>
O primeiro uso da designação "gastroenterite" ocorreu em 1825.<ref>{{cite web |url=http://www.oed.com/ |title=Gastroenteritis |format= |work=[[Oxford English Dictionary]] 2011 |accessdate=15 de Janeiro de 2012}}</ref> Antes disso, era conhecida nos meios clínicos como [[febre tifóide]] ou "cholera morbus", entre outros, ou popularmente como "gripe intestinal" ou qualquer outra designação arcaica equivalente para diarreia aguda.<ref name="archaic">[http://www.antiquusmorbus.com/English/English.htm Rudy's List of Archaic Medical Terms]</ref>


==Impacto social e económico==
==Impacto social e económico==
A gastroenterite é o principal motivo para cerca de 3,7 milhões de consultas médicas por ano nos Estados Unidos<ref name=EBMED2010%25252F> e 3 milhões em França.<ref>{{cite journal|last=Flahault|first=A|coauthors=Hanslik, T|title=[Epidemiology of viral gastroenteritis in France and Europe].|journal=Bulletin de l'Academie nationale de medecine|date=2010 Nov|volume=194|issue=8|pages=1415–24; discussion 1424-5|pmid=22046706}}</ref> Nos Estados Unidos, estima-se que o custo económico da gastroenterite seja de 23 mil milhões de dólares por ano.<ref>{{cite book|last=Albert|first=edited by Neil S. Skolnik ; associate editor, Ross H.|title=Essential infectious disease topics for primary care|year=2008|publisher=Humana Press|location=Totowa, NJ|isbn=978-1-58829-520-0|pages=66|url=/books?id=iGUKPeO9-ygC&pg=PA66}}</ref>
A gastroenterite é o principal motivo para cerca de 3,7 milhões de consultas médicas por ano nos Estados Unidos<ref name=EBMED2010/> e 3 milhões em França.<ref>{{cite journal|last=Flahault|first=A|coauthors=Hanslik, T|title=[Epidemiology of viral gastroenteritis in France and Europe].|journal=Bulletin de l'Academie nationale de medecine|date=2010 Nov|volume=194|issue=8|pages=1415–24; discussion 1424-5|pmid=22046706}}</ref> Nos Estados Unidos, estima-se que o custo económico da gastroenterite seja de 23 mil milhões de dólares por ano.<ref>{{cite book|last=Albert|first=edited by Neil S. Skolnik ; associate editor, Ross H.|title=Essential infectious disease topics for primary care|year=2008|publisher=Humana Press|location=Totowa, NJ|isbn=978-1-58829-520-0|pages=66|url=http://books.google.ca/books?id=iGUKPeO9-ygC&pg=PA66}}</ref>


==Investigação==
==Investigação==
Estão em fase de desenvolvimento uma série de vacinas contra a gastroenterite. Por exemplo, vacinas contra a ''Shigella'' e a ''Escherichia coli'' enterotoxigénica (ETEC), duas das principais causas bacterianas de infecção à escala mundial.<ref name="WHO%252520ETEC">{{cite web|last=World Health Organization|title=Enterotoxigenic Escherichia coli (ETEC)|url=/vaccine_research/diseases/diarrhoeal/en/index4.html|work=Diarrhoeal Diseases|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref><ref name="WHO%252520Shig">{{cite web|last=World Health Organization|title=Shigellosis|url=/vaccine_research/diseases/diarrhoeal/en/index6.html|work=Diarrhoeal Diseases|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref>
Estão em fase de desenvolvimento uma série de vacinas contra a gastroenterite. Por exemplo, vacinas contra a ''Shigella'' e a ''Escherichia coli'' enterotoxigénica (ETEC), duas das principais causas bacterianas de infecção à escala mundial.<ref name="WHO ETEC">{{cite web|last=World Health Organization|title=Enterotoxigenic Escherichia coli (ETEC)|url=http://www.who.int/vaccine_research/diseases/diarrhoeal/en/index4.html|work=Diarrhoeal Diseases|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref><ref name="WHO Shig">{{cite web|last=World Health Organization|title=Shigellosis|url=http://www.who.int/vaccine_research/diseases/diarrhoeal/en/index6.html|work=Diarrhoeal Diseases|accessdate=3 de Maio de 2012}}</ref>


==Noutros animais==
==Noutros animais==
A gastroenterite em gatos e cães tem origem em muitos agentes infecciosos em comum com os seres humanos. Os organismos mais comuns são a ''Campylobacter'', ''Clostridium difficile'', ''Clostridium perfringens'' e a ''Salmonella''.<ref>{{cite journal|last=Weese|first=JS|title=Bacterial enteritis in dogs and cats: diagnosis, therapy, and zoonotic potential.|journal=The Veterinary clinics of North America. Small animal practice|date=2011 Mar|volume=41|issue=2|pages=287-309|pmid=21486637|doi=10.1016/j.cvsm.2010.12.005}}</ref> Os sintomas podem igualmente ter origem num vasto número de plantas tóxicas.<ref>{{cite book|last=Rousseaux|first=Wanda Haschek, Matthew Wallig, Colin|title=Fundamentals of toxicologic pathology|year=2009|publisher=Academic|location=London|isbn=9780123704696|pages=182|url=/books?id=vkox3JS83k8C&pg=PA182|edition=2nd ed.}}</ref> Alguns dos agentes são específicos de determinadas espécies. O [[coronavírus da gastroenterite transmissível]] afecta os [[suíno]]s, manifestando-se através de vómitos, diarreia e desidratação.<ref>{{cite book|last=MacLachlan|first=edited by N. James|title=Fenner's veterinary virology|year=2009|publisher=Elsevier Academic Press|location=Amsterdam|page=399|isbn=9780123751584|edition=4th ed.|coauthors=Dubovi, Edward J.|url=/books?id=TYFqlYO9eE4C&pg=PA399}}</ref> Acredita-se que seja introduzido nos porcos através de aves selvagens, não havendo qualquer tratamento específico disponível.<ref>{{cite book|last=al.]|first=edited by James G. Fox ... [et|title=Laboratory animal medicine|year=2002|publisher=Academic Press|location=Amsterdam|isbn=9780122639517|pages=649|url=/books?id=m2ftfPMJnMMC&pg=PA649|edition=2nd ed.}}</ref> embora não seja transmissível ao ser humano.<ref>{{cite book|last=al.]|first=edited by Jeffrey J. Zimmerman ... [et|title=Diseases of swine|publisher=Wiley-Blackwell|location=Chichester, West Sussex|isbn=9780813822679|pages=504|url=/books?id=jVaemau17J4C&pg=PA504|edition=10th ed.}}</ref>
A gastroenterite em gatos e cães tem origem em muitos agentes infecciosos em comum com os seres humanos. Os organismos mais comuns são a ''Campylobacter'', ''Clostridium difficile'', ''Clostridium perfringens'' e a ''Salmonella''.<ref>{{cite journal|last=Weese|first=JS|title=Bacterial enteritis in dogs and cats: diagnosis, therapy, and zoonotic potential.|journal=The Veterinary clinics of North America. Small animal practice|date=2011 Mar|volume=41|issue=2|pages=287-309|pmid=21486637|doi=10.1016/j.cvsm.2010.12.005}}</ref> Os sintomas podem igualmente ter origem num vasto número de plantas tóxicas.<ref>{{cite book|last=Rousseaux|first=Wanda Haschek, Matthew Wallig, Colin|title=Fundamentals of toxicologic pathology|year=2009|publisher=Academic|location=London|isbn=9780123704696|pages=182|url=http://books.google.ca/books?id=vkox3JS83k8C&pg=PA182|edition=2nd ed.}}</ref> Alguns dos agentes são específicos de determinadas espécies. O [[coronavírus da gastroenterite transmissível]] afecta os [[suíno]]s, manifestando-se através de vómitos, diarreia e desidratação.<ref>{{cite book|last=MacLachlan|first=edited by N. James|title=Fenner's veterinary virology|year=2009|publisher=Elsevier Academic Press|location=Amsterdam|page=399|isbn=9780123751584|edition=4th ed.|coauthors=Dubovi, Edward J.|url=http://books.google.ca/books?id=TYFqlYO9eE4C&pg=PA399}}</ref> Acredita-se que seja introduzido nos porcos através de aves selvagens, não havendo qualquer tratamento específico disponível.<ref>{{cite book|last=al.]|first=edited by James G. Fox ... [et|title=Laboratory animal medicine|year=2002|publisher=Academic Press|location=Amsterdam|isbn=9780122639517|pages=649|url=http://books.google.ca/books?id=m2ftfPMJnMMC&pg=PA649|edition=2nd ed.}}</ref> embora não seja transmissível ao ser humano.<ref>{{cite book|last=al.]|first=edited by Jeffrey J. Zimmerman ... [et|title=Diseases of swine|publisher=Wiley-Blackwell|location=Chichester, West Sussex|isbn=9780813822679|pages=504|url=http://books.google.ca/books?id=jVaemau17J4C&pg=PA504|edition=10th ed.}}</ref>


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Revisão das 17h44min de 25 de agosto de 2014

Gastroenterite
Gastroenterite
Vírus da gastroenterite: A = Rotavírus, B = Adenovírus, C = Norovírus and D = Astrovírus. As partículas virais estão à mesma escala de modo a se poder comparar dimensões.
Especialidade gastrenterologia
Classificação e recursos externos
CID-10 A02.0, A08, A09, J10.8, J11.8, K52
CID-9 008.8 009.0, 009.1, 558
CID-11 1688127370
DiseasesDB 30726
MedlinePlus 000252, 000254
eMedicine emerg/213
MeSH D005759
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A gastroenterite é uma condição médica caracterizada pela inflamação ("-ite") do trato gastrointestinal que afecta o estômago ("gastro"-) e o intestino delgado ("entero"-) e que se manifesta através de diarreia, vómito e cólicas abdominais.[1] Embora não tenha qualquer relação com a gripe, é também designada incorrectamente por gripe intestinal ou gripe gástrica.

A maior parte dos casos em crianças são causados por rotavírus.[2] Nos adultos, a causa mais comum são os norovírus[3] e as Campylobacter.[4] Entre as causas menos frequentes estão outras bactérias, ou as suas toxinas, e parasitas. O contágio pode ocorrer através do consumo de alimentos mal preparados, água contaminada ou contacto com indivíduos infectados.

O tratamento tem como base uma hidratação adequada. Para casos menos graves, isto é normalmente feito com recurso a terapia de reidratação oral. Nos casos mais graves pode ser necessária a administração de soro por via intravenosa. A gastroenterite afecta sobretudo as crianças e as regiões em vias de desenvolvimento.

Sintomas e sinais

A gastroenterite manifesta-se normalmente através de diarreia e vómitos,[5] e menos frequentemente através de apenas um dos sintomas.[1] Podem também ocorrer cólicas abdominais.[1] Os sintomas têm normalmente início entre 12 a 72 horas depois de se contrair o agente infeccioso.[6] Quando tem origem viral, a doença desaparece normalmente ao fim de uma semana.[5] Alguns agentes virais podem estar na origem de sintomas associados como febre, fadiga, dores de cabeça e dores musculares.[5] No caso das fezes conterem sangue, é pouco provável que a causa seja viral[5] e muito provável que seja bacteriana.[7] Algumas infecções bacterianas podem estar associadas a cólicas abdominais muito intensas e podem persistir por várias semanas.[7]

As crianças infectadas por rotavírus recuperam normalmente após três a oito dias.[8] No entanto, em regiões menos desenvolvidas onde o acesso a cuidados de saúde é difícil, é comum que a diarreia persista por um período de tempo maior.[9] A desidratação é uma complicação frequente da diarreia,[10] e crianças com um grau significativo de desidratação podem apresentar teste de re-enchimento capilar lento, turgor da pele reduzido e respiração anormal. No lactente a depressão da fontanela superior é um sinal precoce de desidratação.[11] Em regiões sem condições sanitárias, é comum a ocorrência repetitiva de infecções, o que a longo prazo pode dar origem a desnutrição,[6] crescimento deficiente e atraso cognitivo.[12]

Cerca de 1% dos infectados com espécies de Campylobacter desenvolvem artrite reativa e 0,1% desenvolvem a síndrome de Guillain-Barré.[7] As infecções por Escherichia coli ou espécies de Shigella, produtoras da toxina Shiga podem dar origem à síndrome hemolítico-urémico, que se manifesta pela baixa contagem de plaquetas, insuficiência renal e baixa contagem de glóbulos vermelhos.[13] As crianças são mais predispostas a contrair a síndrome do que os adultos.[12] Algumas infecções virais podem dar origem a convulsões epilépticas infantis benignas.[1]

Causas

As principais causas da gastroenterite são os vírus, em particular o rotavírus, e a espécie bacteriana E. coli e as espécies do género Campylobacter.[6][14] Existem, no entanto, vários outros agentes infecciosos que podem causar a doença.[12] São por vezes registadas causas não-infecciosas, mas são muito menos prováveis de ocorrer.[1] O risco de infecção é maior em crianças devido à sua pouca defesa imunitária e relativa falta de higiene.[1]

Viral

Entre os vírus que se sabe estarem na origem da gastroenterite contam-se os rotavírus, os norovírus, os adenovírus e os astrovírus.[5][15] Os rotavírus são a causa mais comum da gastroenterite em crianças,[14] com taxas de incidência semelhantes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.[8] Os vírus são responsáveis por cerca de 70% dos episódios de diarreia infecciosa em pediatria.[16] O rotavírus é uma causa menos comum em adultos devido à imunidade adquirida ao longo da vida.[17]

Os norovírus são a principal causa de gastroenterite entre adultos na América do Norte, sendo responsáveis por mais de 90% dos surtos.[5] Este tipo de epidemias localizadas ocorre quando grupos de indivíduos passam tempo em relativa proximidade física, como em cruzeiros,[5] hospitais ou restaurantes.[1] Os indivíduos podem permanecer infectados mesmo depois da diarreia ter cessado.[5] Os norovírus são também responsáveis por cerca de 10% das ocorrências infantis.[1]

Bacteriana

Imagem de microscópio do Serotipo Typhimurium (ATCC 14028) da Salmonella enterica, ampliado 1000x e submetido a coloração.

Nos países desenvolvidos a principal causa de gastroenterite bacteriana é a Campylobacter jejuni. Metade destes casos estão associados com a exposição a aves de criação.[7] Em crianças, as bactérias são responsáveis por cerca de 15% dos casos, sendo as espécies mais comuns a Escherichia coli, Salmonella, Shigella e a Campylobacter.[16] Se determinado alimento for contaminado por bactérias e se se mantiver à temperatura ambiente durante várias horas, as bactérias multiplicam-se e potenciam o risco de infecção dos eventuais consumidores.[12] Entre os alimentos normalmente associados com a contaminação estão a carne, marisco e ovos crus ou mal cozinhados; rebentos crus; leite não pasteurizado, queijos moles, fruta e sumos de vegetais.[18] Nos países em desenvolvimento, sobretudo na Ásia e na África sub-Sariana, a cólera é uma das principais causas de gastroenterite, sendo transmitida através da água ou alimentos contaminados.[19]

O bacilo toxigénico Clostridium difficile é também uma das causas de diarreia, o que se verifica sobretudo em idosos.[12] As crianças podem ser portadoras desta bactéria sem que manifestem sintomas.[12] Causa também diarreia entre aqueles hospitalizados e é frequentemente associada ao uso de antibióticos.[20] A diarreia causada por Staphylococcus aureus pode também ocorrer em consumidores de antibióticos.[21] A diarreia do viajante é normalmente um tipo de gastroenterite bacteriana. Os medicamentos antiácidos aparentam aumentar o risco de infecção após exposição a uma série de organismos, entre os quais a Clostridium difficile e as espécies de Salmonella e Campylobacter.[22] O risco é maior naqueles que tomam inibidores da bomba de protões do que nos que tomam anti-histamínicos H2.[22]

Parasitas

A gastroenterite pode ser provocada por uma série de protozoários, sobretudo pela Giardia lamblia, mas também por Entamoeba histolytica e pelas espécies de Cryptosporidium.[16] No total, estes agentes são responsáveis por cerca de 10% dos casos em crianças.[13] A Giardia é mais frequente nos países em desenvolvimento, mas este agente etiológico está na origem de infecções praticamente em qualquer região.[23] É, no entanto, mais comum em pessoas que tenham viajado para regiões com grande prevalência do parasita, em crianças que frequentam jardins de infância, relações homossexuais e na sequência de desastres.[23]

Transmissão

A transmissão pode dar-se através do consumo de água contaminada ou da partilha de objectos pessoais.[6] Em regiões com estações secas e chuvosas, a qualidade da água deteriora-se frequentemente durante a estação húmida, o que tem relação directa com a ocorrência de surtos.[6] Em regiões de estações temperadas, as infecções são mais frequentes durante o Inverno.[12] O uso de biberões com recipientes mal esterilizados é uma das mais significativas causas de transmissão a nível global.[6] As taxas de transmissão estão igualmente relacionadas com maus hábitos de higiene, sobretudo entre crianças,[5] em habitações sobrelotadas,[24] e em indivíduos que apresentem já sintomas de má nutrição.[12] Depois de desenvolverem imunidade, os adultos podem ser portadores de determinados patogéneos sem demonstrar quaisquer sinais ou sintomas, agindo como reservatórios de contágio.[12] Enquanto que alguns agentes, como a Shigella, são exclusivos dos primatas, outros, como a Giardia, podem contaminar uma série de animais.[12]

Não-infecciosa

Existem uma série de causas não-infecciosas capazes de provocar de inflamações do trato gastrointestinal.[1] Entre as mais comuns estão medicamentos como os anti-inflamatórios não esteroides, determinados alimentos como a lactose (naqueles que são intolerantes) ou o glúten (naqueles com doença celíaca). A doença de Crohn pode igualmente estar na origem de gastroenterites, por vezes bastante severas.[1] Pode também verificar-se o aparecimento da doença como consequência de determinadas toxinas. Entre os sintomas relacionados com a ingestão de alimentos para além das náuseas, vómitos e diarreia estão: a intoxicação por ciguatera, em consequência do consumo de peixe contaminado; a intoxicação por tetrodotoxina associada à ingestão de tetraodontídeos; e o botulismo associado à conservação imprópria da comida.[25]

Fisiopatologia

A gastroenterite define-se pela manifestação de vómitos ou diarreia causados pela infecção do intestino delgado ou grosso.[12] As alterações no intestino delgado normalmente não são inflamatórias, enquanto que as do intestino grosso o são.[12] O número de patogénios necessários para iniciar uma infecção varia entre apenas um (no caso da Cryptosporidium) e 108 (no caso da Vibrio cholera).[12]

Diagnóstico

A gastroenterite é diagnosticada clinicamente com base nos sinais e sintomas do paciente.[5] Normalmente, não é necessária a determinação exacta da causa, já que não influencia o tratamento ou a gestão da doença.[6] No entanto, devem ser feitos exames às fezes quando se verifique sangue nas mesmas, quando se suspeite de intoxicação alimentar e em indivíduos que tenham viajado recentemente para países em desenvolvimento.[16] Podem também ser feitos exames de diagnóstico durante a fase de monitorização da doença.[5] Uma vez que cerca de 10% das crianças sofre de hipoglicemia, recomenda-se que para este grupo sejam verificados os níveis de glicose no soro.[11] Caso haja suspeitas de desidratação severa, devem ser analisados os níveis de eletrólitos e de creatinina.[16]

Desidratação

Uma das parte importantes na avaliação é determinar se a pessoa sofre ou não de desidratação, sendo esta normalmente dividida em três graus: leve (3-5%), moderada (6-9%) e grave (≥10%).[1] No lactente o sinal mais precoce de desidratação é a depressão da fontanela superior e a reposição de líquidos é uma urgência pois a desidratação pode ser letal em 24 horas num lactente.[26] Em crianças, os indicadores mais precisos de desidratação moderada ou grave são o enchimento capilar lento, turgor da pele reduzido e respiração acelerada.[11][27] Outros sintomas complementares, eventualmente úteis quando conjugados com os anteriores, incluem a enoftalmia, pouca actividade, ausência de lágrimas e boca seca.[1] Um fluxo urinário normal e a capacidade de ingestão de líquidos por via oral sem os vomitar de imediato são sinais tranquilizadores.[11] Os exames laboratoriais são de pouca ou nenhuma utilidade para se determinar o grau de desidratação.[1]

Diagnóstico diferencial

É necessário excluir através do diagnóstico eventuais patologias que se manifestam através de sinais e sintomas semelhantes aos da gastroenterite, como a apendicite, vólvulo, doença inflamatória intestinal, infecção do trato urinário ou a diabetes mellitus.[16] Devem também ser tidas em consideradação a insuficiência pancreática, a síndrome do intestino curto, a doença de Whipple, a doença celíaca e o abuso de laxantes.[28] O diagnóstico diferencial pode ser difícil se a pessoa apenas manifesta um dos sintomas de vómitos ou diarreia, em vez de ambos.[1]

A apendicite pode manifestar-se através de vómitos, cólicas abdominais e pequena quantidade de diarreia em 33% dos casos,[1] em contraste com a grande quantidade de diarreia que é comum nos casos de gastroenterite.[1] As infecções pulmonares ou do trato urinário em crianças podem também estar na origem de vómitos e diarreia.[1] A cetoacidose diabética manifesta-se através de cólicas abdominais, náuseas e vómitos, mas sem diarreia.[1] Um estudo demonstrou que 17% dos casos de cetoacidose diabética em crianças foram inicialmente diagnosticadas como gastroenterite.[1]

Prevenção

Percentagem de exames de rotavírus com resultados positivos, por semana de observação. Estados Unidos, Julho de 2000 até Junho de 2009.

Estilo de vida

Para a redução das taxas de infecção e dos casos de gastroenterite clinicamente relevante, é fundamental a existência de fornecimento de água não contaminada e de boas práticas sanitárias.[12] Tem-se verificado que as medidas de âmbito pessoal, como a correcta lavagem das mãos, estão na origem de uma redução até 30% na prevalência de gastroenterite, tanto nos países desenvolvidos como em desenvolvimento.[11] Os géis à base de álcool podem ser igualmente eficazes.[11] A amamentação é importante, sobretudo em regiões com más condições de higiene,[6] já que reduz quer a frequência, quer a duração das infecções.[1] Evitar comida e água contaminada é igualmente eficaz.[29]

Vacinação

Devido à eficácia e segurança demonstradas pela vacina contra rotavírus, a Organização Mundial de Saúde recomendou em 2009 que fosse disponibilizada gratuitamente para todas as crianças à escala mundial.[14][30] Existem duas versões comerciais da vacina, ao mesmo tempo que existem várias outras em fase de desenvolvimento.[30] Em África e na Ásia, estas vacinas foram capazes de reduzir a incidência de casos graves entre as crianças,[30] e nos países que colocaram em marcha um programa nacional de vacinação verificou-se o declínio das taxas de incidência e gravidade da doença.[31][32] A vacina contra rotavírus reduz também a probabilidade de contágio ao reduzir o número de infecções em propagação.[33] Nos Estados Unidos, a implementação de um programa de vacinação contra o rotavírus a partir do ano 2000 foi responsável pela diminuição de 80% do número de casos de diarreia.[34][35][36] A primeira dose da vacina deve ser administrada a crianças entre as 6 e 15 semanas de vida.[14] A vacina oral da cólera revelou ser 50 a 60% eficaz ao longo de dois anos.[37]

Tratamento

A gastroenterite é uma doença aguda e auto-limitante que normalmente não requer qualquer medicação.[10] O tratamento preferencial naqueles com desidratação leve a moderada é a terapia de reidratação oral (TRO).[13] No entanto, a metoclopramida e/ou a ondansetrona podem ser úteis nalgumas crianças,[38] e a butilescopolamina pode ser usada no tratamento de dores abdominais.[39]

Reidratação

A principal forma de tratamento da gastroenterite, quer em adultos quer em crianças, é através da reidratação. Normalmente recorre-se à terapia de reidratação oral, embora possa ser necessária a administração intravenosa nos casos mais graves ou quando haja perda ou alteração de consciência por parte do paciente.[40][41] Os produtos de terapia oral à base de hidratos de carbono complexos (por exemplo, os que são feitos a partir de trigo ou arroz) podem ser mais eficazes do que aqueles à base de açúcares simples.[42] As bebidas com níveis particularmente altos de açúcar, como os refrigerantes ou os sumos de fruta, não são recomendadas para crianças com idade inferior a 5 anos, já que podem contribuir para o agravamento da diarreia.[10] Caso não seja possível preparar meios adequados de terapia de reidratação oral, pode ser usada apenas água.[10] Caso seja necessário, pode-se recorrer a uma sonda nasogástrica para administrar líquidos a crianças pequenas.[16]

Dieta

Recomenda-se que lactentes continuem a ser amamentados de forma regular, e que crianças alimentadas com fórmula infantil retomem a alimentação imediatamente depois da reidratação com TRO.[43] Geralmente não são necessárias fórmulas isentas ou com baixo teor de lactose.[43] Durante os episódios de diarreia, as crianças devem manter a sua dieta regular, devendo apenas evitar alimentos ricos em açúcares simples.[43] A dieta BRAT (bananas, arroz, puré de maçã, tostas e chá) já não faz parte das recomendações, uma vez que não contém nutrientes suficientes e não apresenta benefícios em relação à dieta regular.[43] Tem-se verificado que alguns probióticos podem ajudar a reduzir tanto a duração da doença como a frequência da defecação.[44] Os produtos lácteos fermentados, como o iogurte, podem também apresentar alguns benefícios.[45] Os suplementos de zinco aparentam ser eficazes tanto no tratamento como na prevenção da diarreia entre crianças nos países desenvolvidos.[46]

Antieméticos

Os antieméticos podem ajudar no tratamento de vómitos em crianças. A ondansetrona é relativamente eficaz, e a administração de uma única dose associa-se à menor necessidade de administração intravenosa de soro, a menos hospitalizações e à redução dos vómitos.[47][48][49] Metoclopramida também pode ser útil.[49] No entanto, o uso de ondansetrona pode estar associado também a uma maior taxa de re-hospitalização em crianças.[50] Caso haja supervisão e aprovação médica, a administração do fármaco pode ser feita por via oral.[51] O dimenidrinato, embora reduza os vómitos, não aparenta ter benefícios clínicos significativos.[1]

Antibióticos

Geralmente, os antibióticos não são usados no tratamento da gastroenterite, embora sejam por vezes recomendados no caso dos sintomas serem particularmente graves[52] ou caso se suspeite ou tenha isolado uma causa bacterial.[53] No caso de serem usados antibióticos, é preferível o uso de um macrólido, como a azitromicina, em relação a fluoroquinolonas devido à maior resistência antibiótica destas últimas.[7] A colite pseudomembranosa, normalmente causada pelo uso de antibióticos, pode ser resolvida com a interrupção da administração do antibiótico em causa, substituindo-o por metronidazol ou vancomicina.[54] Entre as bactérias que reagem positivamente ao tratamento estão a Shigella,[55] Salmonella typhi,[56] e as espécies de Giardia.[23] Nos casos de espécies de Giardia ou Entamoeba histolytica, o tratamento com tinidazol é superior e recomendado em relação ao metronidazol.[23][57] A Organização Mundial de Saúde recomenda o uso de antibióticos em crianças novas que apresentem diarreia com sangue e febre.[1]

Agentes antimotilidade

A medicação antidiarreica possui um risco teórico de causar complicações, e embora a experiência clínica tenha mostrado que isto seja improvável,[28] o uso destes fármacos é desencorajado em pessoas com sangue na diarreia ou diarreia associada a febre.[58] A loperamida, um análogo opiáceo, é frequentemente usada no tratamento sintomático da diarreia.[59] No entanto, o seu uso não é recomendado em crianças, já que pode penetrar através da barreira hematoencefálica ainda não desenvolvida, e provocar uma intoxicação. O salicilato de bismuto, um complexo insolúvel de bismuto trivalente e de salicilato, pode ser usado em casos leves a moderados,[28] embora a intoxicação seja teoricamente possível.[1]

Epidemiologia

Esperança de vida corrigida pela incapacidade para a diarreia por cada 100.000 habitantes em 2004.

Estima-se que ocorram anualmente entre três a cinco mil milhões de casos de gastroenterite à escala mundial,[13] afectando sobretudo crianças e habitantes de regiões em vias de desenvolvimento.[6] Em 2008, a doença causou a morte de 1,3 milhões de crianças idade igual ou inferior a cinco anos,[60] a maior parte registada nos países mais pobres do mundo.[12] Mais de 450.000 das mortes nesta faixa etária são provocadas por rotavírus.[61][62] A cólera está na origem de cerca de três a cinco milhões de casos e mata anualmente cerca de 100.000 pessoas.[19] Nos países em desenvolvimento, é frequente as crianças com idade inferior a dois anos contraírem anualmente seis ou mais infecções que resultem em casos clinicamente relevantes.[12] A prevalência é menor em adultos, em parte devido ao desenvolvimento de defesas imunitárias.[5]

Em 1980, a gastroenterite, independentemente da causa, foi a responsável por 4,6 milhões de mortes infantis, a maior parte das quais nos países em desenvolvimento.[54] O número total foi reduzido para 1,5 milhões de mortes anuais no ano 2000, devido em grande parte à introdução da terapia de reidratação oral.[63] Nos Estados Unidos, as infecções que estão na origem da gastroenterite são a segunda infecção mais comum, atrás apenas da constipação, e dão origem a cerca de 200 a 375 milhões de casos de diarreia aguda[5][12] e a cerca de dez mil mortes anualmente,[12] sendo 150 a 300 destas mortes em crianças com idade inferior a cinco anos.[1]

História

O primeiro uso da designação "gastroenterite" ocorreu em 1825.[64] Antes disso, era conhecida nos meios clínicos como febre tifóide ou "cholera morbus", entre outros, ou popularmente como "gripe intestinal" ou qualquer outra designação arcaica equivalente para diarreia aguda.[65]

Impacto social e económico

A gastroenterite é o principal motivo para cerca de 3,7 milhões de consultas médicas por ano nos Estados Unidos[1] e 3 milhões em França.[66] Nos Estados Unidos, estima-se que o custo económico da gastroenterite seja de 23 mil milhões de dólares por ano.[67]

Investigação

Estão em fase de desenvolvimento uma série de vacinas contra a gastroenterite. Por exemplo, vacinas contra a Shigella e a Escherichia coli enterotoxigénica (ETEC), duas das principais causas bacterianas de infecção à escala mundial.[68][69]

Noutros animais

A gastroenterite em gatos e cães tem origem em muitos agentes infecciosos em comum com os seres humanos. Os organismos mais comuns são a Campylobacter, Clostridium difficile, Clostridium perfringens e a Salmonella.[70] Os sintomas podem igualmente ter origem num vasto número de plantas tóxicas.[71] Alguns dos agentes são específicos de determinadas espécies. O coronavírus da gastroenterite transmissível afecta os suínos, manifestando-se através de vómitos, diarreia e desidratação.[72] Acredita-se que seja introduzido nos porcos através de aves selvagens, não havendo qualquer tratamento específico disponível.[73] embora não seja transmissível ao ser humano.[74]

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  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Gastroenteritis».
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