Segunda República Brasileira: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Feito redirecionamento para Cronologia da Segunda República Brasileira, usando FastButtons
Linha 1: Linha 1:
A '''Segunda República''' (1930-1937) é composta por duas fases sucessivas: o período do Governo Provisório (1930-1934), quando Vargas governou por decreto como Chefe do Governo Provisório, cargo instituído pela Revolução, enquanto se aguarda a adoção de uma nova constituição para o país, o período da [[constituição de 1934]] (quando , na sequência da aprovação da nova constituição pela Assembleia Constituinte de 1933-34, Vargas foi eleito pela assembleia ao abrigo das disposições transitórias da constituição como [[Presidente do Brasil|presidente]], ao lado de um [[poder legislativo]] democraticamente eleito).
#REDIRECIONAMENTO [[Cronologia da Segunda República Brasileira]]

A [[Revolução de 1930]] marcou o fim da [[República Velha]] (com a deposição do presidente [[Washington Luís]]; a revogação da [[constituição de 1891]], com o objetivo de estabelecer de uma nova ordem constitucional; a dissolução do [[Congresso Nacional do Brasil|Congresso Nacional]]; intervenção federal em governos estaduais e alteração do cenário político, com a supressão da hegemonia até então apreciada por [[oligarquia]]s agriculturas de [[São Paulo]] e [[Minas Gerais]]) e sinaliza o início da [[Era Vargas]] (tendo em conta que, após o triunfo da revolução, uma junta militar provisória cedeu o poder a Vargas, reconhecido como o líder do movimento revolucionário).

Este período se encerra com a instituição do [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]], considerado a [[Terceira República Brasileira]].

== A Revolução de 1930 ==
{{Artigo principal|Revolução de 1930}}

Em 7 de setembro de 1930, o movimento revolucionário tem um novo impulso. Neste dia, Antônio Carlos passa o governo de Minas Gerais a [[Olegário Maciel]], sendo que este era muito mais decidido a fazer uma revolução do que Antônio Carlos. O Presidente Olegário foi o único presidente de estado a continuar no cargo após a revolução de 1930.<ref>''O último dia do último neto dos Andradas'', Folha da Manhã, 7 de setembro de 1930, página 1.</ref>
[[Imagem:Revolução de 1930.jpg|miniatura|250px|Getúlio Vargas, com outros líderes da Revolução de 1930, em Itararé-SP, logo após a derrubada de Washington Luís.]]

Sobre o sigilo da conspiração, Getúlio contou à ''Revista do Globo'', edição especial de agosto de 1950, que sua filha Alzira só soube da revolução 2 dias antes dela ter início e afirmou: ''"Em 1930, preparando a Revolução, fui obrigado a fazer um jogo duplo: de dia mantinha a ordem para o governo federal e à noite introduzia os conspiradores no Palácio (Piratini)"''. Em 25 de setembro de 1930, foi determinado, pelo comando revolucionário, que a revolução começaria em 3 de outubro, as 17:00 horas. O início da revolução já havia sido adiado várias vezes, devido às hesitações e indecisões dos revolucionários.

Desta vez não houve adiamentos. Em 3 de outubro de 1930, no período da tarde, em [[Porto Alegre]], iniciou-se a Revolução de 1930, com a tomada do quartel-general da [[3ª Região Militar]]. Ataque este comandado por [[Osvaldo Aranha]] e Flores da Cunha. Neste ataque aconteceram as primeiras mortes da revolução de 1930.

Um fato demonstra a importância que Getúlio Vargas dava à Revolução: neste dia 3 de outubro, precisamente, ele começou a escrever o [[diário (agenda)|diário]], o qual encerrou em 1942. No início do diário, Getúlio registra que o comandante da 3ª Região Militar, General Gil Dias de Almeida, pouco antes de ter seu quartel-general atacado, disse a Getúlio que queimaria sua [[biblioteca]] se Minas Gerais entrasse em um processo revolucionário. Washington Luís também jamais conseguiu acreditar que Minas Gerais fizesse uma revolução. Na abertura do ''Diário'', meia hora antes do início da revolução, Getúlio refletiu sobre sua responsabilidade na revolução e um eventual fracasso desta:

{{quote2|''Quatro e meia. A hora se aproxima. Examino-me e sinto-me com o espírito tranquilo de quem joga um lance decisivo porque não encontrou outra saída. A minha vida não me interessa e sim a responsabilidade de um ato que decide o destino da coletividade. Mas esta queria a luta, pelo menos nos seus elementos mais sadios, vigorosos e altivos. Não terei depois uma grande decepção? Como se torna revolucionário um governo cuja função é manter a lei e a ordem? E se perdermos? Eu serei depois apontado como o responsável, por despeito, por ambição, quem sabe? Sinto que só '''o sacrifício da vida''' poderá resgatar o erro de um fracasso''.|Getúlio Vargas}}

Em caso de fracasso da revolução, Getúlio, como um dos "cabeças" da revolução, pelas leis da época, estava sujeito a pena de até 20 anos de prisão e à pena de banimento. O antigo [[código penal brasileiro]], baixado pelo ''decreto nº 847'', 11 de outubro de 1890, previa: ''"Artigo 107: Tentar diretamente e por fatos, mudar por meios violentos a Constituição política da República ou a forma de governo estabelecida. Pena: de banimento aos 'cabeças'; e aos corréus a reclusão por 5 a 10 anos"''. A ''lei nº 1.062'' de 29 de setembro de 1903, aplicava, aos "cabeças", a pena de reclusão de 10 a 20 anos. O crime era inafiançável.<ref>GAMA, Afonso Dionísio, ''Código Penal Brasileiro'', segunda edição, Saraiva e C. Editores, São Paulo, 1929.</ref>
[[Imagem:Revolução de 1930 - 2.jpg|miniatura|250px|Getúlio Vargas em momento de descontração.]]

No [[Nordeste do Brasil]], devido a um erro de interpretação das ordens dadas pelo comando revolucionário, a revolução só começou na madrugada de 4 de outubro. A revolução se alastrou por todo o país. As tropas gaúchas marcharam rumo a São Paulo, porém sem derrubar o governo catarinense, pois só conseguiram tomar a [[Ilha de Santa Catarina]] no dia 16. No dia 6 de outubro, o ''The New York Times'' noticiava que 80.000 homens estavam na luta. Em [[Minas Gerais]], inesperadamente, houve resistência, pois o 12º Regimento de Infantaria de [[Belo Horizonte]] não aceitou o golpe.

Oito governos estaduais, no nordeste do Brasil, na época chamada de ''Norte'', foram depostos pelos tenentes, sendo que os tenentes enfrentaram, na [[Bahia]] e em [[Pernambuco]], resistência notável. Os revolucionários derrubaram o governo de Pernambuco em 8 de outubro, depois de um combate que resultou em 150 mortos.<ref>''Pernambuco falls to Brazilian Rebels; 150 die in battle'', Wireless to The New York Times, October 9, 1930, Thursday, Page 1</ref>

No dia 10, Getúlio Vargas partiu, por ferrovia, rumo ao [[Rio de Janeiro (cidade)|Rio de Janeiro]], capital federal na época, deixando o governo do Rio Grande do Sul com Osvaldo Aranha e não ao vice-presidente gaúcho João Neves da Fontoura, fato que levou João Neves renunciar ao seu cargo de vice-presidente gaúcho.

Em meados de outubro, a revolução dominava apenas parte do nordeste do Brasil e parte do Sul do Brasil. Mantinham-se leais ao governo federal, os estados de [[Santa Catarina]], [[Bahia]], [[São Paulo]], [[Rio de Janeiro]] e o Distrito Federal (Rio de Janeiro), toda a região [[norte do Brasil]]: [[Amazonas]], [[Pará]] e o Território do [[Acre]], e todo o [[Região Centro-Oeste do Brasil|Centro Oeste]]: [[Goiás]] e [[Mato Grosso]]. O governo de Santa Catarina foi derrubado em 16 de outubro, e os demais citados somente com o fim da revolução. [[Barbosa Lima Sobrinho]] narra, em seu livro ''A Verdade sobre a Revolução de 1930'', a ocupação do [[estado do Espírito Santo]] pelas tropas mineiras. O governo capixaba foi deposto em 16 de outubro de 1930.

No [[Nordeste do Brasil]], os revolucionários marchavam em direção à Bahia. Pelo sul, os revolucionários, vindos do Rio Grande do Sul, estavam estacionados na região de [[Itararé]], na divisa do [[Paraná]] com São Paulo, onde as forças do governo federal e tropas paulistas estavam acampadas para deter o avanço das tropas revolucionárias.

Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em Itararé. Getúlio aguardava os acontecimentos, instalado em [[Curitiba]]. No [[Sul de Minas Gerais]] tropas federais ainda resistiam ao avanço das tropas mineiras rumo ao Rio de Janeiro. Não houve a esperada "Batalha de Itararé", porque, em 24 de outubro, antes que ela ocorresse, os generais [[Tasso Fragoso]] e [[João de Deus Mena Barreto (II)|Mena Barreto]] e o [[almirante]] [[Isaías de Noronha]] depuseram Washington Luís através de um [[golpe militar]], e formaram uma [[Junta Governativa Provisória de 1930|Junta Militar Provisória]]. No mesmo dia, Osvaldo Aranha foi enviado ao Rio de Janeiro para negociar a entrega do poder a Getúlio Vargas. A Junta Militar governou o Brasil até passar o governo a Getúlio em 3 de novembro de 1930. Washington Luís foi deposto apenas 22 dias antes do término do mandato presidencial, que se encerraria em 15 de novembro de 1930.

Jornais que apoiavam o governo deposto foram destruídos (na época, se dizia: ''empastelados''), entre eles jornais influentes, como ''[[O Paiz]], [[A Noite]], [[Correio Paulistano]]'', órgão oficial do [[Partido Republicano Paulista]], ''A Plateia'', ''Gazeta de Notícias, A Crítica'' e a ''Folha da Manhã'', atual ''[[Folha de S. Paulo]]''. O edifício-sede de ''O Paiz'' foi totalmente incendiado. As polícias do Rio de Janeiro, então capital federal, e de São Paulo se omitiram e nada fizeram para impedir os atos de vandalismo. Na [[São Paulo (cidade)|cidade de São Paulo]], as bancas do [[jogo do bicho]] foram atacadas por serem suspeitas de financiarem o [[PRP]] e o governo paulista deposto.<ref>VAMPRÉ, Leven, ''São Paulo Terra Conquistada'', Sociedade Impressora Paulista, São Paulo, 1ª Edição, 1932.</ref>

Washington Luís, Júlio Prestes e vários outros próceres políticos da República Velha, como Manuel Tomás Carvalho de Brito, José Maria Belo, Átila Neves, [[Irineu Machado]], [[Otávio Mangabeira]], Melo Viana, [[Antônio Prado Júnior]], entre outros, foram presos e exilados. Washington Luís só retornou ao Brasil em 1947, depois da deposição de Getúlio Vargas, em 1945.

Getúlio, depois de uma passagem por São Paulo, onde ocupou o [[Palácio dos Campos Elísios]], sede do governo paulista deposto, rumou para o Rio de Janeiro. Foi uma cena que os paulistas não esqueceriam: Soldados mineiros e gaúchos, com fuzis nos ombros, montando guarda para Getúlio na sede do governo paulista. Getúlio chegou ao Rio de Janeiro, de [[trem]], em 31 de outubro de 1930. Inteirou-se da situação política no Rio de Janeiro, para só depois assumir o governo.

A derrocada de Washington Luís e Júlio Prestes foi cantada assim, por Alvinho e a Orquestra Copacabana, com a marchinha de [[Osvaldo Santiago]] "''Bico de Lacre Não Vem Mais''": ''"Quem disse que um dia ele ia lá no Catete se assentar, dê a mão a palmatória. Não vem mais 'Seu Julinho' porque o povo não quis, 'Bico de Lacre' coitadinho, como tu fostes infeliz... 'O Cavanhaque' deu o fora, deixou 'Seu Julinho' na mão, e este assim desempregado há de tomar um bom pimpão"''. "Bico de Lacre" era apelido de Júlio Prestes dado por [[José Carlos de Macedo Soares]].

== O Governo Provisório (1930 - 1934) ==

=== Uma república nova ===
[[Imagem:Capa da Revista do Globo nº 21 - Revolução de 1930.jpg|miniatura|250px|Capa da ''Revista do Globo'' sobre a vitória da Revolução de 1930. Detalhe: gaúchos amarrando os seus cavalos no [[obelisco]] da [[Avenida Rio Branco|Rio Branco]].]]
[[Imagem:Miguel Costa, Góis Monteiro e Getúlio Vargas - 1930.jpg|miniatura|250px|Fotografia publicada pela revista ''[[Paratodos]]'' com o título: ''A Revolução Triumphante''. Ao centro: [[Miguel Costa]], [[Góis Monteiro]] e Getúlio Vargas.]]

Às 3 horas da tarde de 3 de novembro de 1930, a Junta Militar Provisória passou o poder, no [[Palácio do Catete]], a Getúlio Vargas, (que vestia farda militar pela última vez na vida), encerrando a chamada [[República Velha]]. No discurso de posse, Getúlio estabelece 17 metas a serem cumpridas pelo Governo Provisório. Na mesma hora, no centro da cidade do Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os [[cavalo]]s no [[obelisco]] da [[Avenida Central]], atual Avenida [[Rio Branco]], marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930. Dos principais tenentes de 1930, o único a estar presente ao ato foi o tenente [[João Cabanas]] que aparece nas fotografias do evento. Esse gesto dos gaúchos foi cantado por [[Almirante (compositor)|Almirante]], numa marchinha de [[Lamartine Babo]] chamada ''O barbado foi-se'': ''"O Rio Grande sem correr o menor risco, amarrou, por telegrama, o cavalo no obelisco".'' E a letra dizia ainda: ''"De sul a norte, todos viram a intrepidez de um Brasil Brasil heroico e forte a raiar no dia 3... A Paraíba terra santa, terra boa, finalmente está vingada, salve o grande João Pessoa..."Doutor Barbado" foi-se embora, não volta mais".''

Getúlio reconheceu, em um discurso agradecendo o apoio do povo mineiro a ele, (discurso publicado em ''A Nova Política do Brasil'', volume 1, página 93), em Belo Horizonte, em 23 de fevereiro de 1931, a primazia de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada como o primeiro político a intuir que uma revolução se aproximava. Getúlio reconheceu também Antônio Carlos como o político que lançou sua candidatura a presidente: ''"Queria expressar-vos, pessoalmente, o meu profundo reconhecimento pela espontaneidade e entusiasmo com que o povo mineiro aceitou minha candidatura sugerida pela palavra, nesse momento precursora, de Antônio Carlos, o primeiro que, numa clarividente certeza, vislumbrou na curva longínqua do horizonte, a borrasca revolucionária"''.

Getúlio tornou-se Chefe do Governo Provisório com amplos poderes. Os revolucionários não aceitavam o título "[[Presidente do Brasil|Presidente da República]]". Seu governo provisório foi o segundo da república. O primeiro governo provisório fora o de [[Deodoro da Fonseca]]. Getúlio governava através de [[decreto]]s que tinham força de [[lei]]. Esses decretos sempre começavam assim: ''"- O 'Chefe do Governo Provisório' da República dos Estados Unidos do Brasil, considerando que:..."'' No dia 11 de novembro de 1930 foi baixado o decreto nº 19.398<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=37246&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB</ref> que instituiu e regulamentou o funcionamento do Governo Provisório. Este decreto:

* Suspendeu as garantias constitucionais da [[Constituição de 1891]], exceto o ''[[habeas corpus]]'' para crimes comuns.
* Confirmava a dissolução do [[Congresso Nacional do Brasil]], dos congressos estaduais e das câmaras municipais. Os deputados, senadores e presidentes de estados, eleitos em 1930, nunca chegaram a tomar posse dos seus mandatos.
* Confirmava também todos os atos da Junta Militar Provisória.
* Autorizou Getúlio a nomear e exonerar, a seu livre critério, interventores para os governos estaduais, na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930.
* Excluía de apreciação judicial os atos do Governo Provisório e os atos dos interventores federais nos estados. Assim, nenhum ato e nenhum decreto do Governo Provisório e dos interventores podia ser contestado na justiça brasileira.
* A atuação dos interventores federais nos estados era disciplinada, no Governo Provisório, pelo "''Código dos Interventores''", nome pelo qual ficou conhecido o ''decreto nº 20.348''<ref>ihttp://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=42129&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB</ref>, de 29 de agosto de 1931, que instituiu "conselhos consultivos nos Estados, no Distrito Federal e nos municípios e estabelece normas, sobre a administração local".
[[Imagem:Getúlio nomeando os Ministros 03-11-1930.jpg|miniatura|esquerda|Getúlio Vargas nomeando os seus ministros em 3 de novembro de 1930. Em pé, de óculos: [[Lindolfo Collor]], avô do ex-presidente [[Fernando Collor de Mello|Fernando Collor]].]]
[[Imagem:Getúlio Vargas e ministros.jpg|miniatura|esquerda|Getúlio com os seus ministros, Governo Provisório.]]

Os oficiais das [[forças armadas]] que permaneceram fiéis ao governo deposto, tiveram suas carreiras abortadas, sendo colocados, por decreto, na [[reserva militar]]. No [[Supremo Tribunal Federal]], em fevereiro de 1931, 6 ministros, apoiadores do governo deposto, foram aposentados compulsoriamente, e o número de ministros reduzido de quinze para onze. Mesmo na [[Marinha do Brasil]], que não havia combatido os revolucionários de 1930, houve, por insistência de Getúlio, aposentadorias forçadas, o que levou o ministro da Marinha, [[José Isaías de Noronha]] a pedir exoneração do seu cargo.

Foram investigadas minuciosamente as administrações e os políticos da [[República Velha]], através de uma chamada "Justiça Revolucionária" e de um "Tribunal Especial", criados em 1930, pelo decreto que instituiu o Governo Provisório e organizado pelo decreto 19.440<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=37500&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB</ref> de 28 de novembro de 1930, com o objetivo de: "''processo e julgamento de crimes políticos, funcionais e outros que serão discriminados na lei de sua organização''".

Entretanto, como o próprio Getúlio confirma no ''Diário'', no dia 4 de dezembro de 1932, nada foi encontrado de irregularidades e de corrupção naquele regime deposto em 1930, motivo pelo qual, mais tarde, surgiria a expressão: "''os honrados políticos da República Velha''". O Tribunal Especial foi dissolvido, em 1932, sem ter condenado ninguém.

Houve, no início do Governo Provisório, uma espécie de "comando revolucionário", denominado oficialmente de Conselho Nacional Consultivo, criado pelo decreto que regulamentou o Governo Provisório, e que recebeu o apelido de "Gabinete Negro", do qual faziam parte Getúlio Vargas, [[Pedro Ernesto Baptista|Pedro Ernesto]], o general [[José Fernandes Leite de Castro]], [[Ari Parreiras]], [[Osvaldo Aranha]], Góis Monteiro, José Américo de Almeida, Juarez Távora e o tenente João Alberto Lins de Barros, (quando este, que era interventor federal em São Paulo, ia ao Rio de Janeiro), entre outros. O "Gabinete Negro" se sobrepunha ao gabinete ministerial, tomava as decisões e definia os rumos da revolução.

Juarez Távora, além de ministro da Viação e depois da [[Agricultura]], fora, através de decreto secreto, arquivado na secretaria do [[Ministério da Guerra]], atual [[Exército Brasileiro|Comando do Exército]], nomeado chefe de uma "Delegacia do Norte", o que lhe dava o controle de todos os interventores do nordeste brasileiro, e lhe valeu o apelido de "Vice-Rei do Norte".

A radicalização política dos tenentes representou o seu maior perigo para Getúlio em 25 de fevereiro de 1932, quando foi destruído, na cidade do Rio de Janeiro, (por ''empastelamento''), um jornal da oposição ao Governo Provisório, o ''[[Diário Carioca]]''. A recusa de Getúlio de punir os tenentes envolvidos no caso fez com que o ministro do trabalho Lindolfo Collor, o ministro da justiça [[Joaquim Maurício Cardoso]] e o chefe de polícia do Rio de Janeiro, [[João Batista Luzardo]] pedissem exoneração de seus cargos. João Neves da Fontoura também rompeu com Getúlio. Batista Luzardo denunciou, em carta, o envolvimento do Governo Provisório no atentado ao ''Diário Carioca''. Os jornais do Rio de Janeiro ficaram 2 dias sem circular, em solidariedade ao ''Diário Carioca''.

Sobre o atentado ao ''Diário Carioca'', Getúlio anotou no ''Diário'', na seção de 24 a 29 de fevereiro de 1932: ''"Tenho que me decidir entre as forças militares que apoiam o governo e um jornalismo dissolvente, apoiado por políticos e instigado mesmo por estes contra o governo. Estou numa encruzilhada em que urge uma decisão. Foi aberto um inquérito militar e outro civil"''.<ref>VARGAS, Getúlio, ''Diário'', Fundação Getúlio Vargas, 1997</ref>

Os tenentes se encontravam e se organizavam nos Clubes "3 de Outubro", e só voltaram finalmente aos quartéis após promulgada a ''[[Constituição de 1934]]''. Porém, em meados de 1932, Getúlio Vargas já havia conseguido se livrar da influência dos tenentes sobre o comando da Revolução e governar somente com o ministério, prescindindo do "Gabinete Negro", embora os governos estaduais, na grande maioria, continuassem ainda nas mãos dos tenentes.

Luiz Vergara, no livro ''Eu Fui Secretário de Getúlio'', registra o que Getúlio pensava das reuniões, tarde da noite, no [[Palácio Guanabara]], do "Gabinete Negro": ''"Eles me trazem sugestões, discutem medidas que lhes parecem úteis e oportunas. Eu escuto atentamente, demonstrando interessar-me, mas '''o que mais me interessa realmente é conhecê-los melhor''' para saber como tratá-los".''<ref>» VERGARA, Luiz, Fui Secretário de Getúlio Vargas , Editora Globo, Porto Alegre, 1960.
</ref>

O general Góes Monteiro, no livro "O General Góes Depõe", assim descreve as reuniões do "Gabinete Negro": ''"As discussões eram acesas, principalmente entre os srs. Oswaldo Aranha e Ari Parreiras. Todas elas estéreis e intermináveis, não raro entrando madrugada adentro, até depois das 2 horas"''.<ref>» COUTINHO, Lourival, "O General Góes Depõe", página 163, Livraria Editora Coelho Branco, Rio de Janeiro, 1956.</ref>
[[Imagem:Getúlio Vargas (pintura).jpg|miniatura|250px|Getúlio Vargas como presidente, em pintura de 1930.]]

O gabinete ministerial do Governo Provisório, composto de apenas nove pessoas (7 civis e dois militares), foi cuidadosamente montado, para premiar e contentar todos os 3 estados, partidos políticos ([[Partido Libertador]], [[PRR]], [[PRM]], Partido Republicano Paraibano e o [[Partido Democrático (1930)]]), tenentes e a Junta Militar Provisória, que, juntos, fizeram a [[Revolução de 1930]].

A grande dificuldade que Getúlio tinha com os tenentes nos estados, além das rivalidades entre eles, era o despreparo deles para governar. Com poucas exceções como [[Juracy Magalhães|Juraci Magalhães]], os tenentes fizeram administrações ruins, e o desempenho dos tenentes foi avaliado assim, em fevereiro de 1932, 4 meses antes da eclosão da [[Revolução de 1932]], pelo tenente [[João Cabanas]], um dos chefes da [[Revolução de 1924]] e revolucionário de 1930, no seu livro "Fariseus da Revolução", que escreveu, em fevereiro de 1932, pouco antes da [[Revolução de 1932]], sobre o tenente [[João Alberto Lins de Barros]], que governou São Paulo, entre 1930 e 1931, e sobre os demais tenentes interventores federais nos estados:

{{Quote2|''João Alberto serve como exemplo: Se, como militar, merece respeito, como homem público não faz jus ao menor elogio. Colocado, por inexplicáveis manobras e por circunstâncias ainda não esclarecidas, na chefia do mais importante estado do Brasil, revelou-se de uma extraordinária, de uma admirável incompetência, criando, em um só ano de governo, um dos mais trágicos confusionismos de que há memória na vida política do Brasil, dando também origem a um grave impasse econômico (déficit de 100.000 contos), e a mais profunda impopularidade contra a "Revolução de Outubro".. e '''ter provocado no povo paulista, um estado de alma equívoco e perigoso'''. Nossa história não registra outro período de fracasso tão completo como o do "Tenentismo inexperiente''".|João Cabanas}}

O conflito com a esquerda revolucionária, da qual faziam parte muitos militares, e que se intensificaria posteriormente, começou logo no início do governo provisório: Em 22 de janeiro de 1931 foi descoberto um plano subversivo nos [[sindicato]]s em [[Santos]] e no Rio de Janeiro. Entre os presos estava o jovem [[Carlos Lacerda]]. Por causa desse caso, foi suspenso o desfile do [[dia do trabalhador]] de 1931.<ref>___,''Red Plot Foiled in Rio de Janeiro - 'Hunger' Parades Prevented by Action of Troops and Police Chief's Warning. Sons of Politician Seized'', The New York Times, 25 de janeiro de 1931, Seção Education, página E8.</ref>

=== A Revolução de 1932 ou Revolução Constitucionalista ===
{{Artigo principal|[[Revolução Constitucionalista de 1932]]}}
[[Imagem:Cartaz Revolucionário 1.jpg|miniatura|Paulistas contra Getúlio.]]

Em 9 de julho de 1932, eclodiu a [[Revolução Constitucionalista de 1932|Revolução Constitucionalista]] em São Paulo estendendo-se até o dia 2 de outubro de 1932. Desde 1997, pela lei estadual paulista nº 9.497, o dia 9 de julho é feriado estadual em São Paulo, relembrando a data.

== A eleição de 1933 ==

O término da revolução constitucionalista marcou o início de um período de democratização do Brasil. Em 3 de maio de 1933, foram realizadas eleições para a [[Assembleia Nacional Constituinte]], quando as mulheres votaram pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. O [[voto feminino]] já havia sido instituído no [[Rio Grande do Norte]], em 1928. Nesta eleição, graças à criação da [[Justiça Eleitoral]], as fraudes deixaram de ser rotina nas eleições brasileiras.

Também, nesta eleição de 3 de maio de 1933, houve pela primeira vez em eleições nacionais o [[voto secreto]], que havia sido introduzido no Brasil pelo presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, em 1929, para uma eleição suplementar para vereador em Belo Horizonte.

Em 17 de março de 1937, Getúlio já reconciliado com os paulistas, anotou no "Diário", uma palestra sua com o deputado federal paulista Valdemar Ferreira a propósito dos motivos da Revolução de 1932:

{{Quote2|"''Não desejava (em 1937) que se reproduzisse o que ocorreu em 32 com a Revolução Paulista, que me surpreendeu quando já haviam desaparecido todos os motivos alegados como determinantes da mesma. Respondeu-me (Valdemar Ferreira) que hoje não havia ambiente para isso, e que a Revolução de 32 foi forçada pelo General Klinger e desencadeada por elementos militares, e que o governo de São Paulo teve de aceitar para não ser deposto''."|Getúlio Vargas}}<ref>VARGAS, Getúlio, ''Diário'', volume II, página 27, Fundação Getúlio Vargas, 1997</ref>

== A Assembleia Nacional Constituinte e a Constituição de 1934 ==
[[Imagem:AntoniocarlosIV.jpg|miniatura|[[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (IV)|Antônio Carlos Ribeiro de Andrada]], presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1933.]]

Foi instalada em 15 de novembro de 1933 a [[Assembleia Nacional Constituinte]], presidida por Antônio Carlos de Andrada, que promulgou uma nova Constituição em 16 de julho de 1934.<ref name="Constituição de 1934">{{citar web |url = http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/Constituicao1934 |titulo = Era Vargas - Constituição de 1934 |obra = Cpdoc.fgv |acessodata = 3 de junho de 2010 |língua= português}}</ref> Nesta data, a reconciliação com os paulistas já se solidificara, anotando Getúlio no ''Diário'': ''"Instalação da Constituinte... protestos, impugnações, atitude serena e firme da bancada paulista, afastando debates de natureza política das cogitações da constituinte."''

Nesta constituinte participou pela primeira vez uma mulher deputada, [[Carlota Pereira de Queirós]], que curiosamente representava o estado derrotado em 1930: São Paulo, e houve a presença de deputados eleitos pelos sindicatos: os ''deputados classistas''.

Foram mantidos fora de apreciação judicial todos os atos do Governo Provisório e os dos interventores nos estados. Foram anistiados todos os civis e militares que praticaram crimes políticos até a data da promulgação da Constituição de 1934.

Constituição tida como progressista para uns e para Getúlio: ''"Impossível de se governar com ela!"'' A principal crítica feita por Getúlio à [[Constituição de 1934]] referia-se ao seu caráter inflacionário, pois calculava-se que se todas as nacionalizações de [[banco]]s e de [[mina (mineração)|mina]] fossem feitas e se todos os [[direitos sociais]] nela previstos fossem implantados, os custos para as empresas privadas, as despesas do governo e o [[Déficit|déficit público]] se elevariam muito.

Uma das grandes despesas que o governo teria, que era prevista na constituição de 1934, no seu artigo 138, era que o Estado deveria: ''"socorrer as famílias de prole numerosa"'', que constituíam a maioria das famílias brasileiras daquela época. A segunda crítica que o governo de Getúlio fazia à Constituição de 1934 era de que ela, sendo [[liberal]] demais, não permitia adequado combate à [[subversão]].

Nas comemorações dos 10 anos da revolução de 1930, Getúlio, em discurso de 11 de novembro de 1940, assim se expressou sobre a Constituição de 1934:

{{Quote2|''Uma constitucionalização apressada, fora de tempo, apresentada como [[panaceia]] de todos os males, traduziu-se numa organização política feita ao sabor de influências pessoais e partidarismo faccioso, divorciada das realidades existentes. Repetia os erros da [[Constituição de 1891]] e agravava-os com dispositivos de pura invenção jurídica, alguns retrógrados e outros acenando a ideologias exóticas. Os acontecimentos incumbiram-se de atestar-lhe a precoce inadaptação''!|Getúlio Vargas}}<ref>VARGAS, Getúlio, ''A nova política do Brasil'', Volume 8, José Olympio Editora, 1940,</ref>

O "Governo Provisório" havia criado, em 1933, uma comissão de juristas, a "''Comissão do [[Itamaraty]]''", para elaborar um anteprojeto de constituição, o qual previa um [[poder executivo]] federal forte e centralizador, ao gosto de Getúlio. Porém a Constituição de 1934, acabou sendo descentralizadora, dando certa [[autonomia]] aos estados federados. Foram extintos os senados estaduais que jamais voltaram a existir.

No dia seguinte à promulgação da nova constituição, 17 de julho de 1934, ocorreu uma eleição indireta para a presidência da república: o Congresso Nacional elegeu Getúlio Vargas como Presidente da República, derrotando Borges de Medeiros, que desde 1931 fazia oposição a Getúlio, e outros candidatos. Getúlio teve 173 votos, contra 59 votos dados a Borges de Medeiros. Os paulistas votaram em Borges de Medeiros, contrariando a orientação do interventor federal [[Armando de Sales Oliveira]].

== O Governo Constitucional (1934 - 1937) ==
[[Imagem:Vargas e Roosevelt.jpg|miniatura|Vargas e [[Franklin Delano Roosevelt|Franklin D. Roosevelt]], presidente dos Estados Unidos.]]
[[Imagem:Carteiradetrabalho.jpg|miniatura|[[Carteira de trabalho]], obrigatória desde 1934.]]

O novo mandato presidencial de Getúlio iniciou no dia 20 de julho de 1934, quando tomou posse no Congresso Nacional, jurando a nova constituição. Getúlio deveria governar até 3 de maio de 1938. Não havia, na constituição de 1934<ref>http://www2.camara.gov.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-publicacaooriginal-1-pl.html</ref>, a figura do vice-presidente. Os estados fizeram, depois, suas constituições, e muitos interventores se tornaram governadores, eleitos pelas assembleias legislativas, o que significou uma ampla vitória, nos estados, dos partidários de Getúlio.

Foi sancionada, em 4 de abril de 1935, a ''lei nº 38''<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=47634&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB</ref>, que definia os crimes contra a ordem política e social, que possibilitou maior rigor no combate à subversão da ordem pública. Ficou conhecida como ''[[Lei de Segurança Nacional]]''.

Getúlio visitou a [[Argentina]] e o [[Uruguai]], entre maio e junho de 1935, sendo que antes dele, só um presidente ([[Campos Sales]]) se ausentara do Brasil. Assumiu a presidência da República, nesta ausência de Getúlio, o presidente da Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

Em 22 de julho de 1935<ref>http://www.direito2.com.br/acam/2010/ago/20/programa-surgiu-em-1935-durante-o-governo-de-getulio-vargas</ref>, foi criado um programa oficial de rádio com notícias do governo: a "[[Hora do Brasil]]" depois denominada "[[Voz do Brasil]]", existente ainda hoje.

Em 31 de agosto de 1935, Getúlio Vargas vai à cidade mineira de [[João Monlevade]] lançar a pedra fundamental da [[Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira]], "filha" da primeira usina siderúrgica do Brasil, também em João Monlevade.

Neste período de governo de Getúlio, cresceu muito a radicalização político-ideológica no Brasil, especialmente entre a [[Ação Integralista Brasileira]] (AIB), de inspiração [[fascista]], liderada por [[Plínio Salgado]], e a [[Aliança Nacional Libertadora]] (ANL), movimento dominado pelo [[Partido Comunista do Brasil]] (PCB), pró-[[soviético]]. O fechamento da ANL, através de decreto nº 229<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=25951&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB</ref> de 11 de julho de 1935, determinado por Getúlio Vargas, bem como a prisão de alguns dos partidários, precipitaram as conspirações que levaram à [[Intentona Comunista]] em 24 de novembro de 1935 no [[nordeste do Brasil]] e a 27 de novembro de 1935 na capital federal Rio de Janeiro.

O movimento revolucionário ocorreu em várias cidades brasileiras. No Rio de Janeiro houve um levante militar no 3º Regimento de [[Infantaria]], em que aconteceram várias mortes. Houve luta também em [[Recife]]. Em [[Natal (Rio Grande do Norte)|Natal]], os comunistas chegaram a tomar o poder, sendo depois derrotados por tropas de sertanejos vindos do interior do [[Rio Grande do Norte]], liderados por [[Dinarte de Medeiros Mariz]].

Getúlio contou aos repórteres da Revista do Globo, em 1950, a sua versão sobre a Intentona Comunista. Disse que, em 22 de outubro de 1935, recebeu da polícia um documento apreendido dos comunistas, o qual previa um “''Plano de Agitação''”. Realizou, então, uma reunião, em [[Petrópolis]], com líderes da indústria e do comércio, expondo o perigo iminente. Getúlio disse aos repórteres:

{{quote2|''Apresentei-lhes o plano comunista e expus as medidas que iria pôr em prática para destruí-lo. Qual não foi meu espanto quando eles, em vez de me apoiar pediram-me que revogasse as leis trabalhistas que eu havia posto em prática. A lei de dois terços de trabalhadores brasileiros, a lei de férias, a semana de quarenta e oito horas, as indenizações, o aviso prévio, etc., –diziam eles–, eram entraves para o desenvolvimento da indústria e colocavam o operariado numa situação de privilégio, razão pela qual deveriam ser abolidas. Diante dessa incompreensão por parte das chamadas classes conservadoras, resolvi agir sozinho''.<ref>''Revista do Globo'', Suplemento Especial, agosto de 1950, página 48</ref>|Getúlio Vargas}}

Faz um relato da Intentona Comunista, aos repórteres e conclui:

{{quote2|''O operariado brasileiro estava satisfeito como meu governo e eu tinha certeza de que fracassaria qualquer tentativa por parte dos comunistas de envolvê-lo. Aliás, o golpe de 1935 primou pela absoluta falta de apoio popular. A única coisa que o distingue de outros golpes militares é que os seus dirigentes não eram generais... Se ao invés de tomar medidas de proteção ao operariado eu tivesse revogado as leis trabalhistas, como queriam os homens de Petrópolis, não sei se o governo teria vencido a revolução''...<ref>''Revista do Globo'', Suplemento Especial, agosto de 1950, pp. 48-49</ref>|Getúlio Vargas}}

Quanto a um dos líderes da Intentona Comunista, o capitão [[Luís Carlos Prestes]], Getúlio revelou aos repórteres da Revista do Globo que: "''Vários membros do governo insistiram comigo para que ele fosse fuzilado sumariamente. O próprio ministro da Guerra, general [[João Gomes]], foi um dos que mais insistiram. Não aceitei, porém, as razões que me apresentaram. Eu não podia, de maneira alguma, permitir um fuzilamento naquela época. Logo depois de capturado, Prestes foi, como seus companheiros, entregue à justiça"''.<ref>''Revista do Globo'', Suplemento Especial, agosto de 1950, p. 49</ref>

A partir da Intentona Comunista, foram decretados várias vezes o [[estado de sítio]] e o [[estado de guerra]], no país, por Getúlio Vargas, assim como endurecidas as leis que visavam combater a [[subversão]]. A ''Lei de Segurança Nacional'' foi reforçada, em 14 de dezembro de 1935, pela ''lei nº 136''<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=48852&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB</ref>, que definia novos crimes contra a ordem pública. Em 18 de dezembro de 1935, são promulgadas três emendas à ''Constituição de 1934'', dando mais poderes ao Estado Brasileiro no combate à subversão.

Em 17 de janeiro de 1936, é sancionada a ''lei nº 192''<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=21261&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PU</ref>, visando limitar o poderio militar dos estados, subordinando as polícias militares ao [[Exército Brasileiro]], limitando os efetivos e proibindo-as de possuírem [[artilharia]], [[aviação]] e [[carro de combate]]. Este armamento pesado que as policias estaduais possuíam foi entregue ao Exército Brasileiro.

Em 23 de março de 1936, são presos o senador Abel de Abreu Chermont e 3 deputados federais por cumplicidade com a Intentona Comunista. Foi preso o prefeito carioca [[Pedro Ernesto Baptista|Pedro Ernesto]], que era muito popular, em 3 de abril de 1936, suspeito de ter dado apoio à Intentona Comunista. Getúlio comentou assim a prisão de Pedro Ernesto, no ''Diário'': ''"Embora as circunstâncias me forçassem a consentir nesta prisão, confesso que o fiz com pesar. Há uma crise na minha consciência. Tenho dúvida se esse homem é um extraviado ou um traído, um incompreendido um ludibriado. Talvez o futuro esclareça"''.

Foi criado, em 11 de setembro de 1936, pela ''lei nº 244''<ref>http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/b2394d7e1ab9a970032569b9004e148d/2d34658cc4b7864e032569fa006f5383?OpenDocumen</ref>, um [[tribunal]] especial para julgar os revolucionários da Intentona Comunista, chamado de "''Tribunal de [[segurança nacional]]''". Cresceu muito, neste período, a instabilidade política no Brasil. Tudo isto levou Getúlio, com amplo apoio do militares, a implantar o [[Estado Novo (Brasil)|Estado Novo]].

Em novembro de 1936, é criada a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do [[Banco do Brasil]], a qual, pela ''lei nº 454'', de 9 de julho de 1937<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=24209&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB</ref>, passou a captar recursos no mercado de capitais e nos fundos de pensões, para finaciamento da agricultura e da pecuária.<ref>http://www.bb.com.br/portalbb/page3,102,3527,0,0,1,8.bb?codigoNoticia=1092&codigoMenu=1193&codigoRet=11084&bread=3_3</ref>

Em 11 de junho de 1937 é estatizado o [[Lloyd Brasileiro]], pelo ''decreto nº 1.708''<ref>ttp://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=152227&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB</ref>, que explorava a navegação de cabotagem de médio e longo curso, dando início a um período longo de estatizações que se prolongou, no Brasil, até à década de 1980. O Lloyd foi encampado com o objetivo de enfrentar o cartel dos fretes marítimos, tendo Getúlio dito, no discurso de lançamento de sua candidatura e da Plataforma da [[Aliança Liberal]], em 2 de janeiro de 1930: ''"As vantagens da existência de várias empresas de cabotagem, entretanto são anuladas pelo [[truste]] oficial dos fretes que torna impossível a livre concorrência"''.<ref>VARGAS, Getúlio, ''A Nova Política do Brasil'', Volume 1, página 45, Rio de Janeiro, 1938</ref>. A encampação do LLoys tinha sido autorizada pela lei nº 420<ref>http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102806&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB</ref> de 10 de abril de 1937.

A partir do final de 1936, o cenário político passa a ser dominando pela sucessão presidencial. Em maio de 1937, Getúlio registra várias vezes, no "Diário", que tentara a conciliação entre os dois candidatos a presidente da república (Armando Sales e José Américo de Almeida). Relata um encontro com Flores da Cunha, no qual, Getúlio e Flores: ''"Tratamos da sucessão presidencial, nem um nem outro tínhamos candidato. Desejo de conciliação em termos gerais. Palestra cordial"''. E no dia 21 de maio registra: ''"Falta saber se os adeptos da candidatura Armando Sales aceitarão outro candidato, havendo conciliação geral, ou se manterão essa candidatura, isto é, se haverá candidato único e conciliação geral, ou luta entre dois candidatos"''.<ref>VARGAS, Getúlio, Diário, Volume II, página 47, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1937</ref>

{{referências|col=3}}

==Ver também==
*[[Cronologia da Segunda República Brasileira]]
*[[Era Vargas]]

{{Começa caixa}}
{{Caixa de sucessão
|antes = [[Primeira República Brasileira]]
|título = Segunda República Brasileira
|depois = [[Terceira República Brasileira]]
|anos = [[1930]] - [[1937]]
}}
{{Termina caixa}}

{{Brasil/Tópicos}}

[[Categoria:História do Brasil Republicano]]
[[Categoria:Século XX no Brasil]]

Revisão das 12h32min de 10 de novembro de 2015

A Segunda República (1930-1937) é composta por duas fases sucessivas: o período do Governo Provisório (1930-1934), quando Vargas governou por decreto como Chefe do Governo Provisório, cargo instituído pela Revolução, enquanto se aguarda a adoção de uma nova constituição para o país, o período da constituição de 1934 (quando , na sequência da aprovação da nova constituição pela Assembleia Constituinte de 1933-34, Vargas foi eleito pela assembleia ao abrigo das disposições transitórias da constituição como presidente, ao lado de um poder legislativo democraticamente eleito).

A Revolução de 1930 marcou o fim da República Velha (com a deposição do presidente Washington Luís; a revogação da constituição de 1891, com o objetivo de estabelecer de uma nova ordem constitucional; a dissolução do Congresso Nacional; intervenção federal em governos estaduais e alteração do cenário político, com a supressão da hegemonia até então apreciada por oligarquias agriculturas de São Paulo e Minas Gerais) e sinaliza o início da Era Vargas (tendo em conta que, após o triunfo da revolução, uma junta militar provisória cedeu o poder a Vargas, reconhecido como o líder do movimento revolucionário).

Este período se encerra com a instituição do Estado Novo, considerado a Terceira República Brasileira.

A Revolução de 1930

Ver artigo principal: Revolução de 1930

Em 7 de setembro de 1930, o movimento revolucionário tem um novo impulso. Neste dia, Antônio Carlos passa o governo de Minas Gerais a Olegário Maciel, sendo que este era muito mais decidido a fazer uma revolução do que Antônio Carlos. O Presidente Olegário foi o único presidente de estado a continuar no cargo após a revolução de 1930.[1]

Getúlio Vargas, com outros líderes da Revolução de 1930, em Itararé-SP, logo após a derrubada de Washington Luís.

Sobre o sigilo da conspiração, Getúlio contou à Revista do Globo, edição especial de agosto de 1950, que sua filha Alzira só soube da revolução 2 dias antes dela ter início e afirmou: "Em 1930, preparando a Revolução, fui obrigado a fazer um jogo duplo: de dia mantinha a ordem para o governo federal e à noite introduzia os conspiradores no Palácio (Piratini)". Em 25 de setembro de 1930, foi determinado, pelo comando revolucionário, que a revolução começaria em 3 de outubro, as 17:00 horas. O início da revolução já havia sido adiado várias vezes, devido às hesitações e indecisões dos revolucionários.

Desta vez não houve adiamentos. Em 3 de outubro de 1930, no período da tarde, em Porto Alegre, iniciou-se a Revolução de 1930, com a tomada do quartel-general da 3ª Região Militar. Ataque este comandado por Osvaldo Aranha e Flores da Cunha. Neste ataque aconteceram as primeiras mortes da revolução de 1930.

Um fato demonstra a importância que Getúlio Vargas dava à Revolução: neste dia 3 de outubro, precisamente, ele começou a escrever o diário, o qual encerrou em 1942. No início do diário, Getúlio registra que o comandante da 3ª Região Militar, General Gil Dias de Almeida, pouco antes de ter seu quartel-general atacado, disse a Getúlio que queimaria sua biblioteca se Minas Gerais entrasse em um processo revolucionário. Washington Luís também jamais conseguiu acreditar que Minas Gerais fizesse uma revolução. Na abertura do Diário, meia hora antes do início da revolução, Getúlio refletiu sobre sua responsabilidade na revolução e um eventual fracasso desta:

Em caso de fracasso da revolução, Getúlio, como um dos "cabeças" da revolução, pelas leis da época, estava sujeito a pena de até 20 anos de prisão e à pena de banimento. O antigo código penal brasileiro, baixado pelo decreto nº 847, 11 de outubro de 1890, previa: "Artigo 107: Tentar diretamente e por fatos, mudar por meios violentos a Constituição política da República ou a forma de governo estabelecida. Pena: de banimento aos 'cabeças'; e aos corréus a reclusão por 5 a 10 anos". A lei nº 1.062 de 29 de setembro de 1903, aplicava, aos "cabeças", a pena de reclusão de 10 a 20 anos. O crime era inafiançável.[2]

Getúlio Vargas em momento de descontração.

No Nordeste do Brasil, devido a um erro de interpretação das ordens dadas pelo comando revolucionário, a revolução só começou na madrugada de 4 de outubro. A revolução se alastrou por todo o país. As tropas gaúchas marcharam rumo a São Paulo, porém sem derrubar o governo catarinense, pois só conseguiram tomar a Ilha de Santa Catarina no dia 16. No dia 6 de outubro, o The New York Times noticiava que 80.000 homens estavam na luta. Em Minas Gerais, inesperadamente, houve resistência, pois o 12º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte não aceitou o golpe.

Oito governos estaduais, no nordeste do Brasil, na época chamada de Norte, foram depostos pelos tenentes, sendo que os tenentes enfrentaram, na Bahia e em Pernambuco, resistência notável. Os revolucionários derrubaram o governo de Pernambuco em 8 de outubro, depois de um combate que resultou em 150 mortos.[3]

No dia 10, Getúlio Vargas partiu, por ferrovia, rumo ao Rio de Janeiro, capital federal na época, deixando o governo do Rio Grande do Sul com Osvaldo Aranha e não ao vice-presidente gaúcho João Neves da Fontoura, fato que levou João Neves renunciar ao seu cargo de vice-presidente gaúcho.

Em meados de outubro, a revolução dominava apenas parte do nordeste do Brasil e parte do Sul do Brasil. Mantinham-se leais ao governo federal, os estados de Santa Catarina, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal (Rio de Janeiro), toda a região norte do Brasil: Amazonas, Pará e o Território do Acre, e todo o Centro Oeste: Goiás e Mato Grosso. O governo de Santa Catarina foi derrubado em 16 de outubro, e os demais citados somente com o fim da revolução. Barbosa Lima Sobrinho narra, em seu livro A Verdade sobre a Revolução de 1930, a ocupação do estado do Espírito Santo pelas tropas mineiras. O governo capixaba foi deposto em 16 de outubro de 1930.

No Nordeste do Brasil, os revolucionários marchavam em direção à Bahia. Pelo sul, os revolucionários, vindos do Rio Grande do Sul, estavam estacionados na região de Itararé, na divisa do Paraná com São Paulo, onde as forças do governo federal e tropas paulistas estavam acampadas para deter o avanço das tropas revolucionárias.

Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em Itararé. Getúlio aguardava os acontecimentos, instalado em Curitiba. No Sul de Minas Gerais tropas federais ainda resistiam ao avanço das tropas mineiras rumo ao Rio de Janeiro. Não houve a esperada "Batalha de Itararé", porque, em 24 de outubro, antes que ela ocorresse, os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e o almirante Isaías de Noronha depuseram Washington Luís através de um golpe militar, e formaram uma Junta Militar Provisória. No mesmo dia, Osvaldo Aranha foi enviado ao Rio de Janeiro para negociar a entrega do poder a Getúlio Vargas. A Junta Militar governou o Brasil até passar o governo a Getúlio em 3 de novembro de 1930. Washington Luís foi deposto apenas 22 dias antes do término do mandato presidencial, que se encerraria em 15 de novembro de 1930.

Jornais que apoiavam o governo deposto foram destruídos (na época, se dizia: empastelados), entre eles jornais influentes, como O Paiz, A Noite, Correio Paulistano, órgão oficial do Partido Republicano Paulista, A Plateia, Gazeta de Notícias, A Crítica e a Folha da Manhã, atual Folha de S. Paulo. O edifício-sede de O Paiz foi totalmente incendiado. As polícias do Rio de Janeiro, então capital federal, e de São Paulo se omitiram e nada fizeram para impedir os atos de vandalismo. Na cidade de São Paulo, as bancas do jogo do bicho foram atacadas por serem suspeitas de financiarem o PRP e o governo paulista deposto.[4]

Washington Luís, Júlio Prestes e vários outros próceres políticos da República Velha, como Manuel Tomás Carvalho de Brito, José Maria Belo, Átila Neves, Irineu Machado, Otávio Mangabeira, Melo Viana, Antônio Prado Júnior, entre outros, foram presos e exilados. Washington Luís só retornou ao Brasil em 1947, depois da deposição de Getúlio Vargas, em 1945.

Getúlio, depois de uma passagem por São Paulo, onde ocupou o Palácio dos Campos Elísios, sede do governo paulista deposto, rumou para o Rio de Janeiro. Foi uma cena que os paulistas não esqueceriam: Soldados mineiros e gaúchos, com fuzis nos ombros, montando guarda para Getúlio na sede do governo paulista. Getúlio chegou ao Rio de Janeiro, de trem, em 31 de outubro de 1930. Inteirou-se da situação política no Rio de Janeiro, para só depois assumir o governo.

A derrocada de Washington Luís e Júlio Prestes foi cantada assim, por Alvinho e a Orquestra Copacabana, com a marchinha de Osvaldo Santiago "Bico de Lacre Não Vem Mais": "Quem disse que um dia ele ia lá no Catete se assentar, dê a mão a palmatória. Não vem mais 'Seu Julinho' porque o povo não quis, 'Bico de Lacre' coitadinho, como tu fostes infeliz... 'O Cavanhaque' deu o fora, deixou 'Seu Julinho' na mão, e este assim desempregado há de tomar um bom pimpão". "Bico de Lacre" era apelido de Júlio Prestes dado por José Carlos de Macedo Soares.

O Governo Provisório (1930 - 1934)

Uma república nova

Capa da Revista do Globo sobre a vitória da Revolução de 1930. Detalhe: gaúchos amarrando os seus cavalos no obelisco da Rio Branco.
Fotografia publicada pela revista Paratodos com o título: A Revolução Triumphante. Ao centro: Miguel Costa, Góis Monteiro e Getúlio Vargas.

Às 3 horas da tarde de 3 de novembro de 1930, a Junta Militar Provisória passou o poder, no Palácio do Catete, a Getúlio Vargas, (que vestia farda militar pela última vez na vida), encerrando a chamada República Velha. No discurso de posse, Getúlio estabelece 17 metas a serem cumpridas pelo Governo Provisório. Na mesma hora, no centro da cidade do Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os cavalos no obelisco da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930. Dos principais tenentes de 1930, o único a estar presente ao ato foi o tenente João Cabanas que aparece nas fotografias do evento. Esse gesto dos gaúchos foi cantado por Almirante, numa marchinha de Lamartine Babo chamada O barbado foi-se: "O Rio Grande sem correr o menor risco, amarrou, por telegrama, o cavalo no obelisco". E a letra dizia ainda: "De sul a norte, todos viram a intrepidez de um Brasil Brasil heroico e forte a raiar no dia 3... A Paraíba terra santa, terra boa, finalmente está vingada, salve o grande João Pessoa..."Doutor Barbado" foi-se embora, não volta mais".

Getúlio reconheceu, em um discurso agradecendo o apoio do povo mineiro a ele, (discurso publicado em A Nova Política do Brasil, volume 1, página 93), em Belo Horizonte, em 23 de fevereiro de 1931, a primazia de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada como o primeiro político a intuir que uma revolução se aproximava. Getúlio reconheceu também Antônio Carlos como o político que lançou sua candidatura a presidente: "Queria expressar-vos, pessoalmente, o meu profundo reconhecimento pela espontaneidade e entusiasmo com que o povo mineiro aceitou minha candidatura sugerida pela palavra, nesse momento precursora, de Antônio Carlos, o primeiro que, numa clarividente certeza, vislumbrou na curva longínqua do horizonte, a borrasca revolucionária".

Getúlio tornou-se Chefe do Governo Provisório com amplos poderes. Os revolucionários não aceitavam o título "Presidente da República". Seu governo provisório foi o segundo da república. O primeiro governo provisório fora o de Deodoro da Fonseca. Getúlio governava através de decretos que tinham força de lei. Esses decretos sempre começavam assim: "- O 'Chefe do Governo Provisório' da República dos Estados Unidos do Brasil, considerando que:..." No dia 11 de novembro de 1930 foi baixado o decreto nº 19.398[5] que instituiu e regulamentou o funcionamento do Governo Provisório. Este decreto:

  • Suspendeu as garantias constitucionais da Constituição de 1891, exceto o habeas corpus para crimes comuns.
  • Confirmava a dissolução do Congresso Nacional do Brasil, dos congressos estaduais e das câmaras municipais. Os deputados, senadores e presidentes de estados, eleitos em 1930, nunca chegaram a tomar posse dos seus mandatos.
  • Confirmava também todos os atos da Junta Militar Provisória.
  • Autorizou Getúlio a nomear e exonerar, a seu livre critério, interventores para os governos estaduais, na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930.
  • Excluía de apreciação judicial os atos do Governo Provisório e os atos dos interventores federais nos estados. Assim, nenhum ato e nenhum decreto do Governo Provisório e dos interventores podia ser contestado na justiça brasileira.
  • A atuação dos interventores federais nos estados era disciplinada, no Governo Provisório, pelo "Código dos Interventores", nome pelo qual ficou conhecido o decreto nº 20.348[6], de 29 de agosto de 1931, que instituiu "conselhos consultivos nos Estados, no Distrito Federal e nos municípios e estabelece normas, sobre a administração local".
Getúlio Vargas nomeando os seus ministros em 3 de novembro de 1930. Em pé, de óculos: Lindolfo Collor, avô do ex-presidente Fernando Collor.
Getúlio com os seus ministros, Governo Provisório.

Os oficiais das forças armadas que permaneceram fiéis ao governo deposto, tiveram suas carreiras abortadas, sendo colocados, por decreto, na reserva militar. No Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 1931, 6 ministros, apoiadores do governo deposto, foram aposentados compulsoriamente, e o número de ministros reduzido de quinze para onze. Mesmo na Marinha do Brasil, que não havia combatido os revolucionários de 1930, houve, por insistência de Getúlio, aposentadorias forçadas, o que levou o ministro da Marinha, José Isaías de Noronha a pedir exoneração do seu cargo.

Foram investigadas minuciosamente as administrações e os políticos da República Velha, através de uma chamada "Justiça Revolucionária" e de um "Tribunal Especial", criados em 1930, pelo decreto que instituiu o Governo Provisório e organizado pelo decreto 19.440[7] de 28 de novembro de 1930, com o objetivo de: "processo e julgamento de crimes políticos, funcionais e outros que serão discriminados na lei de sua organização".

Entretanto, como o próprio Getúlio confirma no Diário, no dia 4 de dezembro de 1932, nada foi encontrado de irregularidades e de corrupção naquele regime deposto em 1930, motivo pelo qual, mais tarde, surgiria a expressão: "os honrados políticos da República Velha". O Tribunal Especial foi dissolvido, em 1932, sem ter condenado ninguém.

Houve, no início do Governo Provisório, uma espécie de "comando revolucionário", denominado oficialmente de Conselho Nacional Consultivo, criado pelo decreto que regulamentou o Governo Provisório, e que recebeu o apelido de "Gabinete Negro", do qual faziam parte Getúlio Vargas, Pedro Ernesto, o general José Fernandes Leite de Castro, Ari Parreiras, Osvaldo Aranha, Góis Monteiro, José Américo de Almeida, Juarez Távora e o tenente João Alberto Lins de Barros, (quando este, que era interventor federal em São Paulo, ia ao Rio de Janeiro), entre outros. O "Gabinete Negro" se sobrepunha ao gabinete ministerial, tomava as decisões e definia os rumos da revolução.

Juarez Távora, além de ministro da Viação e depois da Agricultura, fora, através de decreto secreto, arquivado na secretaria do Ministério da Guerra, atual Comando do Exército, nomeado chefe de uma "Delegacia do Norte", o que lhe dava o controle de todos os interventores do nordeste brasileiro, e lhe valeu o apelido de "Vice-Rei do Norte".

A radicalização política dos tenentes representou o seu maior perigo para Getúlio em 25 de fevereiro de 1932, quando foi destruído, na cidade do Rio de Janeiro, (por empastelamento), um jornal da oposição ao Governo Provisório, o Diário Carioca. A recusa de Getúlio de punir os tenentes envolvidos no caso fez com que o ministro do trabalho Lindolfo Collor, o ministro da justiça Joaquim Maurício Cardoso e o chefe de polícia do Rio de Janeiro, João Batista Luzardo pedissem exoneração de seus cargos. João Neves da Fontoura também rompeu com Getúlio. Batista Luzardo denunciou, em carta, o envolvimento do Governo Provisório no atentado ao Diário Carioca. Os jornais do Rio de Janeiro ficaram 2 dias sem circular, em solidariedade ao Diário Carioca.

Sobre o atentado ao Diário Carioca, Getúlio anotou no Diário, na seção de 24 a 29 de fevereiro de 1932: "Tenho que me decidir entre as forças militares que apoiam o governo e um jornalismo dissolvente, apoiado por políticos e instigado mesmo por estes contra o governo. Estou numa encruzilhada em que urge uma decisão. Foi aberto um inquérito militar e outro civil".[8]

Os tenentes se encontravam e se organizavam nos Clubes "3 de Outubro", e só voltaram finalmente aos quartéis após promulgada a Constituição de 1934. Porém, em meados de 1932, Getúlio Vargas já havia conseguido se livrar da influência dos tenentes sobre o comando da Revolução e governar somente com o ministério, prescindindo do "Gabinete Negro", embora os governos estaduais, na grande maioria, continuassem ainda nas mãos dos tenentes.

Luiz Vergara, no livro Eu Fui Secretário de Getúlio, registra o que Getúlio pensava das reuniões, tarde da noite, no Palácio Guanabara, do "Gabinete Negro": "Eles me trazem sugestões, discutem medidas que lhes parecem úteis e oportunas. Eu escuto atentamente, demonstrando interessar-me, mas o que mais me interessa realmente é conhecê-los melhor para saber como tratá-los".[9]

O general Góes Monteiro, no livro "O General Góes Depõe", assim descreve as reuniões do "Gabinete Negro": "As discussões eram acesas, principalmente entre os srs. Oswaldo Aranha e Ari Parreiras. Todas elas estéreis e intermináveis, não raro entrando madrugada adentro, até depois das 2 horas".[10]

Getúlio Vargas como presidente, em pintura de 1930.

O gabinete ministerial do Governo Provisório, composto de apenas nove pessoas (7 civis e dois militares), foi cuidadosamente montado, para premiar e contentar todos os 3 estados, partidos políticos (Partido Libertador, PRR, PRM, Partido Republicano Paraibano e o Partido Democrático (1930)), tenentes e a Junta Militar Provisória, que, juntos, fizeram a Revolução de 1930.

A grande dificuldade que Getúlio tinha com os tenentes nos estados, além das rivalidades entre eles, era o despreparo deles para governar. Com poucas exceções como Juraci Magalhães, os tenentes fizeram administrações ruins, e o desempenho dos tenentes foi avaliado assim, em fevereiro de 1932, 4 meses antes da eclosão da Revolução de 1932, pelo tenente João Cabanas, um dos chefes da Revolução de 1924 e revolucionário de 1930, no seu livro "Fariseus da Revolução", que escreveu, em fevereiro de 1932, pouco antes da Revolução de 1932, sobre o tenente João Alberto Lins de Barros, que governou São Paulo, entre 1930 e 1931, e sobre os demais tenentes interventores federais nos estados:

O conflito com a esquerda revolucionária, da qual faziam parte muitos militares, e que se intensificaria posteriormente, começou logo no início do governo provisório: Em 22 de janeiro de 1931 foi descoberto um plano subversivo nos sindicatos em Santos e no Rio de Janeiro. Entre os presos estava o jovem Carlos Lacerda. Por causa desse caso, foi suspenso o desfile do dia do trabalhador de 1931.[11]

A Revolução de 1932 ou Revolução Constitucionalista

Paulistas contra Getúlio.

Em 9 de julho de 1932, eclodiu a Revolução Constitucionalista em São Paulo estendendo-se até o dia 2 de outubro de 1932. Desde 1997, pela lei estadual paulista nº 9.497, o dia 9 de julho é feriado estadual em São Paulo, relembrando a data.

A eleição de 1933

O término da revolução constitucionalista marcou o início de um período de democratização do Brasil. Em 3 de maio de 1933, foram realizadas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte, quando as mulheres votaram pela primeira vez no Brasil em eleições nacionais. O voto feminino já havia sido instituído no Rio Grande do Norte, em 1928. Nesta eleição, graças à criação da Justiça Eleitoral, as fraudes deixaram de ser rotina nas eleições brasileiras.

Também, nesta eleição de 3 de maio de 1933, houve pela primeira vez em eleições nacionais o voto secreto, que havia sido introduzido no Brasil pelo presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, em 1929, para uma eleição suplementar para vereador em Belo Horizonte.

Em 17 de março de 1937, Getúlio já reconciliado com os paulistas, anotou no "Diário", uma palestra sua com o deputado federal paulista Valdemar Ferreira a propósito dos motivos da Revolução de 1932:

[12]

A Assembleia Nacional Constituinte e a Constituição de 1934

Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1933.

Foi instalada em 15 de novembro de 1933 a Assembleia Nacional Constituinte, presidida por Antônio Carlos de Andrada, que promulgou uma nova Constituição em 16 de julho de 1934.[13] Nesta data, a reconciliação com os paulistas já se solidificara, anotando Getúlio no Diário: "Instalação da Constituinte... protestos, impugnações, atitude serena e firme da bancada paulista, afastando debates de natureza política das cogitações da constituinte."

Nesta constituinte participou pela primeira vez uma mulher deputada, Carlota Pereira de Queirós, que curiosamente representava o estado derrotado em 1930: São Paulo, e houve a presença de deputados eleitos pelos sindicatos: os deputados classistas.

Foram mantidos fora de apreciação judicial todos os atos do Governo Provisório e os dos interventores nos estados. Foram anistiados todos os civis e militares que praticaram crimes políticos até a data da promulgação da Constituição de 1934.

Constituição tida como progressista para uns e para Getúlio: "Impossível de se governar com ela!" A principal crítica feita por Getúlio à Constituição de 1934 referia-se ao seu caráter inflacionário, pois calculava-se que se todas as nacionalizações de bancos e de mina fossem feitas e se todos os direitos sociais nela previstos fossem implantados, os custos para as empresas privadas, as despesas do governo e o déficit público se elevariam muito.

Uma das grandes despesas que o governo teria, que era prevista na constituição de 1934, no seu artigo 138, era que o Estado deveria: "socorrer as famílias de prole numerosa", que constituíam a maioria das famílias brasileiras daquela época. A segunda crítica que o governo de Getúlio fazia à Constituição de 1934 era de que ela, sendo liberal demais, não permitia adequado combate à subversão.

Nas comemorações dos 10 anos da revolução de 1930, Getúlio, em discurso de 11 de novembro de 1940, assim se expressou sobre a Constituição de 1934:

[14]

O "Governo Provisório" havia criado, em 1933, uma comissão de juristas, a "Comissão do Itamaraty", para elaborar um anteprojeto de constituição, o qual previa um poder executivo federal forte e centralizador, ao gosto de Getúlio. Porém a Constituição de 1934, acabou sendo descentralizadora, dando certa autonomia aos estados federados. Foram extintos os senados estaduais que jamais voltaram a existir.

No dia seguinte à promulgação da nova constituição, 17 de julho de 1934, ocorreu uma eleição indireta para a presidência da república: o Congresso Nacional elegeu Getúlio Vargas como Presidente da República, derrotando Borges de Medeiros, que desde 1931 fazia oposição a Getúlio, e outros candidatos. Getúlio teve 173 votos, contra 59 votos dados a Borges de Medeiros. Os paulistas votaram em Borges de Medeiros, contrariando a orientação do interventor federal Armando de Sales Oliveira.

O Governo Constitucional (1934 - 1937)

Vargas e Franklin D. Roosevelt, presidente dos Estados Unidos.
Carteira de trabalho, obrigatória desde 1934.

O novo mandato presidencial de Getúlio iniciou no dia 20 de julho de 1934, quando tomou posse no Congresso Nacional, jurando a nova constituição. Getúlio deveria governar até 3 de maio de 1938. Não havia, na constituição de 1934[15], a figura do vice-presidente. Os estados fizeram, depois, suas constituições, e muitos interventores se tornaram governadores, eleitos pelas assembleias legislativas, o que significou uma ampla vitória, nos estados, dos partidários de Getúlio.

Foi sancionada, em 4 de abril de 1935, a lei nº 38[16], que definia os crimes contra a ordem política e social, que possibilitou maior rigor no combate à subversão da ordem pública. Ficou conhecida como Lei de Segurança Nacional.

Getúlio visitou a Argentina e o Uruguai, entre maio e junho de 1935, sendo que antes dele, só um presidente (Campos Sales) se ausentara do Brasil. Assumiu a presidência da República, nesta ausência de Getúlio, o presidente da Câmara dos Deputados, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

Em 22 de julho de 1935[17], foi criado um programa oficial de rádio com notícias do governo: a "Hora do Brasil" depois denominada "Voz do Brasil", existente ainda hoje.

Em 31 de agosto de 1935, Getúlio Vargas vai à cidade mineira de João Monlevade lançar a pedra fundamental da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, "filha" da primeira usina siderúrgica do Brasil, também em João Monlevade.

Neste período de governo de Getúlio, cresceu muito a radicalização político-ideológica no Brasil, especialmente entre a Ação Integralista Brasileira (AIB), de inspiração fascista, liderada por Plínio Salgado, e a Aliança Nacional Libertadora (ANL), movimento dominado pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), pró-soviético. O fechamento da ANL, através de decreto nº 229[18] de 11 de julho de 1935, determinado por Getúlio Vargas, bem como a prisão de alguns dos partidários, precipitaram as conspirações que levaram à Intentona Comunista em 24 de novembro de 1935 no nordeste do Brasil e a 27 de novembro de 1935 na capital federal Rio de Janeiro.

O movimento revolucionário ocorreu em várias cidades brasileiras. No Rio de Janeiro houve um levante militar no 3º Regimento de Infantaria, em que aconteceram várias mortes. Houve luta também em Recife. Em Natal, os comunistas chegaram a tomar o poder, sendo depois derrotados por tropas de sertanejos vindos do interior do Rio Grande do Norte, liderados por Dinarte de Medeiros Mariz.

Getúlio contou aos repórteres da Revista do Globo, em 1950, a sua versão sobre a Intentona Comunista. Disse que, em 22 de outubro de 1935, recebeu da polícia um documento apreendido dos comunistas, o qual previa um “Plano de Agitação”. Realizou, então, uma reunião, em Petrópolis, com líderes da indústria e do comércio, expondo o perigo iminente. Getúlio disse aos repórteres:

Faz um relato da Intentona Comunista, aos repórteres e conclui:

Quanto a um dos líderes da Intentona Comunista, o capitão Luís Carlos Prestes, Getúlio revelou aos repórteres da Revista do Globo que: "Vários membros do governo insistiram comigo para que ele fosse fuzilado sumariamente. O próprio ministro da Guerra, general João Gomes, foi um dos que mais insistiram. Não aceitei, porém, as razões que me apresentaram. Eu não podia, de maneira alguma, permitir um fuzilamento naquela época. Logo depois de capturado, Prestes foi, como seus companheiros, entregue à justiça".[21]

A partir da Intentona Comunista, foram decretados várias vezes o estado de sítio e o estado de guerra, no país, por Getúlio Vargas, assim como endurecidas as leis que visavam combater a subversão. A Lei de Segurança Nacional foi reforçada, em 14 de dezembro de 1935, pela lei nº 136[22], que definia novos crimes contra a ordem pública. Em 18 de dezembro de 1935, são promulgadas três emendas à Constituição de 1934, dando mais poderes ao Estado Brasileiro no combate à subversão.

Em 17 de janeiro de 1936, é sancionada a lei nº 192[23], visando limitar o poderio militar dos estados, subordinando as polícias militares ao Exército Brasileiro, limitando os efetivos e proibindo-as de possuírem artilharia, aviação e carro de combate. Este armamento pesado que as policias estaduais possuíam foi entregue ao Exército Brasileiro.

Em 23 de março de 1936, são presos o senador Abel de Abreu Chermont e 3 deputados federais por cumplicidade com a Intentona Comunista. Foi preso o prefeito carioca Pedro Ernesto, que era muito popular, em 3 de abril de 1936, suspeito de ter dado apoio à Intentona Comunista. Getúlio comentou assim a prisão de Pedro Ernesto, no Diário: "Embora as circunstâncias me forçassem a consentir nesta prisão, confesso que o fiz com pesar. Há uma crise na minha consciência. Tenho dúvida se esse homem é um extraviado ou um traído, um incompreendido um ludibriado. Talvez o futuro esclareça".

Foi criado, em 11 de setembro de 1936, pela lei nº 244[24], um tribunal especial para julgar os revolucionários da Intentona Comunista, chamado de "Tribunal de segurança nacional". Cresceu muito, neste período, a instabilidade política no Brasil. Tudo isto levou Getúlio, com amplo apoio do militares, a implantar o Estado Novo.

Em novembro de 1936, é criada a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil, a qual, pela lei nº 454, de 9 de julho de 1937[25], passou a captar recursos no mercado de capitais e nos fundos de pensões, para finaciamento da agricultura e da pecuária.[26]

Em 11 de junho de 1937 é estatizado o Lloyd Brasileiro, pelo decreto nº 1.708[27], que explorava a navegação de cabotagem de médio e longo curso, dando início a um período longo de estatizações que se prolongou, no Brasil, até à década de 1980. O Lloyd foi encampado com o objetivo de enfrentar o cartel dos fretes marítimos, tendo Getúlio dito, no discurso de lançamento de sua candidatura e da Plataforma da Aliança Liberal, em 2 de janeiro de 1930: "As vantagens da existência de várias empresas de cabotagem, entretanto são anuladas pelo truste oficial dos fretes que torna impossível a livre concorrência".[28]. A encampação do LLoys tinha sido autorizada pela lei nº 420[29] de 10 de abril de 1937.

A partir do final de 1936, o cenário político passa a ser dominando pela sucessão presidencial. Em maio de 1937, Getúlio registra várias vezes, no "Diário", que tentara a conciliação entre os dois candidatos a presidente da república (Armando Sales e José Américo de Almeida). Relata um encontro com Flores da Cunha, no qual, Getúlio e Flores: "Tratamos da sucessão presidencial, nem um nem outro tínhamos candidato. Desejo de conciliação em termos gerais. Palestra cordial". E no dia 21 de maio registra: "Falta saber se os adeptos da candidatura Armando Sales aceitarão outro candidato, havendo conciliação geral, ou se manterão essa candidatura, isto é, se haverá candidato único e conciliação geral, ou luta entre dois candidatos".[30]

Referências

  1. O último dia do último neto dos Andradas, Folha da Manhã, 7 de setembro de 1930, página 1.
  2. GAMA, Afonso Dionísio, Código Penal Brasileiro, segunda edição, Saraiva e C. Editores, São Paulo, 1929.
  3. Pernambuco falls to Brazilian Rebels; 150 die in battle, Wireless to The New York Times, October 9, 1930, Thursday, Page 1
  4. VAMPRÉ, Leven, São Paulo Terra Conquistada, Sociedade Impressora Paulista, São Paulo, 1ª Edição, 1932.
  5. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=37246&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB
  6. ihttp://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=42129&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB
  7. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=37500&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB
  8. VARGAS, Getúlio, Diário, Fundação Getúlio Vargas, 1997
  9. » VERGARA, Luiz, Fui Secretário de Getúlio Vargas , Editora Globo, Porto Alegre, 1960.
  10. » COUTINHO, Lourival, "O General Góes Depõe", página 163, Livraria Editora Coelho Branco, Rio de Janeiro, 1956.
  11. ___,Red Plot Foiled in Rio de Janeiro - 'Hunger' Parades Prevented by Action of Troops and Police Chief's Warning. Sons of Politician Seized, The New York Times, 25 de janeiro de 1931, Seção Education, página E8.
  12. VARGAS, Getúlio, Diário, volume II, página 27, Fundação Getúlio Vargas, 1997
  13. «Era Vargas - Constituição de 1934». Cpdoc.fgv. Consultado em 3 de junho de 2010 
  14. VARGAS, Getúlio, A nova política do Brasil, Volume 8, José Olympio Editora, 1940,
  15. http://www2.camara.gov.br/legin/fed/consti/1930-1939/constituicao-1934-16-julho-1934-365196-publicacaooriginal-1-pl.html
  16. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=47634&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB
  17. http://www.direito2.com.br/acam/2010/ago/20/programa-surgiu-em-1935-durante-o-governo-de-getulio-vargas
  18. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=25951&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB
  19. Revista do Globo, Suplemento Especial, agosto de 1950, página 48
  20. Revista do Globo, Suplemento Especial, agosto de 1950, pp. 48-49
  21. Revista do Globo, Suplemento Especial, agosto de 1950, p. 49
  22. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=48852&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB
  23. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=21261&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PU
  24. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/b2394d7e1ab9a970032569b9004e148d/2d34658cc4b7864e032569fa006f5383?OpenDocumen
  25. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=24209&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB
  26. http://www.bb.com.br/portalbb/page3,102,3527,0,0,1,8.bb?codigoNoticia=1092&codigoMenu=1193&codigoRet=11084&bread=3_3
  27. ttp://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=152227&tipoDocumento=DEC&tipoTexto=PUB
  28. VARGAS, Getúlio, A Nova Política do Brasil, Volume 1, página 45, Rio de Janeiro, 1938
  29. http://legis.senado.leg.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102806&tipoDocumento=LEI&tipoTexto=PUB
  30. VARGAS, Getúlio, Diário, Volume II, página 47, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 1937

Ver também

Precedido por
Primeira República Brasileira
Segunda República Brasileira
1930 - 1937
Sucedido por
Terceira República Brasileira