Brasil na Copa do Mundo FIFA de 2006

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Brasil
5º lugar
Associação CBF
Confederação CONMEBOL
Participação 18º (todas as copas)
Melhor resultado Campeão: 1958, 1962, 1970, 1994, 2002
Treinador Brasil Carlos Alberto Parreira

O Brasil na Copa do Mundo FIFA de 2006 manteve a situação de único país a participar de todas as edições do torneio da FIFA. A edição de 2006 do torneio marcou a décima-oitava vez que a Seleção Brasileira de Futebol participou da Copa do Mundo FIFA, e a quinta vez em que defendeu o título de campeã.

Foi a primeira vez em que o país campeão disputou as Eliminatórias do Mundial. A participação do Brasil na Copa do Mundo de 2006 foi encarada com muito otimismo pois o país era o atual campeão, conquistou a Copa América de 2004, a Copa das Confederações FIFA de 2005 e liderou as Eliminatórias.

Comandado pelo técnico Carlos Alberto Parreira, o capitão do time foi o experiente lateral-direito Cafu. O Brasil era a equipe favorita nas casas de apostas, e uma pesquisa do CNT/Sensus indicava que 79,8% dos brasileiros confiavam no hexacampeonato.[1] No entanto, a Seleção foi eliminada nas quartas de final e terminou na 5ª colocação. A campanha foi marcada por um criticado período de preparação e jogadores fora de forma física.

Ciclo da Copa do Mundo[editar | editar código-fonte]

O Brasil contava com a base da equipe pentacampeã, com Ronaldinho eleito duas vezes o Melhor Jogador do Mundo pela FIFA antes da copa. E a ascensão de jovens estrelas, como Kaká, escolhido o melhor do Campeonato Italiano, Adriano, eleito o melhor da Copa América e Robinho, adquirido em 2005 pelo Real Madrid na segunda transferência mais cara da história do futebol brasileiro até aquele momento. Além de jogadores consagrados como Ronaldo, Cafu e Roberto Carlos.

A CBF havia trazido de volta a dupla Carlos Alberto Parreira, treinador, e Zagallo como auxiliar técnico, da mesma forma que ocorreu em 1994.

O talento do ataque do Brasil rendeu o apelido de "quadrado mágico", devido à base formada por quatro jogadores: Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Adriano. Havia até pedidos para se transformar em quinteto. Parreira: "Nunca pensei no quinteto. Não haverá retrocesso na nossa Seleção. Todo mundo está jogando com 10 jogadores atrás. Nós vamos colocar cinco na frente para voltar mais cedo para casa? Comigo, não. Quero ficar lá até o final do torneio".[2] Pouco antes do embarque, Parreira lançou um livro: "Formando Equipes Vencedoras".

Eliminatórias[editar | editar código-fonte]

No ciclo da Copa de 2006, o Brasil foi a primeira seleção detentora do título mundial a ter de disputar vaga nas Eliminatórias, devido à FIFA ter abolido a qualificação automática para o campeão.

Classificação[editar | editar código-fonte]

Zona de qualificação para a Copa do Mundo FIFA de 2006
Zona de qualificação para a repescagem
Zona de eliminação
Pos. Equipe J V E D GP GC Pts
1 Brasil Brasil 18 9 7 2 35 17 34
2 Argentina Argentina 18 10 4 4 29 17 34
3 Equador Equador 18 8 4 6 23 19 28
4 Paraguai Paraguai 18 8 4 6 23 23 28
5 Uruguai Uruguai 18 6 7 5 23 28 25
6 Colômbia Colômbia 18 6 6 6 24 16 24
7 Chile Chile 18 5 7 6 18 22 22
8 Venezuela Venezuela 18 5 3 10 20 28 18
9 Peru Peru 18 4 6 8 20 28 18
10 Bolívia Bolívia 18 4 2 12 20 37 14

Primeiro turno[editar | editar código-fonte]

7 de setembro de 2003 Roberto Meléndez, Barranquilla Colombia Colômbia 1:2 Brasil Brasil
10 de setembro de 2003 Vivaldo Lima, Manaus Brasil Brasil 1:0 Equador Ecuador
16 de novembro de 2003 Nacional, Lima Perú Peru 1:1 Brasil Brasil
19 de Novembro de 2003 Pinheirão, Curitiba Brasil Brasil 3:3 Uruguai Uruguay
31 de Março de 2004 Defensores del Chaco, Assunção Paraguay Paraguai 0:0 Brasil Brasil
2 de junho de 2004 Mineirão, Belo Horizonte Brasil Brasil 3:1 Argentina Argentina
6 de junho de 2004 Nacional, Santiago Chile Chile 1:1 Brasil Brasil
5 de setembro de 2004 Morumbi, São Paulo Brasil Brasil 3:1 (1:0) Bolívia Bolivia
9 de outubro de 2004 Pachencho Romero, Maracaibo Venezuela Venezuela 2:5 Brasil Brasil

Segundo turno[editar | editar código-fonte]

13 de outubro de 2004 Estádio Rei Pelé, Maceió Brasil Brasil 0:0 Colômbia Colombia
17 de Novembro de 2004 Atahualpa, Quito Equador Equador 1:0 Brasil Brasil
27 de março de 2005 Serra Dourada, Goiânia Brasil Brasil 1:0 Peru Perú
30 de Março de 2005 Centenario, Montevideo Uruguay Uruguai 1:1 Brasil Brasil
5 de Junho de 2005 Estádio Beira Rio, Porto Alegre Brasil Brasil 4:1 Paraguai Paraguay
8 de Junho de 2005 Monumental, Buenos Aires Argentina Argentina 3:1 Brasil Brasil
3 de Setembro de 2005 Mané Garrincha, Brasília Brasil Brasil 5:0 Chile Chile
8 de Outubro de 2005 Hernando Siles, La Paz Bolivia Bolívia 1:1 Brasil Brasil
11 de Outubro de 2005 Mangueirão, Belém (Pará) Brasil Brasil 3:0 Venezuela Venezuela

Artilheiros[editar | editar código-fonte]

10 gols
6 gols
5 gols
4 gols
2 gols
1 gol

Assistências[editar | editar código-fonte]

6 assistências
5 assistências
4 assistências
2 assistências
1 assistência

Preparação para a Copa[editar | editar código-fonte]

Perspectiva de Weggis (SUI).

O Brasil possuía muitos bons jogadores pelo mundo e Parreira testou vários times durante seu ciclo. Desta forma, havia uma indefinição muito grande por parte da imprensa brasileira e da população sobre quem iria ser convocado para a Copa. O álbum da Panini chegou a incluir as figurinhas de Roque Júnior, Renato e de Júlio Baptista, que fizeram parte de algumas das várias escalações de Parreira. Entre os especulados que acabaram fora da convocação, além dos citados, estavam: Marcos, Felipe, Maicon, Edu, Ricardo Oliveira, Gomes e Leo. À exceção de Felipe, todos estes estavam no time que ganhou a Copa das Confederações de 2005, sendo que, na ocasião, Roque Júnior e Maicon eram titulares. A decisão de Parreira de não utilizar um time que já havia sido campeão foi extremamente criticada pela imprensa.

Páginas do Brasil no álbum da Copa da Panini. Roque Júnior, Júlio Baptista e Renato acabaram não sendo convocados, mas seus nomes eram especulados pela imprensa.

A imprensa logo deduziu que Marcos não fora convocado por ter voltado recentemente de lesão, estando, supostamente, sem ritmo de jogo. O próprio jogador acatou a tese e se mostrou compreensivo.[3] Mas não houve explicações ou hipóteses para os outros jogadores preteridos, levando ao bombardeio de críticas da mídia. Anos mais tarde, o pentacampeão Rivaldo mostrou-se chateado com Parreira por não ter sido convocado para a Copa.[4] O pernambucano, na época, jogava pelo Olympiacos, da Grécia. O futebol grego não possuía visibilidade internacional, e sua conturbada passagem pelo Cruzeiro em 2004 também o prejudicou. Seu último jogo pelo Brasil foi contra o Uruguai, já pelas eliminatórias da Copa, em 2003, quando atuava pelo Milan.

No mês anterior à competição, a Seleção Brasileira ficou hospedada na pequena cidade de Weggis, na Suíça, no luxuoso Weggis Park Hotel e treinando no Thermoplan Arena. A preparação, a qual começou em 22 de maio, foi até 4 de junho de 2006. Durante esse período, o Brasil fez duas partidas amistosas - uma contra o time Sub-20 do Fluminense, no dia 28 de maio, no qual ganhou de 13 a 1, e outra contra o Luzern, que acabara de vencer a segunda divisão do país, ganhando por 8 a 0.

Também durante a estadia em Weggis a Seleção acabou tendo um corte por lesão. O jogador Edmílson durante o amistoso contra Lucerna teve uma ruptura no menisco do joelho direito, e foi substituído por Mineiro, do São Paulo. A CBF vendeu a preparação por 2 milhões de dólares para uma empresa que explorou comercialmente a presença do Brasil. Entre os eventos, ocorreu um “carnaval” com a presença de Neguinho da Beija-Flor, acompanhado de 15 passistas.[5]

O preparador físico, Moraci Sant'Anna descreveu: "O meu trabalho era na sala de musculação. Uma sala até muito boa que eles montaram lá. Aí chega o Américo Faria [coordenar da delegação] e diz: "você tem que levar os jogadores para o campo, tem cinco mil pessoas que pagaram ingresso que estão lá" Então eu desci, e pus os caras para trotar.(..). Mas todo treinamento vai ser isso daí? Américo respondeu, tá no contrato, tem uma multa enorme. Tivemos que engolir aquilo. (...) Nós tínhamos pelo menos oito jogadores muito abaixo do nível [físico], alguns bem acima do peso, e que se não tivessem inscritos, era coisa para se cortar." [6]

Ronaldo tinha o maior índice de massa corporal entre os 736 jogadores do mundial.[7]

Segundo Parreira: "Eles (jogadores) chegaram de um jeito que não deveriam ter chegado. Só que não havia como fazer qualquer modificação na lista de convocados, a não ser por lesão. A convocação era imutável. Nós até conversamos com a Fifa sobre isso, mas era uma determinação clara. Se o cara chegou gordo ou chegou magro, não tinha como mudar".[8]

A jornalista da Band, Mariana Ferrão, cobriu a competição: "Eu ficava lá vendo o treino da seleção o dia inteiro. O Ronaldinho Gaúcho só treinava quando a imprensa espanhola chegava, fazia três ou quatro embaixadinhas, colocava a bola no pescoço. Era um negócio... Você ia ver o treino de Portugal, os caras pra lá, pra cá, animal, e você olhava, meu Deus, o que estamos fazendo? Aí eu falava, ninguém vai mostrar que os caras não estão fazendo nada? Você assistia todas as reportagens e todo mundo falando super bem." [9]

Ao sair de Weggis em 4 de junho o Brasil se dirigiu para Königstein, onde participou de um amistoso com a Nova Zelândia, que venceu de 4 a 0. A Seleção ficou em Königstein até o início do torneio.

Campanha[editar | editar código-fonte]

Fachada enfeitada para a Copa em Salvador
Elenco da Seleção Brasileira
Torcedores brasileiros na Alemanha

Na estreia na Copa do Mundo FIFA de 2006, o Brasil enfrentou a Croácia e sofreu para vencer por 1 a 0. A falta de mobilidade da dupla de ataque foi muito criticada. Kaká, autor do gol que garantiu a vitória, declarou após a partida: "O Ronaldo ainda não está 100%. Um pouco mais de movimentação da parte dele seria o ideal". Adriano recebeu 29 bolas, mas perdeu 13 delas.[10]

No segundo jogo, contra a Austrália, o Brasil ganhou de 2 a 0. O portal UOL descreveu: "O segundo jogo brasileiro na Copa foi parecido com o primeiro: time jogando mal, pouca criatividade, sustos e sofrimento para vencer."[11] O técnico australiano, Guus Hiddink, ironizou: "No 2º tempo, vimos a Austrália dominando o campeão do mundo e o Brasil recorrendo ao contra-ataque. Deveria ser o contrário".[12]

No jogo contra o Japão, o Brasil, já classificado, atuou com uma equipe mista e venceu por 4 a 1. Parreira escalou uma equipe mais leve, com Cicinho, Gilberto e Robinho. Cicinho e Robinho foram os líderes de assistências do Brasil na Copa das Confederações FIFA de 2005. A seleção fez o melhor jogo na Copa (apesar do susto de terminar o primeiro tempo perdendo por 1 a 0) e Ronaldinho cresceu de rendimento; com mais opções de velocidade, fez o seu jogo com mais assistências para finalização, 8. O técnico do Japão era Zico: "eu falei para o Parreira, tu me derrubou, o time do Brasil estava muito lento, quando eu chego lá, mudou tudo".[6]

Já na segunda fase, nas oitavas-de-final o Brasil ganhou de Gana por 3 a 0. Parreira trouxe de volta a equipe das duas primeiras partidas. Foi o jogo de recordes pessoais. Ronaldo fez o primeiro gol e se isolou, com 15 gols, como maior artilheiro de todas as Copas, até aquele momento. Cafu atingiu 19 partidas e isolou-se como o brasileiro com mais atuações em Mundiais. O UOL considerou o futebol pragmático e concluiu que a "vitória veio graças à objetividade nos contra-ataques".[13]

Nas quartas-de-final, Parreira promoveu a entrada de Juninho Pernambucano no lugar de Adriano. O técnico da seleção francesa, Raymond Domenech recordou: "E eu fiquei mais confiante ainda vendo a escalação. Eles tiraram o Adriano e colocaram o Juninho. Ficamos felizes, não? Não que o Juninho não seja um grande jogador. Mas o Adriano, ele pesa numa defesa, ainda mais se é preciso ficar de olho no Ronaldo. Como resultado, pude dizer aos meus jogadores: 'Os brasileiros estão com medo. Eles sacaram um atacante, porque estão com medo do que vamos fazer com eles'."[14]

Mas o Brasil foi derrotado por 1 a 0. Boatos de que Robinho ou Kaká estariam lesionados foram negados pela comissão médica. O médico da seleção, José Luiz Runco, descartou problemas médicos no jogo contra a França: "Todos tinham totais condições de jogo". [15]

Gérson criticou: "A Seleção parecia um circo. Era uma máscara só! Um buscava um recorde, o outro queria levantar a taça mais vezes. Na realidade o Brasil não jogou nada.". Jairzinho: "Perder é natural, agora, do jeito que perdeu não é natural. Foi um time apático e desinteressado.".[16] O Diário Olé da Argentina classificou a seleção brasileira como "esfarrapada e aborrecida", comandada por um assistente técnico que é "um bisavô".[17]

A atuação de Zinédine Zidane foi bastante elogiada. O UOL escreveu: "Zidane estava inspirado, organizando o meio-campo, abrindo espaço com dribles curtos e fazendo lançamentos venenosos que encontravam brechas na retaguarda brasileira.".[18] O The Guardian considerou a performance de Zidane como "majestosa".[19] Após a eliminação, vândalos atearam fogo a um estátua de Ronaldinho em Chapecó.[20]

Artilharia[21][editar | editar código-fonte]