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Guaianás: diferenças entre revisões

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{{distinguir|Goianá|nota=município em Minas Gerais|Goiana|nota2=município em Pernambuco}}
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Os índios '''guaianás,''' também conhecidos como '''guaianases''' (do [[Língua tupi|tupi antigo]] ''gûaîanã''),<ref>NAVARRO, E. A. ''Dicionário de Tupi Antigo: a Língua Indígena Clássica do Brasil''. São Paulo. Global. 2013. p. 130.</ref> foram um agrupamento [[Povos ameríndios|indígena sul-americano]] que povoou regiões entre [[São Paulo de Piratininga]] e o [[Uruguai]]<ref name="FERREIRA, A. B. H. 1986. p. 871">FERREIRA, A. B. H. ''Novo Dicionário da Língua Portuguesa''. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 871.</ref> até o final do [[século XVI]].


== Etimologia ==
= Dofurêm Guaianá =
Durante o [[Brasil Colônia|período colonial]], esta comunidade recebeu vários nomes, como ''guaianases'' e ''guaianã,'' relativos ao povo originário ''guayaná, goyaná, goyanã, goainaze, wayanaze.'' O nome ''guayaná'' continuou sendo utilizado até 1843. A denominação Kaingang só foi introduzida no final do século XIX por [[Telêmaco Augusto Enéas Morosini Borba|Telêmaco Borba]].
{{distinguir|Goianá|nota1=Município de Minas Gerais}}


A utilização do nome como povo/nação ou como designação de grupos/indivíduos, tem sido um debate reatualizado. Embora o Estado indique, no manual de estilo de comunicação, sua utilização como adjetivada em minúsculas e plural, as nações indígenas vem reivindicando sua referência substantiva, como nome próprio, no singular, pois a noção de coletivo diferencia-se na sua cultura.<ref>{{Citar web|url=https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/estilos/indio|titulo=Indígena/etnia — Manual de Comunicação|acessodata=2022-08-14|website=www12.senado.leg.br}}</ref><ref name=":1">{{Citar web|url=https://pib.socioambiental.org/pt/L%C3%ADnguas|titulo=Línguas - Povos Indígenas no Brasil|acessodata=2022-08-14|website=pib.socioambiental.org}}</ref><ref name=":2" />
== Divisão do povo ==
Somos o povo Dofurêm Guaianá, do troco linguístico [[Macro-jê|Jê]], nossa sociedade é dividida em duas metades exogâmicas que se relacionam entre si, cada qual com dois clãs, a metade Opê Chaig (Pés Pretos) e Opê Cuxán ( Pés vermelhos).


As discussões da etimologia linguística tornam-se importantes, pois delineiam a noção de pertencimento para os povos originários do Brasil, mais do que os limites geográficos e de registro cartorial escrito da cultura do colonizador europeu.<ref name=":1" /><ref>{{Citar periódico |url=https://repositorio.usp.br/item/000929289 |titulo=Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII |data=1997 |acessodata=2022-08-14 |ultimo=Prezia |primeiro=Benedito Antônio Genofre |ultimo2=Dick |primeiro2=Maria Vicentina de Paula do Amaral |lingua=pt-br}}</ref><ref name=":2">{{Citar web|url=https://pib.socioambiental.org/pt/Quem_s%C3%A3o|titulo=Quem são? - Povos Indígenas no Brasil|acessodata=2022-08-14|website=pib.socioambiental.org}}</ref>
== Contato com os colonizadores ==
Somos o povo encontrado pelos europeus quando subiram ao planalto no século XVI, onde oferecemos uma ferrenha resistência a sua presença, principalmente durante o chamado "[[Cerco de Piratininga]]<ref>{{Citar periódico |url=https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cerco_de_Piratininga&oldid=62959231 |titulo=Cerco de Piratininga |data=2022-02-04 |acessodata=2022-10-11 |jornal=Wikipédia, a enciclopédia livre |lingua=pt}}</ref>" de 1562, em nossa participação na [[Confederação dos Tamoios|Revolta dos Tamoios]]<ref>{{Citar periódico |url=https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Confedera%C3%A7%C3%A3o_dos_Tamoios&oldid=64543984 |titulo=Confederação dos Tamoios |data=2022-10-10 |acessodata=2022-10-11 |jornal=Wikipédia, a enciclopédia livre |lingua=pt}}</ref>. Foram várias tentativas para nos pacificar, sendo a mais importante com a construção da [[Igreja de São Miguel Paulista|Capela de São Miguel Arcanjo]], que se tornou a sede do aldeamento jesuítico de [https://veja.abril.com.br/brasil/capela-de-sao-miguel-arcanjo-completa-390-anos/ Ururaí]<ref>{{Citar web|url=https://veja.abril.com.br/brasil/capela-de-sao-miguel-arcanjo-completa-390-anos/|titulo=Capela de São Miguel Arcanjo completa 390 anos|acessodata=2022-10-11|website=VEJA|lingua=pt-BR}}</ref>, hoje o bairro de São Miguel Paulista, Zona leste de São Paulo.


== Histórias ==
== A luta nos tempos atuais e a perda do território tradicional ==
Nosso povo manteve quatro grandes assentamentos dentro dos limites do aldeamento, o [http://www.ipatrimonio.org/sitio-piraquara-mobiliario-e-pertences/ Sítio Piraquara], ou "aldeia de cima", o [https://saopauloantiga.com.br/sitio-mirim/ Sítio Mirim]<ref>{{Citar web|ultimo=Nascimento|primeiro=Douglas|url=https://saopauloantiga.com.br/sitio-mirim/|titulo=Sítio Mirim » São Paulo Antiga|data=2010-07-31|acessodata=2022-10-11|website=São Paulo Antiga|lingua=pt-BR}}</ref>, ou "aldeia de baixo", o [[Parque Boturussu|Sítio Botorussú]] e o Sítio da Casa Velha, sendo os dois primeiros os mais importantes e populosos. Em 1927, com a morte de nossa matriarca e hekakê (chefe tradicional) Benedicta da Conceição Bueno inicia-se um processo gradativo da perda desses últimos grandes assentamentos Dofurêm Guaianá, processo que fatalmente provocou a perda total do nosso território tradicional no final dos anos 50.


===== Costumes =====
== Lugar de ocupação atual (Século 21) ==
Os antigos guaianás são descritos como agricultores [[Sedentarização|sedentários]], embora a [[Caçador-coletor|caça e a coleta]] também fosse parte de seus hábitos. As constantes modificações advindas dos contatos com os brancos e com outros grupos, por [[Migração forçada|deslocamentos forçados]], tornaram os dois últimos mais importantes para a sobrevivência, aparecendo também a pesca como atividade de [[subsistência]].<ref>{{Citar web|url=http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/portal/estaticas/alunos/indios_habitos.php|titulo=Portal Educacional Dia-a-Dia Educação - Educação Especial|acessodata=2022-08-14|website=www.diaadiaeducacao.pr.gov.br}}</ref>
Apesar de todas as dificuldades, massacres e perseguições sobrevivemos ocupando bairros da zona leste de São Paulo, dentro do que foi outrora nosso território ancestral, possuímos uma população estimada em mais ou menos 500 pessoas, mantemos um processo de retomada e resgate cultural iniciado pelos antigos, mas que está nas mãos dos jovens desde 2001, mantendo a existência dos clãs, rituais, objetos tradicionais e retomando o nosso idioma, que se chama Digrê.


==== Territorialização ====
== A cultura material do povo dofurêm guaianá ==
Era um grupo considerado [[Caçador-coletor|coletor]], ocupando a região da [[Serra do Mar]], em um território que ia desde a Serra de [[Paranapiacaba]] até a [[foz]] do [[Rio Paraíba do Sul]], no atual estado do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]].<ref name=":0">PREZIA, Benedito A. Genofre, “Os indígenas do planalto paulista”. In: BUENO, Eduardo (org.) ''Os nascimentos de São Paulo,'' Rio de Janeiro, Ediouro, 2004.</ref>
Nossas apresentações culturais envolvem cantos em nosso idioma, danças tradicionais e utilização de objetos ritualísticos e instrumentos musicais típicos de nosso povo como o [http://plone.ufpb.br/labeet/contents/paginas/acervo-brazinst/copy_of_cordofones/Berimbau-de-boca uãixim]<ref>{{Citar web|url=http://plone.ufpb.br/labeet/contents/paginas/acervo-brazinst/copy_of_cordofones/Berimbau-de-boca|titulo=Arco de boca|acessodata=2022-10-11|website=Universidade Federal da Paraíba - UFPB Laboratório de Estudos Etnomusicológicos - LABEET|lingua=pt-br}}</ref>, uma espécie de instrumento de corda pertencente à família dos berimbaus, xig-xí (chocalho) e tororõm (tambor).


[[Gabriel Soares de Sousa]] descreveu toda a [[Litoral do Brasil|costa brasileira]] em seu [[Notícia do Brasil]], publicado em 1587. Na obra, o cronista luso afirma que os guaianás eram vizinhos dos [[tamoios]] na região onde seria [[São Paulo]], sendo que a tribo que habitou os [[Planalto paulista|planaltos paulistas]] foi o povo que se autodenominava ''[[Tupis|tupi]]'', conhecidos por seus vizinhos como ''[[Tupiniquins|Tupiniquim]]''. Grandes chefes indígenas como [[Tibiriçá]], [[Piquerobi (cacique)|Piquerobi]] e [[Kaiobi]] são confundidos com os guaianás, porém são de origem Tupi.
== Reconhecimento oficial ==

Atualmente lutamos pelos nossos direitos como povo originário de São Paulo, pelo nosso reconhecimento oficial pelas autoridades Estaduais e Federais, que por anos vêm escondendo o fato de ainda estarmos aqui vivos. Apesar dessas dificuldades, obtivemos em novembro de 2011 a honra de sermos reconhecidos pela subprefeitura de [[Itaquera]] (inclusive território ancestral dofurêm guaianá), onde fizeram uma homenagem a nossa Ningrê Isabel Opê Longiô (https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/itaquera/noticias/?p=28275<ref>{{Citar web|url=https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/itaquera/noticias/?p=28275|titulo=Comemorações dos 325 anos de Itaquera seguem neste fim de semana com vários eventos {{!}} Subprefeitura Itaquera {{!}} Prefeitura da Cidade de São Paulo|acessodata=2022-10-11|website=www.prefeitura.sp.gov.br|lingua=pt-br}}</ref> ).{{Portal3|Povos indígenas do Brasil}}
==== Pesquisas das origens, polêmicas, controvérsias e avanços ====
O antropólogo [[Benedito Antonio Genofre Prezia]], em seu artigo ''Os indígenas do planalto paulista'', afirma que "...identificamos dois grupos guaianás que viveram em São Paulo: um no [[século XVI]], próximo culturalmente aos [[Puris|Puri]], e um outro, no [[século XVII]], vindo do [[Paraná]], e que era, seguramente, ancestral dos [[caingangue]]..."<ref name=":0" /> O relevo da obra de Benedito reside, além da extensa pesquisa bibliográfica, especialmente no seu trabalho direto com a população e o convívio com seus descendentes.<ref>PREZIA, B. A. G. (Org.) . Caminhando na Luta e na Esperança. 1. Ed. São Paulo: Loyola, 2003. V. 1500. 364p .</ref>

A autor apresenta ainda, em ''Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate,'' a "... hipótese de que em São Paulo, o [[etnônimo]] guaianá designou dois grupos distintos, ambos do tronco lingüístico macro-jê: um, ligado a um grupo coletor, vivendo na serra do Mar e que faria parte de um complexo cultural, cujos remanescentes seriam os Puri e Coroado do vale do Paraíba e sudeste de Minas; um outro ligado a um grupo horticultor do Sul, ancestral dos atuais Kaingang".<ref>{{Citar periódico |url=https://www.revistas.usp.br/revmae/article/view/109537 |titulo=The Guaianá of São Paulo: a contribution to the debate |data=1998-12-02 |acessodata=2022-08-14 |jornal=Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia |número=8 |ultimo=Prezia |primeiro=Benedito Antonio Genofre |paginas=155–177 |lingua=en |doi=10.11606/issn.2448-1750.revmae.1998.109537 |issn=2448-1750}}</ref><ref>{{Citar web|url=http://www.etnolinguistica.org/biblio:prezia-1998-guaiana|titulo=Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate (Prezia 1998) - Biblioteca Digital Curt Nimuendajú|acessodata=2022-08-14|website=www.etnolinguistica.org}}</ref>

Benedito, ao longo de sua a dissertação de mestrado ''Os indígenas do planalto paulista - Etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII'', nos apresenta vários trabalhos de pesquisa, de diferentes autores, com diferentes pontos de vista, incluindo a discussão de [[Capistrano de Abreu]] em ''Os guaianases de Piratininga'' e de outros que citam três grupos originários: “os Guaianá propriamente dito, vivendo no planalto; os Guaianá-Tupiniquim, vivendo no litoral sul, até Cananéia e os Guaianá-Muiramomi, que ocupariam o vale do Paraíba até o litoral de Ubatuba".<ref>Prezia, Benedito Antônio Genofre, ''Os Tupi de Piratininga: acolhida, resistência e colaboração.'' Tese de Doutorado. Pontifício Universidade Católica, São Paulo, 2008.</ref><ref>PREZIA, Benedito Antônio Genofre. Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII. 1997. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. Acesso em: 14 ago. 2022.</ref>

[[Alfred Métraux]] afirma que, possivelmente, os guaianás que habitavam a região da cidade de São Paulo sabiam falar também a [[língua tupi|língua tupi antiga]], porém que a maioria dos guaianás pertencia a outro [[tronco linguístico]]: o [[macro-jê]],<ref name="FERREIRA, A. B. H. 1986. p. 871" /> com o quê concorda o linguista [[Aryon Rodrigues|Aryon Dall’Igna Rodrigues]].<ref>{{Citar web|url=https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kaingang|titulo=Kaingang - Povos Indígenas no Brasil|acessodata=2022-08-14|website=pib.socioambiental.org}}</ref>
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Revisão das 16h34min de 11 de outubro de 2022

 Nota: Não confundir com Goianá (município em Minas Gerais), nem com Goiana (município em Pernambuco).
Guaianás
População total

extinto

Regiões com população significativa
Do  Rio de Janeiro ao Uruguai
Línguas
Religiões
Animismo

Os índios guaianás, também conhecidos como guaianases (do tupi antigo gûaîanã),[1] foram um agrupamento indígena sul-americano que povoou regiões entre São Paulo de Piratininga e o Uruguai[2] até o final do século XVI.

Etimologia

Durante o período colonial, esta comunidade recebeu vários nomes, como guaianases e guaianã, relativos ao povo originário guayaná, goyaná, goyanã, goainaze, wayanaze. O nome guayaná continuou sendo utilizado até 1843. A denominação Kaingang só foi introduzida no final do século XIX por Telêmaco Borba.

A utilização do nome como povo/nação ou como designação de grupos/indivíduos, tem sido um debate reatualizado. Embora o Estado indique, no manual de estilo de comunicação, sua utilização como adjetivada em minúsculas e plural, as nações indígenas vem reivindicando sua referência substantiva, como nome próprio, no singular, pois a noção de coletivo diferencia-se na sua cultura.[3][4][5]

As discussões da etimologia linguística tornam-se importantes, pois delineiam a noção de pertencimento para os povos originários do Brasil, mais do que os limites geográficos e de registro cartorial escrito da cultura do colonizador europeu.[4][6][5]

Histórias

Costumes

Os antigos guaianás são descritos como agricultores sedentários, embora a caça e a coleta também fosse parte de seus hábitos. As constantes modificações advindas dos contatos com os brancos e com outros grupos, por deslocamentos forçados, tornaram os dois últimos mais importantes para a sobrevivência, aparecendo também a pesca como atividade de subsistência.[7]

Territorialização

Era um grupo considerado coletor, ocupando a região da Serra do Mar, em um território que ia desde a Serra de Paranapiacaba até a foz do Rio Paraíba do Sul, no atual estado do Rio de Janeiro.[8]

Gabriel Soares de Sousa descreveu toda a costa brasileira em seu Notícia do Brasil, publicado em 1587. Na obra, o cronista luso afirma que os guaianás eram vizinhos dos tamoios na região onde seria São Paulo, sendo que a tribo que habitou os planaltos paulistas foi o povo que se autodenominava tupi, conhecidos por seus vizinhos como Tupiniquim. Grandes chefes indígenas como Tibiriçá, Piquerobi e Kaiobi são confundidos com os guaianás, porém são de origem Tupi.

Pesquisas das origens, polêmicas, controvérsias e avanços

O antropólogo Benedito Antonio Genofre Prezia, em seu artigo Os indígenas do planalto paulista, afirma que "...identificamos dois grupos guaianás que viveram em São Paulo: um no século XVI, próximo culturalmente aos Puri, e um outro, no século XVII, vindo do Paraná, e que era, seguramente, ancestral dos caingangue..."[8] O relevo da obra de Benedito reside, além da extensa pesquisa bibliográfica, especialmente no seu trabalho direto com a população e o convívio com seus descendentes.[9]

A autor apresenta ainda, em Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate, a "... hipótese de que em São Paulo, o etnônimo guaianá designou dois grupos distintos, ambos do tronco lingüístico macro-jê: um, ligado a um grupo coletor, vivendo na serra do Mar e que faria parte de um complexo cultural, cujos remanescentes seriam os Puri e Coroado do vale do Paraíba e sudeste de Minas; um outro ligado a um grupo horticultor do Sul, ancestral dos atuais Kaingang".[10][11]

Benedito, ao longo de sua a dissertação de mestrado Os indígenas do planalto paulista - Etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII, nos apresenta vários trabalhos de pesquisa, de diferentes autores, com diferentes pontos de vista, incluindo a discussão de Capistrano de Abreu em Os guaianases de Piratininga e de outros que citam três grupos originários: “os Guaianá propriamente dito, vivendo no planalto; os Guaianá-Tupiniquim, vivendo no litoral sul, até Cananéia e os Guaianá-Muiramomi, que ocupariam o vale do Paraíba até o litoral de Ubatuba".[12][13]

Alfred Métraux afirma que, possivelmente, os guaianás que habitavam a região da cidade de São Paulo sabiam falar também a língua tupi antiga, porém que a maioria dos guaianás pertencia a outro tronco linguístico: o macro-jê,[2] com o quê concorda o linguista Aryon Dall’Igna Rodrigues.[14]

Referências

  1. NAVARRO, E. A. Dicionário de Tupi Antigo: a Língua Indígena Clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 130.
  2. a b FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 871.
  3. «Indígena/etnia — Manual de Comunicação». www12.senado.leg.br. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  4. a b «Línguas - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  5. a b «Quem são? - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  6. Prezia, Benedito Antônio Genofre; Dick, Maria Vicentina de Paula do Amaral (1997). «Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII». Consultado em 14 de agosto de 2022 
  7. «Portal Educacional Dia-a-Dia Educação - Educação Especial». www.diaadiaeducacao.pr.gov.br. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  8. a b PREZIA, Benedito A. Genofre, “Os indígenas do planalto paulista”. In: BUENO, Eduardo (org.) Os nascimentos de São Paulo, Rio de Janeiro, Ediouro, 2004.
  9. PREZIA, B. A. G. (Org.) . Caminhando na Luta e na Esperança. 1. Ed. São Paulo: Loyola, 2003. V. 1500. 364p .
  10. Prezia, Benedito Antonio Genofre (2 de dezembro de 1998). «The Guaianá of São Paulo: a contribution to the debate». Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia (em inglês) (8): 155–177. ISSN 2448-1750. doi:10.11606/issn.2448-1750.revmae.1998.109537. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  11. «Os Guaianá de São Paulo: uma contribuição ao debate (Prezia 1998) - Biblioteca Digital Curt Nimuendajú». www.etnolinguistica.org. Consultado em 14 de agosto de 2022 
  12. Prezia, Benedito Antônio Genofre, Os Tupi de Piratininga: acolhida, resistência e colaboração. Tese de Doutorado. Pontifício Universidade Católica, São Paulo, 2008.
  13. PREZIA, Benedito Antônio Genofre. Os indígenas do Planalto Paulista: etnônimos e grupos indígenas nos relatos dos viajantes, cronistas e missionários dos séculos XVI e XVII. 1997. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. Acesso em: 14 ago. 2022.
  14. «Kaingang - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 14 de agosto de 2022