Imigração boliviana no Brasil

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Bolívia Boliviano-brasileiros Brasil
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Bolivianos e Boliviano-brasileiros no Brasil::
Marcelo Moreno · Silval Barbosa
População total

200.000

Regiões com população significativa
São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. Migrações internas por todo o território nacional.
Línguas
Predominantemente o português. Minorias falam o espanhol e idiomas indígenas, como o quíchua e o aymara.
Religiões
Principalmente o catolicismo. Minorias seguem cultos indígenas.

A imigração boliviana no Brasil é um movimento migratório ocorrido a partir do último quarto do século XX. É uma das maiores populações do Brasil .Cerca de 0,5% da população brasileira é proveniente dos países da América do Sul,[1] estando sua maioria localizada nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia e São Paulo.

É o quinto maior grupo de imigrantes que vivem no Brasil, superados apenas por estadunidenses, japoneses, paraguaios e portugueses.[2][3]

História[editar | editar código-fonte]

A Bolívia foi durante muito tempo, e ainda é, um país de imigração. Tanto a política quanto o projeto econômico boliviano, ao longo do Século XIX e por boa parte do Século XX, foi muito voltado a apenas uma pequena parcela da população - normalmente de origem branca. Era comum um certo distanciamento entre as camadas mais abastadas, de origem caucasiana, e a grande maioria da população, indígenas ou mestiços. Além disso, a Bolívia também foi um país assolado por uma instabilidade política muito grande, já que houve mais de cem golpes de Estado em sua história.[4] Todos esses fatores favoreceram a emigração boliviana, que se concentra mais fortemente nas cidades de Nova Iorque, Madrid, Buenos Aires, São Paulo e Rio de Janeiro.

Números[editar | editar código-fonte]

Os bolivianos começam a vir ao Brasil durante a década de 1950, mas a imigração atual data da década de 1980. Pouco a pouco, entram cada vez mais bolivianos. Os números variam conforme a fonte, mas é fato que as informações dadas pela mídia destoam enormemente das estimativas acadêmicas e oficiais. A Polícia Federal estima cerca de 32 mil bolivianos em todo o território brasileiro, a Pastoral do Imigrante acredita que os números estejam por volta dos 60 mil[5] e o Ministério do Trabalho acredita que existam 10 mil a 30 mil bolivianos no Brasil.[6]

Perfil do imigrante[editar | editar código-fonte]

A maior parte dos bolivianos que vem ao Brasil provêm de grandes cidades bolivianas, como Potosí, La Paz, El Alto e Cochabamba, embora também existam alguns que venham de Oruro e Santa Cruz de La Sierra. A maioria dos bolivianos que vivem nas grandes cidades trabalha na indústria de transformação, termo que engloba a Indústria têxtil,[7] embora também exista uma menor porcentagem no comércio. Segundo alguns pesquisadores, como Iara Rolnik Xavier, uma parte grande dos bolivianos que trabalham na indústria têxtil brasileira é proveniente da cidade de El Alto, dada a especialização local nesse tipo de indústria. O perfil do imigrante também tem se tornado cada vez mais familiar e há também uma tendência a igualdade entre sexos - em comparação com o antigo perfil migratório masculino e individual da década de 80.

Destinos[editar | editar código-fonte]

Cerca de 40% dos bolivianos vão para cidade de São Paulo sendo assim o principal destino dos imigrantes, por volta de 10% dos bolivianos vão para a cidade do Rio de Janeiro e as cidades fronteiriças de Corumbá (MS) e Guajará-Mirim (RO) recebem cerca de 5% do total cada uma.[7]

Mato Grosso do Sul[editar | editar código-fonte]

Alguns bolivianos são um dos maiores grupo étnico estrangeiro em Mato Grosso do Sul, tendo se estabelecido na região desde a demarcação da fronteira entre o estado e aquele país. Eles introduziram o hábito da salteña (tipo de pastel assado recheado com frango e batata). A cidade de Corumbá é a que mais possui proporcionalmente bolivianos no Brasil, chegando a 40% da população, incluindo os descendentes. É muito comum ver bolivianos na cidade usufruindo serviços básicos e consumindo produtos locais. A maior parte dos bolivianos no Mato Grosso do Sul dedicam-se a atividades comerciais, diferentemente dos que optam pela cidade de São Paulo, aonde trabalham majoritariamente na indústria têxtil.

São Paulo[editar | editar código-fonte]

São Paulo é o maior destino da imigração boliviana atual. A comunidade boliviana na cidade se torna visível em dia de grandes festas, como a de Nossa Senhora de Copacabana, patrona da Bolívia e nas feiras realizadas, como a Feira da Kantuta que ocorre na Praça Kantuta todo domingo. Mas a integração ainda está longe. Os traços indígenas, a barreira do idioma e a retração cultural ajudam a propagar a discriminação. Na cidade de São Paulo, embora haja uma ideia clara que a maior parte dos imigrantes se concentra nas regiões centrais como nos bairros do Brás, Pari e Bom Retiro, estudos[1] indicam que a maior parte dos imigrantes recém-chegados vão residir na Zona Norte e na Zona Leste, enquanto há uma diversificação maior na região de moradia dos imigrantes que já estão no Brasil há mais tempo. Há também instituições voltadas aos direitos do imigrante que trabalham bastante com os imigrantes bolivianos, como a Pastoral do Imigrante e o CAMI. Além disso, bolivianos têm uma unidade do Consulado no Brás.[8]

Questões e crimes[editar | editar código-fonte]

O crescimento principalmente econômico do Brasil, com taxas de desemprego baixas e melhores oportunidades de vida atrai cada vez mais imigrantes bolivianos e consequentemente o choque de culturas e costumes pode começar a aumentar.[9] A lei brasileira considera crime punível quaisquer preconceitos referentes a racismo, xenofobia, entre outros.[10]

Situação legislativa[editar | editar código-fonte]

Os imigrantes bolivianos são regidos pelo Estatuto do Imigrante feito em 1980, durante o Regime Militar Brasileiro. As leis brasileiras de imigrantes são consideradas as mais atrasadas da América do Sul nesse aspecto, sendo o único país do continente em que imigrantes não podem voltar, dificultando a vida em geral dos imigrantes no Brasil. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou em 2009 uma anistia geral aos imigrantes, esperando regularizar em torno de 200 mil estrangeiros ilegais no Brasil. No entanto, o caráter da anistia não privilegiou os imigrantes das nações vizinhas - normalmente mais pobres do que os europeus -, devido ao pagamento de uma taxa, da regularização precisar ser feita na Polícia Federal - instituição que tem uma visão negativa por parte dos imigrantes ilegais em geral, já que são responsáveis também pelo deportação - e pelo alto nível de burocratização dentro da instituição. Ao todo, somente 41 mil imigrantes foram legalizados, número aquém das expectativas do governo federal e menos do que o número de 150 mil imigrantes ilegais[11] feitos pela CNBB.

Setor têxtil[editar | editar código-fonte]

O trabalho têxtil mundial está organizado de maneira que incita, em muitos casos, a escravidão, segundo sociólogos. As grandes fábricas exigem que um intermediário, normalmente um pequeno ou microempresário, lhes deem uma quantidade de mercadoria irreal. A escravidão feita por setores de empresas de imigrantes ilegais bolivianos é um problema que o país enfrenta.[12] Os casos mais conhecidos são a das lojas Pernambucanas, Zara[13] e Daslu, mas o governo passou a investigar e encontrou inúmeros casos dessa exploração ilegal.[14] Geralmente, os trabalhadores são submetidos à condições de miséria e humilhação, vivendo muitas vezes no local onde trabalham, não são remunerados e são demasiadamente explorados.[14] Apesar disso, a maioria dos entrevistados não considera a hipótese de voltar para a Bolívia. Embora a escravidão seja crime, a legislação brasileira pune de maneira bastante abrandada as companhias responsáveis por essa prática, como por exemplo com multas.

Comunidades[editar | editar código-fonte]

  • Corumbá, Mato Grosso do Sul. Proporcionalmente, a maior comunidade de bolivianos existente no Brasil. 40% da população dessa cidade é boliviana.
  • São Paulo. Abriga o maior aglomerado populacional de bolivianos no Brasil.
  • Carapicuíba. Possui a maior comunidade de bolivianos da Zona Oeste da Grande São Paulo.
  • Itaquaquecetuba. Possui a maior comunidade de bolivianos da Zona Leste da Grande São Paulo, sendo que existe uma estimativa de que o número dessa comunidade já ultrapasse a casa de 15 mil membros no ano de 2023, o que significa cerca de 3,80% da população da cidade. Os principais bairros onde estão concentrados os membros da comunidade são: Cidade Nova Louzada, Jardim Nicea, Jardim Pinheirinho, Jardim Caiubi, Paineira, Chácara dos Coqueiros e Jardim Maria Rosa. É muito comum circular pela cidade e encontrar membros da comunidade boliviana em Supermercados, bares, restaurantes, salão de cabeleireiros, farmácias, padarias e no comércio geral. Escolas da cidade também possuem muitos filhos de bolivianos entre seus alunos. A grande maioria dos bolivianos imigrantes são das cidades de La Paz, El Alto, Cochabamba, Oruro, Santa Cruz, e Beni.
  • Cáceres, Mato Grosso. Com nome sugestivo, possui a segunda maior comunidade do país em termos de proporção. 27,5% são oriundos da Bolívia.
  • Brasília. A capital do país possui considerada população boliviana.
  • Zona Oeste e Zona Norte do Rio de Janeiro. Principalmente nas vizinhanças de Jacarepaguá, a presença de bolivianos é notável.
  • Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Local de moradia de alguns bolivianos, principalmente em São Gonçalo.
  • Belo Horizonte. Tradicional destino de peruanos, há uma pequena comunidade boliviana.
  • Cuiabá, Mato Grosso. Em termos numéricos, possui uma das maiores comunidades do país, com cerca de 10.000 bolivianos.
  • Porto Velho, Rondônia. Proporcionalmente, é a capital com a maior comunidade boliviana do Brasil. 6,5% da população é oriunda da Bolívia.
  • Rio Branco, Acre. Capital com a segunda maior comunidade em termos de proporção, com 4% da população sendo boliviana.

Boliviano-brasileiros notáveis[editar | editar código-fonte]

Referências

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • SELARI, Leandro da Silva. Bolivianos em São Paulo: Dinâmicas da Imigração, Reflexões e Práticas da Mudança Social. 2013. Dissertação (Mestrado em Mudança Social e Participação Política) - Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. doi:10.11606/D.100.2013.tde-11042014-003225. Acesso em: 2017-11-17.