Gonçalo de Baena

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Arte de tanger)

Gonçalo de Baena (em castelhano: Gonzalo de Baena; grafia arcaica: Gonçalo de Vaena) (c. 1480 — depois de 1540) foi um músico, compositor e instrutor de música do período renascentista de origem espanhola mas que trabalhou desde a juventude em Portugal na corte de D. Manuel I e D. João III.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Gonçalo de Baena nasceu em Espanha por volta de 1480. Logo nos primeiros anos do século XVI foi para Portugal onde, eventualmente, entrou ao serviço da corte portuguesa, por essa altura do rei D. Manuel I e sua esposa castelhana a rainha D. Maria.[1]

Em 1536, trabalhando como músico de câmara para o rei D. João III conseguiu o privilégio real para a publicação da sua magnum opus, um livro de instrução musical chamado "Arte novamente inventada pera aprender a tanger"[1] ou, simplesmente, "Arte de tanger".[2] A sua publicação só foi concretizada em 1540, contando o autor com sessenta anos de idade.[1]

Família[editar | editar código-fonte]

Teve pelo menos um filho que tal como ele também foi músico e compositor ao serviço de D. João III,[3] chamado António de Baena. Na sua "Arte de tanger", Gonçalo de Baena incluiu várias das obras do filho.[1][4]

Arte de tanger[editar | editar código-fonte]

"Arte novamente inventada pera aprender a tanger".

A "Arte novamente inventada pera aprender a tanger" é uma obra musical didática que tem como propósito, segundo as próprias palavras do autor, "ensinar a tanger no instrumento de tecla sem necessidade de mestre" usando para isso um sistema simples baseado em caracteres.[1] Este trabalho é a mais antiga fonte impressa dedicada à música para instrumento de tecla da Península Ibérica.[5] Os instrumentos referidos diretamente por Baena são o manicórdio, que era um tipo de clavicórdio, semelhante a uma espineta mas com um teclado mais extenso, e o órgão (certamente um pequeno órgão de tubos como o representado no frontispício).[1][6]

Neste trabalho, após um prólogo e uma curta introdução ao método utilizado, Gonçalo de Baena apresenta várias adaptações para tecla de músicas vocais preexistentes, maioritariamente religiosas. Algumas das obras originais que adapta são suas, outras do seu filho a quem trata de dar destaque num grupo de variados compositores europeus de renome:

Apesar de ser conhecida a sua publicação, nenhum exemplar dela era conhecido e por isso a obra era tida como perdida. Tal veio a não se confirmar visto que em 1991 foi descoberto um exemplar sobrevivente, aparentemente o último, na Biblioteca do Palácio Real de Madrid. Esta descoberta foi classificada como um evento da maior importância para a compreensão história da música europeia.[2][5]

Lista de obras[editar | editar código-fonte]

N.º Vozes Fólio Nome Tom Compositor da obra original
1 2vv 9r "Domine Deus" 4.º Johannes Ockeghem
2 2vv 9v "Loysset. primeiro toõ" 1.º Loyset Compère
3 2vv 9v "Loyset primeiro toõ" 1.º Loyset Compère
4 2vv 10r "Crucifixus etiam pro nobis" 1.º Loyset Compère
5 2vv 10r "Et ascendit in celum" 1.º Loyset Compère
6 2vv 10v "Et iterum venturus est cum gloria" 1.º Loyset Compère
7 2vv 11r "Pleni sunt" 1.º Josquin des Prez (Atrib. erradamente a Jacob Obrecht)
8 2vv 11v "Benedictus" 4.º Josquin des Prez
9 2vv 11v "Pleni sunt" (missa "Hercules Dux Ferrariae") 1.º Josquin des Prez
10 2vv 12v "Agnus Dei" (missa "Ave maris stella") 1.º Josquin des Prez
11 2vv 13r "Kyrie eleison" 4.º Francisco de Peñalosa
12 2vv 13r "Christe eleison" 4.º Francisco de Peñalosa
13 2vv 13r "Kyrie eleison" 8.º Francisco de Peñalosa
14 2vv 13v "Christe eleison" 8.º Francisco de Peñalosa
15 2vv 13v "Quia fecit" 6.º Juan de Urrede
16 2vv 14v "Esurientes implevit bonis" 6.º Juan de Urrede
17 2vv 15r [Escobar. Oitavo tom] 8.º Pedro de Escobar
18 2vv 15v "Conditor alme syderum" (mão esquerda) 4.º Gonçalo de Baena?
19 2vv 16r "Conditor alme siderum" (mão direita) 4.º Gonçalo de Baena?
20 2vv 16v "Jesu nostra redemptio" 1.º Gonçalo de Baena?
21 2vv 17v "Pleni sunt" (missa "De plus en plus") 8.º Johannes Ockeghem
22 2vv 18r "Benedictus" 8.º Jacob Obrecht
23 3vv 18v "Benedictus" 5.º Josquin des Prez
24 3vv 19r "Benedictus" 1.º António de Baena
25 3vv 20r "Pleni sunt" 1.º Josquin des Prez
26 3vv 20v "Benedictus" 8.º Johannes Ockeghem
27 3vv 21r "Unica est columba mea" 4.º Francisco de Peñalosa
28 3vv 22v "Si sumsero penas meas" 8.º Jacob Obrecht (Atrib. erradamente a Alexander Agricola)
29 3vv 24v "Pleni sunt" 8.º António de Baena
30 3vv 25r "In pace, in edipsum dormiam" 8.º Josquin des Prez
31 3vv 26r "Agnus Dei" 4.º Mathieu Gascongne
32 3vv 27r "Mater patris" 1.º Antoine Brumel (Atrib. erradamente a Loyset Compère)
33 3vv 29v "Ave maris stella" 1.º Gonçalo de Baena
34 3vv 30r "Helas que pourra devenir" 8.º Firminus Caron
35 3vv 31v "Si dedero" 8.º Alexander Agricola (Atrib. erradamente a Jacob Obrecht)
36 3vv 32v "Pange lingua" 5.º João de Badajoz
37 3vv 33r "Motete do cego" e volta 1.º Alexander Agricola
38 3vv 38r "Congratulamini mihi omnes" 1.º Juan de Anchieta
39 3vv 39v "Agnus Dei" 1.º Antoine de Févin
40 3vv 40r "Si dedero" 8.º Gonçalo de Baena
41 4vv 41r "In diebus illis" 8.º Cristóbal de Morales
42 4vv 42v "Et in terra" (missa "Beata Virgine") 1.º Josquin des Prez
43 4vv 44r "Qui tollis" (missa "Ave maris stella") 1.º Josquin des Prez
44 4vv 45r "Agnus Dei" (missa "Fa re mi re") 1.º António de Baena
45 4vv 46v "Patrem omnipotentem" 1.º Loyset Compère
46 4vv 48v "Kyrie eleison" 8.º António de Baena
47 4vv 49r "Agnus Dei" (missa "Hercules Dux Ferrariae") 1.º Josquin des Prez
48 4vv 50r "Clamabat autem mulier cananea" 6.º Pedro de Escobar
49 4vv 52v "Kyrie eleison" 6.º António de Baena
50 4vv 53r "Deposuit potentes" 1.º Juan García de Basurto
51 4vv 53v "Patrem omnipotentem" 8.º Pedro de Escobar
52 4vv 55r "Christe eleison" 6.º António de Baena
53 4vv 55v "Kyrie eleison" 6.º António de Baena
54 4vv 56r "Kyrie eleison" 1.º António de Baena
55 4vv 56v "Kyrie eleison de Nuestra Señora" 1.º Gonçalo de Baena?
56 4vv 57r "Christe eleison de Nuestra Señora" 1.º Gonçalo de Baena?
57 4vv 57r "Kyrie de Nuestra Señora" 1.º Gonçalo de Baena?
58 4vv 57v "Kyrie eleison de Nuestra Señora" 1.º Gonçalo de Baena?
59 4vv 58r "Sanctus" (missa "Sola la fare mi vida") 1.º António de Baena
60 4vv 58v "Osanna" (missa "Sola la fare mi vida") 1.º António de Baena
61 4vv 59v "Sanctus" (missa "La sol fa re mi") 4.º Josquin des Prez
62 4vv 60r "Pleni sunt" 8.º Josquin des Prez
63 4vv 61r "Agnus Dei" (missa "Ave maris stella") 1.º Josquin des Prez
64 4vv 61v "Patrem omnipotentem" (missa "L'homme armé") 4.º Josquin des Prez
65 4vv 63v "Pleni sunt" (missa "La sol fa re mi") 4.º António de Baena

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g Baena, Gonçalo (1540). Arte novamente inventada pera aprender a tanger. Lisboa: Casa de Germam Galharde. De donde como yo considerasse ya llegado a sesenta años. Aviendo servido casi quarenta a vuestra real alteza de musico de camara 
  2. a b Knighton, Tess (2012). «Arte para Tanger». Edições Colibri 
  3. Sousa, António Caetano de (1748). Provas da historia genealogica da Casa Real Portugueza. VI. Lisboa: Régia Oficina Silviana 
  4. a b Oliveira, Filipe (2011). «A música de tecla em Portugal de 1540 a 1620». A Génese do tento no testemunho dos manuscritos P-Cug MM 48 e MM 242 (Doutoramento). Universidade de Évora 
  5. a b Forst, Bruno (2012). «Arte novamente inventada pera aprender a tãger. Lisboa, 1540». Ars Antiqua 
  6. «monacordio». Diccionario de la lengua española - Real Academia Española 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]