Tabajaras
Tabajaras | |||||||||
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Mapa indicando a presença indígena contemporânea no Ceará. Fontes: FUNAI e FUNASA. | |||||||||
População total | |||||||||
Ao menos 5 199. | |||||||||
Regiões com população significativa | |||||||||
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Línguas | |||||||||
língua tupi, língua portuguesa | |||||||||
Religiões | |||||||||
religião tupi, cristianismo |
Os tabajaras são um povo indígena que habita o litoral do Brasil no trecho entre a ilha de Itamaracá e a foz do rio Paraíba, além de territórios em Piripiri e emLagoa de São Francisco, no Piauí. No século XVI, eram 40 mil indivíduos, e se aliaram aos colonizadores portugueses na Capitania de Pernambuco, além de terem ajudado a fundar o que viria a ser a Capitania da Paraíba.[3] Atualmente, grupos dos estados da Paraíba, do Ceará e do Piauí reivindicam a identidade e a ancestralidade tabajara.[4][5][6]
Etimologia[editar | editar código-fonte]
"Tabajara" procede do tupi antigo tobaîara, "inimigos".[7][8] Supõe-se que essa não seria uma autodenominação, mas uma exodenominação, atribuída aos tabajaras por seus inimigos.
História[editar | editar código-fonte]
Antes da migração para o litoral centro–sul paraibano, seu território estendia-se das proximidades da Ilha de Itamaracá, no litoral pernambucano, até o agreste, no vale do rio Pajeú. Foram os primeiros nativos dessa região do Nordeste Oriental a entrar em contato com os conquistadores portugueses. Selaram a paz com os luso-brasileiros após acordo de paz assinado durante as tentativas de conquista portuguesa da Paraíba.

Em 1660, o padre Antônio Vieira havia chegado à serra da Ibiapaba, onde os jesuítas Pedro Pedrosa e Antônio Ribeiro catequizavam muitos membros da etnia tabajara, distribuídos em 20 povoações.[9] Durante a subida, Vieira testemunhou focos de excelentes águas para consumo, que os índios viviam da caça, do cultivo da mandioca, da plantação de alguns legumes e do mel.[10]
A dispersão da população aldeada se acentuou ao longo do século XIX com os inúmeros conflitos sociais do Primeiro Império, quando registrou-se a deserção de 60 casais da Vila Viçosa para participar da Balaiada no Maranhão. Durante o Segundo Império, as aplicações da Lei de Terras e a extinção dos antigos aldeamentos provocou a invisibilização completa da população indígena na província do Ceará. É neste momento que são referidas as últimas notícias, em notícias de viajantes e expedições científicas, com relação ao etnônimo tabajara ou aos índios da serra da Ibiapaba.[11]
São esses processos que irão acelerar a dispersão da população indígena em pequenos grupos familiares em busca de alternativas de sobrevivência em terras devolutas ou sob a proteção de algum proprietário. Essa busca se dará especialmente nas zonas fronteiriças e ainda não ocupadas, como a região sul da Ibiapaba (Crateús), trocada no final do século XIX, pelo Piauí em favor de uma saída para o mar, representada pelo porto de Parnaíba, até então pertencente ao Ceara
A tribo foi, paulatinamente, fragmentada pela miscigenação e integração aos conquistadores portugueses após a conquista portuguesa da capitania.

Presença atual[editar | editar código-fonte]
Os tabajaras possuem uma história de sucessivas migrações, devido a constantes conflitos de terras.
No Ceará[editar | editar código-fonte]
De acordo com o distrito sanitário especial indígena do Ceará (órgão da Fundação Nacional de Saúde), em 2015 os tabajara no Ceará compunham uma população de 4 449 pessoas, em Crateús, Poranga, Monsenhor Tabosa, Tamboril e Quiterianópolis.[1]
Os tabajaras habitam o oeste do estado do Ceará, na região da serra de Ibiapaba,[12] nos municípios de:
- Crateús (aldeias: Nazário, Vila Vitória, Maratoã, Altamira);
- Poranga (aldeias: Jardim das Oliveiras, Jericó, Cajueiro e Calumbi);
- Monsenhor Tabosa (Olho d'Água dos Canutos);
- Quiterianópolis (aldeias: Fidélis, Croatá, Vila Nova e Alegre);
- Tamboril (Grota Verde)
Na Paraíba[editar | editar código-fonte]
Na Paraíba a população de tabajaras é de aproximadamente 750. As famílias vivem em lotes da reforma agrária em Conde, Pitimbu e Alhandra e as que não conseguiram lotes vivem em bairros periféricos da capital.[2]
Desde 2005, diversas famílias no estado da Paraíba vêm reivindicando o reconhecimento étnico oficial de sua condição de indígenas tabajaras nos seguintes municípios e localidades:[4][5][6]
- Alhandra: Mucatu;
- Conde: Barra de Gramame, Jacumã e periferia do Conde;
- João Pessoa: Grotão, José Américo, Mandacaru, Cristo Redentor, Geisel, Jardim Veneza;
- Pitimbu: Abiaí e Pitimbu
No Piauí[editar | editar código-fonte]
No Piauí, podem ser encontradas as seguintes comunidades[13]ː
- Piripiriː Tabajara Itacoatiara, Tabajara dos Tucuns e Tabajara Ypy;
- Lagoa de São Franciscoː Tabajara Tapuio ou do Nazaré.
História recente[editar | editar código-fonte]
Crateús[editar | editar código-fonte]
Em fevereiro de 2004, os tabajaras de Crateús conseguiram, através de sua luta, retomar cerca de 6 000 hectares de suas terras que ficam na serra da Ibiapaba. O local é chamado de Nazário e, lá, estão residindo cerca de 10 famílias, entre Tabajara e Kalabaça, enquanto aguardam a delimitação e demarcação da terra.
Os tabajaras que vivem em Crateús são provenientes das serras vizinhas, principalmente a serra da Ibiapaba, e tiveram que migrar para a periferia da cidade, foragidos da opressão exercida pelos fazendeiros que invadiram suas terras. Dividem-se em sete comunidades. Recentemente, um grupo de quinze famílias dos Lira migrou para a cidade de Quiterianópolis, onde encontraram melhores condições para viver de acordo com seus costumes indígenas. Ficaram conhecidos como os tabajaras de Fidélis. Nesta mesma cidade, encontram-se mais três comunidades tabajaras: Vila Nova, Croatá e Vila Alegre, todas na área rural.
Mucatu[editar | editar código-fonte]
Em 2011 se iniciou um conflito na localidade de Mucatu, no município de Alhandra no município de Alhandra entre a comunidade indígena tabajara local, os assentados rurais do assentamento da reforma agrária João Gomes e compradores de terra, a empresa HC Administrações e Participações, com apoio da polícia local.[6][14][15] Após acordo, foi implantada uma fábrica de cimento no local e a comunidade foi realocada.[15][16]
Olho d'Água de Canutos[editar | editar código-fonte]
Em Monsenhor Tabosa, se encontra a comunidade Tabajara de Olho d'Água de Canutos, a 4 quilômetros desta cidade. São 13 famílias residindo na região. Em 1973, a família Canuto, liderada por José Canuto, comprou 74 hectares de terras onde antes viviam como moradores. Organizam-se através da Associação Unidos Venceremos do Povo Tabajara de Olho d'Água de Canutos, que se reúne no salão comunitário da Escola Indígena da comunidade.
Grota Verde[editar | editar código-fonte]
Em Tamboril, existe a comunidade Tabajara em Grota Verde, a 35 quilômetros da cidade. São 25 famílias que se organizam através de uma associação sob a liderança de Agno Tabajara. Atualmente, sofrem constantes ameaças por parte de fazendeiros, fato que tem limitado suas ações políticas.
Poranga[editar | editar código-fonte]
Os tabajaras de Poranga residem na Aldeia Imburana, que fica próxima à cidade e também na Aldeia Cajueiro, distante 38 quilômetros de Imburana. Esta aldeia, de 4 400 hectares, foi fruto de uma retomada, sendo, hoje, habitada por 9 famílias, entre Tabajara e Kalabaça, e, igualmente, aguardam a regularização da terra indígena.
Entre suas instituições, existem o Conselho Indígena dos Povos Tabajara e Kalabaça de Poranga - CIPO, a Associação de Mulheres Indígenas Tabajara e Kalabaça (AMITK) e a Escola Diferenciada Indígena de Poranga.
Tabajaras famosos[editar | editar código-fonte]
A dupla Índios Tabajaras, formada pelos irmãos tabajaras Antenor (Mussaperê, "terceiro" em língua tupi, por ser o terceiro filho) e Natalício (Herundy, "quarto" em língua tupi, por ser o quarto filho) Moreira Lima, fez sucesso nacional e internacional entre 1942 e 1980, tocando obras de música clássica no violão.[17]
Ver também[editar | editar código-fonte]
Referências
- ↑ a b «DSEI Ceará | DSEI Ceará | Assistência e Saúde - IMIP». www1.imip.org.br. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ a b Farias, Eliane (2011). Memória Tabajara : manifestação de fé e identidade étnica. Barcellos, Lusival. João Pessoa: [s.n.] p. 82. OCLC 822887314
- ↑ BUENO, Eduardo (2003). Brasil: uma história – 2ª edição. [S.l.]: Ática. 447 páginas. ISBN 9788508082131
- ↑ a b FARIAS, Elaine S. de; et alii (2010). «rompendo barreiras da exclusão através de suas crenças». Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Consultado em 4 de agosto de 2014
- ↑ a b Adm. do sítio web (30 de novembro de 2011). «Urgente: mais de 200 policiais armados e encapuzados cercam índios Tabajara em Alhandra-Mucatu, PB». Blog Combate ao Racismo Ambiental. Consultado em 4 de agosto de 2014
- ↑ a b c Adm. do portal (25 de novembro de 2011). «MPF visita área de conflito indígena em Alhandra (PB)». Ministério Público Federal. Consultado em 4 de agosto de 2014
- ↑ STADEN, Hans (2008). Duas Viagens ao Brasil. Porto Alegre: L&PM. 44 páginas. ISBN 9788525417336. OCLC 1920484
- ↑ NAVARRO, E. A. Dicionário de Tupi Antigoː a Língua Indígena Clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 598.
- ↑ Leite, Serafim (1938). História da Companhia de Jesus no Brasil ... Lisboa: Livraria Portugalia. p. 27. OCLC 459569743
- ↑ Papavero, Nelson; Teixeira, Dante Martins; Chiquieri, Abner (20 de dezembro de 2011). «As "Adnotationes" do Jesuíta Johann Breuer sobre a história natural da missão de Ibiapaba, Ceará (1789)». Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Arquivos de Zoologia (3): 133. ISSN 2176-7793. doi:10.11606/issn.2176-7793.v42i3p133-159. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ Porto Alegre, Sylvia. (2003). Comissão das borboletas : a ciência do Império entre o Ceará e a Corte, 1856-1867. Fortaleza: Museu do Ceará, Secretaria da Cultura do Estado do Ceará. OCLC 69940234
- ↑ FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 637.
- ↑ «IBGE contabiliza cerca de 3 mil descendentes de índios no Piauí». CidadeVerde.com (em inglês). Consultado em 30 de dezembro de 2021
- ↑ Oliveira, Tatyane Guimarães (30 de novembro de 2011). «Cerca de 200 policiais mascarados desalojam comunidade Tabajara na Paraíba | Cimi». Dignitatis. Consultado em 29 de janeiro de 2021
- ↑ a b Mucatu sitiado. Assembleia Popular da Paraíba. 8 de julho de 2012. Consultado em 29 de janeiro de 2021
- ↑ «MPF/PB: acordo entre Tabajaras e fábrica de cimento põe fim a conflito». Jusbrasil. Consultado em 30 de janeiro de 2021
- ↑ Revivendo músicas. Disponível em http://revivendomusicas.com.br/biografias_detalhes.asp?id=126. Acesso em 12 de junho de 2016.